UNIDADE DE CONSERVAÇÃO COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO NÃO FORMAL: UMA AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DO PARQUE DA MANTEIGUEIRA (VILA VELHA-ES)
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- Orlando Mendes Dinis
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1 03965 UNIDADE DE CONSERVAÇÃO COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO NÃO FORMAL: UMA AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DO PARQUE DA MANTEIGUEIRA (VILA VELHA-ES) Kleber Roldi 1 Manuella Villar Amado 2 1;2 EDUCIMAT - Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) RESUMO O presente trabalho se refere a uma pesquisa em andamento no programa de Mestrado Profissional em Educação em Ciências e Matemática (EDUCIMAT) do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e trata-se de uma avaliação diagnóstica da Unidade de Conservação (UC) Parque Natural Municipal Morro da Manteigueira, localizado no município de Vila Velha, Espírito Santo, visando potencializa-lo como espaço de educação não formal, a fim de possibilitar a construção de uma prática pedagógica cidadã, multidimensional e contextualizada com o cotidiano escolar, vislumbrando mudanças no pensar e no fazer do trabalho docente. Adotamos as concepções filosóficas de Gohn quanto ao conceito de educação não formal, tendo esta, por meta, a formação política, sociocultural e a transmissão de informação, com vistas a preparar e educar para a cidadania. É uma pesquisa de cunho qualitativo onde se realizou um estudo de caso a partir da visitação ao Parque Natural Municipal Morro da Manteigueira, Vila Velha, ES e aplicação de questionários semi estruturados. Um grupo de 28 alunos finalistas do ensino médio da EEEM Godofredo Schneider foram os sujeitos participantes dessa pesquisa. Os resultados obtidos apontam que apesar da falta de apoio à visitação, a UC Parque Natural Municipal Morro da Manteigueira pode ser potencialmente um Espaço de Educação Não Formal uma vez que, para o aluno, é um local onde existem possibilidades evidentes de se debater questões socioambientais. Entretanto, acreditamos que para isso, a prática pedagógica do professor deve ser capaz de criar possibilidades de ações educativas contextualizadas e articuladas com a formação cidadã. Palavras chave: Espaço de educação não formal, Unidade de Conservação, Ensino médio. INTRODUÇÃO Considerando o contexto da globalização econômica, da revolução tecnológica e do amplo desenvolvimento científico das últimas décadas, é fato que os conhecimentos necessários às práticas educativas devem extrapolar os limites da escola e principalmente devem permitir que o cidadão em formação seja capaz de fazer uma leitura crítica do universo a sua volta, integrando os conhecimentos construídos no ambiente escolar com a realidade do seu meio sociocultural. E é nessa perspectiva, de extrapolar os limites da escola para proporcionar uma educação mais cidadã, que as Unidades de Consevação como espaços de educação não formal podem colaborar na formação mais integral do aluno da educação básica.
2 03966 O termo espaço de educação não formal tem sido utilizado atualmente por investigadores em educação, professores de diversas áreas do conhecimento para descrever lugares, diferentes da escola ( espaço de educação formal ), onde é possível desenvolver atividades educativas. Entretanto, o termo espaço de educação não formal remete ao termo educação não formal, ainda não definido consensualmente entre os pesquisadores da área de educação no Brasil. Para evitar cair em erro conceitual de termos, vamos adotar a perspectiva filosófica de Gohn (2002) para embasar nossa pesquisa. Gohn (2006) afirma que a finalidade da educação não formal é capacitar os indivíduos de maneira a torná-los cidadãos conhecedores da realidade social em que vivem, considerando que o fortalecimento do exercício da cidadania ocorre quando as relações dentro de uma sociedade estão baseadas em igualdade e justiça social. E é dentro desta perspectiva filosófica que adotamos nessa pesquisa a definição de Espaço de Educação Não Formal como aquele local que proporciona a aprendizagem de conteúdos da escolarização formal, como museus, centros de ciências, planetários, reservas ecológicas ou qualquer outro em que as atividades sejam desenvolvidas de forma intencional, sempre articulada com a formação para a cidadania. Chassot (2006) reflete sobre a efetivação da alfabetização científica e coloca o ensino fundamental e médio no centro desse processo. Reavaliar os conteúdos curriculares estabelecidos historicamente como importantes, bem como refletir sobre as práticas educativas predominantes em nossas salas de aula e nos espaços de educação não formal são alguns dos desafios que precisamos enfrentar para oferecer uma alfabetização cientifica que possa formar cidadãos críticos, conscientes e participantes, integrando o ensino de ciências com o movimento CTS. Dessa forma, buscamos nesse trabalho realizar uma avaliação diagnóstica da UC Parque Morro da Manteigueira, visando potencializa-lo como espaço de educação não formal, a fim de possibilitar a construção de práticas pedagógicas cidadãs e contextualizada com o cotidiano escolar, vislumbrando mudanças no pensar e no fazer do trabalho docente. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, do tipo estudo de caso (Gil, 2002). Esse trabalho, que é parte de uma pesquisa de mestrado iniciada em agosto de 2013, com previsão para conclusão em julho de 2015, traz uma avaliação diagnóstica
3 03967 inicial do Parque Natural Municipal Morro da Manteigueira, criado por meio da lei municipal Nº 4105 de 13/11/1993 com área de 168,30 hectares, como espaço de educação não formal num contexto de educação para a cidadania. Para tal, acompanhamos uma visita de um grupo de 28 alunos finalistas do ensino médio da EEEM Godofredo Schneider, Vila Velha, ES em novembro de A escola está localizada em um bairro vizinho ao parque e os alunos, em sua maioria, residem em bairros situados também no entorno do parque. A coleta de dados com os alunos foi feita por meio de questionários semi estruturados antes e depois da visita. No questionário 1 (antes da visita) procuramos obter informações sobre o conhecimento prévio do parque pelos alunos, se já visitaram o local ou se pelo menos já ouviram falar sobre a existência dele. Indagamos também aos alunos quais seriam as justificativas para que a escola promovesse uma atividade extraclasse e quais eram as expectativas deles para uma visita a uma UC. No questionário 2 (após a visita) os alunos puderam opinar sobre o nível de satisfação alcançado com as atividades desenvolvidas e com a organização da visita ao parque. Questionamos também se eles perceberam alguma contribuição das atividades desenvolvidas no parque para seus conhecimentos na disciplina de biologia e em relação a questões ambientais, sociais e culturais. RESULTADOS E DISCUSSÕES PRELIMINARES O Parque Natural Municipal Morro da Manteigueira possui uma sede administrativa, um pequeno auditório que comporta aproximadamente 30 pessoas e banheiros masculino e feminino. Dois fiscais de meio ambiente da prefeitura de Vila Velha trabalham de forma intermitente no local, pois precisam deixar a UC para atender a ocorrências em todo o município. Quando presentes, eles procuram acompanhar e auxiliar o professor, mas geralmente isso não acontece. Assim, o parque não possui um programa estruturado de visitação e não tem profissionais com formação adequada para mediar as visitas ao espaço. Portanto, toda aula de campo realizada no local deve ser planejada para ser mediada exclusivamente pelo professor. Com relação ao questionário diagnóstico, dos 28 alunos pesquisados, 19 afirmaram já terem ouvido falar sobre o parque da manteigueira, mas apenas 8 já haviam visitado o parque. Destes, 4 alunos realizaram a visita por intermédio da instituição escolar onde estudavam. Ao analisarmos as justificadas dadas pelos alunos para a realização de uma atividade em um local externo à escola, percebemos uma alta relação entre as expectativas com as atividades a serem desenvolvidas e os conteúdos
4 03968 disciplinares estabelecidos nos currículos. Verificamos também a ideia de aquisição de um conhecimento, posto como verdadeiro e acabado. Das 28 respostas dadas, 22 continham referencias ao conteúdo, ao aprendizado ou ao conhecimento. 13 respostas trouxeram ainda referência a atividades práticas de conteúdos teóricos estudados em sala. Destacamos algumas dessas respostas: Adquirir mais conhecimento e poder ver de perto o que estudamos em sala de aula ; Para sairmos um pouco da teoria e vermos na prática o que aprendemos em sala de aula ; Fazer com que o aluno coloque em prática o conhecimento adquirido em sala de aula ; A prática do conteúdo estudado que induz a melhora da compreensão do aluno. Apenas 3 alunos relacionaram em suas respostas a possibilidade de interação entre os alunos durante uma visita a um espaço educativo não formal. Aula de campo e a interação entre alunos ; Para que possamos interagir melhor com nossos colegas de turma. Foi possível verificar que, na visão dos alunos pesquisados, as aulas em espaços educativos não formais devem abordar aspectos de conteúdos curriculares que foram (ou serão) trabalhados de forma teórica na escola. Não encontramos respostas que tentassem estabelecer algum tipo de diálogo com a complexidade e com uma visão multidimensional do ensino. Poucos alunos levaram em conta as questões sociais (de interação entre indivíduos) em suas respostas. Nessa mesma linha, quando questionados sobre suas expectativas para uma aula em uma UC, a maioria dos alunos (18) também expressou relação direta com o conhecimento e o aprendizado de conteúdos disciplinares, principalmente da biologia. Alguns alunos destacaram a possibilidade de ver (visualizar) um mundo que até então ficava restrito as imagens dos livros didáticos. Alguns exemplos de respostas: Conhecer mais sobre a natureza. Já que estamos estudando sobre animais, espero que essa visita proporcione mais conteúdo ; Que a saída seja boa, que possamos adquirir mais conhecimentos e a chegada seja com novidades ; Espero encontrar novidades como plantas, animais, vegetação que antes só teria visto por televisão ou pela internet. Após a realização da visita à UC, os alunos responderam ao questionário 2 da avaliação diagnóstica. Dos 28 alunos participantes, 19 declararam estar muito satisfeitos com as atividades realizadas no parque, 7 se declararam razoavelmente satisfeitos e apenas 2 se declararam pouco satisfeitos. Em relação à organização das atividades durante a visita, 15 alunos classificaram o trabalho com muito bom, 11 como bom e apenas 2 como médio. Nenhum aluno se declarou insatisfeito ou classificou a organização como ruim.
5 03969 Quando questionados sobre as contribuições das atividades desenvolvidas no parque Morro da Manteigueira para seus conhecimentos na disciplina de biologia e em relação a questões ambientais, sociais e culturais, identificamos em muitos alunos uma visão que busca a perspectiva de cidadania, onde homem faz parte do ambiente, modifica-o e pode contribuir de forma significativa para sua sustentabilidade ou não. Percebemos que as citações giram em torno de temas relacionados à poluição, lixo, desmatamentos, necessidade de preservação, como podemos observar nos exemplos seguintes: Não podemos matar os bichos que encontramos, pois de alguma forma ele contribui para o meio ambiente ; Preservação de uma área natural ; O ambiente deveria ser mais limpo ; Devemos preservar mais os animais, não matá-los pois eles são muito essenciais para a natureza ; Devemos contribuir para o meio ambiente, não matando animais e não poluindo ; Vi que é necessário a preservação, até porque por onde passamos havia bastante lixo. Dessa forma, os resultados mostram que os alunos justificam a realização de uma visita a uma UC principalmente como meio de estabelecer uma relação com os conteúdos disciplinares estabelecidos nos currículos, mas que, após a aula de campo, os alunos foram capazes de evidenciar as questões socioculturais destacando a responsabilidade e inserção do homem no ambiente em que vive. Portanto, a partir dessa avaliação diagnóstica, podemos concluir que apesar de pouca infraestrutura física de apoio à visitação, a UC Parque Natural Municipal Morro da Manteigueira pode ser potencialmente um Espaço de Educação Não Formal uma vez que para o aluno é um local onde existem possibilidades evidentes de se debater questões socioambientais. Entretanto, acreditamos que para isso, a prática pedagógica do professor deve ser capaz de criar possibilidades de ações educativas contextualizadas e articuladas com a formação cidadã. REFERÊNCIAS CHASSOT, A. Alfabetização Cinetífica: questões e desafios para a educação. 4. ed. Ijuí: Unijuí, GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, GOHN, M. da G. Educação popular na américa latina no novo milênio: impactos do novo paradigma. ETD Educação Temática Digital, Campinas, v.4, n.1, p.53-77, dez GOHN, M. da G. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas, Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p , jan./mar
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