DEFORMAÇÃO DA CRIANÇA NEGRA PELA MÍDIA (TELEVISÃO)
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- Thalita Furtado Festas
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1 1 DEFORMAÇÃO DA CRIANÇA NEGRA PELA MÍDIA (TELEVISÃO) Cláudio Amorim Pereira 1 Resumo Esse artigo tem como objetivo falar sobre a criança negra e a mídia é, sobretudo, discutir hegemonia, ideologia, monopólio e imaginário. Na verdade trago essa concepção preliminar, por procura descobrir o que levar a televisão brasileira a retratar os afro-descendentes de maneira tão distorcida e preconceituosa. É também, objetivo deste estudo articular como a televisão deforma o imaginário da criança negra. Inicialmente como introdução apresenta um breve histórico da máquina televisiva, demonstrando como a mídia está sendo usada para manter monopólio e hegemonia. Num segundo momento, trago o problema a ser questionado, fazendo uma análise conceitual e a relação com o problema proposto. Por último trago pistas para a superação e a algumas reflexões. Palavras chaves: Criança imaginário - afro-descendente televisão. Um breve histórico televisivo. As inovações tecnológicas modificaram nossa forma de vida e a forma como nossos filhos aprenderam a passar o seu tempo. Com certeza, a mudança de hábito familiar que mais se acentua nas últimas décadas relacionadas ao momento de lazer com a família, refere-se espontaneamente a um poderosíssimo professor- eletrônico: televisão. 1 Professor da Escola Municipal Epaminondas Berbert de Castro/Salvador- Bahia.
2 2 Inventada, em 1929, a televisão ficou, inicialmente, limitada a uma pequena clientela nos EUA. Na década de 50, torna-se objeto de desejo da sociedade americana, quando passou a ser produzida e distribuída em massa. Seu crescimento foi um fenômeno cultural e social, influenciando valores e padrões de comportamento no mundo todo. No Brasil, a televisão chegou às décadas de 50 a 60. Todas as emissoras, diretas ou indiretamente, dependem do mercado e do capital estrangeiro para gerar sua programação. Culturalmente, as multinacionais e o capital estrangeiro controlam e dominam o mercado de comunicação. A televisão serviu às grandes multinacionais que puderam acelerar a americanização e comercialização de seus produtos. Ultrapassando o sentido do concreto, escamoteando o conteúdo contido em cada uma das partes de produto imaginário. No mundo globalizado, para muitas famílias, a televisão é parte integrante da formação familiar. As crianças ficam mais tempo em frente à televisão do que na escola, estando vulneráveis a sugestões ideológicas transmitidas pela TV. O fato de sentar e esperar as informações sem possibilidade de discutir o assunto leva a criança a inconscientemente internalizar padrões de condutas e valores que influenciam o seu jeito de ser, pensar e agir. Desta forma, é quase impossível lutar contra todas essas informações e valores americanizados, pelo qual o nosso país sempre esteve exposto. Mas é preciso reconhecer que muitos educadores (as), principalmente, os do movimento negro já percebem a quem serve a nossa televisão brasileira e assim, procura ampliar o grau de discussão sobre os pontos abordados em cada programa apresentado e sua mensagem subjetiva para a criança negra O problema a ser questionado. A televisão através do som e suas imagens levam mensagens ao imaginário das crianças, principalmente aquelas que ainda não sabem distinguir o real do fictício. Segundo Ribeiro (2005), uma das funções proposta para a imaginação seria auxiliar as interações comportamentais facilitando respostas ultras-rápidas, mas ainda assim adequadas ao contexto. Uma TV onde os programas demonstram papeis sociais ao negro sempre como coadjuvante e subalterno moldados de um ponto de vista europocêntrico, burguês e americanizados, isto
3 3 visto diante do que assistimos. O negro não é certamente referencia para nossas crianças que ainda estão em formação, afinal, ninguém nasce racista. São as interações sociais responsáveis pela construção de sua identidade. Ainda citando Ribeiro (2005 p.55), quanto mais detalhes e vividez forem adicionados ao objeto imaginário, maior será a ativação nervosa, aproximações à imagem mental da experiência real. Sendo assim, do ponto de vista da imaginação, as imagens constantes de negros na TV de forma depreciativa deforma a imaginação das nossas crianças de tal modo que em dado momento o discurso e as imagens entrelaçam-se e o que é fantasia torna-se para elas realidade Por uma análise conceitual. O preconceito visto como uma presença profundamente arraigada na memória de associações negativas vinculadas a pessoas de outras culturas influencia o comportamento discriminatório que se manifesta, sobretudo em situações cotidianas. O estereotipo, o racismo e a discriminação estão em justaposição com essa situação (Cruz, 1989 apud Silva, 2001). Portanto, preconceito e discriminação originam-se do racismo, sistema que afirma a superioridade racial de um grupo sobre o outro. O racismo também pode ser compreendido como imposição de valores da cultura dominante aos participantes da cultura a que pretende dominar (Cruz, 1989 apud Silva, 2001). Bem como pode originar-se de discursos sobre origens e sobre transmissão de essências através de gerações (Wade Peter, apud Silva, 1995). A utilização do racismo como meio de subordinação conduz ao conceito biológico de raça, baseado nos traços fisionômicos e na transmissão por sangue, bem como ao racialismo, ou seja, a crença na existência de raças humanas diferentes (Silva, 2001). Em uma sociedade onde todos são iguais, as posições e vantagens assimétricas na sociedade são atribuídas a uma desigualdade natural, quando na verdade são geradas por diversos mecanismos de recalque do outro que visam manter privilégios dos grupos considerados na sociedade. O preconceito e a discriminação são negados na sociedade pela defesa de privilégios dos grupos dominantes pela hegemonia das ideologias de igualdade racial e origem miscigenada de um povo que não teria condições de discriminar por suas origens raciais, pelas tentativas
4 4 de reduzir a questão racial a um problema de classe (Hasenbalg, 1983, apud Silva, 2001). No entanto eles são construídos por estereotipo de interiorização presente nas representações dos grupos ou indivíduos que se quer estigmatizar com fins de subordinação, bem como pelos estereotipo de superioridade dos grupos ou indivíduo a que se quer representar como modelo ideal de humanidade. Os estereotipo, os clichês ou estigmas são marcas corporais ou não, que definem pessoas e grupos como eternamente inferiores, no caso dos brancos e inferiores, no caso dos negros (Guimarães, id, 1998 apud Silva 2001). Existe afinal uma relação entre todos estes conceitos em que foram postos a tona, e a deformação da criança negra pela televisão? Pistas para superação. A discriminação é visível n programação das emissoras das televisões abertas, pois, nele a fala da criança negra, que na sua maioria é da classe popular, não é legitimada. A sua estética não é tida como bela, pois o seu cabelo não é tido como bom, porque não é o modelo padrão, americanizado. Enfim ser uma criança negra recebendo informações de uma televisão que existe a partir de um ponto de vista diferente, é ser excluída, desvalorizada, diminuída a todo instante. Hora, sendo a sociedade brasileira é multicultural, multirracial, os canais de TV têm o dever e a obrigação da transmissão do legado dos nossos ancestrais de forma respeitosa e verdadeira - Como é estabelecido na nossa constituição federal. A criança negra deforma a imagem de si e seus ancestrais quando recebem imagens depreciativas da raça NEGRA. 5.0 Reflexões finais A educação não pode resolver as desigualdades sociais, o desemprego, e as injustiças sociais que afligem as crianças, adolescentes e jovens que a ela recorrem. Além disso, é utópico esperar que a educação formal venha a ser a redentora da sociedade à qual serve. Vive-se num contexto social onde prevalecem valores e
5 5 práticas autoritárias, consumistas, competitivas, individualistas, onde as pessoas fecham os olhos diante das injustiças, principalmente enquanto elas não lhes tocam. Naturalmente, todos esses elementos perpassam a escola. Embora a educação pública sozinha não possa mudar a sociedade, pode dar uma contribuição significativa para a transformação social, o que exige dos educadores não ceder à onipotência nem se render à impotência. Isto implica não considerar magicamente que uma melhor educação seria a solução para todos os males da sociedade, nem se submeter à idéia da inexorabilidade e subestimar a ação de cada um na implementação das utopias coletivas. Isso porque, como disse nosso saudoso Raul Seixas (2) Sonho que se sonha só, é um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade. Os educadores, conscientes da complexidade das relações entre o sistema educacional e a sociedade, não podem se furtar ao desafio de transformar a educação em mais um instrumento na busca de uma sociedade justa e solidária e de desempenhar um papel eminentemente político, como preconizava Paulo Freire (1979) (3) tendo em vista uma educação igualitária e com qualidade. Nesta perspectiva, os educadores precisam combater e reavaliar o poder da mídia o qual, é muito grande. Sua força é parte integrante da vida global, sendo assim, consegue o domínio de padrões de condutas, de difusão de cultura dominante, de valores moldados, de opiniões prontas para a hegemonia de um grupo tido como superior. Nesse sentido, o currículo escolar deve contemplar espaços para refletir as questões cotidianas, tendo um olhar crítico sobre a programação das emissoras de televisão abertas. Entendo que os meios de comunicação fazem parte desta realidade e não podem analisar um fim em si mesmo, mas serem um instrumento 2 Raul Seixas, músico (1974) 3 FREIRE, P. Educação e Mudança. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
6 6 de análise a nossa volta. Desconstruir e ressignificar imagens do negro veiculadas na mídia, abrindo discussão com pais, alunos e professores. Oportunizando a comunidade escolar, que a televisão e os demais veículos de comunicação possam (e devam) ser usados como elementos de diálogos na família e na sociedade sobre os papeis sociais postos aos afro-descendentes no professor TELEVISIVO. Referências Bento, Maria aparecida Silva. Cidadania em Preto e Branco. São Paulo : Àtica, FREIRE, P. Educação e Mudança. Rio de Janeiro, Paz e Terra. Hasenbalg, Carlos. Discriminação e desigualdade racial no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, Ribeiro, Sidarta. Imagem é - Revista Viver mente e cérebro. São Paulo, 2005, ano XIII, nº 145, pág. 55. SEIXAS, Raul. Gita. Seixas. Raul [Compositor]. In: Prelúdio [S.I.] Philips/Phonogran CD. Silva, Ana Célia. A discriminação do negro no livro didático. Salvador: Edufba, 1995., Ana Célia. A desconstrução da discriminação do negro no livro didático. Salvador: Edufba, Site:
7 7 Constituição da republica federativa do Brasil, 1988, de 05 outubro 1988: Brasília. Disponível em site: HTTPS// Acesso em oito de Dezembro de 2006.
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