NOVOS CAMINHOS NA ANÁLISE DE RENTABILIDADE DA PECUÁRIA
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- Vítor Mota Lemos
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1 Resumo da evolução dos custos em Abril/08 NOVOS CAMINHOS NA ANÁLISE DE RENTABILIDADE DA PECUÁRIA Quando o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Cepea/Esalq-USP) e a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) se propuseram, em 2003, o desafio de analisar a evolução dos custos e receitas da pecuária de corte, o principal objetivo era mensurar o poder de compra do pecuarista ao longo dos anos. Entretanto, nesses cinco anos de pesquisa, os estudos da pecuária tiveram de ser ampliados. Não bastava analisar apenas a variação do poder de compra do pecuarista Era preciso desenvolver ferramentas que auxiliassem na tomada de decisão do produtor e questionar algumas difundidas no meio rural, mas não necessariamente recomendáveis. Entre os métodos que pesquisadores do Cepea identificaram como os mais bem-sucedidos, está a análise da lucratividade, que permite ao produtor conhecer a viabilidade do seu negócio no curto e também no longo prazo, analisando inclusive sua capacidade de expansão. Viável no curto prazo: a receita deve ser maior que o Custo Operacional Efetivo (COE), ou seja, o produtor tem rentabilidade suficiente para pagar os desembolsos com sementes, adubos e corretivos, herbicidas, minerais, sanidade, impostos, energia elétrica, telefone, combustíveis e lubrificantes, mão-de-obra e manutenção de máquinas, implementos e benfeitorias; Investimento sustentável viável no longo prazo: a receita deve cobrir o Custo Operacional Total (COT), ou seja, além de o produtor conseguir pagar os desembolsos efetivos, ele também terá renda para bancar os custos com depreciação (repor a estrutura da propriedade); Investimento Lucrativo: a receita deve ser superior ao COT, suficiente para proporcionar também remuneração sobre o capital fixo investido e fazer frente à rentabilidade que poderia ser obtida com outra cultura (uso alternativo da terra na região). A partir da análise de rentabilidade, o Cepea passou a calcular também o retorno sobre cada real investido, ou apenas RR. No mercado, no entanto, é comum encontrar pecuaristas e consultores que priorizam a análise do retorno por hectare de pasto para avaliar a competitividade de um negócio em relação a outro. Essa prática é, de certa forma, restrita ao campo. No meio urbano, um bom comerciante ou industrial não analisa o resultado do seu negócio por metro quadrado, mas com certeza ele sabe qual é o retorno financeiro por cada unidade monetária aplicada. A comparação entre os sistemas de produção muito comum entre os agentes do mercado pode ser equivocada quando condicionada ao resultado por unidade de área (gráficos 1 e 2). O gráfico 1 mostra que a rentabilidade operacional por hectare de pasto usado em recria-engorda, nos anos de 2004 e 2005, foi maior que a dos demais sistemas de produção. Já o gráfico 2, baseado no retorno operacional efetivo por Real investido, evidencia que a recria-engorda teve resultados inferiores aos demais sistemas em todos os momentos. O intuito deste trabalho não é fazer com que pecuaristas e consultores parem de utilizar o resultado por hectare, mas mostrar alguns problemas que esse critério de análise ocasiona na análise comparativa entre atividades. Esse resultado continua sendo um bom parâmetro de eficiência da própria atividade. Gráfico: 01
2 RETORNO OPERACIONAL POR HECTARE DE PASTO R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ CRIA CRIA-RECRIA CICLO COMPLETO RECRIA-ENGORDA CRIAR BEZERROS PROPORCIONA MAIOR RETORNO AO PECUARISTA No final de 2003 e início de 2004, a pecuária brasileira caminhava para se consolidar como líder mundial. Naquele período, os problemas sanitários ocorridos na Europa e nos Estados Unidos, causados principalmente pela doença da vaca louca, abriram a possibilidade de o Brasil se firmar como um grande player do mercado de carne bovina. Produtores tinham a expectativa de melhores remunerações e, a indústria, de ampliação considerável das vendas. Apesar disso, a arroba só começou a se valorizar em meados de O bezerro, depois de se manter relativamente estável por anos, assumiu já no início de 2007 franca recuperação que chama a atenção até agora, meados de A relação de troca de arroba por bezerro só tem piorado desde Em 2008, alguns agentes do mercado concluem que a terminação dos animais já pode ser vista como um negócio menos vantajoso do que a cria, a cria-recria e também que o ciclo completo. Pesquisas realizadas pelo Cepea, em parceria com a CNA, de fato, confirmam que a que recria-engorda não é o sistema mais vantajoso há algum tempo. Os que defendiam esta idéia estavam, portanto, repetindo mais um falso consenso da pecuária. O gráfico 2 mostra que em nenhum momento desde 2004 o pecuarista recriador obteve
3 melhor retorno do que o criador para cada Real investido anualmente na produção. Para que a recria-engorda tivesse o mesmo retorno (RR) que o ciclo completo, apontado como o de melhor resultado, neste ano dados de 2008, mantendo-se estável a estrutura de custos, a arroba teria de valorizar 79% sobre a média de maio R$ 70,00/arroba na média dos 11 estados -, ou seja, teria de chegar a R$ 125,3. Não é através dos preços recebidos que o pecuarista de recria-engorda vai obter o RR maior que o obtido por produtores de outros sistemas. O caminho parece ser o aumento da produtividade - taxa de lotação, desfrute, etc. Para fazendas que mantêm vacas, esse ganho tende a ser mais difícil, tendo em vista que são mais complexas. Essa análise é feita com base em dados médios de propriedades pecuárias típicas, nas quais o índice de produtividade da recria-engorda tem muito a melhorar. Gráfico: 02 RETORNO OPERACIONAL / R$ INVESTIDO R$ 1.60 R$ 1.40 R$ 1.20 R$ 1.00 R$ 0.80 R$ 0.60 R$ 0.40 R$ 0.20 R$ CRIA CRIA-RECRIA CICLO COMPLETO RECRIA-ENGORDA
4 PREÇOS DOS INSUMOS CONTINUAM EM DISPARADA Pelo quarto mês consecutivo, alguns dos principais insumos da produção pecuária, como o sal mineral, bezerros para compra e sementes forrageiras, registraram fortes valorizações. Desde o início desta pesquisa, em março/03, nunca foi verificado um ritmo de aumento dos custos tão intenso como o que vem sendo observado neste ano. A suplementação mineral, principal influenciador das elevações dos custos, teve valorização de 7,1% apenas de março para abril, acumulando alta anual de quase 60% na média Brasil. Só no estado de Mato Grosso, a alta mensal chegou a 25,8%. Em abril, a alta dos minerais também foi significativa no Rio Grande do Sul e no Paraná, que tiveram reajustes de 12% e de 8,1%, respectivamente. Entre os dez estados desta pesquisa, as maiores valorizações do sal mineral no acumulado de 2008 foram observadas em Mato Grosso, de 81,8%, e no Pará, de 73,3%. Na tentativa de conter a inflação, o governo federal reduzirá a alíquota de importação do ácido fosfórico e do fosfato bicálcico a zero, que atualmente está em 4% e em 10%, respectivamente. Entretanto, vale destacar que essa medida não promoverá reduções significativas no preço dos suplementos ao produtor, uma vez que o encarecimento internacional da matéria-prima é superior aos benefícios. De março a abril deste ano, a compra de bezerros também encareceu em 5,27% na média Brasil. Neste ano, a valorização da reposição é de 14,21%. Em abril, as maiores altas estaduais foram observadas em Tocantins (8,8%), São Paulo (8,3%), Minas Gerais (7,3%) e Goiás (7%). A maior valorização no acumulado do ano foi registrada no Rio Grande do Sul, onde a reposição já subiu 23,7%. Para as sementes forrageiras, o aumento médio de março para abril foi de 2,38%. No Rio Grande do Sul e no Paraná, a comercialização das sementes para as pastagens de inverno começou e, com ela, a valorização desse produto no estado gaúcho, a alta foi de 15,6%, e no paranaense, de 13,3%. Vale destacar que, principalmente no Rio Grande do Sul, o plantio de aveia para o pastejo no período de inverno é muito comum. Os aumentos dos adubos e corretivos também não cessaram. Na média ponderada da pesquisa, a alta de abril foi de 6,1% e a anual, de 18,8%. Os estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo registraram as maiores valorizações de 2008, de 32,5% e de 31,3%, respectivamente. Embora a utilização dos adubos e corretivos não seja expressiva na pecuária, o encarecimento constante desse grupo de insumos prejudica consideravelmente a expansão da atividade. Como esse processo depende quase exclusivamente da adubação química para aumentar a produtividade por unidade de área, a pecuária perde em competitividade, principalmente nas regiões em que a agricultura também está presente.
5 Evolução acumulada da suplementação mineral e da arroba - média Brasil 120.0% 100.0% 80.0% 60.0% 40.0% 20.0% 0.0% -20.0% -40.0% mar/03 mai/03 jul/03 set/03 nov/03 jan/04 mar/04 mai/04 jul/04 set/04 nov/04 jan/05 mar/05 Sal Mineral INSUMOS Maior alta anual: Suplementos Minerais: 58,77% Quanto representa nos custos totais: 19,31% Quem é prejudicado? Todos os pecuaristas brasileiros Menor aumento anual: Máquinas e implementos agrícolas: 0,04% Quanto representa nos custos: 6,91% Quem é beneficiado? Todos os pecuaristas brasileiros mai/05 jul/05 set/05 nov/05 jan/06 mar/06 mai/06 jul/06 set/06 Arroba nov/06 jan/07 mar/07 mai/07 jul/07 set/07 nov/07 jan/08 mar/08 REGIÕES Onde os custos (efetivos) aumentaram mais em 2008? Rondônia: 26,63% Quanto representa do rebanho amostrado? 6,7% Onde a arroba desvalorizou em 2008? Goiás: -0,11%
6 Onde os custos (efetivos) estão mais controlados em 2008? Minas Gerais: 9,13% Quanto representa do rebanho amostrado? 12,7% Onde a arroba subiu mais em 2008? Rondônia: 16,98% AUMENTO DOS CUSTOS PERSISTE E BATE NOVO RECORDE Desde o início deste ano, o custo de produção pecuária vem, mês a mês, batendo aumentos recordes. Os sucessivos encarecimentos dos principais insumos da atividade prejudicaram os ganhos promovidos pela valorização da arroba. No acumulado deste ano (de janeiro a abril), enquanto a arroba do boi gordo valorizou 7,07%, o Custo Operacional Total (COT) subiu 13,47% média Brasil. Os reajustes dos custos de produção também são superiores aos aumentos da inflação do período, que foi de 3,08%, segundo o IGP-M. De março para abril, o aumento médio verificado para o Custo Operacional Total (COT) foi de 2,59% e para o Custo Operacional Efetivo (COE), de 2,99%. As maiores altas foram registradas no estado de Mato Grosso, de 4,89% para o COT e de 6,22% para o COE, impulsionadas principalmente pela valorização dos suplementos minerais. No acumulado do ano, as maiores altas dos desembolsos efetivos (COE) foram observadas em Rondônia (26,63%), Mato Grosso (21,4%) e Pará (20,06%). Nesse mesmo período, os menores aumentos ocorreram nos estados de Minas Gerais (9,13%) e de São Paulo (11,09%). Já os maiores aumentos da receita, em 2008, representada pela arroba do boi gordo, foram registrados em Rondônia (17%) e em Mato Grosso (14,7%). Variação Mensal e Acumulada COE (1) COT (2) Boi Gordo R$/@ Ponderações Estados abril-08 jan/08 abr/08 abril-08 jan/08 abr/08 abril-08 jan/08 abr/08 Goiás 2.39% 14.09% 2.19% 12.55% 1.91% -0.11% 12.4% Minas Gerais 0.68% 9.13% 0.89% 7.33% 2.10% 1.38% 12.7% Mato Grosso 6.22% 21.40% 4.89% 16.53% 6.28% 14.69% 15.8% Mato Grosso do Sul 1.30% 17.14% 1.14% 14.10% 3.20% 8.21% 14.5% Pará 4.41% 20.06% 3.64% 17.19% 6.00% 8.20% 10.7% Paraná 4.06% 18.60% 3.47% 15.64% 1.98% 4.06% 6.0% Rio Grande do Sul 3.87% 13.45% 3.80% 12.30% 2.02% 2.55% 8.5% Rondônia 1.63% 26.63% 1.49% 17.43% 4.49% 16.98% 6.7% São Paulo 2.53% 11.09% 2.26% 9.80% 1.58% 4.93% 8.0% Tocantins 1.80% 13.97% 1.51% 11.72% 4.94% 11.04% 4.7% Brasil* 2.99% 16.52% 2.59% 13.47% 3.56% 7.07% *- Referente a 81,38% do rebanho nacional segundo o Rebanho Efetivo Bovino PPM / IBGE Custo Operacional Efetivo (COE) Fonte: Cepea/USP-CNA 2 - Custo Operacional Total (COT) Variação dos Principais Indicadores Indicadores abril-08 IGP-M 0.69% Acumulado_Janeiro IGP-M 3.08% Taxa de Câmbio -2.31%
7 Variações dos Preços dos Principais Insumos da Pecuária de Corte Média Ponderada para GO, MT, MS, PA, RO, RS, MG, PR, TO e SP Ponderação Variação acumulada do COT abril/08 jan/07 - abr/08 abril/08 Combustíveis e Lubrificantes 2.97% 0.62% -0.03% Adubos e Corretivos 8.89% 18.79% 6.10% Sementes forrageiras 5.58% 1.19% 2.38% Suplementação Mineral 19.31% 58.77% 7.10% Medicamentos - Vacinas 1.40% 5.21% 0.82% Medicamentos - Controle Parasitário 0.92% 3.09% 1.12% Medicamentos - Antibióticos 0.46% 3.33% 0.48% Medicamentos em geral 0.51% 2.47% 1.39% Insumos para reprodução animal 0.47% 1.89% -0.47% Insumos para construção/manutenção de cercas 1.04% 5.04% 1.01% Construções em geral 8.40% 5.31% 1.40% Máquinas e implementos agrícolas 6.91% 0.04% 0.00% Serviço terceirizado de máquinas pesadas 3.58% 0.08% 0.00% Compra de animais bezerro 11.83% 14.21% 5.27% Mão-de-obra 21.39% 8.58% 0.00% Outras informações sobre o mercado pecuário, incluindo cotações diárias e análises semanais: e através do Laboratório de Informação do Cepea, com o professor Sergio De Zen: / 8836 e cepea@esalq.usp.br
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