CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO PSICOMÉTRICO E ESTRUTURAL DA ESCALA DE ESPERANÇA (DE FUTURO) J. Pais Ribeiro, Luisa Pedro e Susana Marques
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1 Referência: Pais Ribeiro, J., Pedro, L., & Marques, S, (2006).Contribuição para o estudo psicométrico e estrutural da escala de esperança (de futuro). In: I.Leal, J. Pais-Ribeiro & S.Neves, (Edts.). Actas do 6º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde (pp.75-81). Lisboa: ISPA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO PSICOMÉTRICO E ESTRUTURAL DA ESCALA DE ESPERANÇA (DE FUTURO) J. Pais Ribeiro, Luisa Pedro e Susana Marques Faculdade de Psicologia e de Ciências da educação Universidade do Porto A esperança (hope) é uma variável psicológica que tem, recentemente, sido objecto de interesse, embora a sua conceptualização se estenda desde há cerca de 40 anos (Snyder, 1995). Snyder et al. (1991) explicavam que na definição clássica se assumia que a esperança era uma percepção generalizada que os objectivos podem ser alcançados. No desenvolvimento do construto e do modo de o avaliar, estes autores definem esperança como um bloco cognitivo baseado na sensação de determinação triunfante para a acção, em conjunto com a planificação de maneiras de alcançar os objectivos. Identificam dois factores que se juntam para formar a esperança; Iniciativa (Agency) sensação de determinação triunfante (ou ganhadora) sobre a consecução de objectivos pessoais, no passado, presente e futuro. Este componente da esperança é o combustível do segundo componente; Caminhos (Pathways) - sensação de que é capaz de gerar planos bem sucedidos para alcançar os objectivos. O objectivo da presente trabalho é estudar as propriedades psicométricas e estruturais da escala de esperança desenvolvida por Snyder et al. (1991) tendo em vista a sua aplicação a doentes com esclerose múltipla. MÉTODO
2 A escala de esperança foi submetida a um processo de tradução, revisão da tradução, discussão da validade de conteúdo (de modo a garantir que cada item, do ponto de vista teórico, mede o que pretende medir), verificação da complexidade da questão e da adequação cultural, cognitive debriefing com a população alvo com qualificações escolares mais baixas, revisão geral do questionário, nomeadamente a aparência final. Participantes Participaram 184 sujeitos que constituíram uma amostra de conveniência, com idade M=39,90, DP=9,52, variando entre 16 e 70 anos; com escolaridade M=9,50, DP=4,71, entre 3 e 19 anos de escolaridade, 83,5% do sexo feminino, 108 doentes com diagnóstico de esclerose múltipla e 76 sem doença. De salientar que esta amostra é claramente distorcida no sentido em que a maioria são doentes com esclerose múltipla e a maioria são mulheres. Snyder et al. (1991), no desenvolvimento da escala utilizou predominantemente estudantes universitários e mais duas amostras de doentes do foro da doença mental. No estudo de Snyder o comportamento das amostras é diferente sugerindo que ou a idade ou a condição podem de algum modo alterar o padrão de respostas, embora não modificando as qualidades métricas e estruturais da escala. Material Segundo proposta dos autores, no acto de aplicação a escala de esperança deverá designar-se por Escala de Futuro. Ela contém 12 itens (apresentados como uma afirmação), oito itens que avaliam a esperança mais quatro distractores. Dos oito itens que avaliam a esperança, quatro itens avaliam a iniciativa, passada, presente e futura, mais quatro itens que avaliam os caminhos. Aos sujeitos é pedido que leiam cada afirmação e que respondam de que modo consideram que a ela se lhes aplica, numa escala ordinal, ou de quatro (Snyder et al.1991) ou de oito pontos (Snyder, 2002) entre totalmente falso (=1) e totalmente verdade (=8). A escala fornece três notas, uma de esperança global resultante da soma de todos os oito
3 itens mais uma nota por cada dimensão da esperança resultante da soma do grupo de quatro itens que compõem cada uma delas. Procedimento Após a construção da versão portuguesa da escala, como descrito antes, ela foi passada a uma população doente pertencente a um hospital central de uma grande cidade de Portugal. Foram seguidos todos os procedimentos éticos de acordo com a Declaração de Helsínquia e as regras do hospital. No tratamento estatístico seguimos os passos dados pelos autores e comparando os resultados com os seus. A análise estatística recorreu ao SPSS, v13 e ao EQS, v.6.1 (Bentler & Wu, 1995) para a análise factorial confirmatória. Os autores originais para este último procedimento recorreram ao LISREL e, não o fizemos por o EQS disponibilizar indicadores aperfeiçoados. RESULTADOS Análise factorial exploratória A escala foi submetida a análise factorial exploratória reproduzindo os procedimentos dos autores, que recorreram à análise em componentes principais com rotação oblíqua. Recorrendo à regra Kaiser, ou seja conservar os factores com valores próprios superiores a um, o estudo original encontra dois factores que explicam entre 52 e 63% da variância nas várias amostras. No estudo aqui apresentado, seguindo a regra Kaiser encontramos somente um factor que explica 51,55% da variância total. Dado que, claramente, os autores encontram sempre dois factores em amostras diferentes, ignorámos a regra kaiser e realizámos a análise forçada a dois factores, solução que explica 63,44% da variância total. O quadro 1 mostra a carga factorial encontrada:
4 Quadro 1- análise em componentes principais com rotação oblíqua forçada a dois factores. Componentes caminhos iniciativa 1- Consigo pensar em muitas maneiras de me livrar de enrascadas 0,66 2- Persigo os meus objectivos com muita energia 0,43 0,43 4- Qualquer problema tem muitas soluções 0,73 6- Consigo pensar em muitas maneiras para alcançar as coisas da vida que são importantes para mim 0,91 8- Mesmo quando os/as outros/as perdem a coragem, eu sei que consigo encontrar uma maneira de resolver o problema 0,48 0,44 9- A minha experiência de vida preparou-me bem para o futuro 0, Tenho tido bastante sucesso na vida 0, alcanço os objectivos que defini para mim próprio/a 0,85 Conservam-se no quadro todos os valores de carga factorial superiores a 0,25; Escala de iniciativa itens:1, 4, 6, 7; escala de caminhos itens: 2,9,10,12 A análise do quadro mostra a existência de dois itens (dois e oito) que carregam em magnitude semelhante os dois factores. Na versão original, e para as oito amostras utilizadas, tal padrão nunca se verifica para o item dois mas verifica-se para o item oito em três delas, nomeadamente numa das duas amostras com doentes. Isso pode sugerir que o item oito tem problemas lexicais que acompanham os diversos idiomas e que o item dois precisaria de ser aperfeiçoado na sua versão Portuguesa. Consistência interna e correlação entre dimensões A inspecção da consistência interna mostra valores de alfa de Cronbach de 0,76 para iniciativa e de 0,79 para caminhos enquanto para a escala global apresenta valores de 0,86. Na versão original e para as diferentes amostras os autores encontraram valores entre 0,74 e 0,84 para a escala total, entre 0,71 e 0,76 para a sub-escala iniciativa, entre 0,63 e 0,80 para caminhos. O quadro 2 mostra os valões da consistência interna na diagonal, entre parêntesis, e as correlações sub-escalas entre si e com a escala total. Quadro 2- correlação entre sub-escalas e entre estas e a escala total e consistência interna na diagonal entre parêntesis esperança iniciativa caminhos
5 esperança (0,86) 0,92 0,91 iniciativa (0,76) 0,68 caminhos (0,79) Os valores de consistência interna tendem a ser mais elevados na versão aqui em estudo do que na original. A correlação entre dimensões apresenta valores elevados (0,68), mais elevados do que as encontradas pelos autores, que variaram entre 0,38 e 0,46 para as amostras de estudantes e entre 0,46 e 0,57 para as amostras de doentes. Na versão portuguesa as duas sub-escalas partilham cerca de 50% da variância, o que poderá questionar a existência de duas sub-escalas. Inspeccionando a correlação sub-escalas escala total verifica-se que os valores da correlação são muito semelhantes, significando que cada uma delas explica bem a escala total (mais de 80% da variância da escala total) Análise factorial confirmatória Dada a existência de dúvidas se na versão portuguesa existem, de facto, dois factores ou somente um, realizámos uma análise factorial confirmatória. Esta análise estrutural permitirá afirmar se o modelo de dois factores ou de o um factor é adequado ou se ambos são adequados. Utilizámos o programa EQS V6.1 para testar a adequação do modelo de um ou dois factor, recorrendo ao Comparative Fit Index (CFI) e ao Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA). O CFI consiste numa revisão dos índices de ajustamento anteriores o Normed Fit Index (NFI) que subestimava o ajustamento em amostras pequenas. O CFI avalia a adequação do modelo hipotético por comparação com o pior (independente) modelo. Se o modelo proposto não significar uma melhoria em relação ao modelo pior então o seu valor será próximo de zero (Bentler, 1995). O CFI toma em consideração o tamanho da amostra e, segundo Bentler e Bonett (1980), quando os índices de ajustamento são superiores a 0,90, a análise indica que a solução é boa. Ainda de acordo com estes autores, quando o RMSEA é inferior a 0,10 a análise indica que a solução é adequada.
6 A inspecção da solução para um factor mostra um χ 2 =69,86, para 20 graus de liberdade, p <0,0001, um CFI=0,91, e um RMSEA=0,11 (intervalo de confiança a 90% para o RMSEA, 0,08, 0,14). A inspecção da solução de dois factores mostra um χ 2 =181,58, para 20 graus de liberdade, p < 0,0001, um CFI=0,70, e um RMSEA=0,21 (intervalo de confiança a 90% para o RMSEA, 0,18, 0,23). A análise estrutural mostra que o modelo de um factor cai dentro dos valores fronteira propostos por Bentler e Bonett (1980), enquanto o modelo de dois factores já fica suficientemente longe para ser posto em causa como modelo adequado. Conclusão O estudo mostra a existência de propriedades métricas e estruturais aceitáveis para a solução em estudo, se se considerasse somente um factor. A versão de dois factores é problemática tal como mostra a análise factorial confirmatória, alertando para a necessidade de aprofundar as propriedades desta versão da escala, ou se tal deriva da distorção da amostra que serviu de base para o estudo. De qualquer modo as propriedades métricas em geral, são suficientemente boas para que o questionário possa ser utilizado como instrumento de medida. REFERÊNCIAS Bentler, P. M. (1995). EQS Structural Equations Program manual. Los Angeles, CA: BMDP Statistical Software. Bentler, P. M., & Bonett, D. G. (1980). Significance tests and goodness-of-fit in the analysis of covariance structures. Psychological Bulletin, 88, Bentler, P.M. & Wu, E.J. (1995) EQS/Windows user s guide. Los Angeles: BMDP: Statistical software.
7 Snyder, C. (1995). Conceptualizing, measuring, and nurturing hope. Journal of Counseling & Development,73, Snyder, C. (2002). Hope theory: rainbows in the mind. Psychological Inquiry,13(4), Snyder, C., Harris, C., Anderson, J., Holleran, S., Irving, I., Sigmon, S., et al. (1991). The will and the ways: development and validation of an individual-differences measure of hope. Journal of Personality and Social Psychology, 60,
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