'defeito ' não seja do 'emissor' mas do 'receptor'".
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- Gabriel Aleixo Laranjeira
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1 PN: Acordam no Tribunal da Relação de Évora 1. e mulher, residentes em Inglaterra, no Tribunal Judicial da Comarca de Lagos, deduziram embargos a arresto concedido em favor de residente na 2. A decisão final do pleito foi notificada aos embargantes mediante envio de fotocópia do manuscrito lavrado nos autos. 3. Pediram a suspensão da notificação para lhes ser remetida cópia dactilografada da decisão. 4. Sem que a parte contrária se tivesse pronunciado, o requerimento foi indeferido dado que a letra do despacho não se afigurava ao Juiz de todo ilegível: "até ao presente poucos ou nenhuns têm levantado o problema da ilegibilidade da letra, o que faz supor que o 'defeito ' não seja do 'emissor' mas do 'receptor'". 5. É desta decisão que vem interposto o presente agravo, recurso recebido na espécie, com efeito da lei, nada obstando ao conhecimento do objecto do mesmo, corridos que são os vistos. 1
2 6. Concluiu: a) o direito de acesso à justiça e aos tribunais, consagrado no artº 20/1 CRP, implica, além do mais, o direito ao conhecimento efectivo das decisões judiciais e dos respectivos fundamentos; b) o artº 259 CPC constitui uma concretização dessa direito e garantia constitucional, ao estatuir que ao notificando deve ser enviada ou entregue cópia ou fotocópia legível das decisões judiciais; c) tal legibilidade d everá ser av aliada tendo em conta o sentido teleológico dessa norma processual, que é o de garantir que as decisões judiciais sejam efectivamente conhecidas pelas pessoas dos seus destinatários; d) por isso, a referida norma, interpretada à luz do artº 20/1 CRP, deve ser entendida como conferindo aos notificandos o direito de exigir o envio de cópias dactilografadas, quando justificadamente entenderem que as decisões são ilegíveis ou de difícil leitura; e) para esse efeito, bastará que a letra do A. da decisão ofereça sérias dificuldades de leitura a um destinatário normal, em termos de a interpretação do manuscrito lhe exigir um esforço desproporcionado ou um dispêndio de tempo significativo; f) assim, é inconstitucional a interpretação do artº 259 CPC segundo a qual compete ao próprio Juiz avaliar e decidir sobre a ilegibilidade dos seus manuscritos; g) d ecidindo em contrário, o despacho recorrido violou, por erro d e interpretação e de aplicação, os artºs. 259 e 541 CPC e o artº 20/1 CRP; h) ilegal é ainda a condenação e custas do incidente, por infringir a alínea g) do nº 2 do artº 43 CCJ; i) deve ser revogado o despacho recorrido e substituído por outro que mande passar cópia dactilografada do saneador-sentença, como fora r equerido. 2
3 7. Não houve contra-alegações e na sustentação nada foi acrescentado Consta das peças instrutórias que o recorrente interpôs também recurso, que foi admitido, da decisão de que pediu cópia dactilografad a: "... por mera cau tela, em nada prejudicando o pedido, oportunamente formulado, de uma cópia dactilografada da sentença ora impugnada". Tal recurso está pendente Com as alegações, o recorrente juntou certidão de um requerimento de outro advogado, aliás também indeferido, em que a parte alega ilegibilidade de despacho manuscrito, e também de uma decisão do magistrado em causa, em sentido contrário do do indeferimento da cópia, louvando-se, então, no Ac. TC 441/91 de que julgou inconstitucional a norma do artº 259 CPC na interpretação segundo a qual cabe ao juiz avaliar e decidir sobre a legibilidade ou ilegibilidade das fotocópias dos textos de decisões por si manuscritos, enviados ou entregues às partes juntamente com as notificações, por violação do artº 20/1 CRP. Cumpre apreciar e decidir: 9. Os problemas postos à consideração deste Tribunal da Relação têm a natureza de simples divergência quanto ao entendimento a dar às regras jurídicas que incidem sobre uma determinada situação processual, não necessitando de mais informação que a transcrita. 10. O requerimento indeferido incorpora, implicitamente, um pedido de declaração da nulidade da notificação por ter sido cumprida sem o formalismo legal suficiente. Na 3
4 verdade as notificações do despacho judiciais devem ser feitas com cópia dactilografada se a fotocópia não for legível. É o que inequivocamente dispõe o artº 259/1 CPC. Não é necessário ir buscar fundamento constitucional para esta disposição que apenas inovou na parte da fotocópia, sendo tradicionalmente as notificações das decisões judiciais transmitidas através de cópia destas e dos fundamentos (dactilografada ou, no tempo dos copistas, escrita num padrão de letra standard). E diz o artº 201/1 CPC que a omissão de um acto prescrito por lei constitui nulidade sempre que a lei assim o declar e ou quando a irregularidade cometida p ossa influir no exame e decisão da causa.entretanto, as nulidades logo que declarad as dão lugar à repetição do acto ou cometimento do omitido. Estaremos assim no campo da 2ª hipótese do artº 201/1 CPC, na ausência de preceito legal que autonomamente imponha a nulidade. Se houver de decidir-se que a letra do despacho não é legível, e legível não quer dizer mais ou menos difícil de ler, houve então irregularidade da notificação por não ter sido fornecida ao interessado a cópia dactilografada, mas ainda não estará resolvido o problema, logo se colocando a questão da influência que essa possa ter, ou ter tido, na justa composição do litígio. Como aviso, teremos de ter em consideração no entanto que "... quando um acto tenha de ser anulado, anular-se-ão também os termos subsequentes que dele dependam absolutamente". É certo que o recorrente interpôs recurso da d ecisão notificanda: será suficiente para se dizer que não influiu a irregularidade na justa composição, ou antes, já que interpôs 4
5 recurso, há-de este passo do p rocesso ser an ulado por depender absolutamente da notificação nula? 11. O Direito naquilo que representa de esforço racional visando a paz cívica, não se compadece com qualquer ruído de comunicação, daí, por exemplo, a essencialidade do contraditório, do debate. Ora, segundo este programa, o conhecimento exacto da argumentação e contra-argumentação é um dado adquirido de uma ordem jurídica racional. E não será despiciendo que o problema posto neste recurso possa e deva ser iluminado a partir das soluções provindas do sistema jurídico na área do processo penal, onde as directivas do debate cruzado se impõem por força constitucional (artº 32/ CRP). A jurisprudência penal tem afirmado frente à norma do artº 94/1.4. C PP, visto impor terem de ser redigidos de modo perfeitamente legível os actos processuais que houverem de ser praticados sob a forma escrita (podendo ser pedida a transcrição dactilografada, em caso de manif esta ilegibilidade), dever concluir-se pela irregularidade "[d]o escrito que não puder ser lido na perfeição por um 'bonnus pater familias'" (Ac. RL, , inédito - rec. 580/3/95, 3ª sec.), apenas suprível pelo dactilogr afado. Noutra formulação "a 'manifeste ilegibilidade'... a que se refere o artº 94/4 CPP há-de ser olhada em termos 'objectivos' conjugadamente com o disposto no artº 94/1... (perfeitamente legível): não basta pois qu e [o acto processual] seja legível para quem o escreveu, ou mesmo para 'algum' participante processual; terá de ser legível para 'qualquer' participante processual interessado; p elo que basta que um desses últimos alege, fundadamente, a sua 'ilegibilidade' e solicite a sua transcrição dactilográfica, para que se tenha de v erificar tal vício e determinar a sua 'sanação'" (Ac. RL , CJ 1995, II, 155). 5
6 12. Por legível, adaptado o consenso da jurisprudência penal, deve ter-se aquela letra, nas condições gerais de alfabetização do país, que não deixa dúvidas quanto às palavras e às ideias expressas. Na verdade, o conhecimento das decisões judiciais cíveis não é só para os mandatários mas para as partes elas mesmas, donde o apelo a este critério objectivante que leve em conta o nível cultural do povo em nome do qual os tribunais compõem os conflitos e dizem o direito. Já de si o discurso jurídico, infelizmente, traz comuns e gerais dificuldades de apercepção, quanto mais se vertido em caligrafia pessoalíssima que só não será de difícil leitura relativa para iniciados ou gente de grande domínio linguístico. Mas se tivermos por bom aquele critério que enunciarmos ao arrancar, então só justamente uma caligrafia desenhada, standardizada, pode convencer que é legível. E não se está perante uma circunstância destas no caso sub judice onde a caligrafia segue regular traçado, embora longe da vulgaridad e e portanto da divulgação mais universal. Quem apenas dispuser, por exemplo, da escolaridade obrigatória não conseguiria decifrar o tex to de modo a entendêlo e dominá-lo. 13. Uma coisa porém é a necessária compreensão das decisões judiciais pelas partes, que não obstante inevitavelmente impõe a transcrição dactilografada por motivos de interesse e ordem pública, outra é o prejuízo que o manuscrito traz ao mandatário forense que interpõe recurso. Aqui, a diferen ça em relação ao Processo Penal é relevante: no processo cível há as partes e os seus representantes, naquele vários sujeitos processuais, todos distintos. Ora, o advogado pode bastar-se, na verdade, com uma escrita mais difícil e se interpôs recurso, e alegou, é porque isso mesmo veio a acontecer. Haveremos portanto de reconhecer que a interposição do recurso de apelação se constituiu numa verdadeira 6
7 revogação (ou quando menos numa renúncia) da (ou à) arguição duma nulidade de que dependessem absolutamente os trâmites de processo subsequentes, não impressionando a formulação linguística do requerimento de interposição, já que não houve deserção ou manifesta impossibilidade de redigir a peça de crítica à decisão recorrida. 14. Não se segue no entanto que o recorrente não tenha razão ou que o recurso tenh a perdido o efeito útil. É que o recor rente, por um lado, ataca a condenação em custas e, por outro, já concluímos que a cópia era devida quanto mais não fosse para satisfazer o direito autónomo de ser lida pela parte representada. 15. Admitindo-se portanto valimento ao pedido de cópia dactilografada há que revogar o despacho recorrido e consequentemente abandonar a condenação do embargante nas custas do incidente naquela incorporada, por nenhumas serem devidas, já que o vencimento da parte é também de ter em conta nos casos de arguição de nulidade não viciante (do processado posterior), aplicando-se directamente o disposto no artº 7/1 CCJ. 16. Pelo exposto, decidem substituir a decisão recorrida pelo presente acórdão, aqui se ordenando (apenas) a passagem de cópia dactilografada da decisão d e 1ª instância proferida nos embargos. Sem custas, por não ter havido oposição. 7
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