PN ; AG.: TC. Lagos; Ag.e: SGALCO Soc. Construções, Lda.,R. Lima Leitão, 12, 1º Esq., Lagos; Ag.o: M.P.

Transcrição

1 PN ; AG.: TC. Lagos; Ag.e: SGALCO Soc. Construções, Lda.,R. Lima Leitão, 12, 1º Esq., Lagos; Ag.o: M.P. Acordam no Tribunal da Relação de Évora 1. A Ag.e (falida) pediu a declaração de nulidade da venda extra-judicial de um lote de terreno (e respectiva construção), na Ameijeira, e de dois prédios rústicos da massa, argumentando que, tendo aplicação as normas falimentares do CPC, dispõem os arts. 1247º/1 e 888º/1 daquele diploma legal apenas poderem ser vendidos em estabelecimento de leilão os bens móveis; ora, os referidos imóveis foram leiloados, e ainda que se entenda ter-se tratado de venda por negociação particular, não foi esta autorizada por despacho do Juiz, necessário segundo o art. 887º CPC. 2. O despacho recorrido indeferiu: não tem qualquer base legal; basta atentar no art. 1247º/2 CPC, na redacção aplicável à presente falência, e à sua inserção sistemática, para se concluir que a decisão sobre a modalidade de venda dos bens da falida compete ao Síndico, não dependendo de qualquer despacho do juiz (Ac. STJ, , BMJ 228/169 2 ). 3. Concluiu o recorrente: (a) Aos presentes autos aplicam-se as antigas disposições do CPC, revogadas pelo CPEREF; 1 ML (517.99) MM (3.2000) 2 Nos termos do art. 1247º CPC, a venda dos bens da massa falida é feita pelas formas estabelecidas para o processo de execução, e a opção pela modalidade compete ao Síndico; Vd. tb. Ac. RL, , BMJ 224/223. 1

2 (b) Por virtude de tais disposições, a venda dos bens em processo de falência deve ser feita pelas formas estabelecidas no processo de execução; (c) A venda foi publicitada com um anúncio encabeçado pela palavra LEILÃO; (d) Apenas são vendidos em estabelecimento de leilão os bens móveis; (e) Assim sendo, tal venda é nula; (f) Se a empresa de leilões porém foi encarregada de tratar da venda por negociação particular, também será nula, atendendo a que a venda por negociação particular carece de despacho prévio do juiz; (g) Despacho esse que não foi proferido; (h) A decisão recorrida violou os arts. 1247º/1 (antiga redacção), 888º/1 e 887º (redacção anterior aos DL 329A/95, 12.12, e 180/96, 25.09) do CPC. 4. Nas contra-alegações disse o MP: (a) Nos processos de falência que se regem pelas normas do CPC, a venda dos bens da massa é feita pelas formas estabelecidas para o processo de execução, mas é ao Síndico que compete a opção pela modalidade de venda a adoptar (art. 1247º/1.2 CPC); (b) Ora, tendo no presente caso o Síndico optado pela venda dos bens da massa por negociação particular, e sendo tal modalidade de venda da responsabilidade do Administrador (art. 1248º CPC), nada obsta a que ele recorresse, como recorreu, aos serviços de um estabelecimento de leilões da sua confiança para vender os bens imóveis da massa falida pelo melhor preço; (c) Não se verifica portanto qualquer nulidade, nem foram violadas quaisquer disposições legais, mormente os arts. 887º, 888º/1 e 1247º CPC (red. então vigente); (d) Deve ser negado provimento total ao recurso, confirmando-se na íntegra a decisão recorrida. 5. Consta certidão de despacho do Síndico da falência do seguinte teor: 2

3 Em face das razões aduzidas pelo Sr. Administrador determina-se se proceda à venda dos bens imóveis descritos sob as verbas nºs 2, 3 e 4 por negociação particular e pelo preço mínimo da avaliação no prazo de 10 dias. 6. O recurso está pronto para julgamento. 7. Tem-se por assente, face aos elementos constantes dos autos: (a) Com data de , foi proferido o despacho transcrito em 5.; (b) No jornal Correio da Manhã, foi publicado, por Vendasta Soc. de Leilões Lda., Rua Reinaldo Ferreira 34A Lisboa, um anúncio de LEILÃO, a ter lugar no local dos prédios, , referido à falência de SGALCO, Soc. Construções do Algarve, Lda., e apelando ao interesse dos industriais da construção civil, agricultores, ou simples industriais, de (1) lote de terreno para construção, sito na Ameijeira, com um prédio inacabado, composto de cv., r/c, 1º, 2º e 3º andares, elevado até à cobertura, descrito na C. Reg. P. Lagos, nº 815 (Santa Maria); (2) prédio rústico, c/ 4400 m2, situado destinado à Agricultura, descrito na C. Reg. P. Lagos, nº 21221, fls. 175 v., Lv. B56; (3) prédio rústico, c/ 7840 m2, situado fora do perímetro urbano da Raposeira, no Sítio do Outeiro (Vila do Bispo), confinante com o anterior, destinado à agricultura, descrito na C. Reg. P. Lagos, nº 21892, fls. 145, Lv. B58; (c) Tal anúncio, com referência expressa a que o leilão estaria a cargo de Vendasta Soc. de Leilões Lda., Rua Reinaldo Ferreira 34A Lisboa, foi transmitido pelo Administrador da falência a todos os credores, solicitando também a dinamização da iniciativa; (d) Realizado o leilão, o lote de terreno para construção foi prometido em venda pela leiloeira pelo preço de Pte.: $00 (avaliação: Pte.: $00); o primeiro prédio rústico por Pte.: $00 (avaliação: Pte.: $00); o último por Pte.: $00 (avaliação: Pte.: $00); (e) O Administrador da falência deu conhecimento da circunstância ao Síndico, em , com parecer de se manter a venda. 3

4 8. Como defende o MP nas contra-alegações, citando em abono Pedro Macedo 3, é entendimento doutrinal comum ser a remessa para o processo de execução [a partir das normas falimentares do CPC] restrita às modalidades da venda. Uma dessas modalidades é a venda por negociação particular, cuja estrutura se reconduz à entrega do desidrato a um mediador, particular. De entre as classes de particulares ressaltam as agências leiloeiras ou de mediação, nada obstando portanto a que se encarreguem dessa modalidade de venda executiva, que muito bem podem levantar através de almoeda da praxe. Neste sentido vai também o parecer dos comentadores, v.g. Mota Salgado 4 : as vendas de imóveis que os administradores efectuam com o concurso dos serviços de estabelecimentos de leilão não são vendas em estabelecimentos de leilão no sentido técnico do art. 888º CPC mas antes vendas por negociação particular. Não colhe portanto o primeiro argumento recursivo que se estriba na restrição leiloeira à venda de bens móveis. Não se seguiu na verdade estoutra modalidade de venda. Aliás, cotejado o anúncio, vê-se bem que não se tratou de leilão sob a égide judicial: não surge sequer a assinatura de magistrado, ou se diz que o acto não corra fora do âmbito empresarial. Mas o Ag.e aduz outro argumento para a invalidade: a venda por negociação particular não foi autorizada pelo juiz, como as disposições respeitantes à venda executiva prescrevem. Também não lhe assiste razão: os arts. 1247º e 1248º CPC são claros quando estabelecem que a venda falimentar por negociação particular deve ser levada a cabo pelo Administrador sob mando do Síndico. E no caso vertente o Síndico autorizou-a por despacho, que nem sequer mereceu crítica 5, tendo depois o Administrador solicitado a empresa leiloeira, e a ratificação do resultado do leilão pelo magistrado. Não procedem pois as conclusões do recurso. 3 Aut. cit., Manual de Direito das Falências, p Aut. cit., Falência e Insolvência Guia Prático, p O recorrente, acaso não tenha sido notificado do despacho do Síndico, não arguiu a invalidade por esse motivo; em consequência, a ter existido, deve considerar-se suprida. 4

5 9. Nestes termos, vistos os arts. 1247º, 1248º e 887º CPC (versão anterior), decidem manter o despacho recorrido nos seus precisos termos. 5