Mara Lucia da Silva 1 Marilene Parè ² Ruth Sabat.² RESUMO
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- Kléber Araújo Regueira
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1 PROREXT/PROJETO DE EXTENSÃO 2008/1 - TERRITÓRIO AFROSUL DESENVOLVENDO O DIÁLOGO ACADEMIA / ONG AFROSUL ATRAVÉS DE TRABALHO COM JOVENS DE COMUNIDADE POPULAR RESUMO Mara Lucia da Silva 1 Marilene Parè ² Ruth Sabat.² Esse estudo versa sobre a capacidade que vários tipos de mídia têm para criar ou mudar os referentes identitários de adolescentes negros em situação de vulnerabilidade. Através do trabalho com meios de comunicação alternativos como fanzine, rádio-poste, jornal-mural e de novas tecnologias, como a Internet, outras possibilidade foram acrescentadas ao cotidiano do grupo. PALAVRAS-CHAVE Mídia, Juventude, Educação. INTRODUÇÃO Este Projeto foi desenvolvido com um grupo de jovens, a maioria negra, atendida pela Ong AFROSUL / ODOMODÊ que desenvolve um trabalho visando a preservação da cultura negra. A Ong está situada no Município de Porto Alegre, próxima à Comunidade dos Anjos e à Vila Sossego, bairros de população carente. Vale ressaltar que, nessa atividade os jovens participantes estavam na faixa de 10 a 14 anos. O principal objetivo foi trabalhar a auto-estima através da conscientização, do protagonismo e do uso de novos referenciais sociais e midiáticos. Considerando que, quando pensamos na relação mídia / juventude negra, geralmente o que se destaca é a imagem de jovens negros, pobres, personagens de matérias que tratam de violência, drogas e marginalidade, problematizam-se dois conceitos fundamentais neste contexto: juventude negra e mídia. 1 Autora do Artigo ² Orientadoras.
2 DADOS SOBRE A JUVENTUDE NEGRA A juventude negra, cuja identidade é de um ser historicamente diferente, mas tratado como desigual, começa a se reconhecer como grupo que precisa garantir direitos iguais. A mídia é aqui apontada como um instrumento de contribuição para o exercício da cidadania e fortalecimento da identidade juvenil, ao problematizar de que maneira este grupo de jovens negros e pobres está reagindo à falta de visibilidade ou distorção da autoimagem a que são constantemente submetidos. Segundo Rique: (...) as identidades juvenis parecem ganhar visibilidade na relação com o contexto sociocultural e histórico em que vai sendo consolidada sua relação com a sociedade, muitas vezes conflituosa, que pode levar o jovem à violência e à ociosidade. São as possíveis escolhas na busca de identificação do jovem que mobilizam a atenção de educadores, ocupam os discursos de parlamentares e de especialistas sobre assuntos que envolvem diretamente a vida de jovens. (...) (RIQUE, 2005, p. 07). O relatório A Voz dos Adolescentes, apresentado pela Unicef, em 2002, afirma que 21 milhões de jovens brasileiros, com idade entre 12 e 17 anos, passam em média quatro horas em frente à televisão. Segundo a Unicef, a televisão é o principal meio de comunicação utilizado pelos adolescentes. Do total, 51% dos jovens afirmam ter na televisão sua principal fonte de entretenimento, e 63,4% acreditam que a programação da televisão brasileira é de boa qualidade. A faixa etária dos adolescentes que passam mais tempo em frente à tevê é de 12 a 14 anos, cerca de 82%, o que se torna um dado alarmante se pensarmos que essa é a fase inicial da adolescência. Os dados sobre a situação atual da juventude negra brasileira revelam a vulnerabilidade de nossos jovens e a importância de se fazer algo para resgatar sua cidadania e auto-estima. Quando a questão é cor de pele, a discrepância é muito grande, simplesmente porque a presença de negros na mídia, principalmente na televisão brasileira, é praticamente nula. A realidade social não condiz com a representação midiática. Os negros aparecem, geralmente, como coadjuvantes ou desempenhando papéis de escravos, empregadas domésticas, alcoólatras, malandros ou corruptos. Por isso a necessidade de lançar mão de outras ferramentas, do mundo da comunicação, buscando referenciais positivos, de inclusão étnico/racial. OBJETIVO GERAL:
3 Oportunizar aos adolescentes de comunidade popular acesso aos conhecimentos e ao mundo acadêmico vivenciado pelos estudantes universitários e também refletir e aprofundar a análise em torno do processo de construção de identidades, vinculando a isso à possibilidade de formação de novos sujeitos sociais. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Desenvolver o censo crítico dos jovens para com a mídia, buscando e construindo alternativas para os rótulos rotulações midiática (questão da negritude representada na mídia); Propiciar diferentes canais de expressão (texto, imagem e arte) para os questionamentos levantados pelos jovens; Trabalhar o uso das ferramentas eletrônicas atuais a fim de potencializar a comunicação inter e extra pessoal dos jovens JUSTIFICATIVA Esse trabalho se justifica por ser um tema ainda pouco explorado nos meios acadêmicos e da literatura em geral. Trabalhando a auto estima do adolescente negro, sua identidade como cidadão diferente, mas com direitos iguais, discutindo o papel da mídia e dos hábitos sociais enquanto indutores de pré-conceituações estigmatizadas. No mundo atual o poder de se comunicar e de saber como dizer o que pensa é um fator fundamental para o desenvolvimento dos jovens, porque, a televisão não é o espaço da narrativa do real, mas da construção do real. Sendo essa construção perpassada nitidamente por processos de controle político da realidade que objetivam homogeneizar o coletivo. Daí a importância das alternativas midiáticas. Este ciclo de oficinas focará no aprimoramento da capacidade do jovem de expressar seus anseios/percepções/frustrações. Onde é preciso repensar o papel da mídia na construção de identidades, uma vez que fazemos parte de uma sociedade midiática e consumista. Além disso, as oficinas procurarão desmistificar o papel da mídia e propor alternativas aos rótulos midiáticos.
4 PROCEDIMENTOS/ METODOLOGIA: Através do método de pesquisa-ação e da observação participante, desenvolvemos oficinas de leituras com temas referentes a presença do negro na mídia, construção da Identidade Racial na Cultura de blogs em páginas gratuitas na Internet, criação e produção de fanzine, estimulando, com isso a participação, bem como oferecendo suporte para a formação de uma mentalidade e identidade individual e coletiva, além de estimular os jovens a assumirem o papel de agentes promotores de sua própria identidade como grupo, (SILVA, 200). O grupo também assistiu a filmes com temática negra dentro do Programa de Educação Anti/racista no cinema da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com posterior discussão sobre o que foi visto e reflexões nas quais buscamos interagir com os jovens visando despertar nos mesmo o interesse por temas relacionados à identidade e à cultura negra. As oficinas foram desenvolvidas com um grupo de jovens, a maioria negra, atendida pela Ong AFROSUL / ODOMODÊ que desenvolve um trabalho visando a preservação da cultura negra. A Ong está situada no Município de Porto Alegre, próxima à Comunidade dos Anjos e à Vila Sossego, bairros de população carente. Vale ressaltar que, nessa atividade os jovens participantes estavam na faixa de 10 a 14 anos. CONCLUSÕES A resposta ao estímulo sobre como pensar a identidade negra a partir dessas ferramentas midiáticas foi bastante positiva. A maioria dos jovens foi capaz de falar sobre o tema durante as oficinas e, também dissertar sobre o desejo de maior participação nas diferentes mídias, revelando forte consciência da importância de preservar a cultura negra e a identidade como afros-descendentes, como pode ser observado no trecho da fala de um jovem: -Gostei. Era bom que os outros participassem até o final para verem como nós negros podemos participar e fazer outras coisas. Queria saber como continuar depois que vocês terminarem o trabalho aqui na ONG. Estar aqui foi um grande desafio o, mudei a hora da minha aula, conheci uma jovem da comunidade, da minha própria comunidade, também na NET.
5 A participação nas oficinas provocava interesse, vontade de compartilhar com outros ( era bom que os outros participassem até o final ), possibilitava o contato com outros jovens. Assim, as atividades ali desenvolvidas se constituíam como um desafio que provocava, até mesmo, a mudança de horário de outros compromissos desde que possibilitasse a participação, que representou, ainda, uma possibilidade de discussão sobre o cotidiano e sobre os projetos de vida de cada um. Nos encontros realizados, as personalidades negras citadas pelo grupo, geralmente, que aparecem na mídia, estavam restritas a jogadores de futebol ou cantores de Rap ou de pagode, deixando clara que seus referenciais de informação estão vinculados a mídias hegemônicas, entendidas aqui, segundo os próprios adolescentes, como sendo a televisão. Basta pensar que a rede Globo e o SBT nos domingos têm dois programas de auditório, no mesmo horário, que são verdadeiros shows de variedade e sentimentalismo, deixando pouca ou nenhuma alternativa de programas na televisão aberta. Nosso objetivo foi alcançado, pois conseguimos refletir e aprofundar a análise em torno do processo de construção e fortalecimento de identidades, vinculando isso à possibilidade de formação de novos sujeitos sociais e não só à relevância de ações, como também de mecanismos, para promover esse resgate. Ao usarmos as oficinas sobre o conhecimento de novas ferramentas midiátias e de interação social como matéria-prima de análise, acreditamos desmistificar tais mecanismos, dando vistas o empoderamento dos jovens, cada vez mais conscientes das manipulações midiáticas e do funcionamento dos meios de comunicação, (CHAMPAGNE, 1997), e capazes de realizar leituras críticas em relação ao contexto social. Ao mesmo tempo em que outras formas de inserção na mídia foram socializadas com os participantes, as oficinas realizadas serviram para mostrar espaços alternativos para as lutas populares, também, de como esses jovens podem participar dos movimentos sociais pela igualdade de classes, étnica, de gênero e pela inclusão digital e democratização dos meios de comunicação. De modo geral, pode-se observar que as oficinas trouxeram para esses jovens novos elementos de compreensão do mundo. REFERÊNCIAS:
6 CHAMPAGNE, Patrick. In: BOURDIEU, P. (org.). A miséria do mundo. Petrópolis: Editora Vozes, RIQUE, Célia. Caderno Educação Para a Cidadania. Juntando Saberes e Construindo Prática. Ed. Bagaços, SILVA, Tomaz Tadeu da (org). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.
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