As Diversas Vertentes das Desigualdades Socioespaciais no Município de Dourados-MS
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1 As Diversas Vertentes das Desigualdades Socioespaciais no Município de Dourados-MS Luana Santos Souza Universidade Federal da Grande Dourados Acadêmica do 7 semestre Geografia luana_souza00@hotmail.com Bolsista PIBIC INTRODUÇÃO Alexandre Bergamin Vieira Universidade Federal da Grande Dourados Prof. Dr. do curso de graduação e pós-graduação de Geografia alexandrevieira@ufgd.edu.br O município de Dourados está localizado na porção sul do estado de Mato Grosso do Sul, e possuía, segundo o censo do IBGE de 2010, habitantes, e assim como outras cidades médias apresentam um impasse na elaboração de Políticas Públicas principalmente voltadas as desigualdades sociais. As desigualdades sociais se apresentam no espaço da cidade de longa data, mas, sob o modo de produção capitalista, elas apresentam outra magnitude e que vêm aumentando nas últimas décadas, principalmente em decorrência da denominada crise do mundo do trabalho. Entendemos que nas cidades médias os processos excludentes são mais perversos do que nas metrópoles, acentuando ainda mais as desigualdades socioespaciais, o que nos remete à discussão da banalização da diferença e da desigualdade e a produção e reprodução do espaço banal. É neste sentido que propomos entender/explicar/desmistificar as desigualdades sociais existentes na cidade de Dourados. Caracterização de Dourados enquanto Cidade Média O estudo sobre cidades médias tem início na França, mais precisamente no início da década de 70, na preparação do VI Plano de Desenvolvimento Econômico e Social, entre os anos de 1971 e 1976 (Costa, 2002). No Brasil as primeiras tentativas para definir Cidades Médias tem início em meados dos anos de 1970, tendo como enfoque principal o quesito porte médio, ou seja, o fator principal para definir uma cidade como sendo Cidade Média era o contingente populacional, fazendo
2 menção primeiramente ao seu tamanho, sendo assim a cidade estava entre uma cidade pequena e a grande cidade, por sua vez apresentando uma dimensão intermediária. De acordo com Silva (2011), neste período os estudos sobre cidades médias estavam atrelados às políticas de planejamento, subsidiadas no modelo europeu, no qual, havia uma análise para diagnosticar quais cidades possuíam potencial para contribuir com o desenvolvimento regional e nacional. O estudo sobre cidades médias é importante uma vez que através da análise da mesma pode-se compreender melhor como esse lugar está estruturado, revelando, assim, as principais influências responsáveis pela dinâmica da cidade. Contudo não existe um consenso a respeito da temática das cidades médias, originando, desta forma, várias definições. Corrêa ao discutir o conceito de cidade média afirma que:...trata-se de uma expressão vaga, aberta a múltiplos significados e impregnada do idealismo que a concebe como um ideal a ser alcançado, apresentando as vantagens das pequenas cidades sem ter, contudo, as desvantagens das grandes. (CORRÊA, 2006, p. 1) Desta forma os moradores das cidades menores e da própria cidade média veem a cidade como um centro promissor, com uma maior oportunidade de emprego e lazer, contudo, como o próprio Corrêa (2006) afirma, a mesma apresenta desvantagens quando comparada aos grandes centros e vantagens quando comparada às pequenas cidades. Desta forma, como afirma Sposito (2006), não podemos considerar somente o caráter demográfico para definir a cidade como média, pois ao fazer isso, a definimos como cidades de porte médio, isto é, aquelas que apresentam um contingente populacional entre 50 e 500 mil habitantes. As cidades médias são aquelas que desempenham papéis de intermediação em suas redes urbanas, diferenciando-se de cidade de porte médio (SPOSITO, 2010). Uma importante característica a ser observada é que as cidades definidas como cidades médias funcionam por muitas vezes como centro polarizador de cidades menores, influenciando direta ou indiretamente as cidades circunvizinhas.
3 Silva (2013) discorre sobre a dificuldade de se caracterizar as cidades médias e, para isso se remete à Santos (1993), que já indicava os problemas e dificuldades em classificar as cidades médias, considerando apenas o elemento demográfico. Cabe, todavia, levantar uma questão: podemos classificar as cidades com mais de habitantes como médias? Um dos problemas que se apresentam nas ciências humanas é o do uso e interpretação das séries estatísticas, pois o número, em momentos distintos, possui significado diferente. O que chamávamos de cidade média em 1940/50, naturalmente não é cidade média dos anos 1970/80. No primeiro momento, uma cidade com mais de habitantes poderia ser classificada como média, mas hoje, para ser cidade média uma aglomeração deve ter população em torno dos habitantes. Isto não invalida o uso de quadros estatísticos, mas sugere cautela em sua interpretação (SANTOS, 1993, p ). É neste sentido que Amorin Filho e Rigotti, afirmam que: "aspectos ligados às funções de intermediação dentro da rede urbana, assim como à posição geográfica da aglomeração são tão ou mais importantes do que o tamanho demográfico na caracterização das cidades médias (AMORIM FILHO e RIGOTTI p ). Sposito et. al (2007) afirmam que a importância de uma cidade média tem relação direta com a área sobre a qual ela é capaz de exercer influência. Dessa forma, a partir das informações descritas anteriormente para caracterizar uma cidade média, podemos concluir que Dourados-MS pode ser considerada uma cidade média. De acordo com o IBGE (2008) apud Silva (2011), a cidade de Dourados tem influência direta em 21 cidades do estado de Mato Grosso do Sul e, de forma indireta, em mais 13 cidades, sendo duas delas no Estado do Paraná, conforme observamos no gráfico abaixo. Para compreender Dourados sob a perspectiva das cidades médias é necessário analisar os processos socioeconômicos e espaciais apresentados pela mesma, visto que a principal característica que define Dourados como cidade média é a dinâmica que ocorre entre ela e as demais cidades de sua hinterlândia, conforme constatamos no trabalho de Silva (2011). Dourados, conforme aponta Silva (2011), destaca-se como cidade polarizadora em sua região como prestadora de serviços, comércio, muitas vezes voltado ao setor agrícola, já que a
4 região de Dourados após a década de 50 assume um papel crucial voltado à economia agrícola, lazer, educação e serviços médicos e hospitalar provocando uma grande transformação na região polarizada por Dourados, pois conforme aponta Calixto (2008), alguns desses serviços, até pouco tempo atrás, eram encontrados somente em grandes centros urbanos. Como o contingente populacional cresceu rapidamente em um pequeno intervalo de tempo, Dourados passa a demandar serviços de consumo básicos, porém imediatos, como saúde, educação e moradia. A partir deste momento Dourados começa a passar por desafios característicos de inúmeras cidades médias, já que é preciso conter e controlar a velocidade de seus processos de urbanização. Com a ausência de projetos de políticas públicas, principalmente para as classes sociais menos favorecidas os processos excludentes em cidade médios acabam por permanecer mais perversa, porém muitas vezes imperceptível o que Vieira (2009) chama de desigualdades sociais
5 e espaciais naturalizadas, ocorrendo em locais no qual a ausência de políticas públicas é eminente conforme Vieira (2009) diz; Do mesmo modo, a ausência e/ou ineficiência de movimentos populares urbanos nessas cidades médias torna a exclusão social ainda mais perversa. Mais do que isso, pudemos identificar a existência da segmentação da sociabilidade. De um lado, vive a população da cidade luminosa, daqueles que são beneficiados pelo processo de valorização do espaço e, por este motivo, podem potencializar ainda mais a participação nos circuitos da economia flexível nacional e global. Enquanto esses habitantes protagonizam a ilha da prosperidade, expressa como vitrine de boas condições de vida, sem problemas de trânsito, de violência em contraposição à saturação da metrópole, os habitantes de outra cidade, a dos excluídos, denuncia a outra face da realidade. (VIEIRA, p.192, 2009) Desta forma, Dourados assim como outras cidades médias, apresenta-se segregada em dois grandes núcleos, as áreas periféricas no qual residem pessoas que muitas vezes não tem direito a cidade, e que o poder público dificilmente investe em melhorias. E as áreas destinadas às pessoas com um poder aquisitivo mais elevado, com investimentos em infraestrutura por parte do Poder Público. Dessa forma propomos a seguir um melhor entendimento sobre os conceitos de desigualdade com ênfase na exclusão social e o papel de Poder Público através das políticas públicas para acirramento e mitigação do processo. Desigualdades Socioespaciais Silva, (2013) discorre sobre as omissões do Poder Público nas implementações de Políticas Públicas, dizendo; A omissão do Estado está presente na ausência de políticas públicas voltada para atender a esta população que esta esquecida em verdadeiros aglomerados humanos, sem direito a áreas de lazer, asfaltamento de ruas, saneamento básico, rede de energia adequada, encanamento e boa distribuição de aguas, ordenamento urbanos, coleta de lixo e outras necessidades que possibilitem uma vida digna para os habitantes da cidade(...) (2013, p. 1). Desta forma, o Estado, representado pelo poder público, desempenha um papel fundamental no processo de desigualdade social dentro da cidade, uma vez que o mesmo é o setor responsável pelas políticas públicas que deveriam ser ofertadas para os setores da cidade com maiores carências de infraestrutura.
6 E neste contexto entramos nas particularidades existentes dentro do município de Dourados no que se refere às políticas públicas realizadas que como nas outras cidades tem suas políticas voltadas para o viés econômico priorizando uma parcela pequena da população, esta que por sua vez está em grande parte totalmente assistida de infraestrutura. Dando uma naturalidade aos acessos desiguais que ocorrem na cidade, visto que muitas vezes os ricos dominam o espaço em beneficio próprio, Vieira (2009), deixando as margens inúmeras pessoas com nenhuma ou quase nenhuma infraestrutura, ou seja, transgredindo o direito a cidade de cada cidadão conforme discorre Silva (2011) ao discutir Calixto (2008); A produção diferenciada do espaço expressa as diferentes formas de apropriação, que por sua vez, acabam por afastar parcela significativa da população da possibilidade de uso, à medida que não apenas media, mas, sobretudo nega essa necessidade (de uso), reduzindo o direito de habitar à imposição da propriedade privada da terra (2008,p. 159). Neste caso são visíveis as políticas públicas habitacionais implantadas pelo Poder Público no qual a porção Norte é dotada de facilidades para implantação de condomínios fechados e outros setores como é o caso do setor educacional, que de forma indireta/direta instiga uma maior valorização do local principalmente no que remete ao setor imobiliário. Porém, no caso da porção Sul encontra-se uma política mais voltada para a implantação de conjuntos habitacionais geralmente concentrados em um dado local e longe da área central da cidade. No qual o centro de uma forma geral apresenta as melhores infraestrutura, isto posto, provocando desta forma uma visível desvalorização por parte do setor imobiliário. Esta diferenciação entre classes sociais deve ser compreendida como um processo social e histórico e não apenas como implicações individuais como aponta Vieira (2005). Uma vez que exclusão social só existe a partir da inclusão. O processo excludente no Brasil como um todo é decorrente de uma herança histórica e hoje vivenciamos o resultado de ações tomadas há anos. Já que mesmo com as implantações do Poder Público, nem toda a população acaba sendo beneficiada, pois mesmo a moradia sendo um direito de todos, só se tem direito a ela aqueles que podem pagar, já que a mesma requer um pedaço de terra e esta acabou por virar uma mercadoria no mercado capitalista. Desta forma o poder público ao subsidiar o processo de políticas habitacionais acaba por alocar esta parte da população longe do centro e de áreas com
7 infraestrutura, pois as áreas com nenhum tipo de melhoria, afastadas dos atrativos capitalistas são mais baratas. É por este motivo que a exclusão social não deve ser compreendida tão somente como processo específico da cidade, porém a mesma se acentuou/acentua através do processo de urbanização de sociedade capitalista já que este processo não foi capaz de assistir as demandas necessárias da sociedade como saúde educação e lazer Vieira (2009). Desta forma o espaço segregado passa a dar lugar, ao espaço desigual no qual uma dada parte da sociedade passa a sofrer com a má distribuição dos bens e recursos, muitas vezes atribuídos as posições diferenciadas ocupadas pelos indivíduos, evidenciando desta forma, uma desigualdade preexistente em meio à exclusão social. Conforme isso Vieira (2009) discorre que é necessário entender o processo de exclusão social e também quebrar a culpabilidade atribuída ao sujeito. Ele ainda argumenta que nos processos de exclusão social, é tão quão importante identificar a ausência dos serviços oferecidos pelo setor público é identificar a ausência das mesmas e humaniza-las. Neste sentido é evidente o papel do Estado através das políticas públicas uma ação reguladora no sentido de diminuir as desigualdades sociais, para que os indivíduos que vivem a margem deste processo garantam suma autonomia e liberdade. É por esse motivo que propomos a elaboração de mapas através se indicadores sociais com o propósito de analisar a real discrepância das condições de qualidade de vida, desenvolvimento humanos e igualdade entrem os habitantes de Dourados. Mapeamento este que será elaborado, tendo como base as informações do Censo Demográfico 2010, disponibilizadas pelo IBGE. Deste modo, os indicadores apontam a realidade atual que, por sua vez, revelam as áreas que mais necessitam de intervenções públicas. O trabalho encontra-se em fase de coletas preliminares dos dados com um rol de vinte e quatro indicadores que posteriormente serão tabulados e mapeados respectivamente. São eles 1. Domicílios sem banheiro ou sanitário 2. Domicílios com abastecimento de água de outra forma 3. Domicílios com abastecimento de água realizado pelo serviço público 4. Domicílios com coleta de lixo realizado pelo serviço público 5. Domicílios com lixo outro destino 6. Domicílios com esgotamento sanitário ligado à rede geral 7. Domicílios com esgotamento sanitário outro destino 8. Domicílios localizados em rua sem pavimentação 9. Domicílios sem energia elétrica 10. Domicílios com renda per capita com mais
8 de 0,5 a 1 salário mínimo 11. Domicílios com renda nominal per capita de até 0,5 salários mínimo 12. Domicílios sem renda nominal per capita 13. Domicílios com renda per capita com mais de 1 a 2 salários mínimo 14. Domicílios com renda per capita com mais de 2 a 5 salários mínimo 15. Domicílios com renda per capita com mais 5 salários mínimo 16. Domicílios com mais de 5 moradores 17. Responsável pelo domicílio sem escolaridade 18. Responsável pelo domicílio com ensino fundamental incompleto 19. Responsável pelo domicílio com ensino fundamental completo 20. Responsável pelo domicílio com ensino médio incompleto 21. Responsável pelo domicílio com ensino médio completo 22. Responsável pelo domicílio com ensino superior incompleto 23. Responsável pelo domicílio com ensino superior completo 24. Responsável pelo domicílio com mestrado e ou doutorado. Pode se elencar a predominância do mercado imobiliário tanto para o setor de classe alta e em alguns casos para o setor de classe baixa, revelando assim a ausência do Poder Público em algumas áreas ou situações e pelo mesmo motivo citado anteriormente, agindo como fator responsável pela discrepância existente na cidade. Analisando os Mapas Em relação às áreas sem pavimentação mapa 1, podemos verificar que a bairros centrais ou localizados próximo ao centros possui um alto índice de pavimentação o que corresponde de 0,0% à 24,7% de pavimentação nestes setores censitários, e ao mesmo tempo podemos verificar que em áreas mais afastadas da área central chega a possuir 100% do setor sem pavimentação. Já em relação ao mapa 2 que se refere a áreas sem energia setores afastados da área central podemos verificar os maiores índices chegando a corresponder a pouco mais que 9,3% dos domicílios existentes nos setores, o que correspondem a 6 setores, contudo há a presença de alguns setores na área central que possui domicílios sem energia elétrica, porém com índices baixos que não chegam a corresponde 0,5% dos domicílios. Todavia majoritariamente o que corresponde a quase 88% dos setores censitários que não possui nenhum domicilio sem energia elétrica.
9 Conclusão Como o trabalho não encontra se finalizado, o mesmo não apresenta conclusões definitivas, mais com base nas revisões bibliográficas, nas coletadas de dados realizadas e nos
10 primeiros mapas realizados, podemos verificar a importâncias das chamadas políticas públicas, como meio de intervenção no acirramento das desigualdades existentes na área urbana. Haja vista, que como pode se verificar nos mapas elaborados acima, a porção Sul da cidade correspondem à área mais critica da cidade requerendo assim maiores políticas públicas, para que assim possa diminuir as disparidades existentes com as demais áreas da cidade, em especial a área central. Bibliografia AMORIM FILHO, O.B.; RIGOTTI, J.I.R.: Os Limiares Demográficos na Caracterização. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE. Cidades Disponível em: < Acesso em: 30 de Agosto de CALIXTO, Maria José Martinelli S. O processo de produção, apropriação e consumo do espaço urbano: uma leitura geográfica da cidade de Dourados-MS. Campo Grande: Editora UFMS, O espaço urbano em redefinição: cortes e recortes para a análise dos entremeios da cidade. UFGD. Dourados MS, CORRÊA, R. L. Construindo o conceito de cidade média Trabalho apresentado ao 2º Simpósio Internacional sobre Cidades Médias, Uberlândia, D. M. F.; HENRIQUE, W. (Orgs.) Cidades Médias e Pequenas: Teorias, Conceitos e das Cidades Médias. Anais do XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Econômica com a Geografia Política. Unesp. Presidente Prudente, 2009 Estudos de Caso. Salvador: SEI, p RODRIGUES, Marta Maria Assumpção. Políticas públicas. São Paulo: Publifolha, MAIA, D. S. Cidades Médias e Pequenas do Nordeste: Conferência de Abertura. In: LOPES, Populacionais. Ouro Preto, 04 a 08/11/2002, 22p. (meio digital). SILVA, V. F. Os Papéis de Dourados- MS no Contexto Regional: Apontamentos para a Analise de uma Cidade Média. Dourados-MS SPOSITO, M. E. B. Desafios para o estudo das cidades médias In: Seminário Internacional de la Americana de investigadores sobre Globalizacion y Território,11, 2010, Mendoza. Anais... Mendoza: UNCUYO - Universidad de Cuyo, p VIEIRA, A, B. O Lugar de cada um: indicadores sociais de desigualdade intraurbana. Unesp. Presidente Prudente, CIDADES MÉDIAS: interfaces da Geografia Econômica com a Geografia Política. Unesp. Presidente Prudente, 2009.
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