ENSINO DE PAISAGISMO: Reflexões do processo de projeto a partir da maquete

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1 1 ENSINO DE PAISAGISMO: Reflexões do processo de projeto a partir da maquete Doutoranda Eliane Maria Benvegnú eliane.benvegnu@univali.br Resumo Este trabalho apresenta o desenvolvimento de um exercício projetual realizado pelos alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, na disciplina de Paisagismo. O enfoque desta comunicação centra-se na importância do uso da maquete no processo de ensino e aprendizagem como um recurso didático importante para a criação de espaços livres. Assim as questões elencadas decorrem de um conjunto de ações necessárias a empreender no ensino de paisagismo para a criação e o desenho da paisagem. A metodologia utilizada parte da construção de uma maquete física em se devem criar arranjos volumétricos de espaços livres por meio da utilização dos diferentes estratos de vegetação nos quais dão suporte para a realização das atividades diárias. As considerações finais partem da importância deste recurso didático como ferramenta tridimensional para o aprendizado de projeto e no domínio das variáveis espaciais. Palavras-chave: Ensino de Paisagismo; Processo de projeto; Maquete. INTRODUÇÃO Dentro do processo de projeto de desenho da paisagem dos espaços livres várias são as etapas percorridas até se chegar à construção e uso da paisagem desejada. Por outro lado há vários modos de se aprender a projetar em paisagismo e apesar das diferentes práticas pedagógicas existentes, elencamos como fundamental o desenvolvimento da maquete física 1 de vegetação. A maquete de vegetação é um exercício que contribui para iniciar o aluno no estudo das relações de composição, escala e proporção bem como para determinar o papel que os diferentes estratos da vegetação podem assumir no desenho da paisagem e na construção dos espaços livres. Partindo dessa premissa o objetivo deste trabalho é apresentar um olhar sobre como o recurso didático da maquete física da vegetação pode contribuir no processo de projeto para a formação profissional de arquiteto e urbanista a fim de que os espaços a serem projetados reflitam as necessidades e anseios dos seus futuros usuários, para só assim serem realmente utilizados.

2 2 A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO LIVRE ATRAVÉS DA MAQUETE Em Arquitetura e Urbanismo a representação de um projeto abrange um campo extremamente vasto de conhecimentos técnicos e expressivos. Geralmente à primeira ideia quando da elaboração de um projeto ocorre a partir de um croqui com elementos gráficos da linha e do plano num nível mais abstrato e frequentemente de pouca clareza. A maquete, em contrapartida, é a concretização imediata da concepção espacial por meio de elementos tectônicos, como também é facilmente compreendida. Para Basso (2005) o modelo tridimensional (ou maquete), assim como o desenho, assume um valor de meio de comunicação da ideia arquitetônica, e pode ser definido em três características principais: Como um objeto de riqueza própria, quando separado de sua função de representação; como um objeto de registro histórico, que revela hoje a forma de criação e a concepção de alguma arquitetura do passado, não construída ou que não tenha sobrevivido ao tempo; e ainda, como uma ferramenta de estudo, para conceber, representar (e apresentar) um projeto. (BASSO, 2005, p.48) O modelo tridimensional já era utilizado na Antiguidade para representar obras já construídas e passa a ganhar uma maior importância no Renascimento, quando deixa de servir apenas para representar projetos arquitetônicos e passa a ser incluído no processo da concepção projetual. A maquete é considerada um instrumento de criação fundamental para estimular a criatividade e para a concepção de projetos. A descrição técnica e analítica não consegue esgotar as exigências de representação uma vez que a comunicação do projeto requer instrumentos que facilitem a compreensão de forma sintética tanto de ideias como de conteúdo. Assim a maquete é uma extensão do desenho técnico que nos permite ter noção de escala, de volumetria e proporção.

3 3 Na representação de uma ideia de projeto é cada vez mais necessária a elaboração de objetos tridimensionais que integram a representação técnica do desenho com representações capazes de comunicar os aspectos de proporção, forma, volume e materiais. A necessidade de tridimensionalidade e da materialidade nos sistemas de representação levou, nos últimos tempos, a revalorizar o papel da elaboração de maquetes, entendida como uma antecipação tridimensional, da proposta de projeto em escala reduzida. Rozestraten (2009) observa que é necessário haver diálogo entre os meios de representação. Os meios gráficos e tridimensionais devem estar presentes, uma vez que: [...] a palavra ampara, mas não é suficiente para o diálogo arquitetônico. O desenho e a modelagem são imprescindíveis para uma comunicação clara da forma plástica, da organização espacial e das soluções construtivas previstas. É somente a partir de uma apresentação gráfica e espacial completa da proposta arquitetônica que a crítica pode ser construída. Uma comunicação imprecisa e incompleta só pode fundamentar uma crítica igualmente inconsistente. (ROZESTRATEN, 2009) Para Imai (2010), o modelo físico é ferramenta indispensável para a percepção das necessidades do projeto e a maquete física ainda se faz muito importante. Apesar da importância inequívoca dos instrumentos digitais, os aspectos didáticos e de transmissão de informação e de conhecimento para um público leigo, por meio de modelos analógicos, não podem ser considerados esgotados. O uso da maquete física busca agregar uma característica não encontrada nos modelos digitais: o cliente poder manusear o modelo diretamente, buscando trazer para mais próximo de seu universo de conhecimento o objeto representado, sem a necessidade de conhecimento prévio do meio de representação e da familiaridade necessária para seu manuseio. (IMAI, 2010, p.13) O estudante de arquitetura atualmente possui, portanto, diversos meios de representação à sua disposição. Diante disso, cada vez mais há a necessidade de interações complementares entre os vários meios disponíveis para a comunicação de idéias de projeto. Reconhecendo as possibilidades e as limitações de cada um dos meios de representação, a interação complementar entre o desenho, a maquete física, as

4 4 simulações eletrônicas, a fotografia, o filme e o texto pode compensar as restrições de cada meio isolado, e ampliar as possibilidades de diálogo sobre o projeto. METODOLOGIA DE ENSINO NA DISCIPLINA DE PAISAGISMO: No curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI é possível estabelecer dois eixos norteadores e relativamente autônomos entre si na formação profissional do Arquiteto Urbanista. Por um lado as disciplinas de Projeto Arquitetônico com ênfase na configuração das edificações. Por outro, as disciplinas de Urbanismo e Paisagismo com ênfase nos processos de transformação da cidade e seus espaços abertos. Essencialmente os dois eixos são complementares para a formação profissional sendo que inevitavelmente ocorre um sombreamento de conteúdos, o que leva a uma constante sobreposição de conteúdos que são ministrados a partir de uma dinâmica pedagógica própria de cada disciplina. Os conteúdos ministrados na disciplina de Paisagismo 2 de caráter teóricoprático são desenvolvidos no 6º período do curso sob a forma de ateliê. Como objetivo geral da disciplina de Paisagismo tem-se o desenvolvimento de conhecimentos e procedimentos relativos à intervenção do arquiteto no espaço aberto, entendido enquanto espaço arquitetônico, os fatores condicionantes envolvidos, os elementos que compõe a paisagem urbana, sua estrutura espacial e configuração plástica, de modo a propor plano de massas para um dado trecho da paisagem urbana. A disciplina se desenvolve ao longo do semestre por meio do conjunto de exercícios projetuais apoiados em aulas expositivas, seminários, leituras dirigidas e assessoramentos individuais ou coletivos. Cada exercício enfatiza determinado aspecto do processo de projeto, que integra questões conceituais, formais e gráficas. Os conteúdos teóricos são trabalhados por meio de aulas expositivas, estudos de projeto e estudos de caso, além da realização de seminários.

5 5 É nesse contexto que o processo de desenho da paisagem é desenvolvido ao longo do semestre na disciplina de Paisagismo e algumas das intenções dos espaços abertos criados podem ser observadas nas fotos das maquetes que ilustram esta comunicação. A partir do estudo das relações de composição que determinam o papel que os vários tipos de arranjos volumétricos podem assumir no desenho dos espaços livres e na construção dos planos de teto, de piso e de parede os alunos passam a desenvolver a maquete de vegetação. Algumas das maquetes de vegetação realizadas em sala de aula podem ser vistas nas fotos das maquetes abaixo que ilustram esta comunicação (figuras 1 e 2). Figura 1. Maquete volumétrica da vegetação conformando os espaços abertos públicos. Fonte: Elaborado pelos alunos do 6º período da disciplina de Paisagismo (Andressa Paredes Lopes, Tainara Perin, Verônica Bertoncini) do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI Campus Florianópolis / SC. Figura 2. Maquete volumétrica da vegetação conformando os espaços abertos públicos. Fonte: Elaborado pelos alunos do 6º período da disciplina de Paisagismo (Luiza De Aguiar Kasper, Victor Loch Wellinton Felipe Allebrandt) do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI Campus Florianópolis / SC.

6 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência em sala de aula reafirma que a maquete é um instrumento de visualização das ideias com grande potencial como ferramenta no processo de projeto uma vez que materializa as intenções projetuais que podem ser apreciadas segundo uma ótica crítica como também permite maior facilidade de compreensão e desenvolvimento das ideias. Durante o processo criativo são importantes os estudos por meio dos modelos de massa para analisar o conjunto da volumetria, composição e o impacto da sua implantação em relação ao entorno e a relação estabelecida com a área aberta. A maquete é um instrumento de visualização das ideias, É um instrumento de estímulo à criatividade. Assim a representação tridimensional é um campo que se encarrega de tornar mais compreensíveis as relações espaciais, os volumes, os materiais, as cores e em geral as características de um espaço e de um ambiente que ainda não existem e, portanto que não são acessíveis pela experiência direta. Nesse sentido a maquete física constitui uma prática fundamental no processo de projeto por garantir uma relação mais direta com a materialidade e a tridimensionalidade do espaço livre/aberto a ser criado, pois alimenta a reflexão do estudante e revela-se de grande importância no processo de projeto. É um instrumento de geração formal, para testar ideias e enriquecer o processo de desenvolvimento interagindo com as demais linguagens gráficas. Mas muito importante é o desenvolvimento da percepção visual da forma, do espaço, geometria, proporção e escala. Elementos diretamente envolvidos no processo de geração de uma maquete. O modelo físico como objeto de investigação para os estudantes agrega fundamentos, processos e conhecimentos geralmente desfragmentados nas disciplinas. É notória sua importância no resultado projetual nas três etapas de desenvolvimento acadêmico do projeto: Partido/Anteprojeto/ProjetoFinal (que na

7 7 acadêmica não é executivo), pois o envolvimento com este meio pode repercutir na tomada de decisão de uma ideia seja ela formal, estrutural ou qualquer outra análise atrelada ao projeto, transferindo do plano bi-dimensional para o tridimensional, ou mesmo do plano mental para o tridimensional. REFERÊNCIAS ABBUD, Benedito. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. 3. ed. São Paulo, SP: SENAC São Paulo, BASSO, Ana Carolina Formigoni. A ideia do Modelo Tridimensional em Arquitetura. Dissertação de Mestrado. São Carlos, IMAI, César. O sonho da Moradia no Projeto O uso da maquete arquitetônica na simulação da habitação social. Maringá: Eduem ROZESTRATEN, Artur Simões. Apuntes acerca del papel de la representación en el proceso del proyecto de arquitectura de Paulo Mendes da Rocha. arquiteturarevista - Vol. 5, n 2: São Paulo, ROCHA, Paulo Mendes Da. Maquetes de papel. São Paulo: Cosac Naify, A maquete física é a representação em escala reduzida da proposta de projeto e é considerada uma ferramenta facilitadora da percepção do espaço criado, já que se caracteriza por sua relação direta com a forma de representação da realidade miniaturizada. 2 A ementa da disciplina de Paisagismo é a seguinte: Contexto político e socioeconômico na produção da paisagem. Introdução ao paisagismo. Fatores condicionantes da paisagem. Modelamento de terrenos. Conceitos básicos e procedimentos necessários à intervenção no espaço aberto. Estudo de composição de praças e jardins. Elementos de composição do projeto paisagístico.