Mastite em novilhas. Aceito para publicação. 1 Graduando em Medicina Veterinária pela Escola de Veterinária- UFMG
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- Marcela Back Castelhano
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1 Mastite em novilhas Gustavo Vinícius de Souza dos Anjos 1*, Lívio Ribeiro Molina², Letícia Oliveira Cota 1, Roberta de Sousa Pedroso Castelo Branco 1, Mateus Merlo Coelho¹, Naiara Taís Alves da Silva³, Daniel Ottoni³ 1 Graduando em Medicina Veterinária pela Escola de Veterinária- UFMG ²Professor Associado do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da Escola de Veterinária - UFMG ³Mestrando em Zootecnia pela Escola de Veterinária - UFMG * para contato: gustavosouzavet@yahoo.com.br RESUMO. A mastite bovina está entre as enfermidades que mais acomete os rebanhos bovinos leiteiros no mundo. A ocorrência da doença em novilhas apresenta-se na maioria das vezes de forma subclínica, ocorrendo casos clínicos principalmente no pós-parto imediato. Por se tratar de animais que ainda não iniciaram a vida produtiva, não existem ainda estratégias bem definidas para prevenção e controle da doença nessa categoria animal, sendo as principais medidas direcionadas aos animais em lactação. Foi realizada uma revisão com objetivo de avaliar a prevalência da mastite em novilhas, assim como medidas para prevenção e controle da doença nesses animais. Nesse contexto, estratégias relacionadas ao manejo geral dos animais, como higiene e conforto no ambiente dos animais, evitar a mamada cruzada entre bezerras e uma dieta adequada aos animais, atendendo as exigências nutricionais e necessidades minerais e vitamínicas, parecem ser as medidas mais eficientes para a prevenção da doença em novilhas. Mastitis in heifers ABSTRACT. The bovine mastitis is one of the diseases that affects the most milk cattle in the world. The heifers presents more often the subclinical form, clinical cases occurring mainly in the immediate postpartum. In these animals that haven t started a productive life, there are not well defined strategies for prevention and control of the disease yet; the main measures are directed for animals in lactation. A review to evaluate the prevalence of mastitis in heifers, as well as measures for prevention and control of disease, was performed. In this context, strategies related to the general animal handling such as hygiene and comfort of the animals in the environment, preventing cross-sucking between calves and a proper diet to animals, meeting the nutritional requirements and mineral and vitamin needs, seem to be the most efficient measures to prevention of disease in heifers. Introdução Em um rebanho leiteiro, o descarte de animais é prática inevitável para a manutenção da atividade. Fatores como baixos índices reprodutivos, produção de leite muito inferior à média do rebanho, animais senis, doentes e até mesmo morte, são responsáveis pela necessidade de reposição de vacas dentro de uma propriedade. Com isso muitos produtores optam pela a criação de seus próprios animais de reposição. Nesse caso é necessário garantir a esses animais condições ideais de criação para que eles possam atingir o seu máximo potencial genético com o menor custo possível. Dentre os fatores que podem contribuir para que as novilhas cheguem a sua fase produtiva sem expressar seu máximo desempenho é a mastite bovina. Como para a maioria dos produtores as novilhas são animais sadios, a presença da mastite não é notada até o início da vida produtiva ou até o primeiro episódio clínico da doença durante a lactação. Com isso, um animal pode ser portador de uma infecção intramamária por um ano ou mais, sem que a mesma seja diagnosticada. Por outro lado, sabendo-se que o maior desenvolvimento do tecido secretor de leite ocorre na primeira gestação (Babcock, 2002), o fato dos animais apresentarem mastite antes do parto, pode significar sérios prejuízos ao produtor.
2 As infecções da glândula mamária, em novilhas, podem prejudicar o desenvolvimento do tecido glandular, afetando adversamente a diferenciação das células secretoras (Trinidad et al., 1990). Assim, animais que adquiriram a doença durante sua fase de crescimento, podem chegar à idade adulta com menor capacidade de produção de leite. Nas últimas décadas, vários estudos foram conduzidos com o objetivo de descrever a mastite, derrubando o conceito da maioria dos produtores de que as novilhas são totalmente livres desta doença. As pesquisas têm demonstrado que grande parte destes animais está infectada por patógenos causadores de mastite durante a gestação, no momento do parto e/ou no início da lactação. De acordo com Fox (2009) nos Estados Unidos, altos índices de mastite são comuns em novilhas leiteiras, sendo que a prevalência de quartos infectados varia de aproximadamente 29 a 75% no pré-parto e cerca de 12 a 45% ao parto. No Brasil, os primeiros trabalhos que relatam a ocorrência de infecções intramamárias em novilhas e vacas primíparas foram realizados nos Estados de São Paulo e Paraná (Costa et al., 1996, Pardo et al., 1998). Essas pesquisas demonstraram infecções em 26,5% a 47,6% dos quartos examinados, nas duas primeiras semanas pós parto. Os métodos atuais de controle da mastite defendem a adoção de práticas de manejo que foram desenvolvidos para vacas em lactação e vacas secas. Estes incluem desinfecção dos tetos pré e pós-ordenha, ordenha de tetos limpos e secos, terapia da vaca seca, uso adequado de máquinas de ordenha, tratamento imediato dos casos clínicos e abate de animais cronicamente infectados (Nickerson et al., 1995). Com relação às novilhas, técnicos e produtores, via de regra, não adotam nenhuma medida preventiva por considerarem esta categoria de animais refratária às infecções da glândula mamária (Pardo et al., 1998). Contudo é necessário que seja traçado estratégias para o controle da mastite em novilhas, em função da importância que tem as infecções intramamárias para a vida produtiva desses animais. Revisão de literatura Prevalência das infecções intramamárias em novilhas A glândula mamária de novilhas, geralmente não é examinada e são comumente consideradas como não infectadas até o início da primeira lactação. Nickerson et al. (1995) demonstraram que a prevalência de mastite em novilhas poderia ser muito superior ao que se pensava na época. Trabalhando com novilhas leiteiras em idade fértil e gestantes, encontrou infecções intramamárias em 97% das novilhas e 75% dos quartos e que cerca de 29% das novilhas e 15% de quartos exibiram mastite clínica em idade fértil, como evidenciado por coágulos ou flocos nas secreções mamárias. Um estudo realizado com 708 novilhas leiteiras no período peri-parto em trinta rebanhos diferentes na Nova Zelândia encontrou infecções intramamárias em 18,5% e 21,5% dos quartos, em testes bacteriológicos realizados aproximadamente três semanas antes e cinco dias após o parto, respectivamente (Compton et al., 2007a). Fox et al. (1995) estudando a prevalência de infecções intramamárias em novilhas de diferentes regiões dos Estados Unidos, antes e após o parto, encontraram 34,4% e 36% de quartos infectados, respectivamente. A prevalência de infecções intramamárias foi maior durante o último trimestre da gestação, variando de 49,2% no inverno para 36,8% no verão. Os efeitos significativos da localização do rebanho e da estação do ano sugerem que as variáveis de manejo influenciam a prevalência de mastite em novilhas. Para o fato da prevalência de infecções intramamárias terem sido maior durante o último trimestre da gestação, em comparação com a prevalência durante os estágios iniciais de prenhes, o autor sugere que novilhas podem ser mais suscetíveis à mastite durante este período da gestação. No Brasil há poucos trabalhos sobre a ocorrência de mastite em novilhas, principalmente para novilhas antes do parto. Laffranchi et al. (2001) acompanhando 88 novilhas primíparas nos primeiros 120 dias de lactação, isolaram microrganismos causadores de mastite em 64,77% dos animais, no primeiro dias pós parto. Costa et al. (1996) demonstraram ocorrência de aproximadamente 80% de infecções intramamárias em novilhas primíparas holandesas e mestiças no período pré-parto. Resultados esses semelhantes aos encontrados por pesquisadores em outros países.
3 Borne et al. (2007) estudaram a prevalência e incidência da mastite clínica e sub clínica em novilhas de 396 fazendas leiteiras da Holanda, pelo período de um ano. A prevalência de mastite sub clínica foi em média 13,2% e a porcentagem de fêmeas que desenvolveram uma ou mais infecções intramamárias durante o período de estudo foi de 27,2%. Já a incidência de mastite clínica foi de 8,1%. Estes resultados apontam para o elevado número de novilhas com infecção sub clínica da glândula mamária e de animais desenvolvendo quadros de mastite clínica. Vliegher et al. (2012) em uma revisão de literatura sobre mastite em novilhas, aponta que há grande variação sobre a prevalência de infecções intra mamárias entre os estudos. A prevalência de mastite sub clínica varia de7 a29% dos quartos antes do parto, ao passo que no pósparto imediato a prevalência varia de 12 a mais de 57%. Chama a atenção que um denominador comum em todos os estudos sobre a mastite sub clínica é a elevada proporção de infecções causadas pelos estafilococos coagulase negativos (ECN). Principais agentes causadores de mastite em novilhas Diversos microrganismos têm sido associados a quadros de mastite em novilhas leiteiras. Microrganismos relacionados a infecções intramamárias foram estudados em vários países do mundo. Estafilococos coagulase negativo (ECN) têm sido encontrados como a principal causa de tais infecções. Streptococcus dysgalactiae e Streptococcu suberis foram detectadas em alguns dos estudos, mas os percentuais eram geralmente baixos. A prevalência de Staphylococcus aureus em infecções intramamárias em novilhas pré-parto varia consideravelmente entre diferentes regiões e rebanhos (Waage et al., 1999). Jonsson et al. (1991) analisando secreções de úbere, isolados de novilhas com mastite clínica na Suécia, encontraram Streptococcus dysgalactiae e S. uberis como os principais agentes causadores de mastite (34,4 e 19,5%) respectivamente, com os quadros de mastite ocorrendo desde a puberdade até 14 dias pós parto. Na Nova Zelândia Compton et al. (2007b) identificou os estafilococos coagulase negativos como os principais agentes causadores de mastite sub clínica em novilhas (13,5% dos quartos) e o Streptococcus uberis como o principal agente causador de mastite clínica ( 64% dos casos) em novilhas no peri-parto, mantidas em regime de pastagem. Myllys (1995) trabalhando com amostras de secreções dos quartos de 200 novilhas com mastite clínica e 65 novilhas sadias de 160 fazendas diferentes encontrou os ECN como as bactérias mais frequentemente isoladas (58%). A porcentagem de S. aureus foi de 20% e 11% de estreptococos. Staphylococcus hyicus, S. xylosus, S. chromogenes foram os estafilococos coaulase negativos mais frequentemente isolados em amostras de quadros clínicos da doença, após o parto. A maioria das infecções causadas por ECN detectados no período de pré-parto foram eliminados espontaneamente ou com tratamento com antibióticos durante início da lactação, mas os quartos infectados foram mais suscetíveis à infecção por outros agentes patogênicos. Uma investigação de campo na Noruega com novilhas que apresentaram mastite clínica entre o pré-parto e até 14 dias pós-parto encontrou o S. aureus como responsável por 44% dos casos de mastite clínica, seguidos do Streptococcus dysgalacteae (18%) e Arcanobacterium pyogenes (3,5%) (Waage et al., 1999). Estudos realizados no Brasil têm demonstrando que os ECN são também os principais microrganismos isolados da glândula mamaria de novilhas. Laffranchi et al. (2001) trabalhando com 88 novilhas, encontraram os estafilococos coagulase negativo, como os principais microorganismos presentes na glândula mamária desses animais no primeiro dia pós-parto, aproximadamente 84% dos quartos examinados foram positivos para este patógeno. Outros agentes podem eventualmente causar quadros de mastite em novilhas. Pardo et al. (1998) isolaram Mycoplasma bovigenitalium de uma novilha que apresentou sinais clínicos de mastite aproximadamente 30 dias antes do parto, caracterizando o primeiro caso de isolamento deste agente em uma novilha no Brasil. De maneira geral, os estudos com isolamento de microrganismos da glândula mamária de novilhas têm demonstrado que os estafilococos coaulase negativo são realmente os principais microrganismos envolvidos nos casos de mastite em novilhas em diferentes partes do mundo. Sendo estes considerados patógenos secundários
4 (menores) que fazem parte da microbiota oportunista presente na pele dos tetos e que normalmente causa um quadro mais brando de mastite (Quirk et al., 2012). Impacto econômico da mastite em novilhas Apesar da mastite em novilhas ter sido relatada como um problema potencial, com uma prevalência alta dentro dos rebanhos leiteiros, poucos estudos têm quantificado o efeito dessa doença sobre a saúde do úbere e produção de leite nesses animais. O exame histológico de tecidos mamários de animais infectados demonstra reduções significativas em áreas epiteliais luminais e alveolares e aumento no estroma de tecido conjuntivo e leucocitose, ilustrando o desenvolvimento limitado e inflamação acentuada dos tecidos (Nickerson et al., 1995). Como o crescimento mamário em novilhas continua através da lactação, a presença de infecções intra mamárias antes do parto e durante o início da lactação pode perturbar este processo, resultando na produção inferior de leite durante a primeira lactação (Vliegher et al., 2012). Compton et al. (2007a) encontraram o risco de função reduzida do quarto 13% maior em quartos com, do que sem os principais patógenos isolados da glândula mamária de novilhas após o parto. Novilhas infectadas com patógenos maiores tiveram risco de 15% de remoção do rebanho contra 10% de novilhas não infectadas. Animais com mastite clínica tiveram risco de perda de função do quarto 17% maior do que os quartos sem mastite clínica nos primeiros 14 dias pós-parto. Porém o autor não encontrou diferença estatística entre produção e composição do leite entre novilhas infectadas e sadias. Infecções intra mamárias devido ao ECN em novilhas no início da lactação não tiveram efeito negativo sobre a produção média de leite durante o início e meados da lactação (Vliegher et al., 2012). Mais recentemente, um estudo desenhado para estimar o efeito patógenos específicos de infecções intra mamárias em novilhas no terço inicial da lactação sobre a produção futura de leite encontrou que novilhas infectadas com os principais patógenos causadores de mastite tiveram uma média diária de produção muito mais baixa (18,3 kg) durante a primeira lactação em comparação com animais não infectados (21,3 kg). Novilhas infectados com ECN tiveram produção semelhante aos animais não infectados (Piepers et al., 2010) o que pode ser parcialmente explicada pela sua menor incidência significativa de mastite clínica (risco de incidência 3,6 vs. 21%) durante a primeira lactação em comparação com novilhas não infectadas e, portanto, foram protegidos das perdas de leite associados a mastite clínica em comparação com novilhas não infectadas, concluindo então que, embora ECN causam a maioria de infecções intramamárias em novilhas em torno do parto, eles não devem ser motivo de preocupação. Em relação à Contagem de Células Somáticas (CCS), infecções intra mamárias em início de lactação causadas por agentes patogénicos menores não têm qualquer efeito sobre a CCS para o restante da primeira lactação (Compton et al., 2007a) ou resultarem uma maior CCS na primeira lactação entre novilhas não infectadas e novilhas infectadas pelos principais patógenos ao parto (Piepers et al., 2010). Por outro lado, o isolamento de S. aureus e bactérias ambientais em novilhas em início de lactação aumenta substancialmente o risco de mastite sub clínica durante primeira lactação (Compton et al., 2007b, Piepers et al., 2010). Como esperado, novilhas com infecções intra mamárias ao parto causadas por patógenos principais produzem substancialmente menos leite durante a primeira lactação em comparação a fêmeas não infectadas (Piepers et al., 2010). Novilhas com um CCS elevada no início da lactação são mais propensos a ser abatidos ((Vliegher et al., 2012), provavelmente devido à associação de CCS alta e posterior produção de leite menor. Isolamento dos principais patógenos nos primeiros dias após o parto também aumenta substancialmente o risco de remoção do rebanho durante a primeira lactação (Compton et al., 2007b). Prevenção e controle da mastite em novilhas A mastite em novilhas afeta a rentabilidade da atividade leiteira por causa de um potencial efeito negativo à longo prazo, sobre a saúde do úbere e produção de leite. E um risco associado ao abate, especificamente quando os principais patógenos estão envolvidos (Vliegher et al., 2012). Portanto, é necessário utilizar de métodos de prevenção e controle da mastite nestes animais. Manejo Segundo Vliegher et al. (2012), o controle e a prevenção da mastite baseia-se em evitar intermamada entre bezerras; nutrição adequada, a fim de minimizar o risco de balanço energético
5 negativo antes e após o parto; e implementação de controle de higiene e medidas de conforto, especialmente em torno do parto, já que as novilhas são mais susceptíveis à mastite devido ao rápido desenvolvimento do úbere no periparto. Nickerson et al. (1995) constataram que novilhas que tinham escaras e abrasões na superfície da pele do teto, presumivelmente induzida por moscas, apresentaram uma maior frequência de mastite. Além disso, os rebanhos que utilizam algum tipo de controle de moscas tiveram uma menor porcentagem de novilhas infectadas com microrganismos causadores de mastite do que aqueles sem controle, especialmente para novilhas infectadas com S. aureus e Streptococcus sp. Ambiente No estudo realizado por Schreiner & Ruegg (2003) há uma maior incidência de mastite clínica quando o período de parto se dá nas épocas de chuva. Esta pode estar relacionada ao aumento da exposição à patógenos causadores de mastite, devido à umidade e calor, com consequente aumento da contaminação fecal no úbere como consequência, um risco aumentado de mastite. Fox (2009) também encontraram diferenças na prevalência de mastite em novilhas entre as estações de inverno e verão. Selante Os selantes são barreiras físicas, que podem ser utilizados tanto externos quanto internamente nos tetos. Os selantes externos são compostos à base de látex não irritante, acrílico ou filmes aplicados sobre os tetos tal como as soluções de imersão pré e pós-ordenha com o intuito de formar uma camada protetora sobre os tetos. Já os selantes internos são compostos à base de subnitrato de bismuto contendo antimicrobianos ou não, que são aplicados internamente aos tetos da mesma forma que as bisnagas utilizadas para tratamento intra mamário de mastite (Cerqueira et al., 2009). No estudo de Parker et al. (2007) foi testado o uso de selante interno à base de subnitrato de bismuto em glândulas mamárias de 255 novilhas em cinco períodos de parto, distribuído aleatoriamente. A presença de mastite em novilhas no pré-parto, em relação a novilhas sem nenhuma infecção, aumentou o risco de mastite no pós-parto. A prevalência de mastite no préparto foi de 15% e não diferiu entre rebanhos. Os isolados mais comuns foramecn(11,9% das glândulas) e S. uberis (2% de glândulas). A infusão do selante reduziu o risco de mastite pósparto causada por S. Uberis por 84% e de mastite clínica em 68%. A presença de mastite pré-parto aumentou o risco de mastite pós-parto 3,6 vezes e o risco de mastite clínica em 4 vezes. Inserção de selante antes do parto reduziu o risco mastite clínica e sub clínica de 41% a 84% e reduziu o risco de desenvolvimento de mastite clínica provocado por qualquer bactéria dentro de duas semanas de parto de 64% a 68%. Berry & Hillerton (2002) relataram manchas presentes no leite por até três semanas pós-parto de algumas vacas que receberam tratamento com selante. Segundo Vliegher et al. (2012) o uso de selantes deve ser empregado em novilhas no préparto onde há um alto risco de mastite ambiental no período peri parto. Vacinação A utilização de vacinas em novilhas constitui outra estratégia para o controle de mastite nesta categoria animal. Os anticorpos constituem um mecanismo de resistência muito importante na imunidade da glândula mamária, porque são dirigidos especificamente contra bactérias causadoras de mastite. Além disso, as concentrações de anticorpos no soro e no leite podem aumentar com a vacinação. (Cerqueira et al., 2009). Giraudo et al. (1997) avaliaram vacinas produzidas com extrato bruto de Staphylococcus aureus exopolissacarídeo, inativado, altamente encapsulados, Staphylococcus aureus não encapsulada; e Streptococcus spp. Os resultados deste estudo revelaram que as frequências de infecção por Staphylococcus nos grupos de novilhas no pré e pós-parto (4,1 e 2,5%, respectivamente) foram menores do que as novilhas no grupo controle (10,2%). Da mesma forma, a frequência de mastite na lactação por S. aureus também foram reduzidas para as novilhas que tinham sido vacinados no pré-parto ou pós-parto (2,6 e 3,5%, respectivamente) comparada com a frequência de mastite em novilhas do grupo controle (8,6%). Os dados apresentados na pesquisa indicam que a vacina mantém o seu efeito protetor contra mastite causada por S. aureus por um período de pelo menos 6 meses. A eficácia mostrada por esta vacina para reduzir a mastite em novilhas pode ser atribuída à sua alta concentração de antígenos bacterianos. Segundo o autor, os efeitos benéficos da vacina estudada poderiam ter sido
6 acentuados pela alta frequência de infecções intra mamárias causadas por S. aureus e aos baixos padrões sanitários que existiam inicialmente nos rebanhos. Ordenha de novilhas no pré-parto A constatação de que o edema de úbere em novilhas leva a aumento dos casos mastite clínica em até 80%, é apoiada por Waage et al. (2001). Uma possível explicação para a associação entre edema e mastite clínica é que a condição prejudica a retirada do leite, com uma redução no efeito de lavagem física da glândula mamária, o que resulta em suficientemente aumento no número de agentes patogénicos que podem resultar em mastite clínica (Compton et al., 2007a). No estudo de Daniels et al. (2007) foram utilizadas 288 novilhas próximas ao primeiro parto, divididas em 12 grupos segundo previsão de parto. A ordenha no pré-parto foi iniciada vinte e um dias antes do parto e realizada duas vezes ao dia. O grupo controle foi ordenhado somente após o parto. Gráfico1. Contagem de células somáticas (CCS) no pós-parto em novilhas que foram ou não ordenhadas antes do parto. Ordenha pré-parto Sem ordenha Fonte: Adaptado de Daniels et al. (2007). Foi observado CCS baixa durante toda a lactação nas novilhas ordenhadas antes do parto, devido à remoção do leite do úbere, a remoção do leite do canal do teto e diluição de patógenos em maiores quantidades de leite, diminuindo a inflamação da glândula, resultando também em menor edema de úbere e diminuição dos casos de mastite. Contudo, há maior exposição a patógenos ambientais oportunistas devido a exposição à sala de ordenha/ordenhadeira mais cedo, e aumento do balanço energético negativo nas primeiras semanas de lactação. Leite de descarte para bezerra De acordo com Nickerson et al. (1995) a presença da mastite pode ser atribuído à alimentação das bezerras com leite não pasteurizado mastítico e possibilidade de bezerras mamarem umas nas outras. A presença de inflamação na glândula mamária em novilhas jovens pode ser prejudicial para o futuro da produção de leite, já que o maior desenvolvimento do tecido mamário ocorre durante a primeira gestação e a presença de mastite poderia afetar adversamente a diferenciação de células secretoras (Waage et al., 2001). Como medida de controle, é recomendado que bezerras sejam alimentadas com leite que passou por processo de pasteurização, afim de reduzir os riscos de mastite nestes animais. Terapia antimicrobiana em novilhas Uma grande porcentagem de novilhas em um rebanho pode parir com infecções intra mamárias, e uma medida para evitar esse tipo de problema é o tratamento antimicrobiano nesses animais (Sampimon et al., 2009). Antibiótico terapia pré-parto pode ser eficaz na eliminação de muitas infecções, especialmente as causadas por estafilococos coagulase negativo. Levando em conta que as maiores taxas de infecções intra mamárias em novilhas são causadas por estes agentes (Myllys, 1995), as bases de eleição são as que melhor atuam sobre esses microrganismos. Oliver et al. (2003) trabalhado com um rebanho de novilhas Jersey, avaliaram a infusão de 200mg cloxacilina sete dias antes do parto e cefapirina quatorze dias antes do parto, encontraram redução na prevalência de infecções intra mamárias de 70,4 para 7,8% e de 66,9 para 10,4%, três dias após o parto, respectivamente. Também foram encontrados resultados positivos em relação à produção de leite, 531 kg superior para os grupos que passaram por tratamento antes do parto em relação ao grupo controle. Outro estudo realizado por Borm et al. (2006) com 561 novilhas dos Estados Unidos e Canadá, avaliou a infusão intra mamária de cefapirina sódica no pré-parto. Dos animais em estudo, 63,4% tinham infecção da glândula mamária, sendo os ECN responsáveis por 74,8% dessas infecções. O antibiótico apresentou taxa de cura de 59,5%. Já os animais controle tiveram uma taxa de cura espontânea de
7 32% dos quartos infectados. O tratamento, porém, não apresentou efeitos significativos sobre a produção de leite e CCS nos primeiros 200 dias de lactação. Bradley & Green (2009) amostraram em 192 fazendas do Reino Unido e da França 491 animais com mastite clínica e realizaram tratamentos experimentais com três diferentes cefalosporinas. Em um primeiro grupo, de 236 animais, foi administrada cefalexina 200mg + canamicina 133mg por infusão intra mamária 45 dias antes da previsão de parto, em duas aplicações, com um intervalo de 24 horas entre elas. Outro grupo, de 111 animais, receberam cefquinona 75mg a cada 12 horas após 3 ordenhas consecutivas; no terceiro e último grupo, com 144 animais foi administrado cefoperazona 100mg após duas ordenhas consecutivas com um intervalo de 24 horas entre elas. Com esses resultados eles observaram que 40% das vacas doentes reduziram sua CCS para valores inferiores a células/ml após o tratamento, o que diminui o risco de quadros de mastite no peri parto. Dos três fármacos utilizados a cefalexina + canamicina tiveram melhores resultados estatísticos, enquanto a cefquinona e cefoperazona foram equivalentes entre si e menos eficazes que a cafalexina + canamicina. Sampimon et al. (2009) trabalhando em 13 fazendas na Holanda das quais 392 novilhas foram divididas em dois grupos: o controle, com 185 animais, e o tratado, com 184 animais. Para a experimentação foi utilizado cloxaciclina 600mg intra mamária aplicada de 7 a 10 semanas antes do parto. O tratamento reduziu o risco de incidência de mastite clínica nos animais tratados nos primeiros 30 dias pós parto a 9%, contra 18% no grupo controle. Ainda nos primeiros 30 dias pós-parto a prevalência de quartos com cultura positiva foi maior nos animais não tratados do que nos tratados, sendo 43,3% o risco de incidência de mastite no grupo controle, e 33,9% no grupo que passou por terapia antimicrobiana. Além do antibiótico terapia, o uso de um selante interno do canal do teto em novilhas após esse procedimento reduz a prevalência de infecções intra mamárias após o parto e reduz também a prevalência de patógenos associados à mastite clínica, diminuindo a incidência de novas infecções durante o peri parto, e pode ser uma ferramenta útil para reduzir o risco de mastite em novilhas (Parker et al., 2008). Sampimon et al. (2009) corroboram que, devido à maior produção de leite pelas novilhas prenhes se dar no terço final do pré-parto, esse é também o período em que há maior incidência de mastite nesses animais. Essa informação justifica a maior eficácia dos tratamentos realizados no terço final da gestação, sendo recomendado realizá-los entre 60 e 45 dias antes da previsão de parto, afim de que não haja resíduos no leite. De um ponto de vista prático, a administração de antibióticos por via parenteral seria preferível a infusão intra mamária com produtos para vacas em lactação ou vaca seca. Passchyn et al. (2013) testando a antibiótico terapia sistêmica com hidroiodeto de penetamato, com 3 doses consecutivas, aproximadamente 14 dias antes do parto, encontraram redução das infecções intra mamárias no terço inicial da lactação para os animais tratados em relação ao grupo controle. No entanto o numero de casos de mastite clínica no grupo de animais tratados, foi maior em reação ao controle. Não houve efeitos sobre a produção de leite, saúde do úbere e descarte de animais. Concluindo então, que o tratamento sistêmico no pré-parto não é justificável em rebanhos com baixa prevalência de mastite em novilhas. Segundo Vliegher et al. (2012) o tratamento pré-parto só pode ser implementado como uma medida de curto prazo para ajudar no controle de um problema de mastite em novilhas sob a supervisão do veterinário do rebanho. Uma vez que os resultados obtidos em alguns casos não são satisfatórios, tornando inviável a adoção dessa prática. Uma razão importante pela qual o tratamento pré-parto das novilhas é bem sucedido em um rebanho e não em outro é que o tratamento da mastite sub clínica é geralmente mais eficaz em rebanhos bem manejados do que em rebanhos mal gerenciados (onde as vacas curadas são mais propensas a se tornar reinfectadas) (Vliegher et al., 2012). Programa de 10 pontos para controle da mastite em novilhas Vliegher et al. (2012) estabeleceram um programa de 10 pontos para prevenção e controle da mastite em novilhas que poderia ser aplicado em qualquer fazenda leiteira, sendo eles: Melhorar o manejo geral de saúde do úbere em nível de fazenda para evitar a contaminação com patógeno do úbere de vacas mais velhas para as novilhas; Controlar a mamada cruzada entre bezerras e animais jovens;
8 Implantar um sistema para controle de moscas; Manter animais jovens em ambiente limpo e higiênico e separados de vacas multíparas; Evitar qualquer nível de deficiência de microminerais e vitaminas, em especial selênio, vitamina E, zinco, cobre e vitamina A; Minimizar o risco de balanço energético negativo, através de uma dieta de transição adequada; Reduzir a incidência de edema de úbere através da otimização do manejo no peri parto; Minimizar o estresse em torno do parto e minimizar a incidência de distocia e doenças do período de transição; Uso de selantes no pré-parto onde existe um elevado risco de mastite ambiental no peri-parto; Uso de antibiótico terapia no pré-parto de novilhas sob condições específicas. Conclusão Os estudos mostram que a mastite em novilhas pode ter uma prevalência alta dentro dos rebanhos leiteiros, e por ser uma doença de diagnóstico difícil em novilhas que não são constantemente acompanhadas, passa muitas vezes de forma despercebida. O efeito negativo dessa doença pode acarretar em menor produção de leite e aumento da taxa de descarte de primíparas. Medidas para controlar a mastite em novilhas estão relacionadas principalmente a impedir a mamada cruzada entre bezerras, melhoria das condições de higiene e conforto no ambiente dos animais, controle de moscas, manejo adequado dos animais principalmente no terço final de gestação, onde são mais susceptíveis à doença. Estratégias como terapia antimicrobiana pré-parto em novilhas pode trazer benefícios e pode ser usada para controle da mastite principalmente quando patógenos maiores estiverem envolvidos na etiologia da doença, mas os efeitos positivos dessa prática nem sempre são observadas, devendo ser usada de forma criteriosa. Referências Bibliográficas Babcock. Institute for International Dairy Research and Development, The Lactation and Milking [on line].wisconsin, EUA. 01 de Outubro de Disponível na World Wide Web: < Berry, E. & Hillerton, J The effect of an intramammary teat seal on new intramammary infections. Journal of Dairy Science, 85, Borm, A., Fox, L., Leslie, K., Hogan, J., Andrew, S., Moyes, K., Oliver, S., Schukken, Y., Hancock, D. & Gaskins, C Effects of prepartum intramammary antibiotic therapy on udder health, milk production, and reproductive performance in dairy heifers. Journal of Dairy Science, 89, Borne, V. d., B, Van Schaik, G., Nielen, M. & Lam, T Prevalence and incidence of (sub) clinical mastitis in heifers in a random sample of dairy herds in the Netherlands. Heifer mastitis conference. Ghent, Belgium, June. Bradley, A. & Green, M Factors affecting cure when treating bovine clinical mastitis with cephalosporin-based intramammary preparations. Journal of Dairy Science, 92, Cerqueira, M. M. O. P., Vargas, R. T., Cunha, A. F., Lage, A. D., Fonseca, L. M., Rodrigues, R., Oliveira Leite, M., Penna, C. F. A. M. & Souza, M. R Mastite em novilhas: importância e controle. Ciência Animal Brasileira, 1. Compton, C., Heuer, C., Parker, K. & McDougall, S. 2007a. Epidemiology of mastitis in pasture-grazed peripartum dairy heifers and its effects on productivity. Journal of Dairy Science, 90, Compton, C., Heuer, C., Parker, K. & McDougall, S. 2007b. Risk factors for peripartum mastitis in pasture-grazed dairy heifers. Journal of Dairy Science, 90, Costa, E., Melville, P., Ribeiro, A., Watanabe, E., Viani, F. & White, C Prevalence of intramammary infections in primigravid Brazilian dairy heifers. Preventive Veterinary Medicine, 29, Daniels, K., Donkin, S., Eicher, S., Pajor, E. & Schutz, M Prepartum milking of heifers influences future production and health. Journal of Dairy Science, 90, Fox, L Prevalence, incidence and risk factors of heifer mastitis. Veterinary Microbiology, 134,
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10 Recebido em Dezembro4, Aceito Maio 27, 2015 License information: This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.
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