Pº R.P. 243/2007 DSJ-CT

Transcrição

1 Pº R.P. 243/2007 DSJ-CT- Cancelamento de registo de aquisição em processo executivo com base em decisão judicial que determina a anulação da venda, a restituição do preço e do IMT ao comprador Recusa por falta de título. DELIBERAÇÃO Relatório: Pela inscrição G-2 (Ap. 03, de ) foi registada a aquisição da já identificada fracção autónoma a favor de.ldª, por compra subsequente a negociação particular no processo de execução nº 119/, do 1º Juízo do Tribunal Judicial de, em que são co-executados os titulares inscritos de G-1, os ora recorrentes Edward e Pauline. Em os ora recorrentes registaram (insc. F-4) sobre a mesma fracção autónoma acção que moveram àquela., Ldª e outros, com o pedido, dentre outros, de anulação da venda feita a esta ré pela escritura identificada no artigo 85º desta petição inicial. Naquele processo de execução sumária nº 119/ foi proferido em despacho, já transitado em julgado, no qual o Mmo Juiz depois de considerar ter havido violação do disposto no art. 15º, nº 2, do C.P.C., por o Ministério Público a partir de 12 de Dezembro de 2002 ter sido o impulsionador da execução e ter continuado a representar os executados até 26 de Janeiro de 2005, e ter tal vício atingido actos anteriores à venda de que esta depende absolutamente, sendo a irregularidade grave, podendo influir na venda, produz «a nulidade prevista no art. 201º nº 1 do C.P.C. e, consequentemente, a anulação do acto da venda nos termos do art. 909º nº 1 alínea c), do mesmo Código» - determinou «a anulação da venda efectuada nos autos da fracção autónoma ( )» e a restituição a, Ldª da quantia de , pela mesma depositada «a título de pagamento do prédio ( )», bem como a quantia liquidada a título de IMT. Com base em certidão deste despacho foi requisitado o cancelamento da inscrição G-2. 1

2 Mas o registo foi recusado nos termos do disposto nos art.s 68º e 69º, nº 1, b), do C.R.P., com base na seguinte argumentação: Considerando que se encontra registada a acção cuja decisão é apresentada, deveria ter sido requerida a sua conversão (art. 101º, nº 2, al. b) do C.R.P.) uma vez que a mesma procedeu o que determinaria também o cancelamento oficioso da correspondente inscrição de aquisição, se fosse junto documento comprovativo de ter sido pedida, pelos executados e contra o comprador, a restituição do bem, nos termos do artigo 909º nº 3 do Código de Processo Civil. De acordo com esta disposição legal, se o executado não reivindicar o bem no prazo de 30 dias, terá direito apenas ao preço (neste caso não poderia proceder-se ao cancelamento agora requerido). Pedir a conversão do registo da acção constitui exigência do princípio (formal) do trato sucessivo (art. 34º, 2) sendo este mesmo o facto que se encontra titulado no documento apresentado; efectuar o registo tal como foi requerido (no caso de ser comprovado o cumprimento do art. 909º nº 3, referido) cancelamento de G-2 extinguiria apenas os efeitos do registo cancelado, sem no entanto repristinar a inscrição de aquisição a favor do G-1. Assim, deverá ser requerido a conversão do registo de acção, cancelando-se oficiosamente o G-2 se for apresentado /comprovado documentalmente ter sido pedida a restituição do bem, nos termos referidos no art. 909º, 3 do C.P.C.. Do despacho de qualificação vem interposto o presente recurso hierárquico, cujos termos aqui se dão por integralmente reproduzidos. Acentua-se, porém, que os recorrentes vieram esclarecer que a acção registada em F-4 é uma acção ordinária entrada no Tribunal Judicial de. em A Senhora Conservadora sustentou a recusa do registo em despacho cujos termos também aqui se dão por integralmente reproduzidos. Acentua-se, porém, que a recorrida admite que o despacho de qualificação enferma de erro, porquanto ali foi entendido que a decisão 2

3 apresentada a registo havia sido proferida no âmbito da acção que se encontrava registada com a cota F-4. O processo é o próprio, as partes legítimas, o recurso é tempestivo, os recorrentes estão devidamente representados, e inexistem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito. A posição deste Conselho vai expressa na seguinte Deliberação A decisão judicial, proferida em incidente deduzido no respectivo processo executivo, que determinou a anulação da venda efectuada e a restituição do preço e do IMT ao comprador, nos termos do art. 909º, nº 1, c), do C.P.C., é título manifestamente insuficiente para o cancelamento do registo de aquisição a favor do comprador, pelo que o pedido de cancelamento deste registo deverá ser recusado nos termos do art. 69º, nº 1, b), do C.R.P No Pº R.P. 66/2005 DSJ-CT já este Conselho tomou posição sobre a matéria. Reiteramos o entendimento ali expresso. Salientamos o seguinte: No CPC de 1939 não se previa a anulação do acto da venda [actual art. 909º, nº 1, c), do C.P.C.]; Anteriormente ao D.L. nº 329-A/95, de 12 de Dezembro, a rescisão da venda era consequência automática da declaração de nulidade que a afectava; o executado não tinha que requerer especialmente a rescisão (cfr. Lopes Cardoso, in Manual da Acção Executiva, 5ª ed., 2ª reimpressão, 1996, pág. 598); Com a introdução pelo D.L. nº 329-A/95 da al. c) do nº 1 na redacção originária do nº 3 do art. 909º do C.P.C., a anulação do acto da venda deixou de constituir consequência automática da anulação de acto do processo de que dependa absolutamente (cfr. Lebre de Freitas e Ribeiro Mendes, in Código de Processo Civil anotado, Vol. 3º, 2003, pág. 613); A parte no processo que pediu a anulação do acto da venda, nos termos do art. 201º do C.P.C., terá que pedir a restituição dos bens que dela foram objecto no prazo de 30 dias a contar da decisão definitiva, devendo o comprador ser embolsado previamente do preço e das despesas da compra, sob pena de o vencedor só ter direito a receber o preço; Considerando embora o caso da al. a) do nº 1 do art. 909º (do CPC de 1939), Alberto dos Reis, in Processo de Execução, Vol. II (reimpressão), 1985, pág. 435, ensinava: tanto o direito à restituição como o direito ao preço podem e devem ser exercidos no próprio processo de execução; o executado pede a restituição dentro de 30 dias; o juiz lavrará despacho condenando o comprador a restituir os bens, desde que seja embolsado previamente do preço e das despesas da compra; Lebre de Freitas e Ribeiro Mendes, ob. cit., pág. 616, dizem-nos que «Nos casos das alíneas a), b) e c), pedida a restituição ( ) o comprador só terá de restituir o bem vendido depois de ser reembolsado do preço e das despesas da compra (sisa, escritura, etc.). A restituição do preço é feita pelo solicitador de execução ou pelo tribunal, no caso de o produto da venda estar ainda depositado à sua ordem, ou pelo exequente e pelos credores que o hajam recebido, se o pagamento tiver sido efectuado, caso em que a obrigação de restituição pode estar garantida por caução (art.s 47-3, 777 e 818-4). O juiz não deve dar por anulada a venda sem ouvir previamente os restantes 3

4 Nos termos expostos, é entendimento deste Conselho que o recurso não merece provimento. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 25 de Setembro de João Guimarães Gomes de Bastos, relator. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em interessados (exequente; credor que recebeu o preço da venda; comprador), nos termos gerais (art. 3º; ver também o art )». Em face do anteriormente exposto, cremos que bem se compreende a conclusão do texto. A decisão judicial que determina a anulação do acto da venda e a restituição do preço e do IMT ao comprador não comprova a invalidade do negócio jurídico (cfr. art. 43º, nº 1, do C.R.P.). Será ainda necessário comprovar a prolação de uma outra decisão judicial que satisfaça o pedido de restituição do bem vendido ( e não apenas, como defende a recorrida, comprovar que os executados pediram no processo a restituição do bem). Quanto a saber se o facto sujeito a registo deve ingressar nas tábuas mediante averbamento de cancelamento do registo de aquisição tal como aliás foi pedido ou mediante registo da própria decisão que determinaria o cancelamento oficioso do registo de aquisição, para quem entenda que se trata de anulação, ou o mero trancamento da cota do registo de aquisição, para quem entenda que se trata de ineficácia -, somos de opinião de que a via mais escorreita é a do cancelamento do registo de aquisição. A Senhora Conservadora levantou a questão, julgamos nós, porque pensava que a acção (incidente) estava previamente registada. Nesse caso, faria sentido converter o registo da acção. Não estando a acção registada, cremos que já não fará sentido registar a decisão e, oficiosamente, o cancelamento do registo de aquisição (ou o mero trancamento da cota deste registo, se a venda for ineficaz em relação aos executados). O ponto está em saber se, de uma ou de outra forma, será repristinada a inscrição G-1. E, sobre ele, não temos dúvidas de que a resposta não poderá deixar de ser positiva. Seja registada a decisão, seja directamente cancelado o registo de aquisição a favor do comprador na acção executiva, renascerá o registo de aquisição a favor dos executados. A Senhora Conservadora estará sugestionada com a expressão extinção dos direitos que figura na letra do art. 13º do C.R.P., para afastar esta norma do caso dos autos. Na verdade, o direito de propriedade não se extingue (sofre, antes, uma modificação subjectiva). Mas precisamente por isso é que a repristinação se impõe. Aliás, o nº 4 do art. 101º do C.R.P. já fala em extinção do facto registado. E o art. 127º, nº 1, do Código de 1967 também se referia à extinção dos factos registados. Portanto, não nos preocupemos tanto com o rigor terminológico. Finalmente, importa tecer um breve comentário a propósito do registo da acção ordinária (F-4). Pelos vistos, os executados atacaram por incidente deduzido no processo executivo o acto da venda, arguindo a sua nulidade, e atacaram em acção ordinária o negócio jurídico respectivo, pedindo a anulação da venda. A acção ordinária foi registada. Prima facie este registo é inatacável. Mas tal registo não constitui obstáculo ao cancelamento do registo do facto objecto do pedido de declaração judicial de anulação, se documentalmente comprovado. Neste cenário, aconselharíamos a Senhora Conservadora a dar conhecimento do facto (cancelamento do registo de aquisição a favor do comprador no processo executivo) naquele processo declaratório, para os devidos efeitos. 4

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