Documentos e Declarações Document and Declarations Documentos y Declaraciones

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1 Documentos e Declarações Document and Declarations Documentos y Declaraciones

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3 Teologia Pública há 50 anos: A criação do Departamento da Ação Cívica pela Igreja Metodista do Brasil em Brasília Public Theology 50 years ago: The creation of the Department of Civic Action by the Methodist Church of Brazil in Brasilia Teología Pública hace 50 años: la creación de la Secretaría de Acción Ciudadana por la Iglesia Metodista de Brasil en Brasilia Helmut Renders Introdução Em 1962, a Igreja Metodista (que, entre 1930 e 1972, chamava-se Igreja Metodista do Brasil) tomou uma iniciativa pioneira em relação ao que se chama hoje teologia pública. Ela criou o Departamento da Ação Cívica e designou Almir dos Santos como seu primeiro secretário. Ele era então pastor metodista e professor da Faculdade de Teologia, na disciplina de Teologia Pastoral ou Prática e, posteriormente, foi eleito bispo. Entrevista com Almir dos Santos [esquerda]. Foto publicado no Expositor Cristão, 1º de julho 1962, p. 1 Revista Caminhando v. 17, n. 2, p , jul./dez

4 Abaixo, transcrevemos duas matérias jornalísticas sobre esse empreendimento, publicadas no órgão oficial da Igreja Metodista, o Expositor Cristão, na sua edição de 1º de julho de 1962, nas páginas 1, 5 e 7. A tarefa dessa breve introdução é a contextualização desse momento histórico e, além disso, pretendemos destacar alguns aspectos que nos parecem relevantes para os nossos dias. Primeiramente, a data chama a nossa atenção. A declaração favorável à criação de um Departamento da Ação Cívica antecipa a chamada Conferência do Nordeste, ocorrida entre os dias 22 e 29 de julho de Ela marcou o ápice da articulação cívica e cultural, socioeconômica e política das igrejas integrantes da antiga Confederação Evangélica do Brasil antes da ditadura; foi vista como a mais importante articulação panprotestante do século 20. Depois, veio a ditadura e, a partir de 1964, conferencistas, participantes e simpatizantes da Conferência do Nordeste, como acabou sendo lembrada, perderam cargos, o direito de falar em nome das igrejas, foram até perseguidos/as, exilado/as e mortos/as. Instalou-se um silêncio que somente neste ano é enfrentado por comissões de verdade da Federação e de alguns Estados brasileiros (CUNHA, RENDERS, SOUZA, 2012, p. 9). Mas, em julho de 1962, o pêndulo ainda não tinha ido para esse lado. Não é plenamente clara a razão pela qual a Igreja Metodista do Brasil se antecipou e não esperou os resultados da Conferência do Nordeste, para, eventualmente, abrir um escritório em conjunto. É relevante a afirmação, numa das matérias publicadas, de que o departamento trabalhará em entrosamento [...] com o Departamento de Ação Social da Confederação Evangélica do Brasil (S.N., 1962, p. 7). No mesmo documento, afirma-se também uma cooperação íntima com o Gabinete Geral, isto é, com o grupo interno de liderança da Igreja Metodista. Conferência e Departamento eram, por sua vez, expressões panprotestantes brasileiras, em diálogo com as Conferências Internacionais do Serviço Social, cujo 11º encontro ocorria nos dias 19 a 25 de agosto de 1962, em Petrópolis (S.N., 1962, p. 7), ou seja, um mês depois da Conferência do Nordeste. A particularidade da iniciativa metodista tem como seu mérito uma visão institucional com foco na práxis. Pela constituição de um escritório em Brasília de certo modo segundo o modelo católico esperava-se estar presente e visível nas discussões políticas no Senado e na Câmara dos Deputados. A ação cívica como braço direito da ação social, ou seja, a constituição de condições técnicas para o que chamamos hoje de presença pública, era um ato revolucionário, e isso não somente pela novidade do departamento em si. Esta representação eclesiástica também precisava ser bem articulada interna e externamente, por desafiar a com- 172 Helmut Renders:Teologia Pública há 50 anos

5 preensão da representação oficial da Igreja pelos seus bispos. Embora fosse um departamento da Igreja, com deveres e direitos definidos e uma vinculação esclarecida com as seus demais órgãos administrativos, esse departamento sinalizava uma visibilidade diferenciada do poder eclesiástico junto aos órgãos públicos. Se isso tinha sido refletido até a última consequência ou representava mais um momento carismático ou kairótico sob impressão da personalidade cativante e carismática de Almir do Santos, não podemos dizer aqui. Certo é que os departamentos ou as secretarias alcançaram seu poder máximo na Igreja Metodista na década de Desde já se observa, ao longo do tempo, uma reviravolta entre a ênfase no poder episcopal e o fortalecimento de secretarias. No atual ciclo que iniciou em 2001, as secretarias são praticamente desarticuladas, pela redução de quatro secretários a uma. Segundo este padrão, uma representação cívica seria somente imaginável por um bispo ou por uma bispa, provavelmente, porém, não no formato proposto na época por Almir dos Santos, que pretendia visitar sistematicamente senadores/as, deputados/as ouvidorias oficiais etc. Um último comentário: a linguagem desses textos é, em parte, bastante afirmativa. Transparecem fortes convicções e defende-se a urgência do assunto apresentado. Embora se admita que assuntos fossem difíceis, não se foge do tema, não se omite. O estilo de comunicação acompanha o seu objetivo: promover uma cultura cívica. Referências bibliográficas CUNHA, Magali do Nascimento; RENDERS, Helmut; SOUZA, José Carlos. Apresentação do livro. In: As igrejas e as mudanças sociais: 50 anos da Conferência do Nordeste. São Bernardo do Campo: Editeo/ São Paulo: Aste, 2012, p (orgs.). Apresentação do livro. In: As igrejas e as mudanças sociais: 50 anos da Conferência do Nordeste. São Bernardo do Campo: Editeo/ São Paulo: Aste, 2012, 168p. Documentos As seguintes entrevistas foram publicadas no jornal da Igreja Metodista, o Expositor Cristão, dia 1 de julho de 1962, nas páginas 1, 5 e 7. Almir dos Santos eleito para departamento pioneiro Recebemos, com muita satisfação, aqui na redação do Expositor, a vista dos ilustres irmãos, Dr. Roberto Davis e Rev. Almir Santos. Coube ao Secretário Geral de Ação Social informar-nos a razão de sermos assim distinguidos: Queremos apresentar ao órgão oficial, e por seu intermédio, à Revista Caminhando v. 17, n. 2, p , jul./dez

6 Igreja, o novo secretário executivo do Departamento de Ação Cívica da Junta Geral de Ação Social da Igreja Metodista do Brasil, Rev. Almir dos Santos. Perguntamos ao Dr. Davis como havia surgido a ideia para a criação de tal Departamento. Ele responde-nos: Da necessidade que, de certo tempo pra cá, temos sentido de a Igreja entrar mais profundamente na realidade brasileira. Isto tornou-se patente nos últimos Concílios Regionais e ainda mais visível na Consulta Latino-Americana da Igreja Metodista, em Buenos Aires. O Gabinete Geral estudou o plano que lhe apresentamos sobre a criação do Departamento e aprovou. E na sua última reunião, em maio, a Junta Geral criou o Departamento e escolheu o seu primeiro secretário executivo. (Ver argumentação apresentada pelo Secretário Executivo à sua Junta nas colunas ao lado). Quais critérios foram levados em conta para a escolha do secretário executivo do novo departamento?, perguntamos ainda ao Dr. Davis. Ele mostrou-nos uma relação de requisitos formulados pela Junta Geral de Ação Social, que encontrou sua melhor resposta na pessoa do Rev. Almir dos Santos. São elas: Ser brasileiro; ter vivo interesse pela política; não ter posição ideológica extremada, nem política partidária cega; ter qualidade para analisar os problemas econômicos, sociais e políticos, através das melhores técnicas científicas existentes; possuir uma sólida base de teologia e ética cristã; ser otimista e realista; conhecer a técnica de relações humanas; apoiar e ser apoiado pela Igreja e suas autoridades; não ser demasiadamente jovem, nem demasiadamente velho; poder trabalhar em equipe. Perguntamos ao Rev. Almir como é que recebeu a solicitação da Junta Geral para vir ocupar este cargo. Ele nos respondeu: Senti, naturalmente, que a escolha poderia ter recaído sobre outrem. Mas, diante da insistência da Junta e do apoio do meu bispo, resolvi assumir o cargo. E o fiz com desafio para exercer o meu ministério em outro campo de atividade, ma um ministério não estranho a minhas preocupações ministeriais. Fui eleito no dia 17 de maio para a JGAS, mas oficialmente, só tomarei posse do meu cargo, passando a dar-lhe tempo integral, terminada a minha nomeação para a Faculdade de Teologia. Perguntamos ao Rev. Almir como se sentia deixando a sua cadeira de Teologia Pastoral na Faculdade de Teologia para assumir este novo cargo. Ele nos respondeu: Sabendo que estava realizando um trabalho importante em nosso seminário, o fato de deixar a cátedra de professor, depois de 17 anos, significa realmente a importância que estou dando a este novo trabalho. Especialmente em face da conjuntura político-social que o país está vivendo e a possibilidade que vejo da Igreja, através desse Departamento, de fazer uma contribuição positiva e eficiente para uma solução cristã dos problemas que nos afligem. 174 Helmut Renders:Teologia Pública há 50 anos

7 Como vai expressar-se a ação deste Departamento?, inquirimos ao Dr. Davis. Visa o Departamento a estabelecer contato entre a Igreja Metodista do Brasil e a liderança da nação brasileira, para fazer-lhe sentir o nosso pensamento social-cristão. Ao mesmo tempo, este Departamento irá às igrejas com suas preocupações sociais, para despertar o metodismo brasileiro à sua missão em relação à Pátria. Isto se fará por intermédio de contatos diretos, por meio de institutos, para pastores, seminaristas e leigos, bem como nos congressos especializados para operários, estudantes, etc. O Departamento trabalhará em entrosamento, como qualquer outro órgão similar das igrejas irmãs e com o Setor de Responsabilidade Social e com o Departamento de Ação Social da Confederação Evangélica do Brasil. E a ação imediata? Imediatamente o Rev. Almir começará a fazer contatos com deputados e senadores federais e outros líderes públicos através de cartas e visitas pessoais. Também iniciará um entrosamento do novo Departamento com as Juntas Regionais de Ação Social. Participará também dos seguintes Institutos Ministeriais: de 3 a 8 de julho em Itapina, ES (IV Região), de 2 a 8 de agosto em Santa Maria, RS (II Região). Começará também a coordenação do programa do novo Departamento com o programa geral da Igreja, em cooperação íntima com o Gabinete Geral. Fará o planejamento para a visita ao Brasil do Rev. Manoel Vieira Bernal, ex-secretário de Ação Social da Igreja Metodista em Cuba, durante o mês de agosto e, nesse mesmo mês, participará da 11ª Conferência Internacional de Serviço Social, em Petrópolis de 19 a 25 de agosto, como delegado oficial da Igreja. Agradecemos a visita dos dois irmãos, não sem antes documentar este encontro feliz com uma foto para nossa reportagem. Temos certeza de que Deus usará eficientemente o Rev. Almir dos Santos neste trabalho. Mesmo antes de a Igreja selecioná-lo para esta obra, a Confederação Evangélica do Brasil havia reconhecido sua habilidade e talento, escolhendo-o como Presidente do Setor de Responsabilidade Social da Igreja, Presidente da Junta Latino-Americana de Igreja e Sociedade. Agora, como novo Secretário-executivo deste novo Departamento da Junta Geral de Ação Social, a Igreja Metodista do Brasil dá mais um passo pioneiro em sua atuação evangélica para redenção da Pátria Brasileira. Pra que a igreja de amanhã não seja formada de velhos e gente ] medíocre, à margem do mundo em que vivemos DEVE SER MOTIVO DE ORGULHO para o metodismo brasileiro a sua Junta de Ação Social. Presente na vida da Igreja numa hora em que os problemas sociais tornam-se cada vez mais agudos, tem ela procurado interpretar com fidelidade bíblica os sinais dos tempos. Prova disso está nessas palavras do Secretário Geral, Dr. Roberto Davis, apresentadas na Revista Caminhando v. 17, n. 2, p , jul./dez

8 última reunião de sua Junta, nos dias 16 e 17 de maio. Da ação sugerida por estas palavras surgiu o Departamento de Ação Cívica da Junta Geral de Ação Social, com o seu primeiro secretário executivo, Rev. Almir dos Santos. Todas as épocas da vida das organizações humanas têm suas vitórias, derrotas e seus momentos de decisão, disse o Dr. Davis. Tenho pra mim que o Brasil está numa encruzilhada como nação. Sei que esta observação nada possui de novidade, pois os acontecimentos na casa nacional e internacional nos chamam atenção a isto diariamente. Grupos poderosos de várias posições ideológicas estão traçando os seus planos e programas a fim de melhor defender os seus interesses na situação fluida e indefinida pela qual o Brasil passa. A Consulta Latino-Americana sobre A Vida e Missão da Igreja Metodista caracteriza a situação brasileira contemporânea como Revolução em fase de gestação. É justamente nessa fase que tem mais ambiguidade: todos estão lutando contra alguma coisa, mas não têm consciência exata do que é aquilo contra o que lutam. Todas as posições desde os da extrema direita até os da extrema esquerda apresentam elementos verdadeiros e falsos. E, de vez em quando, estas posições convergem em torno de outra questão isolada. Em tudo isso, os cristãos confirmam que a mão de Deus está trabalhando, seguindo o ditado brasileiro Deus escreve direito por linhas tortas. Tenho comigo que as igrejas, tanto evangélicas como católico- -romana, também, estão diante de uma encruzilhada. Em grande parte, devido aos reflexos da situação brasileira. Mas é uma encruzilhada oculta ainda para muitos. Uma encruzilhada que passa desapercebida pela maioria dos pastores e dos membros das igrejas. A igreja com sua preocupação por assuntos espirituais, acha muito mais cômodo agir neste mundo com os olhos fixos no além do que com o olhar fixo sobre este mundo que foi o olhar de Jesus quando veio com sua compaixão e angústia até nós, para nos salvar. Por outro lado, a minoria que vive despertada e sente a necessidade de fazer algo, está recebendo a sua orientação mais de fora do que dentro da Igreja. É trágico que a Igreja que teve na história universal um papel de relevância no sensibilizar da consciência humana e no despertar das massas injustiçadas, está hoje confusa e até recuada perante a situação que ela mesma ajudou a criar, pregando seus princípios de amor. Deixemo-nos de nos referir às igrejas em geral e concentremo-nos sobre as igrejas evangélicas, especificando a Igreja Metodista, pois parece-nos que a Igreja Romana está atualmente se despertando, partindo do seu ponto de vista teológico e doutrinário. As igrejas evangélicas radicadas no Brasil nunca encararam como tarefa primordial de sua obra a ação social. É compreensível que, sendo uma minoria, elas procurassem conseguir adeptos através da evangelização, instruindo-os doutrinariamente 176 Helmut Renders:Teologia Pública há 50 anos

9 para que houvesse o fortalecimento de sua união com Cristo. Mas isto tem trazido, concomitantemente, uma tendência dos crentes isolarem-se da sociedade que, muita vez, lhe é hostil, como mecanismo de autodefesa. Dado em grande parte à sua herança histórica, a Igreja Metodista do Brasil tem mantido uma posição de destaque no campo de ação social do Brasil. Partindo de inúmeras escolas e instituições sociais fundadas pelos metodistas, até a sua estrutura eclesiástica que separa homens para este fim, ela tem, em muitos sentidos, liberado o evangelismo brasileiro neste campo. Nem por isso, porém, podemos dizer que a nossa Igreja acompanhou as mudanças sociais de nosso tempo, cada vez mais rápidas. Em parte, porque a fórmula institucional que caracteriza o seu trabalho não permitiu a flexibilidade de programa que as mudanças mais rápidas exigem. Principalmente nos últimos 15 e 20 anos, a Igreja tem expedido muita energia em homens e dinheiro mantendo vivas instituições que em geral não estão servindo mais na vanguarda do ensino e da assistência social brasileira, como o foram há meio século. Em parte, também, o nosso atraso se explica pelo fato de que adotamos uma posição essencialmente negativa em relação a certas práticas da vida social do crente, sem oferecermos em substituição atividades positivas e criativas. O resultado disso se evidencia principalmente entre os intelectuais e a mocidade. Ao invés de apresentar a fé cristã como algo tão vivo que nos empolgue e desafie de forma que as práticas da vida mundana percam sua atuação, nós nos distinguimos por nossas proibições. Isto impressiona mal aos mais sensíveis que, com razão, veem o contraste entre a nossa relativa indiferença perante as grandes injustiças sociais e a importância proporcional que damos ao combate ao fumo, bebida, baile, etc. Em último lugar nós, os metodistas, não temos acompanhado as mudanças sociais em nosso programa de ação social porque um razoável número de membros pastores acha que qualquer participação mais discreta da igreja na vida do país foge à missão da Igreja. Fica comprovado o erro básico desta posição quando reconhecemos a inter-relação entre a forma de sociedade e a justiça social que ela proporciona. E não podemos subestimar ainda o grupo de membros de nossas igrejas que, em última análise, toma uma posição conservadora e até reacionária. Nas duas encruzilhadas, a nação só progredirá se ela tomar rumos que venham solucionar seus problemas sociais e econômicos, e a Igreja Metodista do Brasil só será fiel ao Mestre se ela se tornar relevante com relação ao Brasil, com suas aspirações, suas angústias, seu sofrimento. A mensagem da igreja em jogo A encruzilhada específica pela qual a Igreja Metodista do Brasil está passando pode, ao meu ver, ser caracterizada em três itens: Revista Caminhando v. 17, n. 2, p , jul./dez

10 A falta de uma mensagem que estabeleça relação nítida entre a fé e a vida presente. Nesta época em que a solução para os problemas da vida brasileira está sendo exigida pelo grito do povo, as omissões das mensagens que apresentamos seu alheamento à vida diária, sua ingenuidade frente à complexidade do momento, tudo isso unido ainda à falta de habilidade e dinamismo na sua apresentação e à ausência de um ambiente convidativo em nossos templos, tem contribuído a uma identificação da igreja mais com a geração passada do que com a geração presente. Esta falta anterior contribuiu para um resultante desinteresse da mocidade e dos leigos mais esclarecidos para com a Igreja. Quando consideramos que 42% da população brasileira tem menos de 15 anos de idade, percebemos como é grave para a vida futura da Igreja esta sua falha. A principal razão da distância entre a Igreja e a mocidade reside no fato de que a parte mais avançada da presente relação vive revoltada contra as formas antigas. As estruturas da sociedade, as injustiças sociais resultantes, as incertezas que caracterizam uma era atômica tudo contribui para uma condenação geral do passado. Perante esta mentalidade jovem, a Igreja tem faltado com a devida compreensão. Ao contrário, as suas posições tradicionais e negativas, sua falta de profundidade na apresentação da mensagem e sua impaciência em ouvir da mocidade as suas aspirações, frustrações e ideias estão distanciando mais e mais o jovem da Igreja. Se não enfrentarmos com realismo este problema, estaremos amanhã numa Igreja de velhos e de gente medíocre, à margem do mundo em que vivemos. No que tange aos leigos, têm faltado a eles um desafio e preparo para uma obra mais relevante que lhes seja própria. A Igreja tem envolvido demais o leigo em atividades internas da Igreja, e tem tido dificuldade em fortalecer no leigo o seu testemunho como cristão na vida diária. Há um campo aberto para a regimentação da Igreja em torno de um programa leigo que o prepare para ser fermento e sal na sociedade brasileira. Nacionalismo x Igreja Uma das características principais do presente ambiente em que vivemos no Brasil é a crescente consciência de que o Brasil tem do encontro com o seu próprio destino, independente de influências alienígenas. É a angústia de um país que deseja apressar o seu desenvolvimento a fim de tomar o seu devido lugar entre os países líderes do mundo. Um dos resultantes deste fenômeno é o nacionalismo cada vez mais acentuado de nossos dias. 178 Helmut Renders:Teologia Pública há 50 anos

11 A Igreja Metodista do Brasil, com sua ordem estrangeira e ligações com a Junta de Missões da Igreja Mãe, na forma de recursos e missionários, está francamente envolvida nestes sentimentos nacionalistas, quer queira ou não. Há receio em tocar no assunto. Temos nos convencido de que o problema não existe, que foi resolvido quando a Igreja Metodista do Brasil passou a ter vida autônoma. Fazer de conta que o problema não existe é uma fuga da realidade. Ele é muito real e precisa ser enfrentado. Tenho notado entre os meus colegas missionários uma perturbação geral e sentimento de mal-estar em relação ao problema. Não satisfazem mais os elogios feitos a eles e as defesas que frequentemente recebem ao ser levantado o assunto. Para o bem de todos, a Igreja Metodista tem urgência em definir nitidamente todas as relações que devem existir entre a Junta Brasileira de Missões e a Igreja Mãe e entre obreiros nacionais e missionários estrangeiros. Conclusões Após todas essas considerações chego às seguintes conclusões: Que a Igreja Metodista do Brasil está precisando de ser sacudida por um exame mais profundo de sua vida e missão. Que, na presente conjuntura, a Junta Geral de Ação Social está numa posição estratégica para servir de cabeça de ponte para tal trabalho. Que tal exame, para ter valor, precisa levar a Igreja a uma descoberta de sua responsabilidade em relação ao Brasil e aos brasileiros. O primeiro passo para que isso se concretize está na criação de um Departamento de Ação Cívica, com um secretário executivo de tempo integral, para estabelecer contato entre a Igreja e a liderança da nação brasileira; visitar sistematicamente as reuniões da Igreja a fim de fazer chegar essas preocupações a seus menores núcleos, promover institutos para pastores e leigos a fim de prepará-los melhor para sua atuação cristã no Brasil contemporâneo. Graças a Deus, o Gabinete Geral aprovou o plano do Departamento de Ação Cívica e o Rev. Almir dos Santos foi eleito na reunião da Junta, em que foi lido o relatório acima, como o seu primeiro secretário executivo. Revista Caminhando v. 17, n. 2, p , jul./dez