Introdução à perspectiva cognitivista da linguagem: visão geral. Sintaxe do Português II Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo FFLCH-USP DLCV FLP
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1 Introdução à perspectiva cognitivista da linguagem: visão geral Sintaxe do Português II Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo FFLCH-USP DLCV FLP
2 O que é a Linguística Cognitiva (LC)? Para Croft & Cruse (2004: 01), são três grandes hipóteses que guiam a abordagem cognitivista da linguagem, a partir do seu fortalecimento, na década de 80: 1. A língua (linguagem) não é uma faculdade cognitiva autônoma. a representação do conhecimento linguístico não é diferente da representação de outras estruturas conceptuais. A organização e a recuperação de conhecimento linguístico e as habilidades aplicadas na produção e na interpretação não são significativamente distintas daquelas aplicadas para outras tarefas cognitivas, como percepção, controle motor, percepção visual e racionalização. Language is the real-time perception and production of a temporal sequence of [...]structured symbolic units. 2. Gramática é conceptualização. A estrutura conceptual não pode ser reduzida a uma correspondência vericondicional com o mundo. A linguagem emerge da experiência humana, o que torna o significado inerentemente flexível, aberto, perspectivado e dinâmico. Assim, elementos gramaticais e lexicais atuam na estruturação da experiência. 3. O conhecimento da língua emerge do uso. As categorias e as estruturas linguísticas semânticas, sintáticas, morfológicas e fonológicas derivam da abstração de enunciados específicos em contextos particulares de uso, em um processo indutivo de abstração e esquematização.
3 O que é a Linguística Cognitiva (LC)? Teorias gerativas Teorias cognitivistas Teorias funcionalistas (tipológicas) Propostas Propostas Propostas Visão racionalista Visão empírica Contínuo entre racionalismo e empiricismo Gramática Universal Compromisso Cognitivo e de Generalização Modelo de mapa semântico Tese da modularidade Tese do Corporeamento Economia cognitiva Autonomia da sintaxe (palavras e regras) Tese Simbólica Iconicidade Sistema computacional: regras constroem a estrutura Modelo baseado no uso: esquemas emergem do uso As propriedades da língua podem ser explicadas com base no uso e na cognição Building-block metaphor Gramática como inventário estruturado Língua é dinâmica Economia proíbe redundância Contínuo léxico-gramática Uso dá forma à linguagem Competência determina desempenho Redundância é natural Variação linguística é natural Objetivos Objetivos Objetivos Descrever a GU; abordar a gramaticalidade; descobrir e explicar generalizações; desenvolver um modelo formal Demonstrar que a gramática é imbuída de significado; desenvolver um modelo que seja cognitivamente pertinente. Descrever universais linguísticos; propor generalizações em termos de evoluções e desenvolvimentos léxico-gramaticais Métodos Métodos Métodos Intuição do nativo; comparação interlinguística de baixa escala Busca de evidências convergentes; uso de evidência diacrônica; evitar formalismo Análises interlinguísticas de larga escala; atenção especial à forma linguística Evans & Green (2006: 744, 747, 761)
4 1. Continuum léxico-gramática Em modelos formais, o componente sintático faz a intermediação entre a forma e o conteúdo. Em modelos cognitivistas, tanto o léxico quanto as estruturas gramaticais são unidades simbólicas significativas, diferenciando-se no grau de esquematicidade ou de especificidade. All valid gramatical constructs are symbolic, hence reducible to form-meaning pairings (Langacker, 2008: 06). Advérbio -mente SN V transferência SN SP (P + SN) alegremente Semanticamente esquemático Semanticamente esquemático Semanticamente específico Semanticamente específico Fonologicamente esquemático Fonologicamente específico Fonologicamente esquemático Fonologicamente específico
5 2. Língua como inventário de unidades simbólicas estruturadas em rede, a partir de esquemas que emergem do uso Em modelos formais, um componente computacional gera (ou constrói) estruturas gramaticais, a partir de regras que precedem e determinam as expressões específicas que instanciam uma construção. Nos modelos cognitivistas, o conhecimento da língua é estruturado a partir de esquemas, abstraídos de eventos concretos de uso e enraizados em consequência desse uso, formando uma rede de unidades simbólicas conectadas, que atuam como templates. 3. Por conseguinte, construções são primitivas. Em modelos formais, construções consistem no output (manifestação) de processos e de elementos primitivos (palavras e regras) dos quais derivam. Nesse sentido, consistem em epifenômenos. Para a LC, a língua é um inventário de construções significativas, armazenadas como um todo, formando uma grande rede. Por conseguinte, são as construções os elementos primitivos.
6 4. As redes de unidades simbólicas envolvem esquemas e instâncias Em modelos formais, a língua deve ser maximamente econômica, para ser adquirida e manipulada rapidamente; por conseguinte, apenas as regras devem integrar o conhecimento linguístico. Nos modelos cognitivistas, tanto os esquemas quanto as instâncias coexistem na gramática, uma vez que o esquema é uma abstração/generalização que emerge de padrões de uso. 5. Todas as expressões, regulares e irregulares, integram o inventário linguístico e devem ser estudadas Modelos formais tendem a negligenciar o estudo da linguagem figurada ou de construções que envolvem significação não composicional, como idioms, uma vez que o objetivo primário é a caracterização da GU e das regularidades a ela inerentes. Modelos cognitivistas buscam dar conta de todo o inventário linguístico e explicar as condições de emergência das expressões idiomáticas.
7 6. As unidades simbólicas são enraizadas, não requisitando serem totalmente reconstruídas a cada instância Em modelos formais, enfatiza-se a metáfora do Lego: elementos linguísticos tem estrutura componencial/composicional e são usados como blocos para construir estruturas complexas, como sentenças e lexemas. Em modelos cognitivistas, as unidades, abstraídas do uso e enraizadas mediante frequência de uso (type e token), são imanentes ao conhecimento linguísticos e são ativadas globalmente no uso. De modo geral, quanto maior o enraizamento, menor a saliência da composicionalidade, que é vista como um epifenômeno.
8 7. Embora não seja aceito em todas as propostas cognitivistas, o Content Requirement (Langacker, 2008: 25) assinala que só integram o conhecimento linguístico (i) estruturas semânticas, fonológicas e simbólicas que, de fato, ocorrem como partes de expressão; (ii) esquematizações das estruturas permitidas; e (iii) relações de categorização entre as estruturas permitidas. Modelos formais propõem a existência de elementos invisíveis e desprovidos de significado para preservar generalizações, o que economiza regras. Além disso, alguns deles propõem estruturas subjacentes, a partir das quais operações são realizadas para efetivar construções. Modelos cognitivistas não aceitam essas propostas, argumentando que tais elementos e processos não podem ter sido abstraídos de eventos de uso, o que é coerente por não se postular uma GU. Por outro lado, o número de construções em rede prolifera.
9 8. O significado consiste em aspecto fundamental na estruturação da gramática e configurase no motor da linguagem Para Geeraerts (2010), o significado é: a. flexível e dinâmico, uma vez que é moldável e moldado, interacionalmente, por cada interlocutor. Isso ocorre, porque ele está em contínuo processamento e reprocessamento e, portanto, sempre aberto a reorientações, mudanças e confrontações; b. enciclopédico, já que sua construção envolve redes de conhecimentos associados que colaboram para a compreensão e para a elaboração de uma dada versão da realidade; c. perspectivado, visto que é resultado de nossa experiência com a realidade, o que implica que a LC não concebe uma relação objetiva entre o significado e a realidade, rejeitando postulados vericondicionais. 9. Os recursos linguísticos consistem em instruções parciais que ativam redes conceptuais de conhecimento enciclopédico, a partir das quais o sentido de caráter multimodal é reconstruído em um processo ativo pelo leitor/ouvinte (noção de simulação mental).
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