Pº RP 281/2008 SJC-CT- aquisição com base em partilha extrajudicial. Cumprimento das obrigações fiscais. Prova.

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1 1 Pº RP 281/2008 SJC-CT- aquisição com base em partilha extrajudicial. Cumprimento das obrigações fiscais. Prova. DELIBERAÇÃO 1. A coberto da ap.1 de 27 de Outubro de 2008, foi requerido na Conservatória do Registo Predial de o registo de aquisição de prédio urbano não descrito, juntando-se para o efeito fotocópias certificadas das escrituras de habilitação de herdeiros e de partilha, por óbito de Eugénia, outorgadas em 2 de Outubro de 2008, e certidão emitida pelo Serviço de Finanças de, em 24 de Outubro de 2008, dando conta da pendência de liquidação do imposto municipal sobre transmissões, relativo ao excesso recebido em bens imóveis pelo interessado, requerida no dia anterior. 2. O registo de aquisição foi qualificado como provisório por dúvidas por falta de prova do cumprimento das obrigações fiscais, nos termos do art. 50.º do CIMT, dado estar por demonstrar o pagamento do imposto ou, sendo o caso, a verificação da sua isenção. 3. No requerimento de recurso hierárquico, aduz-se, em síntese: a) que o disposto no n.º 4 do art. 72.º do CRP «derroga, pela base, todo o entendimento extensivo que se vem dando ao art. 50.º do Código do Imposto Municipal de transacções sobre Imóveis», porquanto nele se consagra uma presunção de que o imposto em causa se encontra assegurado; b) que o disposto no art. 48.º do CIMT, obrigando as secretarias judiciais e os notários a remeter aos serviços de finanças a relação dos actos praticados, visa precisamente assegurar o cumprimento da obrigação fiscal, justificando-se, como tal, o disposto no art. 72.º do CRP; c) e que o facto de se ter mantido a redacção do n.º 4 do art. 72.º do CRP, apesar das alterações introduzidas ao Código do Registo Predial após a entrada em vigor do CIMT, evidencia que a presunção legal nela contida se acha em vigor e deverá ter aplicação prática, dispensando o interessado de provar o facto a que ela conduz. 4. No despacho a que se refere o artigo 142.º-A, n.º1, do Código do Registo Predial (CRP), que aqui se dá por reproduzido, foi sustentada a decisão, salientando-se a

2 2 especialidade da norma contida no art. 50.º do CIMT e o dever de fiscalização que nela se atribui ao conservador. 5. O processo é o próprio, o recurso é tempestivo, o recorrente tem legitimidade e inexistem questões prévias que obstem à apreciação do mérito, que se expressa na seguinte DELIBERAÇÃO I - Em face do disposto no artigo 50.º do Código do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (CIMT), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12 de Novembro, e em vigor desde 1 de Janeiro de 2004, «Nenhum facto, acto ou negócio jurídico relativo a bens imóveis sujeitos a registo pode ser definitivamente registado sem que se mostre pago o IMT que seja devido» 1. 1 Como se disse no P.º R. P. 237/2004 DSJ-CT, publicado no BRN 1/2005, caderno II, a norma contida no art. 50.º do CIMT não nos vem dizer mais do que já nos dizia a norma do n.º 1 do art. 72.º do CRP, ou seja, o facto não pode ser definitivamente registado sem a comprovação do pagamento do imposto, todavia, a inserção sistemática das duas normas permite-nos sustentar que não é a mesma a sua força vinculativa. Enquanto a norma do art. 72.º, n.º 1, do CRP vincula apenas o conservador em sede de qualificação do pedido de registo, a norma do art. 50.º do CIMT vincula não apenas o conservador em sede de qualificação do pedido de registo mas ainda qualquer outra entidade em sede de requalificação do mesmo pedido. Importa, no entanto, salientar que o art. 50.º do CIMT não se basta com a prova de que o imposto se encontra assegurado, antes exige que se mostre pago o IMT que seja devido, pelo que, no que respeita a este imposto, o dever de fiscalização previsto na lei fiscal encerra uma intenção de garantia de cobrança efectiva que naturalmente não se acha tutelada pela previsão final do n.º 1 do art. 72.º do CRP. Donde a simples prova de que o pagamento do imposto se encontra assegurado (art. 72.º, n.º 1, do CRP) há-de ceder perante disposição legal especial que constitua o conservador no dever de se certificar de que o imposto se encontra pago. Obviamente, quaisquer circunstâncias que não devam ser imputadas ao contribuinte e que impeçam o pagamento do imposto em condições normais hão-de assumir relevância em sede de qualificação do registo, particularmente quando o resultado legal pretendido com a obrigação de fiscalização seja impedido precisamente por quem é beneficiário da mesma (cfr., por exemplo, a situação descrita no P.º RP 34/2007 DSJ- CT).

3 3 II- Nos termos do n.º 2 do artigo 63.º do Código do Imposto de Selo (CIS), aditado pelo Decreto-Lei n.º 211/2005, de 7 de Dezembro, o imposto do selo sobre as transmissões gratuitas de bens imóveis considera-se assegurado, desde que esteja instaurado o processo de liquidação e dele constem todos os imóveis transmitidos 2. III- O artigo 42.º, n.º 2, do CIS, aditado pelo Decreto-Lei n.º 287/2003, determina, por seu turno, que são «solidariamente responsáveis com o sujeito passivo pelo pagamento do imposto liquidado nas transmissões gratuitas as pessoas que, nos factos sujeitos a registo, tenham autorizado ou procedido à sua realização sem se certificarem de que o imposto se encontrava liquidado, de que fora promovida a sua liquidação ou de que não era devido» 3. IV- Assim, na apreciação de viabilidade do pedido, não pode o conservador ou o oficial de registo, com competência própria ou delegada para o acto, deixar de observar o disposto no art. 50.º do CIMT ou nos artigos 42.º, n.º 2, e 63.º, n.º 2, do CIS, sempre que os factos trazidos a registo se insiram no âmbito material e temporal de aplicação daqueles diplomas legais, exigindo a prova de que os direitos do fisco se encontram pagos (IMT) ou assegurados (IS) ou certificandose de que o imposto não é devido (IS e IMT) 4. 2 Parece evidente que a alteração do n.º 3 do art. 72.º do CRP levada a cabo pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, visou adequar a redacção do preceito legal ao disposto no art. 63.º, n.º 2, do CIS e à nova realidade fiscal, que, como se sabe, substituiu o imposto sobre as sucessões e doações pelo imposto de selo sobre transmissões gratuitas (cfr. o art. 28.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12 de Novembro). 3 Os pressupostos da responsabilidade solidária com o sujeito passivo pelo pagamento do imposto liquidado acabam por densificar o regime da obrigação de fiscalização a cargo de quem realiza ou autoriza o registo, posto que expressamente especificam os termos em que esta obrigação se há-de exercer: mediante a obtenção da prova ou da certificação de que o imposto se encontra liquidado, de que foi promovida a sua liquidação (cfr. o disposto no art. 72.º, n.º3, do CRP e no art. 63.º, n.º 2, do CIS) ou de que não é devido. 4 No caso de isenção que não seja de reconhecimento automático, assim como nos casos em que o reconhecimento automático deva ser verificado e declarado pelo serviço de finanças competente (cfr. o disposto no art. 10.º e 49.º, n.º 3, do CIMT, na redacção dada pelo artigo 97.º da Lei 64-A/2008, de 31 de Dezembro), importará fazer juntar ao processo de registo a prova documental respectiva.

4 4 V- A presunção legal a que se refere o artigo 72.º, n.º 4, do Código do Registo Predial só encontrará, portanto, aplicação prática quando as leis fiscais pertinentes ao facto registando não demandarem, como pressuposto de definitividade do registo, a prova de que o imposto se encontra pago ou a certificação do facto a que ela conduz, designadamente a prova directa de que o imposto se encontra assegurado ou de que não é devido 5. 5 Para além da gradação vinculativa entre as normas contidas nos artigos 72.º, n.º 1, do CRP e 50.º do CIMT, resulta claramente do seu texto uma ponderação de interesses diversa no que concerne ao regime da obrigação de fiscalização e, por conseguinte, aos meios de prova do encargo fiscal, posto que na fattispecie do art. 50.º do CIMT não se estabelece qualquer presunção legal de pagamento do imposto, designadamente, por referência ao tipo de actos, facto ou negócio jurídico; não se tira qualquer ilação a partir da natureza do título formal ou instrumental que opera a transmissão para firmar o cumprimento do encargo nem se admite como suficiente a prova de que o imposto se encontra assegurado. Como sublinha a recorrida, invocando a Informação emitida pela Direcção de Finanças do, a organização do processo de liquidação e cobrança que resulta das novas leis fiscais implica uma responsabilidade acrescida dos serviços de registo, desde logo, acrescentamos nós, porque o dever de fiscalização que lhes é agora atribuído extravasa a obrigação genérica que já resultava de leis fiscais anteriores e que ressalvava qualquer disposição em contrário (cfr. o disposto no art. 52.º do CIMT, que praticamente reproduz o art. 146.º do CIMSISSD). Parece, na verdade, que, face ao disposto no art. 50.º do CIMT, o conservador ou quem exerça idênticas funções de qualificação dos registos deve exigir prova do pagamento do imposto que seja devido, cabendo obviamente aos serviços de finanças apurar o encargo correspondente (art. 72.º, n.º 2, do CRP), ou certificarse de que o imposto não é devido. Não obstante, não pode, a nosso ver, dizer-se que a Reforma da Tributação do Património veio tacitamente revogar a presunção legal contida no art. 72.º, n.º 4, do CRP, nem que a Reforma do Registo Predial veio repôla ou confirmá-la no sentido da sua aplicação a todos os casos de registo com base em inventário judicial, partilha extrajudicial ou escritura de doação, antes se nos afigura pertinente invocar a dita presunção legal quando não haja disposições legais que impliquem a prova do pagamento do encargo fiscal ou a prova directa do facto a que ela conduz; quando com ela não concorra um dever de fiscalização, a cargo dos conservadores ou de outras entidades qualificadoras do registo, com um regime diverso. O campo de aplicação prática da norma estará, assim, balizado pelo conteúdo do direito fiscal pertinente à transmissão trazida a registo, pelo que, nesta perspectiva, não se justificará inferir da manutenção da norma, após a Reforma do Registo Predial, uma intenção legislativa de reinterpretação do disposto no art. 50.º do CIMT ou a vontade de fazer prevalecer a presunção de que o imposto se encontra assegurado em detrimento da prova, exigível à luz da lei fiscal, de que o mesmo se encontra pago. Faz-se notar que mesmo quando no art. 72.º, n.º 4, do CRP se atribui relevância ao decurso dos prazos de caducidade da liquidação ou de prescrição previstos nas leis fiscais (base da presunção ou facto conhecido a

5 5 Em conformidade, somos de parecer que o recurso não merece provimento 6. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 30 de Abril de Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em partir do qual se infere o facto desconhecido), não se quererá, com isso, inferir que o imposto foi pago ou que já não é devido, mas apenas que se encontra assegurado o seu pagamento. Com efeito, tendo em conta a possibilidade de suspensão e de interrupção dos prazos de caducidade e de prescrição previstos na lei fiscal, só a prova de que efectivamente ocorreu caducidade da liquidação ou prescrição do pagamento do imposto relativo à concreta transmissão pendente de registo permite considerar que o imposto já não é devido. 6 No caso concreto, temos que, do enquadramento fiscal da transmissão trazida a registo resulta uma incidência objectiva do imposto previsto nos artigos 1.º, 2.º, n.º 5, alínea c), e 5.º, todos do CIMT, o que, à luz do que vem sendo dito, determina a prova do pagamento do imposto que seja devido, não assumindo, aqui, relevância prática a presunção a que alude o art. 72.º, n.º 4, do CRP.