PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Transcrição

1 34 a Câmara Seção de Direito Privado Julgamento sem segredo de justiça: 27 de julho de 2009, v.u. Relator: Desembargador Irineu Pedrotti. Apelação Cível nº /8 Comarca de São Paulo Foro Central Apelante: S. O. Apelado: R. A. D. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO C. C. ANULATÓRIA DE TRANSFERÊNCIA DE REGISTRO DE VEÍCULO. O ônus da prova, como estabelece o inciso II, do artigo 333 do Código de Processo Civil, estava a cargo do Apelante e, ele não comprovou nenhum fato que pudesse extinguir, modificar ou impedir o direito do Apelado. A r. sentença fez a adequada análise dos elementos de convicção para concluir pela procedência da pretensão. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Não se pode afastar a existência de sucumbência, que deve ser suportada pela parte que recebeu decisão desfavorável (Apelante). Os honorários advocatícios fixados remuneram com eficiência o trabalho realizado e não comportam a redução pretendida. Voto nº Visto, R. A. D. ingressou com AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO E ANULATÓRIA DE TRANSFERÊNCIA DE REGISTRO DE VEÍCULO (folha 2 destaques do original) contra S. O., partes qualificadas nos autos, sob a proposição afirmativa de que: 1. as partes celebraram contrato de compra e venda, tendo por objeto o automóvel marca Volkswagen, modelo Pointer CLI 1.8, placas GQB 6812; 2. o valor da transação foi de R$ ,00; o Réu deu como entrada um automóvel marca Fiat, modelo Prêmio, no valor de R$ 3.200,00, e R$ 1.800,00 em dinheiro; 3. o saldo de R$ 8.500,00 devia ser pago pelo Requerido: a) R$ por serviços imediatos de mão de obra em dois veículos do autor; b) R$ 4.500,00 com serviços de mão de obra em outros dois veículos a combinar; 4. o Requerente fez uma visita surpresa à oficina do Requerido; constatou que ele (Requerido) tinha recortado com maçarico o número do chassis da Parati/DA 1999 e soldado essa peça num monobloco fornecido pelo Requerente; 5. diante da gravidade do procedimento, o Requerente levou a Parati para visto ao DETRAN e lá constatou que o chassi estava com vestígio de solda ; 6. com a quebra de confiança no trabalho do Requerido (o Requerente) foi obrigado a utilizar outras duas oficinas, onde foram realizados os serviços nos veículos do Requerente no total de R$ 6.460,00; 7. diante do clima hostil entre as partes e da recusa do Requerente em transferir ao Requerido o veículo Pointer, ele (Requerido) solicitou a abertura de Inquérito Policial, fazendo-se passar por vítima de estelionato; 8. o inquérito foi encerrado a pedido do Ministério Público; o Requerido solicitou o desentranhamento e a entrega do Certificado de Registro do Veículo; de posse do documento falsificou a assinatura do Requerente e, obteve, não se sabe como, o reconhecimento da assinatura falsificada. Apelação Cível nº Voto nº

2 Requereu:... julgar procedente a ação, decretando-se a rescisão do contrato de alienação do veículo, a anulação de sua transferência junto ao DETRAN/SP em razão de sua falsificação e do falso reconhecimento de firma, reintegrando-se o autor na posse do mesmo... (folha 9). Formalizada a angularidade da ação o Requerido ofertou contestação (folhas 51/56), que foi impugnada (folhas 72/75). Inviabilizada a conciliação o processo foi saneado, sendo deferida a produção das prova oral e pericial. Encartado o laudo pericial (folhas 177/201) manifestaram-se as partes (folhas 203 e 205). Em audiência, sem conciliação, foram colhidos os depoimentos das testemunhas arroladas. Encerrada a instrução as partes travaram debates por memoriais. Seguiu-se a prestação jurisdicional:... julgo a ação PROCEDENTE e o faço para DECLARAR rescindido o contrato firmado entre as partes, bem como para DECLARAR nulo o documento de transferência de seu registro para o nome do requerido e para REINTEGRAR o requerente na posse desse veículo CONDENO o requerido no pagamento das custas e despesas processuais ( ) bem como em honorários de advogado que arbitro em 20% sobre o valor atualizado atribuído à causa... (folha 268 destaques do original). S. O. interpôs recurso de apelação:... Não importa se é falsa ou não a assinatura no documento de transferência do veículo. Importa, isso sim, que o Apelante pagou R$ ,00. E mesmo com relação a esse documento de transferência do veículo, há depoimento da testemunha Ricardo Martinez (...) Confirma-se que foi o próprio autor quem entregou o documento de transferência ao Apelante e isso também não foi considerado pela r. sentença o autor limita-se em seu Memorial a tratar da falsificação da assinatura no DUT. Mas a testemunha (...) afirma que o autor entregou tal documento ao Apelante, confirmando o que foi dito na contestação É preciso deixar claro que a mencionada falsificação NÃO foi feita pelo Apelante. Nada nos autos diz isso. Nem mesmo a perícia constatou que o Apelante seria o autor da falsificação Já o Memorial do Apelante (...) esclarece perfeitamente toda a situação real do caso em tela. A documentação juntada a ele não foi contestada, demonstrando ser o autor pessoa capaz de providenciar a falsificação de documentos Também desacertou o MM. Juiz (...) ao arbitrar os honorários de 20% na sucumbência, exagerado levando-se em conta que o veículo em discussão (...) vale no máximo R$ 7.500,00... (folha 278). R. A. D. apresentou contra-razões com defesa sobre o acerto da decisão e pedido da condenação do Requerido como litigante de má-fé (folhas 282/286). Relatado o processo, decide-se. Apelação Cível nº Voto nº

3 O recurso passa a ser apreciado nos limites especificados para satisfação do princípio tantum devolutum quantum appellatum, com reflexão sobre a diretriz sumular do não-reexame das provas em caso de recursos constitucionais 1. R. A. D. ingressou com AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO E ANULATÓRIA DE TRANSFERÊNCIA DE REGISTRO DE VEÍCULO (folha 2 destaques do original) contra S. O.. Pretende a rescisão do contrato verbal que firmou com o Requerido e a retomada do veículo objeto do negócio ajustado, porque o (Requerido) não pagou integralmente o preço combinado e falsificou a assinatura dele Requerente no Certificado de Transferência do Veículo. Instruiu a inicial com documentos. Sustenta o Requerido que:... O acordo entre o réu e o A. para a compra de um automóvel (...) teve por base o valor de R$ ,00 e não o valor apresentado de R$ , Como existia em aberto um débito do A. junto ao réu no valor de R$ 5.000,00 (...) provenientes de consertos de três veículos do A., que negocia com carros (...) este deu um recibo ao réu no valor mencionado... (folha 51).... Além dos consertos acima, o réu entregou ao A. um carro, em nome de sua esposa, Fiat prêmio, placa RS 1889, no valor de R$ 3.800,00 e mais a quantia de R$ 1.800,00 em moeda corrente num total de R$ 5.600, O A. deixou então na oficina do réu, dois outros veículos (...) Do valor desses consertos seria deduzida a quantia necessária para completar a transação Para o primeiro veículo (...) O réu executou serviços de pintura de monobloco, ajustes de portas e paralamas (...) mais não fez porque o A. retirou o veículo da oficina do réu sem autorização... (folha 52).... Quanto ao segundo veículo (...) o A. não aceitou o orçamento... (folha 52/53).... o réu comprando o veículo VW Pointer teve de arcar com despesas que são de obrigação do vendedor, tais como o IPVA e seguros dos anos de 95 e 96 e licenciamento de 1996, tudo no valor de R$ 1.426, do negócio entre as partes o réu pagou pela compra do VW Pointer (por R$ ,00) com consertos (R$ 6.000,00), entrega de carro e dinheiro (R$ 5.600,00) e despesas com regularização (R$ 1.576,00) no total de R$ ,00... (folha 53).... nada tem com possível falsificação de documento de propriedade do carro que comprou e pagou... (folha 56). A perícia grafotécnica concluiu que são atos falsos: 1. a assinatura atribuída ao Requerente no Certificado de Transferência do veículo; 2. o reconhecimento de firma atribuído ao 11º Serviço Notarial da Capital; definiu que o documento de transferência do veículo foi preenchido pelo Requerido:... A ASSINATURA ATRIBUÍDA A ROBERTO AMARAL DANTAS, QUE FIGURA NA AUTORIZAÇÃO PARA TRANSFERÊNCIA DE VEÍCULO, CONSTANTE DO VERSO DO CERTIFICADO DE REGISTRO JUNTADO ÀS FLS. 170 DOS AUTOS (...) NÃO FOI PRODUZIDA PELO PUNHO ESCRITOR DA PESSOA HOMÔNIMA QUE FORNECEU MATERIAL GRÁFICO PARA 1 - STF. Súmula 279: "Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário". STJ. Súmula 7: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial". Apelação Cível nº Voto nº

4 CONFRONTO, SENDO, PORTANTO, FALSA... (folha 186 destaques do original).... O RECONHECIMENTO DE FIRMA QUE FIGURA NA AUTORIZAÇÃO PARA TRANSFERÊNCIA DE VEÍCULO DE FLS. 170 DOS AUTOS (...) ATRIBUÍDO AO 11º SERVIÇO NOTARIAL DA CAPITAL, NÃO FOI PRODUZIDO POR AQUELA SERVENTIA, SENDO, PORTANTO, FALSO... (folha 193 destaques do original).... Os exames realizados apontaram convergências de valores escriturais entre o material gráfico fornecido por SÉRGIO ONCALA e os manuscritos preenchedores da questionada Autorização para Transferência de Veículo, determinantes de autoria gráfica, eis que foram produzidos por seu próprio punho escritor... (folha 200 destaques do original). A prova testemunhal não forneceu indícios suficientes para corroborar as alegações do Requerido. As testemunhas não presenciaram ao ato firmado pelas partes e ao pagamento do preço ajustado; não informaram quem assinou o documento de transferência do veículo. O Requerido não comprovou que quitou o saldo do preço combinado com o Requerente pela aquisição do automóvel Pointer CLI 1.8, placas GQB 6812; a transferência do veículo para o nome dele (Requerente) teve por base documento onde foram falsificadas a assinatura do Requerente e o ato notarial de reconhecimento de firma. Como consignado pelo r. Juízo:... Inexistem documentos comprobatórios da realidade dessa transação, já que ela se deu de forma verbal; no entanto, o documento de fl. 58 demonstra que ao menos a quantia de R$ 5.000,00 foi paga pelo requerido, como parte de seu valor As testemunhas feitas ouvir em juízo pelo requerido (...) apenas disseram que com ele trabalhavam e que ele consertou veículos do requerente, como forma de pagamento de um negócio havido entre as partes, sem contudo, fornecer maiores detalhes acerca desse fato ante a míngua de precisos elementos de convicção, não há como acolher-se a assertiva do requerido de que pagou o preço integral do veículo que comprou do requerente... (folha 267). O ônus da prova, como estabelece o inciso II, do artigo 333 do Código de Processo Civil, estava a cargo do Apelante e, ele não comprovou nenhum fato que pudesse extinguir, modificar ou impedir o direito da Apelada. A r. sentença fez a adequada análise dos elementos de convicção para concluir pela procedência da pretensão. Na condenação em honorários advocatícios sobrelevam dois princípios: o (princípio) da sucumbência, pelo qual a atuação da lei não deve representar uma diminuição patrimonial para a parte em cujo favor se efetiva; o (princípio) da causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à propositura ou à instauração de ação judicial ou incidente processual deve responder pelas despesas daí decorrentes. Não se pode afastar a existência de sucumbência, que deve ser suportada pela parte que recebeu decisão desfavorável (Apelante). É direito do Advogado da parte vencedora, uma vez que ajuizou a ação e acompanhou o seu trâmite, cumprindo com satisfação os encargos. Apelação Cível nº Voto nº

5 Os honorários advocatícios fixados remuneram com eficiência o trabalho realizado. Em face ao exposto, nega-se provimento ao recurso. IRINEU PEDROTTI Desembargador Relator. Apelação Cível nº Voto nº