Tribunal Regional Federal da 3ª Região

Transcrição

1 TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL MINUTA DE JULGAMENTO FLS. *** PRIMEIRA TURMA *** HC-SP APRES. EM MESA JULGADO: 25/11/2008 RELATOR: JUIZ CONV. MÁRCIO MESQUITA PRESIDENTE DO ÓRGÃO JULGADOR: DES.FED. LUIZ STEFANINI PRESIDENTE DA SESSÃO: DES.FED. JOHONSOM DI SALVO PROCURADOR(A) DA REPÚBLICA: Dr(a). ANA LÚCIA AMARAL AUTUAÇÃO ADVOGADO(S) SUSTENTAÇÃO ORAL CERTIDÃO Certifico que a Egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, denegou a ordem, nos termos do voto do(a) Relator(a), que lavrará o acórdão. Votaram os(as) DES.FED. JOHONSOM DI SALVO e DES.FED. VESNA KOLMAR. Ausente justificadamente o(a) DES.FED. LUIZ STEFANINI. ELAINE APARECIDA JORGE FENIAR HELITO Secretário(a) Página 1

2 PROC. : HC ORIG. : Vr CAMPINAS/SP RELATOR : JUIZ CONV. MÁRCIO MESQUITA / PRIMEIRA TURMA RELATÓRIO O Juiz Federal Convocado MÁRCIO MESQUITA (Relator): Trata-se de Habeas Corpus, com pedido de liminar, impetrado por José Arnaldo de Souza em favor de ROBINSON ZANGEROLAMO, contra ato da Juíza Federal da 1ª Vara de Campinas/SP, que recebeu denúncia contra o paciente nos autos nº Alega o impetrante falta de justa causa para a ação penal, na qual se imputa ao paciente estelionato contra a Previdência Social, em razão da obtenção fraudulenta de aposentadoria por tempo de contribuição e recebimento indevido do benefício previdenciário, sob o argumento de que há sentença proferida no Juízo estadual de Americana/SP restabelecendo a aposentadoria por tempo de serviço do paciente. Sustenta o impetrante a atipicidade da conduta imputada ao paciente, bem como a falta de nexo causal, já que na época em que requereu o benefício fez a entrega de todos os documentos exigidos. Argumenta ainda o impetrante que não ficou demonstrada, durante o procedimento administrativo oriundo do INSS, fatos criminosos e a sua autoria, a serem imputados ao paciente. Sustenta também ser inadmissível que o INSS imponha ao segurado a inversão do ônus da prova, ou seja, de apresentar documentos que demonstrassem ser lícita a sua aposentadoria, se até a presente data o próprio INSS não conseguiu encontrar o processo administrativo, que estava em poder da agência de Sumaré-SP. Argumenta ainda o impetrante que o paciente não agiu com dolo ou culpa, nem concorreu para qualquer crime contra o INSS, bem como que não há prova da materialidade. Em sede de liminar requer o impetrante a suspensão do interrogatório do paciente, marcado para o dia Ao final, requer o trancamento da ação penal. Requisitadas informações à autoridade impetrada e ao Juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de Americana/SP, foram prestadas às fls. 52/95 e 96/101. Foi também certificada a existência de apelação neste Tribunal contra a sentença que restabeleceu o benefício previdenciário ao paciente (fls. 48). A liminar foi indeferida (fls. 103/106). O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do DD. Procurador Regional da República Dr. Pedro Barbosa Pereira Neto, opinou pela denegação da ordem (fls. 109/15). É o relatório. Apresento o feito em mesa. MÁRCIO MESQUITA Juiz Federal Convocado Relator Página 2

3 PROC. : HC ORIG. : Vr CAMPINAS/SP RELATOR : JUIZ CONV. MÁRCIO MESQUITA / PRIMEIRA TURMA VOTO O Juiz Federal Convocado MÁRCIO MESQUITA (Relator): A ordem é de ser denegada. Como se verifica dos autos, o paciente está sendo processado, no juízo criminal, juntamente com Vera Lúcia Ferreira Costa, pela imputada prática de estelionato contra a Previdência Social por fraude na obtenção de aposentadoria (fls.12/16): A SEGUNDA DENUNCIADA, mediante inserção de dados falsos nos sistemas informatizados do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, relativos a vínculo empregatício inexistente e enquadramento e conversão indevidos de tempo de serviço, obteve em proveito do PRIMEIRO DENUNCIADO, vantagem ilícita consistente no recebimento indevido de aposentadoria por tempo de contribuição, cuja ilegalidade tinha ciência... O primeiro vínculo empregatício do PRIMEIRO DENUNCIADO, segundo as informações cadastradas no sistema pela SEGUNDA DENUNCIADA, teria sido com o empregador ELIZABETH FUCKS, de 30/12/1973 a 30/07/ Assim, resta evidente que tal vínculo empregatício jamais existiu e, possivelmente, constava da CTPS do PRIMEIRO DENUNCIADO apenas para compor fictamente o tempo de serviço necessário a sua aposentadoria. Inconteste, também, a falsidade das informações de que os vínculos trabalhistas mantidos pelo PRIMEIRO DENUNCIADO com as empresas MECÂNICA RIEDO LTDA (02/08/1976 A 25/03/1981) e GOODYEAR DO BRASIL PRODUTOS DE BORRACHA LTDA (03/07/1984 a 05/03/1997) se enquadram como atividade especial, sujeita a contagem de tempo diferenciada e mais benéfica... Desconsideradas as informações irreais apostas nos sistemas informatizados da previdência social pela SEGUNDA DENUNCIADA, o PRIMEIRO DENUNCIADO não fazia jus ao benefício previdenciário na época em que foi concedido, recebendo-o indevidamente no período de 09/2000 a 06/2005 e causando prejuízo ao INSS no valor estimado de R$ ,15... De fato, o processo de concessão de aposentadoria de ROBINSON não foi localizado. Mas os possíveis documentos e informações que ali se encontrariam foram reproduzidos durante as diligências administrativas, restando configurada a falsidade de alguns dados inseridos por VERA LÚCIA nos sistemas informatizados da Previdência, a fim de ludibriar aquele órgão, permitindo que a contagem de tempo de serviço do segurado atingisse o patamar necessário à concessão de aposentadoria por tempo de serviço. A par disso, o paciente obteve, no juízo cível (1a Vara Cível da Comarca de Americana-SP, processo n 1159/06) provimento jurisdicional, ainda pendente de recurso, restabelecendo o benefício previdenciário cassado administrativamente, ou seja, justamente o benefício de que está sendo acusado de obter fraudulentamente (fls.34/39). Nesta fase procedimental, de verificação preliminar de aventada ilegalidade na decisão da autoridade impetrada, não se conclui em atipicidade da conduta imputada ao paciente. A denúncia imputa ao paciente a obtenção fraudulenta de aposentadoria, mediante declarações falsas, que são, segundo a acusação, verificáveis não obstante o extravio do processo administrativo. O fato de ter obtido julgamento favorável da ação de restabelecimento de benefício previdenciário em primeiro grau não torna, por si só, atípico o comportamento atribuído na denúncia ao paciente. Ademais, a sentença cível não é definitiva, havendo recurso do INSS pendente de julgamento neste Tribunal Regional Federal - 3ª Região (processo nº ), distribuído à relatoria da Exma. Des. Federal Vera Jucovsky. O que se tem, portanto, aparentemente, é apenas a ocorrência de uma questão prejudicial heterogência facultativa, a teor do disposto no artigo 93 do Código de Processo Penal, in verbis: Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente. Página 3

4 Assim, o juiz da causa penal tem a faculdade - não a obrigação - de suspender o ação penal, a fim de aguardar a solução da controvérsia cível com eventual reflexos na esfera penal. Contudo, contata-se pelos documentos anexados que o pedido de suspensão ou qualquer outra medida semelhante não fora requerida à autoridade impetrada pelo paciente/réu. Assim, incabível a análise diretamente neste Tribunal porquanto importaria supressão de instância. A impossibilidade de se examinar em Habeas Corpus questão não decidida na instância inferior, por configurar indevida supressão de instância, tem sido reiteradamente afirmada pelo Supremo Tribunal Federal: HABEAS CORPUS. TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS...Quanto à negativa do direito de apelar em liberdade, impossível o conhecimento de questão não apreciada pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Tribunal Regional Federal, pena de indevida supressão de instância. Precedentes (HC , HC , HC , HC ). Writ conhecido em parte e, nessa parte, denegado. STF - 1ª Turma - HC SP - Rel.Min. Carlos Britto - DJ p.53 HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. PRESSUPOSTOS E FUNDAMENTOS... Habeas corpus não conhecido quanto ao argumento de excesso de prazo da prisão cautelar, a fim de se evitar supressão de instância, porque esse tema não foi levado à apreciação do Superior Tribunal de Justiça. Habeas corpus conhecido em parte e, nessa parte, indeferido. STF - 2ª Turma - HC SP - Rel.Min. Joaquim Barbosa - DJ Com relação às alegações do impetrante de que o paciente não agiu com dolo ou culpa, e de que nada foi apurado de ilícito no procedimento administrativo, e que apresentou os documentos exigidos quando da concessão do benefício, são matéria que devem ser debatidas na ação penal, sendo inadmissível o seu exame na via estreita do habeas corpus, por demandar exame aprofundado da prova. De acordo com orientação jurisprudencial pacífica, o trancamento da ação penal em sede de habeas corpus somente se justifica diante de manifesta ilegalidade da situação, o que não se verifica no caso dos autos. Nesse sentido, há precedente do Colendo Supremo Tribunal Federal:...5. Falta de justa causa: em sede de habeas-corpus só é possível trancar ação penal em situações especiais, como nos casos em que é evidente e inafastável a negativa de autoria, quando o fato narrado não constitui crime, sequer em tese, e em situações similares, onde pode ser dispensada a instrução criminal para a constatação de tais fatos, situação que não se configura na espécie... STF - 2a Turma - HC RJ - DJ p.1337 Por estas razões, denego a ordem. É como voto. MÁRCIO MESQUITA Juiz Federal Convocado Relator Página 4

5 PROC. : HC ORIG. : Vr CAMPINAS/SP RELATOR : JUIZ CONV. MÁRCIO MESQUITA / PRIMEIRA TURMA EMENTA PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ESTELIONATO CONTRA A PREVIDÊNCIA. ATIPICIDADE. AÇÃO CIVIL PENDENTE DE JULGAMENTO DE RECURSO. SUSPENSÃO DA AÇÃO PENAL: MERA FACULDADE DO JUIZ. QUESTÃO NÃO EXAMINADA NO JUÍZO IMPETRADO: IMPOSSIBILIDADE DE EXAME NO HABEAS CORPUS. 1. Habeas corpus visando o trancamento da ação penal em que se apura a prática de estelionato contra a Previdência Social. 2. O paciente está sendo processado, no juízo criminal, juntamente com outra co-ré, pela imputada prática de estelionato contra a Previdência Social por fraude na obtenção de aposentadoria e a par disso, o paciente obteve, no juízo cível provimento jurisdicional, ainda pendente de recurso, restabelecendo o benefício previdenciário cassado administrativamente, ou seja, justamente o benefício de que está sendo acusado de obter fraudulentamente. 3. O fato de ter obtido julgamento favorável da ação de restabelecimento de benefício previdenciário em primeiro grau não torna, por si só, atípico o comportamento atribuído na denúncia ao paciente e ademais, a sentença cível não é definitiva, havendo recurso do INSS pendente de julgamento neste Tribunal. 4. O que se tem, portanto, é apenas a ocorrência de uma questão prejudicial heterogência facultativa, a teor do disposto no artigo 93 do Código de Processo Penal e assim, o juiz da causa penal tem a faculdade - não a obrigação - de suspender o ação penal, a fim de aguardar a solução da controvérsia cível com eventual reflexos na esfera penal. 5. Constata-se pelos documentos anexados que o pedido de suspensão ou qualquer outra medida semelhante não fora requerida à autoridade impetrada pelo paciente. Assim, incabível a análise diretamente neste Tribunal porquanto importaria supressão de instância. 6. As alegações do impetrante de que o paciente não agiu com dolo ou culpa, e de que nada foi apurado de ilícito no procedimento administrativo, e que apresentou os documentos exigidos quando da concessão do benefício, são matéria que devem ser debatidas na ação penal, sendo inadmissível o seu exame na via estreita do habeas corpus, por demandar exame aprofundado da prova. 7. De acordo com orientação jurisprudencial pacífica, o trancamento da ação penal em sede de habeas corpus somente se justifica diante de manifesta ilegalidade da situação, o que não se verifica no caso dos autos. 8. Ordem denegada. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima indicadas, ACORDAM os integrantes da Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, denegar a ordem, nos termos do voto do Relator e na conformidade da minuta de julgamento, que ficam fazendo parte integrante deste julgado. São Paulo, 25 de novembro de 2008 (data do julgamento). MÁRCIO MESQUITA Juiz Federal Convocado Relator Página 5

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