Estratégias de prevenção e controle de infecções virais e bacterianas
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- Márcio Batista Osório
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1 Estratégias de prevenção e controle de infecções virais e bacterianas 1
2 Bactérias, vírus e outros micro-organismos já causaram estragos tão grandes à humanidade quanto as mais terríveis guerras, terremotos e erupções de vulcões Crânio humano asiático da Idade do Bronze (entre a.c. e 700 a.c.) da cultura Yamnaya, que apresentava a bactéria Y. pestis, causadora da peste 2
3 PESTE NEGRA 50 milhões de mortos (Europa e Ásia) a 1351 Higiene, saneamento, antibióticos As pestes humanas VARÍOLA 300 milhões de mortos a 1980 Vacinação, ERRADICADA CÓLERA Centenas de milhares de mortos a 1824 Higiene, saneamento, antibióticos TIFO 3 milhões de mortos (Europa Oriental e Rússia) a 1922 Antibióticos 3
4 VARÍOLA Erradicada em 1971 Doenças eliminadas nas Américas pela vacinação POLIOMIELITE Eliminada em 1994 RUBÉOLA E SÍNDROME DA RUBÉOLA CONGÊNITA Eliminada em 2015 SARAMPO Eliminado em
5 Outros benefícios alcançados com os programas de vacinação no Brasil DIFTERIA, TÉTANO E PERTUSSIS Queda da mortalidade FEBRE AMARELA URBANA Ausente desde 1942 GRIPE Redução dos casos graves 5
6 TUBERCULOSE 1 bilhão de mortos a 1950 Antibióticos AIDS 34 milhões de mortos - Desde 1981 Antivirais MALÁRIA 3 milhões de mortos por ano - Desde 1980 Antimaláricos 6
7 Medidas de prevenção de infecções virais e bacterianas Quarentena Eliminação do vetor Vacinação Redução do risco de exposição Controle de sangue e derivados Quimioprofilaxia antimicrobiana 7
8 Quarentena Isolamento físico de pessoas infectadas de pessoas não infectadas. Ex: varíola, tuberculose, lepra, vírus influenza 8
9 Eliminação do Vetor Medida de controle de arboviroses. Controle do mosquito (eliminação de sítios de reprodução, destruição dos mosquitos e larvas). Ex. dengue e febre amarela 9
10 Redução do risco de exposição Introdução de melhorias sanitárias (ex. infecções entéricas) Adoção de práticas e vestuários protetores (ex. infecções transmitidas pelos sangue) Veiculação de informações para a população (infecções sexualmente transmitidas, IVDUs) 10
11 Ex2. Tratamento precoce de indivíduo assintomático (isoniazida, rifampicina) com conversão no teste tuberculínico negativo em positivo (evitar desenvolvimento de tuberculose) Quimioprofilaxia antimicrobiana Administração de antimicrobianos para evitar infecção ou antes do aparecimento de sinais da infecção Aplicações A. Indivíduos expostos a um patógeno específico Ex1. Uso contínuo de penicilina G benzatina para tratamento de febre reumática após faringite por Streptococcus pyogenes
12 Quimioprofilaxia antimicrobiana B. Indivíduos com maior risco de infecção Com certas anormalidades anatômicas ou funcionais Predisposição a infecções graves Ex1. Anormalidades valvares cardíacas ou próteses valvares (facilitam a adesão/colonização bacteriana) + Procedimentos odontológicos Endocardite infecciosa por Estreptococos viridans EX2. Infecções oportunistas na presença de granulocitopenia grave Transplantes, quimioterapia antineoplásica
13 Quimioprofilaxia antimicrobiana C. Cirurgia Risco de ISC (ex. cirurgia de cólon) Risco de ISC, mas Se ocorrer, consequências potencialmente desastrosas (ex. implante de próteses, cirurgia cardíaca) Paciente com grande propensão à infecção (ex. diabetes descompensado, desnutrição) ISC = infecção de sítio cirúrgico
14 Controle do sangue e derivados Testes Obrigatórios pela Legislação (Portaria 158/2016 ¾ Art. 130) I sífilis II - doença de Chagas III - hepatite B IV - hepatite C V AIDS VI - HTLV I/II. 14
15 Imunização Passiva (imunoglobulina) Ativa (vacinação) 15
16 PREVENÇÃO E CONTROLE NA SAÚDE PÚBLICA 1. VACINAÇÃO 2. SANEAMENTO BÁSICO 16
17 IBGE: Pesquisa nacional de saneamento básico Brasil regiões Número de municípios (%) água encanada (%) rede de esgoto N NE SE S CO BR Quase metade dos brasileiros ainda não têm rede de esgoto. Source: IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010
18 Vacinação A imunização continua sendo uma das intervenções de maior êxito na saúde pública para o controle de doenças infecciosas, salvando a vida de 3 milhões de pessoas anualmente
19 Vacinação As medidas ambientais e de comportamento como forma de controle reduzem as chances de infecção. Entretanto, a vacinação representa a medida mais eficaz, porque torna o indivíduo resistente a infecção. 19
20 Tendências nas causas de óbito no Brasil Barreto et al. Lancet 2011; 377:
21 Programa Nacional de Imunizações (PNI, 1973) Uma das maiores taxas de cobertura vacinal no mundo Um total de 21 tipos de vacinas gratuitamente distribuídas em postos de saúde 70% das vacinas nacionalmente produzidas
22 Vacinas da infância Vacinas da adolescência Vacinas do adulto/idosos BCG Hepatite B Pentavalente Polio (VIP/VOP) Pneumocócica 10V Rotavírus Meningocócica C Hepatite A Tríplice/tetra viral Febre amarela Gripe HPV Meningocócica C BCG (ID): Formas graves de tuberculose Hepatite B DT Tríplice viral Febre amarela Gripe PENTAVALENTE: triplice bacteriana (difteria, tétano e pertussis) + HBV + Hib (meningite e outras infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b) PNEUMOCOCICA 10V: Doenças invasivas e otite média aguda causadas por Streptococcus pneumoniae tipos 1, 4, 5, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19F 23F. MENINGOCOCICA C: Doenças invasivas causadas por Neisseria meningitidis do sorogrupo C TRÍPLICE/TETRA VIRAL: sarampo, cachumba, rubéola / varicela (tetra)
23 Pegue a sua lupa 23
24 Novo calendário nacional de vacinação do Ministério da Saúde para
25 Onde está a sua carteira de vacinação? 25
26 A sua carteira de vacinação está em dia? 26
27 Vacinação de profissionais de saúde 1. dt (reforço a cada 10 anos) 2. Meningocócica C (reforço) 3. Influenza (todo ano) 4. Varicela (suscetíveis) 5. Hepatite A (suscetíveis) 6. Hepatite B (reforço para soronegativos) 7. Tríplice viral (quem não tomou 2 doses) 8. Pneumo 23 (> 60 anos) 27
28 Medidas de prevenção Vacinação 28
29 Varíola Varíola: doença devastadora, desfigurante a altamente infecciosa. Descrita desde 1500 anos a. C. Caracterizava-se pelo aparecimento de inúmeras pústulas por todo corpo, com taxa de mortalidade de 5% (Varíola menor) a mais de 25% (Varíola maior). 29
30 Varíola O corpo todo, da cabeça aos pés, fica coberto com inúmeras pústulas, que queimam como fogo. A face é terrivelmente inchada e desfigurada. A garganta exala um odor fétido. Dos ollhos fluem lágrimas e pus, da boca flui uma saliva azeda e do intestino um excremento apodrecido, geralmente misturado com pús e sangue. O corpo todo é um abscesso. Não se pode mesmo ver o homem no doente. (Munch of Rosenshöld, )
31 Variolação Primeira tentativa de controle do sarampo adotada a partir do século X. Crostas de lesões de uma pessoa infectada eram dessecadas e inaladas. 31
32 A primeira vacinação (1796) Edward Jenner vacinou um indívíduo (Mr Phipps), que trabalhava para ele, e seu filho com o vírus cowpox extraído de uma vaca e depois desafiou-os com uma amostra virulenta de vírus da varíola. 32
33 Edward Jenner... A eliminação da varíola, um dos mais temidos flagelos da espécie humana, deve ser o resultado final desta prática. (Edward Jenner, 1801) A medicina nunca havia produzido um evento de tamanha utilidade. Jenner apagou do calendário uma das maiores aflições humanas. (Thomas Jefferson, 1802) 33
34 Brasil: A revolta da vacina Iniciada de forma irregular ainda no século XVIII, a vacinação contra varíola só se tornou efetiva a partir do século XX, após a campanha iniciada no Rio de Janeiro por Oswaldo Cruz. 34
35 Quatro gerações de vacinas virais 1a geração 2a geração 3a geração 4a geração Animais Ovos Cultura Celular DNA recombinante Varíola Febre Amarela Polio Hepatite B Raiva Influenza Sarampo HPV Cachumba Rubéola Antes
36 Considerações imunológicas sobre as vacinas Principal objetivo de uma imunização artificial pela vacina é de estimular a formação de um título alto de anticorpos da classe apropriada, direcionados contra os epítopos relevantes na superfície do vírion para prevenção da infecção pelo vírus selvagem Infecções virais disseminadas (sangue): imunidade atribuída ao anticorpo IgG Infecções virais localizadas: imunidade atribuída ao anticorpo IgA 36
37 Métodos tradicionais de produção de vacinas 1. Vacinas atenuadas Uso do vírus vivo (produz infecção) mas atenuado (não causa doença) Replicação viral: resposta imune celular e humoral de longa duração Atenuação: Perda progressiva da virulência para o hospedeiro original. Na atenuação, os mutantes são selecionados por passagens em hospedeiros não naturais Exemplo: VOP, tríplice viral, varicela, BCG (M. bovis) 37
38 Métodos tradicionais de produção de vacinas 2. Vacinas inativadas Princípio: destruição da infecciosidade (p.ex. formaldeído) com retenção da imunogenicidade Sem risco de doença associada Não ocorre multiplicação da amostra vacinal: resposta imune predominantemente humoral Exemplo: hepatite A, VIP, DTP, pneumocócica, meningocócica, Hib 38
39 Métodos tradicionais de produção de vacinas 3. Vacina de subunidade Produzida a partir da clonagem do gene de interesse e posterior expressão da proteína ou pela purificação da proteína de interesse Seguras e não infecciosas Exemplo: Hepatite B, HPV, gripe 39
40 Vacinas atenuadas Vacinas inativadas Vantagens Simula infecção natural Induz resposta imune humoral e celular (imunidade de longa duração) VOP: facilmente administrada e infecção de rebanho Seguras Boa estabilidade (transporte e armazenamento) Podem ser administradas a mulheres grávidas e imunocomprometidos Desvantagens Possibilidade de doença associada a vacina Reversão a virulência Risco de inativação Não podem ser administradas em mulheres grávidas e imunocomprom. Induz somente resposta imune humoral Doses múltiplas Maior custo 40
41 Erradicação de doenças virais Medidas de controle diminuem as chances de infecção mas precisam ser mantidas indefinidamente A erradicação implica na eliminação do agente 41
42 Donald Millar, William Foege, Michael Lane, CDC Smallpox Eradication Program Varíola: erradicada em 1977 em um processo internacional, com vacinas potentes, estáveis, de fácil administração acompanhados de vigilância epidemiológica
43 43
44 Vacina de Polio (1950s) Vacina atenuada (Sabin): Via oral, replicação no intestino (resposta de IgA): impede a replicação do vírus selvagem, resposta humoral e celular Casos de polio associados a vacina: reversão a virulência (1 em 4,000,000 doses de OPV) Vacina inativada (Salk) Não estimula imunidade de mucosa (IgA) Não previne a infecção pelo vírus selvagem 44
45 ERRADICAÇÃO DO VÍRUS DA POLIOMIELITE 1988 Doença endêmica em 125 países ( casos) 2003 Doença endêmica em 6 países 45
46 Hoje: Doença endêmica* em somente 2 países: - Paquistão - Afeganistão - Nigéria País Casos 2018 Casos 2017 último caso Paquistão* /11/2017 Afeganistão* /03/2018 Nigéria /08/2016 TOTAL 3 22 WHO, Polio this week, 20 MAR 2018
47 Em 2016, o continente americano é declarado livre do sarampo Em dezembro de 2015, o Brasil recebeu o certificado de eliminação da rubéola. Quatro doenças imunopreveníveis eliminadas nas Américas: Varíola (1971), Polio (1994), Rubéola (2015) e Sarampo (2016) 47
48 Venezuelanos que vivem na praça Simón Bolívar, em Boa Vista, fazem fila para se vacinar contra o sarampo; expectativa de vacinar 420 mil pessoas em 30 dias de campanha(foto: Semuc/Divulgação) 48
49 Vírus como arma biológica Vírus da varíola: erradicado mas com potencial de uso no bioterrorismo (após 11 setembro e ataques com Anthrax nos EUA): População mundial em grande parte suscetível Vírus com alto poder de disseminação Melhor ficar apavorado por uma possibilidade improvável do que estar despreparado para uma realidade catastrófica. (Rep. Christopher Shay)
50 The single biggest threat to man s continued dominance on the planet is a virus (Joshua Lederberg Medicine Nobel Prize Winner, 1958)
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