Análise da qualidade do leite em pequenas propriedades de Barbacena

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1 Análise da qualidade do leite em pequenas propriedades de Barbacena Túlio Gomes Justino, Lucas Augusto de Andrade, Wallacy Augusto de Oliveira, João Felipe Amaral, Luis Fernando de Moraes, Wellyngton Tadeu Vilela Carvalho 1. Introdução A bovinocultura de leite é uma atividade de destaque em grande parte do mundo, e de grande predominância na região de Minas Gerais, sendo uma atividade geradora de renda e fonte de subsistência para muitos produtores. Segundo o IBGE, o número de propriedades rurais onde leite é a atividade econômica principal gira em torno de 500 mil em Minas Gerais (IBGE, 2010). A produção total de leite no pais foi de 32,0 bilhões de litros em 2011, aumento de 4,5% em relação a 2010, onde se destacaram Minas Gerais, com participação de 27,3% na produção, seguido pelo Rio Grande do Sul (12,1%), Paraná (11,9%) e Goiás (10,9%). Estes estados concentraram 62,1% de todo o leite produzido no país.(ibge, 2010). O Campo das Vertentes, uma das doze microrregiões do estado de Minas Gerais, onde se situa a cidade de Barbacena, tem sua produção anual de 290 milhões de litros de leite, sendo que a cidade de Barbacena tem cabeças de animais e uma produção média de 1795 Litros/animal/ano (IBGE, 2010). O leite é considerado um dos mais nobre dos alimentos, por sua composição rica em proteína, gordura, carboidratos, sais minerais e vitaminas, além de proporcionar nutrientes e proteção imunológica para o neonato. Além de suas propriedades nutricionais, o leite oferece elementos anticarcinogênicos, presentes na gordura, como o ácido linoléico conjugado. A qualidade do leite in natura é influenciada por muitas variáveis, entre as quais destacam-se fatores zootécnicos associados ao manejo, alimentação, potencial genético dos rebanhos e fatores relacionados à obtenção e armazenagem do leite. Uma das causas que exerce influência extremamente prejudicial sobre a composição e as características físico-químicas do leite, é a mastite, acompanhada por um aumento na contagem de células somáticas (CCS) no leite. Com o aumento na CCS, a composição do leite, a atividade enzimática, o tempo de coagulação, a produtividade e a qualidade dos derivados lácteos, são influenciados negativamente (KITCHEN, 1981). Além disso, a contagem bacteriana total também é um

2 parâmetro importante para avaliar a qualidade do leite, pois quanto menor foi este melhor será as condições higiênicas da propriedade durante o manejo de ordenha. 2. Justificativa Analisando uma série de fatores relativos à cadeia produtiva do leite, temos muitos pontos que devem ser analisados, descritos e implantados para que possamos chegar ao que chamamos de qualidade do leite. São inúmeros os benefícios notados com a utilização dessas práticas. Ao utilizar as análises mais comuns, como a contagem de células somáticas (CCS), contagem bacteriana total (CBT) e califórnia mastite teste (CMT) podemos, através dos resultados, chegar a uma série de conclusões sobre a necessidade de possíveis melhorias na obtenção do leite (PEREIRA, 1997). Um bom exemplo da interferência dessas análises nos produtos é a contagem de células somáticas, que quando encontradas em taxa elevada no leite e este for utilizado na fabricação do queijo, o rendimento do produto final será menor e sua qualidade também, causando alterações em seu sabor e textura. A adoção dessas análises pode acarretar melhorias não somente no que se trata da qualidade do leite e subprodutos, mas também trazem reflexos à vida produtiva do animal, pois uma vaca com baixa concentração de células somáticas tem uma vida produtiva mais longa (ZOCCAL et al., 2003) Os resultados das análises como CCS, CBT podem resultar também em uma variação no preço que é pago ao produtor pelo litro de leite. Esta valorização do leite de melhor qualidade microbiológica pode motivar os produtores a abrirem espaço para mudanças em suas propriedades que busquem melhorar a qualidade do leite. A mastite é uma doença que causa grandes perdas na produtividade dos animais além das perdas com a não comercialização do leite e do bem estar dos animais. Cada quarto infectado com um dos vários patógenos da mastite pode significar uma redução média de produção de 727 KG de leite por lactação, se comparado com os quartos não infectados. Além da mastite, as práticas de ordenha, como o uso de desacopladores manuais, a defecação na sala de ordenha e as falhas em adotar uma rotina completa de ordenha, estão associadas com o aumento da contagem bacteriana total (MACHADO, 2000).

3 Dessa forma, somente com o acompanhamento dos animais e com técnicas adequadas de ordenha é possível a obtenção de um leite de qualidade e com consequente derivados de alta qualidade visando atender ao consumidor que a cada dia torna-se mais exigente. 2. Objetivos Os objetivos gerais deste trabalho foram estudar a qualidade do leite de pequenas propriedades rurais do município de Barbacena por meio da Contagem de Células Somáticas (CCS), Contagem Bacteriana Total (CBT) e Califórnia Mastite Teste (CMT) e propor orientações e acompanhamento destas que visem melhorar a qualidade do leite. 3. Metodologia 1. Local O experimento foi realizado em cinco propriedades no município de Barbacena, Minas Gerais. As propriedades foram selecionadas juntamente com a Emater, devendo estas estarem localizadas a um raio de, aproximadamente, 20 km do município, terem no máximo 20 vacas em lactação e que tinham proprietários dispostos a melhorar a qualidade do leite. 2. Animais Foram realizadas análises do leite de todos os animais em lactação de cada propriedade. 3. Análises Foram realizadas as seguintes análises: Contagem bacteriana total (CBT): Foi coletado uma vez ao mês do latão de leite de cada propriedade e do tanque de expansão comunitário uma amostra de 40 ml de leite que foi refrigerado e enviado ao Laboratório de análise de leite da EMBRAPA. Contagem de células somáticas (CCS): Foi coletado uma vez ao mês do latão de leite de cada propriedade e do tanque de expansão comunitário uma amostra de 40 ml de leite que foi refrigerado e enviado ao Laboratório de análise de leite da EMBRAPA.

4 California Mastitis Test (CMT): Foi coletado cerca de 2 ml de cada unidade da glândula mamária de cada vaca em uma bandeja própria e acrescentado mais 2 ml do reativo de CMT. Caso houvesse uma grande quantidade de células no leite, fato que poderia indicar mastite, a mistura apresentaria um aspecto gelatinoso. Caso contrário, o aspecto da mistura seria semelhante à consistência do leite. A cor da mistura também pode indicar o ph do leite, sendo que amostras alcalinas tornam-se mais azuladas/arroxeadas. O escore foi feito de acordo com o seguinte quadro abaixo: Escore do CMT (cel/ml) Intervalo de CCS Interpretação N (Negativo) Quarto sadio T (Traço) Mastite subclínica Mastite subclínica Mastite clínica 3 Acima de Mastite severa 4. Periodicidade O acompanhamento em cada propriedade foi realizado uma vez ao mês, durante seis meses (períodos de coleta 1, 2, 3, 4, 5 e 6) de modo que fosse possível presenciar pelo menos uma ordenha dos animais, para coleta do material e conhecimento dos procedimentos de ordenha para posterior orientação. 5. Procedimentos As orientações sobre as mudanças no manejo da ordenha foram entregues para cada proprietário da fazenda mensalmente por meio de relatórios. 4. Resultados No gráfico 1 observa-se a contagem de células somáticas (CCS) de cinco produtores de leite (P1, P2, P3, P4 e P5) e do tanque de expansão comunitário (P6) em diferentes períodos de coleta (1, 2, 3, 4, 5 e 6).

5 Gráfico 1: Contagem de células somáticas (CCS) de cinco produtores de leite (P1, P2, P3, P4 e P5) e do tanque de expansão comunitário (P6) em diferentes períodos de coleta (1, 2, 3, 4, 5 e 6). Contagem de células somáticas por ml 1,400,000 1,200,000 1,000, , , , , Períodos de coleta P1 P2 P3 P4 P5 P6 No gráfico 1 observa-se que os valores de CCS do leite referente aos produtores P1, P2, P3 e P4 reduziram no último período de coleta em relação ao primeiro período de coleta. Estes resultados indicam que a implantação das boas práticas de produção de leite ( teste da caneca telada, pré-dipping e pós dipping, principalmente) reduziram a incidência de mastite clínica e subclínica nos animais de cada produtor. A mastite clínica e subclínica são as principais causas do aumento de células oriundas da glândula mamária no leite. Somente o leite referente ao produtor P5 apresentou aumento na CCS no último período de coleta em relação ao primeiro período de coleta. Este aumento, possivelmente, está relacionado à presença de maior número de animais nas fases de lactação inicial e final, pois nestas fases ocorrem maior descamação celular na glândula mamária. Além disso, verificou-se durante as visitas que este produtor encontrou dificuldade para controlar as condições higiênicas das instalações (manejo dos dejetos) durante os meses mais chuvosos, podendo contribuir para o aumento na incidência de mastite (Gráfico 1). Já o leite referente ao tanque de expansão comunitário (P6), que é o local de armazenamento dos produtores P1, P2, P3, P4 e P5 apresentou redução nos valores de CCS no último período de coleta em relação ao primeiro período de coleta. Essa melhoria na CCS representa uma melhor qualidade do leite enviado para o laticínio, promovendo um maior rendimento durante o seu processamento, além de proporcionar produtos mais

6 saudáveis para o consumidor final (Gráfico 1). No gráfico 2 observa-se a contagem bacteriana total (CBT) de cinco produtores de leite (P1, P2, P3, P4 e P5) e do tanque de expansão comunitário (P6) em diferentes períodos de coleta (1, 2, 3, 4, 5 e 6). Gráfico 2: Contagem bacteriana total (CBT) (Unidades formadoras de colonias por ml) de cinco produtores de leite (P1, P2, P3, P4 e P5) e do tanque de expansão comunitário (P6) em diferentes períodos de coleta (1, 2, 3, 4, 5 e 6). Contagem bacteriana total (UFC por ml) 1,400,000 1,200,000 1,000, , , , , Períodos de coleta P1 P2 P3 P4 P5 P6 No gráfico II observa-se que houve uma variação dos valores de CBT do leite dos produtores nos diferentes períodos de coletas, no entanto o leite produzido pelos produtores P1, P3, P4 e P5 no último período de coleta em relação ao primeiro período de coleta, indicando uma melhoria nos procedimentos de limpeza das instalações e equipamentos de ordenha, e o ato de coar o leite em coador constituído por material de fácil higienização. O aumento dos valores da CBT em alguns períodos, pode estar relacionado principalmente às condições climáticas, pois nos meses mais chuvosos ocorre maior acúmulo de lama e dejetos nas áreas de manejo dos animais, contaminando com maior facilidade a glândula mamária desses. No gráfico 3 observa-se a porcentagem de tetos em seis períodos de coleta do leite das cinco propriedades com suas referentes notas no teste do CMT.

7 Gráfico 3: Porcentagem de tetos analisados a partir do teste CMT em seis períodos de coleta. 90 % de tetos analis ados P eriodos de c oleta E1 E2 E3 E4 E5 Legenda: E1 = escore negativo, E2 = escore traço, E3 = escore 1, E4 = escore 2, E5 = escore 3 No gráfico III observa-se a porcentagem de tetos com cada escore alcançada nos diferentes períodos de coleta, onde o objetivo foi elevar a porcentagem de tetos com escore negativo, pois este indica a ausência de mastite nos animais. Neste gráfico vemos que a porcentagem de tetos com escores três (E3), quatro (E4) e cinco (E5) que são os maiores indicativos de mastite, tiveram uma queda considerável entre a primeira e a última coleta. No escore traço (E2) houve uma variação entre as coletas, mas se manteve equivalente na primeira e na última. Observa-se que no escore negativo (E1) houve um aumento significativo no decorrer dos períodos, saindo de 55% para 78% de todos os tetos analisados, indicando a redução de mastite no rebanho. Segundo Brito et al. (1997) o California Mastitis Test. (CMT) estima o conteúdo de células somáticas no leite e é interpretado subjetivamente, estabelecendo-se escores que, na maioria dos casos, variam de negativo a três. O escore negativo indica uma reação completamente negativa e os de traço a três, indicam graus crescentes de resposta inflamatória do úbere, sendo normalmente considerados como indicativos de mastite subclínica.

8 Conclusões A implantação das boas práticas de manejo de ordenha e a melhoria nas condições higiênicas das instalações foram fatores determinantes na redução dos valores de CCS e CBT do leite analisado nas diferentes propriedades, além de reduzir a incidência de mastite subclínica diagnosticada a partir do teste CMT. Bibliografia BRITO, J.R.F.; CALDEIRA, G. A. V.; VERNEQUE, R. S. et al. Sensibilidade e especificidade do.california mastitis Test. Como recurso diagnóstico da mastite subclínica Em relação à contagem de células somáticas. Pesq. Vet. Bras. v. 17, n. 2 p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. Produção da pecuária municipal, Disponível em http//: acesso em 01 de junho de KITCHEN, B. J. Review of the progress of dairy science: Bovine mastitis: milk compositional changes and related diagnostic tests. Journal of Dairy Research, v.48, n. p , MACHADO, P. F.; PEREIRA, A. R.; SARRÍES, G. A. Composição do leite de tanques de rebanhos brasileiros distribuídos segundo sua contagem de células somáticas. Revista Brasileira de Zootecnia, Piracicaba, v. 29, n.6, p , PEREIRA, A. R.; MACHADO, P. F.; BARANCELLI, G. et al. Contagem de células somáticas e qualidade do leite. Revista dos Criadores, v.67, p.19-21, ZOCCAL, R.; MARTINS, M. C.; NOGUEIRA NETTO, V. Gestão ambiental e políticas para o agronegócio do leite. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite; CNPq; Serrana Nutrição Animal, p