PROCEDIMENTOS LABORAIS NA EMPRESA

Transcrição

1 BERNARDO DA GAMA LOBO XAVIER Professor da Faculdade de Direito Universidade Católica Portuguesa PROCEDIMENTOS LABORAIS NA EMPRESA Ensinar e investigar UNIVERSIDADE CATÓLICA EDITORA Lisboa 2009

2 NOTA PRÉVIA Uma das fases das provas de agregação é a da apresentação e discussão de um relatório com o programa e conteúdos de uma disciplina, tendo o autor apresentado o que se segue ao júri constituído pelos Professores Manuel Braga da Cruz (Reitor da UCP), Inocêncio Galvão Telles, Mário Júlio Almeida Costa (arguente do curriculum ), Alfredo Montoya Melgar, Fernando Suarez Gonzalez, Jorge Miranda, Rui Moura Ramos, António Menezes Cordeiro (arguente do presente texto) e José Manuel Sérvulo Correia (arguente da lição sobre fundos complementares de reforma ). Infortunadamente, não pôde estar presente nas provas o Prof. Galvão Telles. Muito se agradece a generosidade da avaliação do júri e, quanto a esta fase, ao Prof. Menezes Cordeiro a frontalidade da apreciação crítica do presente texto. Muito embora o presente relatório sobre Procedimentos laborais na empresa viesse a ganhar com algumas modificações aqui e além, que reflectissem o debate em provas, optou-se por deixá-lo qua tale, à excepção de pequenas emendas, em que se aproveitou para deixar referências ao Código do Trabalho revisto.

3 8 PROCEDIMENTOS LABORAIS NA EMPRESA * Este livro é dedicado aos nossos alunos dos mestrados, a quem procuramos guiar nos meandros do sistema procedimental em que se desenvolve a gestão das relações de trabalho no nosso Direito. De facto, na relação de trabalho, a expressão dos actos mais relevantes do poder patronal passou a ser nos termos da lei procedimental, o que significa transparência, com indicação de fundamentos, audição e oportunidade de debate, em termos que o Direito comunitário designa como envolvimento dos trabalhadores. Trata-se de um contraponto aos indeclináveis managerial rights. Poderão ser apresentadas críticas ao modo excessivamente formal do nosso sistema de procedimentos laborais (e, do mesmo modo ao desígnio europeu de democratização da empresa), mas venha o que vier não nos parece que se possa deitar a perder algo que é um método de justiça e de busca de consenso, coroando uma rota de progresso na humanização e libertação do homem que trabalha. Em verdade, estamos a falar dos sítios concretos onde tudo se passa a empresa como organização de homens (o que é bem mais que a simples agregação de factores produtivos), em que aos trabalhadores é devolvida a dignidade de viverem como sujeitos de Direito e não sujeitados como súbditos, meros instrumentos moldados por uma autoridade produtivística. Aquele que é chamado a produzir não constitui um mero factor de produção. O trabalhador tem uma posição na empresa, ela não lhe é estranha; coloquialmente refere-se à minha empresa e, de certo modo, como indica esta fórmula possessivo-afectiva, ela pertence-lhe também. Os trabalhadores intervêm na empresa e nela defendem as suas posições individuais e colectivas através de procedimentos. E se a esses procedimentos poderão ser imputadas eventuais perdas na velocidade e até no profissionalismo na gestão do pessoal, parece-nos que tal será compensado por um envolvimento que possibilita disciplina mais consentida e conformação mais inteligente com os objectivos que o empresário consiga partilhar. E isto será o menos, pois o mais será a dignificação do homem que trabalha, nobilíssimo objectivo de todo o Direito do trabalho, desde sempre.

4 ÍNDICE Nota prévia 11 I. PRELIMINARES 1. O regime da agregação 9 2. Justificação da escolha da disciplina A evidência do procedimento A praticidade da disciplina e a relevância teórica 24 II. PROGRAMA 1 Programa como ordenação temporizada da temática Métodos 38 III. CONTEÚDOS 1. Introdução Apresentação e delimitação do tema. Conceito e caracterização preliminar de procedimento laboral Interesses subjacentes ao procedimento Matrizes doutrinais Direito nacional e os sistemas estrangeiros. Direito comunitário Estrutura da decisão procedimental Generalidades 76

5 O poder do empregador. Teorização do procedimento Estrutura das posições jurídicas activas. Poderes, direitos e interesses Vertente publicística (a relação do poder) Vertente privatística (limites no exercício de direitos) Aspectos relevantes da relação de trabalho 96 a) a relação organizatória da empresa 98 b) a relação complexa e interactiva 100 c) a relação duradoura 101 d) a relação adaptável e aberta ao futuro 102 e) a relação incompleta 103 f) as ficções da vontade contratual e a busca de outros consensos Sujeitos dos poderes (e de outras posições jurídicas laborais) de exercício procedimental A empresa como centro de referência e de imputação das relações de trabalho A decisão na empresa. Identificação do decisor. Organização e hierarquia O interesse da empresa e o interesse do destinatário. Outros interesses. A "consensualização" Marcha do procedimento e decisão Iniciativa. Sujeitos e destinatários Pressupostos (constitutivos) e requisitos (de exercício). Fundamentação/motivação Abertura do procedimento. Dever de audiência dos interessados. Instrução e outras audições Decisão final. Objecto e formalização 158

6 3. Controlo da decisão e impugnação Questões gerais sobre o exercício de posições jurídicas de poder. Estruturas e sistema processual de controlo. Requisitos de ordem substantiva, decisional e valorativa Controlo do percurso procedimental O controlo (tendencialmente substantivo) da existência dos pressupostos do acto e o controlo (tendencialmente adjectivo) dos trâmites procedimentais de exercício. Ónus da prova, com especial atenção à motivação Vícios (desvalor) do procedimento (nulidade, anulabilidade, ilícito indemnizável, coima) Aproveitamento dos actos. Caducidade da impugnação. Aceitação, sanação e convalidação. Rectificação/reforma e renovação. O problema da prescrição Procedimentos em especial Tipologia Grelha de análise 221 Referências bibliográficas 225