EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA DE FAMILIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE
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1 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA DE FAMILIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE, brasileira,, do, portadora da Cédula de Identidade CI-RG nº SSP/SP e devidamente inscrita no CPF/MF sob o nº, Estado de São Paulo, por seu advogado, que esta subscreve, procuração ad judicia anexa doc. (01), com endereço profissional localizado a, nº, Centro, Cep., nesta, onde recebe avisos, publicações e intimações de praxe, vem, com todo acatamento de estilo e urbanidade, perante a Eminente Julgador_, apresentar a louvável e ponderável AÇÃO DECLARATÓRIA DE RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA C/C COM PEDIDO DE PETIÇÃO DE HERANÇA, ANULAÇÃO/NULIDADE/ROMPIMENTO DE TESTAMENTO E REDUÇÃO DE QUINHÃO em face de espólio de, brasileira,,, portadora da Cédula de Identidade RG nº SSP/SP e devidamente inscrita no CPF/MF sob o nº, representado pelo Testamenteiro e Inventariante o, brasileiro,,, portador da Cédula de Identidade RG nº SSP/SP e devidamente inscrito no CPF/MF sob o nº, domiciliado nesta capital, na Rua da, nº, _andar, conjunto nº.
2 E demais Legatários e Corréus, todos abaixo relacionados; -, brasileiro,, profissão, portador da Cédula de Identidade RG nº SSP/SP e devidamente inscrito no CPF/MF sob o nº, domiciliado nesta capital, na Rua da, nº, andar, conjunto nº. -, brasileiro,, profissão, portador da Cédula de Identidade RG nº SSP/SP e devidamente inscrito no CPF/MF sob o nº, domiciliado nesta capital, na Rua da, nº, andar, conjunto nº. -, brasileiro,, profissão, portador da Cédula de Identidade RG nº SSP/SP e devidamente inscrito no CPF/MF sob o nº, domiciliado nesta capital, na Rua da, nº, andar, conjunto nº. I DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA A REQUERENTE requer a Vossa Excelência que lhe seja concedido os benefícios da Assistência Judiciária Gratuita, conforme dispõe o artigo 4º da Lei 1060/50, haja vista não dispor de condições financeiras para suportar custas e despesas processuais sem prejuízo próprio, conforme declaração de hipossuficiência econômica anexada II - D O I N T R Ó I T O 1 Tendo em vista que, casos de direito das sucessões, envolve relações humanas e não só bens materiais, a peticionária tem respaldo e fundamento quando demonstra a existência da maternidade socioafetiva, que não pode ser ignorada pela Eminente Julgador(a), e muito menos pelos demais Corréus, maternidade esta que deve ser reconhecida por este augusto juízo, através do
3 direito volitivo que sempre esta em constante evolução, na busca do aperfeiçoamento das leis mais justas, pois no conflito da justiça e do direito, devemos lutar pela justiça sempre! 2 a existência da maternidade socioafetiva, e os princípios da afetividade e da solidariedade encontram respaldo constitucional e ético e deve permear a conduta e as decisões da magistratura moderna e atenta a realidade do mundo atual. 3 - nos tempos atuais a sacralização do dna, reconhece-se a aptidão da ciência de identificar a origem genética dos indivíduos que, infelizmente, não assegura a construção de laços sólidos de amor, carinho, solidariedade, afetividade e responsabilidade, caracterizadores da relação dos pais e filhos, lhes tornando status familiar. 4 Ressalte-se ainda que, não existe diferença entre filhos legítimos, ilegítimos, legitimados, etc, conforme previsão legal contida no art. 227, 6º da Carta Magna, a Constituição Federativa do Brasil. II DOS FATOS 1. Para tanto, passa a relatar a Autora que fora criada pela falecida, como se filha fosse, desde tenra idade, a qual sempre lhe deu o verdadeiro amor, carinho e todos os cuidados necessários de uma geratriz, reconhecendo-a, na figura de sua única e verdadeira mãe adotiva e vice-versa, sendo certo que fora o seu único referencial base, pilar e conceito familiar. Haja vista que fora entregue pessoalmente pela sua mãe biológica, á sua mãe adotiva a qual se incumbiu de tratá-la e criá-la como sua única e verdadeira filha. 2. Deve ser ressaltado que,
4 3. É certo que ainda se lembra, 4. A Autora após ser adotada faticamente pela sempre exerceu todos os cuidados inerentes de uma geratriz, preocupava-se muito com seu delicado estado de saúde, sendo certo que ela pessoalmente era quem ministrava os medicamentos, na ausência dos médicos, escolheu as escolas particulares, a acompanhava nos estudos, vestimentas, etiqueta, cursos, Faculdade e o roteiro de viagens. 5. É certo ainda que, residiu com sua mãe até 6. Mas, desde o dia da adoção de fato, Tudo pode e deve ser devidamente comprovado, tanto por provas testemunhais, como documentais, fotografias e de todos os gêneros e etc. IV DA FUNDAMENTAÇÃO DOUTRINÁRIA, JURISPRUDENCIAL e JURÍDICA 1. Hodiernamente, o direito de família brasileiro está passando por transformações, por quebra de barreiras, principalmente perante a família tradicional, como por exemplo casamento homoafetivo, a poliafetividade e também a filiação socioafetiva, que neste caso o direito valoriza mais os laços afetivos, qual seja a relação de criação, de amor e dedicação pelo próximo, do que aqueles que mesmo tendo os mesmos laços de sangue, não tem estas benevolências e dever com seus próprios filhos.
5 2. Everton Leandro da Costa esclarece que a filiação socioafetiva é compreendida como uma relação jurídica de afeto como o filho de criação, como naqueles casos que mesmo sem nenhum vínculo biológico os pais criam uma criança por mera opção, velando-lhe todo amor, cuidado, ternura, enfim, uma família, em tese, perfeita Importante ressaltar e transcrever os ensinamentos de Renato Maia: a verdadeira paternidade pode também não se explicar apenas na autoria genética da descendência. Pai também é aquele que se revela no comportamento cotidiano, de forma sólida e duradoura, capaz de estreitar os laços da paternidade numa relação psico-afetiva. Aquele, enfim, que além de poder emprestar seu nome de família, trata o indivíduo como seu verdadeiro filho perante o ambiente social Julie Cristine Delinski bem identifica essa nova estrutura da família brasileira que passa a dar maior importância aos laços afetivos, e aduz já não ser mais suficiente a descendência genética, ou civil, sendo fundamental para a família atual a integração dos pais e filhos através do sublime sentimento da afeição. Acresce possuírem a paternidade e a maternidade um significado mais profundo do que a verdade biológica, onde 1 COSTA, Everton Leandro da Costa. Paternidade Socioafetiva. Disponível em: >. Acesso em 27/01/ MAIA, Renato. Filiação Parental e seus efeitos. São Paulo: SRS Editora, 2008, p. 173.
6 o zelo, o amor filiar e a natural dedicação ao filho revelam uma verdade afetiva Assim, temos que a filiação socioafetiva passa a interferir na matéria de direito, pois traz consequências nos institutos do parentesco, dos alimentos e sucessórios, quando ajuizada ação para obter esta espécie de filiação. Ressalte-se que a Justiça tem reconhecido o direito de filiação socioafetiva, mesmo não tendo reconhecimento legal, determinando inclusive a alteração da certidão de nascimento para constar o nome do pai socioafetivo no lugar do biológico, ou as vezes inserir o pai socioafetivo em conjunto com o biológico, daí a multiparentalidade, que será tema de outro capítulo específico. 6. Ressalte-se que, a filiação socioafetiva não está lastreada no nascimento (fato biológico), mas em ato de vontade, cimentada, cotidianamente, no tratamento e na publicidade, colocando em xeque, a um só tempo, a verdade biológica e as presunções jurídicas. Socioafetiva é aquela filiação que se constrói a partir da criação, um respeito recíproco, de um tratamento em mão-dupla como pais e filhos. Apresenta-se, desse modo, o critério socioafetivo de determinação do estado de filho como um tempero ao império da genética, representando uma verdadeira desbiologização da filiação familiar, fazendo com que o vínculo materno-filial não esteja aprisionado somente na transmissão de genes, o qual não é sinônimo de amor e muito menos garantidor este do estado afetivo recíproco. 7. A cada dia mais se torna prescindível a verdade legal, se tomando por base o conceito da socioafetividade quando da determinação da filiação. Ainda que não esteja explicita no conteúdo normativo da Codificação Civil de 2002, a filiação socioafetiva é reconhecida pelo art , do Código Civil, quando determina a formação do estado filiativo 3 Delinski, Julie Cristine. O novo direito da filiação. São Paulo: Sialética, 1997.p.19 (apud MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família, 4ª ed.,rio de Janeiro:Forense, 2011, p. 471).
7 advindo doutras espécies de parentesco civil que não necessariamente a consangüínea. 8. No entanto, setores da doutrina e jurisprudência vem se esforçando por detectá-lo, e com tal desiderato, citam dois arts.: e 1.605, inciso II. O art , ao falar em outra origem, pela amplitude desta expressão, poderia abranger a socioafetividade. O art , em seu inciso II, ao prever veementes presunções resultantes de fatos já certos, se refere ao tradicional conceito de posse de estado de filho, que nada mais seria do que a socioafetividade [...]. São argumentos razoáveis, mesmo porque, ainda fosse outra a intenção do legislador, pela moderna hermenêutica, a lei, após editada, se desapega da vontade de quem as elaborou, mais importando a interpretação do art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil 9. Neste entendimento, numa seara mais doutrinário-interpretativa do que meramente legal, é que Maria Christina de Almeida se manifesta, trazendo a socioafetividade como principal mecanismo de vislumbre da real filiação. [...] a paternidade é hoje, acima de tudo, socioafetiva, moldada pelos laços afetivos cujo significado é mais profundo que a verdade biológica, onde o zelo, o amor paternal e a natural dedicação ao filho pelo pai, dia a dia, revelam uma verdade afetiva, em que a paternidade vai sendo construída pelo livre desejo de atuar em integração e interação materno-filial ou paternofilial no tempo e no espaço.
8 Desta forma, reitere-se a aplicação análoga da posse de estado de filho e, por conseqüência, da socioafetividade. João Batista Villela bastante simplifica a noção de que a construção genética não é determinante para a formação do estado filiativo, quando argumenta que a verdadeira maternidade ou paternidade não é um fato da Biologia, mas um fato da cultura e escolha. Está antes no devotamento e no serviço do que na procedência do sêmen. 10. Destaca-se ainda, o julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo: EMENTA: MATERNIDADE SOCIOAFETIVA. Preservação da Maternidade Biológica. Respeito à memória da mãe biológica, falecida em decorrência do parto, e de sua família. Enteado criado como filho desde dois anos de idade. Filiação socioafetiva que tem amparo no art do Código Civil e decorre da posse do estado de filho, fruto de longa e estável convivência, aliado ao afeto e considerações mútuos, e sua manifestação pública, de forma a não deixar dúvida, a quem não conhece, de que se trata de parentes - A formação da família moderna não-consanguínea tem sua base na afetividade e nos
9 princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. Recurso provido. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO, 2012) O ponto essencial é que a relação de paternidade não depende mais da exclusiva relação biológica entre pais e filhos. Toda maternidade ou paternidade é necessariamente socioafetiva, podendo ter origem biológica ou não biológica. Em outras palavras, a maternidade ou paternidade socioafetiva é gênero do qual são espécies a maternidade biológica e a maternidade não biológica. 13. Assim com o desenvolvimento de modernas técnicas científicas que conseguem precisar com certeza praticamente absoluta a filiação genética, esta aos poucos vai perdendo espaço, dando lugar a uma nova forma de filiação, a filiação socioafetiva. Pai, portanto, não é somente aquele que gera o filho, mas principalmente aquele se apresenta socialmente com pai, é reconhecido como tal pela sociedade, cultiva por muito tempo laços de afeto, como sustenta Renato Maia, já citado acima: a verdadeira paternidade pode também não se explicar apenas na autoria genética da descendência. Pai também é aquele que se revela no comportamento cotidiano, de forma sólida e duradoura, capaz de estreitar os laços da paternidade numa relação psico-afetiva. Aquele, enfim, que além de poder emprestar seu nome de família, trata o indivíduo como 4 no=14 Acesso em 30/01/14.
10 seu verdadeiro filho perante o ambiente social Paulo Lôbo ensina que a filiação biológica só é importante na medida em que não há outra filiação estabelecida, como a socioafetiva. Não há primazia entre filiação biológica e filiação socioafetiva, já que a Constituição Federal veda qualquer distinção entre os filhos, não importando sua origem ou classificação Ressalte-se que o vínculo de filiação afetiva se estabelece com o tempo, com a convivência, com os cuidados, com a assistência material, espiritual, psicológica, enfim, pela dedicação de amor e de afetividade. Apresenta-se nesse comportamento, que poderíamos classificar como sendo de conteúdo interno, mas também por meio de um comportamento exteriorizado, público, social, como por exemplo, nas relações escolares, de modo que se apresenta como verdadeiro filho. 16. O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, em julgamento que indica a tendência jurisprudencial brasileira, decidiu que quando confrontada a filiação biológica com a filiação socioafetiva, decorrente da chamada à adoção à brasileira não teve dúvidas em reconhecer a segunda, em harmonia com o que o estabelece o princípio da dignidade da pessoa humana. 7 5 MAIA, Renato. Filiação Parental e seus efeitos. São Paulo: SRS Editora, 2008, p LOBO, Paulo. Revista Brasileira de Direito de Família e Sucessões. Porto Alegre: Magister; Belo Horizonte: IBDFAM, 2007, vol. 5, p A ação negatória de paternidade é imprescritível, na esteira do entendimento consagrado na Súmula 149/STF, já que a demanda versa sobre o estado da pessoa, que é emanação do direito de personalidade. 2. No confronto entre a verdade biológica, atestada em exame de DNA, e a verdade socioafetiva, decorrente da denominada adoção à brasileira (isto é, da situação de um casal ter registrado, com outro nome, menor, como se deles filho fosse) e que perdura por quase quarenta anos, há de prevalecer a solução que melhor tutele a dignidade da pessoa humana. 3. A paternidade socioafetiva, estando baseada na tendência de personificação do direito civil, vê a família como instrumento de realização do ser humano; aniquilar a pessoa do apelante, apagando-lhe todo histórico de vida e condição social, em razão de aspectos formais inerentes à irregular adoção à brasileira, não tutelaria a dignidade humana, nem faria justiça ao caso concreto, mas, ao contrário, por critérios meramente formais, proteger-se-iam as artimanhas, os ilícitos e as negligências utilizadas em benefício do próprio apelado. (Ac ª C. Cív., Rel. Des. Accacio Cambi, j ).
11 17. Destarte, é patente que a filiação socioafetiva passou a ter uma importância muito grande, que chegou ao ponto de sobrepor a filiação meramente biológica. 18. Assim atualmente, não há mais que se fazer tais distinções, nem mesmo com relação ao incestuoso, pois a Constituição Federal de 1988, no art. 227, 6º, e a Lei n /90, art. 20, prescrevem: Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Logo, não mais se poderá discriminar legalmente os filhos havidos fora do casamento ou os adotados (CC, art ), conferindo-lhes direitos diferenciados. Pouco importará a sua origem, todos os filhos, pelo simples fato de serem filhos, receberão, juridicamente, tratamento igual. 19. Com esta temática, tratar-se-á a análise da possibilidade de haver a aplicação do instituto sucessório na socioafetividade, tendo por base as citadas situações. 20. Os Tribunais têm entendido da igualdade de direitos entre os filhos, em casos semelhantes, mesmo que a tutela tenha sido antes de 1988; o no art. 227, 6º, Constituição Federal, determinou o tratamento igualitário aos filhos adotados. Por conseqüência, esses passaram a ter os mesmos direitos hereditários que os naturais, ainda que a tutela tenha sido realizada antes de Por derradeiro, colhe-se o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina: PATERNIDADE E MATERNIDADE SOCIOAFETIVA. AUTORA QUE, COM O ÓBITO DA MÃE BIOLÓGICA,
12 CONTANDO COM APENAS QUATRO ANOS DE IDADE, FICOU SOB A GUARDA DE CASAL QUE POR MAIS DE DUAS DÉCADAS DISPENSOU A ELA O MESMO TRATAMENTO CONCEDIDO AOS FILHOS GENÉTICOS, SEM QUAISQUER DISTINÇÕES. PROVA ELOQUENTE DEMONSTRANDO QUE A DEMANDANTE ERA TRATADA COMO FILHA, TANTO QUE O NOME DOS PAIS AFETIVOS, CONTRA OS QUAIS É DIRECIONADA A AÇÃO, ENCONTRAM-SE TIMBRADOS NOS CONVITES DE DEBUTANTE, FORMATURA E CASAMENTO DA ACIONANTE. [...] AÇÃO QUE ADEQUADAMENTE CONTOU COM A CITAÇÃO DO PAI BIOLÓGICO, JUSTO QUE A SUA CONDIÇÃO DE GENITOR GENÉTICO NÃO PODERIA SER AFRONTADA SEM A PARTICIPAÇÃO NA DEMANDA QUE REFLEXAMENTE IMPORTARÁ NA PERDA DAQUELA CONDIÇÃO OU NO ACRÉSCIMO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA NO ASSENTO DE NASCIMENTO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
13 22. O estabelecimento da igualdade entre os filhos adotivos e os biológicos, calcada justamente na afeição que orienta as noções mais comezinhas de dignidade humana, soterrou definitivamente a idéia da filiação genética como modelo único que ainda insistia em repulsar a paternidade ou maternidade originadas unicamente do sentimento de amor sincero nutrido por alguém que chama outrem de filho e ao mesmo tempo aceita ser chamado de pai ou de mãe. Cite-se a brilhante colocação do Ilustre Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, Dr. Jorge Luis Costa Beber, que, em complemento ao anterior citado, na mesma decisão, argui: Uma relação íntima e duradoura, remarcada pela ostensiva demonstração pública da relação paterno-materna-filial, merece a respectiva proteção legal, resguardando direitos que não podem ser afrontados por conta da cupidez de disputa hereditária. 23. É isso que ocorre com a filiação. Viu-se que a socioafetividade filiativa não é recente, e que desde os primórdios da formação de nosso sistema democrático de Direitos buscava-se uma maior correspondência da norma jurídica para com a relação de fato. Entretanto, dada a evidente vinculação da religião no Estado, ensejando a sacralização do matrimônio, qualquer relação avessa à estrutura social do casamento era repudiada, concluindo pela sua exclusão dos efetivos direitos que os inseridos neste instituto dispunham. 24. Somente com o desenvolvimento da sociedade e o abarcamento de princípios relacionados à igualdade e à pluralidade de entes familiares, ou seja, somente com a aceitação da inexistência de um padrão social familiar, é que as relações antes
14 marginalizadas se viram protegidas, dando respaldo para a citada subjetivação na formação de vínculos parentais. 25. Atualmente a base para o estabelecimento da paternidade e maternidade é o conceito dado pela posse do estado de filho. Vinculada à afetividade, usando como subterfúgio aquela implícita na principiologia constitucional, a posse do estado de filho salienta ainda que, pais são aqueles que dão o amor, carinho, afeto; que apresenta à sociedade o indivíduo como sendo de sua prole, independentemente de sua origem genética. 26. Doutrinariamente se coloca que são três requisitos para que se fale em posse do estado de filho, tais sejam: o nome, o trato e a fama. Entretanto, vislumbrou-se que, majoritariamente, os estudiosos do assunto citam a desnecessidade do nome, quando é evidente o trato e a fama, ou seja, quando o pai afetivo o coloca como sendo de sua prole, sem distinções, e, ainda, quando o filho é visto pela sociedade como o sendo daquele que considera pai. 27. É evidente a preferência que a atual doutrina e até mesmo jurisprudência vem dando para a socioafetividade como meio de formação do estado de filho. Entretanto, dada toda a leitura realizada e toda a pesquisa feita, conclui-se que a verdade biológica não pode ser esquecida, vez que a situação de fato deve ser vislumbrada para que melhor se atenda à demanda posta em juízo. Há casos em que inexiste qualquer vínculo afetivo, por não ter o sujeito que se coloque na condição de pai ou mãe; cite-se, por exemplo, a mulher que não tem nenhum companheiro, e que engravida de um individuo que some logo em seguida: neste caso, compatível e justo se faz a investigação de paternidade com base na verdade biológica. No mesmo caso, se existisse companheiro e este, mesmo não sendo pai biológico da criança, se colocasse na condição de pai de fato, lhe dando todo o aporte psicológico e material, a verdade afetiva prevaleceria.
15 28. Não se deve fechar-se à regras gerais que aplicam-se ao caso concreto sem se vislumbrar as peculiaridades constantes desta relação. A legitimação da filiação socioafetiva como meio de se designar a instituição da paternidade alcançou um parâmetro que afetou todas as modernas investigações parentais, vez que trouxe o subjetivo conceito da posse do estado de filho como centro da determinação do vínculo jurídico citado. 29. Deve-se se separar a realidade registral, a verdade biológica e a relação de fato, havendo de predominar aquilo que se tem faticamente no caso concreto. O convívio materno-filial é sim determinante para a compatibilização da relação jurídica, motivo pelo qual deve ser ensejadora da retificação do registro, quando assim não o for compatível, levando à relativização da necessidade do vínculo biológico, que deverá ser referida como parte do Direito da Personalidade, ou vislumbrada como formadora da filiação quando inexistir qualquer relação afetiva por outrem seja na condição materna ou paternal. 30. Uma vez reconhecido o filho, este disporá de todos os direitos e deveres atinentes à sua condição, sendo defeso em lei qualquer ato que o discrimine por conseqüência de sua origem parental. Desta maneira, conclui-se que havendo a possibilidade de se reconhecer o filho por consagração do principio da afetividade, sendo instaurado o procedimento de investigação, tomando por base a noção da posse do estado, sendo caracterizados o trato e a fama, este será herdeiro necessário maternofilial ou paterno-filial afetiva. 31. Desta maneira, insta concluir que o Direito Sucessório decorrente da formação do estado filiativo na socioafetividade nada mais é que a aplicação prática do princípio da igualdade de filhos independentemente da sua origem de parentalidade. Uma vez sendo
16 possível o reconhecimento da filiação por afeto, seja antes ou após a morte do pai ou da mãe, por todo o exposto, entende-sepela consignação de direitos familiares e hereditários pelos filhos afetivos deste. V - DO ROMPIMENTO, NULIDADE e ANULAÇÃO DO TESTAMENTO 1. Com o reconhecimento da filiação socioafetiva da requerente, a mesma passa a ter todos os direitos familiares, sucessórios e hereditários, assim passa a contestar e impugnar o testamento. 2. Primeiramente cumpre ressaltar que, com o reconhecimento da filiação post mortem da requerente perante sua mãe, ROMPE-SE o TESTAMENTO, conforme artigo 1.973, do Código Civil. 3. O atual Código Civil, revelando maior apuro técnico, trata da revogação e do rompimento do testamento em capítulos separados. O Código Civil de 1916 os disciplinava de forma englobada no capitulo da revogação dos testamentos, inclusive denominada pela doutrina de revogação presumida. No entanto, trata-se de assuntos distintos, pois a revogação se dá por ato de vontade do testador, já o rompimento decorre de lei, o que tornaria o testamento ineficaz Assim, rompido o testamento, este é considerado ineficaz, portanto sem qualquer efeito, e consequentemente os bens deixados pela falecida serão transmitidos, seguindo a ordem de vocação hereditária, artigos c/c 1829, do Código Civil. 5. Ressalte-se que, a mãe socioafetiva jamais pensou em dificultar a situação de sua filha, ora requerente, é que as pessoas nunca preveem sua morte e quando chega perto dela, já está 88 Peluso, Cezar, coordenador. Código Civil Comentado Doutrina e Jurisprudência. 2ª Edição Editora Manole, pág
17 totalmente debilitada, inclusive foi o que ocorreu no presente caso, pois a falecida deixou testamentos duvidosos, pois se tivesse orientada e consciente é obvio que faria menção no testamento quanto a sua filha de criação e não como constou. 6. Assim, entendemos que, por analogia ao reconhecimento da filiação biológica post mortem, seria o caso de superveniência de descendentes, prevista no artigo 1.973, Código Civil. Ocorrendo a ineficácia do testamento. 7. No entanto, caso Vossa Excelência não entenda desta forma, que seja declarado e considerado, adiantamento da legítima, o testamento que atribuiu a totalidade dos bens de aos legatários, ora requeridos, e consequentemente 50% dos bens do espólio seja atribuída a requerente, filha legitima e herdeira necessária, inteligência dos artigos e 1846, do Código Civil Ressalte-se ainda, os artigos e 1.967, CC, que com devida vênia transcrevemos para melhor entendimento: Art O remanescente pertencerá aos herdeiros legítimos, quando o testador só em parte dispuser da quota hereditária disponível. Art As disposições que excederem a parte disponível reduzirse-ão aos limites dela, de conformidade com o disposto nos parágrafos seguintes. 1 o Em se verificando excederem as disposições testamentárias a porção
18 disponível, serão proporcionalmente reduzidas as quotas do herdeiro ou herdeiros instituídos, até onde baste, e, não bastando, também os legados, na proporção do seu valor. 2 o Se o testador, prevenindo o caso, dispuser que se inteirem, de preferência, certos herdeiros e legatários, a redução far-se-á nos outros quinhões ou legados, observando-se a seu respeito a ordem estabelecida no parágrafo antecedente. 8. Por outro lado, o testamento deverá ser discutido quanto a sua validade, uma vez que, foi elaborado quando a, já não estava em sua plena capacidade civil, conforme demosntram os documentos (juntar laudos médicos, receitas, declaração de médicos, etc). 9. Assim, estando a testadora incapaz, o ato é nulo de pleno direito, conforme artigo 104, I, CC: Art A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; 10. E, especificamente no instituo do testamento, os artigos e 1º e 1.860, CC: Art Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
19 1 o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento. Art Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento. VI - DAS PROVAS INCONTESTES DA MATERNIDADE FILIATIVA 1. Primeiramente cabe salientar que a mãe AFETIVA da Autora possuía uma propriedade da Cidade 2. A mãe biológica naquele dado momento não estava cuidando daquela criança, pois segundo consta ela estava sendo cuidada por um dos seus irmãos mais velho, cujo o nome nunca soube, o qual procurou a sua mãe, mas permitindo e entregando aquela criança a mãe que seria de criação, hoje denominada de socioafetiva, a qual a recebeu de livre e espontânea vontade, não somente para cuidar e sim para criá-la como filha o fosse, e assim o fez para todo e sempre. 3. Após essa breve conversa, a Autora foi retirada daquele local imediatamente, e levada por sua mãe adotiva. 4. É sabido ainda que, existem inúmeras fotografias desde a adoção de fato da Autora, 5. Em foi fotografada a Autora no colo da sua mãe socioafetiva e mais outras 05 (cinco) fotografias, docs. anexos.
20 6. Após temos as fotografias. Ainda constata-se a existência de mais 02 (duas) fotografias doc. anexos. 7. Ainda poderão ser objeto de prova, as testemunha, que oportunamente, se for necessário serão arroladas. No entanto junta-se declarações públicas de algumas dessas pessoas. VII - DOS PEDIDOS Ex positis, requer que a ação seja julgada procedente para declarar e reconhecer a maternidade socioafetiva da Sra., com relação à Autora, e conseqüentemente seja a mesma reconhecida como sua única filha para todos os efeitos legais, ocorrendo: a) A alteração ou retificação no assento de nascimento e casamento da autora; b) O rompimento do testamento, conforme artigo 1.973, já exposto e argumentado acima, ou seja o testamento junto aos autos de inventario de nº, autos que tramitam através da Vara de Família e Sucessões do Foro, deverá ser declarado inexistente; c) Caso Vossa Excelência não entenda desta forma, seja declarado o testamento nulo, tendo em vista que, a incapacidade da testadora, no momento da feitura deste. d) Ou ainda a anulação do testamento ou Redução das Disposições Testamentárias, em razão do adiantamento da legítima, que neste caso os 50% do quinhão hereditário deverá ser atribuída a autora, que passará a ser herdeira necessária, conforme já exposto acima.
21 e) Requer ainda, a citação dos Requeridos nos endereços, para que venha compor o pólo passivo da presente ação, apresentando, defesa, com os efeitos da revelia e confissão com fincas no CPC. f) Por fim, requer-se que as intimações e publicações sejam realizadas na pessoa deste causídico,, devidamente inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil OAB/SP, inscrição sob o nº, cujo endereço profissional encontra-se indicado no primeiro parágrafo desta exordial, bem como constante no rodapé desta peça inaugural. Por derradeiro, ante a exposição de motivos acima, requer a condenação dos requeridos nas custas processuais e honorários advocatícios de sucumbência, ante ao não reconhecimento espontâneo do Espólio e do Inventariante, tudo como medida da mais pura e indivisível J u s t i ç a! VIII DAS PROVAS Requer provar o alegado por todos os meios de provas admitidas em direito, pelos documentos juntados com a peça inaugural, outros documentos que se fizerem necessários a contrapor eventuais argumentos da defesa, testemunhais, periciais que sejam precisos para o deslinde completo da lide. IX DO VALOR DA CAUSA Dá-se a causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais), apenas para efeito de alçada e distribuição.
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