TESTE DE PRÁTICA DE PROCESSO CIVIL I 13 de Setembro de 2006

Transcrição

1 TESTE DE PRÁTICA DE PROCESSO CIVIL I 13 de Setembro de 2006 Leia com atenção os textos que seguem e, de maneira simples e concisa, responda ao que vai perguntado, procurando fundamentar nos textos legais, que expressamente deverá citar, as suas respostas. Em Janeiro de 2006, ANTÓNIO, emigrado em França, adquiriu por via sucessória em virtude da morte de seus pais uma moradia sita na freguesia e concelho de Barcelos, a que foi atribuído o valor real de ,00. Esse prédio está registado na Conservatória do Registo Predial de Barcelos sob o nº e mostra-se inscrito na matriz respectiva no artigo 760, tendo ANTÓNIO procedido ao registo da transmissão da sua propriedade pela inscrição G-2. Essa moradia havia sido arrendada pelo seu agora falecido pai, em 1995, a BELARMINO SILVA, solteiro, para habitação, tudo mediante o pagamento da renda anual de 6.000,00, pagável em duodécimos de 500,00 que se venciam no primeiro dia útil do mês anterior àquele a que respeitassem, valores que nunca foram alterados, entretanto. A renda sempre foi paga no vencimento. Em Agosto de 2006, quando ANTÓNIO veio a Portugal gozar férias do verão, ocupando uma outra sua casa na Póvoa de Varzim, aproveitou para se ir apresentar ao seu inquilino. Chegado ao prédio, e após contactar com vizinhos da moradia, ANTÓNIO verificou que, afinal, BELARMINO SILVA já tinha falecido em Julho de Soube também, então, que, desde essa altura, a sua moradia vinha sendo habitada por outra pessoa, CARLOS, que a vizinhança até àquela época desconhecia, como também ignorava se existiria alguma relação de parentesco, ou outra, entre este CARLOS e o falecido. Aliás, o dito CARLOS até estava de férias e, na altura, não havia possibilidade de ser contactado. ANTÓNIO regressava a França em finais de Agosto de 2006, pelo que, antes de partir, foi consultar um Advogado a quem relatou quanto tinha conseguido saber. Levou ao Advogado uma certidão do assento do óbito do BELARMINO SILVA e referiu-lhe que não pretendia que alguém seu desconhecido habitasse a sua moradia, pelo que pretendeu que o Advogado agisse rapidamente. Disse-lhe também que, como apurara através de consulta a que procedeu no Banco onde eram depositados os duodécimos da renda, desde Agosto de 2005 esses depósitos vinham sendo efectuados em nome de CARLOS. O Advogado decidiu que iria logo demandar em juízo.

2 I a) - redija a peça processual necessária para reivindicar os direitos que assistam a ANTÓNIO, tendo em atenção o tribunal competente, a legitimidade processual, o processo a utilizar, a causa de pedir, o, ou os, pedidos, o valor da causa e os demais elementos essenciais. 4,5 v. O processo deu entrada na secretaria geral do tribunal competente no dia 1 de Setembro de 2006 e a carta para citação de CARLOS foi expedida pelo tribunal em 12 desse mesmo mês. Porém, a carta acabou por ser devolvida pelos CTT, por não reclamada. b) em que dia se procedeu à distribuição da petição? 0,5 v. c) notificado da frustração da diligência para citação, o que deveria ou poderia requerer? CARLOS veio a ser citado pessoalmente para os termos da acção em 2 de Janeiro de d) quando terminará o prazo para apresentação da sua contestação, sem multa? II Durante o decurso da causa, ANTÓNIO veio a saber que CARLOS estava a residir em Madrid (Espanha), e que estavam em curso, na sua moradia de Barcelos, obras a mando deste para lhe acrescentar mais um piso. e) como poderia e deveria reagir ANTÓNIO através do seu Advogado? (apenas identificar e justificar a forma e o meio de agir, sem redigir qualquer elemento processual) f) notificado CARLOS em Madrid, para os termos desta nova iniciativa processual de ANTÓNIO em 17 de Janeiro de 2007, qual seria o prazo para ele reagir? 1,5 v. III Findos os articulados do processo iniciado em 1 de Setembro de 2006, os mandatários foram notificados da organização do despacho saneador e para

3 os fins do art. 512º do Cód. Proc. Civil. Cumprindo quanto ao exigido por esta notificação, o mandatário de ANTÓNIO apresentou o requerimento de prova nomeadamente o rol de testemunhas, o que fez por correio electrónico com MDDE, guardando o comprovativo da respectiva notificação (do seu computador e o recibo expedido pelos CTT), tudo enviando simultaneamente para o mandatário da parte contrária. Não realizou qualquer outro acto processual para esse efeito. g) terá o mandatário de ANTÓNIO procedido por forma correcta? Justifique. Na sequência de incompatibilização de ANTÓNIO com uma das suas testemunhas, o seu mandatário requereu a substituição desta por outra, comprometendo-se a apresentar esta aquando da data marcada para inquirição. Tomou esta iniciativa quando ainda não havia data marcada para a realização da audiência de julgamento. Depois disso, veio a ser notificado de despacho do juiz no qual se referia que, como ANTÓNIO não tinha apresentado qualquer rol de testemunhas, não se verificando que ele existisse nos autos, não poderia agora requerer qualquer alteração ao mesmo. O juiz indeferiu, pois, o requerido. h) poderia o mandatário de ANTÓNIO requerer, como requereu, tal substituição de testemunha? Até quando? i) face ao despacho do juiz, como poderia, e deveria, reagir o mandatário de ANTÓNIO? 1,5 v. j) em que prazo? AVISO são precisos calendários de 2006 e de Grelha de correcção A) Exmo. Sr. Juiz de Direito do Tribunal Judicial da Comarca de Barcelos ANTÓNIO. domiciliado na Rua. na Póvoa do Varzim, propõe a Acção Declarativa de Condenação com processo comum ordinário contra:

4 CARLOS, residente na Rua em Barcelos, que fundamenta nos artigos seguintes: Os factos 1º O Autor é dono e proprietário do prédio urbano sito à Rua nesta cidade, inscrito na matriz predial urbana da freguesia de Barcelos deste Concelho sob o artº 760, e descrito na Conservatória de Registo Predial de Barcelos sob o nº 0678, estando a propriedade devidamente inscrita a seu favor pela inscrição G2 junta certidão da conservatória de registo predial doc.1. 2º Acontece que, em 1995, o falecido pai do Autor, anterior proprietário e possuidor da moradia identificada, cedeu mediante contrato de arrendamento escrito o uso do prédio identificado a Belarmino Silva para que este aí passasse a residir e nele instalasse o seu agregado familiar. 3º Tudo mediante os termos e condições do contrato de arrendamento que se junta e se dá por integralmente reproduzido doc.2 4º Essa cedência seria mediante contrapartida em dinheiro de 3.000,00 na forma de renda anual e a pagar em duodécimos de 500,00 no 1º dia útil do mês anterior àquele a que dissesse respeito, através de transferência bancária para conta do senhorio. 5º Essa renda manteve-se desde então inalterada. 6º O Autor teve conhecimento em Agosto de 2006 de que havia falecido o Belarmino Silva em Julho desse ano junta certidão de óbito doc.3 7º Isto, sem que nunca lhe tenha sido comunicada qualquer intenção de sucessão, possível ou não, desse arrendamento. 8º Conheceu na mesma altura que é o Réu quem, na moradia identificada, come, dorme, confecciona refeições e recebe amigos, isto desde a morte do Belarmino. 9º Pagando o valor da renda fixada para Belarmino e através do meio contratado 10º A moradia em causa é de excelente construção e está bem conservada.

5 11º Dispõe de 6 assoalhadas amplas e de dois quartos de banho 12º A sua localização é boa, próxima do centro da cidade 13º O rendimento possível da moradia em causa, colocada no mercado de arrendamento, é de pelo menos 500,00 mensais. 14º Acumulará assim o Autor esse prejuízo mensal desde este momento até que recupere a posse e uso da casa, beneficiando e enriquecendo o Réu nesse mesmo montante por mês. Do direito 15º O falecimento do inquilino implica a caducidade do arrendamento artº 1051º al. d) do CC 16º Nada foi comunicado ao Autor no sentido de impedir essa caducidade, nomeadamente eventual sucessão no arrendamento - artºs 1105º e 1106º do CC 17º Não existe, portanto, qualquer título válido que legitime a ocupação da casa pelo Réu que gratuitamente dela beneficia. 18º Não está o Autor disposto a suportar essa ocupação da forma como hoje se verifica, sendo que a transmissão de posição de locador para ele se transmitiu por via sucessória, sucedendo assim em direitos e obrigações ao primitivo locador artº1057º do CC 19º A ocupação abusiva da moradia confere ao Autor o direito a ser indemnizado pelo Réu quanto ao prejuízo que essa ocupação lhe causa, prejuízo, esse que é do mesmo montante daquele em que o Réu é beneficiado pela ocupação artºs 473º e seguintes do CC NESTES TERMOS DEVERÁ ESTA ACÇÃO SER JULGADA PROCEDENTE POR PROVADA E, EM CONSEQUÊNCIA: A) SER DECLARADA A CADUCIDADE DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO IDENTIFICADO À DATA DA MORTE DO BELARMINO SILVA;

6 B) SER O R. CONDENADO A RECONHCER O DIREITO DE PROPRIEDADE DO AUTOR SOBRE O PRÉDIO IDENTIFICADO NO ARTº 1º DESTA PETIÇÃO; C) - SER O RÉU CONDENADO A ENTREGAR IMEDIATAMENTE AO AUTOR ESSE PRÉDIO LIVRE DE PESSOAS E BENS; D) - SER O RÉU CONDENADO A PAGAR AO AUTOR A QUANTIA DE 500,00 POR MÊS DESDE A CITAÇÃO E ATÉ ENTREGA EFECTIVA, COMO INDEMNIZAÇÃO PELOS PREJUÍZOS QUE A SUA ILEGÍTIMA OCUPAÇÃO DO DITO PRÉDIO LHE VEM CAUSANDO; E) SER O RÉU CONDENADO NAS CUSTAS PROCESSUAIS. PARA TANTO, D. E A., DEVE O RÉU SER CITADO POR CARTA REGISTADA COM AVISO DE RECEPÇÃO PARA, QUERENDO, CONTESTAR ESTA ACÇÃO SOB LEGAL COMINAÇÃO, SEGUINDO- SE OS DEMAIS TERMOS DO PROCESSO ATÉ FINAL. VALOR: ,00 (CEM MIL EUROS) JUNTA: TRÊS DOCUMENTOS, PROCURAÇÃO, CÓPIAS E DUPLICADOS LEGAIS, BEM COMO COMPROVATIVO DE PAGAMENTO ANTECIPADO DA TAXA DE JUSTIÇA INICIAL. O Advogado 4,5 valores B) Distribuição às segunda e quinta feira. Entrega no dia 01 de Setembro, sexta feira, logo distribuição na segunda feira seguinte, dia 04 de Setembro artº 214º do CPC. 0,5 valores C) Requerer a citação pessoal através de solicitador de execução, indicando solicitador escolhido ou relegando essa nomeação da lista oficial existente no tribunal artº 239º, nº1 do CPC D) Citação a 02 de Janeiro de 2007 férias judiciais até 03 de Janeiro. Citação em férias possível suspensão de contagem de prazo em férias artº 144º nº1 do CPC início da contagem do prazo para contestar no dia 04 de Janeiro prazo de 30 dias acção ordinária (artº 486º, nº1 do CPC), logo último dia sem multa seria a 02 de Fevereiro de 2007.

7 E) Procedimento Cautelar de Embargo de Obra Nova artº 412º e seguintes do CPC, e por apenso à acção principal que corria termos no Tribunal de Barcelos artº 383º, nº 3 do CPC. Estava em causa a defesa do direito real do António sobre a sua moradia. F) 10 dias para apresentar oposição ao procedimento intentado artº 303º, nº2 e 384º, nº 3 do CPC dilação de 10 dias derivada da residência no estrangeiro artº 385º, nº 3 do CPC prazo dilatório seguido de prazo peremptório contam como um só artº 148º do CPC logo 20 dias para contestar cuja contagem do prazo se inicia no dia seguinte à notificação (18 de Janeiro de 2007) artº 279º al. b) do CC e que terminaria no dia 06 de Fevereiro de ,5 valores G) O rol de testemunhas não é um articulado, logo de acordo com o artº 150º e 152º do CPC não é obrigatória a entrega de cópia de segurança ou qualquer duplicado. Foi utilizado um dos meios permitidos para junção de elementos processuais aos autos, e foi notificado o mandatário da parte contrária em simultâneo, logo desobrigando o apresentante da junção desse comprovativo artºs 150º, nº2 al. c) do CPC H) Sim. Poderia alterar ou aditar o rol apresentado até 20 dias antes da data marcada para realização da audiência de julgamento artº 512º - A do CPC as testemunhas alteradas ou aditadas nunca seriam notificadas pelo Tribunal, incumbindo a sua apresentação a quem as indicou. Obrigatoriedade de notificação à parte contrária. I) O processo, pelo seu valor, admite recurso artº 678º do CPC. Não se trata de decisão sobre o mérito da causa, logo dever-se-ia recorrer da decisão do juiz, recurso esse que seria de Agravo artº 691º e 733º do CPC. 1,5 valores J) 10 dias contados a partir da notificação da decisão a recorrer artº 685º nº 1 do CPC.