HUMANIZAR-SE NA ESCOLA: A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
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- Branca Flor Weber Barata
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1 Resumo HUMANIZAR-SE NA ESCOLA: A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL MARAFIGA, Andressa Wiedenhoft UFSM andressinhamarafiga@hotmail.com VAZ, Halana Garcez Borowsky UFSM halanagarcezborowsky@yahoo.com.br BEMME, Luis Sebastião Barbosa UFSM luisbarbosab@yahoo.com.br Eixo Temático: Educação Matemática Agência Financiadora: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior O Clube de Matemática é desenvolvido pelo GEPEMat (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática) que conta com a participação de acadêmicos dos cursos de Pedagogia e Matemática, professores universitários e da rede estadual, e alunas de pós-graduação. O grupo em questão foi criado em 2009 e desenvolve ações e pesquisas relacionadas à Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Enquanto grupo, partimos de alguns questionamentos norteadores: Para que serve a escola? Qual o papel da Educação Infantil na formação do ser humano? O que é ser humano? Na busca de respostas a estas questões nos pautamos na Atividade Orientadora de Ensino (AOE) proposta por Moura (1996), Teoria Histórico-Cultural e a Teoria da Atividade (LEONTIEV, s.d.). O nosso foco se constitui mais especificamente na educação matemática nos anos iniciais e Educação Infantil entendendo a mesma como um elemento importante para o desenvolvimento dos alunos dessa etapa escolar. O presente trabalho tem por objetivo apresentar a experiência do Clube de Matemática enquanto um espaço de ensino e aprendizagem, a partir de algumas reflexões sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) em seus elementos referentes a matemática na Educação Infantil. Buscamos, ainda, compreender em que medida o Clube de Matemática contempla tais normativas. Para isso, trazemos alguns apontamentos teóricos que orientam o desenvolvimento das ações no Clube de Matemática bem como apresentamos algumas destas ações. Foi possível verificar algumas aproximações entre os princípios norteadores do projeto e as DCNEI, no que se refere ao destaque da importância do desenvolvimento do conhecimento matemático na Educação Infantil e na valorização da promoção de ações que possam desenvolver nos alunos noções de respeito, aprendizado, solidariedade e humanização. Palavras-chave: Educação Infantil. Educação Matemática. Normativas Legais. Atividade Orientadora de Ensino.
2 13769 Introdução Para que serve a escola? Qual o papel da Educação Infantil na formação do ser humano? O que é ser humano? Questionamentos como estes, que trazemos inicialmente, norteiam as ações do projeto Clube de Matemática que vem sendo desenvolvido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática (GEPEMat), desde 2009 nos anos iniciais do Ensino Fundamental e que no ano de 2010 se estendeu à Educação Infantil. A dinâmica do Clube de Matemática 1 acontece a partir de três etapas: planejamento, desenvolvimento e análise das ações. O planejamento e a análise das ações acontece nas reuniões semanais do GEPEMat que reúne professores universitários, professores da educação básica, estudantes de pós-graduação e estudantes dos cursos de licenciatura em Matemática e Pedagogia. As ações, organizadas em unidades de ensino, são desenvolvidas semanalmente em escolas da rede publica estadual pelos futuros professores com a colaboração dos professores regentes das turmas onde ele acontece. Nesse artigo, objetivamos apresentar a experiência do Clube de Matemática enquanto um espaço de ensino e aprendizagem, a partir de algumas reflexões sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) em seus elementos referentes à matemática na Educação Infantil. Buscamos, ainda, compreender em que medida o Clube de Matemática contempla tais normativas. Inicialmente trazemos alguns apontamentos teóricos que orientam o desenvolvimento das ações no Clube de Matemática. Posteriormente apresentamos uma das unidades didáticas desencadeadas e concluímos com algumas considerações sobre este trabalho. Referencial Teórico Segundo Araújo (2010) a criança tem contato com a Matemática desde que nasce, pois, a partir desse momento, ela se insere numa sociedade da qual os números e o espaço 1 O Clube de Matemática se constitui como lócus de pesquisa do Núcleo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), coordenado pelo GEPEMat, do projeto Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: princípios e práticas da organização do ensino, financiado pelo Observatório da Educação/CAPES, desenvolvido em parceria com a Universidade de São Paulo (USP- São Paulo e USP- Ribeirão Preto) e a Universidade Federal de Goiás (UFG).
3 13770 fazem parte. Assim como qualquer outra área do conhecimento, a Matemática é parte do universo da criança mesmo antes de entrar na escola. No entanto, segundo a autora, para que a criança se aproprie do conhecimento historicamente acumulado, é necessário que o mundo adulto intervenha. Como afirma Moura (2007, p ): [...] o desenvolvimento do conhecimento matemático, nesse processo, é parte da satisfação da necessidade de comunicação entre os sujeitos para a realização de ações colaborativas. O desenvolvimento dos conteúdos matemáticos adquire, desse modo, característica de atividade. Esses conteúdos decorrem de objetos sociais para solucionar problemas, são instrumentos simbólicos que, manejados e articulados por certas regras acordadas no coletivo [...] os conhecimentos que vingam são aqueles que têm uma prova concreta quando testados na solução de problemas objetivos. Na educação escolar normalmente as aulas de matemática se reduzem a mera instrução e uma consequente obrigatoriedade da obtenção de respostas corretas. Os alunos raramente conseguem aprender as maravilhas da Matemática nem perceber a importância dela para a nossa existência em sociedade. Acreditamos, assim como Rigon, Asbahr e Moretti (2010) que o objeto da atividade pedagógica é a transformação dos indivíduos no processo de apropriação dos conhecimentos entendidos como bens culturais como forma de constituição humana. Nesse sentido os mesmos autores colocam que: A educação é o processo de transmissão e assimilação da cultura produzida historicamente, sendo por meio dela que os indivíduos humanizam-se, herdam a cultura da humanidade. As aquisições do desenvolvimento histórico do homem estão apenas postas no mundo e, para que cada nova criança possa apropriar-se das conquistas humanas, não basta estar no mundo, é necessário entrar em contato com os fenômenos do mundo circundante pela mediação dos outros homens, num processo de comunicação (RIGON, ASBAHR, MORETTI, 2010, p.27). A escola é o local onde nós, seres humanos, nos apropriamos de conhecimentos construídos historicamente pela humanidade. Mas não podemos nos esquecer de que o contexto da educação escolar coloca-se como um desafio para todos que o integram, principalmente para os professores, que são os responsáveis por organizar o ensino.
4 13771 Cabe ao professor organizar o ensino, tendo em vista que os conhecimentos elaborados historicamente pela a humanidade possam ser apropriados pelos indivíduos. [...] pensar em educação humanizadora implica considerar o trabalho como mediação necessária no processo de constituição dos sujeitos, e não apenas como fim de si mesmo (ASBAHR, RIGON, MORETTI, 2010, p. 25). O professor, nessa perspectiva, tem como objetivo criar no aluno a necessidade de aprender. A criança desde que nasce desenvolve-se como ser social e assim pode também se apropriar de conhecimentos. E o professor tem o compromisso social de permitir e mediar essa apropriação. Segundo Asbahr, Rigon e Moretti (2010, p. 28), pautados em Paro (2001) que, Permitir a apropriação do mundo humano, desde o primeiro segundo de vida, essa é a função geral da educação, que não é um fenômeno natural, pois, na verdade ela é uma das mais avançadas conquistas humanas, pois visa transcender o que se é quando se nasce, indo na direção de tudo aquilo que foi criado, pela humanidade. Entendemos a partir disso, que a educação não é simples apropriação de conhecimentos, mas também uma das vias para o desenvolvimento humano. Diante desses nossos enfoques, o Clube de Matemática tem tomado como referencia a Teoria Histórico- Cultural, a Teoria da Atividade (LEONTIEV, s.d.) e a Atividade Orientadora de Ensino (MOURA, 1996). Mello e Farias (2010) afirmam que, se é a aprendizagem que impulsiona o desenvolvimento, então a criança aprende desde que nasce. Assim, devemos tentar ver a criança como ser social e ativo na sociedade, deixando de lado a concepção de que criança é criança e tem de brincar, é a hora de aproveitar. O ingresso da criança na Educação Infantil tem como objetivo criar a sua autonomia, desenvolver como um ser na sociedade. Podemos na E.I trabalhar diversos conteúdos com a criança a partir de suas realidades. Ainda de acordo com Mello e Farias (2010) quando a inserção da criança na herança cultural da humanidade responde a necessidade de conhecimento criado por ela, melhor ela se desenvolve no que faz e aprende. Assim, o professor pode organizar intencionalmente e conscientemente as experiências propostas na Educação Infantil para provocar o encontro da criança com a cultura, favorecendo assim a apropriação das crianças da herança cultural e da reprodução pelas crianças das máximas qualidades humanas criadas ao longo da historia.
5 13772 A matemática, muitas vezes deixada de lado pelos professores, por acharem difícil ou não saberem a maneira correta de ensiná-la, deve também fazer parte da realidade dos alunos da Educação Infantil. Concordamos com Araújo (2010), quando diz que o professor deve mobilizar seus alunos no decorrer de atividades, e para que a apropriação dos conteúdos matemáticos ocorra, o professor deve acompanhar suas ações no desenvolver das atividades. Portanto, ao docente, como mediador do conhecimento produzido historicamente pelo homem, cabe o planejamento de ações em sala de aula. A organização do ensino do professor da Educação Infantil pode partir de situações que permitam à criança observar, refletir, interpretar, procurar e encontrar explicações ou soluções. Segundo Moura et al. (2010), embora o sujeito possa se apropriar dos mais diferentes elementos da cultura humana de forma não intencional, de acordo com suas próprias necessidades e interesses, é no processo da educação escolar que se dá a questão da intencionalidade social, o que justifica a importância da organização do ensino. Moura et al. (2010) ainda preconiza que o professor, como aquele que concretiza objetivos sociais objetivados no currículo escolar, organiza o ensino: define ações, elege instrumentos e avalia processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, Moura (1996) propõe a Atividade Orientadora de Ensino (AOE). A AOE é mediadora, como um modo de realização de ensino e aprendizagem, tendo como aporte teórico a Teoria da Atividade de Leontiev (s.d.). Ao se pensar na educação escolar, e consideramos aqui a Educação Infantil, Moura et al. (2010) coloca que mais importante que ensinar todo e qualquer conhecimento, é ensinar ao estudante um modo de ação generalizado de acesso, utilização e criação do conhecimento, o que se torna possível ao se considerar a formação do pensamento teórico. Nesse sentido a AOE constitui-se um modo geral de organização do ensino, em que seu conteúdo principal é o conhecimento teórico e seu objeto é a constituição do pensamento teórico do indivíduo no movimento de apropriação do conhecimento. (MOURA et al., 2010) É com base na AOE que desenvolvemos as ações realizadas no Clube de Matemática, a partir de Situações Desencadeadoras de Aprendizagem (SDA), que tem por objetivo contemplar a gênese do conceito a ser trabalhado em aula, e deve explicar a necessidade que levou a humanidade à construção do referido conceito. As SDA podem ser realizar a partir de diversos recursos metodológicos, sempre levando em consideração a atividades principais das
6 13773 crianças, no caso dos alunos da Educação Infantil é a atividade lúdica, podendo ser utilizado histórias, jogos, entre outros recursos. Desenvolvimento A Educação Infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral das crianças de 0 a 6 anos de idade, em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade, conforme artigo 29 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de Diante disso, as atividades desenvolvidas pelo Clube de Matemática (CM) tem buscado atender a essa normativa a partir de suas ações voltadas a Educação Matemática que são pensadas de acordo com as necessidades que os alunos apresentam durante as aulas. Essa perspectiva norteia a escolha do tema e as ações a serem realizadas nas AOE. Dentre estas ações, relataremos aqui uma das unidades didáticas desenvolvidas que foi denominada Abelhas. Essa unidade teve como objetivo principal discutir sobre diferenças culturais a partir do estudo da cultura africana. Além disso, visava trabalhar com as noções matemáticas de formas, quantidades e sistema monetário. Seu desenvolvimento aconteceu a partir de quatro etapas: Fantoches de Abelhas ; Bolo de Mel ; O mercado e Viagem para a África. Inicialmente apresentamos para as crianças uma animação que mostrava as características da vida de uma abelha, mais especificamente de uma abelha africana. Após o filme, cada criança recebeu círculos de papel para montar uma abelha. Mas para isso foram necessários dois momentos de discussão: sobre formas geométricas e sobre as partes do corpo de um inseto. A produção do personagem permitiu que as crianças pudessem fantasiar a vida em uma colmeia, utilizando as abelhas que haviam produzido como fantoches. A reação dos alunos nesta etapa da unidade foi de extremo entusiasmo uma vez que eles adoraram a ideia de criar as abelhas do filme, reproduzir situações do mesmo bem como criar novas. A próxima etapa foi fazer um Bolo de Mel, em sala de aula. Dividimos a turma em dois grandes grupos para que cada um fizesse o seu bolo. Esse momento, que foi de grande alegria para as crianças, foi bastante descontraído: sujaram-se de farinha, comeram a rapa do bolo, cada um mexia um pouco na bacia a mistura, lançavam energias positivas para o bolo dar certo. A dinâmica permitiu que todos participassem e ficasse na expectativa bolo assar rapidamente para que eles pudessem não só experimentassem, mas, principalmente
7 13774 comprovassem se ele tinha dado certo ou não. A realização do bolo permitiu que pudéssemos trabalhar com quantidades, a partir de sua receita. Para iniciar a terceira etapa, conversamos com os alunos sobre o que eles sabiam sobre compra e venda. Depois montamos um supermercado com produtos que provinham do mel, entregamos-lhe uma quantia de dinheiro de brinquedo para que eles pudessem comprar os produtos. Comentamos sobre o sistema monetário brasileiro e a utilização do dinheiro. Todos os alunos queriam comprar, entravam na fila diversas vezes, trocavam dinheiro com seus colegas. Alguns tinham mais conhecimento sobre o sistema monetário, outros tinham um pouco mais de dificuldade, mas após a interação entre eles, as dificuldades foram sendo sanadas. A atividade continuou na hora do lanche, no refeitório. As merendeiras concordaram em colocar preço nas comidas para que eles comprassem seu lanche, se responsabilizando em cobrar e fazer o troco. Quando elas tentavam boicotar o troco eles, com firmeza, falavam que elas estavam erradas, corrigindo-as. A quarta etapa foi a Viagem para a África, terra das abelhas. Organizamos para os alunos passagens de avião e passaporte com a foto de cada um deles. Simulamos uma viagem de avião que contou, principalmente, com a imaginação e a fantasia deles. Colocamos os mesmo sentados em fila, em assentos numerados, servimos lanches, tinha aeromoça, piloto do avião,.., tudo lembrando uma viagem de verdade. Ao começar nossa viagem, com o auxílio do projetor multimídia, mostramos imagens da África com crianças, paisagens, abelhas africanas e outros animais. Mostramos também um mapa e conversamos sobre a cultura africana, evidenciando o que ela tinha de comum e diferente da nossa. Nossa intenção era oportunizar a compreensão de que cada povo tem uma cultura que deve ser respeitada e admirada. As crianças participaram ativamente da proposta que visava, também, promover a interação entre a turma. Eles não se referiam a nós como professoras e sim como a pilota do avião e a aeromoça, nos excluindo assim dos papeis explícitos de docentes. Para encerrar apresentamos alguns desenhos que falava de abelhas, após cantamos e dançamos todos juntos uma música que havia como tema diferenças. A mesma serviu de mote para conversarmos sobre as diferenças existentes na sociedade e que, apesar de sermos diferentes, todos merecemos respeito.
8 13775 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - DCNEI (BRASIL, 2009) regem os princípios e fundamentos e os procedimentos que orientam as políticas públicas e a elaboração de propostas pedagógicas para esse nível de ensino. Segundo estas diretrizes, nos artigos 2º e 3º, a Educação Infantil é concebida como um conjunto de práticas que articulam experiências e saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, cientifica e tecnológico de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 6 anos de idade. O artigo sétimo, parágrafo 1º das DCNEI, relata que a Educação Infantil deve oferecer condições e recursos para que as crianças usufruam de seus direitos civis, humanos e sociais. O artigo nono, parágrafo quarto, apresenta como um dos eixos norteadores a recriação em contexto significativos de relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaços temporais. Ainda no artigo 9, aparece a importância do incentivo a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e a natureza. Acreditamos, que desse ponto de vista: [...] o professor não precisa saber todas as resposta, mas precisa saber buscar novas fontes de referencias para além das conhecidas pelas crianças por meio da ampliação de seu acesso a herança cultural da humanidade: conhecer as possibilidades de ampliação das experiências cotidianas das crianças por meio da cultura disponível em sua comunidade cada vez mais global e acreditar que criança, se não sabe, é capaz de se relacionar com os objetos da cultura e atribuir a eles sentidos que se aproximarão cada vez mais do conhecimento científico (MELLO E FARIAS, 2010, p. 65). O trabalho no CM busca ser sempre coletivo, uma vez que consideramos que a interação entre os sujeitos é importante para o desenvolvimento de cada um dos envolvidos. Ao desenvolvermos as atividades descritas, nos aproximamos do que diz no Artigo 9 das DCNEI, que afirmam que a proposta curricular da Educação Infantil deve ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, garantindo experiências que promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança. No decorrer do artigo 8 das DCNEI é ressaltado que o reconhecimento, a valorização, o respeito e a interação das crianças com as histórias e as culturas Africanas, afro-brasileiras,
9 13776 bem como o combate ao racismo e a discriminação, são de extrema importância. Essa orientação foi contemplada pelo CM, quando desenvolvemos uma AOE, que trabalhou a cultura africana. Essa mesma AOE trabalhou também o Sistema Monetário brasileiro, algo que está ligado ao cotidiano de qualquer ser humano, em ações de seu dia a dia, como por exemplo, ao ir ao mercado. Os alunos organizaram materiais diversos, assistiram a filmes, escutaram músicas, viram fotos relacionados à cultura africana, contemplando assim o que é apresentado no Artigo 9º das DCNEI quanto à promoção, o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de músicas, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança teatro, poesia e literatura e ainda possibilitar vivencias étnicas e estéticas com outras crianças e grupos culturais que alarguem seus padrões de referencia e de identidade do diálogo e reconhecimento da diversidade. Acreditamos que em nossa AOE as interações que os educandos tiveram com o país Africano alargaram suas referências sobre outra cultura e o modo de viver que eles têm. Consideramos de extrema importância que os alunos tenham esses tipos de atividades que explorem outras culturas, onde eles possam aprender a conviver, respeitar e a admirar desde cedo as diferentes civilizações existentes, não só fora de nosso país, mas bem como dentro do mesmo e bem perto de nós, como em espaços escolares. Afinal, isso faz parte do meio social em que vivemos, parte de um universo em que todos devem cuidar respeitar e admirar, pois não vivemos isoladamente. Algumas Considerações Nesse trabalho tivemos como principal objetivo apresentar a experiência do Clube de Matemática enquanto um espaço de ensino e aprendizagem, a partir de algumas reflexões sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Verificamos que o documento citado e os fundamentos norteadores das ações do Clube de Matemática coincidem na crença de que o conhecimento matemática se faz importante na Educação Infantil, desde que se desenvolva de forma a interagir com o cotidiano das crianças. Compactuamos também a crença da importância de promover ações que possam desenvolver nos alunos e em todos os que fazem parte do ambiente escolar, atos de respeito, aprendizado, solidariedade, humanização. Pois como diz Moura (2010), a Educação Infantil
10 13777 constitui-se como campo de possibilidades para a apropriação dos bens culturais produzidos pela humanidade. A partir da Atividade Orientadora de Ensino descrita ao longo deste trabalho, tentamos mostrar o quanto se pode incorporar a matemática ao cotidiano da Educação Infantil, e mais do que isso, pode-se promover a interdisciplinaridade recomendada pelas DCNEI. Durante a AOE trabalhamos conteúdos matemáticos ao abordarmos o Sistema Monetário e a questão de quantidades ao fazer o Bolo de Mel com os alunos. A Geografia e História são contempladas ao falarmos da África e sua cultura com slides e desenhos. A Arte pode ser vista no montar das abelhas. Todas essas ações tratam além de questões de conteúdos, questões sociais, de relação com a nossa cultura e a do outro. Da relação consigo e o outro, do respeito e do viver em sociedade. E estas questões devem ser contempladas desde a Educação Infantil, para que possamos formar cidadãos críticos perante a sociedade em que se vive, e assim, formando quem sabe um mundo melhor. Onde as pessoas possam viver em harmonia, respeitando-se. Acreditamos que é na Educação Infantil que se inicia o processo de apropriação de conhecimentos sistematicamente produzidos pela humanidade. E o professor, como mediador deste processo, tem como objetivo desenvolver ações que oportunizem a aprendizagem dos pequenos educandos. Essas ações devem priorizar os aspectos lúdicos, uma vez que os alunos encontram-se em um período onde a atividade lúdica é a sua atividade dominante. De acordo com Moura (2010), é no período da infância que se desenvolvem os principais e mais determinantes processos de desenvolvimento. E as brincadeiras, que fazem parte do lúdico, podem ajudar na linguagem infantil, na autoconfiança, autoestima, autonomia, além da criatividade e imaginação. Finalizando, destacamos que entendemos que as crianças estão inseridas em um contexto cultural em que a linguagem matemática está presente fortemente, fazendo parte de uma série de atividades humanas cotidianas e comuns a todos. A matemática está presente desde o nascimento das crianças e é na Educação Infantil que se inicia o desenvolvimento do processo formal de apropriação dos conhecimentos matemáticos elaborados culturalmente. O professor, como mediador e socializador do processo de ensino e aprendizagem, tem a o compromisso organizando o seu ensino direcionado a esse fim. REFERÊNCIAS
11 13778 ARAÚJO, Elaine Sampaio. Matemática e Infância no Referencial Curricular nacional para a Educação Infantil : um olhar a partir da teoria histórico-cultural. São Paulo: Universidade Federal de São Carlos, BRASIL. Resolução N 05/CNE/CEB. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei n 9.394/96. Brasília: MEC, LEONTIEV, Alexei Nikolaevich. O desenvolvimento do psiquismo. São Paulo: Moraes. MELLO, Suely Amaral; FARIAS, Maria Auxiliadora. A escola como lugar da cultura mais elaborada. Revista Educação, Santa Maria, RS, v.35, n.1, p , 2010, Disponível em: < Acesso em: 10 jul MOURA, Manoel Oriosvaldo de et.al. A atividade orientadora de ensino como unidade entre ensino e aprendizagem. In: MOURA, Manoel Oriosvaldo de (Coord.). A atividade pedagógica na teoria histórico-cultural. Brasília: Líber, MOURA, Manoel Oriosvaldo de. Matemática na infância, In: MIGUÉIS, Marlene Rocha; AZEVEDO, Maria da Graça (Org.). Educação Matemática na infância: abordagens e desafios. Vila Nova de Gaia: Gailivro, MOURA, Manoel Oriosvaldo de (Coord.). Controle da variação de quantidades. Atividades de Ensino. São Paulo: USP, RIGON, Algacir José; ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira; MORETTI, Vanessa Dias. Sobre o processo de humanização. In: MOURA, Manoel Oriosvaldo (Coord.). A atividade pedagógica na teoria histórico-cultural. Brasília: Líber, 2010.
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