TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Presidente Prudente, em que é apelante SUZETE MOTTA PERETTI, é apelado ADAUTO PERETTI FILHO. ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento aos recursos. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente sem voto), COELHO MENDES E ROBERTO MAIA. São Paulo, 10 de dezembro de CARLOS ALBERTO GARBI RELATOR [DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE]

2 VOTO Nº APELAÇÃO COM REVISÃO N COMARCA APELANTE APELADO : PRESIDENTE PRUDENTE (1ª VARA DA FAMÍLIA E SUCESSÕES) : SUZETE MOTTA PERETTI : ADAUTO PERETTI FILHO AÇÃO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL CONVERTIDA EM DIVÓRCIO. AGRAVO RETIDO. CERCEAMENTO DE DEFESA. PRETENSÃO DA AUTORA AO RECONHECIMENTO DA CULPA DO RÉU COM O PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, BEM COMO À DIVISÃO DOS AQUESTOS. REGIME DA SEPARAÇÃO TOTAL DE BENS. IMPOSSIBILIDADE. FIXAÇÃO DE ALIMENTOS EM FAVOR DA FILHA DO CASAL. VALOR FIXADO QUE ATENDEU ADEQUADAMENTE ÀS CIRCUNSTÂNCIAS DOS AUTOS. Agravo retido não provido. O rol de testemunhas foi apresentado pela autora fora do prazo legal e, portanto, em desacordo com o disposto no art. 407 do Código de Processo Civil. Cerceamento de defesa. Inexistência. O julgamento antecipado é faculdade do Magistrado, segundo o princípio do livre convencimento e da motivada apreciação da prova, sem que isso importe em qualquer nulidade, sobretudo nos casos como o dos autos, em que a produção de outras provas revelava-se desnecessária para o desate do litígio. Divórcio. Superveniência da EC nº 66/2010 que afasta a necessidade de aferição de culpa para o decreto do divórcio. Pedido de indenização por danos morais afastado. Partilha dos bens. Na hipótese dos autos, as partes se casaram sob o regime da separação de bens, de modo que não há que se falar em divisão dos aquestos. Ainda mais, no caso dos autos, em que as partes expressamente dispuseram em pacto antenupcial sobre a proibição de comunicação dos aquestos. Alimentos. Os alimentos estão condicionados às necessidades do alimentando e às possibilidades do alimentante, estando, portanto, sujeitos, à variação conforme a situação fática enfrentada (art. 1694, 1º, do Código Civil). Ainda que comprovada nos autos que o réu possui patrimônio Apelação nº [voto nº 14487] LFIA Página 2/9

3 elevado e excelente condição financeira como produtor rural (fls. 241/264), não se pode afastar o fato de que o dever de sustento dos filhos é de ambos os pais (art.1566, IV, do Código Civil). Valor estipulado em sentença que se mostra adequado diante do binômio necessidade-possibilidade. Sentença mantida. Recursos não providos. 1. Recorreu a autora da sentença, proferida pelo Doutor Fábio Mendes Ferreira, que julgou parcialmente procedente o pedido para: a) decretar o divórcio das partes; b) homologar o acordo firmado em relação à partilha dos bens móveis, bem como quanto à guarda da menor atribuída à sua genitora; c) condenar o réu ao pagamento de pensão alimentícia à sua filha no valor de R$ 4.500,00, reajustáveis anualmente de acordo com o aumento do salário mínimo. A autora, preliminarmente, pediu o conhecimento do agravo retido interposto em face da decisão que considerou intempestivo o rol de testemunhas apresentado. Alegou que houve cerceamento de defesa, pois não foram analisadas as provas juntadas aos autos que demonstram a prática de injúria grave e conduta desonrosa por parte do réu. Afirmou que tem direito à metade dos bens adquiridos após a celebração do casamento, visto que restou demonstrada nos autos a sua participação para aquisição dos bens do casal, bem como a melhora na condição financeira do réu. Acrescentou que os alimentos devem ser fixados no valor de R$ 5.000,00, tendo em vista a manutenção do padrão de vida da menor. Pediu a condenação do réu ao Apelação nº [voto nº 14487] LFIA Página 3/9

4 pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ ,00 pelas agressões físicas e verbais sofridas e ao pagamento da sucumbência. O réu respondeu ao recurso. Pediu a manutenção da sentença. A Procuradoria de Justiça do Ministério Público, pelo parecer da Doutora Maria Elisabete Morais, opinou pelo não provimento do recurso. É o relatório. 2. O agravo retido de fls. 518/524 não pode ser provido. O rol de testemunhas foi apresentado pela autora fora do prazo legal e, portanto, em desacordo com o disposto no art. 407 do Código de Processo Civil, de forma que correta a decisão agravada que rejeitou o rol de testemunhas apresentado. Ademais, o julgamento antecipado é faculdade do Magistrado, segundo o princípio do livre convencimento e da motivada apreciação da prova, sem que isso importe em qualquer nulidade, sobretudo nos casos como o dos autos, em que a produção de outras provas revelava-se desnecessária para o desate do litígio. Nas palavras de CASSIO SCARPINELLA BUENO, o julgamento antecipado da lide justifica-se quando o juiz está convencido de que não há necessidade de qualquer outra prova para a formação de sua cognição sobre quem, autor ou réu, será tutelado pela atuação jurisdicional. Em termos mais técnicos, o julgamento antecipado da lide acaba por revelar a desnecessidade da realização da fase instrutória, suficientes as provas eventualmente já produzidas até então com a petição inicial, com a contestação e, bem assim, Apelação nº [voto nº 14487] LFIA Página 4/9

5 com as manifestações que, porventura, tenham sido apresentadas por força das providências preliminares, é dizer, ao ensejo da fase ordinatória (Curso Sistematizado de Direito Processual Civil, v. 2, t. 1, ed. Saraiva, p. 219). A pleiteada prova testemunhal, no caso, não era relevante, visto que os documentos juntados, bem como as alegações das partes, permitiram o correto conhecimento dos fatos. Este Tribunal já decidiu, pelo voto do Desembargador Andreatta Rizzo, que a violação do princípio constitucional da ampla defesa somente se verifica nos casos em que prova relevante para o deslinde da causa é repelida pelo julgador, de forma injustificada e imotivada, o que não se verifica na hipótese em testilha (Apelação com Revisão nº /0). A jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça é nesse sentido: PROCESSO CIVIL. PROVA ORAL. Constatando que o desate da lide não exige a produção de prova oral (inidônea para contrariar a prova documental), o juiz deve dispensá-la. Recurso especial não conhecido (REsp nº /PR, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ ). Superadas as questões preliminares, verifica-se nos autos que as partes contraíram matrimônio em sob o regime da separação total de bens, celebrado pacto antenupcial (fls. 21/22). Diante das desavenças do casal, a autora ingressou com pedido de separação judicial litigiosa, cumulada com pedido de alimentos e indenização por danos morais, que foi convertido em divórcio. Sustentou que o réu praticou conduta desonrosa e injúrias graves, de modo que a ele deve ser atribuída culpa, bem como o pagamento de indenização por danos morais. Alegou que tem direito à metade dos aquestos, vistos que colaborou para a Apelação nº [voto nº 14487] LFIA Página 5/9

6 aquisição do patrimônio. Em que pese o entendimento da apelante, é certo que no regime da separação de bens o casamento não repercute na esfera patrimonial dos cônjuges, podendo cada um livremente alienar e gravar de ônus real os seus bens. Os patrimônios passado, presente e futuro não se comunicam, nem durante o casamento e tampouco quando de sua dissolução. Cada um conserva, com exclusividade, o domínio, a posse e a administração de seus bens, assim como a responsabilidade pelas suas dívidas anteriores e posteriores ao casamento. Assim, não há partilha (Maria Berenice Dias, Manual de Direito das Famílias, 9ª ed., Ed. RT, p. 254). Ainda que assim não fosse, note-se que no pacto antenupcial há cláusula expressa quanto à proibição de divisão dos aquestos (fls. 22), o que afasta, decisivamente, a pretensão da autora em relação à divisão dos bens. Por tais razões, em relação aos bens exclusivos de cada um dos excônjuges, deve prevalecer o pacto antenupcial, por força do qual subsistem com inteira independência dois patrimônios distintos: o do marido e o da mulher. Como bem observado na sentença, o regime de separação convencional de bens difere daquele da separação obrigatória, em que prevalece a aplicação da Súmula nº 377 do STF: No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento. Por outro lado, igualmente afastada a pretensão de atribuição de culpa ao réu pelo fim da relação matrimonial. Apelação nº [voto nº 14487] LFIA Página 6/9

7 Com efeito, a nova redação do art. 226, 6º, da Constituição Federal, dada pela Emenda Constitucional nº 66/2010, permite o divórcio independente do requisito da prévia separação judicial por mais de 1 (um) ano ou de comprovada separação de fato por mais de 2 (dois) anos, afastada a discussão da culpa. Nesse sentido já se manifestou o Tribunal: "APELAÇÃO CÍVEL 1. Divórcio Emenda Constitucional nº. 66/2010 Aplicabilidade. 2. Indenização por Danos Morais O novo regime constitucional de divórcio afasta aferição de culpa para sua decretação, sem prejuízo de apuração de eventuais danos por meio de ação própria, não se vislumbrando na hipótese prática de ato ilícito. 3. Regime de Bens. Separação convencional e absoluta de bens estipulado por meio de pacto antenupcial constante de escritura pública Incomunicabilidade dos aquestos (inteligência do art do Código Civil). Decisão mantida. Recurso Improvido" (Ap. n , rel. Des. Egidio Giacoia, dj ). Assim, na ação de divórcio não existe campo para discussão da culpa e, por conseguinte, de eventual reparação de dano moral. Nesse sentido, o parecer da Procuradoria de Justiça do Ministério Público: Assim, como a culpa de um ou ambos os cônjuges para a dissolução do vínculo matrimonial passou a ser irrelevante, descabida essa discussão na ação de divórcio, de forma que o pedido de ressarcimento de danos morais, pelo descumprimento dos deveres do matrimônio, deve ser formulado perante o juízo civil, onde a culpa poderá então ser discutida (fls. 681). Ainda que assim não fosse, a prática de injúria grave e conduta desonrosa pelo réu não restou comprovada nos autos, como destacou a Douta Procuradora de Justiça, Doutora Maria Elisabete Morais: Mas, ainda que Apelação nº [voto nº 14487] LFIA Página 7/9

8 admitida a cumulação da ação de divórcio direto com indenização por danos morais no Juízo da Família, como ocorreu no caso, em espécie, sem insurgência das partes a respeito, os elementos existentes nos autos são insuficientes para demonstrar a ocorrência de ato ilícito, inviabilizando a condenação do recorrido em indenização por danos morais (fls. 681). Dessa forma, não há que se falar em indenização por danos morais. Também não pode ser acolhida a pretensão de fixação dos alimentos no valor de R$ 5.000,00. É certo que a necessidade da menor, que atualmente é adolescente (15 anos de idade fls. 23), é presumida, visto que necessita dos alimentos para a manutenção das suas despesas básicas. Contudo, os alimentos estão condicionados às necessidades do alimentando e às possibilidades do alimentante, sujeitos à variação conforme a situação fática enfrentada (art. 1694, 1º, do Código Civil). Ainda que comprovada nos autos que o réu possui patrimônio elevado e excelente condição financeira como produtor rural (fls. 241/264), não se pode afastar o fato de que o dever de sustento dos filhos é de ambos os pais (art.1566, IV, do Código Civil). Como se vê, a autora também desfruta de boa condição financeira. É médica e aufere rendimento mensal de aproximadamente R$ ,00, além de ser professora universitária (fls. 435/446), de modo que o valor estipulado pela sentença se mostra adequado, sendo certo que diante do binômio necessidade-possibilidade não se vislumbra qualquer motivo para a sua Apelação nº [voto nº 14487] LFIA Página 8/9

9 alteração. Note-se que o valor fixado em sentença (R$ 4.500,00) não se distancia significativamente do requerido pela autora (R$ 5.000,00) e está de acordo com a planilha inicialmente apresentada (fls. 10/11). A sentença, portanto, deu adequada solução à lide e deve ser mantida por seus próprios fundamentos, inclusive, no tocante à sucumbência. 3. Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO aos recursos. Des. CARLOS ALBERTO GARBI RELATOR [DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE] Apelação nº [voto nº 14487] LFIA Página 9/9