PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa. Rodrigo Altair Morato

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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa Rodrigo Altair Morato AS CATEGORIAS TEMPO E ASPECTO NA AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM UM ESTUDO À LUZ DA GRAMÁTICA GERATIVA Belo Horizonte 2014

2 Rodrigo Altair Morato AS CATEGORIAS TEMPO E ASPECTO NA AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM UM ESTUDO À LUZ DA GRAMÁTICA GERATIVA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa. Orientadora: Arabie Bezri Hermont Belo Horizonte 2014

3 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais M831c Morato, Rodrigo Altair As categorias tempo e aspecto na aquisição de linguagem: um estudo à luz da gramática gerativa / Rodrigo Altair Morato. Belo Horizonte, f.: il. Orientador: Arabie Bezri Hermont Dissertação (Mestrado) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Letras. 1. Gramática gerativa. 2. Crianças - Linguagem. 3. Língua portuguesa Tempo verbal. 4. Língua portuguesa Gramática. I. Hermont, Arabie Bezri. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Letras. III. Título. CDU:

4 Rodrigo Altair Morato AS CATEGORIAS TEMPO E ASPECTO NA AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM UM ESTUDO À LUZ DA GRAMÁTICA GERATIVA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa. Arabie Bezri Hermont (Orientadora) PUC Minas Ricardo Augusto de Souza (UFMG Letras) Denise Brandão de Oliveira e Britto (PUC Minas Fonoaudiologia ICBS) Maria Ângela Paulino Teixeira Lopes (PUC Minas Letras) Suplente Belo Horizonte, 28 de fevereiro de 2014.

5 À vovó Maria, minha heroína.

6 AGRADECIMENTOS A Deus, que é, para mim, razão e conforto. Ao CNPq, por subsidiar esse projeto e incentivar a pesquisa no país. Ao Giovani, meu porto-seguro. À Letícia (Branquinha), meu amor eterno. À minha família, sem a qual eu não sobreviveria. Aos meus amigos, que fazem da minha realidade um lindo sonho. Aos meus estimados professores de pós-graduação e membros da secretaria, exemplos de excelência. Aos meus professores de graduação, que foram inspiração e fizeram desabrochar uma parte de mim que nem eu mesmo conhecia. Aos meus professores da educação básica, que me permitiram sonhar. Aos amigos da True, pela torcida. Em especial, Gabriela, Léo e Patricia, pela compreensão. Aos colegas do mestrado, pessoas de grande generosidade. A todos os linguistas pesquisadores, que na busca de uma teoria, não se contentam com uma única explicação. Por último e, peça-chave nessa jornada, à minha orientadora, Arabie. Admirável docente, excepcional pesquisadora e mulher extremamente generosa. Sem ela meus esforços seriam inúteis e eu não teria chegado ao fim. Muito mais do que orientadora, foi calma para meu desespero e confiança para os meus medos. No sentido mais elevado de qualificação profissional e humana, ela é, de fato, das Arábias. Este não é o fim, mas uma pausa para reflexão. Muito obrigado aos que me deram as mãos, continuaremos juntos, pois, assim como poeta, gosto de pensar que todo ser humano é início, fim e meio.

7 Verbo Ser Que vai ser quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R. Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser Esquecer. Carlos Drummond de Andrade

8 RESUMO Esta dissertação teve como principal objetivo compreender como as categorias tempo e aspecto estão representadas na gramática de crianças em fase de aquisição de linguagem. Nossa pesquisa procurou constatar a dissociação da categoria de tempo e aspecto, verificar a possível existência de uma hierarquia na aquisição de tempo e aspecto e checar a influência do aspecto lexical sobre o aspecto gramatical. Para cumprir nossos objetivos, fizemos um estudo descritivo detalhado, apresentando postulados da Teoria Gerativa, mais especificamente a partir do modelo teórico de Princípios e Parâmetros e do Programa Minimalista. Apresentamos também propostas que tentam explicar o status das categorias funcionais na gramática mental das crianças em fase de aquisição de linguagem. Analisamos 14 gravações de falas espontâneas de uma criança, com idade entre um ano e cinco meses e quatro anos e dez meses. A análise constituiu-se da verificação de todas as ocorrências verbais produzidas pela criança, especificando o tempo verbal e os aspectos gramatical e lexical. A partir da descrição dos dados, estabelecemos diálogo com as abordagens sobre aquisição de categorias funcionais e, mais especificamente, tratamos da aquisição de tempo e aspecto. Diante dos nossos dados e das teorias de que nos valemos, chegamos à conclusão de que tempo e aspecto podem ser consideradas categorias dissociadas. Palavras-chave: Teoria Gerativa. Aquisição de Linguagem. Categorias Funcionais. Tempo. Aspecto.

9 ABSTRACT This study aimed to understand how tense and aspect categories are represented in the grammar of children during language acquisition. Our research sought to observe the dissociation of tense and aspect categories, verify the possible existence of a hierarchy in the acquisition of tense and aspect and check the influence of lexical aspect regarding the grammatical aspect. To accomplish our goals, we did a detailed descriptive study presenting postulates of the Generative Theory, more specifically of the theoretical model of Principles and Parameters and the Minimalist Program. We also presented proposals that attempt to explain the status of functional categories in the mental grammar of children during language acquisition. We have analyzed 14 recordings of spontaneous speech of a child, aged from one year and five months to four years and ten months. The analysis consisted of checking all verbal occurrences produced by the child, specifying the verbal tense, grammatical and lexical aspects. From the description of the data, we established a dialogue with the approaches on the acquisition of functional categories and, more specifically, we treated the acquisition of tense and aspect. Based on our data and theories studied, we concluded that tense and aspect can be considered dissociated categories. Keywords: Generative Theory. Language Acquisition. Functional Categories. Tense. Aspect.

10 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Trajetória Estudos da Teoria Gerativa FIGURA 2 Esquema Processual de Aquisição de Linguagem FIGURA 3 Esquema de Representação da Faculdade de Linguagem FIGURA 4 Esquema de Processamento da Linguagem FIGURA 5 Formação de Sintagmas FIGURA 6 Estrutura Sintagmática FIGURA 7 Derivação de uma sentença FIGURA 8 Árvore Sintagmática FIGURA 9 Representação do tempo FIGURA 10 Árvore sintática de Ouhalla FIGURA 11 Árvore sintática com nódulo de flexão FIGURA 12 Inserção da partícula de negação na árvore sintática FIGURA 13 Inserção da partícula ST e AGRP na árvore sintática FIGURA 14 Diagrama do parâmetro direcionalidade do núcleo FIGURA 15 Diagrama da Hierarquia de Parâmetros FIGURA 16: Configuração de línguas para dois parâmetros FIGURA 17 Esquema de melhor enquadramento Thornton e Tesan FIGURA 18 Esquema das categorias Funcionais

11 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Representação dos tempos verbais QUADRO 2 Traços distintivos para os Tipos Verbais QUADRO 3 Aspectos: perfectivo e imperfectivo QUADRO 4 Marcação temporal sem perífrase verbal QUADRO 5 Marcação temporal com perífrase verbal QUADRO 6 Regras de formação de pretérito irregular no Inglês QUADRO 7 Hierarquia de Parâmetros e o tempo de aquisição relacionado QUADRO 8 Avaliação do modelo de Wexler QUADRO 9 Avaliação do modelo de Yang QUADRO 10 Avaliação do modelo de Baker QUADRO 11 Exemplificação de Aspectualidade... 74

12 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Descrição dos Dados TABELA 2 Flexão verbal 1ª Gravação TABELA 3 Aspecto Gramatical e Lexical 1ª Gravação TABELA 4 Flexão verbal 2ª Gravação TABELA 5 Aspecto Gramatical e Lexical 2ª Gravação TABELA 6 Flexão verbal 3ª Gravação TABELA 7 Aspecto Gramatical e Lexical 3ª Gravação TABELA 8 Flexão verbal 4ª Gravação TABELA 9 Aspecto Gramatical e Lexical 4ª Gravação TABELA 10 Flexão verbal 5ª Gravação TABELA 11 Aspecto Gramatical e Lexical 5ª Gravação TABELA 12 Flexão verbal 6ª Gravação TABELA 13 Aspecto Gramatical e Lexical 6ª Gravação TABELA 14 Flexão verbal 7ª Gravação TABELA 15 Aspecto Gramatical e Lexical 7ª Gravação TABELA 16 Flexão verbal 8ª Gravação TABELA 17 Aspecto Gramatical e Lexical 8ª Gravação TABELA 18 Flexão verbal 9ª Gravação TABELA 19 Aspecto Gramatical e Lexical 9ª Gravação TABELA 20 Flexão verbal 10ª Gravação TABELA 21 Aspecto Gramatical e Lexical 10ª Gravação TABELA 22 Flexão verbal 11ª Gravação TABELA 23 Aspecto Gramatical e Lexical 11ª Gravação TABELA 24 Flexão verbal 12ª Gravação TABELA 25 Aspecto Gramatical e Lexical 12ª Gravação TABELA 26 Flexão verbal 13ª Gravação TABELA 27 Aspecto Gramatical e Lexical 13ª Gravação TABELA 28 Flexão verbal 14ª Gravação TABELA 29 Aspecto Gramatical e Lexical 14ª Gravação TABELA 30 Evidências de dissociação de Tempo e Aspecto

13 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 Flexão verbal 1ª Gravação GRÁFICO 2 Aspecto Gramatical e Lexical 1ª Gravação GRÁFICO 3 Flexão verbal 2ª Gravação GRÁFICO 4 Aspecto Gramatical e Lexical 2ª Gravação GRÁFICO 5 Flexão verbal 3ª Gravação GRÁFICO 6 Aspecto Gramatical e Lexical 3ª Gravação GRÁFICO 7 Flexão verbal 4ª Gravação GRÁFICO 8 Aspecto Gramatical e Lexical 4ª Gravação GRÁFICO 9: Flexão verbal 5ª Gravação GRÁFICO 10 Aspecto Gramatical e Lexical 5ª Gravação GRÁFICO 11 Flexão verbal 6ª Gravação GRÁFICO 12 Aspecto Gramatical e Lexical 6ª Gravação GRÁFICO 13 Flexão verbal 7ª Gravação GRÁFICO 14 Aspecto Gramatical e Lexical 7ª Gravação GRÁFICO 15 Flexão verbal 8ª Gravação GRÁFICO 16 Aspecto Gramatical e Lexical 8ª Gravação GRÁFICO 17 Flexão verbal 9ª Gravação GRÁFICO 18 Aspecto Gramatical e Lexical 9ª Gravação GRÁFICO 19 Flexão verbal 10ª Gravação GRÁFICO 20 Aspecto Gramatical e Lexical 10ª Gravação GRÁFICO 21 Flexão verbal 11ª Gravação GRÁFICO 22 Aspecto Gramatical e Lexical 11ª Gravação GRÁFICO 23 Flexão Verbal 12ª Gravação GRÁFICO 24 Aspecto Gramatical e Lexical 12ª Gravação GRÁFICO 25 Flexão verbal 13ª Gravação GRÁFICO 26 Aspecto Gramatical e Lexical 13ª Gravação GRÁFICO 27 Flexão verbal 14ª Gravação GRÁFICO 28 Aspecto Gramatical e Lexical 14ª Gravação GRÁFICO 29 Aparecimento das flexões verbais GRÁFICO 30 Surgimento do Aspecto Gramatical GRÁFICO 31 Contraste Aspecto Gramatical e Lexical

14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AGR Concordância ASP Aspecto AUX Auxiliar COMP Complementizador EPP Princípio de Projeção Estendida. FL Faculdade de Linguagem FLB Faculdade de Linguagem Ampla FLN Faculdade de Linguagem Estrita GU Gramática Universal INFL ou I Flexão IP Inflexion Phase (Sintagma de Flexão) ME Momento de Evento MF Momento de Fala MR Momento de Referência MV Modelo Variacional OI Infinitivo Opcional PSN Parâmetro do Sujeito Nulo RC Regras de Competição RCU Restrição de Checagem Única S Sentença SC Sintagma Complementizador SN Sintagma Nominal ST Sintagma de Tempo SV Sintagma Verbal T Tempo V Verbo WR Modelo de Regras e Palavras

15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO QUADRO TEÓRICO Pressupostos Gerativistas A derivação de uma sentença TEMPO E ASPECTO Tempo Aspecto Tempo e Aspecto: Nódulo de Flexão AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM A Corrente Maturacional A Corrente Continuísta A Proposta de Kenneth Wexler A Proposta de Charles Yang A Proposta de Mark Baker Avaliação das Propostas de Modelos Aquisição de Aspecto METODOLOGIA A escolha do método Os dados da pesquisa DESCRIÇÃO DOS DADOS Descrição individual das gravações ANÁLISE DOS RESULTADOS CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS

16 14 1 INTRODUÇÃO Podemos constatar, após o período da gênese da Teoria Gerativa, significativo aumento de trabalhos que pretenderam investigar a constituição da gramática mental de indivíduos adultos e de crianças em fase de aquisição de linguagem. Entretanto, mesmo diante de inúmeros trabalhos que fazem interseção com essa teoria e defendem ideia de que há uma competência anterior à experiência da criança no convívio com uma língua e que, portanto, existe um mecanismo inato para o processamento da linguagem, a presente pesquisa é importante porque pretende investigar como estão representadas as categorias tempo e aspecto na gramática mental humana. Até meados do último século, a concepção de linguagem era dada como uma condição social, decorrente de fenômenos externos ao indivíduo. Para Chomsky, no entanto, a linguagem diz respeito à capacidade humana de operar com uma língua, isto é, o comportamento linguístico dos indivíduos deve ser compreendido também como uma dotação genética, interna ao organismo humano. Desse modo, propôs-se, então, a ideia da Faculdade de Linguagem, uma vez que as crianças costumam dominar a língua materna, aparentemente sem grandes esforços, entre um ano e meio e três anos de idade. Optamos por adotar, nesta pesquisa, a postura assumida por Chomsky e outros pesquisadores gerativistas, já que compartilhamos da ideia de que todo ser humano é dotado por uma gramática universal, disponível desde o nascimento da criança. Mais especificamente, concordamos com a premissa de que existem categorias funcionais, responsáveis pela organização das sentenças nas diferentes línguas do mundo. Com isso, nos aliamos à Teoria Gerativa e às teorias de aquisição da linguagem desenvolvidas à luz daquela. Vale ainda dizer que as línguas naturais incorporam princípios que refletem a natureza da mente e que podem ser identificados. Trata-se de aspectos inatos da competência da criança. Esses princípios visam a explicar as propriedades atestadas nas gramáticas de todas as línguas naturais e formulam as propriedades invariantes da língua. Para a fixação de parâmetros, a criança vai utilizar as evidências apresentadas em sua experiência com a língua. São justamente as análises dessas evidências que propomos como objeto de trabalho. De acordo com Hermont (2005), depois do trabalho de Borer (1984), verificou-se que as categorias funcionais é que são as responsáveis pela fixação de parâmetros. A consequência disso é que as categorias funcionais passam a ser vistas como aquelas que realmente desencadeariam as diferenças entre as línguas. Elas é que seriam as responsáveis

17 15 pelo fato de uma língua licenciar sujeito nulo ou não, de ter sintagmas nominais com núcleo à direita ou à esquerda, de determinar a ordem sujeito-verbo ou a colocação do verbo em primeira, ou em segunda, ou em última posição em uma sentença. Então, estudos que focalizem as categorias funcionais têm grande importância exatamente porque o melhor entendimento de seu comportamento nos levará a uma compreensão mais clara acerca dos parâmetros e das diferenças entre as línguas. Esta pesquisa justifica-se porque possibilitará entender como está representada a categoria funcional tempo na gramática mental de crianças em fase de aquisição de linguagem. Atentando-nos, mais especificamente, sobre a categoria flexional tempo, podemos dizer que ela seria responsável pela noção de tempo verbal, e, mais do que isso, acreditamos que, na camada flexional, haveria ainda a noção de aspecto verbal. Nesse sentido, tempo, situaria o momento de um evento, que pode estar no passado, presente ou futuro. O aspecto verbal, de outro lado, estaria relacionado a distintas maneiras de se checar a constituição temporal interna da situação, isto é, dizer se a duração do evento é acabada ou inacabada. O objetivo principal desta dissertação é, portanto, compreender como as categorias tempo e aspecto estão representadas na gramática de uma criança em fase de aquisição da linguagem. Para tanto, faremos um estudo de caso, no qual verificaremos os morfemas flexionais relacionados às categorias ora delineadas a partir de gravações de uma criança em um período de aproximadamente quatro anos. Além disso, é objetivo deste trabalho verificar a relação entre aspecto gramatical (noções de perfectividade e imperfectividade) e aspecto lexical (noções de telicidade e atelicidade). A hipótese que lançamos neste trabalho é de que tempo e aspecto seriam noções funcionais dissociadas. Este estudo organizar-se-á da seguinte maneira: No capítulo 2, quadro teórico, explicitaremos a fundamentação teórica em que esta pesquisa está alicerçada. Nele, discorreremos pressupostos básicos sobre os Princípios e Parâmetros dentro do Programa Minimalista e trataremos dos estudos acerca das categorias funcionais sob a ótica gerativista. No capítulo 3, tempo e aspecto, explicitaremos as noções de que nos valemos para essa pesquisa, assim como uma definição capaz de justificar nossas premissas. No capítulo 4, aquisição de linguagem, abordaremos questões referentes à aquisição de linguagem à luz de três modelos teóricos distintos. No capítulo 5, metodologia, apresentaremos o modelo metodológico para realização de nossa pesquisa. No capítulo 6, descrição dos dados, descreveremos os dados coletados, já fazendo um encaminhamento para nossas conclusões.

18 16 No capítulo 7, análise dos resultados, trataremos da análise de nossos dados enviesando para as teorias de aquisição de linguagem capazes de acomodá-los. E, por último, no capítulo 8, faremos nossas considerações finais a respeito deste trabalho.

19 17 2 QUADRO TEÓRICO Esta pesquisa tem como principal alicerce teórico os pressupostos da Teoria Gerativa, sob os moldes do Programa Minimalista. O objetivo deste capítulo é demonstrar como essa teoria é pertinente ao nosso trabalho e como ela é capaz de sustentar nossos dados. O capítulo está dividido em duas seções. Na primeira seção, discorreremos a respeito dos principais conceitos da teoria adotada e, na segunda seção, trataremos das derivações das sentenças, tal como propõem os estudiosos gerativistas. 2.1 Pressupostos Gerativistas A Teoria Gerativa nasceu na segunda metade do século XX, período em que a teoria de Skinner estava no auge dos debates teóricos. A corrente da psicologia defendida por Skinner tinha um caráter majoritariamente empirista. As descobertas e o fazer científico se baseavam na experiência e a hipótese era a de que a criança só falava o que ouvia. Em 1957, Chomsky 1 publicou seu primeiro livro: Estruturas Sintáticas. A ocasião do lançamento deste livro é tida como a data do nascimento da linguística gerativa. Na obra de Chomsky, foram colocadas em choque duas vertentes: uma ligada ao empirismo e a outra ao racionalismo, sendo esta última a linha à qual ele se associa. A primeira baseava-se nas experiências externas à mente humana. A segunda teve início em Platão e contou com seguidores como René Descartes e Immanuel Kant, por exemplo. As pesquisas de Chomsky têm viés racionalista porque esse autor defende que os aparatos mentais são imprescindíveis para o conhecimento e estão disponíveis desde que o indivíduo nasce. Os estudos gerativistas se voltam para a realidade mental subjacente do falanteouvinte. Cada indivíduo possui, em sua mente, uma gramática, que é colocada em uso e é capaz de produzir inúmeras sentenças. O linguista deve determinar, por meio dos dados do desempenho (ou performance), o sistema subjacente de regras que foi dominado pelo falante-ouvinte e que ele põe em uso na performance efetiva (CHOMSKY, 1978, p. 84). Sendo assim, na visão de Chomsky, é preciso construir teorias que expliquem esse sistema subjacente e como ele é ativado. 1 Avram Noam Chomsky é conhecido como um dos fundadores dos estudos em Teoria Gerativa. É norteamericano, professor de linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.

20 18 Chomsky observou que adquirir uma língua natural 2, nos dois primeiros anos de vida, levando em conta que as frases ouvidas pelas crianças, por vezes, apresentam construções falhas, rupturas, hesitações, variações fônicas, etc. iam contra a hipótese empirista de que as crianças só falavam o que ouviam. Diante disso, propõe-se o Argumento da Pobreza de Estímulo (como ficou marcado pelos estudiosos da linguagem), que é uma variação do que conhecemos como Problema de Platão. Segundo Platão, havia poucas evidências e dados para o vasto conhecimento que os homens tinham do mundo. Chomsky sugere a ruptura com a tese do empirismo defendida no livro Verbal Behavior, de Skinner, o qual propunha que, a partir de estímulos, era possível prever respostas que eram confirmadas com reforços. O principal argumento de Chomsky contra essa postulação era a de que os estímulos apresentados às crianças na fase de aquisição da linguagem eram pobres e insuficientes. A partir disso, Chomsky lançou mão da hipótese de que existiria algo a mais na criança, do que propriamente a exposição à língua de sua comunidade, já que tal criança não fala só aquilo que é capaz de ouvir. A capacidade de fala de uma criança extrapola o empirismo com a língua. Desse modo, propôs-se, então, a noção de competência e de desempenho e a ideia de um mecanismo inato para aquilo que chamamos de Faculdade da Linguagem, uma vez que as crianças costumam dominar a língua materna, aparentemente sem grandes esforços, entre um ano e meio e três anos de idade. A competência pode ser entendida como aquilo que o falante sabe da sua língua, ou seja, é o conhecimento linguístico, que seria inconsciente e internalizado. Isto é, o falante nativo de uma língua tem, no nível mental, dispositivos que possibilitam inúmeras combinações a fim de formar palavras, sintagmas, sentenças, mas o real uso da linguagem, por parte desta pessoa, somente seleciona algumas combinações. Com isso, queremos declarar que o que realmente um falante produz ou entende em termos linguísticos, em uma ocasião concreta, é denominado desempenho. Chomsky dedica seus estudos à competência e não ao desempenho, apesar de sabermos que a competência é pesquisada a partir do desempenho. Ou seja, pelo uso, decorrente das estruturas efetivamente produzidas, estuda-se o que um falante sabe da língua. Dito de outro modo, competência é o conhecimento que o falante tem da gramática de sua língua e o desempenho é o uso desse conhecimento. Esses termos se contrastam e 2 Entenda-se língua natural como um sistema de comunicação verbal que se desenvolve espontaneamente no interior de uma comunidade (ex.: português, inglês, espanhol, mandarim, etc.).

21 19 evidenciam a divisão entre um conhecimento internalizado (competência) e um conhecimento que pode ser visível através da produção de sentenças (desempenho). Parafraseando o exemplo de Hermont e Lima (2010, p. 30), podemos dizer que a diferença entre conhecimento e uso pode ser comparada ao ato de andar de bicicleta (mesmo sabendo que nem todos sabem andar de bicicleta, esse exemplo nos parece bastante didático). Um ciclista conhece, de forma inconsciente (automática), todas as ações necessárias no ato de conduzir uma bicicleta: controlar o guidão, pedalar, aumentar e diminuir a força em cada pedalada, olhar para os lados, freios, etc.; no entanto, esse ciclista pode não saber explicar esses procedimentos durante sua ação, ou mesmo quando não está em atividade. O conhecimento para andar de bicicleta é o mesmo para todos os ciclistas, mas a maneira de condução da bicicleta, que seria o uso desse conhecimento, é variável de pessoa para pessoa. Nesse sentido, o inatismo deve ser entendido como uma capacidade biológica e, portanto, a linguagem também deve ser tomada como uma atribuição biológica, o que significa que o ser humano nasce com o aparato de uma Gramática Universal. Essa Gramática Universal (GU) seria o conjunto dos princípios linguísticos específico dos homo sapiens. A pesquisa em Gramática Gerativa apresenta um interesse em conhecer as propriedades estruturais de uma língua a partir de uma metodologia dedutiva 3 e traça um caminho para delimitar seu objeto de estudo que é a sintaxe. Os estudos da Gramática Gerativa chomskyana tenta responder a algumas questões principais: como é o sistema de conhecimentos internalizados na mente humana? Como esse sistema se desenvolve? Como o falante utiliza esse sistema em situações de fala? Quais mecanismos físicos são utilizados para o funcionamento desse sistema? A fim de explicitar o foco principal dos estudos da Teoria Gerativa, Borges Neto (2004) propõe o seguinte: 3 Metodologia científica que considera que a conclusão está implícita nas premissas e que o conhecimento não depende da experiência para confirmar conclusões. Geralmente, parte-se de um conhecimento geral e vai para o mais específico.

22 20 Figura 1 - Trajetória Estudos da Teoria Gerativa Linguagem Desempenho Competência Fonologia Semântica Sintaxe Particular Universal Parâmetros Princípios Fonte: BORGES NETO (2004, p.57.) Conforme o esquema anterior, nos estudos sobre a linguagem, Chomsky opta pelo estudo da competência em detrimento ao desempenho. Na competência, ele foca os estudos na sintaxe e, nela, o núcleo dos estudos é uma gramática universal em que os princípios são mais centrais que os parâmetros. Anterior ao nascimento da Teoria Gerativa, a concepção de linguagem era dada como uma condição social, decorrente de fenômenos externos ao indivíduo. Para Chomsky, entretanto, a linguagem diz respeito à capacidade humana de operar com uma língua, isto é, o comportamento linguístico dos indivíduos deve ser compreendido também como uma dotação genética, interna ao organismo humano, conforme dito anteriormente. Por este viés, a língua é considerada como um objeto da mente. A proposição fundamental da teoria da Gramática Universal, formulada por Chomsky, é a de que a criança nasce biologicamente equipada com uma gramática, na qual se encontram todos os dispositivos que possibilitam a aquisição de uma língua natural. E, justamente por possuir um aparato comum a toda espécie humana, é que a gramática pode ser considerada universal. Nesse sentido, a ideia do universal se sobrepõe a do particular. A GU pode se concebida como um conjunto das propriedades gramaticais compartilhadas por todas as línguas naturais, bem como as diferenças entre elas que são previsíveis segundo as diversas opções disponíveis na própria GU. A capacidade e a habilidade de adquirir uma língua nativa são partes de uma dotação genética, bem como aprender a andar. Assim sendo, capacidade de adquirir linguagem é natural da mente humana e puramente humana, pois essa corrente de pensamento defende a

23 21 ideia de que a linguagem, complexa como é, constitui-se como uma das coisas que diferenciam os homens dos animais. (cf. Hauser, Chomsky, Fitch, 2002). Assim sendo, a aquisição da linguagem pela criança é determinada por uma faculdade inata de linguagem e pode ser entendida como um tipo de algoritmo. Ou seja, como um dispositivo biológico (inato) parte de todos os seres humanos, que nos fornece um sistema gerativo, um conjunto de instruções sequenciais, como as inscritas em um programa de computador. Em outras palavras, a Faculdade de Linguagem é um programa de aquisição da língua a partir de algoritmos transmitidos geneticamente para desenvolver uma gramática, que é baseada em experiências linguísticas das crianças. Esse sistema natural torna-nos competentes a adquirir a gramática de uma língua. Vejamos isso em forma de esquema retirado de Radford (2004): Figura 2 Esquema Processual de Aquisição de Linguagem Experiência da Linguagem Faculdade da Linguagem Gramática da Língua Fonte: RADFORD (2004, p.11) A partir das proposições gerativistas, as concepções de linguagem deixam de ser entendidas como fenômenos puramente sociais e passam a ser vistas como propriedades mentais do ser humano, como algo inato. Hauser, Chomsky e Fitch (op. cit.) concebem a Faculdade de Linguagem em Sentido Amplo e Estrito, sendo que as duas proposições estão diretamente relacionadas, pois uma faz interface com a outra. Para eles, a Faculdade de Linguagem no Sentido Amplo FLB (Faculty of Language in Broad Sense) contempla os sistemas conceptual-intencional, sensório-motor, e outros sistemas intermediários, ao passo que a Faculdade de Linguagem em Sentido Estrito FNL (Faculty of Langue in the Narrow Sense) inclui o sistema

24 22 computacional gramatical, que é responsável pela capacidade humana de recursividade. Desse modo, a FLN estaria diretamente associada à FLB. O sistema conceptual-intencional diz respeito ao pensamento, ou seja, ao significado que os indivíduos produzem para a língua. Esse sistema diz respeito à percepção de cada indivíduo, seja através de palavras, números, atitude, postura, etc. Diferentemente deste sistema, cujos resultados podem ser os mais distintos, o sistema sensório-motor é responsável pela parte concreta da linguagem, pois é através dele que o indivíduo pode processar os sons e/ou sinais (no caso das línguas de sinais) e produzi-los. O sistema sensório-motor diz respeito à nossa capacidade de utilizar o corpo para algo que desejamos. O sistema computacional da gramática, por sua vez, pode ser entendido como específico da linguagem e tem a função de processar o dado linguístico, organizar as palavras e processar as sentenças, gerando, assim, a capacidade de recursividade. Embora seja possível percebermos recursividade em sequências numéricas e figuras geométricas, ela é mais visível no uso que o homem faz da língua. A recursividade está imbricada no sistema computacional humano, pois um número limitado de possibilidade de formação de estruturas permite a formação infinita de sentenças. Nas palavras de Hauser et al. (op. cit): FLB contains a wide variety of cognitive and perceptual mechanisms shared with other species, but only those mechanisms underlying FLN particularly its capacity for discrete infinity are uniquely human. This hypothesis suggests that all peripheral components of FLB are shared with other animals, in more or less the same form as they exist in humans, with differences of quantity rather than kind. What is unique to our species is quite specific to FLN, and includes its internal operations as well as its interface with the other organism-internal systems of FLB. (HAUSER; CHOMSKY; FITCH, 2002, p. 1573) 4 A figura a seguir, proposta por Hauser, Chomsky e Fitch (2002), permite uma visualização mais compacta do que seria o órgão mental da Faculdade de Linguagem.. 4 Nossa tradução: A Faculdade da Linguagem Ampla contém uma grande variedade de mecanismos cognitivos e perceptuais divididos com outras espécies, mas somente aqueles mecanismos subjacentes à Faculdade da Linguagem Estrita particularmente sua capacidade para infinidade discreta são unicamente humanas. Essa hipótese sugere que todos os componentes periféricos da Faculdade da Linguagem Ampla são divididos com outros animais, mais ou menos da mesma forma como ocorre com os humanos, com diferenças que dizem mais respeito à quantidade do que ao tipo. O que é único de nossa espécie é bastante específico à Faculdade da Linguagem Estrita e inclui suas operações internas tanto quanto sua interface com os outros sistemas internos ao organismo da Faculdade de Linguagem Ampla.

25 23 Figura 3 Esquema de Representação da Faculdade de Linguagem Fonte: HAUSER; CHOMSKY; FITCH; (2002, p.1570) Optamos por adotar neste trabalho a postura assumida pelos autores acima, em que consideramos os sistemas sensório-motor e conceptual-intencional como pertencentes à Faculdade de Linguagem em seu Sentido Amplo, os quais fazem interface com o sistema computacional, Faculdade da Linguagem Estrita (FLN). Podemos relacionar a figura anterior com as operações feitas pelo órgão mental da linguagem, mais especificamente pela FLN, com o seguinte esquema proposto pelo Programa Minimalista: Figura 4 Esquema de Processamento da Linguagem Fonte: HERMONT; LIMA (2010, p.50) Passemos, agora, a explicitar o esquema anterior. As palavras estariam em um componente chamado léxico (com traços semânticos e formais) e seriam selecionadas para formar as sentenças. Essa seleção recebe o nome select e forma uma numeração. A

26 24 numeração seria o conjunto de itens lexicais selecionados. A proposta é que, na maioria das vezes, os itens já viriam da numeração com traços definidos, como, por exemplo, traços de gênero, de número plural, de categoria, de caso, etc. Após a seleção de palavras no léxico, ocorreria, no sistema computacional, a formação das sentenças. Para que a sentença formada no sistema computacional seja expressa e compreendida, uma operação chamada spell-out entraria em ação. É ela que permitiria a divisão da estrutura sintática para as interfaces fonológica e semântica. A sentença formada passaria, então, pela representação fonológica, onde ganharia forma para haver a articulação dos sons da fala: seria como uma coleta de códigos para uma amostragem de como a sentença seria dita e ouvida, ou seja, a forma fonológica faz interface com o sistema da fala. Também há a representação semântica, diretamente ligada ao mundo das intenções e significados. Seria a parte em que a mente compreenderia a sentença. Em sua abordagem formalista, a Teoria Gerativa concebe a sintaxe como um objeto autônomo. A partir dessa ideia de autonomia, tem-se a concepção de modularidade mental e modularidade linguística, sendo a sintaxe um dos módulos. A concepção de modularidade admite que o desenvolvimento da linguagem seja independente de outros aspectos mentais, embora eles estabeleçam comunicação com os demais sistemas linguísticos. Um exemplo comum para expressar a ideia de que a modularidade mental e modularidade linguística é o caso da menina Genie 5, que viveu até aos seus 13 anos em isolamento. Após ser resgatada, passou a inúmeros tratamentos psicológicos. Desde o início do tratamento, diversas questões sobre o desenvolvimento da linguagem e sobre os períodos críticos de sua aquisição foram levantadas a partir das observações e dos estudos feitos com Genie. Os resultados de diferentes testes 6 de compreensão demonstraram que ela estava aprendendo habilidades linguísticas tais como noções de singular e plural, sentenças afirmativas e negativas, construções possessivas, estruturas com sentenças encaixadas que são precedidas por preposições e conjunções, etc. De acordo com Curtiss (1981), muitos aspectos do desenvolvimento da linguagem de Genie se deram na mesma sequência em que acontece o desenvolvimento da linguagem em crianças sob condições típicas e foram identificados expressivos avanços na emergência de linguagem em Genie, já que seu vocabulário desenvolveu-se bastante. Entretanto, em outros 5 O Caso Genie ficou famoso no mundo todo por diversos motivos, entretanto, a parte que nos interessa aqui diz respeito somente à pesquisa linguística. 6 Para melhor compreensão do caso, sugerimos a leitura da pesquisa de Susan Curtiss em 1977 (Genie: A Psycholinguistic Study of a Modern-Day Wild Child, Academic Press).

27 25 pontos, as habilidades de linguagem de Genie (as habilidades sintáticas, por exemplo) não se manifestaram conforme o esperado. A menina não conseguia produzir sentenças com um nível de complexidade maior. Por exemplo, ela tinha dificuldade de construir sentenças na voz passiva, com palavras indicativas de interrogação (qual, onde, por que) e com palavras demonstrativas (isto, este, aquilo), etc. Podemos dizer que o desenvolvimento de Genie foi diferente (em relação a indivíduos típicos) basicamente em dois aspectos: primeiro, em relação à habilidade semântica (a aquisição de vocabulário foi rápida e extensiva) e, segundo, a disparidade entre a sua sintaxe comprometida e a semântica relativamente intacta. Embora estejam diretamente relacionadas e uma esteja a serviço da outra, sintaxe e semântica são processadas em momentos distintos. Nesta perspectiva, o conceito de modularidade se sustenta. Tal conceito de modularidade propõe a existência de aparatos cognitivos (módulos) dedicados a tarefas específicas e independentes. Assim, no âmbito da mente, o módulo gramatical não seria encarado como fenômeno de processos cognitivos mais gerais. Diante disso, acredita-se que há um dispositivo que aciona, de forma autônoma, a construção das sentenças, que seria o sistema computacional. Consequentemente, tem-se a hipótese de que há uma modularidade linguística. Existiria, mentalmente, um módulo que se dedicaria à sintaxe. Sentenças como Aluno com escreveu caneta na não seriam ditas, por outro lado, poderia ser construída a sentença: O rinoceronte voador usa óculos de chiclete. Isso nos permite chegar ao raciocínio de que a construção das estruturas é anterior à sua compreensão. É possível construir sentenças sem valor semântico, mas não é possível construir estruturas sem valor sintático. Esses são argumentos que podem ser usados para sustentar as hipóteses de uma modularidade mental e de que a sintaxe age de forma autônoma. Um ser humano tido como cognitivamente completo não constrói, espontaneamente, uma sentença de estrutura incompreensível. Desse modo, a gramática e a sintaxe (em uma perspectiva natural) são modelos de design perfeitos. Acredita-se que exista um dispositivo que, autonomamente, aciona a emersão da sintaxe em cada indivíduo. Nesta perspectiva, todo sistema seria fechado e recursivo, a Faculdade de Linguagem não permitiria formulações/processamentos aleatórios, daí a razão de aprendermos uma língua em curtíssimo espaço de tempo. Por conseguinte, a proposta é que a gramática é regida pelos princípios da universalidade, ou seja, ela é comum a todos os falantes, independentemente do idioma falado. Ela pode ser entendida como uma propriedade inata e que, a partir dela, com seus dispositivos universais, cada um desenvolveria uma língua natural. Para explicar a diferença

28 26 entra as estruturas das línguas, desde fins da década de 70 e início da década de 80, foi concebida a teoria dos Princípios e Parâmetros. Os Princípios seriam as propriedades universais das línguas naturais, ou seja, aspectos gramaticais inerentes a todas as línguas do mundo. Por outro lado, os Parâmetros podem ser concebidos como as possibilidades de variação entre as línguas, isto é, as possibilidades de diferenças sintáticas entre as línguas naturais. A hipótese é que, ao adquirir a linguagem, a criança partiria de um estado inicial e, com a ajuda de estímulos ao seu redor, referentes a uma determinada língua natural, ela dominaria, de fato, a gramática da sua língua. Nesse horizonte, os princípios se referem a esse estágio inicial pertencente à GU. Eles seriam como dados iniciais mentais presentes em todos os indivíduos, independentemente de sua língua natural e seriam dados gerais e invariáveis. A partir de tais princípios, os indivíduos fixariam parâmetros particulares de cada língua. A ideia é que os princípios sejam gerais, enquanto os parâmetros sejam particulares. Um exemplo para a diferenciação entre Princípios e Parâmetros seria a questão do sujeito. A existência de sujeito em todas as orações é um princípio, quer dizer, todas as línguas apresentam sujeitos nas orações, porém, há línguas em que o sujeito deve ser foneticamente presente e, em outras, ele pode ser foneticamente nulo, isso seria um parâmetro, conhecido como Parâmetro do Sujeito Nulo (PSN). Abaixo apresentaremos um exemplo concreto entre o italiano e o inglês no qual o primeiro aceita sujeito nulo e o segundo, não. Os exemplos foram retirados de Radford (2004, p.17): Falante do italiano: (a) Maria parla francese (Maria fala francês) Falante do inglês: (c) Maria speaks French (Maria fala francês) (b) Parla francese (Fala francês) (d) * 7 Speaks French (Fala francês mas não marca se é 1ª, 2ª ou 3ª pessoa) A posição do núcleo e do complemento nas frases também é um exemplo de parâmetros. No inglês, os núcleos normalmente precedem seus complementos; entretanto, em línguas como o coreano, isso não ocorre. Veja mais alguns exemplos retirados de Radford (2004, p.17): 7 O asterisco representa a agramaticalidade de uma sentença, ou seja, ela não é uma sentença estruturalmente produzida em uma determinada língua.

29 27 Falante do inglês: (a) Close the door (Feche a porta) (b) desire for change (desejo de mudança) Falante do coreano: (c) Muneul dadara (d) byunhwa-edaehan galmang (A porta feche) (mudança de desejo) É pela proposta dos Princípios e Parâmetros que a postulação da GU se consolida, pois eles evidenciam que, em todas as línguas do mundo, existem diferenças, mas também mostram que, em todas elas, encontramos interseções subjacentes nas estruturas sintáticas. Outra preocupação que os estudos em Gerativa têm é a de entender como a língua é adquirida. Nesta perspectiva, pesquisadores gerativistas passaram a questionar se a aquisição da linguagem poderia ocorrer através de evidências positivas e negativas. As evidências negativas seriam diretas e indiretas: estas se dariam na ocorrência de certos tipos de sentenças impossíveis na língua, enquanto aquelas nas manifestações correções de erros infantis, por parte de adultos. As evidências positivas, por sua vez, tratariam da aprendizagem de maneira empírica, a vivência capacitaria a criança a fixar parâmetros, isto é, à medida que ouvisse as sentenças, a criança fixaria parâmetros específicos daquela língua. No entanto, esses pesquisadores perceberam que as crianças não adquirem a linguagem a partir de evidência negativa direta, pois as correções não ocorreriam com a mesma regularidade que as experiências da evidência positiva. Além disso, as crianças continuariam a cometer erros, mesmo sendo corrigidas por pais ou por outros adultos. A evidência negativa indireta também foi excluída, uma vez que a criança não consegue fixar o parâmetro apropriado à sua língua, ouvindo estruturas que não existem nessa língua (HERMONT & LIMA, 2010, p.35). Assim, chega-se à conclusão de que a criança adquire uma língua por ser dotada da GU e a partir de evidências linguísticas positivas. Uma vez que compreendemos a linguagem como universal e entendemos que, na língua, primeiramente, se forma a estrutura para, depois, se formularem as sentenças, parece coerente pensar que os mecanismos responsáveis pelos movimentos que ocorrem na sentença para configuração estrutural seriam imprescindíveis na fase de aquisição de linguagem. As categorias funcionais que, em princípio, parecem portar noções gramaticais poderiam ser enquadradas como um desses mecanismos que desencadeiam e aceleram o processo de aquisição de linguagem da forma rápida como se dá. É sobre a importância das categorias funcionais e a derivação de uma sentença que a próxima seção tratará.

30 A derivação de uma sentença Nesta seção, trataremos das categorias lexicais e categorias funcionais e, além disso, tentaremos explicar como funciona a modelo de derivação de uma sentença, tal como proposto pelos pesquisadores da Teoria Gerativa. Esses assuntos são peça-chave para o desenvolvimento deste trabalho, uma vez que temos a hipótese de que nosso objeto de estudo, as categorias tempo e aspecto, constituem duas categorias funcionais e que, por essa razão, devem ser consideradas elementos constituintes da estrutura de uma sentença. Em um estudo como o nosso, em que se propõe a entender a natureza da Faculdade da Linguagem, a unidade básica de análise é a sentença, que pode ser tida como a consequência da interação entre as categorias lexicais e as categorias funcionais. As categorias lexicais são o resultado da projeção de núcleos lexicais, tais como os verbos e os nomes. As categorias funcionais, por outro lado, dizem respeito ao resultado da projeção de núcleos funcionais. As categorias funcionais servem, primeiramente, para carregar informação sobre a função gramatical de tipos particulares de expressões dentro de uma sentença. Elas estão relacionadas, por exemplo, à desinência, ao número, ao modo e à pessoa. As categorias funcionais são consideradas uma classe fechada, uma vez que as palavras correspondentes a elas são finitas. Determinantes e complementizadores são tidos como as principais categorias funcionais. A categoria de determinantes diz respeito à especificação da expressão substantiva, por exemplo, em uma expressão como a menina, o a é o elemento determinante e age como um especificador para o substantivo menina, pois carrega a noção de gênero (feminino) e número (singular). Se isolarmos o a, ele não fará o menor sentido, sua natureza é prioritariamente gramatical. A categoria de complementizadores tem, basicamente, três funções: a) estabelece que as sentenças por ela introduzidas sejam orações encaixadas, por exemplo: O Rodrigo disse que a Letícia passou no vestibular de medicina ; b) indica se a oração por ela introduzida é finita ou infinita, por exemplo: Letícia disse que gosta de medicina (em que gosta está flexionado no presente, na terceira pessoa do singular) ou Eu disse para Letícia fazer a prova (em que fazer não está flexionado); c) expressa a força da sentença que introduzem, isto é, se é interrogativa ou assertiva, etc. São exemplos: Você sabe se a fila é aqui mesmo? e Eu sei que você vai conseguir. Na proposição da sintaxe gerativa, as categorias funcionais, assim como as categorias lexicais, cumprem a função de núcleo. Podemos dizer que são os traços das categorias

31 29 funcionais que possibilitam a derivação de uma sentença, ou seja, a sintaxe é motivada pela manifestação dos traços das categorias funcionais. Esses traços são formais e trazem informações para serem usadas no sistema computacional, ou seja, estabelecem relações que os itens lexicais devem ter entre si no interior de uma sentença. O item lexical jogar, como na frase, João joga a bola, traz traços formais como: é verbo, localiza-se no núcleo do sintagma verbal, apresenta dois argumentos, um para quem joga e outro para o que é jogado e é um item que precisa receber marcas de tempo, modo, aspecto, número e pessoa. E assim como jogar precisa receber traços formais, fonológicos e semânticos, todos os itens do léxico também deverão receber esses traços. Um traço formal muito importante na elaboração de sentenças é o traço categorial. É ele que define a posição do item na sentença. No caso de jogar, o traço categorial levará a informação para o sistema computacional de que esse item deve ocupar uma posição de núcleo do predicado da oração e não de sujeito ou de objeto. No caso de uma palavra como bola, por exemplo, a situação é diferente, o item receberá a informação que ele faz parte de uma categoria de nome e não de verbo. É possível dizer que, a partir dos traços formais vindos do léxico, é que os itens sofrem diferentes operações na sintaxe, ou seja, o sistema computacional é regulado a partir dos traços lexicais. Consequentemente, a diferença entre as línguas tem relação com o léxico, o que nos faz acreditar que os diversos parâmetros que diferem as línguas também têm relação direta com o léxico. As sentenças são formadas por uma série de operações merge e move e podem ser representadas através de um diagrama em forma de árvore. Nesta formação de estruturas, têmse os sintagmas que são agrupamentos de palavras e que apresentam um núcleo. Para fins didáticos, vamos admitir que nas árvores existam três 8 posições para cada sintagma: projeção máxima, projeção intermediária e projeção mínima. Esses três diferentes níveis de projeção denotam classificações a respeito de sintagmas e palavras nas sentenças. Uma projeção máxima é um sintagma, uma projeção intermediária é constituída pelo núcleo e pelo complemento. A projeção mínima seria, por exemplo, o núcleo verbal ou nominal, ou seja, um dos extremos da classificação do sintagma. Observe, agora, o exemplo de um sintagma (um SN): 8 No Programa Minimalista, não se adotam mais as posições intermediárias, mas, como é didático e consagrado na literatura, para facilitar a compreensão, vamos manter a noção de três projeções, incluindo a intermediária.

32 30 Figura 5 Formação de Sintagmas Fonte: Exemplo elaborado pelo autor Os sintagmas são representados como galhos de uma árvore em uma combinação binária, chamados, na Teoria Gerativa, de forma arbórea. As árvores são as representações sintáticas no sistema computacional, quer dizer, representamos, na árvore, o que ocorre dentro do sistema computacional no momento em que a sentença é produzida. Os itens lexicais, com seus traços, entrariam, no sistema computacional e lá ocorreriam operações como merge, em que palavras e expressões se juntam de duas a duas. A hipótese é que a construção da sentença se dê de forma mais rápida dentro da mente. Além dessa operação, dentro da sintaxe, ocorreria a operação move (ou movimento), que, como o próprio nome indica, movimenta os itens na sentença. A operação em que as palavras se juntam de duas em duas é um dos princípios da língua chamado de Princípio da Binaridade. As sentenças são formadas por sintagmas. Uma sentença é formada por um sintagma complementizador (SC), um sintagma flexional (ST), um sintagma do verbo light ou leve (Sv), um sintagma verbal (SV) e sintagma nominal (SN). Todo sintagma apresenta um especificador, um núcleo e um complemento. Ele tem que ter um núcleo e a combinação dois a dois. O esqueleto arbóreo de uma sentença seria assim:

33 31 Figura 6 Estrutura Sintagmática Fonte: Elaborada pelo autor Em algumas sentenças, serão necessárias operações como move, em que as palavras que já estão na árvore (devido à operação merge) se movimentariam, de baixo para cima. A sentença A menina pulou corda nasceria assim: Figura 7 Derivação de uma sentença Fonte: Exemplo elaborado pelo autor

34 32 A hipótese é que uma operação denominada Agree faria com que o traço de tempo, presente no núcleo de ST (sintagma de tempo) valorasse o traço de tempo (ainda ausente) em V pul-. O verbo teria antes recebido os traços do núcleo causativo leve (em v de Sv) e depois haveria, então, a valoração dos traços de tempo. Vale dizer que, nessa movimentação, ele deixaria uma cópia. Dessa forma, ao visualizarmos o processo final, na árvore, é como se alguns sintagmas estivessem vazios, mas, na verdade, eles estariam preenchidos com cópias. Após a operação move 9, a sentença anterior ficaria assim: Figura 8 Árvore Sintagmática SC 10 Esp Ø C ST T A menina pulou Sv v A menina v Esp SV V pula corda Fonte: Exemplo elaborado pelo autor 9 Nos últimos tempos, a noção move (movimento) foi substituída pela noção de attract (atração) e logo em seguida, pela noção de agree, que pressupõe a transmissão de traços por parte da categoria que tem traços valorados a uma categoria que ainda não tem os traços correspondentes valorados. 10 Toda árvore também possui o Sintagma Complementizador (SC). Tal sintagma mostra a força de uma sentença. Nele há a informação se a sentença será exclamativa, interrogativa ou afirmativa. No entanto, por vezes, como acontece com orações declarativas principais, o SC não será ocupado por elementos foneticamente explícitos, a não ser que haja elementos (que, se, para) que indiquem que a oração é subordinada.

35 33 O verbo principal de uma sentença, por exemplo, nasceria no núcleo SV, mas ele subiria na árvore para encontrar os traços de tempo, de número e pessoa. Já o sujeito da oração nasceria no especificador de Sv, e, no especificador de ST, haveria um traço, chamado de traço de EPP 11, que atrairia o sujeito. Após cada movimentação feita, não há possibilidade de voltar e se refazer nada, por isso se diz que o sistema é perfeito e não erra. A cada operação finalizada na sintaxe, a sentença é enviada para receber sua forma fonológica e sua forma lógica. Após ter passado pela sintaxe, a sentença não volta, precisa obrigatoriamente ser enviada ao Spell-out e passar pela divisão das formas fonológica e lógica. Diante do que foi exposto, fica claro que o pressuposto da Gramática Gerativa é de que se trata de uma teoria explicativa e não apenas descritiva. Estudar as línguas naturais diz respeito à pesquisa da competência a partir do desempenho. Mostramos até aqui que a Teoria Gerativa nasceu da necessidade de uma postulação científica a respeito das nossas capacidades de linguagem. Ao longo do texto, tentamos explicar como surge a Teoria Gerativa e como ela concebe os conceitos de faculdade da linguagem, competência e desempenho, GU, inatismo, Princípios e Parâmetros, Programa Minimalista, categorias lexicais e funcionais, traços, formação de sentenças e construção dos sistemas arbóreos. No próximo capítulo, faremos um aprofundamento das noções das categorias tempo e aspecto. 11 EPP: Extended Projection Principle (Princípio da Projeção Estendida). Foi um princípio definido para que certos núcleos tenham um especificador, ou seja, uma exigência para que as sentenças tenham um sujeito.

36 34 3 TEMPO E ASPECTO Pretendemos, com este capítulo, apresentar as principais noções de tempo e de aspecto para, em seguida, demonstrar como tais categorias são vislumbradas no arcabouço da Teoria Gerativa. As discussões mais simples acerca do fenômeno tempo nos levam aos debates sobre verbo entre pensadores gregos. É da tradição greco-romana que herdamos postulados que se refletem na nossa atual compreensão e categorização do fenômeno tempo relacionado ao verbo. Segundo Lyons (1977), Platão definia verbo como a palavra que denota ação e os povos estoicos compreendiam tempo como três momentos distintos: passado, presente e futuro. Para o autor, essa é uma visão herdada integralmente pela tradição gramatical do ocidente, amplamente difundida e considerada fundamental para o entendimento acerca da maneira como o homem concebe o tempo. Ainda de acordo com Lyons (op. cit.), o gramático romano Varrão estabeleceu a distinção entre processo concluído (perfectum) e processo não concluído (infectum), demonstrando o entendimento de que esse fenômeno é ainda mais complexo do que os gregos afirmavam. Na linguística dos séculos XX e XXI, as percepções que o homem tem da existência e do transcorrer do tempo expressam-se através de, basicamente, duas facetas distintas, porém relacionadas. São elas: o tempo e o aspecto verbais (VENDLER, 1967; COMRIE, 1976; LYONS, 1977). Comrie (1976) propõe que tempo e aspecto sejam categorias distintas, com conceitos diferentes. Tempo, segundo o autor, é uma categoria dêitica 12, ou seja, relaciona um determinado fato a um ponto no tempo. Toda vez que nos referimos a um acontecimento anterior, concomitante ou posterior ao momento da fala, estamos nos referindo a essa faceta dêitica através do uso dos tempos verbais, ocasionalmente em associação com alguns advérbios (ex.: agora, ontem, hoje, amanhã). Segundo Comrie (1976, p. 9), o tempo verbal é a expressão gramaticalizada da localização no tempo em relação a um contexto criado e sustentado no próprio ato falante, sendo, pois, externo à situação propriamente dita. 12 De acordo com o dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, a palavra dêixis quer dizer: característica da linguagem humana que consiste em fazer um enunciado, referir-se a uma situação definida, real ou imaginária, que pode ser: a) quanto aos participantes do ato de enunciação (1ª pessoa o que fala; 2ª pessoa aquele a quem se dirige a fala; 3ª pessoa todo assunto da comunicação, que não sejam a 1ª e 2ª pessoas); b) quanto ao momento da enunciação (díxis temporal); c) quanto ao lugar onde ocorre a ação, estado ou processo (díxis espacial).

37 35 O aspecto, por sua vez, ainda de acordo com Comrie (1976, p. 3), são diferentes maneiras de ver a constituição interna de uma situação. Ao contrário do tempo verbal, o aspecto tem, como foco, a situação descrita, independentemente de sua relação com o momento da fala. Trata-se uma categoria não dêitica, isto é, não estabelece o tempo da fala. O aspecto aponta a constituição temporal interna da situação descrita. O autor afirma que a noção expressa pelo aspecto é algo conceitual, que vai além de uma simples expressão linguística. Parece-nos pertinente relacionar a ideia de tempo com a noção aspectual de completude/incompletude. Varrão, conforme já referido, cunhou os termos perfectum e infectum, posteriormente traduzidos como perfeito e imperfeito. Embora as categorias tempo e aspecto tenham sido alvo de interesse de filósofos e estudiosos da linguagem há centenas de anos, somente nos últimos tempos (meados do século XX em diante), esse interesse sistematizou-se, passando a integrar os postulados de diferentes teorias linguísticas. O objetivo deste capítulo é o de expor as noções de tempo e aspecto a fim de deixar clara a distinção entre as duas categorias. Assim, o objetivo é proporcionar uma visão panorâmica que compreenda o processo de aquisição de tempo e aspecto e, mais especificamente, temos como meta delimitar o objeto com o qual lidaremos em nossa pesquisa: o tempo e o aspecto flexionais. 3.1 Tempo Tomamos como base teórica o conceito de tempo verbal encontrado em Comrie (1976), em que se sugere que a expressão gramatical da localização temporal está relacionada a um momento que se refere a outro tempo de fala. Isto é, o tempo verbal só existe se contrastado a três momentos de fala distintos: passado, presente e futuro. Esses três tempos verbais descrevem o momento anterior, o simultâneo e o posterior, respectivamente. Comrie (1985) propôs o seguinte diagrama a fim de analisar as expressões sobre o tempo: Figura 9 Representação do tempo Passado 0 Futuro Fonte: COMRIE (1985, p.2)

38 36 O marco zero representa o agora, ou seja, o momento presente. A partir deste marco, tudo que vier à sua esquerda indica que seu início ocorreu no passado, sendo que seu ponto de culminação pode ser: a) anterior ao presente, exemplo: O menino jogou a bola, evento com ponto de culminância é anterior ao marco zero, b) no momento da enunciação (ponto zero), exemplo: Ela está chorando, evento é concomitante ao momento da enunciação ou c) manter-se contínuo extrapolando o momento presente, exemplo: Ela continuará vendendo doces, evento contínuo, permanente. Reforçando as ideias de Comrie, trazemos Travaglia (2006) que diz o seguinte: A categoria tempo situa o momento de ocorrência da situação a que nos referimos em relação ao momento da fala como anterior (passado), simultâneo (presente) e posterior (futuro) a esse momento. É uma categoria dêitica, uma vez que indica o momento da situação relativamente à situação de enunciação. Aqui temos uma datação (grifos do autor); (TRAVAGLIA, 2006, p. 39) De acordo com Corôa (2005), podemos dividir tempo de três maneiras: o tempo absoluto, o relacional e o relativo. O tempo absoluto é aquele baseado nas definições de Newton, cuja ideia defendida foi a de que o tempo existe por ele mesmo, isto é, independe de eventos, corre linearmente em direção ao futuro. O tempo relacional está ligado às postulações de filósofos gregos, que propunham a existência do tempo condicionada aos eventos, dessa forma, o tempo é subsequente ao evento, só existe se existir o evento. A última divisão, tempo relativo, parte do pressuposto que se pode dar um valor de verdade a partir de uma referência. Dessas definições, a última é a que parece explicar melhor a noção de tempos verbais, já que relações e designações temporais são relativas. No entanto, é importante frisar que a relatividade não é absoluta, pois diz respeito a um sistema de referências e não trata de observadores individuais arbitrários. O tempo relativo pode ser entendido também como tempo gramatical, tem a ver com os recursos que a língua utiliza para situar pretérito, presente e futuro. Geralmente, a classe gramatical que mais e melhor desempenha essa função são os verbos. No inglês, talvez essa distinção fique mais clara, já que são designadas duas palavras para distinguir a compreensão do tempo semântico do tempo gramatical, são elas: time e tense, no entanto, não temos essa distinção em português. Embora representem conceitos distintos, as noções de tempo semântico e tempo gramatical estão em interseção. Para esclarecer essa noção, Reichenbach (1947) define os momentos para a diferenciação dos tempos verbais de uma língua: o Momento do Evento (ME), que é o momento da ocorrência do processo ou da ação; o Momento da Fala (MF), que

39 37 é o momento da enunciação; e o Momento de Referência (MR), que é a situação fixa sobre a qual se definem a simultaneidade e anterioridade. Diante das colocações de Reichenbach, Corôa (2005) propõe um esquema com os tempos verbais: TEMPO Quadro 1 Representação dos tempos verbais ORGANIZAÇÃO DOS MOMENTOS Presente Exemplo: Descrição: Pretérito mais-que-perfeito Exemplo: Descrição: Pretérito imperfeito Exemplo: Descrição: Pretérito perfeito Exemplo: Descrição: Futuro do presente Exemplo: Descrição: Futuro do pretérito Exemplo: Descrição: ME, MF e MR são simultâneos. Eu digo com convicção: amo você! Quando ocorre a fala (MF), o evento acontece no momento da referência. ME é anterior ao MR que é anterior ao MF Chegaram atrasados, a aula já havia começado. Quando ocorre a fala (MF), o evento (ME) em que aula já havia começado é anterior ao (MR) de chegar à aula. ME é simultâneo ao MR e são anteriores ao MF Eu chorava enquanto ela ria. Quando ocorre a fala (MF), o evento e a referência já haviam acontecido simultaneamente em algum momento pretérito. ME é anterior ao MF que é simultâneo ao MR Ela deu um grito de susto quando eu cheguei. A fala (MF) e a referência (MR) são simultâneas e ocorre depois do evento (ME) de chegar. MF é simultâneo ao MR que são anteriores ao ME Eu digo que um dia serei rico. A fala (MF) e a referência dizer (MR) estão no passado com relação ao momento do evento que ainda acontecerá (ficar rico). MR é anterior ao MF que é anterior ao ME Minha irmã disse que se eu fosse rico, seria insuportável. A referência (MR) é anterior à fala (MF) que é anterior ao evento (ME) de ficar rico. Fonte: CORÔA (2005. p.11-12) Existem sociedades que fazem contagem de tempo de maneira mais diferenciada. Sabemos, por exemplo, que tribos indígenas fazem a marcação de tempo por ciclos ou elementos naturais, como a lua, mas, mesmo assim, elas marcam o tempo a partir de um ponto, como o da figura 9. Dessa forma, ao propor essa representação diagramática do

40 38 conceito de tempo, Comrie (1985) pretende contemplar tempo em qualquer língua, não se sustentando em conceitos de culturas específicas. Ainda segundo Comrie (op. cit.), as expressões de tempo podem ser divididas em compostos lexicais, itens lexicais e categorias gramaticais. Os compostos lexicais, em qualquer língua, permitem a contagem infinita de tempo (exemplo: cinco minutos, mil minutos, 1 milhão de minutos), os itens lexicais são mais específicos, situam um ponto específico no tempo a partir do marco zero (exemplo: ontem, hoje, amanhã) e as categorias gramaticais são as mais completas e mais complexas, pois é delas que nasce a estrutura gramatical de uma língua natural (exemplo: morfemas de todos os tempos verbais que são agregados ao radical verbal). Antes, contudo, de iniciarmos a seção que trata do aspecto verbal, é importante salientar que, além das propostas de Comrie (1976 e 1985), este trabalho assume, preferencialmente, uma das definições de tempo posposta por Travaglia (2006). De acordo com o autor, tempo pode ser dividido de três maneiras: Tempo 1: categoria verbal (corresponde às épocas passado, presente e futuro) (...) Tempo 2: flexão temporal. Estaremos nos referindo então aos agrupamentos de flexões da conjugação verbal: presente do indicativo, pretérito imperfeito do indicativo, futuro do presente, futuro do subjuntivo, etc. Falaremos então em tempos flexionais (grifo do autor); Tempo 3: a ideia geral e abstrata de tempo sem consideração de sua indicação pelo verbo ou qualquer outro elemento da frase (...) (TRAVAGLIA, 2006, p. 38) Nossa escolha diz respeito à definição do Tempo 2, ou seja, está ligada à flexão verbal. Isso porque, diante do corpus analisado, pode-se se fazer um bom trabalho descritivo, que pode levar às novas ideias sobre a derivação de sentenças em nossa gramática mental. 3.2 Aspecto Se por um lado tempo verbal diz respeito à constituição temporal externa, por outro lado, a noção de aspecto pode ser concebida como a constituição temporal interna de uma situação (Comrie, 1976). Tempo é uma categoria dêitica, ou seja, compara o tempo da situação a algum outro momento. Já o aspecto representa diferentes modos de se enxergar a constituição temporal interna de uma situação. Dito de outra forma, o aspecto verbal transmite uma expectativa temporal que tem o foco em uma parte ou no todo de um evento. E é

41 39 justamente por isso que não é considerada uma categoria dêitica, já que não precisa fazer referência a qualquer outro ponto no tempo. Quando falamos em aspecto, estamos fazendo referência à possibilidade de enunciarmos diferentes momentos a partir do uso de uma mesma forma verbal. De acordo com Comrie (op. cit.), o conceito de aspecto pode ser dado como distintas formas de se perceber internamente a constituição temporal de uma situação. A ideia é a de que, primeiramente e independentemente da relação com o momento da fala, toda situação possui uma constituição própria no que se refere ao tempo. É nesse sentido que se podem identificar diferenças, por exemplo, entre conhecer (um estado) e estudar (um processo). Além disso, para uma mesma situação (estado ou processo), o falante pode assumir um ponto de vista determinado, resultando em uma expressão de incompletude, progressividade, repetição, habitualidade, momentaneidade, e/ou outras noções não dêiticas de temporalidade. A categoria aspecto é bastante complexa. Pesquisadores desse fenômeno costumam divergir bastante no que tange às classificações das noções desta categoria. Podemos dizer que, basicamente, existem duas divisões: aspecto lexical (ou semântico) e aspecto gramatical. O aspecto lexical é inerente aos núcleos verbais e adjuntos. Dessa forma, os possíveis sentidos atribuídos às raízes verbais seriam responsáveis pela realização do aspecto lexical. Muitos autores denominam aspecto lexical como AKTIONSART, termo alemão que pode ser traduzido como modo de ser da ação. Outros autores, no entanto, defendem a distinção entre aspecto lexical e AKTIONSART. Podemos entender o aspecto em termos de oposição perfectividade/imperfectividade, enquanto que AKTIONSART é uma categoria mais abrangente, consistindo de um conjunto de oposições (inter)relacionadas representando contrastes de tipos de situações expressas pelo verbo (+/- pontual, +/- télico, +/- durativo, etc. Veremos o detalhamento das situações a seguir). Sendo assim, AKTIONSART seria a qualidade lexical objetiva concernente ao verbo em si, enquanto o aspecto marcaria o ponto de vista subjetivo do falante, portanto, externo à própria situação. Nesta pesquisa, optamos por não adotar a distinção entre aspecto lexical e AKTIONSART. Isso porque adotamos as noções de perfectividade e imperfectividade aliadas a um conjunto de distinções morfológicas que caracterizariam a circunstância descrita pelo verbo como acabada ou em curso. Antes, entretanto, de abordarmos sobre a perfectividade/imperfectividade, vejamos a classificação, que entendemos ser de aspecto lexical, proposta por Vendler (1967).

42 40 Vendler (op. cit.) propõe a existência de quatro classes e verbos que dizem respeito às ações desses verbos. Segundo o autor são elas: a) classe dos verbos estativos (states, em inglês): verbos que dizem respeito a eventos sem final evidente, mas apresentam duração (exemplo: amar), b) verbos de atividade (activities, em inglês): apresentam final arbitrário só atingido por meio de interferência externa (exemplo: caminhar), c) verbos accomplishments 13 : demonstram duração marcada por fases sucessivas até que o término seja atingido (exemplo: escrever uma tese) e d) verbos achievements 14 : levam em consideração apenas desfecho final da ação atingido de forma instantânea (exemplo: enfartar). Comrie (1985) propõe que os verbos estão relacionados a três traços distintivos: 1. Estativo/ dinâmico: os traços estativos descrevem involuntariamente situações que não necessitam de energia para continuar (exemplo: conhecer), opostamente, os dinâmicos carecem de um empreendimento constante de energia (exemplo: correr); 2. Télico/ atélico: traços télicos implicam uma situação que apresenta um final inerente (empurrar); já os atélicos sugerem um término arbitrário (caminhar); 3. Pontual/ durativo: traços pontuais sugerem uma ação com ponto final mais instantâneo (exemplo: cair); diferentemente, os durativos referem-se a situações em que a duração é indeterminada (exemplo: sonhar). Diante das abordagens de classificação das ações de Vendler (op. cit.) e dos traços distintivos retirados de Comrie (1976), podemos sintetizar o seguinte: Quadro 2 Traços distintivos para os Tipos Verbais VERBOS Dinâmico Estativo Télico Atélico Durativo Pontual Estativos De atividades Achievements Accomplishments Fonte: Elaborado pelo autor com base em Vendler (1967) e Comrie (1976) 13 Não encontramos tradução ou termo adotado para o português. 14 Não encontramos tradução ou termo adotado para o português.

43 41 O quadro anterior estabelece que os verbos estativos nunca são dinâmicos, télicos ou pontuais, mas são, consequentemente, estativos, atélicos e durativos. Os verbos de atividade não são estativos, télicos ou pontuais, são sempre dinâmicos, atélicos e durativos. Os achivements não são estativos, atélicos ou durativos, são sempre dinâmicos, télicos e pontuais. Os accomplishments não são estativos, atélicos ou pontuais, são sempre dinâmicos, télicos e durativos. É importante ressaltar que a classificação semântica dos verbos está diretamente ligada ao complemento verbal. Vendler (1967) explica que as quatro classes de verbos baseadas no desempenho de atividades representam tanto o desenvolvimento do evento quanto o tempo verbal e suas relações com modificadores temporais. Sendo assim, a sugestão desse autor é a de que a classificação da ação é referente a todo o sintagma verbal, ou seja, ao verbo e seus argumentos e não unicamente ao verbo. Dito de outra forma, embora a característica aspectual seja inerente aos verbos, ela não é exclusiva a eles e, nesse sentido, muitas vezes é preciso atentar-se ao sintagma verbal. Podemos perceber que diferentes situações apresentam distintas características semânticas no que diz respeito à completude, à duração interna e à dinamicidade. Por isso, podemos dizer que, quando uma situação apresenta completude, ela pode ser tida como télica, enquanto as situações não completadas seriam atélicas. A palavra telicidade vem do grego - télos - que indica fim. A distinção entre telicidade e atelicidade está no fato de eventos télicos possuírem um ponto final inerente, consistindo em um objetivo ou um resultado, enquanto que eventos atélicos não possuem esse ponto final inerente. Podemos afirmar, então, que accomplishments e achievements são télicos, ao passo que estados e atividades têm características atélicas. Retomando a noção do aspecto gramatical, Comrie (1976) afirma que essa categoria trata da constituição interna de uma dada situação. O aspecto gramatical carrega a noção do evento envolvendo distinções semânticas que podem ser interpretadas através de verbos auxiliares ou morfemas flexionais e pode ser separado em perfectivo e imperfectivo. O aspecto perfectivo, comum no pretérito perfeito no português, apresenta um ponto de vista completo à situação, sem necessariamente distinguir qualquer estrutura interna. Pela perfectividade, podemos lançar um olhar externo à situação, isto é, podemos enxergá-la por inteiro. O aspecto imperfectivo, por sua vez, observado no pretérito imperfeito no português, mostra ponto de vista interno, mantendo atenção em uma das fases.

44 42 Quadro 3 Aspectos: perfectivo e imperfectivo ASPECTO PERFECTIVO A menina estudou para a prova. O menino comeu o doce. O professor deu a aula. ASPECTO IMPERFECTIVO A menina está estudando para prova. O menino come o doce. O professor estava dando aula. Fonte: Elaborado pelo autor Nos exemplos acima, podemos notar que, na primeira coluna, a situação apresentada ilustra início, meio e fim, sem apontar nenhuma questão interna, entretanto, na segunda coluna, percebemos a existência de fases e que o evento ainda está por terminar. Quando um evento é visto por completo e apresenta fim, temos o aspecto perfectivo, quando apresenta apenas fases é dada a imperfectividade. É importante deixar claro que, na forma perfectiva, não quer dizer que a situação dada não apresenta fases internas. Ao contrário, ela apresenta desenvolvimento como qualquer outra atividade. É como se todas as fases fossem vistas em sua completude. Do modo geral, podemos concluir que o aspecto lexical e aspecto gramatical são diferentes, mas não estão dissociados, antes se completam. Nossa pesquisa tem o objetivo maior de mostrar a dissociação entre tempo e aspecto, mas também diz respeito à distinção de aspecto lexical e gramatical. Buscamos descrever em que medida as noções aspectuais influenciam ou não nas marcações gramaticais perfectivas e imperfectivas. Apresentamos, a seguir, as noções de modo, tempo e aspecto gramaticais que constam nos exemplos anteriores. Optamos por dividir os exemplos em dois quadros, o primeiro trata das sentenças que não apresentam perífrases verbais e o segundo diz respeito aos exemplos que trazem tais perífrases.

45 43 Quadro 4 Marcação temporal sem perífrase verbal Exemplo Radical + Vogal Temática Desinência de Modo Desinência de Tempo Desinência de Aspecto Gramatical Desinência de Número e Pessoa A menina estudou para a prova. O menino comeu o doce. O professor deu a aula. O menino come o doce. estud + Ø (neste caso, a vogal temática ocorre sob forma de Ø) com + e d + e com + e Indicativo -Ø- Indicativo -Ø- Indicativo -Ø- Indicativo -Ø- Pretérito -Ø- Pretérito -Ø- Pretérito -Ø- Presente -Ø- Fonte: Elaborado pelo autor Perfectivo -Ø- Perfectivo -Ø- Perfectivo -Ø- Imperfectivo -Ø- 3ª pessoa singular -u 3ª pessoa singular -u 3ª pessoa singular -u 3ª pessoa singular -Ø Podemos ver no quadro acima que a desinência de tempo pretérito perfeito do indicativo e presente do indicativo corresponde a um morfema Ø- e estão as três noções modo, tempo e aspecto - noções sintetizadas em tal morfema. Quadro 5 Marcação temporal com perífrase verbal Exemplo Onde está a noção de modo da perífrase? Onde está a noção de tempo da perífrase? Onde está a noção de aspecto da perífrase? A menina está estudando para a prova. em está Modo Indicativo em está Tempo Presente em estudando Aspecto Imperfectivo O professor estava dando aula. Em estava Modo Indicativo Em estava Tempo pretérito em dando Aspecto Imperfectivo Fonte: Elaborado pelo autor A partir da leitura deste último quadro, podemos assinalar que o morfema de modo e de tempo da perífrase verbal coincidem e, apesar de sabermos que o verbo auxiliar (nos dois exemplos, concretizados como está e estava ) também tem aspecto, vamos adotar a postura de que, em estrutura composta, o aspecto gramatical pode ser revelado no verbo principal. Portanto, nos dois casos apresentados, há um aspecto gramatical dissociado das

46 44 noções de tempo e modo, ou seja, o aspecto gramatical que garantiria a noção de imperfectividade estaria no ndo de estudando e dando, ao passo que as noções de tempo (e de modo, que não é o foco do nosso trabalho) estariam no verbo auxiliar. Este raciocínio é importante para o nosso trabalho, conforme verificaremos no capítulo relacionado à análise dos dados. 3.3 Tempo e Aspecto: Nódulo de Flexão A seguir, apresentaremos um esboço histórico de estudos a respeito das categorias funcionais tempo e concordância, que foram muito discutidas à luz da Teoria Gerativa. O objetivo é o de demonstrar que a camada flexional já foi considerada única, depois, foi dividida em vários níveis e, no modelo atual do Programa Minimalista, há a proposta de um nódulo, abrigando algumas noções. A nossa intenção é demonstrar que há prerrogativas teóricas que nos acenam para a possibilidade de tempo estar cindido em tempo e aspecto. Diante das propostas da Teoria Padrão e Teoria Padrão Estendida, Chomsky (1965, 1972) considerava que a estrutura básica de uma sentença seria constituída por um SN e um SV, que estariam ligados a um nó, denominado S, isto é: S SN SV. Entretanto, para conseguir explicar a presença de um verbo auxiliar (Aux), Chomsky (op. cit.) propôs o seguinte: S SN Aux SV, em que a informação de tempo seria marcada no Aux. Além disso, Aux seria local para abrigar as noções de verbos modais e de negativas. Podemos citar um exemplo de sentenças com modal em inglês: John would like to come. Podemos fazer o mesmo com a inserção da partícula negativa: John wouldn t like to come. Entretanto, nem todas as sentenças têm o modal e a negativa, como, por exemplo, em John loves Mary. Uma árvore sintática, naquela ocasião da teoria (proposta como Ouhalla (1999)), era assim configurada: Figura 10 Árvore sintática de Ouhalla Fonte: OUHALLA (1999, p. 25)

47 45 Os parênteses, neste diagrama, servem para demonstrar que as noções de modal e de negativa poderiam ou não ocorrer. Se ocorressem, estariam neste local. Já a noção de T(empo) seria garantida: ora era marcada positivamente, obtendo-se uma sentença finita, ou negativamente, obtendo-se uma sentença não finita. Vale dizer que, propôs-se, nesta ocasião, que a flexão fosse o núcleo da sentença. Posteriormente, Emonds (1976) sugeriu que Aux fosse denominado INFL 15 (abreviatura de Inflexion, termo em inglês, que significa flexão) e lançou mão, ainda, de uma marcação binária para esse nó assim como acontece nas categorias lexicais (conforme mostrado no capítulo 1). Ou seja, em uma sentença S SN INFL SV, a marcação binária de INFL, era caracterizada por + T (em sentenças finitas), - T (em sentenças não finitas), + AGR (com marca de concordância) e AGR (sem a marca de concordância). Assim, S passou a ser considerada a projeção máxima de I, que abrigava toda a informação flexional do verbo, tal como tempo e concordância de número. Essa informação ora poderia ser movida em direção ao verbo que estaria abaixo de IP 16 na estrutura hierárquica da árvore sintática, como nas sentenças em língua inglesa 17, ora o verbo poderia mover-se em direção à flexão para incorporar essa informação. Além disso, interpretava-se que o sujeito ocuparia a posição de especificador de IP. Nesse modelo, a árvore sintática de uma sentença do tipo The boys will win the game seria assim representada: Figura 11 Árvore sintática com nódulo de flexão Fonte: Exemplo elaborado pelo autor 15 Optamos pela utilização do termo INFL, pois se trata de um termo consagrado na literatura gerativista. Chomsky também abrevia o termo como I. 16 Sintagma de Flexão e, em inglês, Inflexion Phrase. 17 A única exceção é com o verbo to be.

48 46 A partir da ideia de um nódulo funcional que abrigasse as informações flexionais do verbo e da proposta de incorporação dessas informações pela subida do verbo para IP em algumas línguas e descida dos traços de flexão para o verbo em outras línguas, Pollock (1989) compara dados linguísticos do inglês e do francês e faz uma nova proposta para a representação da flexão na árvore sintática. Nesse estudo, Pollock (op. cit.) propôs-se a fornecer uma explicação única que sustentasse a posição dos verbos em relação à partícula de negação, ao advérbio e ao quantificador nas duas línguas que foram estudadas: francês e inglês. Ao comparar essas duas línguas, Pollock (op. cit.) partiu do pressuposto de que o nódulo que abriga a partícula de negação ocuparia a mesma posição estrutural nas orações finitas e não infinitivas das duas línguas, isto é, entre IP e SV. Da mesma maneira, o autor assumiu que a posição onde seria gerado o advérbio e o quantificador era a mesma nas duas línguas. Essas posições podem ser esquematicamente representadas da seguinte maneira: Figura 12 Inserção da partícula de negação na árvore sintática Fonte: Pollock (1989) Pollock (op. cit.) verificou, em comparação, que todos os verbos finitos do francês apareceriam à esquerda da negação (pas), enquanto apenas os verbos auxiliares be e have finitos do inglês aparecem à esquerda da negação (not), por outro lado, os verbos lexicais do inglês aparecem à direita da negação. Dessa maneira, o autor propôs que os verbos finitos do francês sofreriam, obrigatoriamente, movimento de um núcleo para outro e que esse movimento estaria restrito aos verbos auxiliares finitos do inglês. Assim, Pollock (op. cit.) começa a sugerir uma nova proposta de estrutura da árvore sintática dentro do arcabouço da Teoria Gerativa. O autor começa a propor a cisão do nódulo flexional na árvore sintática. Tendo explicitado os resultados a que Pollock chegou no que diz respeito ao posicionamento de verbos finitos e não finitos em relação à partícula de negação em inglês e

49 47 em francês, o autor começou a verificar a posição dos verbos em relação a elementos quantificadores e advérbios. Os verbos auxiliares be e have não finitos do inglês poderiam aparecer à direita ou à esquerda do advérbio e/ou quantificador e os verbos lexicais não finitos do inglês sempre apareceriam à direita desses. Já os verbos não finitos do francês auxiliares e lexicais poderiam aparecer à direita ou à esquerda do advérbio e/ou quantificador. Assim, os verbos não finitos do francês poderiam sofrer algum tipo de movimento para a esquerda do advérbio e/ou quantificador. Entretanto, conforme falado, os verbos lexicais não finitos dessa língua sempre apareceriam à direita da negação (pas), indicando que eles não sofrem movimento para IP. Relacionando essas observações, Pollock (op. cit.) propõe, então, que os verbos não finitos possam se mover para uma posição entre a partícula de negação e a posição ocupada pelo advérbio e/ou quantificador. Daí em diante, o autor sugere que essa posição intermediária entre NEGP e SV, seja um nódulo flexional que abriga as informações sobre a concordância verbal AGRP. A outra projeção flexional, portanto, abrigaria apenas as informações sobre o tempo verbal e, neste momento da teoria continuou a ser denomiado IP 18. Dessa maneira, a árvore sintática fica assim representada: Figura 13 Inserção da partícula ST e AGRP na árvore sintática Fonte: Pollock (1989) 18 Hoje denominamos a camada flexional de TP (Tense Phrase ou ST sintagma de tempo).

50 48 Pollock (op. cit.) conclui que o francês e o inglês diferenciam-se em termos da riqueza morfológica da concordância. Como em inglês AGR não é morfologicamente rico, a proposta foi a de que havia uma opacidade à transmissão de papel temático, restringindo o movimento do verbo aos auxiliares. Já em francês, como AGR é morfologicamente rico, haveria transparência na transmissão de papel temático, possibilitando que todos os verbos movimentassem, minimamente, para esse nódulo. As ideias de Pollock (1989) foram incorporadas, em dado momento, ao Programa Minimalista, mais especificamente ao capítulo dois do livro de Chomsky, The Minimalism Program, de Entretanto, neste mesmo livro, no capítulo quatro, o autor, após algum período de reflexão e tentando dar coerência ao estado da arte da teoria, propõe que concordância perca o status na árvore sintática. Isto porque as noções de concordância seriam meramente relacionais e não causariam impacto na interface semântica. De acordo com o espírito do Programa Minimalista, todas as informações estritamente sintáticas devem ocorrer somente no sistema computacional e nenhuma dessas informações deve sobreviver para ser transmitida aos sistemas de interface. Expliquemos com mais detalhes: T(empo) continuaria a ser um nódulo na arvore sintática porque tem interpretação semântica e é importante para ser transmitido para interface semântico-conceptual. Uma sentença como Choveu! (no passado) é diferente de Chove! (no presente). Já a concordância (verbal) expressa apenas uma relação com o sujeito. Por exemplo, em Eles foram ao cinema e em Eles foi ao cinema, a concordância expressa uma relação sintática com o sujeito, mas não tem impacto na interface semântico-conceptual. Se um dia o nódulo flexional foi divido em T(empo) + AGR, hoje podemos pensar em uma nova cisão da camada flexional em T(empo) e em aspecto, que é a proposta desta pesquisa. Vários trabalhos dentro do arcabouço da Teoria Gerativa fazem essa proposta. Arad (1996), apoiada em Borer (1994), propõe que haja uma interface mediada por informações aspectuais. Nessa perspectiva, a autora propõe que há existência de nódulos aspectuais na árvore sintática. Além disso, vários trabalhos se dedicam a estudar a linguagem em patologias da linguagem apontam para esta mesma direção. Hermont (2005) e Arvigo (2011), ao estudarem a linguagem de crianças com Déficit Específico de Linguagem, apresentam propostas indicando que na árvore sintática há um nódulo específico de tempo e outro de aspecto. Há várias pesquisas sob a orientação de Novaes 19 na UFRJ que propõe a cisão do 19 Celso Vieira Novaes é, atualmente, professor associado do Departamento de Linguística e Filologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atua na área de linguística, com ênfase em neurolinguística,

51 49 nódulo Tempo em tempo e aspecto, tais como em: Santos (2009), Rodrigues (2008), Martins (2007), Braga (2005), dentre outros. Neste trabalho, estudamos as categorias tempo e aspecto a partir de falas produzidas durante o período de aquisição de linguagem. Lançamos mão da hipótese de que podemos notar dissociação entre as duas categorias (tempo e aspecto), tal como propõem os pesquisadores anteriormente citados. E, além disso, compreendemos que essas são categorias funcionais da gramática mental. No próximo capítulo, trataremos de alguns estudos a respeito da aquisição de linguagem, especialmente sobre pesquisas que se pautaram na aquisição de categorias funcionais, para, em seguida, falarmos da aquisição de aspecto verbal. atuando principalmente nos seguintes temas: afasiologia linguística e sintaxe. Possui artigos publicados em revistas nacionais e internacionais.

52 50 4 AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM Antes de iniciarmos nossa discussão sobre a aquisição de linguagem, achamos importante explicar a expressão adquirir linguagem. Se a linguagem é inata, como ela pode ser adquirida? O termo adquirir é utilizado porque se refere ao processo por inteiro, trata-se do aparato da Faculdade de Linguagem, que permite aos seres humanos aprender e usar a língua à que estão expostos. Chomsky (1959) diz que a linguagem humana se adquire por exposição a ela, não por treinamento. Para o autor, é exatamente como se aprende a respirar. Não é difícil perceber que as crianças em período de aquisição da linguagem têm muita facilidade em desenvolver a linguagem. Para elas, essa tarefa parece não ser cansativa e tampouco difícil. Como já destacado no início de nosso trabalho, a criança aprende sua língua materna de maneira rápida e sem grandes esforços. Grosso modo, as crianças passam de uma lista de palavras bastante restrita para um vocabulário extenso e organizado por uma gramática. Esse processo de rápida ampliação dos conhecimentos da criança sobre a língua a que ela é exposta é, senão, uma evidência de que o ser humano é dotado de um mecanismo inato capaz de guiar a aquisição da linguagem. Além disso, a hipótese de que algumas categorias auxiliam na rápida aquisição da língua materna parece ser pertinente, pois, ao que tudo indica, algumas categorias, denominadas funcionais, é que parecem ser as responsáveis pela derivação sintática, isto é, são elas que permitem inúmeras estruturas linguísticas que o indivíduo é capaz de produzir. Ou seja, a criança se vale das categorias funcionais para produzir o que é permitido naquela língua. Conforme já delineado no capítulo 1, a configuração das opções específicas de construção de sentenças nas línguas humanas está ligada ao processo de parametrização. Não obstante, dentro dos vieses que definem a configuração inicial da parametrização, existem divergências. Trazemos, a seguir, os dois principais modelos de aquisição paramétrica. A primeira vertente acredita no processo maturacional, isto é, a hipótese é que as crianças vão adquirindo as categorias funcionais gradualmente, suas habilidades vão evoluindo de acordo com seu amadurecimento. A segunda vertente, por outro lado, defende a ideia continuísta de que a aquisição das categorias funcionais não é necessária, isso porque elas são inatas, ou seja, estão disponíveis desde o nascimento de cada indivíduo. Vejamos a seguir as principais propostas dos dois modelos.

53 A Corrente Maturacional A corrente maturacional lança mão da hipótese de que existe uma fase pré-sintática na gramática infantil e de que as categorias funcionais não estão disponíveis neste período, tais categorias devem ser adquiridas durante o processo de amadurecimento da criança. De acordo com Hermont (2005, p. 95), para Radford (1990, 1992), existiria, na fala de indivíduos adultos, projeções lexicais e funcionais, diferentemente da fala das crianças, em que encontraríamos apenas os núcleos lexicais. Para o autor, os itens funcionais estariam ausentes. Isto implica afirmar que, para Radford, a criança disporia apenas de sintagmas verbais, nominais, preposicionais, adjetivais e adverbiais. Somente depois de adquiridas essas categorias é que a criança passaria a ter as projeções funcionais, como concordância, tempo e elementos de perguntas-qu. Devido à falta das categorias funcionais, uma criança poderia produzir, por exemplo, na ausência de complementizadores, uma fala como mamã tá fazenu? no lugar de o que a mamã tá fazenu?. Para Radford, as crianças adquiririam todas as categorias funcionais simultaneamente e o processo seria natural e automático. Ainda nos valendo de Hermont (2005, p. 95), Guilfoylle e Noonam (1988) defendiam a corrente maturacional dizendo que as crianças adquiririam as categorias lexicais e que somente mais tarde apareceriam as categorias funcionais, cuja aquisição aconteceria obedecendo a uma hierarquia. Para Hermont (op. cit.), as autoras apresentam dois momentos para a configuração inicial da linguagem de uma criança. Primeiramente, aconteceria a aquisição do léxico, pois não há muita variação do conjunto de palavras nas línguas naturais. Segundo, devido a um amadurecimento necessário, surgiriam as categorias funcionais. O surgimento dessas categorias variaria de acordo com cada língua, obedecendo à ordem paramétrica. Diante disso, seria possível explicar porque a fala das crianças difere da fala dos adultos, ou seja, verifica-se, na fala da criança, a ausência das categorias funcionais. Assim, segundo Hermont (op. cit), as autoras não assumem uma GU infantil que permita produções impossíveis nas línguas naturais. A ideia é a de que os princípios atuariam no vácuo na ausência das categorias funcionais. Pode aparecer, por exemplo, sujeito nulo em línguas que não permitem tal construção. Radford (1990, 1992) e Guilfoylle e Noonan (op. cit.) em Hermont (2005) sustentam o mesmo ponto de vista: o de que as categorias funcionais não estão inicialmente disponíveis na gramática mental das crianças, elas vão surgindo de acordo com a maturidade sintática durante o período de aquisição da linguagem. Para Radford, as categorias funcionais surgem

54 52 paralelamente, para as demais autoras existe um processo linear, surge uma categoria e, depois, outra. Muitos autores vão contra a corrente maturacional. Isso porque tal proposta apresenta inconvenientes para sustentação da teoria dos Princípios e Parâmetros, já que esta teoria postula que todas as categorias (lexicais e funcionais) já estariam disponíveis desde o nascimento da criança. A vertente que sugere que as crianças já nasceriam com as categorias funcionais é denominada continuísta. Por uma questão de coerência com os postulados gerativistas, mais especificamente o modelo de Princípios e Parâmetros, compreendemos a vertente continuísta como aquela que está mais bem alinhada a esta pesquisa e, por isso, optamos pelo maior aprofundamento dessa proposta de explicação do processo de aquisição de linguagem. A seguir, abordaremos os principais autores e postulados continuístas. 4.2 A Corrente Continuísta Em contraste com a hipótese maturacional, a hipótese continuísta assume que a gramática inicial é formada pelas mesmas categorias e princípios de uma gramática adulta. A hipótese continuísta apresenta duas versões: a forte e a fraca. Na versão forte, argumenta-se que a gramática inicial contém todas as categorias funcionais, independentemente de os morfemas associados a elas aparecerem ou não na produção infantil. Desta forma, o conhecimento sobre as categorias funcionais na gramática infantil corresponde ao da gramática adulta, pois elas estão disponíveis. A versão fraca da hipótese continuísta assume que há estados diferentes para a gramática infantil, mas que não ferem a GU. Segundo seus proponentes, as restrições encontradas na gramática infantil podem estar relacionadas às dificuldades de processamento, à falta de memória, por exemplo. Para este trabalho, elegemos três autores de corrente forte, pois, conforme dito anteriormente, acreditamos que, na a gramática mental de cada criança, há todas as categorias funcionais desde o nascimento. Assim sendo, optamos por trabalhar com as propostas de Kenneth Wexler, Charles Yang, Mark Baker e Thornton e Tesan.

55 A Proposta de Kenneth Wexler Em seus estudos sobre aquisição de linguagem, Wexler (1996) sugere que, apesar de as crianças apresentarem categorias funcionais muito precocemente, haveria, ainda sim, a necessidade de um desenvolvimento genético, ou seja, o autor defende a ideia da maturação biológica. Desse modo, a hipótese de Wexler (op. cit.) era a de que o surgimento das categorias funcionais se daria da mesma maneira como acontece a segunda dentição e as características sexuais das crianças. Isso implica dizer que, mesmo que o desenvolvimento da criança possa sofrer influências externas (alimentação, por exemplo), elas aconteceriam mais a frente e obedeceriam a um cronograma geneticamente pré-estabelecido (WEXLER, 1996, p. 117). Em princípio, poderíamos pensar que a proposta de Wexler não se enquadraria na proposta da Hipótese Continuísta, entretanto, mesmo com a hipótese da maturação genética, podemos, sim, associar os estudos wexlianos à corrente continuísta, já que, em sua abordagem, não é prevista a ausência das categorias funcionais na GU. Para o autor, essas categorias já se encontrariam disponíveis desde o nascimento da criança, mas respeitariam o amadurecimento do programa genético responsável pelo processamento de tais categorias. O estudo das falas das crianças sugere que, num determinado momento, a gramática infantil difere da gramática do adulto. De acordo com a proposta da GU, ao nascer, uma criança apresenta um estado gramatical zero (GU 0 ). A partir do momento em que começa a exposição à língua, a criança se submeteria à evolução da gramática da própria língua, isto é, passaria por estágios (GU 1, GU 2, GU 3...) até chegar ao nível GU adulto. Esse nível seria o estágio máximo de estabilização da gramática, que não poderia mais sofrer alterações na estrutura. Wexler (op. cit.) sugere a existência de forte relação entre morfologia flexional e a sintaxe da sentença. A fim de confirmar sua hipótese, o autor se vale de dados do francês, apontando o movimento do verbo de acordo com sua finitude, isto é, apontando se o verbo é marcado ou não marcado. Na língua francesa, verbos no infinitivo são posteriores à partícula de negação (pas), ao passo que verbos flexionados são anteriores à partícula de negação. Desse modo, a postulação é a de que há um lugar antes e um lugar depois da partícula de negação para pouso dos verbos. A explicação para esse fenômeno, conforme apontamos no capítulo anterior, está na concordância de V com ST, para checagem 20 dos traços. Assim, quando flexionado, o verbo antecede a negação, pois se movimenta para a checagem de 20 A terminologia à ocasião da publicação era esta. Usa-se hoje, a palavra valoração, obedecendo-se, obviamente a uma mudança na concepção.

56 54 traços. Quando está no infinitivo, o verbo permanece na mesma posição, já que obedece ao princípio da procrastinação 21, que estipula que um movimento só ocorrerá caso seja necessária uma checagem de traço gramatical. Diante disso, e como já foi dito, parece pertinente considerar a relação entre morfologia e sintaxe, já que a presença dos morfemas flexionais desencadeia, na sintaxe, movimentos responsáveis pela ordenação da sentença. A verificação do conhecimento da criança a respeito da flexão verbal é, senão, um estudo da presença das categorias funcionais, já que tais categorias são as responsáveis pela colocação de morfemas e, consequentemente, pela movimentação do verbo na sentença. Desse modo, o estudo da flexão verbal constitui-se como um estudo de elementos imprescindíveis para construção das sentenças. Wexler (op. cit.) apresenta dados de estudos com crianças em aquisição de língua francesa. Esses dados demonstram que, desde muito cedo, as crianças têm conhecimento (internalizado) da existência da categoria tempo e da relação da fonética dos itens lexicais com os traços morfológicos e sintáticos. Isto é, as crianças têm o conhecimento da movimentação do verbo e das condições morfossintáticas. No francês, requere-se o movimento do verbo quando ele está na forma finita e proíbe-se este movimento quando ele está na forma não finita. Sendo assim, é possível dizer que as crianças sabem que o verbo finito tem um traço que deve ser checado em tempo, assim como conhecem as condições de economia que evitam que um verbo submeta-se à checagem caso não seja necessário, como no caso dos verbos não finitos. Wexler (op. cit.) também cita exemplos do alemão, língua que exige que verbos finitos movimentem-se para a segunda posição (V2) e verbos não finitos permaneçam na posição final. Assim como acontece no francês, as crianças demonstram conhecimento da necessidade de movimento do verbo em caso de marcação flexional. No que diz respeito às diferenças apresentadas nas gramáticas das crianças em fase de aquisição de linguagem, Wexler (op. cit.) lança mão da hipótese de que as crianças passam pelo período do Estágio de Infinitivo Opcional (OI). Nesse período, a criança (mesmo que tenha a Faculdade de Linguagem intacta e disponha de todos os mecanismos da GU) produz orações principais com verbos no infinitivo, o que não está de acordo com os inputs das falas dos adultos, os quais utilizam o infinitivo em orações encaixadas, portanto, apoiadas numa oração principal. 21 Trata-se de um princípio de economia. Quanto menos movimentos houver, mais rápido será o processamento no sistema computacional.

57 55 Wexler (op. cit.) verificou ainda que as crianças ora produzem tempo e concordância, ora produzem apenas tempo ou apenas concordância. Segundo o autor, no estágio OI existiria a variação da marcação de finitude, no entanto, todos os parâmetros da língua estariam internalizados na criança. Desse modo, sentenças como He like tea ou He play games, em que não é marcada a concordância de pessoa 22, podem ocorrer na fala das crianças nesse estágio. Para o autor, casos de ausência do morfema flexional de pessoa seriam exemplos de uso do não finitivo no lugar de finitivo, já que o inglês, por exemplo, existe a marcação do morfema zero para o não finitivo e, assim, a falta do -s para a concordância de 3ª pessoa se configuraria como um exemplo de uso do não finitivo. Pelo fato de OI ser um período transitório, as crianças, em alguns momentos, marcariam a flexão e, em outros, não. Entretanto, mesmo com uma marcação inconstante, as crianças devem ser tidas como conhecedoras do sistema flexional de sua língua, isso porque elas não produzem sentenças como They likes tea ou We plays games, isto é, as crianças não utilizam flexão de 3ª pessoa para casos de 1ª ou 2ª pessoa. Desse modo, fica evidenciado que as crianças podem deixar de marcar a concordância, mas elas não optam pela supermarcação. No que diz respeito à marcação de negação, no estágio OI, as crianças podem produzir sentenças típicas da língua ou com variação em marcação de concordância, como em She not play 23. Considerando que a inserção de be assim como de do acontece para checagem de traços de tempo e considerando a opcionalidade de tempo para crianças em estágio OI, então seriam possíveis sentenças como She playing com a terminação ing, garantindo o sentido progressivo. As crianças têm o conhecimento natural das regras morfossintáticas de suas línguas, no caso do inglês, elas sabem que do e be se movimentam para a checagem de traços, daí a razão pela qual elas não formulariam sentenças como Do he play? ou Be he there?, pois elas violariam a condição de que verbos no não finitivo não se movem. Nesse sentido, de acordo com Wexler (op. cit.), a caracterização do estágio OI se daria pela variação, já que as crianças, além das orações principais com verbos no não finitivo, também produzem orações com verbos flexionados. Assim, verificar-se-ia que a criança conhece a diferença entre finito e não finito e as relações morfossintáticas envolvidas no movimento dos verbos. Wexler (op. cit.) sugere que a possibilidade da ocorrência de OI em determinado momento é permitida em virtude do processo maturacional. Até o momento da 22 Em língua inglesa a marcação de 3ª pessoa do singular é feita por s. No caso dos exemplos acima, os verbos deveriam estar marcados como likes e plays, respectivamente. 23 A sentença tida como correta deveria ser She does not play..

58 56 maturação, as crianças iriam permitir a marcação de não finitivo, depois da maturação isso não poderia acontecer. Em 1998, Wexler propõe uma expansão da sua argumentação a respeito do período OI. Segundo o autor, a gramática infantil permitiria a variação de marcação de flexão devido a uma restrição que existiria somente em OI e, diante disso, propõe-se, então, o que ficou conhecido como Restrição de Checagem Única (RCU). Essa restrição se daria pela impossibilidade de as crianças realizarem duas checagens de traços não interpretáveis, sendo uma de tempo e a outra de concordância. Além disso, na gramática infantil em estágio OI, ocorreria a valoração em apenas uma dessas categorias. Daí aconteceria a convergência de uma estrutura com a ausência ou de tempo ou de concordância. Wexler (op. cit.) defende a hipótese de que não existe distinção entre GU infantil e GU adulta. Para o autor, o cerne da questão é que, na gramática infantil, existiria uma limitação maturacional que permitiria que as produções infantis fossem diferentes das produções adultas (a gramática do adulto é o alvo, ou seja, trata-se do modelo que a criança segue), e, além disso, essa limitação seria temporária, pois a maturação do aparato linguístico seria análoga ao desenvolvimento de outros sistemas biológicos da criança. Nossa pesquisa tem como um de seus objetivos a análise de flexões verbais, e, por isso, parece-nos cabível verificar em que medida os postulados de Wexler podem ser confirmados. Nossos dados podem validar ou não a existência de um Estágio Infinitivo Opcional na gramática de crianças em fase de aquisição de linguagem A Proposta de Charles Yang Nesta seção, abordaremos as pesquisas de Charles Yang, especialmente no que diz respeito à aquisição de tempo. Isso porque o traço tempo é objeto desta pesquisa e, desse modo, acreditamos ser pertinente uma abordagem que privilegie a aquisição dessa categoria. Yang (2002, 2004) propõe que as categorias funcionais estariam disponíveis desde muito cedo para todas as crianças. De acordo com o modelo proposto pelo autor, a fixação dos parâmetros começaria em concorrência. Isto é, durante o período de aquisição da linguagem, a criança contaria com algumas gramáticas (G1, G2, G3, G4, G5...) com valores variáveis para os parâmetros. Na medida em que fosse exposta à língua, a criança confirmaria a gramática com valor correspondente ao que ocorre na língua em aquisição e abriria mão das outras gramáticas com valores não correspondentes. Desse modo, as informações nas falas dos adultos que fossem relevantes para fixação da gramática da criança (ordem entre sujeito,

59 57 verbo, objeto, por exemplo) forneceriam a ela elementos para confirmação de qual gramática (das que estiverem em competição) tem o maior peso. Assim, de acordo com Yang (op. cit.), quanto maior a exposição a inputs, mais aceleradamente a criança adotará uma gramática como correspondente à sua língua. Obedecendo ao mesmo raciocínio, quanto menos inputs o indivíduo receber, menor será a rapidez com que eliminará uma gramática concorrente. A proposta de Yang é conhecida como Modelo Variacional (MV) e consiste na hipótese de que, além dos princípios inatos, existiria também um efeito estatístico, capaz de auxiliar na aquisição da linguagem. A partir do que a criança é exposta, ocorreria a estabilização do valor correto para os parâmetros de sua língua. Antes de ocorrer essa estabilização, as gramáticas com valores não correspondentes estariam disponíveis e seriam eliminadas na medida em que os valores de inputs correspondentes se intensificassem. De acordo com o autor, isso explicaria as sentenças diferentes produzidas pelas crianças e que são distintas das dos adultos. É importante dizer que uma fala tida como não correspondente para a língua natural da criança pode ser uma opção correspondente em outra língua. Por isso, podemos dizer que não haveria nenhum desvio que não seja explicado pela proposta da GU. Para Yang, a não correspondência das falas infantis e a evolução de sua linguagem seriam decorrentes da competição das gramáticas e não ao exercício de uma gramática sem correspondência. Para a aquisição de flexão de tempo pretérito no MV, Yang (2002) esclarece a existência de três padrões na aquisição de tempo pretérito em língua inglesa. Primeiramente, crianças e adultos, de forma geral, flexionam verbos desconhecidos com sufixo d, como em work worked. Em segundo lugar, crianças muito novas tendem a super-regularizar a flexão com o mesmo sufixo, como em eat eated ao invés de utilizar a forma irregular ate. Em terceiro lugar, crianças podem aplicar regras de formação de passado irregular de maneira incorreta, formando palavras como bring-brang e wipe wope, por exemplo. A partir desses dados, Yang (op. cit.) propõe o The Words and Rule 24 (WR), modelo de formação de pretérito, originalmente proposto por Pinker e outros autores (1995, 1999). Neste modelo, o sistema computacional é composto de dois elementos para a formação do pretérito: o elemento palavra e o elemento regra. O elemento regra (conforme postula a teoria gerativa): verbos regulares devem ser flexionados fazendo uso de uma regra fonológica default, em que se acrescenta d à raiz verbal. Com isso, podemos explicar porque muitas vezes adiciona-se d em verbos desconhecidos. Em relação ao elemento palavra: os verbos 24 Tradução: As palavras e a regra

60 58 irregulares seriam aprendidos no componente palavra, que funcionaria como uma rede de conexão, direcionada pela comparação de pares entre raiz e sua flexão no pretérito. A comparação seria condicionada pela frequência de verbos irregulares à que a criança é exposta. Assim a memorização de verbos irregulares levaria tempo. Na ocasião em que a memória da criança falhasse para uma forma irregular, a forma default (-d) apareceria, o que explica o segundo padrão de produção de flexão de pretérito das crianças, ou seja, os erros de super-regularização de verbos regulares da criança. Ao apresentar o modelo WR, Yang faz uma introdução ao modelo de Regras e Competição (RC), que trata os verbos regulares e irregulares sob o viés da fonologia gerativa. Assim como no modelo WR, assume-se a presença de uma regra default, que insere o sufixo d à raiz que, em princípio, é aplicada a todos os verbos. Em oposição ao modelo WR, o pretérito irregular passaria ser entendido como formação por uma regra fonológica. Isto é, erros como a super-regularização não são lapsos de memória, mas resultados da falha da aplicação de uma regra fonológica regular apropriada sobre a regra default. A ideia do modelo RC é a de que existiriam várias regras fonológicas que seriam aplicadas aos verbos irregulares, os quais seriam organizados em grupos de acordo com suas regras de conversão para o pretérito. Yang (2002) apresenta as regras conforme o quadro a seguir. Podemos ver, na coluna da esquerda, o índice do uso correspondente dos verbos em língua inglesa por parte da criança, e, do lado direito, a frequência flexionada no pretérito por parte dos adultos. Quadro 6 Regras de formação de pretérito irregular no Inglês Verbos agrupados por classe Frequência de Input a. [- t & Vowel Shortning] lose (80/82 = 97.6%) lost (63) leave (37/39 = 94.9%) left (53) b. [ - t & rime a] catch (132/142 = 93.0%) caught (36) think (119/137= 86.9%) thought (363) bring (30/36 = 83.3%) brought (77) buy (30/36 = 83.3%) bough (70) c. [- Ø & No Change] put (239/251 = 95.2%) put (2,248) hit (79/87 = 90.8%) hit (66) hurt (58/67 = 86.6%) hurt (25) cut (32/45 = 71.1%) cut (21)

61 59 Verbos agrupados por classe d. [-Ø & Vowel Shortning] shoot (45/48 = 93.8%) shot (14) bite (33/37 = 89.2%) bit (13) Frequência de Input e. [-Ø & Backing ablaut] get (1269/132 = 95.9%) got (1,511) take (118/131 = 90.1%) took (154) write (20/27 = 74.1%) wrote (28) win (20/36 = 55.6%) win (36) f. [-Ø & Rime u] know (17/23 = 73.9%) knew (49) throw (11/34 = 32.4%) threw (28) Fonte: YANG (2002, p.78-79) A primeira regra apresentada no quadro acima, por exemplo, prevê o encurtamento da vogal para os verbos lose e leave, que, na forma pretérita, passam a ser lost e left, respectivamente. Na fala dos adultos, encontramos a frequência de 63 para lost e 53 para left. As crianças pesquisadas, por sua vez, teriam um índice de uso correto de 97,6% para o loselost e 94,9% para leave-left. De forma geral, o que se propõe no RC é que os verbos que aparecem mais no input tenham uma taxa de uso correspondente mais alto. Isso porque a fixação dos parâmetros dos verbos irregulares parece ser proporcional à exposição a que a criança é submetida à língua. No entanto, os dados da pesquisa mostram que alguns verbos que não apresentam alta frequência de input não têm resultados análogos à quantidade de exposição da criança, ou seja, em alguns casos, mesmo o nível de exposição sendo baixo, obteve-se alto grau de acerto. Isso não pode ser explicado pelo modelo WR, mas de acordo com o modelo RC, embora o verbo tenha sido pouco ouvido, tem um peso mais alto, pois outros membros da classe têm uma frequência mais alta no input. Em síntese, podemos dizer que, para Yang (op. cit.), a aquisição da linguagem dar-seia baseada na probabilidade linguística de maior grau de inputs. Uma vez descartadas as gramáticas concorrentes, a criança passaria a fixar somente os parâmetros da língua a que é exposta, seja pelo alto grau de inputs, seja pelo peso da classe verbal à que pertence o verbo a ser conjugado.

62 60 Na próxima seção, trataremos da proposta de Mark Baker, para que, no final, possamos criar um quadro comparativo das proposições feitas pelos três autores que escolhemos para essa pesquisa A Proposta de Mark Baker Baker (2005, p.3) defende que a capacidade de aquisição da linguagem é inata, entretanto, o processo de aquisição não pode ser tido como completamente inato, pois, se assim o fosse, todos os seres humanos falariam a mesma língua. Para ele, traços gramaticais que distinguem uma língua de outra devem ser adquiridos durante determinado período de tempo. De acordo com o autor, é muito raro podermos fazer asserções universais sobre as línguas naturais (como as do tipo: todas as línguas têm consoantes e vogais, todas as línguas têm verbos, etc.), por isso é importante ter foco sobre como as diferenças sobre as línguas são fixadas. No português, por exemplo, o verbo, de um modo geral, vem antes do objeto, diferentemente do japonês, em que o verbo vem depois do objeto. Com isso, pode se observar que, a partir de certas escolhas, a ordem das palavras na sentença é variável de língua para língua. De acordo com Baker (op. cit.), Greenberg (1963) observou que, nas línguas em que o verbo antecede o objeto, as preposições também antecedem os sintagmas nominais, o que é inverso em línguas cujo verbo é sucessor ao objeto. Nesses casos, as preposições também são sucessoras aos sintagmas nominais. Além disso, Baker aponta para diferenças entre línguas latinas e línguas orientais, tais como marcação de tempo e uso de artigos definidos no sintagma nominal. Uma das hipóteses de Baker é a de que a criança poderia, a partir do bootstrapping 25 sintático, potencializar o conhecimento de itens lexicais e seus significados. O autor se vale do exemplo de uma conjunção subordinada desconhecida pela criança. A ideia é que tal palavra, estranha à criança, ao ser colocada na posição onde deveria aparecer uma conjunção subordinada, forneceria a pista de que a palavra pertenceria a essa classe (conjunção subordinada). Além de já perceber a categoria gramatical devido à posição que a palavra ocupa na sentença, a criança poderia também perceber o sentido dessa conjunção subordinada a partir das ideias apresentadas nas sentenças utilizadas com outras conjunções de mesma 25 Traduzido como alavancamento. A criança construiria sentidos para os itens lexicais a partir da posição destes na sentença, isto é, a partir da estrutura sintagmática.

63 61 natureza. Na sentença Eu sou muito estudioso, embora nem sempre tire notas boas, a criança poderia perceber pela posição sintática que é ocupada pela palavra embora e pelas ideias encadeadas nas sentenças do período, que se trata se uma conjunção concessiva. Dito isso, Baker utiliza a teoria dos Princípios e Parâmetros para explicar que as diferenças anteriormente citadas podem ser verificadas por um parâmetro de variação. No caso da diferença entre inglês e japonês, por exemplo, o parâmetro em questão é o da direcionalidade de núcleo, que se diferenciaria no contraste entre o inglês e o japonês. Assim, para o autor, esse parâmetro seria o responsável, na língua inglesa, pelo fato de o verbo vir antes do objeto, de a preposição vir antes do nome, de a conjunção vir antes da sentença encaixada e de o verbo auxiliar com marcação de tempo vir antes do verbo principal. Todas essas marcações seriam inversas para o japonês. Baker (2005) propõe o seguinte diagrama para explicar a direcionalidade do núcleo nas duas línguas citadas: Figura 14 Diagrama do parâmetro direcionalidade do núcleo Fonte: BAKER (2005, p.103) Baker (op. cit.) propõe ainda a discussão sobre a questão da concordância nas línguas. Para ele, em algumas línguas, os verbos podem concordar com nenhum SN (como em línguas orientais: japonês, mandarim, etc.), com apenas um SN, desde que este seja sujeito (como no espanhol), com um ou dois SNs, um sendo sujeito e o outro sendo, facultativamente, o objeto (como em chichewa) e com dois SNs um sujeito e um objeto, necessariamente (como ocorre em Mohawk). Não obstante, no lugar de abordar a concordância como um parâmetro de várias configurações, o autor considera como quatro parâmetros, sendo que a configuração de

64 62 cada um depende de cada língua. Mohawk, por exemplo, tem valor positivo para dois parâmetros de concordância, diferentemente do espanhol, que possui apenas um parâmetro. Línguas como inglês e francês teriam basicamente a mesma configuração de parâmetros no que tange à posição das palavras. Nas duas línguas, o sujeito vem antes do predicado, verbos auxiliares antes do sintagma verbal e verbos antes de objetos. Entretanto, em relação à forma de negação, existe uma divergência entre essas línguas, já que, no inglês, o verbo principal permanece no mesmo lugar e o tempo é marcado pelo verbo auxiliar, o que significa que a partícula de negação aparece antes do verbo principal (exemplo: Leticia did not come to the school ); no caso do francês o verbo move-se para a marcação de tempo e, por isso, aparece na sentença antes da partícula de negação (exemplo: Leticia (ne) mange pás le gateau ). Para Baker, o parâmetro responsável pela diferença entre as duas línguas comparadas, seria de menor escala, uma vez que apresenta uma pequena diferença entre línguas essencialmente parecidas. Outro exemplo dado pelo autor é o da posição do sujeito no galês. Trata-se de mais uma língua próxima ao inglês e francês na estruturação das sentenças que, no entanto, se diferencia na posição do sujeito, pois, quando o verbo encontra-se flexionado, o sujeito ocupa posição depois do verbo auxiliar com marcação de tempo. Dito isso, Baker afirma que alguns parâmetros teriam maior impacto na formação da sentença e outros não. O parâmetro da direcionalidade do núcleo é responsável pela estruturação da sentença por inteira, ao passo que o parâmetro de atração do verbo (no caso do francês, por exemplo) seria mais específico em uma parte da sentença e só apareceria no caso de existência de uma partícula de negação e/ou um advérbio. A existência de parâmetros de maior e menor peso sugere a sobreposição de parâmetros. Isto é, para o autor deve haver uma hierarquização paramétrica. O que implica em dizer que a aquisição de um parâmetro poderia afetar a aquisição de outro. O parâmetro da atração do verbo seria muito importante para marcar a distinção entre algumas línguas, conforme citados os casos do inglês, francês e galês, porém, não influencia línguas orientais, como japonês e mandarim. Dessa forma, o parâmetro da direcionalidade se sobreporia ao parâmetro de atração do verbo, pois o segundo só seria aplicado depois de configurado o primeiro. Se o parâmetro de direcionalidade de núcleo for fixado como o japonês, o parâmetro da atração torna-se sem valor na formação da sentença. Podemos dizer assim que um parâmetro que define uma diferença entre grupos de línguas seria superior ao parâmetro que diferencia línguas do mesmo grupo. Diante disso,

65 63 Baker (2005, p. 119) propõe que O parâmetro X é mais alto do que o parâmetro Y se e somente se Y produz uma diferença de um tipo de linguagem definida por X, mas não em outra. Seria tarefa da criança configurar o parâmetro X, anteriormente a Y, somente se X se sobrepuser a Y. É importante esclarecer que um parâmetro não tem que, necessariamente, ser superior a outro, pois alguns podem apresentar efeito equivalente nas línguas. A proposta de Baker para casos como este é que houvesse combinações de dois parâmetros, em que cada um teria duas opções, facultando, assim, quatro tipos de parâmetros para as línguas. No caso de parâmetros independentes, não ocorreria ordenação específica, pois os parâmetros independentes não criam contextos para a formulação de outros. Baker (2005) afirma que o parâmetro de colocação do sujeito, que estaria relacionado à junção do sujeito com o verbo principal ou com o auxiliar, funcionaria junto com o parâmetro de atração do verbo em determinadas línguas e criariam a ordem verbo-sujeitoobjeto. Esses parâmetros estariam subordinados ao parâmetro de direcionalidade de núcleo, porque seus efeitos seriam vistos somente nas línguas em que a posição é sujeito-verboobjeto. Nessas línguas, o parâmetro de direcionalidade de núcleo determinaria se o sujeito viria depois de um marcador de tempo independente ou de um verbo flexionado, como em galês; ou antes do marcador de tempo o verbo flexionado, como no inglês e no francês. Por outro lado, em línguas orientais como mandarim e japonês, o marcador de tempo o verbo flexionado sempre vem ao final de qualquer forma, o que levou Baker a concluir que o parâmetro de colocação do sujeito é subordinado ao parâmetro de atração do verbo. Sendo assim, Baker (op. cit.) postula a hierarquia dos parâmetros ou tabela periódica das línguas, conforme figura a seguir:

66 64 Figura 15 Diagrama da Hierarquia de Parâmetros Fonte: BAKER (2005, p.123) De acordo com a figura anterior, Baker (op. cit.) conclui que o parâmetro mais alto seria o de concordância, ou seja, da concordância do verbo principal com nenhum, um ou dois SNs. Esse parâmetro está no topo do diagrama porque divide línguas bem distintas. Em seguida, o parâmetro de direcionalidade do núcleo, que trata da posição do núcleo nas sentenças. Diante disso, algumas línguas seriam configuradas como nomes antes e outras de nomes depois, em que o verbo estaria posterior ou anterior ao objeto. Seguinte aos dois parâmetros acima, viria o parâmetro de atração do verbo, que diz respeito à movimentação do verbo principal em algumas línguas. Logo abaixo, viria o parâmetro de colocação do sujeito, que diz respeito à junção do sujeito com o verbo auxiliar ou com o verbo principal, de acordo com os movimentos já fixados pelo parâmetro de atração do verbo. Por último, viria o parâmetro Pro-Drop, que trata do licenciamento (ou não) do sujeito nulo. No espanhol (assim como no português), é permitido o sujeito nulo, o que não acontece no francês. Um sistema paramétrico organizaria hierarquicamente o processo de compreensão da aquisição de linguagem, uma vez que lineariza o processamento mental das línguas naturais. O problema é que não se sabe quais são os mecanismos utilizados pelas crianças e tampouco a maneira como é fixado cada um dos parâmetros. De acordo com Baker, não existe conhecimento sobre como ocorre a fixação do primeiro parâmetro.

67 65 Para o autor, o parâmetro da direcionalidade do núcleo é adquirido bem cedo. Ele demonstra que dados das pesquisas de Bloom (1970), Brown (1973) e Slobin (1985) apontam que, desde as primeiras produções (entre 18 e 22 meses de idade), esse parâmetro já se mostra consolidado, fato este que comprova a hipótese de que tal parâmetro se encontra em um alto nível hierárquico. O parâmetro de atração do verbo seria o próximo a ser fixado. Isso porque, de acordo com Baker (op. cit.), dados de Deprez e Pierce (1993) sugerem que esse parâmetro é consolidado por volta dos 21 meses de idade. Nos estudos a que Baker faz referência, as crianças em aquisição de francês utilizam o verbo flexionado antes da partícula de negação, isto é, como o movimento para a marcação de tempo. Quando os verbos se encontram no infinitivo, eles não se movimentam, uma vez que a marcação de tempo não se faz necessária. Para sintetizar sua hipótese de hierarquia dos parâmetros, Baker (2005) apresenta o seguinte quadro: Quadro 7 Hierarquia de Parâmetros e o tempo de aquisição relacionado TEMPO DE AQUISIÇÃO DE PARÂMETRO NOME DO PARÂMETRO ORDEM TEMPO DE AQUISIÇÂO Concordância 1 Desconhecido Direcionalidade de núcleo meses Atração de verbo 3 22 meses Colocação de sujeito meses Sujeito nulo 5 27 meses Fonte: BAKER (2005, p. 127) A proposição de uma hierarquia para fixação dos parâmetros pode ser uma importante ferramenta para compreensão de quando e como acontece a aquisição da linguagem. Baker deixa claro que seus estudos são apenas um pontapé inicial, pois se faz necessário estudar mais profundamente outros parâmetros dentro dessa perspectiva, bem como elaborar metodologias que definam com maior precisão o tempo de configuração de cada um. Conforme já dissemos anteriormente, o foco de nosso trabalho está na aquisição das categorias tempo e aspecto. Assim, o parâmetro proposto por Baker que mais se aproxima de nosso objeto de pesquisa é o parâmetro da concordância, pois o autor propõe que este seria um parâmetro divido em outros quatro, com o objetivo de verificar se há concordância com nenhum, um, dois (um sendo sujeito e o outro, facultativamente, um objeto) ou dois (um

68 66 sendo sujeito e o outro, necessariamente, objeto). Isso explicaria o porquê de os traços de concordância com o verbo estariam abrigados em T. No caso dos nossos dados, que foram coletados por falantes de língua portuguesa, o parâmetro adotado seria aquele em o verbo concorda com um SN (sendo este sujeito). A análise dos nossos dados pode colaborar na comprovação desse parâmetro Avaliação das Propostas de Modelos A seguir, abordaremos a proposta de Thornton e Tesan (2007), que fazem uma avaliação dos modelos de Yang, Baker e Wexler. Em face às diferentes propostas de modelos de aquisição de linguagem, Thornton e Tesan (op. cit.) optaram pela escolha de parâmetros que tratam das categorias funcionais a fim de verificar qual modelo sustentaria melhor os dados 26 por elas coletados. Os parâmetros escolhidos pelas pesquisadoras dizem respeito à flexão verbal e à marcação da forma negativa. O parâmetro de flexão verbal adotado na pesquisa tinha como base a teoria de morfologia verbal híbrida de Lasnik (1995 apud Thornton e Tesan (2007)). De acordo com essa teoria, as línguas selecionariam uma categoria de flexão que teria a propriedade de ser traços ou afixal. A escolha entre traços ou afixos determinaria, para cada língua natural, como o verbo e sua morfologia seriam combinados na derivação sintática. Se uma língua seleciona uma categoria de flexão com propriedades de traços não interpretáveis, então esses traços seriam gerados em um nódulo de flexão e deveriam ser checados por uma categoria apropriada no processo de derivação. O verbo é, normalmente, o item lexical responsável pela checagem dos traços não interpretáveis em ST 27. Em francês, por exemplo, o verbo principal é inserido na derivação sintática com a flexão e se move do SV para ST para checagem de seus traços não interpretáveis. Línguas que selecionam o valor afixal de parâmetro de flexão teriam diferentes requisitos. O afixo seria gerado em ST e se manteria nessa posição. De acordo com as autoras, os afixos não se movimentariam na derivação sintática. Thornton e Tesan (op. cit,) entendem que o parâmetro de negação estaria relacionado ao fato de a partícula de negação ocupar o lugar de núcleo ou de especificador. Essa escolha teria grande impacto na ordem das palavras nas sentenças. Em uma língua em que a partícula de negação seja configurada como núcleo, o verbo apareceria depois da negação da sentença. 26 Os dados coletados são de quatro crianças em fase de aquisição de linguagem. São dados da língua inglesa. 27 ST é atualmente o que se chamava de INFL.

69 67 As autoras citam o italiano como exemplo: Juan no habla italiano 28. Por outro lado, em uma língua em que a partícula de negação seja configurada especificador, o verbo apareceria antes da partícula de negação, como ocorre no francês. As autoras trazem o francês como exemplo: Jean ne-parle pas grec 29. Mesmo sabendo que a noção de flexão e negação estariam em parâmetros distintos, esses parâmetros interagiriam quando a negação causasse algum efeito no modo de flexão. O esquema a seguir mostra a configuração de algumas línguas de acordo com a configuração dos parâmetros relacionados à flexão e à negação: Figura 16: Configuração de línguas para dois parâmetros Fonte: THORNTON; TESAN (2007, p.71) De acordo com a figura anterior, o francês seria uma língua de traço com a negação no especificador, o espanhol uma língua de traço com negação no núcleo, já o sueco, por outro lado, seria afixal com a negação no especificador e o inglês 30 seria uma língua afixal com negação no núcleo. A partir desse esquema, podemos perceber também que a criança em fase inicial de aquisição de linguagem tem quatro opções de verificação dos dados dos inputs que recebe. Nesse período, a criança poderia configurar algum dado de forma diferente da língua em que está sob exposição e é justamente por isso que algumas produções infantis parecem estranhas (soam até mesmo estrangeiras), pois ainda não estariam completamente consolidadas. Estabelecidos os parâmetros a serem pesquisados, Thornton e Tesan (op. cit.) propuseram alguns critérios de verificação da validade dos modelos de aquisição de parâmetros propostos por Yang (2002), Wexler (1996) e Baker (2005). Esses critérios seriam 28 Tradução: João não fala italiano. 29 Tradução: João não fala grego. 30 De acordo com nota de Thornton e Tesan (2007), o inglês não tem um comportamento uniforme, pois verbos auxiliares e modais são inseridos na sentença com valor de traço, ou seja, devem se mover para valoração de traços não interpretáveis.

70 68 de continuidade, uniformidade, ordenação, ponto de partida, requisito de input, trajetória e conformidade. O critério de continuidade estaria relacionado ao pressuposto de que cada valor de parâmetro seria totalmente especificado pela GU. Dessa forma, qualquer configuração inicial seria pertinente às línguas naturais, mesmo que determinado valor não fosse validado na língua em que a criança estivesse inserida. O critério da uniformidade seria o da ideia de que todas as crianças seriam expostas a uma distribuição de expressões ou estruturas linguísticas semelhantes. No critério da ordenação poderia verificar-se se, de fato, existe uma hierarquia na aquisição de categorias ou se não existe nenhuma ordem. O critério do ponto de partida estaria relacionado aos valores iniciais de definição dos parâmetros. Em um modelo que previsse valores alternantes, a criança produziria sentenças ora com um parâmetro, ora com outro. Um exemplo é parâmetro do sujeito nulo, pois, em alguns momentos, a criança explicita o sujeito na sentença e, em outros, não. No critério de requisito de input, verificar-se-ia se os dados de entrada para definição seriam suficientes em qualquer quantidade ou se seria necessária uma maior quantidade desses dados para confirmação dos parâmetros. Além disso, trataria de verificar se um parâmetro mais recorrente seria fixado antes de outro parâmetro menos recorrente. O critério da trajetória seria o do padrão de definição dos parâmetros, isto é, se os parâmetros seriam fixados em uma curva gradual ou em uma reta que sofre alteração de direção de forma abrupta. As autoras entendem como abrupta a fixação de parâmetros num período de três meses. O critério do requisito de conformidade verificaria se as crianças apresentam o mesmo curso de desenvolvimento para definição de parâmetros ou se existem diferenças individuais. Uma vez esclarecidos os dados, podemos expor a análise de Thornton e Tesan (op. cit) através dos três quadros a seguir:

71 69 Continuidade Uniformidade Ordenação Ponto de Partida Requisito de input Trajetória Conformidade Quadro 8 Avaliação do modelo de Wexler WEXLER Alguns princípios linguísticos são biologicamente programados para se tornarem operacionais posteriormente a outros. Crianças no mesmo ambiente linguístico encontram uma distribuição similar de expressões linguísticas. Os parâmetros são independentes. Crianças partem de um único valor, mas podem adotar outro. Diferenças nos dados dos inputs causam pequeno impacto na configuração dos parâmetros. Não é necessário um mecanismo estatístico. A formação da gramática é por mudanças abruptas. Os parâmetros ocorrem tão precocemente que diferenças individuais quase não serão observadas. Fonte: Elaborado pelo autor Continuidade Uniformidade Ordenação Ponto de Partida Requisito de input Trajetória Conformidade Quadro 9 Avaliação do modelo de Yang YANG Todos os valores de parâmetros estão na GU. Esse modelo assume a continuidade. Crianças no mesmo ambiente linguístico encontram uma distribuição similar de expressões linguísticas. Os parâmetros são independentes. Crianças começam com os valores de parâmetros em competição. A quantidade de dados é determinante para a configuração dos parâmetros. Existe um mecanismo estatístico que auxilia a configuração paramétrica. Os parâmetros com mais inputs serão primeiramente configurados. A formação da gramática é caracterizada gradualmente. Uma vez assumida a uniformidade do input, diferenças individuais não são previstas. Fonte: Elaborado pelo autor

72 70 Continuidade Uniformidade Ordenação Ponto de Partida Quadro 10 Avaliação do modelo de Baker BAKER Todos os valores de parâmetros estão na GU. Esse modelo assume a continuidade. Crianças no mesmo ambiente linguístico encontram uma distribuição similar de expressões linguísticas. Os parâmetros são independentes. Crianças começam com um único valor de parâmetro, embora outros os valores possam ser selecionados. Requisito de input Diferenças nos dados têm pequeno impacto na configuração dos parâmetros. Não é necessário mecanismo estatístico. Trajetória Há mudanças abruptas. Conformidade Alguns parâmetros precisam ser adquiridos antes do que outros. Como as crianças podem adotar valores distintos para o mesmo parâmetro inicialmente poderá haver diferenças no tempo de configuração desses parâmetros, assim, têm-se diferenças individuais. Fonte: Elaborado pelo autor Os três quadros anteriores demonstram uma previsão de cada modelo perante os critérios estabelecidos por Thornton e Tesan (op. cit.). Contudo, diante dos dados coletados, as autoras optaram por fazer uma escolha dos modelos mais adequados a partir dos três principais critérios que fazem distinção entres os modelos, que são: valor inicial, trajetória e conformidade. O modelo proposto por Wexler, no ponto de vista de Thornton e Tesan (op. cit.) não seria capaz de tratar dos dados coletados e, por isso, optaram por focar na avaliação do modelo variacional de Yang e no modelo de aquisição hierárquica de Baker. Referente ao ponto de partida, os dados coletados sugeririam que as crianças inicialmente começariam apenas com um valor para os parâmetros, o qual seria posteriormente alterado para valores da língua das crianças (inglês), caso tivessem iniciado com um valor diferente. Quanto ao valor de flexão, algumas crianças começariam com o valor de traço e outras com valor afixal. Para o parâmetro da negação, uma criança teve inicialmente essa partícula como núcleo e as outras como especificador. Durante a pesquisa, as crianças estabilizaram a parametrização e assumiram o valor pertinente para sua língua, que é afixal para flexão e de núcleo para negação. Não se constatou na pesquisa das autoras que as crianças operariam simultaneamente com dois valores de parâmetros a fim de escolher

73 71 um. Assim, nesse primeiro momento, os dados seriam mais bem enquadrados no modelo variacional de Yang. No que tange à trajetória, não se observou uma curva gradual, mas foi possível perceber uma reta com mudanças abruptas. Essa previsão também se enquadraria no modelo variacional de Yang. No que diz respeito à conformidade, o enquadramento só foi possível no modelo de aquisição hierárquica. Isso porque, no Modelo Variacional, previa-se uma estabilidade relativamente equilibrada para a aquisição dos parâmetros para todas as crianças e no modelo de aquisição hierárquica não existiria a previsão de conformidade. De acordo com as autoras, não ocorreu conformidade, já que as crianças iniciaram com valores distintos para os parâmetros; algumas configuraram o valor adequado (tendo em vista a língua do adulto) e outras tiveram início com valores não pertinentes àquela língua. Desse modo, a estabilização da parametrização para a criança que começou com valor adequado aconteceu anteriormente à criança que teve início com um parâmetro não pertinente à língua em exposição. Diante da avaliação proposta pelas autoras, podemos sintetizar o melhor enquadramento da seguinte maneira: Figura 17 Esquema de melhor enquadramento Thornton e Tesan. Fonte: Elaborada pelo autor Thornton e Tesan (op. cit.) chegam à conclusão de que não seriam necessários mecanismos estatísticos e afirmam que não compreendem, por completo, os mecanismos que definem as mudanças gramaticais, entretanto, postulam que esses mecanismos seriam sensíveis ao desenvolvimento gramatical mental das crianças e não refletiriam suas experiências linguísticas. Até este momento, tratamos de três modelos de aquisição paramétrica, cujo objetivo era o de explicar os dados de produção das crianças em fase de aquisição de linguagem. Além

74 72 disso, trouxemos uma avaliação desses modelos com base em critérios que procuravam diferenciar um modelo de outro a fim de mostrar qual modelo seria mais apropriado para cada um dos critérios. A seguir, trataremos da última seção deste capítulo, que é sobre a aquisição de aspecto. 4.3 Aquisição de Aspecto Nesta seção, nos atentaremos para exposição de algumas abordagens a respeito da aquisição de aspecto. Nosso objetivo é verificar em que medida essas concepções aqui trazidas corroboram com nossa hipótese de dissociação entre tempo e aspecto. Além disso, faremos uma breve exposição de alguns estudos que defendem a ideia de que o aspecto lexical pode influenciar no surgimento do aspecto gramatical. Ou seja, se um verbo que é télico influencia o surgimento da forma perfectiva e se um verbo que é atélico influencia o surgimento da forma imperfectiva. Os trabalhos a que recorremos foram produzidos majoritariamente entre as décadas de 70 e 80, visavam à validação da proposta de Jakobson (1957), cuja ideia era a de que o aspecto verbal é adquirido antes de tempo. De acordo com os trabalhos de Bronckart & Sinclair (1973) e Bloom, Lifter & Hafitz (1980), durante o estágio cognitivo pré-operacional, as crianças marcariam apenas as distinções aspectuais, na medida em que tais distinções se referem a propriedades de eventos particulares. Durante esse estágio, as crianças tenderiam a prestar mais atenção às características particulares do que às gerais. O uso de formas verbais indicando tempo ocorreria apenas durante o estágio operacional. Assim, crianças pequenas teriam dificuldade para representar relações temporais. O primeiro trabalho sobre aquisição de aspecto apresentado com essa concepção foi o de Bronckart & Sinclair (1973). Esses pesquisadores estudaram crianças entre 2,11 a 8,7 anos de idade aprendendo francês. Foi possível verificar uma interação semântica dos verbos e a aparição de afixos verbais. O experimento era bem simples, o pesquisador manipulava alguns brinquedos e, em seguida, pedia às crianças um relato sobre o que elas tinham assistido. Assim, era esperado que todas as crianças construíssem suas sentenças no pretérito, pois as ações já haviam se completado. No entanto, as crianças de até 6 anos de idade utilizaram tempo presente para algumas situações. Quando a cena implicava resultado claro (ou seja, + télica), a criança utilizava morfema de perfectividade, por outro lado, quando o final da cena não era claro (ou seja, situação - télica), a criança se valia de morfema de imperfectividade.

75 73 Diante desses resultados, Bronckart & Sinclair (op. cit.) defenderam que o uso que a criança faz da flexão verbal é principalmente uma codificação de aspecto, e não de tempo. Isso já nos apontaria para a existência de duas camadas flexionais, uma de tempo e a outra de aspecto. Em uma pesquisa muito semelhante, Bloom, Lifter & Hafitz (1980) investigaram crianças em fase de aquisição da língua inglesa. Os resultados obtidos sugeriram certa relação entre o traço semântico de duratividade do verbo e o afixo verbal empregado. No caso de verbos +durativos (como brincar e correr ), as crianças empregaram afixo ing, responsável por codificar o aspecto progressivo, ao passo que, com verbos -durativos (como cair, sair ), elas empregaram o afixo ed, que codifica tempo pretérito e aspecto perfectivo. Tais resultados foram interpretados pelos autores como evidência de que as flexões verbais iniciais são empregadas em verbos em função de um determinado aspecto lexical. Assim, mais uma vez, construía-se a hipótese de que o aspecto seria anterior à marcação de tempo na construção da gramática das crianças. Nessa perspectiva, Jakobson (1957), em Bloom, Lifter e Hafitz (op. cit.), observou, a partir de dados de crianças russas, que as formas dêiticas de tempo operariam em conjunto com a raiz. Esse postulado também sugere um direcionamento da aquisição das flexões verbais a partir do que é inerente ao verbo, ou seja, da noção aspectual. Alguns tipos de aspecto lexical têm uma relação natural com alguns tipos de aspecto gramatical. Por exemplo: os achievements e accomplishments, por terem traços + télico, apresentam um ponto de culminação, possuem uma relação automática com o aspecto gramatical perfectivo, o qual marca nos verbos a visão do evento por inteiro e, na maioria das vezes, pode-se perceber a completude dos eventos. As atividades e os estados, por possuírem um traço télico, seriam naturalmente mais relacionados ao aspecto imperfectivo. Na língua portuguesa, aparentemente, não existiria nenhuma restrição para o entrecruzamento dos aspectos lexical e gramatical. Construções como as do quadro abaixo, não seriam estranhas à língua.

76 74 Quadro 11 Exemplificação de Aspectualidade SENTENÇA ASPECTO Letícia pulou corda. Giovani entendeu a situação. Vovó não está me entendendo. Ele só tirava notas boas. Mamãe fazia comidas deliciosas. Atividade / Perfectivo Estado / Perfectivo Estado / Progressivo Achievement / Imperfectivo Accomplishment / Imperfectivo Fonte: Elaborado pelo autor Hodgson (2004) também desenvolveu uma pesquisa para verificar a produção e a compreensão do aspecto gramatical em língua espanhola. De acordo com a autora, em relação aos dados de produção, tanto crianças quanto adultos produziriam formas verbais em que seria possível verificar a maior relação entre aspecto télico/perfectivo e atélico/imperfectivo. Se a distribuição das crianças é similar a dos adultos, podemos compreender que a distribuição do aspecto não está ligada a alguma deficiência cognitiva relacionada a tempo, conforme sugerido pela Hipótese de Tempo Defectivo, proposta por Bronckart e Sinclair (1973) e Bloom, Lifter e Hafitz (1980). Para Hodgson (op. cit.), as crianças utilizariam as flexões de tempo para marcar aspecto e não como referência propriamente temporal. Em outras palavras, as crianças usariam tempo passado para marcar telicidade e tempo presente para marcar atelicidade. No que diz respeito à questão da compreensão, a pesquisa Hodgson (op. cit.) revelou que, perante situações de completude/incompletude, crianças de 3 a 4 anos não faziam distinção semântica de perfectivo e imperfectivo. Isso porque, de acordo com a autora, nessa idade, as crianças não conheceriam a semântica do aspecto gramatical. Os dados também revelaram que existe maior dificuldade para compreensão da morfologia imperfectiva do que perfectiva. Desse modo, a emergência do perfectivo seria anterior a do imperfectivo. A autora conclui que a idade para desenvolvimento do aspecto em espanhol é por volta dos 5 anos de idade. Assim, a ideia de que aspecto seria adquirido antes de tempo não procederia, pois as noções aspectuais não estariam fixadas na gramática das crianças mais novas. Vinnitskaya e Wexler (2001) analisaram a produção e a compreensão de aspecto em falantes de russo. Os experimentos aconteceram com crianças de 3 e 6,5 anos de idade. Nas avaliações de compreensão, as crianças revelaram que têm um bom conhecimento do aspecto, com resultado semelhante ao de um adulto. Nos testes de produção, por outro lado, o desempenho das crianças se revelou distinto em relação ao que acontece com as produções

77 75 adultas, isso porque as crianças russas utilizaram imperfectivo em contextos nos quais os adultos se valeriam das formas perfectivas. Os resultados sobre o uso de imperfectivo para Vinnitskaya e Wexler (op. cit.) estariam relacionados às questões pragmáticas. O uso excessivo da forma imperfectiva, por parte das crianças, dever-se-ia ao tratamento equivocado de declarações novas como informações antigas. Desse modo, a dificuldade não estaria na aquisição da morfologia de aspecto, já que as crianças demonstraram bom desempenho de produção nas variações aspectuais nos teste de compreensão. A dificuldade seria das avaliações de novo e antigo no discurso. De acordo com os autores, a informação tida como conhecida poderia perfeitamente ser marcada pelo morfema de imperfectividade. É importante dizer que aspecto verbal é uma categoria que apresenta diferentes configurações a depender de cada língua. Algumas línguas apresentam morfemas diferenciados para expressar aspecto e tempo, como acontece no russo. No espanhol, como aponta Hodgson (2004), tempo e aspecto são marcados no mesmo morfema. O inglês, por outro lado, não apresenta uniformidade na marcação de aspecto, isto é, não é uma língua em que se utiliza o morfema de tempo para marcação de aspecto em todos os casos, mas também não é uma língua em que o aspecto gramatical está sempre separado do morfema de tempo. O afixo -ing, por exemplo, marca exclusivamente o aspecto progressivo e o afixo ed serve apenas para marcação de aspecto perfectivo em tempo pretérito. Em se tratando da língua portuguesa, podemos dizer que há alternância quanto à utilização de morfemas para marcação de tempo e aspecto, isto é, ora a marcação é conjunta, ora é dissociada. Na sentença Estou estudando, por exemplo, o tempo presente está marcado pelo verbo auxiliar estou e a forma de gerúndio estudando é utilizada para marcar progressividade. Em Ele rezava, o morfema -va serve para marcar o tempo pretérito do evento ao mesmo tempo em que marca seu aspecto imperfectivo. Com esses exemplos, podemos afirmar que o comportamento da marcação do aspecto no português varia entre perífrases verbais e formas únicas verbais. Toda essa variação na formação do aspecto verbal pode ser uma explicação para os resultados diferenciados das pesquisas relacionadas à configuração inicial do aspecto verbal. Diante das diferentes pesquisas citadas nesta seção, podemos verificar que umas se contrapõem às outras, já que, nas últimas pesquisas, foi exposto que, na gramática das crianças mais novas, não há estabilidade na produção de aspecto e, portanto, não é possível afirmar que as crianças, em fase de aquisição de linguagem, adquirem aspecto antes de tempo verbal.

78 76 Assim, é nosso propósito verificar, no português, a procedência da adoção da proposta da cisão da camada flexional tempo, em tempo e aspecto. Além disso, é nosso interesse observar se a hipótese de aspecto ser anterior a tempo pode ser confirmada na aquisição de língua portuguesa e se, no que diz respeito ao aspecto gramatical, existe uma hierarquia na aquisição de perfectivo e imperfectivo. A partir do próximo capítulo, discorreremos sobre nossos dados e desenvolvimento de nossa pesquisa.

79 77 5 METODOLOGIA Neste capítulo, trataremos da exposição da metodologia usada nesta pesquisa, bem como os procedimentos adotados para análise dos dados que fazem parte deste trabalho. 5.1 A escolha do método A fim de verificar a questão das categorias tempo e aspecto, optamos pelo método hipotético-dedutivo ou somente dedutivo ao invés de nos valermos do método indutivo. Cientistas gerativistas têm como base para análise de seus dados o método dedutivo, uma vez que pesquisadores dessa linha partem do desempenho para competência, isto é, verificam os princípios universais da GU a partir de dados empíricos nas diferentes línguas naturais do mundo. Em outras palavras, a Teoria Gerativa propõe a existência de princípios universais sobre a gramática mental que são deduzidos a partir de falas produzidas pelos indivíduos de cada língua. Uma das principais características das ciências empíricas são os métodos indutivos. É comum utilizar esse termo (indutivo) para pesquisas que partem de dados individuais (análise de dados, experimentos, etc.) para enunciados universais (teorias, hipóteses, etc.). Ao explicar sobre o método indutivo, Gewandsznajder (1989) dá um exemplo de um ornitólogo que faz opção de observar cisnes em diferentes partes do mundo. Durante o período de observação, o ornitólogo encontra um cisne branco, depois outro cisne branco, mais outro cisne branco e, por meses, outros cisnes brancos. Diante da observação apenas de cisnes brancos, ele conclui que todos os cisnes do mundo são brancos. Obviamente, não podemos afirmar que o observador viu todos os cisnes do mundo, mas, a partir de um determinado período de observações, o pesquisador lança mão de uma conclusão generalista. Gewandsznajder (op. cit.) afirma que a indução não pode ser justificada em termos da lógica. Nas palavras do autor: Será que poderíamos justificar logicamente a indução? Obviamente, ela não é um argumento dedutivo, como são os argumentos lógicos. A lógica nos mostra que a partir do enunciado todos os cisnes são brancos podemos deduzir que alguns cisnes são brancos. Essa dedução é logicamente válida. Mas a indução faz o raciocínio oposto, inferindo do enunciado alguns A (cisnes) são B (brancos) o enunciado todos os A são B. Este raciocínio não pode ser justificado pela lógica. Aliás, em termos lógicos, ele não é válido. Assim, enquanto a lógica apenas faz ver uma conclusão que já estava embutida nas premissas, a indução vai além das premissas, não sendo, portanto, um argumento dedutivo. Em outras palavras, as conclusões dos argumentos indutivos trazem mais informações do que as contidas nas premissas. (GEWANDSZNAJDER, 1989, p.44)

80 78 De fato, parece estar longe de um ponto de vista lógico, a inferência de enunciados universais a partir de enunciados individuais, independentemente da quantidade das observações individuais. Assim, qualquer conclusão colhida desse modelo poderá ser tida como falsa. Não importa quantos cisnes se tenham observado ao longo de décadas, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos. O problema da indução, termo como são conhecidas as questões que tratam das inferências indutivas, é que, mesmo que uma situação seja constantemente repetida no passado, nunca teremos a certeza dos mesmos acontecimentos no futuro. Muitos pesquisadores acreditam que a verdade dos enunciados universais é conhecida somente pela experiência; entretanto, parece-nos evidente que a descrição de uma experiência ou observação só pode ser compreendida como um enunciado individual e não uma assertiva universal. A priori, seria comum imaginar o método indutivo como uma boa opção para o desenvolvimento de nossa pesquisa, uma vez que fizemos um estudo de caráter longitudinal de uma criança em fase de aquisição de linguagem. Não obstante, o raciocínio de que nos valemos é tido de outra maneira, pois, já dissemos, adotamos o método dedutivo como modelo de pesquisa. O método dedutivo, conforme esclarece Santos (2008), se alicerça nos pensadores racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz, cujo pressuposto é o de que apenas a razão pode conduzir ao conhecimento verdadeiro. Assim, parte-se de princípios tidos como verdadeiros e inquestionáveis (premissa maior) para, dessa forma, estabelecer relações com uma proposição particular (premissa menor) e, a partir do raciocínio lógico, chegar à verdade daquilo que propõe (conclusão). Ou, utilizando as palavras de Galliano (1979, p. 39), a dedução consiste em tirar uma verdade particular de uma verdade geral na qual ela está implícita. Para Galliano (1979), esse tipo de raciocínio é muito útil já que parte do conhecido para o desconhecido com pequena margem de erro, desde que se respeitem os critérios de coerência e de não contradição. Para Torres (2008), o método dedutivo é de grande valia em ciências físicas e matemáticas, cujos princípios podem ser enunciados como leis. Pode-se citar como exemplo a lei da gravitação universal, a qual estabelece que matéria atrai matéria na razão proporcional às massas e ao quadrado da distância, podendo daí serem deduzidas infinitas conclusões, das quais seria muito difícil duvidar. Contudo, nas ciências sociais, o uso desse método é bem mais restrito, em virtude da dificuldade para obterem-se argumentos gerais, cuja veracidade não possa ser colocada em dúvida.

81 79 De acordo com Araújo (2000), a dedução seria uma teia de raciocínios em conexão descendente, ou seja, parte-se do geral para o particular. Partindo-se de teorias e leis gerais, pode-se chegar à determinação ou à previsão de fenômeno ou fatos particulares. Segue um exemplo comum de raciocínio dedutivo: UNIVERSAL PARTICULAR CONCLUSÂO Todo homem é animal. João é homem. Logo, João é animal. O método dedutivo leva o pesquisador do conhecido ao desconhecido com pouca margem de erro, mas é de alcance limitado, uma vez que a conclusão não pode exceder as premissas. Esse método consiste na combinação de ideias em sentido interpretativo, isto valendo mais do que a experimentação de casos isolados. A nosso ver, metodologicamente falando, é de grande importância compreender que a necessidade de explicação não reside nas premissas, mas na relação entre as premissas e a conclusão. Diante disso, podemos assumir, em nossa pesquisa, que a linguagem é um sistema de princípios universais inatos ao ser humano e que, portanto, todo ser humano é dotado de linguagem. A nossa pesquisa, inserida dentro do arcabouço da Teoria Gerativa, não poderia ter outro método, senão o dedutivo, pois partimos do universal para o particular. Além disso, podemos dizer que as análises que faremos de casos particulares de aquisição de linguagem por parte de uma criança durante o período de quatro anos poderiam ser consideradas como resultado de pressupostos teóricos universais pertinentes à Teoria Gerativa. 5.2 Os dados da pesquisa Lembrando que um de nossos objetivos é o de verificar a aquisição de categorias funcionais por parte de uma criança, falante do português brasileiro, optamos por um estudo longitudinal durante o período de 4 anos. Utilizamos um corpus de 14 gravações, resultantes em um conjunto de frases da criança investigada, assim dividido:

82 80 Tabela 1 Descrição dos Dados Idade da Criança Frases 31 coletadas 1 ano 5 meses 04 dias ano 5 meses e 18 dias 77 1 ano 8 meses e 25 dias ano 9 meses e 20 dias anos 4 meses e 15 dias anos 6 meses e 28 dias 73 3 anos 7 meses e 8 dias anos 8 meses e 13 dias anos e 15 dias 87 4 anos 2 meses e 19 dias 71 4 anos 4 meses e 10 dias anos 6 meses e 03 dias anos 8 meses e 05 dias anos 10 meses e 06 dias 215 TOTAL Fonte: Dados da pesquisa Os dados dessa pesquisa estão sob responsabilidade do nosso grupo de pesquisa, que investiga traços formais na gramática mental de indivíduos com e sem déficit de linguagem e a leitura e a escrita por parte de pessoas com déficit gramatical, no qual este trabalho foi inserido. Mais especificamente, nos valemos de dados que constituem o corpus do Projeto Aquisição da Linguagem Oral, coordenado pela professora Cláudia Lemos, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) /UNICAMP, que teve como objetivo a descrição e a análise do processo de aquisição do português como primeira língua em 12 crianças com idades entre 11 meses a 6 anos. Os dados dizem respeito a uma amostra composta por gravações de áudio e videoteipe feitas com crianças paulistas da classe média, durantes as décadas de 70 e 80, filhas de pais universitários. Grande parte dos entrevistadores é composta pelos professores do IEL que gravaram as falas dos seus próprios filhos. A amostra está organizada 31 Entende-se como frases os enunciados que apresentam algum sentido, isto é, um conjunto de signos que estabelece a comunicação da criança com seus interlocutores. Nesse sentido, uma frase pode ser apenas uma palavra ou um conjunto delas.

83 81 cronologicamente e apresenta informações sobre o contexto de gravação como, por exemplo, a data da realização, idade do falante, investigador, entre outras. É importante destacar que todas as falas são espontâneas. A maior parte dos diálogos é entre a criança e a mãe, sendo que, em algumas ocasiões, outra criança (mais velha), também foi incluída e, em raríssimas ocasiões, ocorreu uma pequena participação do pai da criança. Não houve nenhuma tentativa de eliciação 32 por parte da mãe, o que atribui maior fidedignidade aos nossos dados e não compromete, de forma alguma, a espontaneidade das falas, bem como o evento da gravação. O motivo pelo qual abordamos dados de uma única criança se deve ao caráter longitudinal da pesquisa. Estudos longitudinais sobre a produção espontânea da fala pela criança são muito utilizados e têm como fim registrar a ocorrência de diferentes manifestações gramaticais ou de padrões de interação no comportamento da criança em seu ambiente linguístico. Uma vez que a coleta dos dados acontece em ambiente familiar por longo período de tempo, tal tipo de investigação é, em geral, conduzido com um número reduzido de crianças. Conforme explicitado anteriormente, existe uma hipótese de que as categorias funcionais é que norteariam o processo de aquisição de linguagem, e, por essa razão, selecionamos as categorias tempo e aspecto, porque acreditamos que tais categorias devem ser consideradas categorias funcionais localizadas em nódulos distintos na gramática mental. Para essa averiguação, foram analisadas as marcações formais correspondentes aos traços de tempo e de aspecto no verbo e às formas nominais: infinitivo, gerúndio e particípio. No primeiro momento, levantamos todas as ocorrências de verbos das sentenças produzidas pelas crianças e certificamo-nos de que nenhuma das falas teve apoio 33, isto é, de que todas as falas são espontâneas. Após o levantamento da quantidade de falas contendo verbos, detivemo-nos a especificar o tempo verbal de cada ocorrência e fizemos o mesmo para o aspecto lexical e gramatical relacionado à forma verbal selecionada. Uma vez tabuladas todas as falas da criança, empenhamo-nos em uma análise capaz de comprovar ou refutar as abordagens teóricas que trouxemos nos capítulos anteriores, buscando, assim, delinear o processo de como a aquisição da língua portuguesa, provavelmente, acontece. 32 A eliciação consiste na indução de falas. Não se trata de falas com apoio, em que a criança repete uma fala modelo, mas de atividades que provoquem a emergência de certos tipos de sentença. 33 Trata-se de interferências na fala da criança, isto é, o interlocutor cria um modelo, sugerindo indiretamente que a criança repita a mesma estrutura. Uma fala com apoio é quando uma criança repete imediatamente o que acabou de ser dito.

84 82 Nos próximos capítulos, portanto, detalharemos os dados e faremos as análises pertinentes a esses dados.

85 83 6 DESCRIÇÃO DOS DADOS Apresentamos, a partir de agora, a descrição dos resultados das 14 gravações de uma criança em fase de aquisição de linguagem. Na tentativa de organizar uma amostragem didática, dividimos a descrição dos dados em dois momentos: primeiramente, descrevemos cada uma das 14 gravações e, segundo, agrupamos as gravações em momentos distintos, condensando gravações que ocorreram em momentos próximos e que não apresentaram diferenças quanto ao surgimento de novas formas verbais. Para o detalhamento dos dados obtidos nas gravações da criança, apresentamos dois modelos de tabelas descritivas. A primeira tabela, denominada Flexão Verbal, trata de todas as ocorrências verbais com flexão de tempo, com suas respectivas quantidades. A segunda tabela, denominada Aspecto Gramatical e Lexical, trata das noções aspectuais produzidas pela criança informante, tanto lexicais (verbos télicos e atélicos) quanto gramaticais (perfectivo e imperfectivo 34 ). No que tange aos critérios da tabela Flexão Verbal, apresentamos particípio, gerúndio e infinitivo, mesmo sabendo que se trata de formas nominais (ou aspectuais), ou seja, não representam flexões de tempo. Achamos importante verificar o surgimento de gerúndio e particípio porque essas formas nominais podem mostrar dados relativos ao aspecto. O destaque para os infinitivos deve-se ao fato de que eles podem aludir à falta da flexão verbal e, consequentemente, sugerir que as categorias tempo e aspecto só se estabilizam depois de um determinado período em que a criança fica exposta à língua. Sobre a análise da categoria aspecto, é importante frisar que foram verificados aspectos lexicais apenas nos verbos que apresentam aspecto gramatical, excluindo, portanto, infinitivo, futuro e imperativo. Isso porque um de nossos objetivos é verificar a relação do conteúdo inerente às raízes verbais de aspecto com suas representações gramaticais. Dito isso, podemos seguir com a descrição das gravações. 6.1 Descrição individual das gravações Neste primeiro momento, detalharemos os resultados das 14 gravações de acordo com os critérios anteriormente especificados. Na próxima seção, apresentaremos a divisão das gravações em grupos, bem como a análise dos resultados. 34 Subdividimos a categoria imperfectivo em: imperfectivo e progressivo. Sabemos perfeitamente que o aspecto progressivo se inclui dentro da natureza imperfectiva do aspecto verbal, mas como nosso objetivo é de apontar quando aparecem as construções progressivas na fala da criança, achamos pertinente manter a divisão.

86 84 Na primeira gravação, a idade da criança era 1;5.4 (um ano, cinco meses e 4 dias), foram coletadas 140 frases, em que apenas 38 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Tabela 2 Flexão verbal 1ª Gravação Idade: 01;5.4 Futuro 0 Imperativo 24 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 0 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 10 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 04 Presente com gerúndio 0 Presente com infinitivo 0 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 0 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 38 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu na forma imperativo - 63,1% (exemplos: Pega, Olha lá.). Em seguida, notamos algumas formas flexionadas no pretérito perfeito - 26,3% (exemplo: Abô para acabou) e, em menor escala, frases no tempo presente - 10,5% (exemplo: Vão ). Não houve incidência de frase no futuro ou pretérito imperfeito. Notamos que a criança não manifestou fonologicamente o sujeito das orações, apenas utilizou os verbos nas formas flexionadas, como vão (para vamos), abô (para acabou), seei (para achei). A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada:

87 85 Gráfico 1 Flexão verbal 1ª Gravação Imperativo Pretérito Perfeito Presente Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 3 Aspecto Gramatical e Lexical 1ª Gravação Idade: 01;5.4 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 10 Imperfectivo 04 Progressivo 0 Total: 14 ASPECTO LEXICAL Télico 10 Atélico 04 Total : 14 Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto perfectivo (71,4%), revelado pela flexão do pretérito perfeito. Encontramos algumas vezes o aspecto imperfectivo (28,5%). Pudemos notar a relação entre perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade. Em todas as frases, o aspecto perfectivo encontrado foi para verbos de natureza télica e o imperfectivo para verbos de natureza atélica, tal como mostra o gráfico abaixo.

88 86 Gráfico 2 Aspecto Gramatical e Lexical 1ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na segunda gravação, a idade da criança era 1;5.18 (um ano, 5 meses e dezoito dias), foram coletadas 77 frases, em que apenas 8 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Tabela 4 Flexão verbal 2ª Gravação Idade: 01;5.18 Futuro 0 Imperativo 01 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 01 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 05 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 01 Presente com gerúndio 0 Presente com infinitivo 0 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 0 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 08 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu na forma flexionada, pretérito perfeito - 62,5% (exemplo: Abô para acabou). Em seguida, vieram na mesma quantidade o imperativo - 12,5% (exemplo: Ense de água para encha de água), o infinitivo - 12,5% (exemplo: Fumá ) e o presente - 12,5% (exemplo: Tá lá. ). Não houve incidência de frases no futuro ou pretérito imperfeito. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada:

89 87 Gráfico 3 Flexão verbal 2ª Gravação Pretérito Perfeito Presente Imperativo Infinitivo Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 5 Aspecto Gramatical e Lexical 2ª Gravação Idade: 01;5.18 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 05 Imperfectivo 02 Progressivo 0 Total: 07 ASPECTO LEXICAL Télico 06 Atélico 01 Total : 07 Fonte: Dados da pesquisa Em se tratando da categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto perfectivo (83,3%), revelado pela flexão do pretérito perfeito. Encontramos poucas vezes o aspecto imperfectivo (16,6%). Outra vez, foi estabelecida a relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade. Na maioria das frases (exceto uma frase no imperfectivo em que o verbo era télico), o aspecto perfectivo encontrado foi para

90 88 verbos de natureza télica e o imperfectivo para verbos de natureza atélica, conforme gráfico abaixo: Gráfico 4 Aspecto Gramatical e Lexical 2ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na terceira gravação, a idade da criança era 1;8.25 (um ano, oito meses e vinte e cinco dias), foram coletadas 151 frases, em que 53 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Tabela 6 Flexão verbal 3ª Gravação Idade: 01;8.25 Futuro 0 Imperativo 21 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 08 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 05 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 19 Presente com gerúndio 0 Presente com infinitivo 0 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 0 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 53 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior incidência de frases foi na forma de imperativo - 39,6% (exemplo: Vila. para vira.) e presente - 35,8% (exemplo: Prucuro. ). Em seguida obtivemos as formas de infinitivo - 15% (exemplo: Fazê. ) e pretérito perfeito -

91 89 9,4% (exemplo: Caiuuu. ). Não houve incidência de frases no futuro ou pretérito imperfeito, assim como nas duas primeiras gravações. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada: Gráfico 5 Flexão verbal 3ª Gravação Imperativo Presente Infinitivo Pretérito Perfeito Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 7 Aspecto Gramatical e Lexical 3ª Gravação Idade: 01;8.25 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 05 Imperfectivo 19 Progressivo 0 Total: 24 ASPECTO LEXICAL Télico 04 Atélico 20 Total : 24 Fonte: Dados da pesquisa Sobre a categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (79,1%), revelado pelas construções no tempo presente. Encontramos o aspecto perfectivo (16,6%) em número bastante reduzido, se comparado às gravações anteriores. Novamente, observamos uma forte relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade. Em quase todas as frases, o aspecto perfectivo encontrado foi para

92 90 verbos de natureza télica e o imperfectivo para verbos de natureza atélica, conforme gráfico abaixo. Não identificamos frases no futuro ou pretérito imperfeito. Gráfico 6 Aspecto Gramatical e Lexical 3ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na quarta gravação, a idade da criança era 1;9.20 (um ano, nove meses e vinte dias), foram coletadas 158 frases, em que 75 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Tabela 8 Flexão verbal 4ª Gravação Idade: 01;9.20 Futuro 0 Imperativo 11 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 03 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 10 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 31 Presente com gerúndio 17 Presente com infinitivo 03 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 0 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 75 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu na forma de presente - 41,3% ( É minha gali. ), sendo que, pela primeira vez, encontramos perífrases verbais, conforme indicado pelo item presente com gerúndio - 22,6% (exemplo: Babalu tá

93 91 fazéndu ), e formas do presente seguidas de infinitivo - 4% (exemplo: Qué papá ). Além disso, contabilizados frases no imperativo - 14,6% (exemplo: Pala, pala. para Fala. Fala.) e pretérito perfeito - 13,3% (exemplo: Tilô para tirou). Não houve incidência de frases no futuro ou pretérito imperfeito. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada: Gráfico 7 Flexão verbal 4ª Gravação Presente Presente com gerúndio Imperativo Pretérito perfeito Infinitivo Presente com infinitivo Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 9 Aspecto Gramatical e Lexical 4ª Gravação Idade: 01;9.20 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 10 Imperfectivo 51 Progressivo 0 Total: 61 ASPECTO LEXICAL Télico 13 Atélico 48 Total : 61 Fonte: Dados da pesquisa Podemos notar que, em se tratando da categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (83,6%), revelado pelas construções no tempo presente. Encontramos também o aspecto perfectivo (16,3%). Outra vez, temos a relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade, em que, na maioria das frases, o

94 92 aspecto perfectivo encontrado foi para verbos de natureza télica e o imperfectivo para verbos de natureza atélica, conforme gráfico a seguir. Gráfico 8 Aspecto Gramatical e Lexical 4ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na quinta gravação, houve um salto, a criança já estava com a idade de 3;4.15 (três anos, quatro meses e quinze dias), foram coletadas 352 frases, em que 268 eram compostas por verbos. Percebemos que, assim como ocorreu um grande intervalo de tempo entre uma gravação e outra (1 ano e 7 meses, especificamente), aconteceu um salto na quantidade de produção da criança. Neste momento, parece pertinente dizer que, quanto mais avançada a idade da criança, mais sofisticado (em termos de produção de morfemas ligados a tempo verbal) é o seu desempenho. A classificação ficou assim:

95 93 Tabela 10 Flexão verbal 5ª Gravação Idade: 03;4.15 Futuro 41 Imperativo 41 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 05 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 36 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 112 Presente com gerúndio 14 Presente com infinitivo 14 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 04 Pretérito imperfeito com gerúndio 01 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 268 Fonte: Dados da pesquisa Os dados anteriores revelam o surgimento de tempos verbais que não havíamos identificado até então. Até a idade de um ano e nove meses, a criança não havia manifestado construções de tempo futuro e pretérito imperfeito. A maior quantidade de verbos continuou no tempo presente - 41,7% (exemplo: Eu não sei onde tá. ), agora seguidas de frases no futuro - 15,2% (exemplo: Eu vou. ), imperativo - 15,2% (exemplo: Pega ele. ), pretérito perfeito - 13,4% (exemplo: Perdeu o durequinho aqui. ), presente com gerúndio - 5,22% (exemplo: Por que cê tá tirando dos olho? ), presente com infinitivo - 5,22% (exemplo: Deixa eu tirá um pouquinho, mamãe? ), infinitivo - 1,8% (exemplo: Pra arrumá ), pretérito imperfeito - 1,4% (exemplo: Queria que cê dormia comigo ) e pretérito imperfeito com gerúndio - 0,3% (exemplo: E eu queria que cê dormindo comigo. ). A produção verbal da criança a partir desse momento se revela muito mais completa, no sentido de apresentar todos os tempos (passado, presente e futuro) e pode ser contabilizada da seguinte maneira:

96 94 Gráfico 9: Flexão verbal 5ª Gravação Fonte: Dados da pesquisa Presente Futuro Imperativo Pretérito perfeito Presente com gerúndio Presente com infinitivo Infinitivo Pretérito imperfeito Pretérito imperfeito com gerúndio No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 11 Aspecto Gramatical e Lexical 5ª Gravação Idade: 03;4.15 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 35 Imperfectivo 131 Progressivo 14 Total: 180 ASPECTO LEXICAL Télico 64 Atélico 116 Total : 180 Fonte: Dados da pesquisa Pudemos notar que, em se tratando da categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (80,4%), seguida de perfectivo (19,6%). A novidade foi o aparecimento do aspecto progressivo (7,7% - já contabilizados na soma do aspecto imperfectivo), identificado a partir das sentenças com perífrases expressas por presente com gerúndio 35. Continuamos com a relação perfectividade/imperfectividade e 35 Consideramos o aspecto progressivo como uma parte específica do aspecto imperfectivo. Nas sentenças em que identificamos o aspecto imperfectivo temos formas só no presente e formas no presente com gerúndio.

97 95 telecidade/atelicidade. A maioria das frases com verbos com aspecto perfectivo foram observados verbos de natureza télica e, para os verbos com morfologia no imperfectivo, foram observados verbos de natureza atélica, conforme gráfico abaixo: Gráfico 10 Aspecto Gramatical e Lexical 5ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Progressivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na sexta gravação, a idade da criança era 3;6.28 (três anos, seis meses e vinte e oito dias), foram coletadas 73 frases, em que 48 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Nossa ideia aqui foi destacar as formas progressivas, pois, elas apareceram depois de certo amadurecimento biológico da criança e, além disso, são menos frequentes do que as construções de sentenças simples.

98 96 Tabela 12 Flexão verbal 6ª Gravação Idade: 03;6.28 Futuro 03 Imperativo 0 Imperativo com infinitivo 01 Infinitivo 02 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 08 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 25 Presente com gerúndio 03 Presente com infinitivo 02 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 03 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 1 Total de ocorrências verbais 48 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu no presente - 52% (exemplo: Nasce na barriga, mas não sai. ), em seguida pretérito perfeito - 16,6% (exemplo: Achei aqui. ), futuro - 6,2% (exemplo: Eu vô te mostrá o Minotauro. ), presente com gerúndio - 6,2% (exemplo: Porque a outra, tá viajando. ), pretérito imperfeito - 6,2% (exemplo: Eu não, queria que ele perdia. ), infinitivo - 4,1% (exemplo: Sair? ), presente com infinitivo - 4,1% (exemplo: Vai cês sair ), imperativo com infinitivo - 2% ( Ajuda eu procurá. ) e pretérito imperfeito com infinitivo - 2% (exemplo: Eu queria tê um cavalo, mãe. ). Assim como na quinta gravação, agora a criança produz sentenças em três tempos verbais. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada:

99 97 Gráfico 11 Flexão verbal 6ª Gravação Presente Pretérito perfeito Futuro Presente com gerúndio Pretérito imperfeito Presente com infinitivo Infinitivo Imperativo com infinitivo Fonte: Dados da pesquisa Pretérito imperfeito com infinitivo No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 13 Aspecto Gramatical e Lexical 6ª Gravação Idade: 03;6.28 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 08 Imperfectivo 31 Progressivo 03 Total: 42 ASPECTO LEXICAL Télico 13 Atélico 29 Total : 42 Fonte: Dados da pesquisa Sobre o aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (80,9%), revelado pelas construções no tempo presente e gerúndio, seguido do aspecto perfectivo (19%) e do progressivo (7,1% - já contabilizados na soma do aspecto imperfectivo). Outra vez, temos a relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade. Na maioria das frases, o aspecto perfectivo encontrado correspondeu a verbos de natureza télica e o imperfectivo a verbos de natureza atélica, conforme gráfico a seguir.

100 98 Gráfico 12 Aspecto Gramatical e Lexical 6ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Progressivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na sétima gravação, a idade da criança era 3;7.08 (três anos, sete meses e oito dias), foram coletadas 106 frases, em que 61 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Tabela 14 Flexão verbal 7ª Gravação Idade: 03;7.08 Futuro 04 Imperativo 03 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 03 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 18 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 25 Presente com gerúndio 01 Presente com infinitivo 04 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 03 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 61 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu no presente - 40,9% (exemplo: É só desse zeitinho não é grande não a história. ), em seguida pretérito perfeito - 29,5% (exemplo: Cortô tudo no meio. ), futuro - 6,5% (exemplo: Que eu vou falá. ), presente com infinitivo - 6,5% (exemplo: Eu não sei cantá. ), imperativo - 4,9% (exemplo: Cala essa boca. ) infinitivo - 4,9% (exemplo: Cantá a música. ), pretérito

101 99 imperfeito - 4,9% (exemplo: E daíí, e lá tinha uma leoooa. ) e presente com gerúndio - 1,6% (exemplo: Mas eu to falando. ). A criança mantém produção de sentenças nos três tempos verbais. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada: Gráfico 13 Flexão verbal 7ª Gravação Fonte: Dados da pesquisa Presente Pretérito Perfeito Futuro Presente com infinitivo Imperativo Infinitivo Pretérito imperfeito Presente com gerúndio No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 15 Aspecto Gramatical e Lexical 7ª Gravação Idade: 03;7.8 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 18 Imperfectivo 32 Progressivo 01 Total: 51 ASPECTO LEXICAL Télico 18 Atélico 32 Total : 51 Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (64,6%), revelado pelas construções no tempo presente e gerúndio. Já o aspecto perfectivo apareceu em menor escala (35,2%), seguido do progressivo 1,9% (já contabilizado na soma do aspecto imperfectivo). Temos, de novo, validação da relação

102 100 perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade. Na maioria das frases, o aspecto perfectivo encontrado foi para verbos natureza télica e o imperfectivo para verbos de natureza atélica, conforme gráfico abaixo. Gráfico 14 Aspecto Gramatical e Lexical 7ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Progressivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na oitava gravação, a idade da criança era 3;8.13, (três anos, oito meses e treze dias) foram coletadas 208 frases, em que 169 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Tabela 16 Flexão verbal 8ª Gravação Idade: 03;8.13 Futuro 12 Imperativo 11 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 03 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 29 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 64 Presente com gerúndio 06 Presente com infinitivo 09 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 34 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 01 Total de ocorrências verbais 169 Fonte: Dados da pesquisa

103 101 De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu no presente 37,8% (exemplo: Eu pego água do vasinho. ), mas, diferentemente de todas as gravações surgiu um alto número de pretérito imperfeito - 20% (exemplo: E daí cê jogava veneno na gente. ), seguido de pretérito perfeito - 17,1% (exemplo: Porque eu que inventei a brincadeira. ), futuro - 7,1% (exemplo: E eu vô. ), imperativo - 6,5% (exemplo: Arruma aí. ), presente com infinitivo - 5,3% (exemplo: Eu sei fazê a de feita de água. ), presente com gerúndio - 3,5% (exemplo: Tá levano? ), infinitivo - 1,7% (exemplo: Quebrá tua perna porquê. ) e pretérito imperfeito com infinitivo - 0,5% (exemplo: Mais eu queria guardá. ). A criança mantém a produção de todos os tempos verbais. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada: Gráfico 15 Flexão verbal 8ª Gravação Presente Pretérito Imperfeito Pretérito Perfeito Futuro Imperativo Presente com infinitivo Presente com gerúndio Imperativo com infinitivo Infinitivo Pretérito imperfeito com infinitivo Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte:

104 102 Tabela 17 Aspecto Gramatical e Lexical 8ª Gravação Idade: 03;8.13 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 29 Imperfectivo 105 Progressivo 06 Total: 140 ASPECTO LEXICAL Télico 33 Atélico 107 Total : 140 Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito ao aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (79,2%), revelado pelas construções no tempo presente e gerúndio. Já o aspecto perfectivo apareceu em menor escala (20,7%), seguido do progressivo (4,2% - já contabilizados na soma do aspecto imperfectivo). Continuamos confirmando a relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade. Na maioria das frases o aspecto perfectivo encontrado foi para verbos de natureza télica e o imperfectivo para verbos de natureza atélica, conforme gráfico abaixo: Gráfico 16 Aspecto Gramatical e Lexical 8ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Progressivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na nona gravação, a idade da criança era 4.15 (quatro anos e quinze dias), foram coletadas 87 frases, em que 48 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte:

105 103 Tabela 18 Flexão verbal 9ª Gravação Idade: Futuro 03 Imperativo 04 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 04 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 06 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 19 Presente com gerúndio 02 Presente com infinitivo 10 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 0 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 48 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu no presente - 39,5% (exemplos: Mais é baixinha. ), em seguida, presente com infinitivo - 20,8% (exemplo: Naaaão... eu quero fazê esse. ), pretérito perfeito - 12,5% (exemplo: Dexô abeerto. ), imperativo - 8,3% (exemplo: Vira. ), infinitivo - 8,3% (exemplo: Fazê material, Junior. ), futuro - 6,2% (exemplo: Eu vô arrumá e a Lela também. ) e presente com gerúndio - 4,1% (exemplo: A gente não tá gravando ). A criança mantém a produção de todos os tempos verbais. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada: Gráfico 17 Flexão verbal 9ª Gravação Presente Presente com infinitivo Pretérito perfeito Imperativo Infinitivo Futuro Presente com gerúndio Fonte: Dados da pesquisa

106 104 No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 19 Aspecto Gramatical e Lexical 9ª Gravação Idade: ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 06 Imperfectivo 29 Progressivo 02 Total: 37 ASPECTO LEXICAL Télico 03 Atélico 34 Total : 37 Fonte: Dados da pesquisa Podemos notar que, em se tratando da categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (83,7%), revelado pelas construções no tempo presente e gerúndio. Já o aspecto perfectivo apareceu em menor escala (16,2%), seguido do progressivo (5,4% - já contabilizado na soma do aspecto imperfectivo). A tendência da relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade se mantém. Na maioria das frases, o aspecto perfectivo encontrado foi para verbos de natureza télica e o imperfectivo para verbos de natureza atélica, conforme gráfico a seguir. Gráfico 18 Aspecto Gramatical e Lexical 9ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Progressivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa

107 105 Na décima gravação, a idade da criança era 4;2.19 (quatro anos, dois meses e dezenove dias), foram coletadas 71 frases, em que 58 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Tabela 20 Flexão verbal 10ª Gravação Idade: 04;2.19 Futuro 05 Imperativo 02 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 01 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 09 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 30 Presente com gerúndio 07 Presente com infinitivo 04 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 0 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 58 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu no presente 51,7% (exemplo: Porque a Lela bate em mim ), em seguida, pretérito perfeito - 15,5% (exemplo: Peeerdi de novo, cê ganho, eu perdi. ), presente com gerúndio - 12% (exemplo: Eu to arrumaando as coisas né?! ), futuro - 8,6% (exemplo: Aqui vai pô primeiro a meesa. ), presente com infinitivo - 6,8% (exemplo: Mais num pode dá esse algodão. ), imperativo - 3,4% (exemplo: Pega aí a cadeira mamii. ) e infinitivo - 1,7% (exemplo: E fazê filinha? ). A criança mantém a produção de todos os tempos verbais. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada:

108 106 Gráfico 19 Flexão verbal 10ª Gravação Presente Pretérito perfeito Presente com gerúndio Futuro Presente com infinitivo Imperativo Imperativo com infinitivo Infinitivo Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 21 Aspecto Gramatical e Lexical 10ª Gravação Idade: 04;2.19 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 09 Imperfectivo 33 Progressivo 07 Total: 49 ASPECTO LEXICAL Télico 14 Atélico 35 Total : 49 Fonte: Dados da pesquisa Sobre o aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (81,5%), revelado pelas construções no tempo presente e gerúndio. Já o aspecto perfectivo apareceu em menor escala (18,3%), seguido do progressivo (14,2% - já contabilizados na soma do aspecto imperfectivo). Continuamos verificando a relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade. Na maioria das frases, o aspecto

109 107 perfectivo encontrado foi para verbos de natureza télica e o imperfectivo para verbos de natureza atélica, conforme gráfico abaixo. Gráfico 20 Aspecto Gramatical e Lexical 10ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Progressivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na décima primeira gravação, a idade da criança era 4;4.10 (quatro ano, quatro meses e dez dias), foram coletadas 118 frases, em que 86 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Tabela 22 Flexão verbal 11ª Gravação Idade: 04;4.10 Futuro 09 Imperativo 03 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 02 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 19 Pretérito perfeito com infinitivo 01 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 43 Presente com gerúndio 03 Presente com infinitivo 04 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 02 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 86 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu no presente - 48,8% (exemplo: Eu não quero na minha gravação gente com chicleete. ), em seguida,

110 108 pretérito perfeito - 22% (exemplo: E a menina acreditou ), futuro - 10,4% (exemplo: Vô lá no seu quarto. ), presente com infinitivo - 4,6% (exemplo: Que eu não sei colocá. ), imperativo - 3,4% (exemplo: Fecha a porta, num quero na minha gravação. ), presente com gerúndio - 3,4% (exemplo: Tô fazendo a história. ), infinitivo - 2,3% (exemplo: Ir no clube ), pretérito imperfeito - 2,3% (exemplo: Eu usava também. ) e pretérito perfeito com infinitivo - 1,1% (exemplo: Não vi fazê mais, né?!). A criança mantém a produção de todos os tempos verbais. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada: Gráfico 21 Flexão verbal 11ª Gravação Presente Pretérito perfeito Futuro Presente com infinitivo Imperativo Presente com gerúndio Infinitivo Pretérito imperfeito Pretérito perfeito com infinitivo Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 23 Aspecto Gramatical e Lexical 11ª Gravação Idade: 04;4.10 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 21 Imperfectivo 48 Progressivo 03 Total: 72 ASPECTO LEXICAL Télico 13 Atélico 59 Total : 72 Fonte: Dados da pesquisa

111 109 Em se tratando da categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (70,9%), revelado pelas construções no tempo presente e gerúndio. Já o aspecto perfectivo apareceu em menor escala (29,1%), seguido do progressivo (4,1% já contabilizados na soma do aspecto imperfectivo). Aqui, encontramos a relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade, entretanto, numa escala bem menor do que havíamos constatado até aqui. Em quase metade das frases com aspecto perfectivo, encontramos aspecto lexical de natureza télica, mas, na outra metade, encontramos verbos de natureza atélica. No caso de aspecto imperfectivo a correspondência com atelicidade se manteve, conforme gráfico abaixo: Gráfico 22 Aspecto Gramatical e Lexical 11ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Progressivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na décima segunda gravação, a idade da criança era 4;6.3 (quatro anos, seis meses e três dias), foram coletadas 105 frases, em que 79 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte:

112 110 Tabela 24 Flexão verbal 12ª Gravação Idade: 04;6.3 Futuro 11 Imperativo 02 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 04 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 08 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 44 Presente com gerúndio 03 Presente com infinitivo 06 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 01 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 79 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu no presente - 55,6% (exemplo: Eu toomo maaais ráápido. ), em seguida, futuro - 13,9% (exemplo: Eu vô pá di taarde. ), pretérito perfeito - 8,8% (exemplo: Ahh! Já tomei banho. ), presente com infinitivo - 7,5% (exemplo: Mais eu quero nadáá! ), infinitivo - 5% (exemplo: De naadá. ), presente com gerúndio - 3,7% (exemplo: Que que cê tá falando de foora? ) e pretérito imperfeito - 1,2% (exemplo: Gostariia?. ). A criança mantém a produção de todos os tempos verbais. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada: Gráfico 23 Flexão verbal 12ª Gravação Presente Futuro Pretérito perfeito Presente com infinitivo Infinitivo Presente com gerúndio Fonte: Dados da pesquisa Pretérito perfeito com infinitivo Pretérito imperfeito

113 111 No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 25 Aspecto Gramatical e Lexical 12ª Gravação Idade: 04;6.3 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 08 Imperfectivo 50 Progressivo 03 Total: 61 ASPECTO LEXICAL Télico 10 Atélico 51 Total : 61 Fonte: Dados da pesquisa Podemos notar que, em se tratando da categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (84,4%), revelado pelas construções no tempo presente e gerúndio. Já o aspecto perfectivo apareceu em menor escala (15,6%), seguido do progressivo (5,88% - já contabilizado na soma do aspecto imperfectivo). Diferentemente da décima primeira gravação, temos novamente a validação da relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade. Na maioria das frases, o aspecto perfectivo encontrado foi para verbos de natureza télica e o imperfectivo para verbos de natureza atélica, conforme gráfico abaixo. Gráfico 24 Aspecto Gramatical e Lexical 12ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Progressivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa

114 112 Na décima terceira gravação, a idade da criança era 4;8.5 (quatro anos, oito meses e cinco dias), foram coletadas 183 frases, em que 134 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Tabela 26 Flexão verbal 13ª Gravação Idade: 04;8.5 Futuro 04 Imperativo 04 Imperativo com infinitivo 01 Infinitivo 06 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 16 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 02 Presente 90 Presente com gerúndio 02 Presente com infinitivo 06 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 03 Pretérito imperfeito com gerúndio 0 Pretérito imperfeito com infinitivo 0 Total de ocorrências verbais 134 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu no presente - 67,1% (exemplo: É nada, é porquê a gente - a gente gosta de brigá memo. ), em seguida, pretérito perfeito - 11,9% (exemplo: A Lela mostrou a língua. ), infinitivo - 4,4% (exemplo: Comprar mamão? ), presente com infinitivo 4,4% (exemplo: Não precisa falar que nem nenê. ), futuro - 2,9% (exemplo: Eu não vou na di manhã, nemmm! ), imperativo - 2,9% (exemplo: Limpa a cara dela. ), pretérito imperfeito - 2,2% (exemplo: Que a Olivia era a a Ísis. ), pretérito perfeito com gerúndio - 1,4% (exemplo: Ah! Mais ela falou chamando eu, né bebeé? ), presente com gerúndio - 1,4% (exemplo: Eu to indooo. ) e imperativo com infinitivo - 0,74% (exemplo: Faz no meu pra ver como é que é! ). A criança mantém a produção de todos os tempos verbais. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada:

115 113 Gráfico 25 Flexão verbal 13ª Gravação Presente Pretérito perfeito Infinitivo Presente com infinitivo Futuro Imperativo Pretérito imperfeito Pretérito perfeito com gerúndio Imperativo com infinitivo Presente com gerúndio Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 27 Aspecto Gramatical e Lexical 13ª Gravação Idade: 04;8.5 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 18 Imperfectivo 99 Progressivo 02 Total: 119 ASPECTO LEXICAL Télico 06 Atélico 113 Total : 119 Fonte: Dados da pesquisa Podemos notar que, sobre categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (88,1%), revelado pelas construções no tempo presente e gerúndio. Já o aspecto perfectivo apareceu em menor escala (12,1%), seguido do progressivo (5,88% já contabilizado na soma do aspecto imperfectivo). Assim como na décima primeira agravação, a validação da relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade é válida apenas para imperfectivo e atélico, as frases no perfectivo tiveram a maioria de verbos atélicos, conforme gráfico a seguir.

116 114 Gráfico 26 Aspecto Gramatical e Lexical 13ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Progressivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Na décima quarta e última gravação, a idade da criança era 4;10.6 (quatro anos, dez meses e seis dias), foram coletadas 215 frases, em que 137 eram compostas por verbos, cuja classificação é a seguinte: Tabela 28 Flexão verbal 14ª Gravação Idade: 04;10.6 Futuro 15 Imperativo 20 Imperativo com infinitivo 0 Infinitivo 04 Particípio 0 Gerúndio 0 Pretérito perfeito 21 Pretérito perfeito com infinitivo 0 Pretérito perfeito com gerúndio 0 Presente 49 Presente com gerúndio 12 Presente com infinitivo 05 Presente com particípio 0 Pretérito imperfeito 07 Pretérito imperfeito com gerúndio 02 Pretérito imperfeito com infinitivo 02 Total de ocorrências verbais 137 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os dados acima, a maior quantidade de verbos apareceu no presente - 35,7% (exemplo: Essa daqui não presta mais. ), em seguida, pretérito perfeito - 15,3% (exemplo: Cheguei, cheguei, cheguei com uma bonequinha aqui pra vocêê. ), imperativo - 14,5% ( Olha, Lu. ), futuro - 10,9% (exemplo: Eu vô escrevê. ), presente com gerúndio - 8,7% (exemplo: Eu tô aprendeno a historia. ), pretérito imperfeito - 5,1% (exemplo: Daí eu

117 115 comprava uma roupinha pra ela. ), presente com infinitivo - 3,6% (exemplo: Eu quero mudá pra casa lá perto da Vânia. ), infinitivo - 2,9% (exemplo: Qué vê, ó?!), pretérito imperfeito com gerúndio - 1,4% (exemplo: A gente tava brincano. ) e pretérito imperfeito com infinitivo - 1,4% (exemplo: Queria ficá fazeno uma lá na escolinha. ) A criança mantém a produção de todos os tempos verbais. A produção verbal da criança pode ser assim contabilizada: Gráfico 27 Flexão verbal 14ª Gravação Presente Pretérito perfeito Imperativo Futuro Presente com gerúndio Pretérito imperfeito Presente com infinitivo Infinitivo Pretérito imperfeito com gerúndio Pretérito imperfeito com infinitivo Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à produção dos aspectos gramatical e lexical, contabilizamos o seguinte: Tabela 29 Aspecto Gramatical e Lexical 14ª Gravação Idade: 04;10.6 ASPECTO GRAMATICAL Perfectivo 23 Imperfectivo 63 Progressivo 10 Total: 96 ASPECTO LEXICAL Télico 20 Atélico 76 Total : 96 Fonte: Dados da pesquisa Do mesmo modo como ocorreu nas gravações anteriores, em se tratando da categoria aspecto gramatical, a maior parte da produção foi do aspecto imperfectivo (76,4%), revelado

118 116 pelas construções no tempo presente e gerúndio. Já o aspecto perfectivo apareceu em menor escala (23,9%), seguido do progressivo (10,4% já contabilizado na soma do aspecto imperfectivo). De novo, temos a validação da relação perfectividade/imperfectividade e telecidade/atelicidade, confirmando o aspecto perfectivo para verbos de natureza télica e o imperfectivo para verbos de natureza atélica, conforme gráfico abaixo: Gráfico 28 Aspecto Gramatical e Lexical 14ª Gravação Perfectivo Imperfectivo Progressivo Télico Atélico Fonte: Dados da pesquisa Nesta seção, conforme demonstrado, apresentamos os resultados das análises para as flexões de tempo verbal e aspecto verbal para cada etapa estudada. Na próxima seção, faremos análises para as flexões de tempo verbal e de aspecto verbal para cada etapa estudada, observando-se períodos maiores, pois agruparemos alguns resultados. 6.2 Agrupamento das gravações Podemos resumir os dados anteriormente descritos quanto ao aparecimento de categorias verbais e, diante do surgimento de diferentes construções temporais, propor a divisão das gravações em três grupos principais. Optamos por unir, no primeiro grupo, as três primeiras gravações, período em que a criança tinha idade entre um ano e cinco meses e um ano e oito meses. Isso porque, durante essa idade, a criança construiu sentenças utilizando apenas quatro noções temporais: imperativo, infinitivo, presente e pretérito perfeito simples. Na primeira gravação, quando a criança tinha a idade de 1;5.4 (um ano, cinco meses e quatro dias), encontramos o tempo presente, o pretérito perfeito e imperativo. Na gravação seguinte, catorze dias depois da primeira gravação, além dos três tempos verbais encontrados na primeira gravação, também houve a ocorrência do infinitivo. Na terceira gravação, que veio três meses depois da segunda, a idade da criança era 1;8.25 (um ano, oito meses e vinte e

119 117 cinco dias) e a criança manteve suas construções apenas nas quatro categorias temporais mencionadas (imperativo, infinitivo, presente e pretérito perfeito). O segundo grupo diz respeito apenas à quarta gravação, ocasião em que a criança tinha a idade de 1;9.2 (um ano, nove meses e dois dias). Essa proposta de agrupamento se dá porque, além das quatro noções temporais verificadas nas três primeiras gravações, a criança apresentou, em sua fala, construções mais complexas, pois identificamos frases no presente com infinitivo e presente com gerúndio, ou seja, neste último caso, destacamos a utilização de perífrases verbais. Diante disso, podemos afirmar que a diferença do primeiro e do segundo grupo é que, no primeiro, a criança apresentou, em sua fala, apenas morfemas de presente e pretérito simples, imperativo e infinitivo, já no segundo grupo, a criança demonstrou sentenças mais complexas, produzindo, assim, presente com infinitivo e com perífrases verbais no tempo presente. O terceiro e último grupo é o maior de todos, isso porque, conforme já explicitado anteriormente, aconteceu um grande intervalo de tempo entre a quarta e a quinta gravação. Certamente, durante esse intervalo de gravações, a criança apresentou a aquisição de novas categorias, mas, infelizmente, não temos como medir isso. Contudo, podemos dizer que, a partir da quinta gravação, em que a idade da criança tinha 3;4.15 (três anos, quatro meses e quinze dias) foram identificadas outras formas temporais, tais como futuro e pretérito imperfeito. Neste momento, a criança passou a demonstrar o domínio de pretérito, presente e futuro, bem como o aumento da produção de perífrases verbais e as noções aspectuais de perfectivo e imperfectivo. Uma vez propostos os três agrupamentos, podemos afirmar que, no primeiro e no segundo grupo (idade entre um ano e cinco meses e um ano e nove meses), a criança não apresentava todas as noções temporais, mas que, no terceiro grupo, com idade a partir de 3,4 anos (três anos e quatro dias), encontramos produções com morfemas relativos a todas as noções temporais. Em outras palavras, podemos dividir os três grupos em: 1) o grupo das noções de presente e pretérito simples, imperativo e infinitivo; 2) o grupo das noções de presente, pretérito, imperativo infinitivo e construções perifrásicas; 3) o grupo que engloba as noções de pretérito, presente, futuro, imperativo, infinitivo e construções perifrásicas. Conforme já apontamos, o terceiro grupo é o maior de todos. Podemos dizer que, entre 3,4 (três anos e quatro meses) e 4,10 (quatro anos e dez meses) anos de idade, a criança produz sentenças do mesmo tipo. Aliás, se analisarmos cada um dos gráficos anteriores, perceberemos uma sofisticação na construção das sentenças produzidas pela criança. Quanto

120 118 mais avançada a idade da criança, mais complexas podem ser as suas produções. Frase com pretérito com infinitivo, por exemplo, só surgem mais tarde (com idade entre quatro e quatro anos e meio). Para detalhar o momento em que surgem as categorias verbais na fala das crianças, propomos o gráfico abaixo, em que o topo da pirâmide representa a idade com que a criança manifestou determinada categorial verbal. Gráfico 29 Aparecimento das flexões verbais Aparecimento das Flexões Verbais 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Futuro Imperativo Imperativo c/ infinitivo Infinitivo Pretérito Perfeito Pret. Perf. c/ infinitivo Pre. Perf. com gerúndio Presente Presente com gerúndio Presente com infinitivo Pretérito Imperfeito Pret. Imp. c/gerúndio Pret. Imp. c/ infinitivo Fonte: Dados da pesquisa Aparecimento das Flexões Verbais Diante do gráfico, parece-nos plausível afirmar que os recursos de marcação de tempo na sentença são desenvolvidos gradualmente, esses parâmetros não estão fixados desde o nascimento da criança. À medida que a criança recebe os inputs é que ela vai ativando os valores morfológicos de tempo. No que diz respeito ao agrupamento das categorias de aspecto gramatical, podemos propor a divisão em apenas dois grupos. O primeiro grupo diz respeito às noções simples de perfectivo e imperfectivo, o segundo grupo, por outro lado, subdivide o aspecto imperfectivo em imperfectivo e progressivo. Optamos por destacar o aspecto progressivo porque as construções de natureza progressiva só aparecem mais tarde na fala da criança e se devem à utilização de perífrases verbais.

121 119 Entre 1,5 (um ano e cinco meses) e 1,9 (um ano e nove meses) anos de idade a criança apresenta construções apenas nas formas perfectiva e imperfectiva simples (isto é, sem noções de progressividade), o aspecto progressivo só vai aparecer a partir da gravação em que a criança tinha a idade de 3;4.15 (três anos, quatro meses e quinze dias). O gráfico a seguir, em que o topo da pirâmide representa a idade com que a criança manifestou aquele aspecto gramatical, resume bem as nossas observações: Gráfico 30 Surgimento do Aspecto Gramatical Surgimento do Aspecto Gramatical 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Perfectivo Imperfectivo Progressivo Fonte: Dados da pesquisa Surgimento do Aspecto Gramatical Sobre o agrupamento das categorias de aspecto lexical, não é cabível nenhuma divisão. Isso porque, desde a primeira gravação, a criança construiu sentenças utilizando diferentes tipos de verbos, o que nos permitiu observar que, desde o início, a criança demonstrou competência na produção de verbos de natureza télica e atélica. Podemos ainda contrastar o aparecimento do aspecto lexical e do aspecto gramatical. De acordo com o gráfico abaixo, em que a ponta da pirâmide aponta a idade do aparecimento de tais aspectos, podemos pensar que o aspecto lexical parece ser de conhecimento da criança em fase de aquisição da linguagem, e que, portanto, parece ser anterior ao conhecimento do aspecto gramatical. Isso porque, no caso do aspecto gramatical, a noção de progressividade só aparece mais tarde na fala da criança.

122 120 Gráfico 31 Contraste Aspecto Gramatical e Lexical 4,5 4 3,5 3 2,5 2 Télico Atélico 1,5 1 0,5 0 Perfectivo Imperfectivo Progressivo Fonte: Dados da pesquisa Conforme mostrado anteriormente, as noções temporais e aspectuais vão surgindo de acordo com desenvolvimento da criança. Além disso, é curioso notar que os verbos télicos apareceram nas construções progressivas muito antes dos verbos atélicos. Uma vez que detalhamos os resultados das gravações e fizemos nossas considerações sobre uma maneira de agrupá-las, passaremos à análise dos nossos resultados, à luz das teorias que nos guiaram nesta pesquisa.

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