Gislane Vasconcelos de SOUZA 1 ; Mírley Barbosa de SOUZA 2 e Taiani Torquato DIÓGENES 1
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- Elisa Carmona Guterres
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1 APLICAÇÃO DE FIXADOR ESQUELÉTICO EXTERNO TRANSARTICULAR PARA LUXAÇÃO TARSOCRURAL EM GATO: RELATO DE CASO APPLICATION OF TRANSARTICULAR EXTERNAL SKELETAL FIXATOR FOR TARSOCRURAL LUXATION IN CAT: CASE REPORT Gislane Vasconcelos de SOUZA 1 ; Mírley Barbosa de SOUZA 2 e Taiani Torquato DIÓGENES 1 1 Aluna de Monitoria Acadêmica, Faculdade de Veterinária, Universidade Estadual do Ceará, gislane.vasconcelos@aluno.uece.br 2 Médica Veterinária, Vetclinic Hospital Veterinário 24h, Av. José Bastos 6360, Bairro Parangaba, Fortaleza, Ceará, Brasil Resumo: A luxação tarsocrural corresponde à perda completa da articulação entre tálus e tíbia. É vista, principalmente, em injúrias na porção distal do membro pélvico de felinos, estando, muitas vezes, associada à ruptura dos ligamentos colaterais do tarso. O diagnóstico se baseia no exame clínico do animal, associado à radiografias do membro afetado e a cirurgia é indicada para restaurar a integridade funcional da articulação. Este trabalho teve como objetivo relatar um caso de luxação tarsocrural em uma gata atendida na Unidade Hospitalar Veterinária da Universidade Estadual do Ceará. Os sinais apresentados pelo animal incluíram falta de sustentação do peso corporal no membro afetado, desvio anormal da pata, dor, edema e creptação na região. Radiograficamente observou-se luxação da articulação tarsocrural direita, fratura completa da fíbula distal e deslocamento do maléolo lateral. O tratamento envolveu a redução da luxação e posterior estabilização da articulação com o uso de fixador esquelético externo transarticular tipo II. Os pinos de transfixação foram lisos e inseridos angulados. As extremidades excedentes foram dobradas e estabilizadas com resina acrílica. O resultado pós-cirúrgico pôde ser considerado satisfatório, visto que, a luxação tarsocrural foi corrigida, houve consistente suporte de peso, embora leve claudicação após remoção do implante estivesse presente. Palavras-chave: Articulação. Instabilidade.Felinos. Keywords: Joint. Instability. Felines. Revisão de Literatura: Anais do 38º CBA, p.0646
2 Luxação tarsocrural é definida como a perda completa da articulação entre tálus e tíbia. Danos neste local, em gatos, quase sempre resultam de traumas que decorrem, principalmente, de mordidas de cachorro e acidentes de trânsito, resultando em fraturas e/ou ruptura dos ligamentos colaterais do tarso (KULENDRA et al., 2011). A maioria dos animais são apresentados com histórico de claudicação de início agudo. Na luxação completa, o animal não sustenta o peso e a pata é desviada a uma ângulo anormal. Dor, edema e creptação estão presentes (FOSSUM, 2015). Na avaliação radiográfica, as projeções dorsoplantar e mediolateral-padrão, em geral, são suficientes para uma avaliação inicial completa (KULENDRA et al., 2014). Uma vez feito o diagnóstico de luxação tarsocrural, os objetivos do tratamento são limitar futuros danos as estruturas de suporte e superfície articular, restaurar o alinhamento anatômico e a estabilidade normal da articulação, para se atingir uma sustentação de peso sem dor, e manter a amplitude de movimento. O tratamento conservador não é indicado para estas lesões. Assim, necessita-se de cirurgia para restaurar a integridade funcional da articulação (FOSSUM, 2015). Várias opções têm sido relatadas para o tratamento de luxações tarsocrural como: o reparo primário dos ligamentos colaterais danificados; ligamentos protéticos; e aplicação de fixador esquelético externo transarticular (FEET) (ROCH et al., 2009; KULENDRA et al., 2011). O FEET é um método simples e de baixo custo, que além de permitir a estabilização articular, também possibilita o manejo concomitante das feridas. É uma técnica que pode ser utilizada sozinha, ou de forma auxiliar a outras técnicas de estabilização, como o ligamento protético, imobilizando a reconstrução ligamentar. Uma variedade de configurações de FEETs podem ser utilizadas, incluindo o tipo I (unilateral-uniplanar) ou tipo II (bilateral-uniplanar). De acordo com Kulendra et al. (2011), o FEET pode ser aplicado com o tarso em um ângulo de, aproximadamente, 115 a 125 de extensão. Normalmente os FEETs são mantidos por um período de quatro a oito semanas, evitando os ricos da imobilização a longo prazo, como diminuição na produção do líquido sinovial, do conteúdo mineral ósseo e da densidade mineral óssea, além de reduzir a amplitude de movimento articular (ROCH et al., 2009). Assim, com o tratamento adequado da luxação tarsocrural, o prognóstico pode ser bom a excelente, podendo-se esperar uma função adequada Anais do 38º CBA, p.0647
3 do membro na maioria dos pacientes após intervenção cirúrgica adequada (FOSSUM, 2015). Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo relatar um caso de luxação tarsocrural, em uma gata, que foi corrigida através da aplicação de fixador esquelético externo transarticular, e assim contribuindo para o entendimento das estratégias de manejo das injúrias tarsais em felinos. Descrição do Caso: Foi atendida na Unidade Hospitalar Veterinária da Universidade Estadual do Ceará uma gata, mestiça, um ano de idade, 2,8 Kg. Segundo o tutor, o animal havia sido atropelado por uma moto na noite anterior. Desde então, foi notado que o mesmo não apoiava o membro posterior direito, além de apresentar um severo desvio angular do jarrete. Durante o exame físico, foi constatado um desalinhamento articular do tarso, desvio varo do pé, além de edema e creptação da região. A gata demostrava dor durante a manipulação da região. Na ausculta cardiorespiratória não foi notada anormalidades. Foram solicitados hemograma completo (sem alterações) e radiografia simples do tarso, em projeções dorsoplantar e mediolateral, em que se observou luxação da articulação tarsocrural direita, além de fratura completa da fíbula distal direita, com desalinhamento do maléolo lateral, que perdeu o contato anatômico com a tíbia. A gata foi encaminhada para cirurgia. Após incisão medial curva na pele e tecido subcutâneo, a luxação foi reduzida e a supefície articular alinhada. Optou-se pela utilização de uma fixador esquelético externo transarticular tipo II. Foram colocados ao todo 4 fios de Kirschner lisos angulados em relação ao eixo longitudinal ósseo, destes 2 pinos eram de 1,5 mm de diâmetro, e foram inseridos na tíbia distal, 1 pino era 1,5 mm, e foi colocado no osso calcâneo, e 1 pino de 1 mm foi inserido em superfícies ósseos proximais dos ossos metatársicos. Os pinos de fixação foram contornados, sendo, posteriormente, utilizada resina acrílica para conectá-los. Um dispositivo de gotejamento, com solução salina, foi empregado para dissipar o calor durante a polimerização da resina. Depois do endurecimento do molde acrílico, um padrão de sutura simples foi aplicado para fechar a pele adjacente aos pinos. As medicações pós-cirúrgicas incluíram o uso de cetoprofeno (1 mg/kg) e cefalexina (20 mg/kg). Uma nova radiografia foi solicitada, sendo realizada com três dias de pós-operatório. Nela foi possível perceber a correção da luxação tarsocrural e alinhamento do maléolo lateral. A retirada do implante foi feita Anais do 38º CBA, p.0648
4 48 dias depois da cirurgia. A função do membro após remoção do fixador pôde ser considerada satisfatória, visto que houve leve claudicação, mas consistente suporte de peso. Discussão: As fraturas e luxações estão entre uma das principais consequências de traumas no jarrete. A luxação tarsocrural gera instabilidade articular, sendo os atropelamentos umas das principais causas de tal condição, como visto no caso aqui relatado (ROCH et al., 2009). A fixação esquelética externa transarticular foi escolhida como ferramenta cirúrgica única para a correção da luxação tarsocrural no caso relatado, pois é considerada um bom método para estabilizar a articulação tarsocrural em gatos, já que, por ser um implante rígido, possibilita uma imobilização temporária da articulação, permitindo tanto a redução e consolidação de fraturas, quanto a formação de tecido cicatricial fibroso na região de ruptura ligamentar, o que mantém a integridade articular (KULENDRA et al., 2011). Além disso, este método é considerado simples e de baixo custo, o que também foi levado em consideração para sua escolha, devido a baixa condição financeira dos tutores do animal relatado. Neste trabalho, optou-se pelo uso de barras conectoras de acrílico devido as vantagens do seu baixo custo, versatilidade das barras de conexão, o que resolve alguns dos principais problemas relacionados com o uso de clampes e barras de metal, que são rígidas, e facilidade de aplicação (DENNY e BUTTERWORTH, 2006). Após a remoção do implante, o animal relatado, embora, sustentasse o peso sobre o membro afetado, ainda apresentava episódios de claudicação. Este fato pode ser uma complicação em gatos submetidos à fixação esquelética externa transarticular (KULENDRA et al., 2011). As complicações pós-cirúrgicas em gatos submetidos à a este tipo de fixação podem chegar a 41%. Destas, 61,5% foram consideradas complicações menores e solucionadas com a remoção do implante e antibioticoterapia; 38,5% foram consideradas complicações maiores e incluíram severa osteoartrite, instabilidade tarsocrural persistente, osteomielite, sepse e morte. O afrouxamento dos pinos do fixador esquelético externo e a infecção ao seu redor são complicações comumente encontradas (MONTAVON et al., 2009). Estes mesmos autores afirmaram que os FEETs tipo II podem evitar problemas associados com o afrouxamento prematuro dos pinos, que é visto com os FEETs Anais do 38º CBA, p.0649
5 tipo I. No animal relatado, não ocorreu afrouxamento dos pinos de fixação, talvez por ter sido utilizado conformação tipo II, nem tampouco alterações inflamatórias a nível osteoarticular. Até o momento da escrita deste relato (sete meses após remoção do implante), foi informado às autoras que a gata mantém consistente suporte de peso e, eventualmente, quando em esforço repetitivo, evita apoiar o membro. O animal não expressa dor durante a manipulação da articulação afetada. Os tutores dizem estar satisfeitos com o resultado pós-cirúrgico. Conclusão: Este trabalho assume relevância devido ao fato de existir escassos relatos que abordem o manejo da instabilidade tarsocrural em gatos. Optou-se pela utilização de fixador esquelético externo transarticular tipo II, obtendo-se bons resultados no pós cirúrgico, com consistente suporte de peso. Após remoção do implante o animal não expressou dor durante a manipulação da articulação afetada e os tutores assumiram estar satisfeitos com o resultado pós-cirúrgico. Referências: DENNY, H.R.; BUTTERWORTH, S.J. Cirurgia ortopédica em cães e gatos. 4.ed. São Paulo: Roca, p. FOSSUM, T.W. Cirurgia de Pequenos Animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015, 1619p. KULENDRA, E.; GRIERSON, J.; OKUSHIMA, S.; CARIOU, M.; HOUSE, A. Evaluation of the transarticular external skeletal fixator for the treatment of tarsocrural instability in 32 cats. Veterinary and Comparative Orthopaedics and Traumatology, Reino Unido, v. 25, p , KULENDRA, E.; ARTHUS, G. Management and treatmentof feline tarsal injuries.in Practice, Reino Unido, v. 36, p , MONTAVON, P.M.; VOSS, K.; LANGLEY-HOBBS, S.J. Tarsal Joint. Feline Orthopaedic Surgery and Musculoskeletal Disease.1.ed. Philadelphia: Saunders, 2009, 582p. PIERMATTEI, D.L.; FLO, G.L.; DECAMP, D.L. Fractures and Other Orthopaedic Injuries of the Tarsus, Metatarsus and Phalanges. In: Fathman L, editor. Brinker, Piermattei, and Flo s Handbook of Small Animal Orthopaedics and Fracture Repair. 3.ed. Missouri: Saunders, 1997, 611p. ROCH, S. P.; STORK, C. K.; GEMMIL, T. J.; DOWNES, C.; PINK, J; MCKEE, W. M.Treatment of fractures of the tibial and/ or fibular malleoli in 30 cats.veterinary Record, Reino Unido, v. 165, p , Anais do 38º CBA, p.0650
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