ESTIMULAÇÃO ESSENCIAL: HUMANIZANDO A INCLUSÃO INTRODUÇÃO
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- Tiago Figueiroa de Lacerda
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1 ESTIMULAÇÃO ESSENCIAL: HUMANIZANDO A INCLUSÃO INTRODUÇÃO A Escola Especial Ulisses Pernambucano pioneira no Brasil no atendimento pedagógico a pessoas com deficiência mental, pensada pelo médico Dr. Ulisses Pernambucano, estudioso quanto às questões da doença e da deficiência mental, vem desenvolvendo seu trabalho a mais de 60 anos sendo referencia no estado e na região Nordeste. O Serviço de Estimulação Essencial funciona há 15 anos, com uma equipe multidisciplinar que desenvolve um trabalho interdisciplinar, junto às famílias dos bebes/crianças atendidas. Desde 1993 o Serviço de Estimulação Essencial funciona na Escola Especial Ulisses Pernambucano com uma visão pedagógica, educativa, trabalhando pela inclusão efetiva e humanizada da criança com atraso do desenvolvimento nas escolas do ensino regular. Portanto, o objetivo do Serviço é avaliar e estimular bebês e crianças com atraso do desenvolvimento neuropsicomotor de forma a minimizar os déficits que porventura possam vir a surgir em seu processo de crescimento, viabilizando evolução significativa e melhores condições para inclusão no ensino regular. Sabese que a seqüência de aquisição de habilidades motoras é geralmente invariável na primeira infância, mas o ritmo difere de criança para criança. Portanto, o desenvolvimento motor depende de um conjunto de fatores que envolvem a tarefa, o ambiente e o organismo (fatores biológicos) 3,4. A importância da Estimulação Essencial no desenvolvimento cognitivo das crianças foi confirmada em diversos estudos. Situações associada a baixa renda familiar, baixo nível de escolaridade dos pais e de longo período de privações exerce efeito negativo sobre o desenvolvimento infantil 3. A ausência da Estimulação Essencial para bebes e crianças de risco, que apresentam atraso de desenvolvimento, pode acarretar diversos problemas e seqüelas, inclusive de adaptação escolar. REFERENCIAL TEÓRICO Apesar da maioria dos estudos sobre desenvolvimento serem realizados em populações selecionadas de países desenvolvidos, pesquisas realizadas em países em desenvolvimento tem mostrado importante associação entre o desenvolvimento neuropsicomotor da criança, seu estado nutricional e a situação socioeconômica da família 2. As crianças que vivem em países em desenvolvimento enfrentam um duplo desafio: estão mais sujeitas a nascerem com baixo peso, seja por parto pré-termo e/ou retardo de crescimento intra-uterino; e, freqüentemente, vivem em ambientes familiares desfavoráveis, onde a estimulação e o suporte social são inadequados. Esta seqüência de eventos aumenta o risco de atraso em seu desenvolvimento cognitivo, físico e social 2. O desenvolvimento infantil é um processo que se inicia desde a vida intra-uterina e envolve vários
2 aspectos, como a maturação neurológica, o crescimento físico e a construção de habilidades relacionadas ao comportamento e às esferas cognitiva, afetiva e social da criança 1. Os primeiros anos de vida do ser humano são marcados por importantes formações motoras, físicas, mentais e sociais, sendo o período em que a criança possui especial sensibilidade aos estímulos vindos do ambiente, que chegam a ela por meio de seus sentidos. Nesta fase, é de extrema importância oportunizar variadas formas de estimulação, garantindo o desenvolvimento e crescimento adequados, possibilitando que a criança torne-se competente para responder às suas necessidades e às do seu meio, considerando seu contexto de vida 1. A Estimulação sendo oportunizada o mais cedo possível trabalha-se o processo de ensino-aprendizagem, fazendo com que a criança com atraso do desenvolvimento neuropsicomotor se torne apta a responder às suas diversas necessidades. Em seus trabalhos, Meyerhof (1996); Calil & Saccuman (1996) apud Macedo (1998) afirmam que qualquer estimulação e intervenção que o bebê recebe, interfere diretamente em sua maturação neurológica e no sucesso do seu desenvolvimento global. Profissionais que atuem diretamente com este bebê devem ter consciência dos limites de sua atuação, para seu trabalho contribuir de forma mais positiva possível, daí a certeza de que a família/comunidade deve assumir efetivamente o papel de parceiros/estimuladores junto à equipe que realiza o acompanhamento. Meyerhof (1996) apud Macedo (1998) sugerem que os pais devam ser considerados membros da equipe, pois bebês com famílias sempre presentes apresentam maior disponibilidade para o contato social do que outros bebês que possuem famílias ausentes. Trabalhos atuais mostram nova tendência, onde o foco de assistência deixa de ser apenas o bebê, passa a ser a família, da qual ele faz parte. Visando proporcionar estímulos, facilitar aquisições de habilidades e enriquecer as vivências de bebes/crianças que apresentam alterações/disfunções, a Estimulação Essencial é uma ação efetiva que, aproveitando o grande potencial de maturidade neurológica devido à plasticidade neural, ocorridos desde as primeiras etapas do desenvolvimento, contribui para um trabalho comprometido com inclusão. Prepara-se ambiente adequado, equipe multiprofissional qualificada de forma a oferecer um trabalho técnico, viabilizando uma assistência humanizada, com recursos específicos para o acompanhamento de bebes/crianças de risco e suas famílias. São utilizados recursos na estimulação essencial que facilitam experiências e aprendizagens nos primeiros anos de vida, em quantidade e oportunidades
3 suficientes dentro de um contexto de situações de variadas complexidades que venham propiciar a necessária organização dos mecanismos psicomotores, quer no sentido preventivo e/ou terapêutico, possibilitando sua evolução. Dos Métodos e Técnicas utilizados destacam-se: METODOLOGIA Trata-se de um estudo observacional, analítico, transversal, 10 realizado na Escola Especial Ulisses Pernambucano, do sistema de educação pública, da Secretaria de Educação de Pernambuco, no município de Recife, entre fevereiro de 2004 e dezembro A Escola Especial Ulisses Pernambucano localiza-se no bairro de Santo Amaro. Todas as crianças com idade inferior a 6 anos e regulamente matriculadas, foram avaliadas quanto ao seu desenvolvimento, pela Equipe multidisciplinar, através de um instrumento padronizado pela mesma, onde foram analisados os domínios pessoal-social, as atividades da vida diária (AVD), a linguagem, a cognição, a área motora fino-adaptativa e área motora ampla. As avaliações foram realizadas pela equipe multidisciplinar, na escola e os dados coletados registrados em pastas individuais do Setor de Psicologia e de Pedagogia. RESULTADOS Do total de matriculados entre bebes e crianças com menos de 6 anos, avaliadas pela Equipe multidisciplinar e atendidas no Serviço de Estimulação Essencial entre os anos de 2004 a 2007, todas as crianças foram encaminhadas para o ensino regular e nenhuma permaneceu na escola. Quanto aos resultados obtidos, foi observado que a maioria dos bebês alcança um desenvolvimento neuropsicomotor satisfatório dentro dos objetivos esperados com relação a cada um. As crianças em acompanhamento obtiveram um melhor controle quanto ao sustento cefálico, à postura sentada, ao padrão de rolar e engatinhar e à aquisição da marcha; uma melhor eficácia nas transferências de peso e rotações de tronco para as mudanças de posturas; uma adequada organização corporal favorecendo alguns padrões funcionais; uma melhora nas habilidades da coordenação viso-manual, uma relação mais participativa com o outro, com o objeto, com os brinquedos, bem como uma maior e melhor atenção, percepção e interesse por determinados situações de aprendizagem. Além de uma melhor eficiência da capacidade respiratória, observada a partir da aquisição de um padrão respiratório mais satisfatório e uma expansão pulmonar que lhes garantiu uma melhora da capacidade vital. E, segundo o depoimento de algumas mães, seus filhos conseguiram também ter uma melhora na qualidade do sono e da alimentação, assim como na interação com a família e o grupo social em que esta inserida. Todos esses ganhos são registrados na pasta para acompanhamento de cada bebê, após as avaliações periódicas realizadas juntamente com a família. Além disso, foi constatado que os familiares dos bebês atendidos obtiveram uma melhor aceitação acerca da situação vivenciada, já que passaram a conhecer melhor o desenvolvimento do bebê a partir
4 do acompanhamento familiar, através de dinâmicas de grupo e palestras educativas realizadas. Os pais mostraram-se mais receptivos aos seus filhos, o que proporcionou uma melhor relação bebê-família, refletindo na evolução observada no processo. Nos programas de intervenção em estimulação de bebes e crianças de risco é imprescindível que a família seja acompanhada, orientada e motivada a colaborar, participando efetivamente de programas terapêuticos, promovendo, desta forma, uma interação maior entre criança, sociedade e família. Também é fundamental que a família seja orientada a observar e praticar tudo que a criança assimila, porque a qualidade da estimulação no lar e a interação dos pais com a criança se associam ao desenvolvimento e aprendizagem de crianças com algum atraso no desenvolvimento 17. A família influencia diretamente o desenvolvimento da criança, intervindo de forma a amenizar ou potencializar os efeitos das complicações orgânicas e/ou ambientais, quando existentes 18,19. A atuação familiar vai além dos pais, pode incluir outros parentes, cuidadores e até mesmo a comunidade, possibilitando o desenvolvimento de estratégias de estimulação a partir do espaço vivido pela criança. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através deste trabalho, procura-se conscientizar a população, médicos, educadores, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e interessadas no tema, do valor da intervenção interdisciplinar o mais cedo possível, em bebes/crianças consideradas de risco, com equipe multidisciplinar. Cada vez mais se considera o neonato como um ser biopsicossocial que interage com o ambiente de forma integral, e se considera fundamental trabalhar com a família, já que apresenta dificuldades em compreender, aceitar e saber lidar com o que está acontecendo. Explicar como se comporta e quais são as necessidades especiais do neonato, faz com que os pais/família possam lidar com a realidade de uma maneira melhor, minimizando sua angustia e seu sofrimento. Sua participação em sala, junto à equipe faz com que eles tenham interesse em compreender melhor o que se passa com a criança, colaborando cada vez mais com o seu processo de desenvolvimento. Noções sobre posicionamento, toque e carícias, permitem que a família estabeleça vínculo ao mesmo tempo em que estimulam o desenvolvimento de seu filho. O estabelecimento deste vínculo fica prejudicado quando a família assume a posição de espectadores colaboradores deixando de lado seu papel de responsável direto pelo processo evolutivo da criança. O desenvolvimento da criança não depende somente das técnicas de estimulação recebidas, mas de todo um conjunto de condições biopsicossociais e afetivas em que a criança está inserida. O bom relacionamento familiar, a aceitação e compreensão da realidade, ajudados por um trabalho em conjunto, com uma equipe multidisciplinar, determinam maneiras significativas de mudanças comportamentais da família e da criança. Os esforços minimizam o problema
5 apresentado e favorecem condições para o desenvolvimento de suas capacidades físicas, psicológicas, afetivas, sociais e individuais. Compreende-se a estimulação essencial humanizada classificada como valor ou como qualidade estrutural que agregue sentido e significado para tal intervenção terapêutica, se constituindo em uma condição moral necessária para os profissionais, tornando-os beneficiários da mesma, no momento em que ela vier a suprir positivamente determinada carência das crianças. Este trabalho torna-se eficiente na medida em que coloca a disposição de pais e profissionais de áreas afins uma valiosa contribuição, atuando de maneira interdisciplinar, com profissionais discutindo e elaborando juntas, metas e condutas para a estimulação realizada em bebês considerados de risco. A intenção é deixar o caminho aberto e instigar profissionais para que, cada vez mais, pesquisem a área de intervenção em bebês de risco e em suas famílias visando um melhor desenvolvimento destes. REFERÊNCIAS 1. MIRANDA L.P., RESEGUE R., FIGUEIRAS A.C.M. A criança e o adolescente com problemas do desenvolvimento no ambulatório de pediatria. J Pediatr, Rio de Janeiro, p.79: ZANINI P. Q., et al. Análise da aquisição do sentar, engatinhar e andar em um grupo de crianças pré-termo. In: Revista de Fisioterapia Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002 p. 9: HALPERN R, BARROS F.C., HORTA B.L.. Desenvolvimento neuropsicomotor aos 12 meses de idade em uma coorte de base populacional no sul do Brasil: diferenciais conforme peso ao nascer e renda familiar. In: Caderno de Saúde Pública. São Paulo, p.12: MANOEL E.J. Desenvolvimento motor: padrões de mudança, complexidade crescente. In: Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, p.71: MACEDO C.S., ANDREUCCI L.C., MONTELLI T.C.B. Alterações cognitivas em escolares de classe socioeconômica desfavorecida: resultados de intervenção psicopedagógica. In: Arquivo de Neuro-Psiquiatr. Rio de Janeiro, p.62:852-7.
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