PROCESSOS AVALIATIVOS COMO PRÁTICA EDUCATIVA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
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- Inês Bento Quintanilha
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1 PROCESSOS AVALIATIVOS COMO PRÁTICA EDUCATIVA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA Carmem Elisete Gabbi 1 César Hamilton Brito de Goes 2 Leila Maria Araújo Santos 3 Resumo: O presente texto tem por objetivo analisar os processos avaliativos que contribuem para o aprendizado do aluno, no sentido de identificar problemas e buscar soluções, através de um conjunto de medidas e objetivos claros. Justifica-se a necessidade desse estudo no sentido de romper com paradigmas que pensam a avaliação como um processo no qual se mede, se examina, se qualifica, se classifica o conhecimento do aluno. A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, mais precisamente um estudo de caso, em que se ouviu as vozes de professores da Educação Profissional e Tecnológica, após participarem do Programa Especial de Graduação, envolvidos no processo ensino aprendizagem. A principal referência teórica utilizada foi a obra de Cipriano Luckesi. Os caminhos trilhados pela pesquisa permitiram perceber que a avaliação não é o objeto fim da educação, mas o processo que viabiliza um ensino aprendizagem capaz de produzir um sujeito comprometido com a sociedade. Palavras-chave: Avaliação; Educação Profissional; Trabalho Docente. Introdução O estudo que ora se apresenta, recorte da pesquisa que investiga as mudanças ocorridas na prática docente de profissionais que atuam na Educação Profissional e Tecnológica, após participarem do Programa Especial de Graduação de Formação de Professores para a Educação Profissional, desenvolvido na Universidade Federal de Santa Maria, buscou analisar as práticas avaliativas que comprovam o aprendizado do aluno. Para tanto, recorreu-se a pesquisa qualitativa como metodologia de trabalho. Participaram da pesquisa professores que já atuavam na Educação Profissional e Tecnológica antes da realização do curso de formação pedagógica, em algumas instituições de Educação Profissional e 1 Autora: Mestra em Educação UNISC cgabbi@ctism.ufsm.br 2 Orientador: Doutor em Sociologia UNISC cgoes@unisc.br 3 Co-orientadora: Doutora em Educação UFSM leila@gmail.com 1
2 Tecnológica da região central do Rio Grande do Sul. Entre os autores que deram sustentação a esse estudo, estão: Cipriano Carlos Luckesi, Mariano Fernandez Enguita, entre outros. O texto apresentado aborda a avaliação como um processo que complementa o aprendizado do aluno. No entanto, muitas vezes, ela tende a ser classificatória e, neste caso, não colabora com o desenvolvimento do educando, na medida em que, como objeto de poder, pune. Nessa perspectiva, a escola, representada por uma equipe docente, tem a função de reconstruir os caminhos, bem como pensar nas condições de vida e no bem estar dos alunos, e assim, contribuir com a formação profissional do indivíduo, capaz de entender e avaliar a atual política de desenvolvimento econômico e social do país. Metodologia A metodologia que define o trabalho investigativo foi a pesquisa qualitativa, fundamentada no trabalho de campo e o instrumento utilizado foi a entrevista realizada com professores que atuam em Instituições de Educação Profissional, nas redes privada, estadual e federal de educação. A seleção dos sujeitos da pesquisa ocorreu de forma aleatória no universo de formados entre os anos de 2011 e 2014, do Programa Especial de Graduação de Formação de Professores para a Educação Profissional. Para esta etapa da pesquisa se priorizou a fala de dois professores identificados por Brasil e Mateus, pseudônimos escolhidos pelos entrevistados. O estudo de caso aqui realizado, de acordo com Lüdke e André (1986), visa à descoberta que envolve a temática em questão, enfatizando a interpretação do contexto de forma completa e objetiva o que compreende investigação, análise e interpretação. Para dar fundamentação ao assunto abordado, buscaram-se analisar as diferentes contribuições de autores, especialmente as de Cipriano Luckesi, na perspectiva de fundamentar e justificar a escolha do tema. Discussões e resultados 2
3 O termo avaliação, no contexto educacional, pode ser definido como uma atividade metodológica que consiste em diagnosticar o desempenho do aluno. Deste modo, a avaliação é sempre uma atribuição de qualidade a alguma coisa, experiência, situação, ação, vale dizer, o ato de avaliar incide sempre sobre alguma coisa que existe extensiva e quantitativamente (LUCKESI, 2002, p. 86). Na Educação Profissional, a avaliação volta-se para as experiências desenvolvidas em laboratórios, por ocasião das aulas práticas. Cabe ao profissional docente a responsabilidade de desenvolver estratégias e métodos capazes de comprovar o conhecimento adquirido pelo aluno, indo além do espaço da sala de aula. No entanto, devem-se reconhecer os limites da profissão docente, que sofre influência de diversos segmentos da sociedade: social, político, econômico. Na escola, aprende-se a estar constantemente preparado para ser medido, classificado e rotulado; a aceitar que todas as nossas ações e omissões sejam suscetíveis de serem incorporadas a nosso registro pessoal; a aceitar ser objeto de avaliação e inclusive desejá-lo. (ENGUITA, 1989, p. 203). A avaliação é parte integrante do processo de ensino aprendizagem. No entanto, da forma como ela ocorre, possibilita a fragmentação do trabalho pedagógico, enquanto fortalece as relações autoritárias dentro do ambiente escolar. Esta tendência conceitual está relacionada a práticas avaliativas como provas, notas, recuperação e punição, que se perpetuam no tempo. [...] a avaliação do ensino assumiu a prática de provas e exames; o que gerou um desvio no uso da avaliação (LUCKESI, 2006, p. 165). A escola vem se adaptando às mudanças que ocorrem na sociedade e os sistemas de ensino direcionam para uma autonomia do aluno, para que ele seja o responsável pela construção de seu conhecimento. Para isso, o educando deverá ter a oportunidade de participar de conselhos, para que possa elaborar as normas que vão direcionar os critérios da avaliação, bem como das tomadas de decisão sobre o ensino-aprendizagem, além de assumir pequenas responsabilidades: A avaliação da aprendizagem escolar adquire seu sentido na medida em que se articula com um projeto pedagógico e com seu consequente projeto de ensino. (LUCKESI, 2006, p. 85). 3
4 A entrevista sobre avaliação centrou-se em basicamente duas questões: 1) Que procedimentos avaliativos faziam parte da sua prática antes e depois do PEG? 2) Como você avalia a apropriação do conteúdo pelo aluno? A preocupação aqui é diferenciar os métodos avaliativos empregados pelo docente antes e depois da realização do curso e quais os recursos utilizados pelo professor, a fim de saber quando o aluno conseguiu transformar um determinado conteúdo em aprendizagem. O docente Brasil fala da mudança ocorrida nos modos de avaliação antes e depois da realização do curso: Antes do curso era: trabalhou direitinho, beleza. Não trabalhou... Hoje eu uso vários procedimentos metodológicos. Nesta fala percebese que o professor articula um aprendizado desenvolvido no programa que permite repensar suas práticas de ensino e o resultado sobre a avaliação. A respeito do acompanhamento do processo ensino aprendizagem, Brasil refere-se: Eu tenho um conceito que eu chamo de nota extra que é realmente a transformação que eu vejo desse aluno desde o primeiro dia. Através das minhas anotações diárias eu consigo acompanhar seu desenvolvimento. O docente Brasil relata que em suas práticas anteriores utilizava apenas a avaliação quantitativa: Quando eu ingressei no primeiro um ano de docência eu usava só a parte quantitativa. No entanto, o curso lhe permitiu repensar seu método, o qual dificultava visualizar o processo de transformação pelo qual o aluno passava: Eu percebia que, muitas vezes, deixava de beneficiar o aluno que tinha realmente passado por uma transformação, avaliando da mesma forma com aquele que copiava o trabalho e colava nas provas. A avaliação também tem a função de motivar o crescimento, na medida em que, segundo Luckesi (2006, p. 176), [...] ocorre o reconhecimento do limite e da amplitude de onde se está, descortina-se uma motivação para o prosseguimento no percurso da vida ou de estudo que se esteja realizando. Situação comprovada na fala do professor quando identifica fatores externos interferindo no ato avaliativo. E aquele que tem dificuldades, muitas vezes só por chamar de prova, zerava. Mas eu sabia que ele sabia fazer porque eu o via fazer. Por este motivo, eu precisava avaliar de forma qualitativa e subjetiva (Brasil). 4
5 Saber o que é um cabo SATA de um cabo IDE, saber reconhecer uma placa mãe offboard. Então, são coisas que não tem como fugir disso, são coisas que tu tem que quantificar (Mateus). Nesta fala, apesar de ter usado o termo quantificar e, levando-se em consideração o processo avaliativo utilizado, percebe-se que o docente não está preocupado em que o aluno saiba apenas o conceito, mas que essencialmente saiba a função desses elementos na prática. Aqui, na interpretação de Luckesi (2006, p. 150), a avaliação [...] só faz sentido na medida em que serve para o diagnóstico da execução e dos resultados que estão sendo buscados e obtidos. Ao avaliar, o professor precisa ser imparcial em seus julgamentos, mesmo perpassado pela afetividade de sentimentos e emoções. Posturas conservadoras ou progressistas se confrontam a todo o momento. O fazer docente é assim, permeado por contradições, mas a postura reflexiva permite alterar rotas, mudar caminhos para conduzir ao processo ensino aprendizagem. Considerações finais O estudo permitiu concluir que o processo avaliativo é objeto de pesquisas e estudos na área da educação, o que permite deduzir que a avaliação é motivo de questionamento na prática docente, o que leva a pensar que o trabalho científico visa fundamentar as ações e as práticas humanas. Toda avaliação parte de uma atividade desenvolvida pelo professor, a fim de acompanhar o desenvolvimento ou evolução de seus alunos. Assim, cabe à escola definir o seu projeto educativo, considerando todos os aspectos, a começar pelo professor; que ele seja um mediador capaz de, a partir do conteúdo de uma área do conhecimento, levar o aluno a compreender a realidade, sendo a função da avaliação a de diagnosticar se o aluno atingiu os objetivos elencados pelo professor. Isto pressupõe que os dados coletados através dos instrumentos avaliativos permitam identificar quais conteúdos deverão ser retomados para que o aluno avance no processo de aprendizagem. Referências 5
6 ENGUITA, Mariano Fernandez. A face oculta da escola: educação e trabalho no capitalismo. Traduzido por Tomaz Tadeu da Silva. Porto Alegre: Artes Médicas, LUCKESI, Cipriano Carlos. Avalição da aprendizagem na escola e a questão das representações sociais. Eccos revista científica, São Paulo, v. 4, n. 2, p , Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo, Cortez, LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Elisa Afonso. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU,
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