SELEÇÃO E USO DE LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA POR PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA: RESULTADOS PRELIMINARES

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1 SELEÇÃO E USO DE LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA POR PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA: RESULTADOS PRELIMINARES Diego Machado de Lima (Curso de Ciências Biológicas, Licenciatura, UFPB) Ageu Santos de Santana (Curso de Ciências Biológicas, Licenciatura, UFPB) Carlos Vinícius Carvalho do Nascimento (Professor de Educação Básica, SEE/PB) Marsílvio Gonçalves Pereira (Depto. de Metodologia da Educação/CE/UFPB; PPGEFHC/UFBA) Introdução Os estudos referentes à preocupação com livros didáticos no Brasil ganham força com a Legislação do Livro Didático (LD), criada em 1938 pelo Decreto-Lei 1006 (FRANCO, 1992 citado por NUÑEZ et al., 2003). Acredita-se que nessa época o livro didático já era uma ferramenta da educação política e ideológica, pois o Estado exerce controle no uso desse recurso didático. Em 1985 foi criado o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), já em 1993, a Resolução nº 6 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) estabeleceu os recursos para sua aquisição e distribuição nas escolas públicas. Em 1996, o Ministério da Educação (MEC) iniciou, efetivamente, o processo de avaliação pedagógica desses materiais, com o objetivo de fornecer aos estudantes do Ensino Fundamental, livros didáticos de qualidade. Em 2003, o MEC implantou o Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM) (BRASIL, 2010). Através desses programas, são efetuadas a compra e a distribuição de livros didáticos para as escolas públicas e, além disso, a análise criteriosa de sua qualidade parte da avaliação do material quanto à estrutura, o conhecimento, os conceitos, a linguagem, as ilustrações, a proposta pedagógica, a orientação à pesquisa, a adequação ao público-alvo, a ética e a cidadania. Essa análise é realizada por equipes formadas por professores universitários e da rede pública de ensino de várias regiões do país. O LD é a ferramenta didática mais usada pelos professores do ensino básico. Para muitos professores ele acaba sendo a única fonte de conteúdos disponível para suas aulas e alunos. (VASCONCELOS e SOUTO, 2003). Por outro lado, o mau uso desse valioso recurso pode comprometer a qualidade do ensino de ciências e biologia em nossas escolas. Além disso, segundo Santos; Terán; Silva-Forsberg (2011) muitos professores utilizam o LD de forma acrítica, sem analisar os conteúdos, formas de apresentação dos assuntos e abordagens metodológicas. Diante disso, o presente estudo tem como objetivos: verificar e analisar como os livros didáticos de Ciências e Biologia são selecionados e utilizados por professores do ensino básico do Município de João Pessoa/PB. Metodologia A pesquisa foi realizada em três escolas públicas de João Pessoa-PB. Sendo duas escolas de ensino médio, a Escola Estadual José Baptista de Mello e a Escola Presidente Médici; e de ensino fundamental a Escola Municipal de Ensino Fundamental Lions Tambaú. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado o questionário misto (questões abertas e fechadas), num total de 14 questões. Apenas quatro professores responderam os questionários. Os dados foram tabulados e analisados através da análise de conteúdo (BARDIN, 2008).

2 A pesquisa é de cunho exploratório, como afirma Gil (2002), é uma pesqusia caracterizada por favorecer a familiarização com o assunto ainda pouco explorado e ao final desta, conhecer-se-á mais sobre o assunto investigado, podendo-se construir hipóteses. Resultados e Discussão Houve predomínio de respostas afirmativas entre os professores (tabela 1) com relação as questões como a utilização do LD em sala de aula, consideração dos PCN na escolha dos livros didáticos, participação na definição dos critérios de seleção dos LD, como também, no processo de escolha dos livros e acham importante a participação no processo de escolha dos livros. Outro aspecto importante é o uso do Guia de Livros Didáticos, onde apenas o professor P1 alegou não usá-lo. Tabela 1 - Respostas de professores (n=4) de escolas da rede pública estadual, do município de João Pessoa-PB, às perguntas objetivas de um questionário sobre o uso e seleção de Livros Didáticos (LD) de Ciências e Biologia. Respostas Pergunta Sim Não Não Respondeu Utiliza LD em sala de aula? O LD é o principal instrumento do trabalho pedagógico? Considera os PCN na escolha dos livros didáticos? Utiliza o Guia dos Livros Didáticos para a escolha dos livros escolares? Os livros selecionados pela escola nos programas anteriores foram os mesmos enviados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC)? Participa da definição dos critérios de seleção dos LD? Participa do processo de escolha dos LD na escola que atua? Acha importante participar do processo de escolha dos LD? Quando os professores foram indagados em relação como definem os critérios de seleção do LD, as respostas foram bem parecidas, como planejamento em conjunto ou na escola junto com a direção. Segundo Nuñez et al. (2003), a seleção dos livros didáticos não deve excluir os professores como construtores ativos de saberes pois devem desenvolver essa importante competência profissional. Os professores disseram que acham importante participar do processo de escolha do LD, entre as justificativas destacam-se P2 e P3:

3 P2: [...] para saber o que vamos trabalhar. P3: [...] Permite [o professor] escolher aquele material mais adequado para o contexto do alunado. Os professores citaram os critérios para analisar os conteúdos na escolha do livro didático (Figura 1). Dentre as respostas dos professores, destaca-se o professor P4: P4: Conteúdo atualizado; seriedade dos autores; linguagem mais próxima do cotidiano do aluno (informal). De acordo com esta resposta o professor desconhece a importância do livro ter uma linguagem científica, pois ele considera a linguagem informal que não é adequada para os livros didáticos. Figura 1 Critérios essenciais na escolha do LD (superior) de acordo com as respostas a um questionário por professores (n=4) de escolas da rede pública de João Pessoa-PB. Em relação ao que os professores procuram trabalhar no LD todos afirmaram selecionar aqueles conteúdos mais importantes, por exemplos os professores do ensino médio citaram os conteúdos dos vestibulares ou processos seletivos seriados. Quando os professores foram questionados em relação à utilização dos livros recebidos do MEC (figura 2), destacam-se as respostas de P1 e P2, que justificaram seu uso. P1: [...] porque é a melhor maneira de se ver os principais conteúdos. P2: [...] principalmente para resolução de exercícios. Figura 2 Como o LD é utilizado em sala de aula de acordo com as respostas a um questionário por professores (n=4) de escolas da rede pública de João Pessoa-PB.

4 Quanto à forma de utilização do livro didático em sala de aula, todos os professores afirmaram que o livro é usado, principalmente, para realização de exercícios. Segundo Monte (2003), o LD quando é bem utilizado, tem um papel fundamental no processo de ensino e aprendizagem. Os professores quando indagados a respeito do uso de outros materiais em sala de aula (figura 3), todos disseram que usam o projetor eletrônico (data show) como recurso didático além do livro didático, outros também foram lembrados como vídeos e jogos. Figura 3 Outros materiais utilizados além do LD por professores (n=4) de escolas da rede pública estadual, do município de João Pessoa-PB. Considerações Finais A partir dos resultados obtidos, pode-se dizer que o livro didático é a principal ferramenta pedagógica em sala de aula. Este deve ser visto apenas como instrumento de apoio necessário ao trabalho pedagógico. Na presente pesquisa os professores afirmaram não conhecer a importância do MEC na avaliação da qualidade dos livros didáticos, o que contribui para a seleção de livros mais adequados para os alunos. Os professores participantes da pesquisa participam da seleção de livros didáticos. No entanto, esta prática não é comum em todas as escolas, o que deveria ser uma atividade importante na prática docente às vezes torna-se uma ação meramente burocrática, por isso mesmo deve ser contemplada na formação inicial e continuada de professores para dotá-los dessa competência profissional. A utilização de instrumentos pedagógicos alternativos aos livros didáticos às vezes não é muito frequente nas escolas. A inovação tecnológica ainda é subutilizada no contexto escolar. Referências BARDIN, L. Análise de conteúdo. 19ª Ed. Lisboa/Portugal: Edições 70, BRASIL. Ministério da Educação. Livro didático: Histórico FRANCO, M. L. P. B. O livro didático e o Estado. ANDE, ano I, n. 5, p

5 GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Editora Atlas,2002. NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L.; SILVA, I. K. P.; CAMPOS, A. P. N. A seleção dos livros didáticos: um saber necessário ao professor. O caso do ensino de Ciências. Revista Iberoamericana de Educación, v. 33, p. 1-12, SANTOS, S. C. S.; TERÁN, A. F.; SILVA-FORSBERG, M. C. Analogias em livros didáticos de biologia no ensino de zoologia. Investigações em Ensino de Ciências, v. 15(3), pp , MONTE, V.C. A Mata Atlântica nos livros didáticos de Ciências Naturais e Biologia. Recife, Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciências, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, VASCONCELOS, S. D.; SOUTO, E. O livro didático de Ciências no Ensino Fundamental proposta de critérios para análise do conteúdo zoológico. Ciência & Educação, v. 9, n. 1, p , 2003.