Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife

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1 2 a edição Nead - UPE 2009

2 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife M775f Monteiro, Maria Perpétua Teles Fonética e fonologia da língua portuguesa / Maria Perpétua Teles Monteiro. Recife: UPE/NEAD, p.: il. (Letras). ISBN Conteúdo: fasc. 1 Aspectos introdutórios da fonética e da fonologia; fasc. 2 Fonologia e processos fonológicos da língua portuguesa; fasc. 3 - Proces sos morfofonológicos e estilísticos; fasc. 4 - Variação Linguística: sincronia e diacronia. 1. Fonética - língua portuguesa 2. Fonologia - língua portuguesa 3. Edu cação a distância I. Universidade de Pernambuco, Núcleo de Educação a Distância II. Título CDU

3 Universidade de Pernambuco - UPE Reitor Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado Vice-Reitor Prof. Reginaldo Inojosa Carneiro Campello Pró-Reitor Administrativo Prof. Paulo Roberto Rio da Cunha Pró-Reitor de Planejamento Prof. Béda Barkokébas Jr. Pró-Reitor de Graduação Prof.ª Izabel Cristina de Avelar Silva Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Prof.ª Viviane Colares S. de Andrade Amorim Pró-Reitor de Extensão e Cultura Prof. Álvaro Antônio Cabral Vieira de Melo NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Coordenador Geral Prof. Renato Medeiros de Moraes Coordenador Adjunto Prof. Walmir Soares da Silva Júnior Assessora da Coordenação Geral Prof.ª Waldete Arantes Coordenação de Curso Prof.ª Silvania Núbia Chagas Coordenação Pedagógica Prof.ª Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima Prof.ª Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes Prof. Walmir Soares da Silva Júnior Coordenação de Revisão Gramatical Prof.ª Angela Maria Borges Cavalcanti Prof.ª Eveline Mendes Costa Lopes Prof.ª. Célia Barbosa da Silva Oliveira Administração do Ambiente José Alexandro Viana Fonseca Coordenação de Design e Produção Prof. Marcos Leite Equipe de design Anita Sousa Gabriela Castro Rafael Efrem Rodrigo Sotero Romeu Santos Susiane Santos Coordenação de Suporte Adonis Dutra Afonso Bione Prof. Jáuvaro Carneiro Leão Edição 2009 Impresso no Brasil - Tiragem 150 exemplares Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro Recife - Pernambuco - CEP: Fone: (81) Fax: (81)

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5 5 Ementa Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa Prof. a Maria Perpétua Teles Monteiro Carga Horária 60 horas Objeto da Fonética e da Fonologia. Aspectos descritivos da Fonética e da Fonologia da Língua Portuguesa. Análise Fonológica. Traços Distintivos. Processos morfofonológicos e estilísticos. Variação linguística: sincronia e diacronia. Objetivo Geral Introduzir, numa postura reflexiva, aspectos gerais dos parâmetros teóricos sobre a estruturação dos sistemas fonético e fonológico da Língua Portuguesa. Apresentação da Disciplina Prezado aluno Nos fascículos desta disciplina, pretendemos promover uma reflexão acerca do sistema de caracterização e distinção dos segmentos sonoros da Língua Portuguesa a partir de parâmetros teóricos pertinentes ao estabelecimento de regras e processos fonológicos. Inicialmente apresentaremos o objeto da fonética e da fonologia e aspectos fonéticos do Português do ponto de vista da fonética articulatória. Em seguida, apresentaremos estudos referentes aos processos fonológicos, morfofonológicos e estilísticos e encerraremos com estudos sobre a descrição linguística em seu caráter sincrônico e diacrônico. Esperamos contribuir, mesmo que de forma introdutória, para o seu processo de aquisição de conhecimentos, compreensão e análise da fonética e fonologia do Português.

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7 Fascículo 1 7 Objetivos Específicos Aspectos Introdutórios da Fonética Prof. a Maria Perpétua Teles Monteiro Carga Horária 15 horas Apontar conceitos e fundamentos, identificando hipóteses explicativas, relacionais e distintivas para os processos descritivos da fonética. Realizar transcrições fonéticas do Português. 1. Introdução 1.1. Objeto da Fonética e da Fonologia. O Que É Isso? Fontes: Fonte: BROWNE, Dik Hãgar. In: Folha de São Paulo, 16 de dez.1999, p.4-8. Tirinha da Mônica. Tirinha do Hagar.

8 8 Fascículo 1 Todos nós, como falantes de uma língua, fazemos reflexões sobre o uso e a forma da linguagem que utilizamos. Qualquer indivíduo pode falar sobre a linguagem e discutir aspectos relacionados à língua que conhece usando parâmetros lingüísticos e epilinguisticos. Essa atividade faz parte do conhecimento comum das pessoas. No entanto, esperamos também que você realize, sobre a língua e a linguagem, atividades metalinguísticas, pois há um ramo da ciência cuja preocupação e objeto de estudo é a linguagem, o que nos oferece elementos próprios e apropriados para falarmos sobre a língua. Essa ciência é a Linguística. Ela está voltada para a explicação de como a linguagem humana funciona e como são as línguas em particular, quer fazendo o trabalho descritivo previsto pelas teorias, quer usando os conhecimentos adquiridos para beneficiar outras ciências e artes que usam, de algum modo, a linguagem falada ou escrita. Nas próximas páginas, trataremos de duas áreas dentro da tradição linguística que necessitam, como as demais, de conhecimentos linguísticos específicos para a realização de reflexões sobre a língua: a Fonética e a Fonologia. Esses temas serão tratados em tópicos separados, porque, apesar de as duas áreas lidarem com os sons usados na fala e pertencerem ao nível biológico do falar condicionado psicofisicamente, diferem na perspectiva com que estudam esses sons. Enquanto a fonética tem como unidade o som da fala ou fone (substância da expressão), trabalhando com os sons propriamente ditos, como eles são produzidos, percebidos e que aspectos físicos estão envolvidos em sua produção, a fonologia opera com a função e organização desses sons em sistemas: o fonema (forma da expressão) Áreas de Interesse da Fonética A Fonética é a ciência que apresenta os métodos para descrição, classificação e transcrição dos sons da fala. As principais áreas de interesse da fonética são: Fonética articulatória: é aquela que leva em conta o que se passa no aparelho fonador, durante a produção de sons. Compreende estudos fisiológicos e articulatórios. Fonética auditiva: é aquela que considera a percepção do ouvinte. Fonética acústica: centra-se nas propriedades físicas da onda sonora que é produzida pelo ar ao passar pelo aparelho articulador. Compreende o estudo das propriedades físicas dos sons da fala a partir de sua transmissão do falante ao ouvinte. Fonética instrumental: compreende o estudo das propriedades físicas da fala, levando em consideração o apoio de instrumentos laboratoriais. Nossos estudos estarão concentrados nos aspectos fisiológicos da produção do som. Estudos que considerem as demais dimensões são objeto de outras disciplinas (fonética experimental, fonética paramétrica, entre outras). Atividade Ao realizar a leitura das tirinhas, fale sobre a importância da fonética e da fonologia. SAIBA MAIS! A fonética pode ser: Descritiva; Histórica; Sintática. A Sociedade Brasileira de Fonética Membro da International Phonetic Association foi fundada em 8 de junho, de Acesse: 2. Descrição Fonética 2.1. Aparelho Articulador O ser humano é capaz de produzir uma quantidade variada de sons vocais. Para entendermos a produção desses sons, faz-se necessário analisarmos as partes do corpo humano que estão envolvidas nessa produção: Pulmões: embora haja outras fontes de ar utilizadas na fala, os pulmões são a principal fonte, estando conectados à traqueia por dois tubos bronquiais. Traqueia: vai dos tubos bronquiais até a laringe, sendo responsável pela maior fonte de energia para a produção dos sons da fala. É formado por anéis cartilaginosos, que se mantêm unidos por uma membrana. Laringe: trata-se de uma válvula, cuja função principal é a de controlar o ar que sai e entra

9 Fascículo 1 9 nos pulmões, além de impedir que alimentos entrem nos pulmões. É formada por várias cartilagens. Algumas delas se movimentam, entre elas, as cartilagens que se ligam às cordas vocais. Cordas vocais: na verdade, não são cordas, mas, sim, ligamentos de tecido elástico que estão unidos às cartilagens aritenoides (na parte de trás, chamada de posterior, da laringe) e à tireoide (localizada na parte da frente, chamada de anterior, da laringe) na laringe. Desse modo, as cordas vocais são fixas na tireoide, e seu movimento de abertura se dá pelo movimento das cartilagens aritenoides. A abertura ou fechamento dessas cartilagens faz com que as cordas vocais se abram ou fechem em diferentes graus, provocando alterações na corrente de ar que vem do pulmão, o que provoca diferentes modos de fonação. Glote: corresponde à abertura, ao espaço entre as cordas vocais, que pode assumir diferentes formas, a depender da posição das cordas vocais. Epiglote: cartilagem em forma de colher, cuja função é a de fechar a laringe, de modo que o alimento não entre na laringe e, portanto, nos pulmões. Faringe: é um tubo muscular com forma de um cone invertido, que vai da glote à base do crânio. Através dele, ocorre a passagem do ar para a respiração e para a fonação (via traqueia) e do alimento ingerido (via esôfago). Ela se divide em oro-faringe (que vai da glote até o véu palatino) e naso-faringe (do véu palatino até as fossas nasais). Véu palatino: refere-se à continuação do céu da boca. Quando o véu palatino está abaixado, a passagem velo-faringal encontra-se aberta, e o ar pode passar pela cavidade nasal. É também conhecido como palato mole (escorregue a língua pelo céu da boca que é possível sentir quando não há mais osso, o que deixa o tecido muscular mole). Úvula: trata-se de um prolongamento do véu palatino. É também conhecida como campainha. Cavidade nasal: espaço entre a passagem velofaringal e as fossas nasais, separado da cavidade oral pelo palato duro. Quando o véu palatino está abaixado, o ar transita por essa passagem. Palato duro: parte superior da cavidade bucal, fica localizada à frente do véu palatino, logo após a arcada alveolar. É fixa e óssea. Cavidade oral: formada pelos lábios, dentes, mandíbula e língua. Em sua parte interna, encontram-se os alvéolos. Arcada alveolar: parte óssea localizada atrás dos dentes superiores, antes do palato duro. Dentes: influem na fonação, porque podem impedir, total ou parcialmente, a passagem de ar. Lábios: duas pregas que marcam o final da cavidade oral e do trato vocal. Sua constituição muscular permite grande plasticidade e mobilidade, alterando a forma da cavidade oral. Mandíbula: maxilar inferior. Graças a sua mobilidade, permite, também, alterações na cavidade oral. Língua: trata-se de um grande músculo dotado de alto grau de mobilidade voluntária. É responsável pelas maiores modificações do volume e da geometria da cavidade oral. Possui diferentes partes, a saber: Partes da língua 1. ponta ou ápice (localizada na borda lateral frontal da língua); 2. lâmina (localizada na borda superior frontal da língua); 3. centro; 4. dorso; 5. raiz; 6. sublâmina Articuladores Ativos e Passivos Os articuladores ativos têm a propriedade de movimentar-se em direção ao articulador passivo, modificando a configuração do trato vocal. Eles são Fonte: [adaptado de] Fiorin (2007. p.15)

10 10 Fascículo 1 assim denominados devido ao seu papel ativo na articulação consonantal. Os articuladores ativos são: o lábio inferior, a língua, o véu palatino, as cordas vocais. Os articuladores passivos localizam-se na mandíbula superior, exceto o véu palatino, que está localizado na parte posterior do palato. Os articuladores passivos são o lábio superior, os dentes superiores e o céu da boca, que se divide em: alvéolos, palato duro, palato mole e úvula. Perceba que o véu palatino (palato mole) pode atuar como articulador ativo (na produção de segmentos nasais) ou como articulador passivo (na articulação de segmentos velares). A posição do articulador ativo em relação ao passivo define o lugar de articulação dos segmentos consonantais. Aparelho Fonador Aparelho fonador (articuladores, cavidades e glote) 1. Cavidade oral 2. Cavidade nasal 3. Cavidade nasofaringal 4. Cavidade faringal 5. Lábio superior 6. Dentes superiores 7. Alvéolos 8. Palato duro 9. Palato mole(véu palatino) Fonte: [adaptado de] Silva (2008.p.30) 10. Úvula 11. Lábio inferior 12. Dentes inferiores 13. Ápice da língua 14. Lâmina da língua 15. Parte anterior da língua 16. Parte média da língua 17. Parte posterior da língua 18. Epiglote 19. Laringe 20. Esôfago 21. Glote(cordas vocais) SAIBA MAIS! Atividades linguísticas - quando o falante faz sobre a língua uma reflexão automática, utilizando-se de sua gramática internalizada. São aquelas que o usuário da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor) faz ao buscar estabelecer uma interação comunicativa por meio da língua, o que lhe permite ir construindo o seu texto de modo adequado à situação, aos seus objetivos comunicacionais. Atividades epilinguísticas - quando o usuário constrói e reconstrói para se comunicar. São aquelas que suspendem o desenvolvimento do tópico discursivo (ou do tema ou do assunto) ou aspectos da interação, para, no curso da interação comunicativa, tratar dos próprios recursos linguísticos que estão sendo utilizados. As atividades epilinguísticas estão presentes nas hesitações, correções, pausas longas, repetições, antecipações, lapsos, etc. ou, por exemplo, quando um interlocutor questiona a atuação interativa de outrem ou controla a tomada da palavra numa conversação, indicando quem deve ou não falar por meio de recursos diversos (perguntas, respostas, solicitações, etc.). Atividades metalinguísticas - quando a língua se torna o conteúdo, o assunto, o tema, o tópico discursivo da situação de interação, construindo-se um conhecimento sobre a própria língua. São aquelas em que se usa a língua para analisar a própria língua.

11 Fascículo A Produção dos Sons na Linguagem Humana Imagine uma situação comunicativa em que você ficasse examinando o seu modo de falar e o do seu ouvinte. Observe a cena proposta por Auguste Renoir. O que aconteceria com a comunicação? Introdução Auguste Renoir. Tão natural quanto o olfato, a visão e o paladar é o ato de falar para o ser humano. Esse ato é tão natural que só paramos para observar seu funcionamento nos casos de deficiência ou de falta. No entanto, é essa capacidade de falar do modo como o fazemos que distingue o ser humano de todos os outros animais. Quando um ser humano em condições normais tem algo a expressar a outrem, entra em funcionamento seu sistema nervoso, impulsionando o aparelho fonador que opera sobre a informação a ser transmitida e a codifica em determinados padrões de ondas sonoras (a linguagem, o código, a mensagem). Esta operação recebe o nome de codificação. Quando as ondas sonoras, emitidas pelo falante, são conduzidas pelo ar atmosférico circundante, indo atingir o aparelho auditivo do ouvinte, que capta os sons convertendo as ondas sonoras em atividade nervosa, que é levada ao cérebro, a operação recebe o nome de decodificação. Está, assim, fechado o circuito e o processo que pode se repetir passando o ouvinte a falante. Fonte: Língua, linguagem e comunicação: htm 3.1. Mecanismos para a Produção de Correntes de Ar Para produção dos sons, a corrente de ar pode tomar duas direções: egressiva e ingressiva. A direção egressiva é aquela em que o ar vai para fora dos pulmões e é expelido por meio da pressão exercida pelos músculos do diafragma, enquanto a direção ingressiva é aquela em que o ar vai para dentro dos pulmões. No caso dos sons do português, o mecanismo de produção é egressivo (sons plosivos). As correntes de ar podem ser pulmonares, glotais e velares. A corrente pulmonar é aquela que se inicia nos pulmões e é responsável, além da fonação, pelo ciclo respiratório. A corrente de ar egressiva é usada em todas as línguas. Não há línguas que utilizem a corrente pulmonar ingressiva para a produção de sons distintivos. A corrente de ar glotal ou faringal usa o ar que está acima da glote fechada e inicia a corrente de ar através do movimento da laringe para cima e para baixo. Os sons produzidos pela corrente glotal ocorrem quando são produzidos pelo movimento dos músculos da laringe para cima e são normalmente conhecidos como ejetivos. Os sons produzidos pela corrente de ar glotal ingressiva são realizados pelo movimento dos músculos da laringe para baixo, conhecidos como implosivos. O mecanismo de corrente de ar glotálico não ocorre em português. A corrente de ar velar ou oral é produzida dentro da cavidade oral por meio do levantamento da parte posterior da língua, que entra em contato com o véu palatino, fechando a parte posterior da cavidade e, na parte anterior, pelo fechamento dos lábios ou pelo contato da língua com o céu da boca. A corrente de ar ingressiva é conhecida como clique. Deve-se ter em mente que o ar tem duas possibilidades de saída: pela boca (sons orais [b], [s], por exemplo), pelo nariz (sons nasais [n], [m], por exemplo) ou por ambos ao mesmo tempo (sons nasalizados [ã], [õ], por exemplo).

12 12 Fascículo O Aparelho Fonador e Os Mecanismos de Produção dos Sons Os sons utilizados no exercício da linguagem humana são vibrações com frequências, intensidades e durações características, produzidas por uma Fonte: [adaptado de] Bechara (2001. P.58) estriados, que podem obstruir a passagem da corrente de ar) e a glote (espaço decorrente da não obstrução destes músculos laríngeos). A função primária da laringe é a de atuar como uma válvula que obstrui a entrada de comida nos pulmões por meio do abaixamento da epiglote. O ato de engasgar envolve o fato de que a epiglote não obstruiu a entrada de alimento no sistema respiratório. Então o ar dos pulmões sai, visando impedir a entrada do corpo estranho (alimento) no aparelho respiratório. O sistema articulatório é constituído da faringe, da língua, do nariz, dos dentes e dos lábios, estruturas que se encontram na parte superior à glote. Várias são as funções primárias desses órgãos, dentre elas, comer, morder, mastigar, sentir o paladar, cheirar, sugar, engolir. Aparelho fonador Fonte: [adaptado de] Silva, (2008. P.24) Atividade 1. A partir da observação da obra de Renoir, dos conhecimentos empíricos e científicos apreendidos, discuta: É possível afirmar que a produção da fala é apenas uma questão biológica? 2. Identifique as partes do aparelho fonador e complete o diagrama. Os sistemas respiratórios, fonatório e articulatório coluna de ar em movimento, que, tendo início nos pulmões, na fase expiratória do processo de respiração, percorre o chamado aparelho fonador. As partes do corpo humano que compõem o aparelho fonador não têm como função primária a produção de sons, mas outras funções, como alimentação e respiração, compondo-se de três sistemas que, em função secundária, caracterizam o aparelho fonador e são fisiologicamente responsáveis pela produção dos sons da fala. O sistema respiratório é constituído dos pulmões, dos músculos pulmonares, dos tubos brônquios e da traqueia. O sistema respiratório encontra-se na parte inferior à glote, que é denominada cavidade infraglotal. A função primária do sistema respiratório é obviamente a respiração. O sistema fonatório é constituído da laringe. Nesta, localizam-se as cordas vocais (músculos Aparelho fonador:

13 Fascículo 1 13 SAIBA MAIS! Vídeos respiração: re=related e=related As diferenças que se notam entre vozes diversas dos sexos, das idades e das pessoas baseiam-se, em geral, nas dimensões da laringe. Línguas africanas, como hotentote, zulu e o bosquísmano, têm cliques como unidades distintivas. Em português, os cliques têm um uso paralinguístico, por exemplo, o som do beijo que se lança a distância, o muxoxo ou o estalar da língua para atiçar cavalos. Recordando um Pouco A História do Homem Discute-se que a linguagem humana pode ter surgido há cerca de 100 mil anos, mas pensemos numa época mais recente - há cerca de 40 mil anos. Nesta altura, e devido a reconstruções tendo por base o registo arqueológico, sabe-se que o aparelho fonador dos Neandertais tinha algumas diferenças marcantes do Homem moderno, nomeadamente, a laringe encontrava-se mais elevada. Isso significa que a língua tinha uma mobilidade menor, limitando a possibilidade da produção de sons. 4. Processo Fonatório Introdução Neste tópico, trataremos do processo fonatório ou fonação que corresponde aos diversos estados da glote e da consequente excitação acústica da corrente de ar ao passar pelas cordas vocais. Posições das cordas vocais Fonte: (ns.rc.unesp.br/.../pedro/cordas_vocais.htm) 4.1. A Fonação É na laringe que se encontra o órgão que desempenha papel bastante complexo na produção dos sons da linguagem humana, as cordas vocais, que, de acordo com sua tensão e abertura, determinam os modos de fonação também conhecidos como qualificadores de voz. Na respiração em repouso e na produção dos chamados sons surdos ou desvozeados, as cordas vocais estão separadas, e a glote está aberta. O ar originado nos pulmões pode passar livremente, sem que haja vibrações. Estando a glote fechada, e as cordas vocais unidas, o ar tem que forçar passagem, fazendo-as vibrar. Os sons resultantes são chamados sonoros ou vozeados. As cordas vocais podem assumir outras posições e, consequentemente, outros modos de fonação. Nos sons sonoros, as cordas vocais estão juntas em toda a sua extensão, e a glote está igualmente fechada. Se, porém, devido ao afastamento das aritenoides houver uma pequena abertura na glote, o som resultante não é mais sonoro e, sim, sussurrado. Em português, ocorrem vogais sussurradas em variação com vogais sonoras. Numa palavra como linguística, o i e o a após a sílaba tônica podem ser pronunciados com sonoridade ou com sussurro. Sendo a corrente de ar bruscamente interrompida na glote pelo fechamento, por um período mais prolongado das cordas vocais, o som resultante é denominado oclusão ou oclusiva, glotal. Nos sons aspirados, as cordas vocais continuam abertas, e não há vibração por um período mais prolongado após a soltura da articulação da consoante, quando os órgãos já estão posicionados para a produção do segmento seguinte. Assim, sons aspirados são vogais surdas produzidas com a mesma protrusão labial e altura da língua da vogal que se segue a uma consoante. Em inglês, ocorrem oclusivas aspiradas, que são variantes posicionais das oclusivas surdas. Havendo uma vibração das cordas vocais e as partes das aritenoides permanecendo separadas, pode ocorrer um escape extra de ar. Os sons produzidos sob estas condições são chamados murmurados. São denominados tremulados os sons produzidos pela vibração lenta dos ligamentos das cordas vocais, permanecendo as aritenoides separadas. Tre-

14 14 Fascículo 1 mulação e murmúrio podem ser usados com valor distintivo em algumas línguas. SAIBA MAIS! Fonte: [adaptado de] Fiorin (2007. p.18) Vídeo laringe: re=related Cuidados especiais com o uso da voz: estudante-005.htm. Fonte: [adaptado de] Callou (2005.p.21) Modos de fonação Posições das cordas vocais no processo fonatório Atividade Coloque a sua mão contra a parte central anterior do pescoço (onde, nos homens, temos o pomo de Adão ). Pronuncie, então, o som inicial da palavra vá de maneira contínua (verifique que apenas a consoante esteja sendo pronunciada). Depois pronuncie, da mesma maneira, o som inicial da palavra fé. Faça alternância entre V e F algumas vezes, pronunciando, apenas, a consoante. O que você observou? Que conclusão se pode tirar em relação à produção dos dois sons? 4.2. A Nasalização Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade A Um Ausente Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair. Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada? Na gravura abaixo, identifique e comente os estados da glote e os segmentos sonoros produzidos em cada um deles. Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança. Laringe: Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste. Fonte: Como podemos perceber, a nasalização é uma característica bastante comum; ela ocorre obrigatoriamente em qualquer dialeto do português.

15 Fascículo 1 15 Fonte: [adaptado de] Callou (2005.p.22) essa diferença ocorre pela não articulação da vogal nasal, em final de palavra em posição tônica ou postônica ou no meio da palavra em posição tônica ou pretônica.tais casos são denominados nasalização. Note a diferença de significado em: la, lã; mito, minto; cadeia, candeia. A nasalização da vogal, nesses casos, é obrigatória. Dá-se o nome de Nasalação ao metaplasmo, que consiste na permuta de um fonema oral para nasal (mortadela > mortandela ). Sons orais e nasais A nasalização é um mecanismo que, como o processo fonatório, envolve aberturas e fechamentos de uma passagem que conduz à outra. Os sons orais são originados no momento em que, ao passar pela glote, a corrente de ar encontra a passagem nasofaríngea fechada pelo levantamento do véu palatino, escoando, assim, pela cavidade bucal. Estando o véu palatino abaixado e a passagem nasofaríngea aberta, parte do fluxo de ar se desvia para cavidade nasal, dando origem aos sons nasais. (Figura anterior) Na prática, distinguem-se os sons nasais dos sons nasalizados. Nos nasais, há, além do abaixamento do véu palatino, uma obstrução na cavidade bucal causada pela aproximação dos dois articuladores. É o que acontece com as consoantes m[m], n[n] e nh[ñ]. Para a pronúncia do [m], o obstáculo é formado na cavidade bucal pelo fechamento dos lábios; em [n] pela junção da ponta da língua com a parte posterior dos dentes e em [ñ] pela articulação da lâmina da língua com o palato duro. Não havendo obstrução total na cavidade bucal, o ar escoa também pela boca, e o som é chamado nasalizado (caso das vogais). Neste caso, o abaixamento do véu palatino altera a configuração da cavidade bucal e, portanto, a qualidade vocálica das vogais nasais torna-se diferente da qualidade vocálica das vogais orais correspondentes. Um til colocado acima da vogal marca a nasalidade. Veja os quadros nesta página. A nasalidade ocorre quando uma vogal tipicamente oral é seguida de uma das consoantes nasais (m, n, ñ). É o caso das palavras cama, tema, time, dono, rumo e sonho. A nasalidade é mais perceptível auditivamente com a vogal a. Com as vogais médias e, o e as vogais altas i, u, às vezes, fica difícil identificar se a nasalidade ocorre ou não. A nasalidade não causa diferença de significado entre as palavras (janela, j[ã] nela); Alta Média Baixa Vogais Nasais do Português Brasileiro Anterior arred não arred e Central arred não arred Posterior arred não arred VOGAIS TÔNICAS NASAIS NO FINAL E NO MEIO DA PALAVRA [ ] [ e ] [ã] [õ] [ u] Vogais Tônicas Nasais Final de Palavra Meio de Palavra vim não há lã tom jejum [ v ] [lã] [ tõ] [ʒe ʒum] u cinto cento santo conto assunto Atividade 1. A partir da leitura do poema de Drummond, reflita sobre a importância da nasalização na expressividade do português. 2. Faça a transcrição dos segmentos vocálicos das palavras: a. sim b. tonta c. janta d. mundo e. vento 3. Coloque os dedos, fechando a cavidade nasal e pronuncie b, p, f. Agora pronuncie m, n, ã. O que aconteceu com a corrente de ar, com a cavidade bucal e com a ressonância no momento em que você pronunciou os diferentes segmentos sonoros? u õ [ s tʊ] [ setʊ] e [ sãtʊ] [ kõtʊ] [a suto] u Fonte: [adaptado de] Silva (2008. p.91) Fonte: [adaptado de] Silva (2008. p.91)

16 16 Fascículo 1 4. Retire do poema: a. Cinco palavras com apenas sons orais. b. Cinco palavras com sons consonantais nasais. c. Cinco casos de nasalização. Metaplasmos: SAIBA MAIS! A nasalidade não se restringe a um único segmento no contínuo sonoro. O abaixamento do véu palatino e a abertura da passagem nasofaríngea, mecanismos próprios aos sons nasais e nasalizados, não se dão em perfeita sincronia com o levantamento do véu palatino e fechamento da passagem nasofaríngea dos sons adjacentes. Assim é comum que a nasalidade se estenda, ao menos, pela sílaba. 5. Mecanismos de Produção de Segmentos Consonantais e Vocálicos Introdução Talvez agora seja uma boa hora para levantar, abrir a boca em toda sua amplitude e deixar o a bem forte sair e ainda deixá-lo continuar saindo por alguns segundos...agora abra a boca do mesmo modo e pronuncie b. O que aconteceu? A voz humana se compõe de tons (sons musicais) e ruídos. Caracterizam-se os tons quanto às condições acústicas, por suas vibrações periódicas. Uma primeira distinção que se faz desses tons e que podem ser utilizados nas línguas é entre consoantes (=ruídos), vogais (=tons) e os glides. Quanto às condições fisiológicas de produção, a diferença entre consoantes e vogais é que, para a produção dos segmentos consonantais, a cavidade bucal está total ou parcialmente fechada, podendo ou não haver fricção, enquanto que, para a dos vocálicos, a passagem do ar, na cavidade bucal, se acha completamente livre, não é interrompida na linha central, não havendo, portanto, obstrução ou fricção Os Segmentos Vocálicos Os sons vocálicos são sons produzidos por uma corrente de ar pulmonar egressiva, que faz vibrar, normalmente, as cordas vocais. Os sons vocálicos se opõem aos consonantais por serem acusticamente sons periódicos complexos, constituírem núcleo de sílaba e sobre eles poder incidir acento de tom e/ou intensidade. O que varia nos sons vocálicos é a forma e o tamanho do trato vocal. A Nomenclatura Gramatical Brasileira classifica as vogais de acordo com quatro critérios: 1. quanto à zona de articulação: as vogais podem ser média: /a/; posteriores: /ó/, /ô/, /u/ e anteriores: /é/, /ê/, /i/; 2. quanto à intensidade: as vogais podem ser tônicas (em que recai o acento tônico) e átonas (inacentuadas). Podem estar antes da tônica (pretônicas) ou depois (postônicas); 3. quanto ao timbre: o timbre é o efeito acústico resultante da distância entre o dorso da língua e o véu do paladar, funcionando a cavidade bucal como caixa de ressonância. O timbre é o traço distintivo das vogais. Quanto ao timbre, as vogais podem ser abertas: /a/, /á/, /ó/; fechadas: /ê/, /ô/, /i/, /u/ e reduzidas: /a/, /i/, /u/. A reduzida é proferida com menos nitidez, como em casa, em que se comparando os segmentos vocálicos, têm-se o primeiro aberto e o segundo reduzido ; 4. quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, as vogais podem ser orais (/á/, /é/, /ê/, /i/, /ó/, /ô/, /u/) e nasais (/ã/, / ~ e /, / ~ i /, /õ/, / ~ u /). Destaca-se, também, o fator altura do corpo da língua, referindo-se à altura que a língua ocupa no trato vocal durante a produção de um som. São quatro os graus de altura da língua: alto em /i/ e /u/ (chita e chuva), médio-alto e médio baixo em /é/, /ó/, /ê/, /ô/ e baixo em /a/ (casa).

17 Fascículo 1 17 VOGAIS Quadro de classificação das vogais 1. Quanto à Zona de Articulação 2. Quanto ao Timbre 3. Quanto ao Papel das Cavidades Bucal e Nasal Anteriores: /é/, /ê/, /i/ Média: /a/ Posteriores: /ó/, /ô/, /u/ Abertas: /a/, /é/, /ó/ Fechadas: /ê/, /ô/, /i/, /u/ Reduzidas: /a/, /i/, /u/ Orais: /a/, /é/, /ê/, /i/, /ó/, /ô/, /u/ Nasais: /ã/, / e/, / /, /õ/, / u/ Nos encontros vocálicos, costumam ocorrer dois fenômenos: a diérese (hiatismo) e a sinérese (ditonguismo). Chama-se diérese a passagem de semivogal a vogal, transformando o ditongo em um hiato: trai-ção= tra-i-ção; vai-da-de= va-i-dade; cai= ca-i. Chama-se sinérese a passagem de duas vogais de um hiato a um ditongo crescente: su-a-ve = suave; pi-e-do-so = pie-do-so; lu-ar = luar. 4. Quanto à Intensidade 5. Quanto à Elevação da Língua Tônicas Átonas Baixa: /a/ Médias: /é/, /ó/, /ê/, /ô/ Altas: /i/, /u/ a u i Fonte: Bechara (2001. p.63) Fonte: [adaptado de] Bechara (2001.p.65) Posição das vogais /a/, /u/, /i/ 5.2. Os Glides Segmentos com características fonéticas não tão precisas, sejam de consoante ou de vogal. Foneticamente, são fonemas que se caracterizam por permitirem a passagem do ar sem obstrução e sem fricção, com ressonância no centro do trato vocal e por terem um espaço vertical para a passagem do ar mais estreito do que as vogais a que são associados. Na ortografia, são descritos em português como a segunda vogal em cai e mau (conhecidas como glides, semicontoides ou semivogais). Fonologicamente, essas aproximantes se comportam como consoantes, isto é, não preenchem posições de núcleo da sílaba (assilábicas) e jamais são acentuadas. Representamos as semivogais i (e) por /y/ u (o) por /w/. Observe que, em certos casos, em lugar de i ou u, pode-se grafar a semivogal e ou o, respectivamente, em observância às convenções do nosso sistema ortográfico vigente, segundo as quais a semivogal dos ditongos orais é representada pelo grafema i, e a dos ditongos nasais, pelo grafema e: pai/mãe, distrai/distraem. Os encontros vocálicos dão origem aos ditongos, tritongos e hiatos. Os ditongos, como os demais encontros vocálicos, podem ocorrer no interior da palavra (dizem-se intraverbais: pai, vaidade) ou por aproximação, por fonética sintática, de duas ou mais palavras (dizem-se interverbais: certa idade, inculta e bela). Classificação das vogais: =318 SAIBA MAIS! O que é uma Vogal Epentética? A epêntese é um fenômeno caracterizado pela emissão de uma vogal entre duas consoantes não líquidas, não representadas na escrita, como, por exemplo, na palavra pneu. A inserção desta vogal transforma estruturas silábicas do tipo CC em estrutura do tipo CVC. Cada língua possui uma vogal epentética. No português brasileiro, a vogal emitida entre as duas consoantes não líquidas é a vogal /i/. As vogais epentéticas vêm despertando interesses dos estudiosos, porém ainda existem poucos estudos sobre a vogal epentética no português brasileiro. Atividade 1. Pronuncie em sequências as vogais i e a. Durante a posição de qual vogal, a posição da língua se encontra mais alta? Classifique umas dessas vogais como alta e outra

18 18 Fascículo 1 Fonte: [adaptado de] Callou (2005. p.22) como baixa. Repita o exercício, observando a posição da língua durante a articulação das vogais i e u. Classifique uma como anterior e a outra como posterior. 2. Classifique os segmentos vocálicos i, ê (ipê), a, ó (avó), ô (avô), u nas seguintes categorias: alta, média alta, média baixa e baixa. 6. Mecanismos De Produção De Segmentos Consonantais Introdução Todas as línguas naturais possuem consoantes e vogais. A cavidade orofaríngea é a câmara de ressonância onde o fluxo de ar é modificado pela ação dos chamados articuladores. Os diferentes modos por que o fluxo de ar é modificado permitem o estabelecimento de duas grandes classes de sons: vogais e consoantes. Observando a gravura abaixo, que observações você faz sobre esta última classe? [b] 6.1. As Consoantes a [m] Segmentos consonantais (oral e nasal) Classificação das consoantes: php?idcanal=317 b As consoantes podem ser classificadas pelo lugar, ponto ou modo da obstrução do ar e pela vibração das cordas vocais. Os pontos de articulação são denominados de acordo com os articuladores passivos, sendo estes os lugares em que os articuladores ativos obstruem a passagem de ar. Deve-se lembrar que o trato vocal é um continuum que está sendo dividido nos lugares de produção. Desse modo, não há pontos fixos para a produção de sons. Por exemplo, o som [t] é produzido com a ponta da língua contra os alvéolos. Alguns falantes podem produzir esse som, colocando a ponta da língua um pouco mais à frente, de modo a encostar também nos dentes superiores. São dezenove os fonemas consonantais do português: /p/, /b/, /t/, /d/, /k/ (cá), /g/, /f/, /v/, /s/, /z/, /x/ (chá), /j/ (já), /rr/ (carro, rei), /r/ (cara), /m/, /n/, /nh/ (banha), /l/, /lh/ (malha) De acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira, classificam-se as consoantes quanto ao modo de articulação, à zona de articulação, ao papel das cordas vocais e ao papel das cavidade bucal e nasal Grau da Estritura e Modo de Articulação A posição assumida pelo articulador ativo em relação ao passivo, indicando como e em que grau a passagem da corrente de ar, através do aparelho fonador, limita-se neste ponto. A partir da natureza da estritura, classificam-se os segmentos consonantais quanto à maneira ou ao modo de articulação. Assim as consoantes podem ser oclusivas e constritivas. A oclusão ocorre quando os articuladores estão dispostos de tal forma que impedem completamente a saída do ar. O véu palatino está levantado, e o ar que vem dos pulmões encaminha-se para a cavidade oral. Oclusivas são, portanto, consoantes orais. As consoantes oclusivas que ocorrem em português são: /p/, /b/, /d/, /k/, /g/. A constrição (pressão) ocorre quando os articuladores estão dispostos de maneira a permitirem a saída parcial da corrente de ar. As consoantes constritivas que ocorrem em português são: /f/, /v/, /s/, /z/, /x/, /j/, /r/, /rr/, /l/, /lh/, /m/, /n/, /nh/. Nasal: nos sons nasais, os articuladores da cavidade oral estão fechados, impedindo a passagem do ar. No entanto, o véu palatino encontra-se abaixado, e o ar que vem dos pulmões escapa pelas cavidades oral e nasal. Nasais são consoantes idênticas às oclusivas, diferenciando-se apenas quanto ao abaixamento do véu palatino para as nasais. As consoantes nasais que ocorrem em português são: /m/ (má), /n/ (nua), /nh/ (banho).

19 Fascículo 1 19 Fricativa: os sons são produzidos por uma aproximação dos articuladores, estreitando o trato vocal de modo que o ar sai produzindo fricção (esfregaço, atrito). A aproximação dos articuladores não chega a causar obstrução completa e, sim, parcial causando a fricção. As consoantes fricativas que ocorrem em português são: fé, vá, sapo, zapata, chave, já, rato (são exemplos do uso do r fricativo - o português de Belo Horizonte e Rio de Janeiro). Africada: é formada por uma oclusiva e uma fricativa que devem ter o mesmo lugar de articulação, ou seja, serem homorgânicas. Na fase inicial da produção de uma africada, os articuladores produzem uma obstrução completa na passagem da corrente de ar através da boca, e o véu palatino encontra-se levantado (como nas oclusivas). Na fase final dessa obstrução (quando se dá a soltura da oclusão), ocorre, então, uma fricção decorrente da passagem central da corrente de ar (como nas fricativas). O véu palatino continua levantado durante a produção de uma africada. As africadas são, portanto, consoantes orais. As consoantes africadas que ocorrem em algumas variedades do português são tia, dia. Para estes exemplos, imagine as pronúncias tchia e djia. Para alguns falantes de Cuiabá, ocorrem consoantes africadas em palavras como chá e já (quando pronunciadas, respectivamente, tchá e djá. Na maioria dos dialetos do português brasileiro, temos uma consoante fricativa nas palavras chá e já. Vibrante: som produzido quando o articulador ativo bate várias e rápidas vezes no articulador passivo, causando vibração. Em alguns dialetos do português, ocorre esta variante em expressões, como orra meu! ou em palavras, como marra. Certas variantes do estado de São Paulo e do português europeu apresentam uma consoante vibrante nestes casos. Tepe: som produzido pela batida rápida e única do articulador ativo no articulador passivo, ocorrendo uma rápida obstrução da passagem da corrente de ar através da boca. O tepe ocorre em português nos exemplos: cara, fraca. Retroflexa: a produção de uma retroflexa geralmente se dá com o levantamento e encurvamento da ponta da língua (articulador ativo) em direção ao palato duro (articulador passivo). Ocorre no dialeto caipira e no sotaque de norte-americanos, falando português, como nas palavras: mar, carta. Laterais: o articulador ativo (ponta da língua) toca o articulador passivo (arcada alveolar), e a corrente de ar é obstruída na linha central do trato vocal. O ar, então, é expelido por ambos os lados desta obstrução tendo, portanto, saída lateral. As laterais ocorrem em português, em: lá, palha, sal (da maneira como é pronunciada no Sul do Brasil ou em Portugal) Quanto ao Lugar ou Zona de Articulação Temos: a. Bilabial: os sons bilabiais são produzidos pelo fechamento ou estreitamento do espaço entre os lábios (/p/, /b/, /m/). O articulador ativo é o lábio inferior, e o passivo é o lábio superior. b. Labiodental: são os sons produzidos pela obstrução parcial da corrente de ar entre o lábio inferior (articulador ativo) e os dentes incisivos superiores (articulador passivo) (/f/,/v/). c. Dental: são os sons produzidos com a ponta da língua (articulador ativo) contra a parte de trás dos dentes incisivos superiores (articulador passivo) ou com a ponta da língua entre os dentes. É o caso do the em inglês. d. Alveolar: os sons são produzidos com a ponta da língua ou lâmina da língua (articulador ativo) contra a arcada alveolar (articulador passivo). Consoantes alveolares diferem de consoantes dentais apenas quanto ao articulador passivo. e. Alveopalatal (palato-alveolar ou pós-alveolares): são sons produzidos com a lâmina da língua (articulador ativo) contra a parte anterior do palato duro (articulador passivo), logo após os alvéolos. f. Palatal: são os sons produzidos com o centro da língua (articulador ativo) contra o palato duro (articulador passivo). g. Velar: são os sons produzidos pelo dorso da língua (articulador ativo) contra o véu palatino ou palato mole (articulador passivo). h. Uvular: os sons uvulares são produzidos pelo dorso da língua contra o véu palatino e a úvula. Por exemplo, o orra(de orra, meu) produzido por alguns dialetos paulistas. i. Glotal: são os sons produzidos pelas cordas vocais. Ocorre quando os músculos ligamentais da glote se comportam como articuladores. Por exemplo, em rata (na pronúncia típica do dialeto de Belo Horizonte) j. Faringal: são os sons produzidos pela raiz da

20 20 Fascículo 1 língua contra a parede posterior. Um exemplo de som faringal é aquele som grave, produzido quando limpamos a garganta. Os sons faringais não são tão comuns nas línguas. Um exemplo de língua que se utiliza dos sons faringais é a árabe Quanto ao Papel das Cordas Vocais Fonte: [adaptado de] Cagliari (1997. p.55) Podem ser sonoras (vozeadas) e surdas (desvozeadas): Sonoras: /b/, /v/, /d/, /z/, /j/, /g/, /m/, /n/, /nh/, /l/, /lh/, /r/, /rr/ Surdas: /p/, /f/, /t/, /s/, /x/, /k/ Quanto ao Papel das Cavidades Bucal e Nasal Podem ser: Nasais: /m/, /n/, /nh/ Orais: (todas as outras) Aparelho fonador/lugar de articulação 6.2. Diacríticos Símbolo adicional utilizado junto à consoante para marcar uma propriedade articulatória secundária. As articulações secundárias dos segmentos consonantais são: Labialização: geralmente ocorre quando a consoante é seguida de vogais arredondadas (orais ou nasais). Utiliza-se o w colocado acima ou à direita do segmento para marcar a labialização. Exemplo: [dʷ], [tʷ] Palatização: a palatização geralmente ocorre quando uma consoante é seguida de vogais anteriores (orais ou nasais). Utiliza-se o símbolo j colocado acima à direita do segmento para marcar a palatização. Exemplo: [tʲ], [dʲ] Velarização: ocorre quando a lateral encontrase em final de sílaba. O símbolo utilizado para transcrever a lateral velarizada é [tˠ], [dˠ] Dentalização: ocorre quando a ponta da língua toca os dentes. Algumas consoantes em português podem ser articuladas como dentais ou alveolares. Por exemplo, a pronúncia do t em tapa pode se dar com a ponta da língua tocando os dentes sendo, portanto, dental. Exemplo: [ t ], [ ɖ ] Diacríticos: de_diacr.c3.adticos SAIBA MAIS! A letra h não é considerada vogal nem semivogal nem consoante, pois não é um fonema. Somente adquire importância, juntando-se a outras letras para formar dígrafos e em início de palavras por motivos etimológicos. Junta às letras r, s, c, ç, u (para os dígrafos consonantais) e m e n (para os dígrafos vocálicos), formam o conjunto das letras diacríticas (aquelas que se juntam à outra para lhe dar valor fonético especial).

21 Fascículo 1 21 QUADRO Modos de Articulação e Fonação Modos de Articulação e Fonação Oclusivas Surdas Oclusivas Sonoras Nasais Sonoras Fricativas Surdas Fricativas Sonoras Retroflexas Sonoras Vibrantes Sonoras Laterais Sonoras Lugares de Articulação 1. Bilabiais p b m 2. Labiodentais f v 3. Dentais t d n ɹ ɾ l 4. Alveolares s z r 5. Palato-alveolares ʧ ʤ ʃ Ʒ ɹ 6. Palatais ɲ y 7. Velares k g ŋ x Ɣ 8. Glotais ɂ h ɦ Fonte: [adaptado de] Cagliari (1997. p.55) Atividade 1. Indique os articuladores ativos e passivos na produção de cada lugar de articulação: a. bilabial b. labiodental c. dental d. alveolar e. alveopalatal f. palatal g. velar 2. Observe o exemplo e complete os diagramas, classificando cada consoante quanto ao modo de articulação e caracterizando-os da seguinte forma: Vozeamento: desenhe uma linha reta cruzando a glote para os segmentos desvozeados. Para os segmentos vozeados, desenhe uma linha em zig-zag, cruzando a glote. Posição do véu palatino: complete o desenho com o véu palatino levantado, se o segmento for oral. Se o segmento for nasal, complete o desenho com o véu palatino abaixado. [z] [ ʃ ] [k] [n]

22 22 Fascículo 1 Articuladores: desenhe uma seta, saindo do articulador ativo para o passivo. 3. Categorize os segmentos consonantais do português quanto ao modo de articulação: a. /p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/ b. /f/, /v/, /s/, /z/, /x/, /j/, /r/, /rr/, /l/, /lh/, /m/, /n/, /nh/ 7. Alfabeto Fonético Por que precisamos usar, para representar os sons nos estudos de fonética, um alfabeto diferente do que usamos para escrever? Vamos responder a esta questão a partir das razões apresentadas por Fiorin (2007), ao considerar que a fonética lida com a substância da expressão e, portanto, deve-se tentar registrá-la o mais fielmente possível. Em primeiro lugar, qualquer pessoa pode ter se deparado com problemas ortográficos do tipo: emprego do x ou ch, g ou j, l ou lh. Isso ocorre porque, na ortografia, um som não necessariamente corresponde a uma letra. Por outro lado, assim como temos uma letra que corresponde a mais de um som, um som pode corresponder a mais de uma letra. Há muitos casos em que se usa uma combinação de letras para indicar um determinado som (por exemplo, nh, lh.ch), em que uma letra representa mais de um som (x para sexo) e em que se utilizam letras que não têm correspondente sonoro algum (h em hospital). acrescenta-se um diacrítico para marcar a posição, se o intuito for uma transcrição mais detalhada. Para cumprir este papel, tem-se a tabela fonética internacional (IPA - Internacional Phonetic Alphabet). Esta tabela foi organizada de acordo com os traços envolvidos na produção dos sons. A finalidade do alfabeto fonético e de uma transcrição fonética é a de possibilitar a transcrição e a leitura de qualquer som em qualquer língua por uma pessoa treinada. Assim, o que se quer é que as convenções usadas sejam inequívocas e estejam explicitadas. Uma comparação entre as várias propostas de alfabetos fonéticos mostra que há uma base comum advinda do alfabeto fonético internacional. E, na prática, qualquer que seja o alfabeto adotado, ocorrem sempre adaptações determinadas por conveniências ocasionais, tais como facilidade de datilografia, tipográficas, maior legibilidade etc. Nos estudos sobre o português, é bastante difundido o alfabeto de LA- CERDA & HAMMARSTRÖM (1952) (CALLOU, 2005). Em Silva (2008), encontramos uma tabela que lista os segmentos consonantais relevantes para a transcrição do português brasileiro. Veja abaixo. Logo após, a autora apresenta a transcrição fonética, observações e exemplos de palavras que ilustram cada um dos segmentos da tabela apresentada. Em Cagliari (1997), encontramos uma tabela que apresenta os símbolos do IPA, seguidos das letras usadas para se escrever ortograficamente o português e de exemplos para facilitar a compreensão. Confira. Símbolos fonéticos consonantais relevantes para transcrição do português Uma outra razão para a utilização do alfabeto fonético é que o alfabeto ortográfico já é uma abstração. Ninguém escreve como fala. A palavra porta é igualmente grafada por cariocas, piracicabanos e gaúchos; no entanto, cada um pronuncia esse r de maneira diferente. Essa abstração é importante para a uniformização e o entendimento (preocupação com o conteúdo), porém, sendo a preocupação com o plano da expressão, deve-se tentar explicar cada som diferente. Mesmo com toda essa preocupação com a descrição de cada som, não há uma generalização desses sons. Por exemplo, usa-se o [t] para notar o primeiro som da palavra tacape e [ʧ] para grafar o primeiro som de tia. No entanto, pode ocorrer de certas pessoas produzirem o [t], colocando-se a ponta da língua entre os dentes e os alvéolos, como o fazem os gaúchos. Neste caso, Articulação Maneira Lugar desv Oclusiva voz desv Africada voz desv Fricativa voz Nasal voz Tepe voz Vibrante voz Retroflexa voz Lateral voz Bilabial p b m Labiodental f v Dental ou Alveolar Alveopalatal Palatal Velar Glotal t k d g ʧ ʤ s ʃ X h z Ʒ Ɣ ɦ n ɲ y ɾ ř r l l y Fonte: [adaptado de] Silva (2008.p.37) l j

23 Fascículo 1 23 Fonte: Cagliari (1997. p.54)

24 24 Fascículo 1 Alfabeto Fonético Internacional: internaciona SAIBA MAIS! Transcrição fonética e filologia românica: -a&rls=org.mozilla%3apt-br%3aofficial&channel=s& hl=pt-br&q=alfabeto+fon%c3%a9tico+reflex%c3%b5 es&meta=&btng=pesquisa+google Atividade Identifique símbolos do Alfabeto Fonético Internacional que diferem dos convencionados no Alfabeto fonético do português. 8. Transcrições Fonéticas Introdução Este tópico tem por objetivo discutir o uso de símbolos fonéticos para o registro de dados da transcrição da fala, considerando, especialmente, a transcrição de dados do português, de forma a requerer do estudante a realização desta atividade. Transcrição fonética e pronúncia são a mesma coisa? Pronúncia e transcrição fonética Fonte: imgres?imgurl= experts.com.br As línguas naturais apresentam palavras que têm sequências sonoras idênticas com significados diferentes. Duas palavras pronunciadas da mesma maneira que apresentam significados diferentes são chamadas de homófonas. O par de palavras homófonas em português cela e sela tem o registro ortográfico diferente para as duas palavras. Em olhos e óleos, temos também palavras geralmente consideradas homófonas no português. Contudo estes não são necessariamente sempre os casos envolvendo palavras homófonas. Elas podem ter registro ortográfico idêntico. Veja por exemplo: manga (fruta) e manga (de camisa). Salienta-se aqui a natureza distinta entre pronúncia e representação fonética. A pronúncia reflete como algo foi pronunciado, e a transcrição fonética reflete a maneira mais adequada de se registrar aquela pronúncia. Sobre as palavras cela e sela e olhos e óleos, podemos dizer que as palavras cela e sela são homófonas e apresentam transcrições fonéticas idênticas: [ sɛlə]. Note que em [ sɛlə], os segmentos consonantais e vocálicos podem ser inferidos a partir dos parâmetros articulatórios envolvidos em sua produção. Em óleos e olhos temos duas palavras que podem apresentar pronúncias distintas para alguns falantes. Quando homófonas, têm na última sílaba uma consoante lateral alveolar ou dental seguida de uma de uma sequência de glide anterior+ vogal(gv) e tendo como último segmento uma fricativa sibilante desvozeada([s] ou [ʃ ] dependendo do dialeto). A questão que se coloca nesse tipo de transcrição é quanto à escolha dos símbolos fonéticos a serem utilizados. Destacamos, assim, as seguintes alternativas: [ ɔli ʊs](vcvvc) e [ ɔlʲʊs](vcvc). Portanto, uma transcrição fonética reflete não apenas os aspectos fonético-articulatórios de uma sequência sonora mas também a interpretação ou análise do componente sonoro da língua. (SILVA p.106 a 108.) Assim, quando se pretender representar a maior parte dos matizes fônicos (transcrição detalhada, estrita- campo da fonética), mesmo os que não têm função linguística, a transcrição deverá ser apresentada entre colchetes [ ]; quando se pretender representar apenas os traços fônicos (transcrição amplacampo da fonologia) de uma função linguística, a transcrição se fará entre barras oblíquas, / / (diferencia fonema de letra). Não existe, na verdade, transcrição fonética perfeita, a não ser a que é realizada com o registro do fato acústico bruto por meio de aparelhos de análise do som, tais como os oscilógrafos, porque não é possível representar todos os matizes fônicos de cada realização de um fonema. Perceba que a notação fonológica é mais simples que a fonética, visto que ela não se preocupa com as diversas variantes de um mesmo fonema, utilizando um só sinal nos casos em que a transcrição fonética deve recorrer a vários signos diferentes,

25 Fascículo 1 25 para assinalar as principais variações (combinatórias, sociais ou individuais) de uma mesma unidade distintiva. A consoante inicial da palavra rato será representada /r/ numa transcrição fonológica, mas, de acordo com o sotaque regional do falante, ela poderá ser representada foneticamente [r], [R], [ ʁ ]. Atividade 1. Indique a forma ortográfica de cada uma das palavras a seguir: 2. Transcreva foneticamente as palavras: a. elegante b. carregamento c. ajudante d. congelados e. amplitude f. embrulhadinho g. refrigerante h. casamento i. exílio j. meiguice 3. Escolha um verso do poema de Drummond e faça a transcrição fonética. Considere seu idioleto. Ausência Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. (Disponível em:

26 26 Fascículo 1 RESUMO A Fonética possui áreas de interesse. Estuda a produção dos sons da linguagem humana e os órgãos envolvidos na produção da fala. O falar humano é um ato natural. Para atender às necessidades de expressão e comunicação, o ser humano codifica e decodifica a informação, utilizando-se da atividade de vários órgãos produtores da fala. A fonação refere-se ao processo de produção de sons por meio das cordas vocais, quando estas vibram devido a uma explosão expiratória de ar, podendo produzir diferentes sons. Na produção dos sons, há a distinção destes quanto ao papel das cavidades bucal e nasal. Assim, os sons são classificados em orais e nasais. A nasalização ocorre quando fonemas orais se opõem aos nasais. As vogais são caracterizadas pela passagem livre do ar através da cavidade bucal, não podendo haver para estas a classificação por ponto e modo de articulação. Classificamse, assim, as vogais quanto à zona de articulação, intensidade, timbre e papel das cavidades bucal e nasal. As vogais se opõem às consoantes por serem acusticamente sons periódicos complexos, por constituírem núcleo da sílaba e sobre elas poder incidir acento de tom e/ou intensidade. Os sons que não se identificam como vogais ou consoantes são chamados semivogais ou glides que, por fonologicamente se comportarem como consoantes, não assumem núcleo de sílaba e jamais são acentuados. Consoantes são vibrações aperiódicas ou ruídos ocasionados pela obstrução parcial ou total da corrente de ar devido à ação de dois articuladores. São fonemas assilábicos, classificados de acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira a partir de quatro critérios: 1. quanto ao modo de articulação; 2. quanto à zona de articulação; 3. quanto ao papel das cordas vocais; 4. quanto ao papel das cavidades bucal e nasal. Alfabético fonético é uma convenção usada para possibilitar a transcrição e a leitura de qualquer som em qualquer língua, por uma pessoa treinada. O alfabeto proposto pela Associação Internacional de fonética é um dos mais conhecidos e adotados, mesmo existindo várias propostas de alfabetos fonéticos com suas adaptações. Transcrição fonética e pronúncia diferem, pois enquanto a pronúncia reflete a maneira como algo é pronunciado, a transcrição fonética reflete a maneira mais adequada de se registrar aquela pronúncia. Glossário Aritenoides um par de pequenas pirâmides de cartilagem que fazem parte da laringe. Nestas cartilagens, as cordas vocais são anexadas. Clique som produzido com a língua ou os lábios sem a ajuda dos pulmões. Tecnicamente, os cliques são obstruti- vos articulados com duas cláusuras (pontos de contacto) na boca, uma à frente, e outra atrás. A bolsa de ar no meio é rarefeita por ação sugadora da língua, ou seja, os cliques acontecem devido ao mecanismo aéreo, ingressivo velárico/lingual.

27 Fascículo 1 27 Fonema designa o som que, dentro de um sistema fônico determinado, tem um valor diferenciador entre vocábulos. Corresponde aos sons elementares e distintivos que o homem produz quando, pela voz, exprime seus pensamentos e emoções. Idioleto é uma variação de uma língua única a um indivíduo. É manifestada por padrões de escolha de palavras e gramática, ou palavras, frases ou metáforas que são únicas desse indivíduo. Cada indivíduo tem um idioleto; o arranjo de palavras e frases é único, não significando que o indivíduo utiliza palavras específicas que ninguém mais usa. Um idioleto pode evoluir facilmente para um ecoleto - uma variação de dialeto específica a uma família de indivíduos. Letra sinal gráfico que, na escrita, representa o fonema. Pode-se dizer ainda que a letra é uma realidade visual gráfica, e o fonema é uma realidade acústica. Língua é a linguagem que utiliza a palavra como sinal de comunicação. Trata-se de um sistema de natureza gramatical, pertencente a um grupo de indivíduos, formado por um conjunto de sinais e de regras para combinação destes. É uma instituição social de caráter abstrato, exterior aos indivíduos que a utilizam, que somente se concretiza através da fala, que é um ato individual de vontade e inteligência. Linguagem todo sistema de sinais que nos permite realizar atos de comunicação. Protrusão estado de um órgão que, em virtude do crescimento, se acha colocado na frente de outros órgãos que ele normalmente não ultrapassa. Som movimento vibratório de um corpo sonoro. REFERÊNCIAS BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37 ed. Ver. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, (Esta obra, revista e ampliada, oferece ao leitor o extraordinário universo que é a Língua Portuguesa em suas múltiplas manifestações e reúne a maior coletânea de assuntos gramaticais. Atualizada no plano teórico da descrição do idioma, e enriquecida por trazer à discussão e à orientação normativa a maior soma possível de fatos gramaticais levantados pelos melhores estudiosos da Língua Portuguesa, dentro e fora do país). CALLOU, Dinah. Iniciação à Fonética e Fonologia. 10 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, (O livro apresenta os principais fundamentos da Linguística, tratando sobre: Língua Portuguesa. Fonética. Fonologia. Estudos e Pesquisas. Fonética: Produção de Sons na Linguagem Humana. Aparelho Fonador. Alfabeto Fonético. Fonologia: Fonema. Traços Distintivos. Arquifonema. Sistema Consonantal. Interpretação da Vibrante. Sistema Vocálico. Vogais Nasais. Vogais Assilábicas. Variação Fonológica. Estilística Fônica. Alfabetização. Inclui nota sobre as autoras, bibliografia geral e comentada e índice de figuras, onomástico e remissivo). CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, (Este livro apresenta uma reflexão sobre o papel que a escola desempenha na sociedade, possibilitando ao educador compreender a natureza da escrita, suas funções e usos. É indispensável para quem se propõe à tarefa da alfabetização. Nele se encontram fundamentos sobre conhecimentos linguísticos úteis na busca de soluções para problemas técnicos relativos à fala, à escrita e à leitura infantil). FIORIN, José Luiz(org). Introdução à Linguística II. Princípios de análise. 4 ed. 1 ª reimpressão. São Paulo: Contexto, (Este livro expõe os princípios de análise dos fenômenos da linguagem. Começa pelo estudo dos sons (fonética e fonologia), passa pelo exame da palavra e dos seus componentes (morfologia), pela análise da sentença e chega até a investigação dos sentidos (semântica), das categorias da enunciação (pragmática) e da organização do discurso. Na análise semântica, apresenta dois pontos de vista diferentes, para que o leitor perceba que, no fazer científico, princípios teóricos distintos levam ao exame de fatos diferentes ou a explicações diversas para o mesmo fenômeno. É o segundo volume de Introdução à Linguística. SILVA, Thaïs Cristófaro. Fonética e Fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 9 ed. 1 ª reimpressão. São Paulo: Contexto, (Este livro representa uma valiosa contribuição aos estudos fonológicos brasileiros, por proporcionar o conhecimento dos pressupostos teórico-metodológicos fundamentais de fonética, fonêmica e fonologia, de maneira clara e numa linguagem coerente e acessível. Além de expor

28 28 Fascículo 1 objetivamente aspectos teóricos da fonética e fonologia, contém uma série de exercícios que permite ao estudante praticar os conhecimentos adquiridos.. Exercícios de fonética e fonologia. São Paulo: Contexto, (Este livro contém exercícios distribuídos em cinco partes - fonética, fonêmica, fonologia gerativa, fonologia autossegmental e teoria da otimidade. Aponta o percurso necessário a professores e estudantes de Fonética e Fonologia, fazendo uma junção com eficiência entre a teoria e a prática). TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, p (Este livro apresenta a língua como um bem da humanidade. Conceitua e discute de forma simples e clara: língua, linguagem e fala; gramaticabilidade e agramaticabilidade; signos, índices, ícone, símbolos; norma culta, empréstimos e transferência; o português do Brasil e de Portugal; gramática, níveis de fala, gíria e conceito de erro em língua. Em um último tópico, apresenta a Linguística: Ciência da linguagem. É, portanto, um livro importante para a compreensão dos conceitos básicos e fundamentais da Linguística. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática nos 1 º e 2 º graus. 8 ed. São Paulo: Cortez, (Este livro contém uma proposta para o ensino de gramática nas aulas de Português do 1º e 2º graus, com fundamentos teóricos e farta exemplificação, respondendo a perguntas como:- Para que ensinar gramática?- O que ensinar nas aulas de gramática?- Como ensinar gramática?- Como integrar o ensino de gramática ao ensino de produção/compreensão de textos e ao ensino de vocabulário? Para responder a tais perguntas, propõem-se e inter-relacionamse concepções de linguagem e gramática e tipos de gramática e tipos de atividades no ensino de gramática, integrando-se de modo capaz de desenvolver a competência comunicativa do aluno e outras habilidades, tais como raciocínio científico, preparando-o efetivamente para a vida.

29 Fascículo 2 29 Fonologia e Processos Fonológicos da Língua Portuguesa Objetivos Específicos Prof.ª Maria Perpétua Teles Monteiro Carga Horária 15 horas Identificar os principais conceitos e fundamentos da Fonologia. Aplicar princípios da teoria fonológica na pesquisa, na análise e no ensino da Língua Portuguesa. Noções Básicas de Fonologia Neste tópico, apresentaremos alguns conceitos básicos adotados pela teoria fonêmica, visando apontar, de forma introdutória, como o fonólogo vê o sistema sonoro de uma língua. Os termos fonologia ou fonêmica empregados referem-se a tendências estruturalistas que tratam do estudo da cadeia sonora da fala. Um dos objetivos da fonologia do tipo fonêmica é o de fornecer aos usuários o instrumental para a conversão da linguagem oral em código escrito. 1. Fonema Segundo Callou (2005), a distinção feita tradicionalmente entre fonética e fonologia na linguística é a base do conceito original de fonema desenvolvido por volta de Desde o aparecimento do termo, através dos tempos, o fonema tem sido visto de diversas maneiras: de início, igualado a som da linguagem; depois conhecido sob um prisma essencialmente psíquico; como intenção de significado; mais tarde, sob o prisma físico, funcional e abstrato. Nesse processo, a autora destaca momentos históricos e contribuições, apontando que, no século XIX, o termo fonema já era usado, referindo-se à unidade de som, isto é, a uma unidade fonética (fone) e não, a uma noção abstrata, que envolve oposição. Já no final do século, nos trabalhos de Baudouin de Courtenay, surge, ao lado da noção de som da fala, a noção de fonema, a partir de uma conceituação psicológica. Courtenay via o fonema como um som ideal que o falante almejava alcançar no exercício da fala, na qual realizava sons próximos a esse protótipo idealizado. Segundo ele, o fonema era o equivalente psíquico do som da fala. Contudo, somente a partir de 1930, nos trabalhos do Círculo Linguístico de Praga, o conceito de fonema foi formulado com maior precisão. A noção, tal como usada hoje, já estava implícita em Saussure, em sua dicotomia langue-

30 30 Fascículo 2 parole(língua-fala) bem como a ideia do contraste fonêmico presente nos trabalhos iniciais de E. Sapir. O primeiro passo foi dado quando Saussure estabelece distinção entre estudo sincrônico e estudo diacrônico das línguas. Antes à fonética competia a descrição dos sons da língua e à fonologia, o estudo histórico da mudança. Saussure não chegou a formular sua conceituação, mas já tinha uma ideia bastante clara de que os fonemas são, antes de tudo, entidades opositivas, relativas e negativas. Para Trubetzkoy, o fonema passou a ter uma conceituação funcional abstrata, a unidade mínima distintiva do sistema de som, e é como unidade funcional que deve ser definido. O fonema é, então, a menor unidade fonológica da língua. Bloomfield definiu o fonema como uma unidade mínima de traço fônico distintivo, indivisível. Foi esse conceito de fonema como elemento mínimo do sistema da língua, que permitiu à linguística moderna um enorme avanço metodológico, pois lhe forneceu uma unidade discreta, isto é, segmentável de análise. O russo Romam Jakobson veio a ter um papel decisivo dentro dos estudos fonológicos, contribuindo para formular o conceito de unidade mínima, indivisível do fonema como unidade mais suscetível de dissociar-se em unidades inferiores ou mais simples os traços fônicos. Jakobson definiu o fonema como um feixe de traços distintivos, chamando a atenção para o fato de o fonema corresponder a um ato de atribuição de significado e jamais um ato de plenitude de significação. O fonema é assim: uma subunidade carente de significado. O fonema é um som que, dentro de um sistema fônico determinado, tem um valor diferenciador entre os vocábulos. A realização fônica em si vai interessar à fonética, à fonologia interessa a oposição dos sons dentro do contexto de uma dada língua. Ela se ocupa dos aspectos interpretativos dos sons, de sua estrutura funcional nas línguas. Quando um falante diz, por exemplo, potxi, txia, tudu, tapa até, etc., a Fonética constata as pronúncias diferentes tx e t, e a fonologia interpreta essa diferença, atribuindo um valor único a esses dois sons, uma vez que tx ocorre somente diante da vogal i, e o t diante de outro som que não seja i. Fato semelhante ocorre quando um falante diz ora iscada, ora escada. A ocorrência de i ou de e não muda o significado e, segundo a fonologia, o i e o e, neste caso, têm o mesmo valor. Porém, num outro contexto, como em sílabas tônicas, a ocorrência de i ou de e tem valor distintivo de palavras. Por exemplo, numa palavra como vi, se houver a troca de i por e, surgirá uma palavra nova, vê, com significado diferente. Esse som usado para distinguir palavras, como no caso de i e do e das palavras vi e vê, é chamado de fonema da língua. Além da função opositiva que diferencia as palavras, o fonema assume uma outra função dentro da cadeia fônica: delimitativa ou demarcativa, a partir dos traços prosódicos ou supra-segmentais, a expressiva. Atividade Amplie suas leituras sobre o que significa ser estruturalista. Fonema: 2. Alofones Alôfone Fonte: cacaocrista.com.br/img/banner_ alofone_sp.gif. Como sabemos, pode acontecer de dois sons pertencerem ou serem realizações do mesmo fonema. As diferentes realizações de um determinado fonema são denominadas seus alofones. O fonema /a/, por exemplo, tem pelo menos três realizações diferentes em português. Em sílabas tônicas, ele é pronunciado como [a], ou seja, com a cavidade oral apresentando seu grau máximo de abertura. É o que ocorre em pá, caso e ávido. Em sílabas átonas finais, o mesmo fonema /a/ se apresenta com um grau um pouco menor de abertura, o que é transcrito como [ɐ]. Preste atenção na pronúncia de fala e casa; a vogal da sílaba tônica apresenta um grau de abertura maior do que o da sílaba átona. Uma outra realização do fonema /a/ é a que encontramos quando ele é nasalizado.tanto em palavras como lã como em palavras como cama, o /a/ tôni-

31 Fascículo 2 31 co é realizado com um grau de abertura menor do que o do [a] tônico oral. Essa realização do fonema /a/, embora se encontrem outras notações, pode ser transcrita como [ã]. Uma transcrição feita como [ɐ] [ kamɐ], com [a] oral e com abertura máxima em sílaba tônica, precedendo uma consoante nasal, no máximo produziria realizações estranhas, não utilizadas pelos falantes. Perceba que se fez referência a três alofones distintos do fonema /a/. Se não conseguirmos caracterizar dois segmentos suspeitos como fonemas distintos, mas o caracterizamos como realizações distintas de um mesmo fonema, devemos buscar evidências para caracterizá-los como alofones. Dois sons diferentes podem funcionar sempre distintamente, num sistema linguístico. Nesse caso, não há dúvida, eles são realizações de fonemas diferentes, mas mesmo que eles sejam realizações de um único fonema, a relação entre essas variantes pode ser de tipos diferentes: 2.1. Variação Livre Em português, várias consoantes produzidas com a ponta da língua como articulador podem ser realizadas de duas maneiras distintas, como alveolares ou como dentais. Você pode verificar, pronunciando as palavras tom, dar, não e lá com a ponta da língua encostada nos dentes superiores ou na arcada alveolar, ao produzir os sons iniciais de cada uma dessas palavras. Se você disser que tem um [ gatʊ], e eu disser que tenho um [ gat ʊ], com certeza temos o mesmo tipo de animal doméstico, embora a pronúncia utilizada seja diferente. Não há qualquer possibilidade de distinguir significado em português através dessa posição. Podemos dizer, então, que entre o [t] alveolar e o [t] dental, existe variação livre sociolinguisticamente falando Distribuição Complementar Chama-se distribuição complementar a relação entre alofones, quando um fone ocorre em determinados ambientes, e outro fone ocorre nos demais ambientes. Por exemplo, nos falares do português do Brasil em que a palatização diante de [i], o [d] pode ser realizado de duas maneiras: como [d] diante de tepe e diante de qualquer vogal que não seja o [i]; ou como [dʒ] diante de [i]. Diante de qualquer consoante que não o tepe, ocorre a forma [dʒ], mas, nesse caso, ocorre epêntese ou inserção de um [i] entre o d e a consoante seguinte. É o que ocorre em admirar, que é pronunciada como se houvesse um [i] entre o [d] e o [m], provocando a aplicação da regra de palatização do [d], que passa [dʒ]. O resultado é, portanto, a forma [adʒimi rar]. A principal conclusão a que devemos chegar é a de que onde ocorre [d], não ocorre [dʒ], e vice-versa. Podemos dizer que esses dois fones ocorrem em distribuição complementar. Atividade Observe as realizações dos fonemas na figura anterior. Apresente conclusões. Alofone: pg=pa#ppa41,m1] SAIBA MAIS! Os alofones estilísticos são produzidos com intenção expressiva, como o alongamento de [e] em eeeeeu???!!! e a vibração alongada de em burrrrro!!! 2.3. Par Suspeito, Par Mínimo e Par Análogo Para que se entenda o funcionamento do sistema fonológico de uma língua, precisa-se fazer um levantamento de todos os sons que ocorrem nela e depois passar a examiná-los para verificar quais são distintivos ou não nessa língua. Como os sons podem ser modificados de acordo com o contexto em que ocorrem, pode ser que dois sons diferentes sejam apenas versões ligeiramente modificadas de um mesmo elemento. Precisa-se, então, fazer um levantamento dos sons que são semelhantes na língua em estudo. Por exemplo, sons como [p] e [b] ou [t] e [d] são bastante semelhantes, pois diferem um do outro apenas pelo fato de serem surdos e sonoros. Sons foneticamente semelhantes são aqueles que compartilham de uma ou mais propriedade fonética. Um par de sons foneticamente semelhantes constitui um par suspeito. O procedimento habitual de identificação de fonemas é buscar duas palavras com significados diferentes cuja cadeia sonora seja idêntica. As duas palavras constituem um par mínimo. Assim, em

32 32 Fascículo 2 português, define-se /f/ e /v/ como fonemas distintos, uma vez que o par mínimo faca e vaca demonstra a oposição fonêmica. Assim o par mínimo faca/vaca caracteriza os fonemas /f,v/ por contraste em ambiente idêntico. Um par de palavras é suficiente para caracterizar dois fonemas. Esse tipo de procedimento é chamado de teste de comutação: altera-se o significante em um único ponto e verifica-se se há alteração de significado. Quando se confirma que há distinção sistemática de significado entre pares desse tipo, tem-se que, nessa língua, os pares suspeitos formam pares mínimos. Basta encontrar pares mínimos para sons foneticamente semelhantes. Quando pares mínimos não são encontrados para um grupo de sons em uma determinada língua, pode-se se caracterizar os dois segmentos em questão como fonemas distintos pelo contraste em ambiente análogo. Assim, duas palavras que ocorram em ambientes similares podem caracterizar o contraste em ambiente análogo, desde que a diferença entre os sons não seja atribuída aos sons vizinhos, por exemplo, devido a processos de assimilação. Um exemplo para demonstrar o contraste fonêmico em ambiente análogo pode ser em [s] e [z], em posição inicial, no par de palavras sumir/zunir. Note que em sumir/zunir além da diferença segmental de [s] e [z], temos a diferença entre [m] e [n], precedendo a vogal tônica. Não há razão para se supor que as consoantes nasais [m] e [n] possam influenciar as ocorrências de [s] e [z] (por assimilação, por exemplo). Portanto, o par de palavras sumir/zunir demonstra o contraste em ambiente análogo entre [s] e [z], em posição inicial. Neutralização e arquifonema: pg=pa#ppa66,m1( página 66) 3. A Neutralização e o Arquifonema O conceito de neutralização não deve ser confundido com o de variação. Existe neutralização, quando há uma supressão das oposições entre dois ou mais fonemas em determinados contextos, isto é, quando uma oposição é anulada ou neutralizada. No sistema fonológico do português, em posição pretônica, há uma neutralização entre [e] e [ɛ] e [o] e [ɔ], cuja posição é funcional em posição tônica. Em posição átona, os dois fonemas correlativos tornam-se intercambiáveis, sem que isso altere o significado da forma. Por exemplo, em final de palavra como em bolo/bolu, não há oposição entre os fonemas o e u. Assim, essa forma passa a ser escrita como /bolu/. O arquifonema passa a ser representado por um símbolo, geralmente uma letra maiúscula, que indica a perda do contraste entre os dois fonemas, causada por uma neutralização. O conceito de neutralização e o de arquifonema (realização não-marcada resultante da neutralização) foi criado por Nicolai Trubertzkoy, fonólogo da escola de Praga ( ). Algumas correntes não aceitam a noção de neutralização e preferem tratar o fenômeno dentro da morfofonologia ou morfofonêmica O arquifonema /S/ Em português, temos a oposição fonêmica entre /s,z,ʃ,ʒ/. Os pares mínimos assa, asa, acha, haja caracterizam o contraste fonêmico dos fonemas /s,z,ʃ,ʒ/ em posição intervocálica. Os pares mínimos (ele) seca, Zeca, (ele) checa, Zeca caracterizam o contraste fonêmico dos fonemas /s,z,ʃ,ʒ/ em início de palavra. Perceba que, caso haja a troca de um fonema pelo outro, haverá mudança de significado de palavra. Note, contudo, que em oposição final de sílaba, o contraste fonêmico dos fonemas /s,z,ʃ,ʒ/ desaparece. Pretende-se dizer com isso que, em posição final de sílaba qualquer, um dos segmentos /s,z,ʃ,ʒ/ pode ocorrer sem prejuízo de significado. Observe a realização fonética que ocorre com a consoante no final de sílaba, na palavra mês : [ mes] ou [ meʃ ]; [mezbu nitʊ] ou [me ʒ bu nitʊ] mês bonito. Em todos esses exemplos, podemos depreender o significado da palavra. Note, contudo, que a consoante final da palavra mês ocorre como qualquer um dos segmentos /s,z,ʃ,ʒ/. Este fato permite a conclusão de que houve uma neutralização dos fonemas /s,z,ʃ,ʒ/ em posição, em final de sílaba, em português. Para neutralização, utiliza-se a noção de arquifonema. O símbolo /S/ representará os segmentos /s,z,ʃ,ʒ/ que ocorrem em final de sílaba, contexto em que a neutralização ocorre Os arquifonemas /R/, /L/ e /N/ Em português, temos o r fraco e o R forte. Atesta-se contraste fonêmico (pares mínimos) entre estes dois tipos de R somente em posição intervocálica: caro/carro; carreta/careta; sarar/sarrar. O r fraco, que ocorre em palavra como caro,

33 Fascículo 2 33 careta, manifesta-se como um tepe ou vibrante simples em qualquer dialeto do português: [ɾ]. O R forte ocorre em início de sílaba (carro, rua, Israel). Observe, agora, algumas ocorrências de R posvocálico. Considerando a palavra par, temos [ pah] (Belo Horizonte), [ paɾ] (São Paulo); / par/(fonêmica); em parto, temos: [ pahtʊ] em (Belo Horizonte), [ paɾtʊ] (São Paulo). Perceba que, em Belo Horizonte, ocorre o segmento [h], e o segmento [ɾ], em São Paulo. A perda de contraste fonêmico em o r fraco e o R forte é neutralizada no português em posição de final de sílaba. Nesse contexto - de posição final de sílaba - utilizamos o arquifonema /R/ para representar fonemicamente o R posvocálico. Além do arquifonema /S/ e do /R/, o fonema /l/ que também pode ocorrer em posição posvocálica em cal / kal/ (forma fonêmica), aponta-se o arquifonema /N/ posvocálico nasal em um / un/ (forma fonêmica), em que se tem a sílaba travada pelo arquifonema /N/. Introdução aos estudos de fonologia do português brasileiro (página 209): S7I0C&pg=PA Atividade 1. Faça a transcrição fonética e fonológica dos dados apresentados abaixo. Não esqueça que as transcrições fonéticas são feitas entre colchetes, e as fonológicas (fonêmicas), entre barras transversais: a. fugaz b. arroz c. atroz d. luz e. susto f. vespa g. lesma h. vesga i. mês j. mês passado l. mês bonito m. mês alegre 2. Considerando a atividade anterior, responda: Que fonemas perderam a sua propriedade contrastiva em posição final de sílaba? 4. Traços ou Propriedades Distintivas Cagliari (2002. p. 85) inicia este assunto pontuando que a fala é um contínuo, que pode ser interpretado em função de segmentos, devido às características articulatórias, acústicas e auditivas e em função de unidades (segmentos) que se sucedem no tempo. Com base na saliência auditiva, a decomposição da fala mais comum gera os segmentos representados por letras dos alfabetos fonéticos. É uma segmentação por blocos e linear. Todavia, cada um desses blocos pode ser decomposto nas camadas que os compõem. Procedendo assim, tem-se uma segmentação não das unidades que se sucedem no tempo, mas dos elementos que coexistem num determinado bloco ou segmento, num determinado tempo da corrente da fala. Essas camadas que compõem os segmentos são as propriedades fonéticas dos sons da fala e são usadas pela fonologia como propriedades distintivas ou não com relação ao valor de informação fonológica. Assim em fonologia, propriedades ou traços distintivos, ainda chamados funcionais, pertinentes ou relevantes, referem-se a unidades mínimas, contrastivas e são aquelas que irão distinguir, entre si, os elementos lexicais. O caráter infinito das possibilidades humanas de articulação e o fato admitido de que um mesmo indivíduo não realiza nunca, duas vezes seguidas, o mesmo som de maneira idêntica não impedem que se identifiquem sempre determinado som de uma língua, cada vez que é ouvido, como sendo o mesmo som e não outro. Para os linguistas de Praga, o que torna essa identificação possível é o chamado traço distintivo que pode ser definido por seus componentes articulatórios e/ ou acústicos. São traços articulatórios ou acústicos pertinentes aqueles que servem para caracterizar um fonema em face de outros que têm com ele traços comuns. São esses traços que interessam ao linguista. Ele irá, a partir deles, organizar o sistema fonológico das línguas. Uma diferença mínima entre duas unidades da língua constitui um traço distintivo. (CALLOU, p. 38 e 39). Historicamente, foram propostos vários tipos de inventários de traços distintivos com o objetivo de sistematização das unidades fonológicas e com vistas a uma maior ou menor correlação com a realidade fonética. Não nos deteremos neste espaço a essa discussão teórica dos diferentes modelos

34 34 Fascículo 2 Podemos distinguir os sons uns dos outros por propriedades que detectamos em cada um deles ou por propriedades que só podemos detectar sintagmaticamente. Dentre as propriedades que detectamos em cada um dos sons, encontra-se o modo de arquanto ao caráter dos traços distintivos Traços Distintivos Os denominados independentes dos articuladores (não estão associados a um único articulador) [+ consonantal]: corresponde intuitivamente à divisão entre vogais e consoantes. Têm o traço [+ consonantal] os sons que apresentam um grande obstáculo à passagem do ar pela parte central da cavidade oral, isto é, se há neles um fechamento total (como nas oclusivas, nas nasais, laterais e vibrantes) ou quase total (como fricativas). Dessa forma, as semivogais ou glides ficam classificadas com o traço [- consonantal] [+ vocálico]: são vocálicos os sons produzidos sem impedimento à passagem de ar. Assim, como os sons [l, ʎ, r, ɾ] são produzidos com relativa desobstrução do ar, eles são considerados como tendo o traço [+ vocálico]. Por outro lado, como os glides caracterizam-se por terem o espaço da passagem do ar mais reduzido do que nas outras vogais, eles são caracterizados como [- vocálico]. [+ soante] ou [+ sonorante]: uma das formas de caracterizar essa oposição é dizer que têm o traço [+ soante] os sons que não dificultam a produção das cordas vocais. É atributo o traço [- soante] aos sons que apresentam uma obstrução grande à passagem do ar, dificultando, dessa maneira, essa vibração. Têm o traço [- soante], portanto, as oclusivas, fricativas e fricadas. Os demais sons (vogais, semivogais, nasais, laterais e vibrantes) têm o traço [- soante] [+ contínuo]: os sons que têm o traço [+ contínuo] são produzidos sem que haja uma interrupção do fluxo de ar. Se houver essa interrupção, considera-se que o som tem o traço [- contínuo], o que abrange as oclusivas, africadas e vibrantes. [+ tenso]: são os sons produzidos com considerável esforço muscular. A oposição entre os chamados r fraco (o de era) e o r forte (o de erra) pode ser caracterizada por esse traço, tendo eles os traços [- tenso] e [+ tenso], respectivamente. Os dependentes de um articulador [+ coronal]: são coronais os sons produ- zidos com aponta da língua como articulador ativo, o que se move em direção ao articulador passivo. São coronais, portanto, sons como [s, t, l]. Algumas análises também consideram as vogais anteriores como coronais. Todos os demais são não-coronais. [+ labial]: são labiais os sons produzidos com o lábio inferior como articulador ativo. Essa classe abrange os sons bilabiais e labiodentais. [+ dorsal]: são dorsais os sons produzidos com a parte posterior da língua como articuladores ativo. Inclui as consoantes uvulares e velares, além das vogais posteriores. Algumas análises, no entanto, incluem todas as vogais entre os sons dorsais. Traços de modo de articulação: [+ sonoro], [+ nasal], [+ lateral]. Outros traços: [+ anterior], [+ posterior], [+ arredondado], [+ alto], [+ baixo]. Traços não relevantes para o português: [+ aspirado], [+ glotalizado]. Os traços com sinal (+) são marcados, e os com sinal (-) não são marcados. Em uma notação como [+ sonoro], não se lê a valência (o sinal +), mas se diz apenas sonoro. Na notação [- sonoro], por exemplo, diz-se não-sonoro ou surdo, não sendo costume dizer menos sonoro. Uma breve reflexão sobre o sistema de traços distintivos: textos/b00007.pdf. Atividade Pesquise e selecione dados do idioleto de um falante de São Paulo e um gaúcho e transcreva foneticamente esses dados, apresentando observações sobre possíveis variantes. 5. Aspectos Suprassegmentais ou Prosódicos

35 Fascículo 2 35 ticulação, os articuladores que os produzem(ativos e passivos). Essas propriedades são chamadas de segmentais. Dentre as propriedades que só podemos identificar sintagmaticamente, temos o fato de um som ser prolongado ou não, ser agudo ou grave. Essas propriedades são chamadas de suprassegmentais ou prosódicas. Dentre as propriedades suprassegmentais, encontramos o acento e os tons. O acento, familiar a nós, falantes de português, pode ser manifestado por qualquer um dos tipos de propriedade acústico (altura, intensidade e duração), ou por uma combinação de mais de um tipo dessas propriedades. Os tons se relacionam basicamente à altura do som (no sentido de ser um tom relativamente agudo ou relativamente grave: acento musical). Esses tipos de propriedades suprassegmentais (acentos e tons) podem ter importante função de distinguir itens lexicais. O português e as demais línguas românicas, o inglês, o alemão, são línguas de acento de intensidade; o latim e o grego, por outro lado, possuem acento musical. Numa língua como o português, o acento pode ter uma função distintiva. Assim, em palavras como sábia, sabia e sabiá, a acentuação distingue o significado delas. Em algumas línguas, são os tons que distinguem o significado e não, a acentuação. Como exemplo de língua que usa os tons distintivamente, temos o japonês em que pares de palavras como háshì e hàshí, em que o primeiro significa palitinho usado para comer, e o segundo, ponte. Portanto, traços prosódicos ou suprassegmentais têm função expressiva e devem ser considerados em conta numa descrição fonológica. O acento de intensidade deve ser marcado na representação fonológica em que o símbolo [ ] (símbolo de minuto) precede a sílaba tônica. Exemplo: para fabrica e fábrica, temos [fa bɾika] e [ fabɾika] respectivamente. Atividade Transcreva foneticamente os dados abaixo. Marque a sílaba tônica colocando o símbolo [ ] antes da sílaba acentuada: a. sílaba b. dissílaba c. silabar d. silabado e. ópera f. opera g. operado h. operador i. médica j. medica l. medicado m. medicamento SAIBA MAIS! Acento de insistência ou emocional: o português também faz emprego do acento de intensidade para obter, com o chamado acento de insistência, notáveis efeitos.quando se quer enfatizar uma palavra, insiste-se mais demoradamente na sílaba tônica. Os escritores costumam indicar, na grafia, este alongamento enfático, repetindo a vogal da sílaba tônica. O acento de insistência também pode cair em outra sílaba, diferente da tônica. A causa essencial do fenômeno do recuo do acento pode ser a falta de sincronia entre emoção e expressão, através da linguagem. A emoção se adianta à palavra e reforça a voz. Dicionário de Linguística: pg=pa#ppa5,m1. O acento em português-abordagens fonológicas: 6. Processos Fonológicos Como já vimos, os sons não são realizados da mesma maneira. Dependendo do contexto em que ocorrem, os sons podem sofrer modificações. A sistematização e organização desses sons, segundo sua estrutura e funcionamento, é objeto de estudo da fonologia que elabora conceitos, procedimentos e processos para classificá-los. Vejamos alguns desses processos fonológicos mais comuns Processos que Acrescentam Traços ou Mudam a Especificação dos Traços a. Assimilação: refere-se a qualquer processo em que um som adquire características ou traços dos sons que o rodeiam; b. Nasalização: é um tipo de processo fonológico bastante comum em português. Quase toda vogal tônica que precede consoante nasal se

36 36 Fascículo 2 nasaliza; c. Palatização: faz com que uma consoante se realize como palatal, quando diante de vogal anterior palatal (tira, diabo); d. Harmonização vocálica: ocorre uma ação assimilatória da vogal tônica sobre a pretônica (m[i]nimo], f[i]liz); e Metafonia: ocorre uma ação assimilatória da vogal átona sobre a tônica. A metafonia é um processo diacrônico, que irá explicar a passagem de metu a m[e]du. Sincronicamente, plurais, como form[o]sos, comp[o]stos que a norma culta rejeita, explicam-se por extensão da regra de metafonia Processos que Inserem Segmentos a. Ditongação: mudança fônica resultante de alternância sincrônica ou de evolução diacrônica. Essa mudança se deve à redução de um hiato ou a uma segmentação de uma vogal em duas partes, formando uma única sílaba. b. Epêntese: fenômeno que consiste em intercalar, numa palavra ou grupo de palavras, um fonema não etimológico por motivos de eufonia, de comodidade articulatória, por analogia. Na palavra italiana e portuguesa inverno, houve epêntese em relação à palavra latina hibernum Processos que Apagam Segmentos a. Tradicionalmente denominados síncope, aférese, apócope, a depender da posição em que se encontre a vogal. b. Outros processos fonológicos que podem ocorrer nas línguas naturais podem ser determinados não só por certos traços distintivos mas também pela prosódia e pela morfologia. (Estes serão estudados um pouco mais à frente). Atividade Pesquise e aponte: a. Sons foneticamente semelhante do português; b. Exemplos dos processos fonéticos estudados. Geração Automática de Variantes de Léxicos do Português Brasileiro para Sistemas de Reconhecimento de Fala: Variantes.pdf. 7. Análise Fonológica O domínio e aprofundamento dos conceitos e procedimentos apresentados nos tópicos anteriores são necessários para uma análise fonológica (fonêmica) de uma língua. Para que essa atividade possa ser efetivada, Cagliari (2002. p. 55) apresenta os seguintes passos: O corpus: como a análise fonológica baseiase em dados fonéticos da fala, a primeira providência é coletar esses dados através de uma transcrição fonética detalhada e cuidadosa. Esse conjunto de dados, ou corpus, pode ser constituído de palavras (cerca de 50), frases e textos. Posteriormente, haverá necessidade de ampliação do corpus com mais exemplos e com outros tipos de ocorrência, como pequenos textos espontâneos, textos lidos, falas informais e discursos formais, conversas, diálogos etc. A tabela fonética: feitas as transcrições fonéticas e obtido um corpus, o passo seguinte é fazer o levantamento de todos os sons que aparecem no corpus e colocá-lo em forma de tabela fonética. Essa tabela segue o padrão tradicional de classificação fonética dos sons. Os pares suspeitos: verificando os sons da tabela fonética, fazem-se os balões ao redor dos pares de sons foneticamente semelhantes para posterior investigação. Em geral, sobram alguns sons que, por serem muito diferente dos demais, precisam ser investigados separadamente, para ver, por exemplo, se não estão em distribuição complementar ou em variação livre. Os pares mínimos: em seguida, procuram-se para cada par suspeito os pares mínimos encontráveis no corpus. Todo par mínimo estabelece o valor de dois fonemas, os quais começam a formar uma outra tabela: a tabela dos fonemas nos moldes da tabela fonética. Os ambientes análogos: para os casos de pares suspeitos não resolvidos através de pares mínimos, recorre-se aos ambientes análogos, para verificar se são fonemas ou não. A distribuição complementar: a verificação de que houve ou não distribuição complementar obtém-se através de tabelas especiais de ocorrências dos sons foneticamente semelhantes. Faz-se necessário partir de uma análise mais abrangente dos contextos em que esses sons ocorrem e, depois, verificar qual é a distribuição real que eles têm na língua. Os sons restantes: o passo seguinte consiste em

37 Fascículo 2 37 verificar o status fonológico dos sons que ficaram isolados na tabela e que não participaram da discussão fonológica com outros sons. Não havendo dúvida, em princípio, esses sons são fonemas independentes. Havendo dúvidas, esses sons deverão ser investigados, comparados com outros sons e analisados para se saber se são alofones em variação ou apresentam um valor de fonema. O inventário dos fonemas: neste momento, o inventário de fonemas na tabela de fonemas deve estar completo, e os processos fonológicos de distribuição dos fonemas e da ocorrência de seus alofones já devem ser do conhecimento do pesquisador. Os processos fonológicos: um aspecto importante da análise fonológica é a formulação de regras de distribuição dos fonemas e da realização de seus alofones. Todas as modificações que os fonemas sofrem devem ser descritas e formuladas de acordo com a tradição da fonologia. Para que uma análise fonológica fique mais completa, é necessário considerar não apenas os aspectos segmentais mas também os fenômenos suprassegmentais, morfofonológicos, sociolinguísticos, pragmáticos etc. A transcrição fonológica: uma análise fonológica completa costuma apresentar o corpus transcrito com os fonemas. Desta forma, os dados aparecerão documentados com a transcrição dos fonemas dos itens lexicais e com seus respectivos alofones. Com isto, a análise fonológica está concluída. Atividade Identifique, em sua comunidade, um falante de quem você possa gravar uma conversa e retirar algumas palavras que julgue interessantes para análise. Faça a análise dos dados selecionados. Modelos teóricos (página 13): S7I0C&pg=PA#PPA13,M1 8. Modelos Fonológicos Neste tópico, à luz de Silva (2008), teremos uma breve visão da trajetória pós-estruturalista da análise do componente sonoro das línguas naturais. O modelo fonológico do tipo fonêmico, apresentado durante este fascículo, ilustra uma tentativa estruturalista de formalização do componente sonoro. Correntes teóricas pós-estruturalistas, que tratam do componente sonoro, são conhecidas como modelos fonológicos aqui apresentados da fonologia gerativa padrão à interface fonologia-sintaxe. O Estruturalismo Como já foi dito, o modelo fonêmico expressa uma tentativa de formalização do componente sonoro. Em correntes estruturalistas, a investigação do componente sonoro prevalecia sobre a análise de outras áreas (como a morfologia e a sintaxe, por exemplo). Na verdade, os procedimentos teóricos e metodológicos postulados para a análise do componente sonoro dentro de uma ótica estruturalista foram estendidos a outras áreas da análise lingüística, contribuindo para o seu progresso como ciência. Dentre as tantas discussões, temos que em uma análise fonêmica, deve-se ter um inventário fonético (que lista os fonemas, alofones e informações sobre a estrutura silábica ou suprassegmental). A unidade mínima de análise é o fonema. Pares mínimos caracterizam a oposição entre os fonemas; Alofones caracterizam a variação expressa pela distribuição complementar e o fonema constitui uma unidade mínima de análise, que tem um papel contrastivo e concreto na investigação linguística. É fato que os procedimentos teóricos e metodológicos postulados para a análise do componente sonoro dentro de uma ótica estruturalista foram estendidos a outras áreas da análise linguística, contribuindo para o progresso desta. À linguística cabe analisar e formalizar o supra-sistema que Saussure denominou língua. A fonte de dados para a análise linguística é a fala que consiste da linguagem enquanto evento físico (em termo de pronunciarem-se sequências de sons). Posteriormente, a proposta de interpretar-se o fonema como unidade mínima de análise será questionada e implicará mudanças significativas para a teoria linguística. Além da corrente fonêmica, outras propostas tiveram um caráter importante na elaboração e no desenvolvimento da proposta estruturalista: a corrente do Círculo linguístico de Praga (Trubetzkoy (1939) Jakobson (1967), as contribuições de Saussurre (1916); Sapir(1925); Boloofield (1933); Martinet (1968); Matto Câmara (1970).

38 38 Fascículo 2 A Fonologia Gerativa Padrão Em 1965, Chomsky publica Aspects of the theory of syntax, apresentando uma proposta convincente de interpretação e análise da estrutura linguística. Este trabalho revoluciona a relação interna dos estudos linguísticos. O componente sonoro, que tinha um papel preponderante na análise linguística, passa a ser visto apenas como parte integrante do mecanismo linguístico. A proposta de análise gerativa assume a noção de processos. A fala é gerada a partir de transformações impostas a representações subjacentes. As representações subjacentes pretendem espelhar o componente linguístico internalizado que o falante tem de sua língua. As representações subjacentes relacionam-se à competência linguística. A competência linguística opõe-se ao desempenho. O desempenho é formalizado pelas representações de superfície, que pretendem refletir o comportamento empírico da língua a ser analisada. Comparandose a proposta gerativa ao modelo estruturalista, pode-se dizer que a competência relaciona-se à língua e que o desempenho relaciona-se à fala. A inovação do modelo gerativo do ponto de vista teórico e metodológico refere-se à noção transformacional de geração de estruturas gramaticais e ao relacionamento explícito que passa a ser definido entre a linguagem e o mecanismo psicológico que o gera. O Modelo Natural Fonologia gerativa natural: tem como postuladores Vennemann(1972) e Hooper (1972, 1976). Estes autores defendem que o componente fonológico deve ocupar-se com transparências e com a motivação fonética regular. Todas as outras regularidades devem ser tratadas com informações do componente morfológico, buscando-se evitar soluções abstratas. A fonologia gerativa natural busca definir os princípios que regulam as regras foneticamente motivas das não-produtivas. Além de investigar como o léxico é estruturado, investiga se as restrições sequenciais devem ser definidas em termos de morfemas.vennemann e Hooper propõem que a sílaba seja incorporada à teoria fonológica. Fonologia natural: uma corrente alternativa denominada fonologia natural surge com a proposta de Stampe(1980). A diferença entre a fonologia gerativa natural e a fonologia natural é que a primeira busca investigar a naturalidade das regras fonológicas enquanto a segunda tem por objetivo caracterizar a naturalidade das representações e processos fonológicos. Fonologia Não-Linear Fonologia CV: Na fonologia gerativa padrão, a proposta de formalização da silaba é representada por Kahn (1976).Nesta proposta, o nódulo que representa a sílaba domina imediatamente seus constituintes, que são segmentos. De acordo com tal proposta, os traços distintivos{consonantal] e [silábico] são excluídos das representações segmental. Isso dá lugar à presença das categorias C (para as consoantes) e V para as vogais. Os elementos CV formam um conjunto de unidades temporais. Tais unidades possuem um status teórico semelhante a C e V em perspectivas estruturalistas, uma vez que se permite categorizar sílabas em termos de suas sequências segmentais. Fonologia autossegmental: surge como uma proposta teórica de interpretação da sílaba que se iniciou com o estudo de aspectos suprassegmentais da fala, como tons acentos. Argumentos gerais e motivação da teoria podem ser encontrados em Goldsmith (1990). Fonologia de Dependência As teses que geraram a formulação da fonologia de dependência surgiram na década de A relevância da teoria de dependência para as representações fonológicas e morfológicas pauta-se na proposta da analogia estrutural. Esta proposta distingue a fonologia de dependência de outros modelos teóricos, uma vez que a representação fonológica relaciona-se a aspectos de representação morfológico e sintático. Fonologia de Governo A fonologia de governo assume que as relações de governo estabelecidas no processo de silabificação são universais. As relações de governo são derivadas de princípios da gramática universal e juntamente com parâmetros específicos das línguas naturais definem os sistemas fonológicos. A fonologia de governo propõe um formalismo de silabificação, representação, segmentação, interação entre a fonologia e outros componentes da gramática e de organização do léxico. A proposta teórica dessa teoria é de Kaye e Lowenstamm ( ).

39 Fascículo 2 39 Fonologia Lexical Na fonologia lexical, a interação entre os componentes fonológico e morfológico dá-se por meio da inter-relação das regras de diferentes domínios (fonológico e morfológico). A fonologia lexical propõe três níveis de representação: subjacente, lexical e fonética. Dentre os títulos mais importantes da fonologia lexical cita-se Kiparssky (1982), Mohanan (1982), Booij e Rubach (1984), Pulleybank (19860), Inkelas (1989), Hargus e Kaisse (1993). análise do componente sonoro. Trabalhos do português que adotam a fonologia de uso são os de Cristófaro-Silva e Oliveira (2202)]. Atividade Amplie suas leituras sobre a teoria apresentada por Chomsky. Reflita sobre o conceito de competência linguística e discorra sobre a contribuição dessa teoria para o ensino de Língua Portuguesa na atualidade. Teoria da Otimização A teoria da otimização propõe um programa que explicita um modelo de análise gramatical. A fonologia tem sido foco de pesquisa nessa linha. Têm-se referência no trabalho de Prince e Smolensky (1991). Um aspecto importante da teoria da otimização diz respeito ao formalismo assumido. Assume-se que a forma superficial de uma forma lexical é escolhida com base na condição de satisfazer restrições gerais sobre as representações de saída (output). Regras fonológicas são ausentes no formalismo deste modelo. A teoria da otimização consiste de um programa de pesquisa de cunho gerativo que propõe metas para a linguística geral. Estas metas devem ser alcançadas para todos os níveis da gramática. Interface Fonologia-Sintaxe A descrição e formalização dos sistemas sonoros tinham posição de destaque até meados da década de 1960 nos estudos linguísticos. Após a proposta de Chomsky (1965), o foco da análise linguística passa a ser a organização do componente sintático. A descrição dos sistemas sonoros passa a fazer parte do componente fonológico que atua após os mecanismos sintáticos terem sido concluídos. A interface fonologia-sintaxe pode ser pesquisada nos trabalhos de Selkirk (1980), Pullum e Wicky (1984), Nespor e Vogel (1986) Scarpa (1999). Pela incorporação de informação fonética aos modelos fonológicos: hpsilva.pdf] Estruturalismo: ralismo.htm; checo.htm) Fonologia métrica (página 68): S7I0C&pg=PA#PPA68,M1 Fonologia métrica e prosódica: Fonologia de Uso A fonologia de uso oferece uma proposta alternativa de análise do componente sonoro, expressando a relação entre fonética-fonologia e fonologia-morfologia. Esta proposta de análise pode ser relacionada à proposta de Langacker (2000), que trata da transcrição gramatical abordando o uso da linguagem. A fonologia de uso oferece uma proposta de relacionar aspectos sincrônicos e diacrônicos na

40 40 Fascículo 2 RESUMO Há uma discussão histórica sobre a compreensão do objeto de estudo da fonética e da fonologia que vai encontrar maior precisão nas contribuições de Saussure, Trubetzkoy e Jakobson, quando o fonema passa a ser entendido como um som que, dentro de um sistema fônico determinado, tem um valor diferenciador entre os vocábulos. Alofone: cada realização de um fonema. A relação entre as variantes pode ser: variação livre e por distribuição complementar. Para descrição de uma língua, precisa-se fazer, inicialmente, um levantamento de todos os sons dessa língua. Definem-se quais sons têm valor distintivo (são fonemas); quais sons são foneticamente semelhantes (formam par suspeito); dos pares suspeitos, formam-se os pares mínimos; passa-se ao agrupamento realizado a partir da estrutura e do funcionamento desses sons; criam-se regras que caracterizam os processos fonológicos. Os processos fonológicos consistem, então, numa sequência de regras para esse agrupamento e explicação dos sons. O arquifonema corresponde ao resultado de uma neutralização. Traços distintivos são propriedades mínimas, de caráter acústico ou articulatório, que, de forma co-ocorrente, constituem os sons das línguas.pode-se definir um conjunto de traços distintivos como um conjunto específico de propriedades que constituem os fonemas. Pode-se distinguir os sons uns dos outros por propriedades presentes em cada um deles. Essas propriedades podem ser segmentais ou suprassegmentais. Uma análise fonológica exige o domínio de conceitos e o desenvolvimento de alguns passos que vão desde a coleta dos dados à transcrição fonológica. Os principais modelos fonológicos que buscam a formalização do componente sonoro das línguas naturais são: o estruturalismo, a fonologia gerativa padrão, o modelo natural, fonologia gerativa natural, modelo natural, fonologia não-linear, fonologia de dependência, fonologia de governo, fonologia lexical, teoria da otimização, interface fonologiasintaxe e fonologia de uso. GLOSSÁRIO Acentuação modo de proferir um som ou grupo de sons com mais relevo que os outros. Esse relevo denomina-se acento. Diz-se que o acento é de intensidade (acento de força, acento dinâmico, acento expiratório ou icto), quando o relevo consiste no maior esforço expiratório. Diz-se que o acento é musical (acento de altura ou tom), quando o relevo consiste em elevação ou maior altura da voz. Estruturalismo corrente de pensamento nas ciências humanas, que se inspirou no modelo da linguística e que apreende a realidade social como um conjunto formal de relações. REFERÊNCIAS BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Ver. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, CALLOU, Dinah. Iniciação à Fonética e Fonologia. 10 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, CAGLIARI, Luiz Carlos. Análise fonológica: introdução à teoria e à prática com especial destaque para o modelo fonêmico. São Paulo: Mercado das letras, 2002.

41 Fascículo 2 41 FIORIN, José Luiz(org). Introdução à Linguística II. Princípios de análise. 4. ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, SILVA, Thaís Cristófaro. Fonética e Fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 9. ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2008.

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43 Fascículo 3 43 Processos Morfofonológicos e Estilísticos Prof.ª Maria Perpétua Teles Monteiro Carga Horária 15 horas Objetivos Específicos Apontar os principais conceitos relacionados aos processos morfofonológicos e estilísticos da Língua Portuguesa. 1. Morfofonologia Introdução Neste fascículo, apresentaremos, de forma introdutória, alguns conceitos necessários ao estudo dos processos morfofonólogicos e estilísticos, uma vez que, durante o curso, morfologia e estilística serão conteúdos de ensino em disciplinas específicas. Vale ressaltar, inicialmente, que a morfofonologia ou morfofonêmica, em linguística estrutural, correspondem à fonética e à fonologia, quando os itens léxicos inseridos no lugar dos símbolos recebem uma interpretação fonética. Trata-se de um nível intermediário entre fonologia e morfologia, visando ao estudo das diferentes formas fonéticas apresentadas por um mesmo morfema. Que não pareça óbvio dizer que a morfologia, tratando de formas, ocupa-se das condições de estruturas da parte significante dos signos e das regras que determinam as possíveis variações dos significantes, uma vez que esse enfoque enfatiza o caráter fônico da morfologia, quando da combinatória fônica, é que resultam os padrões morfológicos Morfologia Podemos conceituar morfologia como o estudo da forma, da configuração, da aparência externa da matéria. O termo morfologia foi inicialmente empregado nas ciências da natureza, botânica e geologia. Na linguística, começou a ser utilizado no século XIX. Nessa época, sob a influência do modelo evolucionista de Darwin, acreditava-se que o estudo da evolução das quatrocentas ou quinhentas raízes básicas do indo-europeu poderia levar à solução do velho enigma da origem da linguagem. Hoje, essa questão está praticamente fora do âmbito da pesquisa linguística, e o estudo da forma das palavras assume outra abrangência e complexidade. Considerar o morfema ou a palavra como a unidade central do estudo morfológico resulta em modos diferentes de se abordar a morfologia. Pode-se dizer que a noção de morfema está relacionada com o estruturalismo, que tinha como problema central a identificação dos morfemas nas diferentes línguas do mundo.

44 44 Fascículo 3 O estudo da morfologia se subdivide em dois campos: 1. um, dedicado ao estudo dos mecanismos morfológicos por meio do qual se formam palavras novas domínio da morfologia lexical; 2. outro, voltado à análise dos mecanismos morfológicos que apresentam informações gramaticais domínio da morfologia flexional Morfologia Lexical Derivação e composição são os processos mais gerais de formação de palavras. O processo de derivação é o mais utilizado para formar novos itens lexicais. A derivação é o mecanismo básico da morfologia lexical. Derivação: nesta, acrescenta-se um afixo (sufixo ou prefixo) a uma base. A base de uma forma derivada é geralmente uma forma livre, isto é, uma forma mínima que pode constituir sozinha um enunciado, como um verbo, um adjetivo ou um advérbio. Podemos, também, ter derivados a partir de formas presas, isto é, formas que não podem ocorrer sozinhas, como na palavra morfológico, em que se juntou o sufixo ico, formador de adjetivos à base morfolog, composta de morfo + log, que é, ao mesmo tempo, composta (dois radicais gregos) e presa. Em português, raízes e radicais servem de base para a adjunção de afixos. A raiz é o elemento irredutível e comum às palavras derivadas. O radical inclui a raiz e os elementos afixais, que servem de suporte para outros afixos, criando novas palavras. Os processos derivacionais são bastante produtivos. Tal fato pode ser explicado não só pela possibilidade elevada de combinação de raízes e afixos, mas porque, em muitos casos, mudam a classe da nova palavra formada, como a nominalização de verbos, processo altamente produtivo que forma substantivos a partir de verbos, como pesar > pesagem e envolvem noções bastante comuns e de grande generalidade, como a ideia de negação (ilegal), grau (gatinho), designação de indivíduos (pianista), nomes abstratos (bondade). Composição: esta consiste na associação de duas bases para formar uma palavra nova. Teremos palavras compostas a partir de formas livres, como guarda-livros (guarda-livros), como também a partir de formas presas, como na palavra geologia (geo-logia). O processo de composição junta uma base à outra, com ou sem modificação de sua estrutura fônica, aglutinando-se, em aguardente, ou justapondo-se, em pentacampeão. Os elementos do composto apresentam uma relação entre um núcleo e um modificador (ou especificador), entre um determinado e um determinante. Em português, o primeiro elemento do composto funciona como núcleo nas estruturas formadas por: Substantivo + Substantivo. Ex: sofá-cama, peixe-espada, mestre-sala. Substantivo + adjetivo. Ex: caixa-alta, obra-prima, amor-perfeito. Verbo + Substantivo. Ex: guarda-roupa, beija-flor. Nas estruturas com adjetivo, esse é sempre o especificador, independente de sua posição: belas-artes, livre-arbítrio. A composição distingue-se da derivação por seu próprio mecanismo de estruturação: enquanto pela derivação se expressam noções comuns e gerais, o processo de composição permite categorizações mais particulares. Outros mecanismos de formação de palavras Derivação regressiva: diferentemente dos processos de derivação e de composição, em que há adição de morfemas, existe, em português, um mecanismo de criação lexical em que se observa a redução de morfemas, conhecido como derivação regressiva. Podemos observá-lo em derivados do tipo: busca, de buscar; implante, de implantar; manejo, de manejar. Os derivados são, na maioria, substantivos deverbais, isto é, construídos a partir de verbos. Derivação parassintética: consiste na adição simultânea de um prefixo e um sufixo a uma base. É um processo mais produtivo na formação de verbos (en+feitiço+ar=enfeitiçar) do que na de adjetivos (des+alma+ado=desalmado). A função semântica é atribuída ao prefixo, enquanto a função sintática cabe ao sufixo, que muda a classe da palavra a que pertence a base.

45 Fascículo Morfologia Flexional A morfologia flexional trata, principalmente, dos morfemas que indicam relações gramaticais e propiciam os mecanismos de concordância, estando mais diretamente relacionada à sintaxe. Nas diferentes línguas do mundo, as categorias gramaticais frequentemente manifestadas pelos morfemas flexionais são: para os nomes, as categorias de gênero, número e caso; para os verbos, as categorias de aspecto, tempo, modo e pessoa. A evidência desses universais não significa que todas as línguas manifestarão todas essas categorias nem que todas elas serão representadas pelos mesmos tipos de morfema. -a&rls=org.mozilla%3apt-br%3aofficial& channel=s&hl=pt-br&q=tipos+de+morfema+na+estru tura+das+palavras&meta=&btng=pesquisa+google estrutura-das-palavras.php morfologia.htm SAIBA MAIS! Como a estrutura fonológica ajuda no reconhecimento da relação morfológica entre as palavras? arttext&pid=s &lng=pt&nrm =iso Atividade Selecione 10 palavras do português em que você possa explicar os estudos apresentados sobre morfologia. 2. O Morfema Vimos que os fonemas constituem a primeira unidade mínima da Linguística. Observamos, também, que os fonemas estão destituídos de qualquer significado, funcionando nas línguas apenas como discriminadores de significados em potencial. Agora, veremos que, através dos fonemas, podemos localizar a segunda das unidades básicas da Linguística, aquela que compõe a primeira articulação das línguas naturais, o morfema. Sendo o morfema um signo mínimo, quer dizer, uma entidade composta de significante e significado indissoluvelmente unidos, corresponde aos menores elementos individualmente significativos nos enunciados de uma língua. Um morfema consta habitualmente de curtas sequências de fonemas, sequências essas que se repetem. Porém nem todas as sequências de fonemas que se repetem são morfemas. Daí resulta a definição de morfema: a menor unidade que é gramaticalmente pertinente. Uma unidade que não possa ser dividida sem que se destrua ou se altere drasticamente o seu significado. Em pata, temos duas formas mínimas portadoras de significação: 1. pat a Em 1, temos uma cadeia de significantes dotada de um plano de conteúdo próprio (membros de animais); em 2, temos um plano de conteúdo (gênero feminino). Assim, 1 e 2 possuem significado, significado esse que seria destruído, se eu tentasse subdividi-los ainda mais, construindo, digamos: 3. pa- 4. -t- A forma 4 não possui sentido algum, e a forma 3 só pode nos evocar sentidos (instrumento para cavar, por exemplo) que nada tem a ver com o sentido original de pata. Compreendemos, então, que a palavra pata possui a propriedade de poder ser fragmentada em apenas dois segmentos: morfemas Lexemas e Gramemas Um critério para isolar morfemas consiste em observar, com base nas definições propostas no tópico 1, quantos elementos do plano de expressão de uma palavra se correspondem com diferentes significados.veja: I. Pata II. Patas III. Patada IV. Patadas Nas formas apresentadas, temos as que mantêm inalterável uma sequência de significantes {pat-} assim como mantêm inalterável um plano de conteúdo extremidade, relativa aos membros inferiores, dos animais ; -a de I significa gênero feminino, comparando I e II, vemos uma modificação introduzida no plano da expressão de I (re-

46 46 Fascículo 3 presentada pelo acréscimo de -s ) correspondente a uma modificação introduzida no plano do conteúdo de I.(representada pelo acréscimo da noção de plural). Por seu lado III. ( patada ) que pode ser entendido como possuindo o mesmo plano de expressão de I. ( pat-) mais o sufixo ada conserva o mesmo plano de conteúdo de I. (relativa aos membros inferiores dos animais). Assim localizamos os morfemas: I. pat a II. pat a s III. pat ad a IV. pat ad a s Percebe-se que, para cada segmento isolado, temos uma significação: 1. extremidade dos membros inferiores dos animais 2. modificador 3. gênero feminino 4. número plural Num primeiro exame, pode-se dizer que tais significações podem ser assim classificadas: a. 1. (pat-) possui uma significação lexical, que diz respeito ao vocabulário da língua, ao dicionário; b. 2, 3 e 4 (-ad, -a, -s) possuem uma significação gramatical, que diz respeito não ao dicionário, mas, à gramática da língua. A parte 1 responsável pela significação lexical denomina-se lexema; as partes 2, 3 e 4, responsáveis pela significação gramatical, denominam-se gramemas. Ambos, lexemas e gramemas são morfemas. Quando não nos importar fazer menção explícita do particular sentido de cada um deles, poderemos nos referir a um e outro, indiferentemente, sob o título genérico de morfemas. O fragmento {pat-}, que engloba a significação lexical, pode ser substituído, em outros contextos, por uma extraordinária quantidade de outros fragmentos retirados do dicionário: pedr-, punhal-, pul-, cabeç-, joelh-, que produziriam, juntamente com os fragmentos 2, 3 e 4, pedradas, punhaladas, pauladas, cabeçadas, joelhadas, etc. Todas essas comutações e substituições alteram, evidentemente, o plano do conteúdo lexical, mas não alteram o plano do conteúdo gramatical, ou seja, todas es- sas palavras continuariam a possuir gênero feminino, o número plural, a designar golpe desferido com. Se, contudo, quiséssemos efetuar mudanças nas partes relativas à significação gramatical, não poderíamos efetuar senão um número muito restrito de alterações: na parte 3, por exemplo, a do gênero, não possuímos em português mais do que feminino/masculino; na parte 4, a do número, não temos mais que singular/ plural; na parte 2, a do gramema, que indica o aspecto verbal, temos um número maior de possibilidades de variação, mas poucas. Podemos, daí, concluir que os lexemas pertencem a inventários ilimitados e, como membros de uma lista aberta, eles se sujeitam a comutações teoricamente infinitas; os gramemas, ao contrário, pertencem a inventários limitados e, como membros de uma lista fechada, se sujeitam a um número restrito de comutações. Os morfemas são convencionalmente transcritos entre pequenas chaves: {-a} lê-se morfema a. Do Lexema e termos afins na terminologia gramatical: Léxico: Lexemas: htm SAIBA MAIS! O lexema corresponde, aproximadamente, ao que Vendryés chamava de semantema; os gramáticos norte-americanos chamam de raiz e Hjelmslev chamou de plerema; já o gramema corresponde ao morfema de Vendryés e Hjelmslev e à não-raiz da tradição norte-americana. Para Mertinet, lexemas e gramemas são, indiferentemente, monemas (formas significantes mínimas dotadas de significado. Neste trabalho, a partir de Lopes (1995), adotaramse as denominações propostas por Pottier. Atividade Identifique, nas palavras abaixo, os morfemas (lexemas e gramemas); isole-os e aponte seus significados:

47 Fascículo 3 47 a. casamento b. marinheiro c. gatinho 3. Alomorfes Apontamos, nos fascículos anteriores, que os fonemas admitem diferentes realizações chamadas alofones. Neste, vamos destacar que a realização concreta de um morfema (unidade mínima significativa) também pode engendrar o aparecimento de variantes contextualmente condicionadas. É o que se chama alomorfe. O estudo dos alomorfes é feito através da disciplina que os norte-americanos chamam de morfofonêmica. A morfofonêmica examina as diferentes formas fonéticas apresentadas por um mesmo morfema, tendo a tarefa de descobrir os morfemas e indicar os alomorfes que o expressam em contextos determinados. Tomando as realidades fonológicas e morfológicas, a morfofonologia ou morfofonêmica estuda os processos que influenciam mutuamente forma e som. Para melhor compreensão, observe as séries: a. Feliz, crível, grato, real, mortal, legal, adequado, hábil, natural. b. Infeliz, incrível, ingrato, irreal, imortal, ilegal, inadequado, inábil, inatural. Comparando-se as duas séries, nota-se que, em b, o segmento inicial tem sempre um valor negativo, mesmo que sob forma fonética diversa [ ], [i], [in]. A diferença fonética é, no entanto, previsível: teremos [i] antes de vogal; [i] antes de [l, r, m, n] e [ ] antes de qualquer outra consoante. Essas formas são variantes de um mesmo morfema, o que permite compreeender que o morfema é, na verdade, resultado de uma abstração ou generalização: ele pode apresentar várias configurações fonéticas, cada uma delas é um morfe do mesmo morfema. O conjunto de morfes, que representam o mesmo morfema, são seus alomorfes. Nenhum alomorfe pode ocorrer no mesmo contexto que o outro, o que significa dizer que os alomorfes de um morfema devem estar em distribuição complementar. Se a escolha entre dois ou mais alomorfes depender do contexto sonoro em que ele se encontra, diz-se que houve um condicionamento fonológico (ou fonético). A alomorfia fonologicamente condicionada reflete, geralmente, as restrições de combinação de fonemas que ocorrem em cada língua. Assim, em português, nenhuma sílaba pode terminar em /rs/, então /bars/ não é uma sequência permitida; já em inglês ou francês, essa sequência é possível. Não sendo possível explicar a alomorfia pelo contexto fonético, diz-se que houve um condicionamento morfológico. O condicionamento fonológico é interpretado por muitos linguistas como sendo assunto para a fonologia e não, para a morfologia. Como é flagrante a relação entre o nível fonológico e o morfológico, alguns autores (principalmente do Círculo de Praga) propuseram a existência de um nível intermediário, objeto de estudo da morfo(fo)nologia, ou morfofonêmica, que trataria da estrutura fonológica dos morfemas, de suas modificações combinatórias, das mudanças fônicas que adquirem função morfológica. Atividade Baseado (a) nos exemplos a e b apresentados no corpo deste texto, apresente duas séries de palavras e explique suas variantes. ROSA, Maria Carlota. Introdução à morfologia. Contexto. p. 59. Disponível em: &pg] 4. Processos Morfológicos Em Fiorin (2007), percebemos que a associação de dois elementos mórficos, produzindo um novo signo linguístico, obedece a certos princípios ou mecanismos que variam em sua possibilidade de combinação nas diferentes línguas, donde destacamos que esses modos de combinação são processos morfológicos, que se manifestam de diferentes formas, a saber: 4.1. Adição Quando um ou mais fonema é acrescentado à base, que pode ser uma raiz ou radical primário, isto é, o elemento mínimo de significado lexical. Em aprofundar, temos os sequintes morfemas a- profund- ar, onde a- e ar são morfemas aditivos, que se acrescentaram à raiz profund. Aprofund-é a base de aprofundar. São chamados

48 48 Fascículo 3 afixos os morfemas que se adicionam à raiz; afixação é o processo. Dependendo da posição dos afixos em relação à base, podemos ter cinco tipos: 1. Sufixação: depois da base. Ex: livro > livro-s; casa > cas-eiro; 2. Prefixação: antes da base. Ex: ler > re-ler; certo > in-certo; 3. Infixação: dentro da base. Ex: em Kmu (Laos): /rkeŋ/ esticado > /rmkeŋ/ esticar (infixo /-m-/); 4. Circunfixos: afixos descontínuos que enquadram a base, como em Georgiano (Cáucaso); 5. Transfixos: são descontínuos e atuam numa base descontínua, como no Hebraico Reduplicação É um tipo especial de afixação, que repete fonemas da base, com ou sem modificações. Nas línguas clássicas latim, grego e sânscrito está associado à flexão verbal Alternância Quando alguns segmentos da base são substituídos por outros, de forma não arbitrária, porque são alguns traços que se alternam com os outros, como em português: pus/pôs; fiz/fez; fui/. A Linguística histórica trata esses processos de alternância de vogais no interior da raiz como apofonia ou metafonia Subtração Quando alguns segmentos da base são eliminados para expressar um valor gramatical como no português em que alguns femininos são formados por subtração de morfemas do masculino. Ex: órfão/ órfã; anão/anã; campeão/campeã. Os processos morfológicos que afetam traços suprassegmentais, como o acento e tom, podem ser aditivos ou substitutivos. Algumas vezes, os processos podem aparecer combinados, como, em português, no plural da palavra OVO, em que há uma alternância de o /ɔ e uma sufixação {-s}, /ɔvos/. Usos morfológicos: Atividade Identifique os elementos mórficos presentes nas palavras sublinhadas no poema e crie novas palavras a partir das palavras em itálico. Mãos Dadas Carlos Drummond de Andrade Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. 5. Noções Elementares de Estilística Introdução Estilística é a parte dos estudos da linguagem que se preocupa com o estilo. Estuda a expressividade da língua. Entende-se por estilo o conjunto de processos que fazem da língua representativa um meio de exteriorização psíquica Estilística e Gramática O que caracteriza o estilo não é a oposição entre o individual e o coletivo, mas o contraste entre o emocional e o intelectivo. É neste sentido que difere Estilística (que estuda a língua afetiva) e Gramática (que trabalha no campo da língua intelectiva). Misturá-las de modo que a Estilística se dissolva na Gramática é pôr em perigo duas importantes disciplinas por confundir os seus objetos de estudo. Uma não é a negação da outra, nem uma tem por missão destruir o que a outra, com orientação científica, tem podido construir. Ambas se completam no estudo dos processos do material de que o gênero humano se utiliza na exteriorização das ideias e sentimentos ou do conteúdo do pensamento designado.

49 Fascículo Estilística e a Retórica tem-se apresentado a Estilística também como a negação da Antiga Retórica, que predomina, ainda, na crítica tradicional do estilo com suas múltiplas indagações literárias, históricas, sociais, filosóficas e tantos outros domínios que na obra se espalham através do temperamento e atitude do escritor. Por exemplo, sempre se estudaram as fontes de um autor ou de uma obra, ou - o que vale o mesmo - a origem das ideias dominantes em um período literário. Porém isso se realizou por interesse histórico, para fixar procedências. Este é o ponto de chegada da crítica tradicional. Para a estilística, é o ponto de partida, ao se perguntar: Que fez meu autor ou minha época com estas fontes? Usando a comparação: estudando o mel, a crítica tradicional estabelece em que flores e de que campos extraiu a abelha; a estilística se pergunta: como resultou este produto heterogêneo com todas as suas procedências, qual é a alquimia, que originais e triunfantes intenções lhe insuflaram vida nova? Ou à luz da comparação da estátua: a crítica tradicional estuda as canteiras donde procede o mármore; a estilística, o que é que o artista fez com ele. A estilística e o ensino de português: Estilística: Análise literária e análise estilística não se há de confundir análise literária com análise estilística, pois que, trabalhando num mesmo trecho, tem preocupações diferentes e utilizam ferramentas também diversas. Para a estilística, interessa tanto a depreensão dos traços estilísticos da língua oral como da escrita, do falante comum e do literato (Bechara, 2001). Atividade Releia o poema de Drummond posto no tópico anterior e atribua significados às palavras em negrito. Apresente sua conclusão sobre o poema. 6. Traços Estilísticos O conjunto de particularidades do sistema expressivo para eficácia estética recebe o nome de traços estilísticos. São numerosos os traços estilísticos - e há um avultado número deles cujo valor ainda está para ser analisado - em todos os compartimentos de um idioma. Cabe-nos agora indagar quando uma particularidade linguística se nos apresenta como traço estilístico. Sabe-se que o traço estilístico não se trata de uma maneira de dizer necessariamente pessoal, nem pelo fato de ser pessoal se tem necessariamente um traço estilístico. Daí o erro dos que, pensando escrever bem, enxameiam suas páginas das chamadas figuras de linguagem (pleonasmos, hipérboles, anacolutos, metáforas, etc.) Essas figuras não se impõem às circunstâncias, estas é que favorecem o aparecimento daquelas para fins estéticos. Terá falhado na pesquisa estilística quem se contentar em dizer que há anacoluto no derradeiro terceto desta conhecida jóia de Machado de Assis, que é o soneto à Carolina: que eu, se tenho nos olhos mal-feridos pensamentos de vida formulados, são pensamentos idos e vividos. O anacoluto ultrapassa os limites de uma simples figura, para ser um eficaz recurso estético que põe diante de nossos olhos a profunda dor do esposo que, pensando na companheira que se foi não tem a paz interior necessária para estruturar racionalmente, intelectivamente, todo o tumulto de ideias que lhe vai à alma. Em suma, a Estilística é o passo mais decisivo, no estudo de uma língua, para a educação do sentimento estético e manifestação da competência expressiva. Traço estilístico e erro gramatical: não se há de entender que o estilo seja sempre uma deformação da norma linguística. Isso nos leva à distinção entre traço estilístico e erro gramatical. O traço estilístico pode ser um desvio ocasional de uma norma gramatical vigente, mas se impõe pela sua intenção estético-expressiva. O erro gramatical é o desvio sem intenção estética. Traços estilísticos de Ferreira Gullar em Poema sujo, 1976:

50 50 Fascículo 3 Atividade Na busca do seu estilo próprio, deve o autor violar a norma culta do idioma? Argumente. 7. Campo da Estilística O estudo da Estilística abarca, semelhante à Gramática, todos os domínios do idioma. Todos os fenômenos linguísticos, desde os sons até as combinações sintáticas mais complexas, podem revelar algum caráter fundamental da língua estudada. Todos os fatos linguísticos, sejam quais forem, podem manifestar alguma parcela da ida do espírito e algum movimento da sensibilidade. A estilística não é o estudo de uma parte da linguagem, mas o é da linguagem inteira, observada de um ângulo particular. Assim sendo, estuda a linguagem afetiva e a linguagem intelectual em suas relações recíprocas e examina em que proporção se aliam para compor este ou aquele tipo de expressão. Teremos, assim, os seguintes campos da Estilística: 1. fônica; 2. morfológica; 3. sintática; 4. semântica A Estilística Fônica Procura indagar o emprego do valor expressivo dos sons: a harmonia imitativa, no amplo sentido do termo. Também chamada fonética expressiva, a estilística fônica implica a utilização de traços que escapam à sistematização das oposições e correlações dos fonemas e grupos fônicos: acento vocabular, quantidade, altura, etc A Estilística Morfológica Sonda o uso expressivo das formas gramaticais. Entre os usos expressivos deste campo, lembraremos: a. o plural de convite: põe-se o verbo no plural como que se quisesse incentivar uma pessoa a praticar uma ação trabalhosa ou desagradável. É o caso da mãe que diz à filha que insiste em não tomar o remédio: Olha, filhinha, vamos tomar o remedinho. b. o plural de modéstia: o autor, falando de si mesmo, poderá dizer: Nós, ao escrevermos este livro, tivemos em mira dar novos horizontes ao ensino do idioma. c. o emprego expressivo dos sufixos (mormente os de gradação): paizinho, mãezinha, poetastro, padreco, politicalha. d. o emprego de tempos e modos verbais, como, por exemplo: 1. o presente pelo futuro para indicar desejo firme, fato categórico: Amanhã eu vou ao cinema. 2. o imperfeito para traduzir pedido: Eu queria um quilo de queijo (em vez do categórico e, às vezes, ameaçador quero). 3. o presente pelo pretérito para emprestar à narração o ar de novidade e poder comover o ouvinte: Aí César invade a Gália. e. a mudança de tratamento de um período para outro: para indicar mudança da situação psicológica entre falante e ouvinte, ou entre escritor e leitor. No soneto Última Folha, Casimiro de Abreu chama a Deus por Meu Pai e ora o trata por tu, ora por vós A Estilística Sintática Procura explicar o valor expressivo das construções: 1. na regência, como, por exemplo, o emprego do posvérbio; 2. na concordância, como, por exemplo, na atração, na silepse, no infinitivo flexionado para realce da pessoa sobre a ação mesma; 3. na colocação dos termos na oração, na colocação de pronomes, etc. 4. no emprego expressivo das chamadas figuras de sintaxe A Estilística Semântica Pesquisa: 1. A significação ocasional e expressiva de certas palavras: Você é um abacaxi. Aquele aluno é um monstro. Ele tem uns bons sessenta anos. 2. No emprego expressivo das chamadas figuras de palavras ou tropos (metáfora, metonímia, etc.) e figuras de pensamento e sentimento (antítese, eufemismo, hipérbole, etc.). Atividade Leia o poema abaixo e faça uma análise, considerando um ou mais campo de

51 Fascículo 3 51 estudo da estilística. Valsinha Vinícius Chico Buarque Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar Com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar. Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se ousava dar E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais. Que o mundo compreendeu E o dia amanheceu Em paz A estilística através dos textos: 8. A Fantasia das Palavras Lapa (1998) pontua que as palavras reais distinguem-se pela força expressiva. Despertam a imaginação das coisas mais energicamente, e essa viagem viva ilumina o pensamento, dispensando outros acessórios de que se serve a frase logicamente construída. E como elas podem revestir vários aspectos, cada um de nós apreende na palavra o seu aspecto pessoal, aquele que particularmente nos interessa. Já se tem afirmado que, numa simples palavra, se pode resumir todo o universo. Quer isso dizer que um vocábulo pode suscitar uma infinidade de imagens e ideias que abrangem todos os domínios do pensamento e da vida. Vejamos a palavra lar. Poderá apresentar-nos a imagem concreta da casa, do seu conforto ou desconforto material, ou ainda, a noção espiritual, sentimental, do lugar onde se vive a família. A primeira representação pode repartirse em várias imagens subsidiárias: a construção da casa, a sua situação, a paisagem em redor, a luz ou sombra de que é banhada, etc; a segunda representação levar-nos-á a considerar: nosso nascimento, os afetos, ou desafetos da infância, a nossa educação, a harmonia ou desarmonia entre os membros da família, etc. E estas representações familiares poderão ainda suscitar, por associação, sentimentos de caráter social: o desabrigo das pessoas que vivem em barracas, a miséria, etc. É nesse sentido que se diz que numa palavra se podem conter todos os fenômenos da vida. O seu poder evocador não conhece limites A Significação das Palavras A significação das palavras parte do sentido original de onde surgem as várias significações. Pode-se afirmar que há tantas palavras quantas as significações. À variedade de significação das palavras dáse o nome de polissemia, que é estudada numa disciplina filológica, a semântica Valor Sentimental e Valor Intelectual das Palavras Em presença das coisas, o nosso espírito reage da seguinte maneira: ou as percebe ou as sente. Quase sempre essas duas operações, a percepção e o sentimento, andam ligadas, mas, por via de regra, em proposições diferentes. Tomemos como exemplo os significados dos elementos destacados na série: a. O lutador erqueu-se belo com uma estátua. b. Eram duas raparigas, qual delas a mais formosa. c. Simples e linda, a noiva saía da igreja. d. Laura trazia um bonito vestido de seda azul. No primeiro exemplo, belo sugere-nos a ideia de perfeição e de harmonia de formas e também uma certa confiança serena da própria força. No segundo exemplo, formosa evoca apenas a perfeição da forma física. No terceiro exemplo, linda já se carrega de um certo forte matriz sentimental; não é só beleza física, é também mimo, ternura, delicadeza da alma. Enfim, bonito representa a ideia de beleza, descida ao plano das coisas familiares. É, também, um termo afetivo. Quanto ao uso dos vocábulos, nota-se que belo é vagamente literário; formosa é vocábulo que só se

52 52 Fascículo 3 emprega em literatura; lindo pertence à língua corrente e bonito, à linguagem familiar. Atividade Produza significações a partir das palavras: a. chave b. chuva c. avião d. gás f. veludo g. serpente h. limão Semântica e estilística Estilística da palavra RESUMO A Morfologia é o estudo da palavra dentro da nossa língua. Os estudos da morfologia se subdividem em dois: morfologia lexical e morfologia flexional. Lexema - são morfemas de significação lexical externa, ou seja, o significado está ligado ao mundo objetivo, indicando o significado da palavra. Gramema - são morfemas que não constituem, por si só, palavras. São comumente divididos em prefixos, infixos e sufixos, conforme se coloquem, respectivamente, antes do lexema, no lexema ou depois do lexema ao qual se prendem. Alomorfes são variantes de um mesmo morfema. São formas de manifestação dos processos morfológicos: adição, reduplicação, alternância e subtração. A estilística consiste no inventário das possibilidades expressivas ou artísticas da linguagem e no uso consciente de tais possibilidades por parte do escritor. Estuda inúmeros recursos que a língua coloca à disposição dos falantes para expressarem seus estados afetivos, sua sensibilidade e imaginação. Não se confunde com gramática, retórica ou análise literária, contudo, com estas se completa. A expressão traço estilístico refere-se ao conjunto de particularidades do sistema expressivo para eficácia estética. Isso representa a marca de cada autor, o somatório de tudo o que ele produz em termos de ideal estético, de belo, em seu trabalho, projetando-se em todos os setores da língua. Para estudar a expressividade duma língua, a estilística possui campos de investigação, abrangendo todos os limites da gramática.

53 Fascículo 3 53 GLOSSáRIO Morfe - é um segmento de enunciado; uma sequência fônica a que se pode atribuir significado e que será classificado posteriormente como morfema. Um morfema é uma classe de morfes, isto é, cada morfe ou alternante morfêmica é um elemento de um conjunto formador de uma unidade estrutural, que é o morfema. Qualquer enunciado é completamente composto de morfes. REFERÊNCIAs BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Ver. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, BUARQUE, Chico. Valsinha. Disponível em: FIORIN, José Luiz(org). Introdução à linguística II: princípios de análise. 4 ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, LAPA, Manuel Rodrigues. Estilística da língua portuguesa. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. São Paulo. Editora Cultrix, (A obra apresenta uma fundamentação introdutória acerca da ciência do signo verbal. Dividido em seis partes, o livro começa com a definição do campo disciplinar e com o exame da contribuição capital de Ferdinand de Saussure, para, em seguida, aprofundar-se no estudo da Fonética e da Fonologia, da Morfologia, das modalidades de Gramática e da Semântica).

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55 Fascículo 4 55 Objetivos Específicos Variação Linguística: Sincronia e Diacronia Prof.ª Maria Perpétua Teles Monteiro Carga Horária 15 horas Destacar a importância dos enfoques sincrônicos e diacrônicos no estudo dos fatos da língua. Refletir as relações entre variações linguísticas, língua, sociedade, preconceito linguístico e ensino de língua portuguesa. 1. Variação Linguística, Sociedade e Preconceito Você deve ter percebido no fascículo 01, sobre Fonética e Fonologia, quando apontamos a capacidade que todo usuário de uma língua possui de realizar diferentes modos de falar. Isso acontece, porque as línguas se transformam ao longo do tempo e, em função do uso próprio por comunidades específicas, adquirem peculiaridades características de grupos sociais diferentes. Neste fascículo, falaremos sobre estas transformações e usos. Ai! Se sêsse!... Zé da Luz Se um dia nós se gostasse; Se um dia nós se queresse; Se nós dos se impariásse, Se juntinho nós dois vivesse! Se juntinho nós dois morasse Se juntinho nós dois drumisse; Se juntinho nós dois morresse! Se pro céu nós assubisse? Mas porém, se acontecesse qui São Pêdo não abrisse as portas do céu e fosse, te dizê quarqué toulíce? E se eu me arriminasse e tu cum insistisse, prá qui eu me arrezorvesse e a minha faca puxasse, e o buxo do céu furasse?... Tarvez qui nós dois ficasse tarvez qui nós dois caísse e o céu furado arriasse e as virge tôdas fugisse!!!

56 56 Fascículo 4 Todos sabem que existe um grande número de variedades linguísticas, mas, ao mesmo tempo em que se reconhece a variação como um fato, se observa que a sociedade tem uma longa tradição em considerar a variação numa escala valorativa, às vezes até moral, que leva a tachar os usos característicos de cada variedade como certos ou errados, aceitáveis ou inaceitáveis, pitoresco, cômicos, etc. A esse respeito, como você se sentiu ao ler o poema de Zé da Luz? Considere como se Zé da Luz não fosse um poeta! O latim vulgar foi, numa certa época, considerado dialeto das classes pobres, e por isso se desprestigiava quem o falava. Ao longo da história, transformou-se nas línguas românicas, e a sociedade trocou o latim clássico por essas línguas. Então as línguas românicas (dentre elas, o português), vindas do latim vulgar, passaram a exercer a função de línguas de prestígio na nova sociedade estabelecida. Essa breve consideração aponta que as línguas, quando se transformam com o passar do tempo, não se degeneram, não se tornam imperfeitas, estragadas, mas adquirem novos valores sociolinguísticos, ligados às novas perspectivas da sociedade, que também muda. Nessas transformações, não aparece o certo e o errado linguístico, mas o diferente. Certo e errado são conceitos pouco honestos que a sociedade usa para marcar os indivíduos e classes sociais pelos modos de falar e para revelar em que consideração os tem, se são pessoas que gozam de influência ou ocupam posição de prestígio ou não, se exercem o poder instituído ou não. Essa atitude da sociedade revela seus preconceitos, pois marca as diferenças linguísticas com marcas de prestígio ou estigmas. Isto nos mostra que, se linguisticamente não existe o certo e o errado, mas o diferente, socialmente as coisas não caminham desse modo. Consideremos o s falado pelo cidadão nascido no Rio de Janeiro, no s chiante do carioca, o adjetivo não é depreciativo ao modo de falar e, sim, um termo usado na fonologia ou fonética que representa um som cujo ponto de articulação é pré-palatal, como ocorre nas palavras chá e já. É assim que o carioca pronuncia o s. Mas, essa maneira de falar (variação), como já vimos, não é única. Destacamos aqui o r retroflexo do londrinense quando pronuncia palavras como porta, carne, certo e do piracicabano quando pronuncia as mesmas palavras do londrinense e também as que têm r entre vogais: cara, cera, tora. Também o l (ele), na região de Pato Branco, PR, que é alveolar, mesmo antes de consoante e no final da palavra. Na região de Pato Branco, pronuncia-se o l de alto da mesma forma que o l de alô,. Falar o r caipira também não mostra nada de bom ou de ruim do ponto de vista da estrutura fonológica da língua, porém considere este falar fora de sua região. O que pode, socialmente, ocorrer ao seu falante? Embora desde princípios deste século, linguistas, como Antoine Meillet e Ferdinand Saussure, tenham chegado a configurar a língua como um fato social, rigorosamente enquadrado na definição dada por Émile Durkhein, só nos últimos vinte anos, com o desenvolvimento da Sociolinguística, as relações entre língua e sociedade passaram a ser caracterizadas com maior precisão. A Sociolinguística, ramo da linguística que estuda a língua como fenômeno social e cultural, veio mostrar que estas inter-relações são muito complexas e podem assumir diferentes formas. Na maioria das vezes, comprova-se uma covariação do fenômeno linguístico e social. Em alguns casos, no entanto, faz mais sentido admitir a relação direcional: a influência da sociedade na língua ou da língua na sociedade. É, pois, recente a concepção de língua como instrumento de comunicação social, maleável e diversificado em todos os seus aspectos, meio de expressão de indivíduos que vivem em sociedades também diversificadas social, cultural e geograficamente. Nesse sentido, uma língua histórica não é um sistema linguístico unitário, mas um conjunto de sistemas linguísticos, isto é, um diassistema no qual se inter-relacionam diversos sistemas e subsistemas. Daí o estudo de uma língua se revestir de extrema complexidade, não podendo prescindir de uma delimitação precisa dos fatos analisados para controle das variáveis que atuam, em todos os níveis, nos diversos eixos de diferenciação. A variação sistemática está hoje incorporada à teoria e à descrição da língua (CUNHA, p.2-3). Variação linguística: Preconceito linguístico:

57 Fascículo Tipos de Variedades Linguísticas Segundo Travaglia(2002.p.42), podemos ter basicamente dois tipos de variedades linguísticas: os dialetos e os registros. Os dialetos são variedades que ocorrem em função das pessoas que usam a língua (emissores). Os registros correspondem às variedades que ocorrem em função do uso que se faz da língua, ou seja, dependem do recebedor, da mensagem ou da situação Variação Dialetal Os estudos sobre variação linguística registram, pelo menos, seis dimensões da variação dialetal (variações internas): a territorial, a social, a de idade, sexo, geração e função Dialetos na Dimensão Territorial, Geográfica ou Regional (Variações Diatópicas) Representam a variação que acontece entre pessoas de diferentes regiões em que se fala a mesma língua. Essa variação normalmente acontece a. pelas influências que cada região sofreu durante sua formação; b. porque os falantes de uma dada região constituem uma comunidade linguística geograficamente limitada em função de estarem polarizados em termos políticos e/ou econômicos e/ou culturais e desenvolverem então um comportamento linguístico comum que os identifica e distingue. É o caso da diferença entre o português do Brasil e o português de Portugal e dos países africanos de Língua Portuguesa. Aqui se incluem também diferentes falares que encontramos no Brasi, como os falares gaúcho, nordestino, carioca, o chamado dialeto caipira, etc. As diferenças entre a língua em uma região e outra normalmente são, em sua grande maioria, diferenças no plano fonético e no plano léxico. As diferenças sintáticas, quando existem, normalmente não são grandes Dialetos na Dimensão Social (Variações Diastráticas) Representam as variações que ocorrem de acordo com a classe social a que pertence os usuários da língua, isso porque há uma tendência para maior semelhança entre os atos verbais dos membros de um mesmo setor sócio-cultural da comunidade, geralmente com relações bastante estreitas e interesses comuns. É por isso que se consideram como variedades dialetais de natureza social os jargões profissionais ou de determinadas classes sociais bem definidas como grupos. Na variação de natureza social, há inúmeras superposições e matizes, o que torna os dialetos sociais mais difíceis de definir e classificar que os dialetos regionais. Aqui atuam fatores, como idade, sexo, raça, profissão, posição social, grau de escolaridade, local em que reside na comunidade etc Dialetos na Dimensão Contextual (Variações Diafásicas) Constam de tudo aquilo que pode determinar diferenças na linguagem do locutor, por influências alheias a ele, como, por exemplo, o assunto, o tipo de ouvinte, o lugar em que o diálogo ocorre e as relações que unem os interlocutores. Os chamados fatores contextuais dizem respeito às circunstâncias criadas pela própria ocasião, lugar e tempo em que os atos de fala se realizam e também às relações que une falante e ouvinte no momento do diálogo Variações de Registro As variações de registro são classificadas em três tipos diferentes: grau de formalismo, modo e sintonia. O grau de formalismo representa uma escala de formalidade como um maior cuidado e apuro. Por variação de modo, entende-se a língua falada em contraposição à língua escrita. A sintonia pode ser descrita como o ajustamento na estruturação de seus textos feita pelo falante com base nas informações que se tem sobre o ouvinte. Todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades dos usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das suas diversas modalidades diatópicas, diastráticas e diafásicas. A língua-padrão, por exemplo, embora seja uma entre as várias modalidades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função

58 58 Fascículo 4 coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação. Numa língua existe, pois, ao lado da força centrífuga da inovação, a força centrípeta da conservação, que contrarregrando a primeira, garante a superior unidade de um idioma como o português, falado por povos que se distribuem pelos cinco continentes. Nos campos de estudo da variação linguística, considera-se, pois, a variação diacrônica (do grego dia + kronos = ao longo de, através de + tempo): as diversas manifestações de uma língua através dos tempos e a variação sincrônica (do grego sy n = simultaneidade): as variações num mesmo período de tempo. Variação linguística: SAIBA MAIS! O modo de falar do brasileiro: Atividade Leia o Poema de Patativa do Assaré. Como o poeta se sente em relação aos seus versos e à sua linguagem? O Poeta da Roça Sou fio das mata, canto da mão grossa, Trabáio na roça, de inverno e de estio. A minha chupana é tapada de barro, Só fumo cigarro de paia de mío. Sou poeta das brenha, não faço o papé De argun menestré, ou errante cantô Que veve vagando, com sua viola, Cantando, pachola, à percura de amô. Não tenho sabença, pois nunca estudei, Apenas eu sei o meu nome assiná. Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre, E o fio do pobre não pode estudá. Meu verso rastero, singelo e sem graça, Não entra na praça, no rico salão, Meu verso só entra no campo e na roça Nas pobre paioça, da serra ao sertão. (...) 3. Estudo dos Fatos Linguísticos: Perspectivas de Enfoque Borba (1986) destaca que os fatos linguísticos podem ser encarados ou estruturados sob três pontos de vista: quanto ao seu modo de ser geral, quanto ao seu funcionamento num determinado momento e lugar e quanto às suas transformações e ou à evolução. No primeiro caso, são considerados em si mesmos, independentemente de seu funcionamento real, porque o interesse está no exame de suas possibilidades de funcionar; no segundo, observam-se fatos ou dados concretos em funcionamento, e, no terceiro, procura-se detectar as alterações dos fatos com o decorrer do tempo. São três atitudes que colocam o eixo do tempo como ponto de partida para a análise. O primeiro enfoque é chamado acrônico, porque faz abstração do tempo: descrevem-se ou explicam-se fatos quanto à sua natureza e função; o segundo enfoque chamase sincrônico, porque se preocupa em descrever o funcionamento concreto da língua em dado momento e lugar, isto é, procura conhecer um estado da língua; o terceiro enfoque é diacrônico, porque observa as mudanças que a língua sofre com o decorrer do tempo. O estudo acrônico, atendo-se ao modo de ser dos fatos e sendo atemporal, pode referir-se ao passado, ao presente ou mesmo prever (ou predizer) o que acontecerá. Diz-se, então, que este ponto de vista examina o mecanismo linguístico como potencial, como conjunto de possibilidades ou como uma máquina lógica. O Postulado básico do enfoque sincrônico é a simultaneidade dos fatos observados. Por isso, prende-se a um estado de língua, isto é, a um determinado momento, considerado em si mesmo, como se fosse um corte na evolução natural do sistema. Por estar a língua em movimento constante, um estado absoluto, é praticamente impossível conseguir. Daí que um estado da língua não é um ponto fixo, mas espaço de tempo em que as alterações são mínimas ou irrelevantes. Os diferentes componentes do sistema se desenvolvem de maneira desigual quer quanto ao ritmo quer quanto à qualidade. Dessa forma, o espaço de tempo compreendido por um estado de língua varia de acordo com o estrato considerado. A tarefa básica da linguística diacrônica ou histórica é explicar estados anteriores não sim-

59 Fascículo 4 59 plesmente para apreender ou recolher informações de ordem cultura, mas principalmente para melhor compreender as relações, ou seja, a estruturação do sistema atual. Não se trata propriamente de descobrir como a língua funciona através dos tempos, mas descrever estados sucessivos, compará-los e verificar como a língua chegou a ser o que é e qual a sua deriva ou traços básicos de sua evolução. Os enfoques sincrônicos e diacrônicos, embora tenham traços específicos, não devem ser considerados como coisas separadas. Na verdade, esses enfoques se completam. Curso de linguística geral: 0kiUfrlgC&oi=fnd&pg= SAIBA MAIS! Linguística: Atividade Considerando os estudos realizados, que mensagem Luiz Gonzaga transmite em sua canção? ABC do Sertão Luiz Gonzaga Lá no meu sertão pros caboclo lê Têm que aprender um outro ABC O jota é ji, o éle é lê O ésse é si, mas o érre Tem nome de rê Até o ypsilon lá é pissilone O eme é mê, O ene é nê O efe é fê, o gê chama-se guê Na escola é engraçado ouvir-se tanto ê A, bê, cê, dê, Fê, guê, lê, mê, Nê, pê, quê, rê, Tê, vê e zê. 4. A Contribuição de Ferdinand de Saussure Apresentaremos este tópico à luz de Lopes (1995. p ), em seu trabalho Fundamentos da Linguística contemporânea. Ferdinand de Saussure nasceu em Genebra, em 26 de novembro de Em 1880, estabeleceu-se em Paris, onde frequentou cursos sobre Sânscrito e Filologia latina. Em 1881, aos vinte e quatro anos, tornou-se mestre na França. Em 1891, transferiu-se para onde leciona até a sua morte ocorrida em Por muitos anos, Saussure estudou os Nibelungen e a versificação indo-europeia arcaica, para a compreensão da qual elaborou uma hipótese extremamente original - a dos anagramas -, que deve ser contada entre as contribuições pioneiras para o moderno estudo estrutural da poesia. Mas, apesar de se haver devotado uma extensa série de interesses no campo da Literatura, Saussure deixou uma persistente imagem de campeão da separação entre linguística interna (fora do contexto sócio-histórico) e a linguística externa (a que considera os fatores exteriores que condicionam os fenômenos linguísticos). Essa imagem é, no entanto, verdadeira, apenas parcialmente. Do mesmo modo, é improcedente o sentimento que perdura, ainda hoje, de que a linguística estrutural em geral e a saussuriana em particular sejam linguísticas antifilológicas. É claro que, postas em cotejo as suas contribuições para os diferentes campos das línguas e das letras, o que marcará a sua imagem para posteridade serão as ideias acerca do valor relacional dos elementos linguísticos, da autossuficiência do sistema, da necessidade de se dissociar uma linguística dos estados (sincrônica) do âmbito da linguística evolutiva (diacrônica), da natureza do signo e da distinção langue/parole (língua/fala). Essas ideias deram origem à linguística estrutural clássica e, ao mesmo tempo, à fase contemporânea dessa ciência. A contribuição de Saussure: lania&id=443 ca_geral.htm Saussure e a língua portuguesa:

60 60 Fascículo 4 Atividade Amplie suas leituras sobre a contribuição de Saussure para os estudos da fonética e da fonologia e apresente em um texto argumentativo. 5. Linguística Sincrônica: Generalidades O objeto da linguística sincrônica geral é estabelecer os princípios fundamentais de todo sistema idiossincrônico, os fatores constitutivos de todo sistema da língua. À sincronia pertence tudo o que se chama gramática geral, pois é somente pelos estados de língua que se estabelecem as diferentes relações que incumbem à gramática. Na prática, um estado de língua não é um ponto, mas um espaço de tempo mais ou menos longo, durante o qual a soma de modificações ocorridas é mínima. Pode ser de 10 anos, uma geração, um século e até mais. Uma língua mudará pouco, durante um longo intervalo, para sofrer, em seguida, transformações consideráveis em alguns anos. De duas línguas coexistentes num mesmo período, uma pode evoluir muito e outra quase nada; neste último caso, o estudo será necessariamente sincrônico; no outro, diacrônico. Um estado absoluto se define pela ausência de transformações e como, apesar de tudo, a língua se transforma, por pouco que seja estudar um estado de língua vem a ser, praticamente, desdenhar as transformações pouco importantes, do mesmo modo que os matemáticos desprezam as quantidades infinitesimais em certas operações, tal como no cálculo de logaritmos. Na história política, distingue-se a época que é um ponto de tempo, e o período que abarca certa duração. No entanto, o historiador fala da época dos antônimos, da época das cruzadas, quando considera um conjunto de caracteres que permaneceram constantes durante esse tempo. Poder-se-ia dizer também que a linguística estática se ocupa de épocas; mas estado é preferível; o começo e o fim de uma época são geralmente marcados por uma revolução mais ou menos brusca, que tende a modificar o estado de coisas estabelecido. A palavra estado evita fazer crer que ocorra algo semelhante na língua. Ademais, o termo época, justamente por ser tomado à História, faz pensar menos na língua em si que nas circunstâncias que a rodeiam e condicionam; numa palavra, evoca antes a ideia do que temos chamado de linguística externa. Além disso, a limitação no tempo não é a única dificuldade que encontramos na definição de um estado de língua; o mesmo problema se coloca a propósito do espaço. Em suma, a noção de estado de língua não pode ser senão aproximativa. Em linguística estática, como na maior parte das ciências, nenhuma demonstração é possível sem uma simplificação convencional dos dados. De um modo geral, é muito mais difícil fazer linguística estática que histórica. Os fatos de evolução são mais concretos; falam mais à imaginação; as relações que neles se observam se estabelecem em termos sucessivos que são percebidos sem dificuldade. Mas a linguística, que se ocupa de valores e relações coexistentes, apresenta dificuldades bem maiores (Saussure apud Bally, 1995). LINGUISTICO Atividade Defina linguística sincrônica e apresente seus objetivos. 6. O Valor Linguístico: A Língua como Pensamento Organizado na Matéria Fônica Para compreender por que a língua não pode ser senão um sistema de valores puros, basta considerar os dois elementos que entram em jogo no seu funcionamento: as ideias e os sons. Psicologicamente, nosso pensamento não passa de uma massa amorfa e indistinta. Filósofos e linguistas sempre concordaram em reconhecer que, sem o recurso dos signos, seríamos incapazes de distinguir duas ideias de modo claro e constante. Tomado em si, o pensamento é como uma nebulosa em que nada está necessariamente delimitado. Não existem ideias preestabelecidas, e nada é distinto antes da língua. A substância fônica não é mais fixa nem mais rígida; não é um molde a cujas formas o pensamento deve necessariamente acomodar-se, mas, uma matéria plástica que se divide, por sua vez, em partes distintas, para fornecer os significantes dos

61 Fascículo 4 61 quais o pensamento tem necessidade. Podemos, então, representar o fato linguístico em seu conjunto, isto é, a língua como uma série de subdivisões contíguas marcadas simultaneamente sobre o plano indefinido das ideias confusas e sobre o plano não menos indeterminado dos sons. O papel característico da língua frente ao pensamento não é o de criar um meio fônico material para a expressão das ideias, mas o de servir de intermediário entre o pensamento e o som, em condições tais que uma união conduza necessariamente a delimitações recíprocas de unidades. O pensamento, caótico por natureza, é forçado a precisar-se ao se decompor. Não há, pois, nem materialização de pensamento nem espiritualização de sons; tratase de o pensamento-som implicar divisões e de a língua elaborar suas unidades, constituindo-se entre duas massas amorfas. Imaginemos o ar em contato com uma capa de água: se muda a pressão atmosférica, a superfície da água se decompõe numa série de vagas divisões; são estas ondulações que darão uma ideia da união e, por assim dizer, do acoplamento do pensamento com a matéria fônica. A língua é comparável a uma folha de papel: o pensamento é o anverso, e o som o verso; não se pode cortar um sem, ao mesmo tempo, cortar o outro; assim, tampouco na língua se poderia isolar o som do pensamento, ou o pensamento do som; só se chegaria a isso por uma abstração cujo resultado seria fazer Psicologia pura ou Fonologia pura. A linguística trabalha, pois, no terreno limítrofe em que os elementos das duas ordens se combinam; esta combinação produz uma forma, não, uma substância. Não só os dois domínios ligados pelo fato linguístico são confusos e amorfos como a escolha que se decide por tal porção acústica para tal ideia é perfeitamente arbitrária. Se esse não fosse o caso, a noção de valor perderia algo de seu caráter, pois conteria um elemento imposto de fora. Mas, de fato, os valores continuam a ser inteiramente relativos, e eis porque o vínculo entre a ideia e o som é radicalmente arbitrário. A ideia de valor assim determinada nos mostra que é uma grande ilusão considerar um termo simplesmente como a união de certo som com um certo conceito. Não podendo captar diretamente as entidades concretas ou unidades da língua, trabalha-se sobre as palavras. Estas, sem recobrir exatamente a definição da unidade linguística, dão dela uma ideia, pelo menos, aproximada, que tem a vantagem de ser concreta sendo tomadas, pois, como espécies equivalentes aos termos reais de um sistema sincrônico, e os princípios obtidos a propósito das palavras serão válidos para as entidades em geral (Saussure in Bally, p ). Atividade Explique a arbitrariedade do signo linguístico. Linguagem Atividade Constitutiva: pdf signo.htm 39.htm 7. Linguística Diacrônica: Generalidades A linguística diacrônica estuda não mais as relações entre os termos coexistentes de um estado de língua, mas entre termos sucessivos que se substituem uns aos outros. Toda a fonética constitui o primeiro objeto da linguística diacrônica; com efeito, a evolução dos sons é incompatível com a noção e o estado; comparar fonemas ou grupo de fonemas com o que foram anteriormente equivale a estabelecer uma diacronia. A época antecedente pode ser mais ou menos próxima; mas, quando uma e outra se confundem, a fonética deixa de intervir; só resta a descrição dos sons de um estado de língua, e compete à fonologia levá-la a cabo. O caráter diacrônico da Fonética concorda muito bem com o princípio de que nada do que seja fonético é significativo ou gramatical no sentido lato do termo. Para fazer a história dos sons de uma palavra, pode-se ignorar-lhe o sentido, considerandolhe apenas o invólucro material, e cortar frações fônicas sem perguntar se elas têm significação (SAUSSURE). No entanto, a língua altera-se no tempo, mas não por causa dele. Na verdade, há fatores intrínsecos (fatores ligados às próprias condições de funcionamento da língua: pressões internas, existências de lacunas estruturais ou de unidades mal integradas que possibilitam a passagem gradual de um estado a outro) e extrínsecos (fatores ligados ao uso: as

62 62 Fascículo 4 vinculações estruturais, o modo como os falantes falam, o ambiente, os contactos culturais com outras línguas, o isolamento). A tarefa básica da linguística diacrônica é explicar estados anteriores para melhor compreender a estruturação do sistema atual. A descrição de estados anteriores é viável, embora mais difícil. Os estudos diacrônicos começam pela descrição de estados anteriores, ou seja, pela sincronia. Primeiro se faz a descrição sincrônica e depois se determina a evolução pela comparação dos estágios. Para se descobrir por que as línguas mudam através do tempo, é importante estabelecer uma sucessão cronológica de fatos capaz de colocá-los numa verdadeira perspectiva histórica. Isto tudo leva a concluir que não interessa ao historiador da língua a consideração de fatos isolados ou as alterações ocasionais causadas pela própria instabilidade da fala. Portanto, a linguística histórica pode ser feita em duas direções: partir dos estudos dos fatos atuais e ir recuando no tempo até a reconstrução dos estados mais antigos ou começar pela observação de dados bem recuados no tempo até chegar aos estágios mais recentes (BORBA, 1986). Atividade Defina linguística diacrônica e apresente seus objetivos. 8. Fonologia na Escola Cagliari(1997) propõe esta reflexão, considerando que o que se ensina de fonologia na escola é desastroso, tanto nos livros didáticos e gramáticas quanto nas incompreensões sobre a realidade da língua. Se o objetivo da escola é o de ensinar como o português funciona, ampliando esse ensino aos usos linguísticos, ela deve ensinar ao aluno fonética e fonologia também. As noções básicas de fonética, fonologia e variação linguística, apresentadas durante a disciplina, são de elevada importância para o educador que, empregando-as, poderá realizar atividades que motivem o aluno, além de ensinar como certos fatos da língua funcionam, por exemplo, a noção de oposição, de variação, de sistema, os testes de mutação, a noção de valor linguístico, podem ser úteis na tarefa de ensino da língua ao seu falante. Um professor ou professora, de posse de conhecimentos fonológicos, pode propor aos seus alunos atividades para mostrar como funciona o sistema de escrita do português e sua relação com a ortografia. As técnicas de análise fonológica, aliadas a uma boa descrição fonética permitem, também, ao educador entender de fato o que acontece com os problemas de fala e escrita, como permitem ainda a elaboração de atividades que facilitem o processo de aprendizagem por parte dos alunos, que passarão a receber uma melhor explicação de como a fala, a escrita, a leitura e a língua funcionam. Avaliação da consciência fonológica em crianças: Da relevância de se perceberem fatos linguísticos em textos literários: Atividade Realizar entrevista com professores da Educação Fundamental sobre a importância da fonologia para o ensino de língua portuguesa e para o aprendizado dos alunos. SAIBA MAIS! A importância da fonologia sincrônica no estudo da diacronia: html Sociolinguística é a ciência, que estuda a língua a partir da perspectiva de sua estreita ligação com a sociedade onde se origina. Para a sociolinguística, a língua existe enquanto interação social, criando-se e transformando-se em função do contexto sócio-histórico. htm g=pa62&lpg=pa62&dq=o+que+%c3%a9+morfofon% C3%AAmica%3F&source=bl&ots=ZwFvrRvRhk&sig=npc zalis8gcprjq6monbvphsqfc&hl=pt-br&ei=i1asstn0fa TwMsGmvMkJ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnu m=4#ppa62,m1

63 Fascículo 4 63 RESUMO Toda língua possui um grande número de variedades. Essas variedades ocorrem devido às transformações que as línguas sofrem, não significando para estas imperfeição ou degeneração. Pode-se apresentar basicamente dois tipos de variedades linguísticas: os dialetos(variações diatópicas, diastráticas e diafásicas) e os registros (graus de formalismo, modo e sintonia). Os fatos linguísticos podem ser estruturados sob três pontos de vista: acrônico, sincrônico e diacrônico. A linguística estrutural clássica tem sua origem nas ideias de Saussure, que se mantêm na fase contemporânea desta. A linguística diacrônica estuda as relações entre os termos sucessivos que se substituem uns aos outros ao longo do tempo. A linguística sincrônica estuda as relações entre os termos coexistentes de um estado de língua. As noções básicas de fonética e fonologia permitem ao educador e ao educando compreender como certos fatos da língua funcionam, instrumentalizando-os na conquista da participação, no processo de transformação social. REFERÊNCIAS BALLY, Charles&SECHEHAYE, Albert(org). Ferdinand de Saussure - Curso de Linguística geral. Tradução de Antônio Chelini, Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Ed. Cultrix, uma proposta para o ensino de gramática no 1 º e 2 º graus. 8 ed. São Paulo: Cortez, BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos estudos linguísticos. 9 ed. São Pulo: Editora Nacional, CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira, DINO, Pretti. Sociolinguística. Os níveis da fala. Ed. Nacional, LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. São Paulo: Ed. Cultrix, TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação:

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