RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA Período: AGOSTO/2016 a FEVEREIRO/2017 (X) PARCIAL ( ) FINAL RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: TRANSMISSÃO ORAL DA DOENÇA DE CHAGAS: ESTUDO DA FAUNA DE TRIATOMÍNEOS ASSOCIADA AO FRUTO DO AÇAÍ. Nome do Orientador: Ivoneide Maria de Silva Titulação do Orientador: Doutor Faculdade: Faculdade de Biologia Instituto/Núcleo: Instituto de Ciências Biológicas Laboratório: Laboratório de Parasitologia Médica Título do Plano de Trabalho: Estudo da fauna de triatomíneos associada ao fruto do açaí. Nome do Bolsista: Kelion de Almeida Costa Tipo de Bolsa: ( ) PIBIC/ CNPq ( ) PIBIC/CNPq AF ( )PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( X ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA AF ( ) PIBIC/ INTERIOR ( )PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/ PIAD ( ) PIBIC/PIBIT 1

2 1.0 INTRODUÇÃO A doença de Chagas ou tripanossomíase americana é causada pelo Trypanosoma cruzi (KINETOPLASTIDA: TRIPANOSOMATIDAE), protozoário flagelado que apresenta um ciclo heteroxênico podendo infectar uma ampla variedade de mamíferos e seu inseto vetor, (HEMIPTERA: REDUVIIDAE, subfamília TRIATOMINAE) vulgarmente conhecidos como barbeiros. No Brasil, após o a diminuição dos casos de doença de Chagas aguda causada pela transmissão vetorial e através da transfusão sanguínea, a forma mais importante e frequente de transmissão tem sido a via oral (COURA, 2006). Os surtos de doença de Chagas aguda por contaminação de alimentos têm ocorrido em regiões distintas do país nos últimos anos. Os casos de indivíduos infectados foram mais prevalentes na região amazônica, onde predominam triatomíneos silvestres. De acordo com a EMBRAPA (2012), o Pará é responsável por 80% dos casos novos, causados por transmissão via oral da Região Amazônica, entre 2006 e O açaizeiro (Euterpe oleracea) é uma palmeira originária da região amazônica geralmente encontrada em terrenos de várzea, próximo de rios, em áreas úmidas, porém também se adapta em terra firme. No Brasil ocorre em predominância nos estados do Pará, Amapá, Acre, Maranhão e principalmente no estuário do rio Amazonas (ROGEZ, 2000). De acordo com a Secretaria do Estado de Agricultura (SAGRI), apenas no ano de 2012 mais de 6 mil toneladas de polpas de açaí foram produzidas no Pará, das quais 60% foram consumidas no próprio estado, 30% em outros estados da Federação, e somente 10% do total foi exportado, principalmente para Estados Unidos e Europa, onde o açaí e seus subprodutos vem ganhando destaque. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o açaí movimenta na economia do estado do Pará cerca de R$ 677 milhões, com a produção anual em torno de 850 mil toneladas do fruto, colocando o Estado como o maior produtor nacional de açaí. A produção de açaí na microrregião de Belém, ocorre ao longo de todo o ano, sendo, no entanto, pouco significativa no período de janeiro a julho. A safra se concentra no segundo semestre do ano, sendo as maiores produções nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, os quais compreendem 76% do total de frutos produzidos no ano. 2.0 JUSTIFICATIVA: A Organização Mundial da Saúde inclui a doença de Chagas entre as 13 principais doenças tropicais negligenciadas (HOTEZ, 2011), constituindo um grave problema social e de saúde pública no continente americano. Na atualidade estima-se que existem 2

3 aproximadamente 8 milhões de pessoas infectadas, das quais 5 milhões seriam portadoras do parasita no Brasil (WHO, 2013). O T. cruzi circula entre mais de 150 espécies de mamíferos domésticos (cães, gatos, roedores) e silvestres (marsupiais, morcegos, lagomorfos e primatas), os quais constituem o reservatório da infecção. Por outro lado, existem 140 espécies de triatomíneos, pertencentes a 18 gêneros e cinco tribos (GALVÃO et al., 2003), dos quais, espécies pertencentes a três géneros são reconhecidas como vetores relevantes na transmissão humana: Triatoma, Panstrongylus e Rhodnius (GURGEL-GONÇALVES et al., 2012). A doença de Chagas teve inicialmente uma transmissão enzoótica, mantida entre animais selvagens e vetores hematófagos, sendo acidentalmente transmitida ao ser humano quando este invadia ecótopos silvestres. Com o desmatamento resultante das atividades produtivas, os vetores foram adaptando-se a áreas peridomiciliares e domiciliares, gerando regiões endêmicas de transmissão da doença em todo o continente americano, indo desde México até a região meridional de Chile e Argentina. A partir de 1980, iniciou-se um fenómeno de globalização da doença de Chagas através da migração de portadores do parasita para os EUA, Europa, Ásia e Oceania (SCHMUNIS, 2007; COURA & DIAS, 2009; COURA & VIÑAS, 2010). A contaminação de alimentos por T. cruzi é mediada principalmente pela presença de tripomastigotas metacíclicos, provenientes das fezes do triatomíneo ou de vetores que são triturados junto com o alimento. Já entre 1930 e 1950 foi considerada a possibilidade de transmissão oral em animais silvestres através da ingestão de triatomíneos infectados (SILVEIRA, 2006), mas somente anos depois, verificou-se que este mecanismo de transmissão poderia envolver seres humanos. Schenone e colaboradores (1982) consideraram que a transmissão de T. cruzi por via oral seria uma parte regular no ciclo biológico do parasita. Atualmente, acredita-se que esta via de transmissão é a mais importante na Amazônia brasileira, causando cerca de 50% de todos os casos notificados entre 1968 e 2000 (YOSHIDA, 2006), sendo que o consumo de açaí contaminado seria a principal forma de infecção no estado do Pará (BRASIL, 2001). A infecção pelo T. cruzi segue sendo na atualidade um problema de saúde pública, principalmente na região norte do país pela manutenção de focos de infecção, tanto em comunidades rurais como nos grandes centros urbanos, causados principalmente pelo consumo de alimentos contaminados com tripomastigotas metacíclicos. O grande consumo de açaí no estado do Pará, coloca os derivados deste fruto como a principal via de contaminação com T. cruzi. Estágios infectantes do parasita, presentes nos vetores invertebrados, podem 3

4 chegar ao alimento pelo processamento do fruto junto com o inseto, contaminando a cadeia produtiva de polpa ou suco, principalmente nos produtores locais. Por este motivo, as medidas de fiscalização, destinadas ao melhoramento na cadeia de produção, principalmente nos pequenos produtores, são fundamentais para a diminuição do risco de contaminação pelo protozoário. 3.0 OBJETIVOS: 3.1 Objetivo geral Este projeto tem como objetivo principal a pesquisa dos principais triatomíneos associados aos frutos de açaí comercializados na cidade de Belém, que constituem um risco potencial para a aquisição da Doença de Chagas por via oral. 3.2 Objetivos específicos Treinar um bolsista para identificação das principais espécies de Triatomíneos; Identificar as espécies de triatomíneos veiculados junto com o açaí para os centros de comercialização na cidade de Belém. 4.0 MATERIAIS E MÉTODOS: 4.1 Treinamento do bolsista de Iniciação científica O bolsista recebeu treinamento abordando de forma detalhada o conteúdo relacionado a: (a) identificação das principais espécies de triatomíneos; (b) biologia e ecologia do grupo; (c) análises estatísticas dos resultados e (d) elaboração de relatórios técnicos. 4.2 Identificação de Triatomíneos associados aos frutos de açaí Visando identificar as espécies de Triatomíneos que potencialmente podem contaminar o açaí dentro da região metropolitana de Belém, foram realizadas coletas dos insetos que são transportados junto aos frutos, durante o processamento em centros de comercialização e venda de fruto in natura. Para tal, foram contatados grandes centros de processamento de açaí em Belém, aos quais foram solicitado guardarem, em recipientes apropriados, os insetos rotineiramente separados durante o processamento dos frutos. Sempre que possível, a procedência dos frutos foi identificada permitindo 4

5 mapear as áreas de coleta do fruto com maior incidência de Triatomíneos. As visitas aos centros de processamento para recolhimentos dos recipientes com os insetos foram semanais, nos meses de maio processamento de açaí (setembro a dezembro). O material coletado foi levado ao Laboratório de Parasitologia (ICB/UFPA) para triagem. Os espécimes de insetos presentes nas amostras foram separados para identificados com apoio de literatura especifica e chaves dicotômicas. 5.0 RESULTADOS 5.1 Treinamento do bolsista de Iniciação científica O bolsista recebeu treinamento para as atividades a serem desenvolvidas, incluindo teoria (biologia e ecologia de triatomíneos) e prática de triagem. O treinamento abordou também a identificação das principais espécies de triatomíneos através de um curso ministrado pelo Dr. José Antônio Marin Fernandes, especialista em taxonomia de Heteropteros, sendo a parte prática realizada no Laboratório de Invertebrados do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA. Visando compreender o processo de distribuição do açaí dentro de Belém e aprender as técnicas empregadas no batimento, com destaque para a técnica de Branqueamento, o bolsista participou de um curso para batedores e açaí, ministrado no mês de Novembro, organizado pela prefeitura municipal de Belém em parceria com a Associação dos Vendedores Artesanais de Açaí de Belém e Região Metropolitana (AVABEL). Para ganhar o alvará de funcionamento da prefeitura, os batedores devem seguir uma série de regras e adaptações visando a melhoria e higiene do processo e do local de produção do açaí. Uma dessas exigências é a aplicação da técnica do branqueamento, que consiste em mergulhar o fruto em 80 C durante 10 segundos. Em seguida, é feito o resfriamento do produto, antes de ser batido para extração da polpa. Essa simples técnica é extremamente eficaz, pois elimina quaisquer patógenos, inclusive o Trypanosoma cruzi e não altera o sabor, cor ou textura do açaí. Por esse curso o bolsista recebeu um certificado estando agora apto a ser um batedor regular de açaí (Figura 1). 5

6 Figura 1: Comprovante de participação do bolsista no curso de batedores de açaí oferecido pela Secretaria Municipal de Saúde em Belém, Pará. 5.2 Escolha dos batedores e coleta das amostras Foram visitados diferentes batedores de açaí situados nos bairros da Pedreira, Sacramenta e Marco, explicando o projeto e solicitando sua participação. Após grande número de recusas, oito batedores aceitaram participar do projeto. Também solicitamos ajuda de um grande centro de processamento de açaí, mas a oferta foi reclinada. Foi solicitado aos participante que separassem o conteúdo da primeira etapa do processamento do açaí, a catação. Essa etapa consiste em catar manualmente as impurezas do açaí, entre elas: talos, folhas, caroços secos e pequenos invertebrados. Esse material deveria ser enxuto e guardado pelos batedores. O recolhimento foi realizado diariamente em diferentes horários entre a manhã e a tarde. As coletas foram feitas no período de 30 dias, entre os meses de outubro e novembro. Uma grande dificuldade encontrada foi a assiduidade dos coletores. Muitos se esqueciam de guardar as amostras apesar do recolhimento ser diário. Outros guardavam o material molhado, o que ocasionava uma degradação mais rápida. Em outros a quantidade era extremamente pequena, pois o açaí chegava muito limpo, e não valia a pena levar para o laboratório. Durante a triagem foram encontrados alguns invertebrados como formigas e aranhas, mas nenhum barbeiro, em nenhum estágio. Os próprios batedores e os responsáveis pelo curso de processamento do açaí, já aviam assinalado essa dificuldade na visualização de 6

7 barbeiros. A justificativa apontada foi que, com o soerguimento da doença, o controle e combate ao barbeiro se tornaram mais acentuados. Nas etapas iniciais do processo, que consistem na colheita dos frutos, armazenamento em cestos, também chamado de rasas, e transporte pelos barcos, todos se preocupam em retirar qualquer inseto visível, perfil no qual normalmente se encaixa um barbeiro adulto. Por exemplo, na feira do porto, os frutos são sacudidos em peneiras, afim de que os insetos voem. Muitos insetos em um cesto são vistos pelos donos de batedores como problema. O açaí que chega a capital é proveniente do arquipélago de ilhas presente na região Norte. Não há uma assiduidade na compra de uma determinada ilha. Por isso muitos batedores não faziam noção da origem do açaí, tornando-se inviável identificar a origem dos invertebrados. 6.0 ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS NOS PRÓXIMOS MESES Com a inviabilidade apresentada será proposto um novo projeto de pesquisa a ser realizado nos seis meses restantes. 7.0 CONCLUSÃO Pela importância do açaí na cultura paraense e pela prevalência e também importância da Doença de Chagas, o trabalho foi pensado e inicialmente executado. Infelizmente não foram encontrados nenhum espécime d e barbeiro nas coletas realizadas durante o período de maior safra do fruto. Esses dados negativos e a ausência de perspectivas de que esse quadro pudesse mudar nos próximos meses nos fez optar pela substituição do projeto. 7

8 8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brasil Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 12, 02 de janeiro de Dispõe sobre regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. 10 jan Seção 1, p Coura JR (2006). Transmission of chagasic infection by oral route in the natural history of Chagas disease. Rev Soc Bras Med Trop 39 (Suppl. 3): Coura JR, Dias JCP (2009). Epidemiology, control and surveillance of Chagas disease years after its discovery. Mem Inst Oswaldo Cruz 104 (Suppl. I): Coura JR, Viñas PA (2010). Chagas disease: a new worldwide challenge. Nature 465 (Suppl.): S6-S7. Embrapa (2012). Tecnologias para inovação nas cadeias euterpe. Embrapa Instrumentação. Brasília, DF. p Galvão C, Carvalho RU, Rocha DS, Juberg J (2003). A checklist of the current valid species of the subfamily Triatominae Jeannel, 1919 (Hemiptera, Reduviidae) and their geographical distribution, with nomenclatural and taxonomic notes. Zootaxa Gurgel-Gonçalves R, Galvão C, Costa J, Peterson AT (2012) Geographic distribution of Chagas disease vectors in Brasil based on ecological niche modeling. J Trop Med.: Hotez P. (2011) Enlarging the Audacious Goal : elimination os the world s high prevalence neglected tropical diseases. Vaccine. Dec 30;29 Suppl 4:D Rogez H (2000). Açaí: preparo, composição e melhoramento da conservação. Belém: EDUFPA. 313 p. Schenone H Jr, González H, Schenone H, Rojas A (1982) Infección experimental de ratas com Trypanosoma cruzi por vía oral. Bol Chile Parasit; 37: 2-9. Schmunis GA (2007). Epidemiology of Chagas disease in non-endemic countries: the role of international migration. Mem Inst Oswaldo Cruz 102 (Suppl. I): Silveira A. Factores de riesgo implicados en la transmisión oral de la Enfermedad de Chagas. In: Informe Final Consulta Técnica e Epidemiología, Prevención y Manejo de la Transmisión de la Enfermedad de Chagas como Enfermedad Transmitida por Alimentos (ETA); 4-5 mayo 2006; Rio de Janeiro. Pp

9 World Health Organization (2013) Tropical Disease Research. Program for research and training tropical disease (TDR). Fact sheet Nu340. Updated March Geneva: World Health Organization. Yoshida N (2006). Molecular basis of mammalian cell invasion of Trypanosoma cruzi. An Acad Bras Cienc 78: PARECER DO ORIENTADOR: O bolsista é assíduo, dedicado e responsável. O projeto tem foi desenvolvido de forma criteriosa e o bolsista tem demonstrado capacidade de planejamento, organização e iniciativa para buscar soluções das dificuldades que surgiram. DATA: 20/02/2017 Ivoneide Maria da Silva ASSINATURA DO ORIENTADOR Kelion de Almeida Costa ASSINATURA DO ALUNO 9