Authorship and meaning production during in-service teachers qualification course on interdisciplinary project construction mediated by the computer
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- Filipe Porto Casado
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1 CINTED-UFRGS Novas Tecnologias na Educação Produção de sentido e autoria em curso de qualificação de professores na construção de projetos interdisciplinares de aprendizagem mediados pelo computador Authorship and meaning production during in-service teachers qualification course on interdisciplinary project construction mediated by the computer Querte T. Conzi Mehlecke * Janete Sander Costa ** Prof.ª Dr.ª Margarete Axt *** Prof.ª Dr.ª Liane M. R. Tarouco **** Resumo: Pretende-se trazer neste artigo uma breve discussão acerca das condições de produção de sentido e de autoria coletiva em ambientes de aprendizagem on-line em curso de capacitação de professores. Com base nos conceitos de enunciado, sentido e autoria no coletivo e relações dialógicas, objetiva-se apresentar uma análise preliminar de seqüências de enunciados de professores municipais de Dois Irmãos, RS, participantes do curso de atualização em projetos interdisciplinares de aprendizagem mediados pelo computador, evidenciadas em seus textos, registrados nas interações ocorridas na ferramenta/ambiente Fórum-Eduline. A metodologia de análise aqui esboçada articula aspectos teóricos com os dados empíricos produzidos, tornando-os visíveis e teoricamente sustentados, evidenciando a manifestação de processos de aprendizagem. Palavras-chave: Produção de sentido e autoria. Aprendizagem mediada pelo computador. Projetos interdisciplinares de aprendizagem. Relações dialógicas. Enunciado. Abstract: This article intends present a brief discussion concerning the conditions in the production of collective authorship and meaning in on-line learning environments while attending a teachers qualifying course on learning interdisciplinary projects mediated by the computer. Based on concepts such as utterance, dialogic relations, collective authorship and meaning in contexts of co-production of knowledge, this article aims at presenting a preliminary analysis of utterance sequences expressed by municipal teachers from Dois Irmãos, RS, where movements of production of authorship and meaning emerge in their utterances collected from the Fórum-Eduline interactions. The methodology articulates theoretical aspects with empirical data registrations. Participants utterances become visible and theoretically sustained with evidences of the learning processes manifestations. Keywords: Meaning and authorship production. Computer mediated learning. Learning interdisciplinary projects. Dialogic relations. Utterance. * Esp. em Informática na Educação-UFRGS, Doutoranda PPGIE/UFRGS, NEO/FACCAT, querte@faccat.br ** Mestre em Lingüística, NYU, Doutoranda PPGIE/UFRGS, NEO/FACCAT, janetesander@pgie.ufrgs.br *** Prof.ª Dr.ª em Lingüística Aplicada, PUC-RS, Coord. do PPGIE/UFRGS e LELIC/UFRGS, maaxt@ufrgs.br **** Prof.ª Dr.ª Engenharia Elétrica-Sistemas Digitais, EPUSP, Diretora CINTED/UFRGS, liane@penta.ufrgs.br V.3 Nº 2, Novembro,
2 Novas Tecnologias na Educação CINTED-UFRGS 1. Apresentação Com a crescente utilização do computador nas escolas, a informática educativa passou a conquistar novos espaços de atuação também nos currículos do ensino fundamental e médio em escolas das redes municipais. O município de Dois Irmãos, RS, por exemplo, através de ações políticas educacionais voltadas às novas demandas da sociedade local inserida no contexto nacional e global, em ação conjunta entre Secretaria de Educação e Faculdades de Taquara FACCAT, passou a oferecer programas de formação continuada aos seus professores, especialmente voltados à metodologia de ensino que privilegiasse a produção de projetos interdisciplinares, colaborativos e de autoria coletiva, apoiados pelo computador on&off-line. Em vista da comunicação mediada pelo computador estar cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, afetando seus modos de pensar, de agir e de aprender, é natural que as mudanças também atinjam as metodologias de ensino e aprendizagem menos centralizadas no professor, tornando-as cada vez mais flexíveis e integradas. Com essa caminhada, o crescimento da educação on-line nos últimos anos é significativo tanto para o meio educacional quando nas organizações empresariais. Nesta perspectiva, criam-se novas alternativas de ensino e aprendizagem no meio social e educacional, que procuram atender as necessidades e as demandas emergentes. Com a evolução tecnológica, os mecanismos de comunicação estão cada vez mais eficientes, encurtando distâncias e possibilitando a aprendizagem colaborativa através de ferramentas na Web que propiciam a comunicação síncrona e assíncrona. A aprendizagem, através dos recursos telemáticos mediados pela Web, permite aos usuários uma maior facilidade e agilidade nas comunicações independente de tempo e espaço. Um olhar crítico, reflexivo, para o que acontece nos ambientes de aprendizagem on-line volta-se às práticas e vivências que ali se constituem. Maia(2002, p.13) chama atenção aos ambientes de aprendizagem Web, quando destaca o papel de pedagogos e instructional designers no desenvolvimento desses espaços para promover a interatividade e, possivelmente, um relacionamento mais fecundo entre participantes: [...] o ambiente Web ou virtual de aprendizagem que o professor estará inserido e ativo tenha sido desenhado e desenvolvido por um grupo de especialistas, com a participação, inclusive, de pedagogos, instructional designers, além dos tecnológicos, desenhistas e arquitetos da informação.[...] estamos falando aqui de ambientes de aprendizagem que foram desenvolvidos para permitir a interatividade e promover o relacionamento, desenvolvimento e acompanhamento de atividades entre professores e estudantes e que aceitem um grau elevado de interatividade. Certos ambientes não permitem, nem promovem, nem estão interessados nesse grau de interatividade, gerando, basicamente, uma auto-aprendizagem eletrônica ou digital, repetindo o modelo EaD tradicional, baseada, porém, em uma mídia digital. Os ambientes de aprendizagem Web, de um modo geral, apresentam dados importantes de estudo, pois neles, a partir do enunciado do professor, os estudantes constroem conhecimentos colaborativos na medida em que as trocas e o diálogo ocorrem naturalmente. A interação em ambientes de aprendizagem requer formas de enunciação responsiva, na proposta apresentada pelo professor e registradas nas seqüências narrativas dos alunos. Esses enunciados, evidenciados nas ferramentas de comunicação dos ambientes on-line, geralmente são apresentados pelo professor, ao abrir um fórum 2 V. 3 Nº 2, Novembro, 2005
3 CINTED-UFRGS Novas Tecnologias na Educação de discussão, por exemplo, ou na apresentação de uma atividade que pode ser desenvolvida em diferentes ferramentas de comunicação. Bakhtin (1992) afirma que essas formas preenchem o enunciado e são sumamente variadas e que estão a requerer novos estudos sobre elas. Na época em que Bakhtin conceituou enunciado não existiam tecnologias informacionais, mas seus conceitos se tornam visíveis, se atualizam nas relações de diálogo travadas nos ambientes de aprendizagem on-line. De acordo com Coscarelli (2002), a integração de conhecimentos e saberes de diversas áreas é a marca de ambientes de aprendizagem. Na integração multidisciplinar as fronteiras implícitas ou explícitas entre as disciplinas são minimizadas pela utilização, integração e exploração de informação, conceitos e habilidades, numa variedade de contextos e de cruzamentos diferentes. Os ambientes de aprendizagem presencial constituem preferencialmente espaços da oralidade. Nesses ambientes, o professor, em face-a-face com seus estudantes, apresenta conteúdos, havendo pouco espaço para a interação. A partir da utilização de ambientes informatizados, essa realidade vem mudando rapidamente. As interações através dos ambientes on-line estão propiciando novos espaços para a construção do conhecimento através das interações entre os participantes. Pellanda (2000, p.229) afirma que o processo de ensino e aprendizagem deve ser visto como uma produção compartilhada entre o professor e o estudante. Ambos, juntamente com o conteúdo, são os responsáveis por tal processo. Para promover esta interação de forma mais colaborativa, os ambientes de aprendizagem on-line precisam de ferramentas que propiciem essas ações. Os ambientes de aprendizagem colaborativa em que professores e estudantes interagem mutuamente, abrem condições de possibilidade de tornar a aprendizagem mais significativa. Outras estratégias metodológicas precisam ser adotadas e dinamizadas pelo professor, para propiciar ao estudante maior autonomia na busca, na pesquisa e na construção de conhecimento no e com o grupo. Moran (1995, p.24) ressalta a produção compartilhada: As tecnologias viabilizam novas formas produtivas. As redes de comunicação permitem o processo de distribuição just in time em tempo real, com baixos estoques. Permitem a produção compartilhada[...] A colaboração entre participantes, nos ambientes on-line, passa a assumir lugar de destaque nos processos de ensino e aprendizagem que neles acontecem, pois possibilita aos envolvidos um alto grau de interação. Assim, para que essa interação seja significativa, a dinâmica da participação precisa ser mais movimentada pelo professor. Os estudantes são chamados a colaborar mais e a participar efetivamente das atividades propostas. Tarouco (2002), afirma que a aprendizagem colaborativa estimula a resolução de problemas, o pensamento crítico e a análise da aprendizagem através de experimentações ativas, ações construtivas e discussões. Um dos elementos presentes na construção do conhecimento de forma colaborativa, que propicia um espaço de aprendizagem mais significativo para o estudante, é a relação dialógica, aberta entre o eu e o outro. Nesses entres podem emergir relações dialógicas que, em última instância, irão evidenciar produção de sentido e de autoria no coletivo, nas seqüências de enunciados produzidos pelos estudantes ao longo dessas discussões, nesses embates dialógicos. Para ilustrar essas relações dialógicas que acontecem na interação mediada também pela linguagem escrita, registradas no Fórum Eduline, apresentam-se seqüências de enunciados que evidenciam essa interação mais positiva entre participantes do curso de Aprendizagem por Projetos: o que há de novo. V.3 Nº 2, Novembro,
4 Novas Tecnologias na Educação CINTED-UFRGS O curso, realizado de maio a julho de 2005, no Núcleo de Educação On-Line NEO -, FACCAT, teve a participação de quinze professores da rede pública de ensino do município de Dois Irmãos, RS, em encontros síncronos e assíncronos, em sua maioria, e em três encontros presenciais, no início, no meio do curso e no seu encerramento. Foi utilizado, como uma das ferramentas de interação, o Fórum - Eduline (respectivamente ferramenta e ambiente virtual de suporte à aprendizagem, de comunicação síncrona e assíncrona, desenvolvidos por pesquisadores e bolsistas do NEO). O diálogo, a seguir, localiza-se em meio a uma seqüência de enunciados, iniciados e entremeados pelas professoras do curso: 1 Autor: LS Não tinha muita noção de como era uma aula a distância, estou achando ótimo, quanto a questão dos projetos ja trabalho a algum tempo com este meio, e tem sido muito válido porque ocorre uma troca incrível entre professor e aluno, isso tem haver com a mensagem enviada pela JC, achei linda e acredito que cada um tem o seu tempo e momento e deve valorizar isso a sua maneira, sendo cantando, falando, brigando ou a forma que achar melhor para se comunicar. Autor: MR Olá amigas, amigas sim, pois me senti muito bem com as professoras, que nos acolheram com carinho de família, com as pessoas que conheci e também com o meu próprio grupo, onde me sinto mais a vontade e mais ligada pelo fato de estarmos mais juntas. Gostei muito da 1ª aula, pois vi que juntos conseguimos ir muito mais longe e com certeza muito melhor. Beijos para todas, RC. Autor: QT Meninasss...estou adorando ler vocês!!! Esse grupo é maravilhoso e muito especial! Mais uma colega entrou hoje, a RC, que bacana... aos poucos vamos nos unindo cada uma em seu tempo e interagindo. Ficamos muito satisfeita com a recepção de vocês em nosso encontro, vamos procurar sempre atender a todas as necessidades, curiosidades, aprendizagens...essas trocas são extremamente importante para todos e como fala a Lt e a JK sobre a resistência dos professores, essa é a parte boa...rsss boa para podermos discutir e quem sabe encontrar alguma(s) estratégia(s) que possa(m) reverter essas resistências. Vocês já são exceção no grupo em que trabalham pois estão aqui se qualificando e buscando novas alternativas para o processo de ensino e aprendizagem. A partir desse a primeira aula e os relatos que estão surgindo, que estratégias poderíamos utilizar para ajudar esses professores resistentes? Vamos adiante meninas... Um abraço caloroso a todas. Autor: JK Quando mencionas na questão de projetos de aprendizagem e projeto de ensino, no meu entender o projeto de aprendizagem é aquele que se constrói com o aluno, onde ambos tanto professor como aluno constroem o aprendizado juntos e projeto do ensino seria algo já programado, somente para aplicar com o aluno. Seria isto???? Aguardo novos questionamentos neste sentido. Beijos a todas! ouuu Autor: RC No trabalho por projetos há inicialmente uma colaboração, quando alunos colaboram entre si para: definir o assunto que vão estudar, quando pensam nas estratégias que vão usar para encontrar as respostas, quando pensam de que forma vão comunicar o que aprenderam e há uma cooperação quando ao relatarem suas experiências, há 1 Para preservar a identidade dos participantes, utiliza-se a representação por iniciais. Os diálogos estão apresentados em sua íntegra, conforme digitados no Fórum Eduline, com exceção dos nomes próprios. 4 V. 3 Nº 2, Novembro, 2005
5 CINTED-UFRGS Novas Tecnologias na Educação trocas e questionamentos, pois estas levam a um conhecer mais amplo pela turma toda, há uma ampliação de horizontes, novos conhecimentos são construídos enquanto que novas dúvida ainda podem surgir. Penso que é mais ou menos por aí... ou falei bobagem?????? Autor: QT Olááá meninas, tudo bem? Vamos dar início em nossa terceira semana de curso e para continuar as discussões, após lerem o texto que está no material de apoio vamos entender um pouco mais o que é colaborar e cooperar como já temos discutido um pouco sobre essas duas palavrinhas que as vezes nos confundem. Aguardo os comentários e discussões de todas, Um grande abraço. Autor: MR Olá colegas. Acho que colaboração e cooperação aparecem juntas. Em sala de aula acontece sempre a colaboração de vários modos diferentes(opiniões, atitudes,...),formando uma cooperação. Cooperação seria o todo, envolver-se inteiramente e colaboração seria em partes. Ambas acontecem na construção do conhecimento. Autor: QT Oláááá meninas, é, cooperar/colaborar são temas polêmicos e estão todas corretíssimas nos comentários. O comentário da Lt sobre a competição é lamentável, mas vivemos num mundo competitivo e nossos alunos já estão com essas idéias incorporadas pois, tudo que fazem é baseado em "notas" avaliações, etc... não temos como tirar isso deles o que podemos fazer é mudar as metodologias de trabalho propondo novas formas de avaliação e construção de conhecimentos para assim tentar mostrar a eles que para competir precisam ter um aprendizado significativo. FS, lembro bem das colocações no nosso primeiro chat e é por aí mesmo, que bom que foi esclarecido. Meninas, está excelente essas colocações, o importante é terem uma consciência e um saber quando falamos tanto em um quanto em outro conceito... e vamos continuar, bjsss a todas e até logo mais. Autor: AN Olá colegas! Vamos ver se entendi bem, através de um exemploquanto a colaboração e cooperação. Estou colaborando com meus colegas levando um material para a escola que pode ser bem aproveitado por todos. Estou contribuindo com os mesmos na medida que ponho em prática com eles. Certo? Procuro fazer atividades em aulas, onde os alunos estão divididos em grupos e os que entendem mais explicam para os que tem mais dificuldades.estou na verdade colaborando com eles, sim ou não? Vou passando de grupo em grupo tirando as dúvidas. Sempre tem aqueles que não querem cooperar, ajudando os colegas. Não querem dividir conhecimento. Está correto esta posição quanto a colaboração e a contribuição? Abraços e até daqui a pouco. Autor: FS Havia comentado no primeiro bate papo, qdo questionava a questão do cooperar e colaborar, este material explica exatamente o que tentava disser. Acredito que há a cooperação e colaboração qto professores e qto alunos. O sucesso do projeto se dá com o comprometimento do grupo, tanto dos professores. Axt e Maraschin (1997) dizem que a leitura do texto do outro instaura sentidos e novos sentidos na medida em que um texto é sempre um eco a um texto do outro-, a partir dos mesmos movimentos de retroação e provocação, de repetição e de abertura ao diferente e às novas possibilidades. Assim, os discursos seguem novos caminhos, modificando-se ao encontrar os sentidos. As interações surgem quando um participante/estudante levanta uma posição deixando em aberto possibilidades de intervenção de outros participantes. Nas V.3 Nº 2, Novembro,
6 Novas Tecnologias na Educação CINTED-UFRGS seqüências acima, salientam-se enunciados onde há evidência de interação, como quando uma participante, ao referir-se ao discurso imediatamente anterior, concorda, e segue produzindo seu novo enunciado, inaugurando um novo caminho em direção à sua produção de sentido neste momento do curso. 2. Ambientes de aprendizagem on-line Moran (2003), quando trata da importância que a diferença da educação on-line produz onde o ensino presencial, ainda calcado em propostas tradicionais de ensino, não consegue dar conta, sugere que o ensino presencial levaria muito mais tempo para atingir seus objetivos de promover a aprendizagem a um grande número de estudantes, especialmente se oriundos de diferentes e distantes lugares. A flexibilidade da educação on-line atrai pessoas, pois elas podem participar e se qualificar, interativa e colaborativamente, independente de sua localização geográfica. Silva (2003, p.12) aproxima a interatividade do diálogo quando a construção de conhecimento pode ser mediada por ferramentas de gestão e autoria: à dos Justamente com essa flexibilidade espacial e temporal, o computador conectado Internet permite ao aprendiz interatividade, isto é, diálogo, criação e controle processos de aprendizagem mediante ferramentas de gestão e autoria. [...] permitindo participação e intervenção na troca de informações e na construção do conhecimento. Um ambiente de suporte à aprendizagem on-line utilizado em cursos que pretendam atingir um maior número de pessoas que necessitem de qualificação em uma determinada área, deve disponibilizar aos seus usuários as mais diversas ferramentas e recursos para seus objetivos serem atingidos, desde tecnologias de última geração às mais tradicionais, para que os mesmos possam ter acesso aos cursos independentemente de conexão ou localização geográfica, possibilitando sua participação mais efetiva, nas atividades propostas. Por outra via, Moran (2003) sugere que a educação on-line também traz contribuições significativas ao ensino presencial. Há Universidades e Centros Universitários que integram aulas presenciais com atividades on-line. Dentro dessa proposta bi-modal, o estudante amplia seu tempo e espaço de aprendizagem, não se limitando apenas ao espaço físico da sala de aula. Moran (2001, p.13) postula sobre o educar: Educar é colaborar para que professores e estudantes - nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem.[...] Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experimentamos, lemos compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos[...] Na tentativa de propiciar uma aprendizagem mais efetiva, em cursos on-line, os professores precisam se preparar para interagir com grupos de estudantes heterogêneos, vindos de culturas, condições sociais diferentes, múltiplas e complexas. Ministrar as dificuldades e eventualidades que possam ocorrer é fundamental para que não haja evasões despercebidas. O professor atento a todos e a tudo que envolve afetivamente o espaço de aprendizagem do estudante, cria condições de confiança, deixa-o mais seguro, amparado e integrado ao grupo e às atividades propostas. 6 V. 3 Nº 2, Novembro, 2005
7 CINTED-UFRGS Novas Tecnologias na Educação 3. As relações dialógicas expressas nos ambientes Web Vive-se hoje na sociedade da comunicação e informação e as novas tecnologias vêm alterar significativamente o cotidiano sócio-cultural, estando, estas, presentes em todas as áreas do conhecimento, em praticamente todos os contextos de vida. Nesse sentido, as instituições de ensino deixam de ser o principal espaço de formação e construção de conhecimento, pois a velocidade da evolução tecnológica e o acesso à rede mundial de computadores Internet -, oportuniza uma aprendizagem permanente, assim como motiva a necessidade contínua de pertencimento a esses saberes trazidos à sociedade pelos novos meios de comunicação mediada pelo computador e seus efeitos. A utilização de recursos tecnológicos na educação vem sendo explorada cada vez mais, pois com os recursos que a Web propicia e a rapidez com que se chega à informação. A busca de informação e a pesquisa científica, rapidamente, recebem dados de múltiplas fontes. Por outro lado, tanto estudantes como professores precisam saber filtrar essas informações, saber o que é confiável e o que deve ser descartado. Esses novos saberes e modos de agir diante dessa avalanche de informações na Web necessitam ser discutidas no grupo, pois há bancos de dados confiáveis, além de fontes sérias de publicação de interesse ao estudo escolar e à pesquisa científica. 4. Relações dialógicas: o encontro entre o eu e o tu, um outro, outros As relações expressas em diálogos nos ambientes de aprendizagem on-line são dados essenciais para análise, pois, a partir dos enunciados de professores e estudantes, dos participantes que atuam em tal espaço, é que se poderá analisar essas relações. Seus enunciados, suas palavras, marcam os encontros onde se travam diálogos. Bakhtin (2000, p. 345), diz que quando não há palavra, não há língua, não pode haver relação dialógica. As palavras contidas nos enunciados, ou melhor, nas seqüências de enunciados emitidos pelos professores e estudantes em contato virtual, materializam as evidências para o estudo de suas produções de sentido e de suas autorias no grupo. Umas das condições necessárias para esse estudo acontecer tem a ver com o caráter responsivo contido nas relações de diálogo entre um eu e um tu ou outro, que pode estar contido tanto numa simples pergunta, como: que horas são?, quanto em uma exposição científica (Bakhtin, 2000). Voltando aos enunciados registrados no Fórum - Eduline, o professor orienta os passos a serem seguidos pelos estudantes, inicialmente na primeira aula presencial. Esses passos são reforçados no Fórum, no ambiente de aprendizagem on-line. A seguir, o enunciado que ilustra esse movimento de responsividade, no Fórum: Autor: QT Oláááá meninas, Vamos dar início as nossas discussões falando um pouco da aula 1? Relatem as experiências, perguntem, tirem dúvidas, reflitam e participem do fórum, estaremos sempre aqui acompanhando, orientado e principalmente interagindo. Estou super motivada para iniciar essas discussões!vamos lá? Tendo em vista os conceitos de relações dialógicas e enunciado, pode-se dizer que, a partir do enunciado do professor, o qual apresenta uma proposta de trabalho para os estudantes no Fórum - Eduline, este os convida para novas e diversas interações dialógicas, que podem ser de natureza responsiva, de concordância, discordância, questionamento, devendo produzir diversos enunciados, respostas, surgindo outras vozes além da do professor. Essas interações desencadeadas por um enunciado instigador (marcado com a repetição da vogal a acentuada, como na palavra Oláááá seguida do substantivo meninas, na abertura desse turno de fala) pode disparar muitas respostas, V.3 Nº 2, Novembro,
8 Novas Tecnologias na Educação CINTED-UFRGS com traços orais salientes, entremeados de expressões e sinais gráficos que denotem graus semelhantes de afetividade. Processos semelhantes a esse aqui comentado podem facilmente ser encontrados em outros ambientes de suporte à aprendizagem, em ferramentas de bate-papo, mesmo no fórum, se a estratégia do professor assim o permitir. Há exemplos de registros de traços orais, envoltos em linguagem com marcas de afetividade bem fortes, empregando tons e estilos interacionais que podem produzir efeitos de sentido importantes na construção de vínculos entre os participantes de um curso como o acima referido. Há estudos em andamento com enunciados produzidos em outras ferramentas de autoria coletiva, como o ForChat 2, o EquiText (Costa et al., 2003), em listas de discussão, ou ainda nas ferramentas de interação síncrona e assíncronas disponíveis no ambiente de suporte à aprendizagem, o TelEduc. Nos enunciados em destaque, percebem-se as vozes dos alunos em suas tonalidades e estilos, que se constituem nos encontros com as vozes de outros colegas. Nessas tensões de força dialógica, algumas vozes se apresentam como autoridade, naqueles espaços; outras são internamente persuasivas, outras ainda vão se constituindo conforme o movimento das interações ou conforme os papéis que desempenham dentro e fora dos ambientes. (Faraco, 2003, p. 81). Nessas seqüências de enunciados, podem emergir discussões, concordâncias, oposições às questões postas pelos professores. E se A vida é dialógica por natureza... Viver significa participar do diálogo: significa interrogar, ouvir, responder, estar de acordo etc.. Bakhtin (1982, p. 384). A análise preliminar de seqüências de enunciados do Curso, conforme Axt (2005) destacou, acima, alguns excertos-enunciados que apontaram à produção de sentido e de autoria no coletivo desse grupo que se constituiu tanto presencialmente (em três encontros) como e principalmente nos encontros no Fórum Eduline. Pode-se pensar que as estratégias de interação em tom amoroso, dialógico, colaborativo, abertas ao compartilhar de dúvidas, de questões de várias naturezas, construídas pelos professores, possam ter auxiliado. Entender o dialogismo de Bakhtin (2000, p.404), nesse contexto, é essencial para a compreensão do lugar do eu e do outro, em sua posição de autor, de produtor de sentidos, de inserção no espaço mesmo virtual de construção de conhecimentos. Compreender é cotejar com outros textos e pensar num contexto novo (no meu contexto, no contexto contemporâneo, no contexto futuro). Contextos presumidos do futuro: a sensação de que estou dando um novo passo (de que me movimentei). Etapas da progressão dialógica da compreensão; o ponto de partida o texto dado, para trás os contextos passados, para frente a presunção (e o início) do contexto futuro. 5. Considerações finais e perspectivas futuras A Web oferece uma variedade de benefícios à aprendizagem, além da facilidade de comunicação global, acesso a banco de dados e a diferentes espaços de interação. Dentre os aspectos levantados, pode-se inferir que as ferramentas de comunicação síncrona e assíncrona, utilizadas nos ambientes Web, encurtam distâncias, se for possível aproximar professores e estudantes efetiva e afetivamente. Nessa concepção de um fazer pedagógico sócio-interacional, pode-se pretender construir uma educação aberta ao diálogo, às interações, às relações dialógicas no coletivo, à participação compartilhada, em colaboração com o outro, visando a construção conjunta de novos saberes, manifestadas em enunciados que se produzem em encontros com outros 2 Costa e Axt (2005), em atualização em português. 8 V. 3 Nº 2, Novembro, 2005
9 CINTED-UFRGS Novas Tecnologias na Educação enunciados, criando sentidos e autorias em conjunto, ainda que as diferenças de acesso às tecnologias, aos bens sociais, culturais e educacionais tensionem a aprendizagem. A necessidade de ampliar a pesquisa sobre a utilização das tecnologias digitais na educação em ambientes de aprendizagem on-line passa pela produção discursiva de seus usuários, onde seus enunciados irão exteriorizar suas realidades, suas carências, suas potencialidade. Saber trabalhar com a diferença, com a multiplicidade e a complexidade parece ser desafiador o suficiente para se pensar em novas e eficazes estratégias de intervenção pela e na educação. 6. Referências Bibliográficas AXT, Margarete. Uma proposta metodológica empírico-teórica. Porto Alegre: UFRGS, 2005 (no prelo). AXT, Margarete; MARASCHIN, Cleci. Narrativas avaliativas como categorias autopoiéticas de conhecimento. Disponível em: < Acesso em: 20 mai AXT, Margarete. Tecnologia na educação, tecnologia para a educação um texto em construção. Revista Informática na Educação: teoria & prática, 3(1):51-62, Porto Alegre, UFRGS, AXT, Margarete; MARASCHIN, Cleci. Prática pedagógica pensada na indissociabilidade conhecimento-subjetividade. Revista Educação & Realidade, 22(1):57-80, jan/jun, BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 3 a. ed., São Paulo: Martins Fontes, BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 6 a ed. São Paulo: Hucitec, COSCARELLI, Carla Viana (Org.). Novas tecnologias, novos textos, novas formas de pensar. Belo Horizonte: Autêntica, COSTA, Janete S.; MEHLECKE, Querte, T. C.; REICHERT, Clóvis L. AXT, Margarete; TAROUCO, Liane, M. Oral traces in written L1 and L2 interactions: Affective gifts of informal language styles in virtual learning communities. E-Learn 2004, World Conference on E-Learning in Corporate, Government, Healthcare & Higher Education. Washington, DC, USA, Nov. 1-5, (Artigo aprovado mas não apresentado). COSTA, Janete S.; AXT, Margarete. Encontros Dialógicos com Sentido e Autoria: movimentos da linguagem oral nas interações escritas de uma comunidade virtual. Monografia acadêmica apresentada em 2002, PPGIE/UFRGS. Em processo de atualização. FORCHAT. Disponível em: Acesso em: 21 out MAIA, Carmem. Guia brasileiro de educação à distância 2000/2001. São Paulo: Esfera, MEHLECKE, Querte T.C.; AXT, Margarete; TAROUCO, Liane M.R. For-Chat: uma comunidade virtual construindo sentido, autoria e conceitos através do discurso em um ambiente cooperativamente interativo. Artigo publicado no I Ciclo de Palestras sobre Novas Tecnologias na Educação - CINTED Disponível em: < Acesso em: 15 mar MORAN, José Manuel. Contribuições para uma pedagogia da educação on-line. In: Marco Silva (org) Educação On-line. Teorias, práticas, legislação e formação corporativa. São Paulo: Loyola, 2003, pp V.3 Nº 2, Novembro,
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