10 de agosto de 2012 Edição nº. 479

Transcrição

1 Atual Ciclo Pecuário Arroba do Boi à Vista em SP Índice de Força Relativa Raro ao redor de 30 pontos altista? Fonte: Esalq/BVMF Elaboração: Carta Pecuária Não falamos do IFR com frequência por motivos óbvios mostrados no gráfico. Ele ocorre muito pouco com o passar do tempo, caro leitor, especialmente, como aqui, uma conta feita sobre a variação semanal da arroba. Acredite, para derrubar o IFR ao redor de 30 tem que ser uma senhora queda dos preços. Mais uma edição dos Pensamentos Fora da Porteira no final do texto, caro leitor. As coisas... não consigo evitar, caro leitor. As coisas estão gritando por atenção. Me mostre! Olha como sou raro! Preste atenção em mim! As coisas, naturalmente, são os indicadores técnicos da arroba do boi. Você se lembra que usamos como base de acompanhamento não as arrobas estaduais, mas o Indicador Esalq/BVMF a arroba da bolsa, a média dos negócios ä vista do estado de São Paulo. Em cima do indicador, colocamos umas continhas. Uma das principais se não a principal continha é o Índice de Força Relativa, o famoso IFR. O IFR mede o momento dos preços. Para simplificar, se ele dá um número abaixo de 30, a arroba caiu demais e pode estar próxima de subir. Se está acima de 70, ela subiu demais e pode eventualmente cair. Humm, senhora queda dos preços foi o que tivemos? Pode-se dizer que sim. O IFR hoje vale 28. Ao redor de Informe Publicitário Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 479 Página 1

2 veio poucas vezes nesse ciclo pecuário. Todas ele bateu em 30 e voltou a subir. Teremos outro caso de bate-sobe agora? As escalas de abate, dizem os analistas, estão variando de região para região, mas no modo geral diminuíram. Relatos de frigoríficos precisando de boi. Se lembra daquela venda que fiz de boi gordo mês passado a 88 reais à vista com 54% de rendimento pesado vivo na fazenda? Pois é, essa semana o tal frigorífico ligou de novo atrás de boi, perguntando se vendia um outro lotinho. Essa semana é a continuação da história da semana passada. Os preços da arroba estão passando por um momento de baixa que todo mundo sabe, mas nem todos captaram o quão baixo isso representa. Você viu o milho, certo? Agora, você viu o frango? Notícia recente no site AviSite: Frango vivo reencontra seu recorde histórico de preço Campinas, 09 de Agosto de 2012 Ontem, pela terceira vez na semana e oitava em 13 dias, o frango vivo negociado no interior paulista obteve mais um reajuste de cinco centavos. Dessa forma, foi comercializado por R$2,20/kg, valor que representa valorização de cerca de 16% sobre a cotação vigente há um mês e no início do ano (R$1,90/kg em 8 de julho passado e no primeiro dia de negócios de 2012). Já em relação ao valor vigente um ano atrás (R$2,10/kg em 8 de agosto de 2011) o ganho não chega a 5%, ficando abaixo da inflação acumulada no período e que, pelo IPCA do IBGE, ficou em 5,2%. Em outras palavras e ignorando o aumento de custos enfrentado o frango vivo con nua a apresentar desempenho muito aquém do necessário. De toda forma, volta a registrar novamente um valor recorde, o mesmo alcançado por brevíssimas duas semanas na antevéspera do Natal passado. A propósito, vale relembrar que a boa remuneração recebida naquela época (um processo iniciado antes de dezembro) levou o setor a aumentar desmesurada mente a produção, fazendo com que cerca de 30 dias depois do pico de preços o frango perdesse um terço de seu valor. Por ora esse risco inexiste porque, depauperado, o produtor avícola con nua com dificuldades para manter até mesmo o plantel atual, sem dúvida menor que o de 30 ou 60 dias atrás. Mas levando em conta que nossa memória é curta nunca é demais alertar para que não se perca a visão das condições do mercado global recessivo e, por isso, necessitando de menos frango que, por sua vez, precisa ter a oferta controlada para poder repassar os altos custos enfrentados. Em notícia mais recente no mesmo site informa uma alta corrente de 25% do frango vivo disponível nesse último mês em SP e MG. Vinte e cinco por cento em um mês! Isso parece até com as saudosas entressafras do boi. Falando nisso, como está o atacado da carne bovina perante isso? Ao lado, a valorização relativa da arroba vs carne. Depois de um período de meados de julho até início de agosto, onde só caiu no atacado, atualmente a carne está mais valorizada e subiu mais que a arroba. Isso gera o potencial para cima nos preços da arroba, o gráfico diz. Informe Publicitário Como está a carne perante a arroba? Valorização relativa dos cortes perante a arroba. Base 21 dias. Indicador Traseiro Carcaça mar abr mai jun jul ago Fonte: Esalq/BVMF/Broadcast Elaboração: Carta Pecuária Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 479 Página 2

3 Vamos acompanhando. De alguma forma, tal qual vários galos cantando ao mesmo tempo na alvorada, os indicadores técnicos do boi, essas continhas sobre o preço da arroba entre outras coisinhas que acompanhamos, estão um a um tocando cantando e competindo entre sim. Só esperamos que esse toque seja de final de queda dos preços da arroba. Deixe-me fazer uma correção no texto passado. Escrevi no final que estava em um bom momento de se comprar carne. Escrevi errado. Era reposição, comprar reposição barata que tinha em mente. Posto fazenda essa semana tive oferta de boi magro a 79 reais, contra uma arroba do boi gordo de 84 reais. É sempre um bom negócio comprar boi magro abaixo do gordo. Um querido leitor atentou para a incoerência e corrijo aqui a falha. MOVIMENTAÇÃO DO MERCADO: Boi -- Indicador ESALQ/BVMF do boi, que mede a variação dos preços da arroba no Estado de São Paulo, fechou a semana com 0,64 a R$ 89,26 à vista. Cotações em R$ por arroba. A média móvel de 5 dias fechou em R$ 89,37. O contrato de agosto/12 fechou com 1,22 a R$ 91,06. O contrato de agosto está 1,69 centavos acima do preço médio de liquidação do contrato. O contrato que vence em setembro/12 fechou com 0,57 a R$ 94,93; outubro/12 1,12 a R$ 96,96; novembro/12 0,42 a R$ 98,48. Todos os vencimentos estão cotados à vista com o fechamento da sexta-feira e com a indicação semanal da variação de preços. Bezerro -- Indicador ESALQ/BVMF de bezerro, que mede a variação dos preços no Estado do Mato Grosso do Sul, fechou a semana com +1,55 cotado a R$ 700,06 à vista. Cotações em R$ por bezerro. A arroba do bezerro cotada ao redor de R$ 102,00, queda de R$ 6,00 na semana. Todos os vencimentos estão cotados com o fechamento da sexta-feira e com a indicação da variação semanal. Taxa de Reposição 1 -- Um boi gordo compra hoje 2,10 bezerros, queda de 0,02 na semana. Dólar -- Dólar comercial fechou com +0,25% a R$ 2,028. Dólar futuro com vencimento no início de setembro fechou com +0,25% a R$ 2,039; outubro fechou com +0,25% a R$ 2,047. Juros -- A taxa de juros do governo (SELIC) está hoje em 8,00% ao ano. Inflação IGP-M de julho +1,34%. Acumulado no ano 2 +4,49%. Acumulado nos últimos 12 meses 3 (agosto-11 a julho-12) +6,49%. Assim como os contratos de boi e bezerro se encerram pelo preço dos seus respectivos indicadores, o dólar se encerra pelo preço do dólar do Banco Central nas datas acima indicadas. Frigoríficos 4 -- A arroba nos frigoríficos foi cotada hoje em São Paulo ao redor de R$ 90,00; no Mato Grosso do Sul, Dourados a R$ 84,00 (Base 6,5%) e em Campo Grande ao redor de R$ 85,00 (Base 6,5%). Informe Publicitário Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 479 Página 3

4 A arroba em Goiânia foi cotada ao redor de R$ 81,00 (Base 10,9%). Em Cuiabá está em R$ 82,00 (Base 10,3%). No sul do Tocantins a arroba foi cotada em R$ 84,00 (Base 8,7%). No Triângulo Mineiro ao redor de R$ 83,00 (Base 7,6%). 1 Considerando os valores nominais dos indicadores da ESALQ/BVMF. 2 e 3 Somatória com Juros Simples. 4 Fonte completa dos preços da arroba nos frigoríficos à vista e livre do Funrural: Informativo Boi na Linha, da Scot Consultoria. CONCLUSÃO: Mercado em compasso de espera. Não quer subir, mas também não quer cair. O atacado deu um respiro nos últimos dias, e a alta explosiva do frango em decorrência da alta do milho pode contaminar o boi, se já não está contaminando. Não deixe de ler os Pensamentos Fora da Porteira nas próximas páginas. Até a próxima semana, Um abraço, Rogério Goulart Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 479 Página 4

5 PENSAMENTOS FORA DA FAZENDA Um Eterno Caso de Amor e Ódio por Leandro Bovo Quando recebi o convite do Rogério para escrever esse texto na Carta Pecuária, fiquei surpreso e feliz. Surpreso porque conheço-o há alguns anos e sei do extremo zelo que ele tem com as informações que ele divulga na Carta Pecuária e feliz por ele achar que vale a pena abrir espaço para eu expor minhas opiniões para o seu vasto grupo de leitores. A proposta feita era a de escrever um texto sobre qualquer assunto, não necessariamente ligado à pecuária, mas que pudesse ser do interesse dos pecuaristas que compõem a grade maioria dos seus leitores. Depois de muito pensar, resolvi escrever sobre um assunto que me fascina há mais de 10 anos e no qual trabalho há mais de 7 anos que é o Mercado Financeiro. Antes de começar a escrever sobre o tema, é importante deixar um conceito básico bastante claro a todos, que é a função primordial dos mercados de capitais e/ou financeiros: Sua função básica é prover meios para que as pessoas ou instituições com excesso de recursos (ou seja, com renda superior à disposição para gastar) possam canalizar esse excesso para os indivíduos ou instituições com necessidade de recursos ( seja para cobrir gastos ou investimentos). Essa possibilidade de transferência de recursos é o que permite que pessoas ou instituições com boas oportunidades de investimento, mas sem todos os recursos disponíveis (empreendedores) possam expandir a produção de bens e serviços na economia, ao mesmo tempo que proporciona aos poupadores a possibilidade de investir o excesso para garantir sua capacidade de consumo em uma data futura. Todo o arcabouço institucional do mercado financeiro, com Bolsas de Valores, Intermediários (Bancos, Corretoras, Fundos de Investimentos, por exemplo), Agente Reguladores e etc foram criados e aperfeiçoados ao longo do tempo para permitir que essa alocação ótima de recursos aconteça da forma mais eficiente e barata possível. Com esse conceito básico em mente, eu gostaria de discutir alguns mitos sobre os mercados financeiros muito difundidos nos dias de hoje: O primeiro deles é que o mercado financeiro é uma espécie de mundo paralelo, que tem pouca ou nenhuma conexão direta com o mundo real, onde pessoas compram e vendem apenas papéis que não tem impacto direto na economia real. Nada mais longe da realidade do que isso... Um exemplo básico de como a conexão desse mundo paralelo com a economia real é verdadeira são as Ofertas Iniciais de Ações ( ou IPO) da sigla em inglês. Quando uma empresa precisa levantar recursos para expansões na sua atividade, uma das alternativas é fazer uma Oferta Inicial de Ações (ou Oferta Primaria), onde ela apresenta seus planos de expansão à investidores, que se acharem interessante poderão comprar ações dessa empresa e se tornando sócios da mesma, que com esses recursos dará andamento aos projetos, trazendo assim recursos de investidores do mundo para a chamada economia real e portanto investidos em expansão, aquisição de empresas concorrentes, construção de fábricas, etc. Além disso existem os Fundos de Private equity e Venture capital que investem diretamente em empresas que ainda não tem capital aberto em bolsa, financiando também sua expansão. O segundo mito é a má conotação que a palavra especulação tem no Brasil. Via de regra o especulador é entendido pela maioria das pessoas como aquele que não trabalha e fica apenas esperando a oportunidade para tirar proveito de alguma situação. Novamente nada mais longe da realidade... Os chamados especuladores são participantes do mercado que buscam lucro pela variação de preços de algum ativo, sem ter necessariamente uma ligação econômica com ele. Eles têm papel fundamental no bom funcionamento do mercado financeiro, porque ao tomarem para si o risco dessa variação de preços, proporcionam um ambiente de liquidez necessária para que os demais agentes econômicos tenham condições de com- Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 479 Página 5

6 prar e vender seus ativos de forma rápida. Dentre os chamados especuladores, existem os que arbitram preços de ativos cuja correlação possa ser mensurada, tendo assim um papel importante também na manutenção de preços relativos no mercado. Um terceiro mito que de tempos em tempos retorna com uma grande força é o de que os governos deveriam ter uma atuação mais intervencionista e restritiva nos mercados financeiros. Essa talvez seja a noção mais errada que os leigos no assunto possam ter. Intervenção estatal em qualquer assunto econômico, leva invariavelmente a distorções e resultados cujos agentes econômicos têm dificuldade em antecipar e dessa forma o calculo de risco/retorno de investimentos fica comprometido. Num ambiente com grande intervenção estatal os prêmios de risco invariavelmente aumentam e o custo de capital sempre acompanham esse movimento. A situação de nossos vizinhos Argentina e Venezuela exemplifica bem as consequências nefastas do excesso de intervenção estatal na economia. É óbvio que os mercados financeiros devem permanecer num ambiente de regras claras e transparentes e com uma regulação mínima, porém efetiva buscando evitar exageros como os que levaram à crise de 2008, porém qualquer interferência que exceda essa presença mínima é um potencial dificultador para a função primordial dos mercados financeiros. O Capital Financeiro é reflexo de decisões humanas, influenciado por emoções como ganância e medo, e portanto seu fluxo é muitas vezes errático e difícil de ser previsto, mas uma regra básica é que o Capital vai onde ele é bem recebido, bem tratado e onde pode prosperar e ser multiplicado. Não é coincidência que até hoje os países que mais se desenvolveram no mundo são aqueles onde o mercado financeiro é o mais desenvolvido, inovador e com pouca interferência governamental. A história do capitalismo americano que é há tempos o mais desenvolvido do mundo se confunde com o desenvolvimento e crescimento de seus mercados financeiros. No Brasil ainda somos bastante novos nesse assunto, mas vínhamos tendo um papel de destaque na atração de investimentos do mundo todo ao lado de Rússia, China e Índia. Ao longo de 2012 deixamos de ser o queridinho do mercado financeiro mundial e a performance relativa de nossa bolsa está abaixo dos nossos colegas de BRIC. O fato de isso estar acontecendo ao mesmo tempo do aumento do intervencionismo estatal na economia não é mera coincidência!! Com as seguidas tentativas de superação da crise financeira mundial iniciada em 2008, os bancos centrais de todo o mundo, mas sobretudo o FED Banco Central Americano e o BCE Banco Central Europeu derrubaram os juros para próximo de zero e adotaram políticas de injeção direta de dinheiro nos mercados, como o TARP, Q. E. I e II, LTRO, etc etc etc. Nem mesmo essa verdadeira avalanche monetária foi capaz de reestimular a economia real, com investidores literalmente pagando pelo privilégio de emprestar dinheiro a países como Alemanha, Finlândia, Dinamarca, Suíça, Holanda e Áustria cujos títulos de até dois anos estão sendo negociados com rendimentos negativos. Num ambiente como esses é fácil imaginar o potencial de atração de investimentos de curto, médio e longo prazos que o Brasil pode ter por contar com um grande mercado consumidor interno além de ser rico em commodities minerais e agropecuárias que o mundo tanto necessita. Com certeza o próximo grande salto da agropecuária brasileira será exatamente nesse setor, com a crescente financeirização de seus mercados e os benefícios decorrentes disso para os que souberem aproveitar as oportunidades. Leandro Bovo é Especialista em Gestão de Negócios pela ESPM SP, MBA em Finanças pelo Insper SP, Membro da Câmara Consultiva do Boi Gordo na BVMF e operador de mercados futuros agrícolas na BES Securities... Carta Pecuaria. Melhore sua Comercialização de Gado. Editor: Rogério Goulart Periodicidade semanal. A Carta Pecuária é uma contribuição semanal no debate sobre as ferramentas de análise de mercado e negociação da pecuária brasileira. O texto aborda especialmente discussões sobre o segmento de engorda de bovinos e suas possíveis formas de negociação: mercado físico e também mercado futuro. Nessas análises são utilizadas diversas ferramentas técnicas de mercado, tais como gráficos, e também há o extensivo acompanhamento da dinâmica da oferta vs. demanda de animais acabados (machos e fêmeas) para os frigoríficos. Comentários, considerações e sugestões? Gostaria de indicar alguém para receber esse texto? Escreva para cartapecuaria@gmail.com Gostaria de anunciar seu produto ou marca nessas páginas? Entre em contato pelo cartapecuaria@gmail.com O intuito é divulgar, democratizar e ampliar os conhecimentos dos envolvidos na cadeia pecuária brasileira. Sinta-se livre para ler, opinar e, se achar interessante, divulgar para seus amigos. Câmara do Boi Associação de Profissionais da Pecuária Sustentável Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 479 Página 6