CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CCHLA
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- Daniel Teves das Neves
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CCHLA TEMA; A FRAGILIDADE DO SISTEMA REPRESENTATIVO DOS CORONÉIS AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS. Discente: Raphaella Ferreira Mendes. João Pessoa, Dezembro de 2015
2 Ao analisar a história política econômica do Brasil fica evidente o domínio patriarcal, ou seja, a partir de uma figura masculina como dominadora da família, trabalhadores, decidindo seus salários, como toda uma sociedade. Nessa observação o domínio rural se torna presente nessa construção desde a partição das capitanias hereditárias, com a exploração do Pau-Brasil, como posteriormente à exploração de produtos como a cana-de-açúcar, ouro e café servem para descrever o inicio da formação do Estado Nacional brasileiro. No contexto mundial com a eclosão da independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa ajudam a fortalecem uma perspectiva liberal, de que o sujeito deve ter uma liberdade individual e igualdade perante todos, marcam também o início do período de industrialização. Esses fatos servem de influência para o surgimento de movimentos sociais brasileiro contra a metrópole portuguesa como ficou conhecida a Inconfidência Mineira, resultando a independência do Brasil em A perspectiva política democrática na Primeira República brasileira se contrastava com um sistema econômico dominado por produtores rurais, que na imagem de grandes coronéis estrelaram novelas e livros como autor principal desse enredo, ou seja, tomado como uma figura de um patriarca forte e dominante da época. Mas diferentemente do esperado, Victor Nunes Leal em seu livro Coronelismo, Enxada e Voto, contribui para desconstruir esse imaginário de senhor mandante, ou uma decadência do coronel ao logo do sistema coronelista encontrado na primeira republica. Coronelismo, enxada e voto com o titulo original O município e o regime representativo no Brasil, foi publicado em 1949, o texto escrito orginalmente foi feito para a defesa da titularidade da cátedra de Ciência Política na Faculdade Nacional de Filosofia, no Rio de Janeiro. Apontando alguns motivos para a escolha do tema Jose Murilo de Carvalho sugere que a experiência de Nunes na cidade de onde nasceu, Carangola Minas Gerais, a partir de disputas políticas entre seu próprio pai, que era fazendeiro, em relação à política local, ou seja, uma forma de estudar a si mesmo. A tese de Nunes preocupava-se em observa as relações de poder que se encontrava no município daquela época, demonstrando a dependência do município perante aos estados e união, como também a baixa comunicação entre o município e o restante do país. Ou seja, falta de autonomia dos municípios foi o que assegurou a permanência do coronel nessa relação de poder.
3 Ao estudarmos a autonomia municipal no Brasil, verificamos, desde logo, que o problema verdadeiro não é o de autonomia, mas o de falta de autonomia, tão constante tem sido, em nossa história, salvo breves reações de caráter municipalista, o amesquinhamento das instituições municipais. NUNES, 2012, P.68 Outro ponto que o autor destaca é a fragilidade da implantação de um sistema representativo em meio ao contexto social em que a população rural, onde a maior parte da população se encontrava, dependia do proprietário rural. Nesse sentido concentração do eleitorado na zona rural e pequenas cidades beneficiou ao coronel uma moeda de troca com o Estado. A dependência de empregados, meeiros, agregados, assegurava ao coronel a ligação do voto desse contingente de pessoas ao governo. Segundo Nunes esse sistema de troca característico do coronelismo, se concentrava numa reciprocidade desigual de favores, enquanto grande parte dos recursos do município era repassada para União, cerca de 90%, essa política de trocas e favores configurava a dependência do município, demonstrando que o coronel é o elo fraco pela necessidade dos favores e dinheiro advindo do Estado para conseguir assegurar o seu curral eleitoral. Em 1989 com a política dos Governadores, implantada pelo presente Campos Sales, que tinha como objetivo repassar o poder regional para as principiais oligarquias da época, e que na figura do governador tinha livre arbítrio para atribuir cargos e recursos do governo, dando ao coronel o poder de chefe local da região. Destacando que nesse sistema o maior poder político se concentrava nos governadores pelo poder de indicar e concentrar recursos na mão de poucos. O sistema eleitoral republicano consiste no sufrágio universal, em que o é concedido o direito de voto para todos os indivíduos que se consideram maduro o suficiente para praticar o ato de votar. Em contra partida, no Brasil da época, não existia uma justiça eleitoral que fiscalizasse todo o processor eleitoral. Com isso o autor observa a formação de currais eleitorais comandados pelo chefe local na figura coronel, é concebido o voto de cabresto que é uma simbologia da dependência da população votante em relação aos favores concedidos pelo coronel, seja própria sobrevivência, ou até mesmo de forma truculenta e coercitiva.
4 Não obstante a evidente deficiência dos critérios aproximativos adotados, não será difícil, diante de dados tão impressionantes e referentes à população ativa, avaliar a situação de dependência da gente que trabalha no campo, já que, em termos de generalização, pouca diferença existe entre a miséria do proletário rural e a do parceiro e do pequeno proprietário. Não há, pois, que estranhar os votos de cabresto. (NUNES, 2012,) P.56 A perseguição política nesse contexto acontece tanto como forma de coerção daqueles que dependem do coronel, como também a qualquer oposição que se forme contra o governo local. Com esse principio os coronéis responsáveis por determinado local não necessariamente seriam os mesmo, ou seja, a disputa entre coronéis também existia e com isso apenas quem tivesse mais poder poderia realizar as eleições e se beneficiar com os favores do governo. A figura do coronel como representante do poder regional tem como objetivo não só de controlar votos, mas também de manter a estabilidade local. Aproveitando-se do significado do Capitão-Mor, no tempo de Colônia, que com a necessidade de garantir a ordem, Portugal, organiza uma instituição com função de repassar o poder do Estado ao poder privado pela incapacidade econômica da metrópole, com isso era designado á tarefa de capitães militares para o comandante com mais recursos para que manteasse a tropa com armas, vestimenta. Nesse sentido pode ser observada a perpetuação do poder privado na figura do coronel de militar sem patente. Apontando como fator sociológico partir da década de 20 a 30 a disputa eleitoral se intensifica pela migração da população rural para zona urbana, ou seja, o Estado passa a ser aquele Estado Burocrático descrito por Weber em que a administração precisa ser efetiva e segura no sentido de assegurar o capital. Nesse processo de mudança o compromisso contratual de dependência do morador rural com o coronel muda agora o pacto se sela por um ato personalista na figura de um candidato, sem olhar seu partido ou filiações políticas. E o que pode acarretar em outras discussões no cenário politico contemporâneo. Mesmo em outras circunstancias distintas da Primeira República ainda existe algum tipo de ligação da utilização do poder público, seja manifesta em cabide de emprego público, como também no paternalismo e filhotismo descrito por Nunes.
5 [...] o paternalismo, com a sua recíproca: negar pão e água ao adversário. Para favorecer os amigos, o chefe local resvala muitas vezes para a zona confusa que medeia entre o legal e o ilícito, ou penetra em cheio no domínio da delinquência, mas a solidariedade partidária passa sobre todos os pecados uma esponja regeneradora. A definitiva reabilitação virá com a vitória, porque, em política, no seu critério, só há uma vergonha: perder. Por isso mesmo, o filhotismo tanto contribuiu para desorganizar a administração municipal. (NUNES, 2012, P. 60) Nessas novas configurações o coronelismo pode ser confundido com novos fenômenos decorrente da má do poder público, sejam eles o mandonismo, clientelismo, mas fazem parte de um configuração diferente, e que Jose Murilo de Carvalho ira discutir em seu artigo Mandonismo, Coronelismo e Clientelismo: uma discursão conceitual. O mandonismo segundo o autor não é um sistema político e sim uma característica da política tradicional brasileira, ou seja, quando um determinado grupo exerce um poder sobre a população impedindo a ter livre acesso ao mercado e a politica caracterizado como mandonismo, para Leal o coronelismo seria um momento particular do mandonismo. O autor continua com a diferenciação do coronelismo e o clientelismo, descontruindo uma confusão que tem sobre os dois termos. O clientelismo na literatura internacional é um tipo de troca entre atores políticos envolvendo concessão pública, empregos, benefícios fiscais, isenções, em troca de apoio politico, mas o autor ressalta que o clientelismo é mais abrangente que isso, e que o coronelismo envolve trocas de natureza clientelista. Segundo o autor o termo coronelista vem sendo usado de forma erronia por outros autores que pensam no meio urbano nas fases recentes da história, tentando caracterizar coronelismo o que é clientelismo. Nesse sentido no clientelismo não necessita da figura do coronel. Em contra partida segundo Victor Nunes Leal existe algo de positivo nessa analise que seria o fortalecimento poder público, prevendo que com o aperfeiçoamento da legislação eleitoral, como também a transição da população rural para zona urbana, sirvam para acabar com o coronelismo. Com isso o rompimento do pacto coronelista se da a partir da revolução de 1930, nessa perspectiva Leal ainda afirma que a configuração politicaeleitoral coronelista não impediu o avanço da democracia, o que se trás é a sequela desse sistema no sentido das relações sociais e culturais na vida do brasileiro.
6 O fortalecimento do Estado destacado por Nunes à medida que corresponde ao enfraquecimento do coronelismo, essa decadência é imprescindível para a compreensão do 'coronelismo' porque, na medida em que se fragmenta e dilui a influência 'natural' dos donos de terras, mais necessário se torna o apoio do oficialismo para garantir o predomínio estável de uma corrente política local. O autor analisa as atribuições municipais ao longo da história brasileira, desde o período colonial até a Constituinte de A partir da extrema concentração de atribuições das Câmaras Municipais na fase colonial, a tendência geral tem sido a progressiva perda de atribuições por parte dos municípios. A progressiva perda de atribuições por parte dos municípios permanece após a revolução de 30, com a total submissão dos municípios durante o Estado Novo. A relativa reversão dessa tendência ocorre na Constituinte de 1946, caracterizada por um enternecimento municipalista, compensado pela crescente intervenção econômica do Estado no Brasil, que retira do município algumas de suas atribuições. Nesse sentido após a mudança constituinte o município a partir de 1988 passa a ter sua parte na repartição tributaria com base na tabela 1. Tabela 1. Repartição da receita tributária disponível por nível governo ANO CTB(%PIB) Arrecadação direta (%) Arrecadação disponível (%) União Estados Munic. União Estados Munic ,43 71,7 25,6 2,7 60,1 26,6 13, ,79 67,0 29,6 3,4 58,9 27,6 13, ,24 63,4 31,2 5,4 54,7 29,6 15, ,01 66,1 29,01 4,8 57,0 28,1 14, ,78 69,7 26,6 4,7 57,8 26,4 15, ,41 66,0 28,6 5,4 56,2 27,2 16, ,71 68,1 26,9 5,0 57,0 26,0 17, ,36 66,7 27,6 5,7 55,8 26,3 17, ,85 67,6 26,7 5,8 57,1 25,6 17, ,94 68,4 26,0 5,6 57,6 25,2 17,2 Fonte; Oliveira(2007). Com base nos dados do IBGE Nota-se a partir da analise da tabela que a participação do município aumentou passando de 13,3% em 1988 para 17,2% em A causa da mudança decorre principalmente do Fundo de Participação dos municípios que favorece aos pequenos e
7 pobres municípios com a distribuição com base na renda per capita. Ajudando a retomar a sua autonomia, não por completo, pois ainda existe uma dependência em relação a União e aos estados. E partindo para discursões mais contemporâneas a respeito da frágil sentido de representação demonstrado na Primeira República, partindo do principio básico do sistema democrático ou poliarquia desenhado por Robert Dahl, necessariamente, para a construção do sistema, é necessário à igualdade de voto, assim como a participação efetiva, ou seja, todos os membros devem reconhecer a opinião dos outros, e ser possível um entendimento sobre as políticas públicas e suas consequências, e a inexistências desses fatores principais não se caracterizaria uma democracia. Enxergando nossa democracia atual como nova, com o fim do período militar em 1985, pode demonstrar ainda algumas lacunas no modo representativo e democrático. Autores como Argelina Figueiredo e Fernando Limongi, ajudam a entender a polarização entre o executivo e legislativo, na nova conjuntura politica instaurada a partir da redemocratização. Pretendem descontruir uma ideia inicial de que as bases do sistema presidencialista combinados com um baixo número de partidos institucionalizados poderiam gerar a inoperância do Estado. Sendo justificado pela lógica de que os mandados dos parlamentares não teriam vínculo desempenho do presidente, eles poderiam votar em pautas sem pensar no dano para a nação. Dando continuidade a um sistema político em que o presidente era fraco contra um legislativo comandado por partidos sem disciplina. Em contra partida desse diagnóstico inicial, os autores, observam que os poderes presidenciais foram aumentados, como também os recursos legislativos dos partidos foram ampliados pelo regime interno das casas. Questionando, como explicar, nesse período, as matérias que foram apreciadas pelo legislativo tiveram um número de aprovação tão superior. Segundo os autores, é explicado pelo fato de que os trabalhos legislativos são altamente concentrados e dependentes das ações dos partidos. Ou seja, a capacidade coercitiva do partido de influir na decisão dos seus membros, seja por benefícios dentro do partido, como estar na lista de nomeações, nesse sentido, desempenharem uma função dentro do partido para que possa ajudar na aprovação de seus projetos, como também, em contra partida, por um lado negativo as sansões que podem levar por não seguirem, seja negar dinheiro para campanha ou negar a lista partidária, é
8 fundamental para que se perpetue uma disciplina partidária. Problematizando essa prática, como isso pode influir na representatividade, ao modo que não somente dependentes aos eleitores os parlamentares tem dependência com o partido e suas decisões. Dando continuidade a essa lógica, os parlamentares não conseguem representar seu eleitor pelas diretrizes da casa ou essas práticas politicas que uma pequena maioria domina no processo legislativo e que a ação individual acaba por não conseguir êxito nessa dinâmica. Logo a ação coletiva que não necessariamente representa os interesses comuns acaba por adquirir poderes de decisão importante. Como também, um poder de barganha mais valioso com o executivo. É um problema apontado por Bernardo Sorg. A necessidade de arrecadação de votos passou a implementar, nos discursos políticos, os mais diversas demandas das classes sociais, que ao final esse discursos vão perder valores e descontentemente por motivos processuais, e os indivíduos acabam por transferir a confiança para outras instituições diferente daquela que deveria representar. Segundo uma teoria mais aceita é de que a as instituições políticas estão adoecidas e consequentemente a melhor maneira reverter a situação seria por meio de reformas. Dentro do sistema político, o consenso em relação ao reconhecimento de voto compulsório, uma fragilidade no comportamento do parlamentar, como também a problemática do financiamento privado de campanha, para redimir esses problemas seria necessário à troca do regime presidencialista por um parlamentar, a mudança do sistema proporcional em relação ao majoritário, e que existisse o financiamento público de campanhas. A partir dessas reflexões é possível perceber que as instituições politicas brasileira na nova ordem democrática, como também a participação popular na Primeira República, possui várias lacunas em quanto à ideia de democracia ideal descrita em Dahl. A pequena participação popular em alguns aspectos da vida política pode levar uma desarticulação com o próprio princípio democrático, ou seja, como o sociólogo Zygmound Bauman irá ressaltar que a participação popular é um fator de grande importância na composição da política democrática, uma forma de colocar em prática seus anseios e dificuldades. Ao mesmo tempo em que os canais para participação popular seja ampliação, para que ocorra uma construção de equidade, e uma inclusão dos grupos sociais.
9 BIBLIOGRAFIA a) LIVROS DAHL, Robert A. Sobre a democracia. Brasília: Editora Universidade de Brasília, FIQUEIREDO, Argelina Cheibud; LIMONGI, Fernando. Executivo e Legislativo na nova ordem constitucional. 2 ed. Rio de Janeiro: FGV, (capitulo1: Bases institucionais do presidencialismo de coalizão) FORJAZ, Maria Cecília Spina. Coronelismo, enxada e voto (O município e o regime representativo no Brasil) Por Victor Nunes Leal. São Paulo, Editora Alfa-Omega, 1976 LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto. 7 ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, OLIVEIRA, F.A. Teorias da Federação e do federalismo fiscal: o caso brasileiro. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, SORJ, Bernardo. A democracia inesperada: cidadania, direitos humanos e desigualdade social. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, b) ARTIGO DE PERIÓDICO CARVALHO, José Murilo de. Madonismo, Coronelismo, Clientelismo: uma discursão conceitual. Rio de Janeiro: Dados, vol40, nº 2, 1997 c) COLETÂNEA ANDRADE, Luis Aureliano Gama de. SATOS, Manoel Leonardo. O município na política brasileira: revisitando Coronelismo, enxada e voto. In: AVELAR, Lúcia. CINTRA, Antônio Octávio (Org). Sistema Político Brasileiro: Uma introdução. 2º ed. São Paulo: UNESP, 2007 LAMOUIER, Bolevar. Coronelismo, enxada e voto. In: MOTA, Lourenço Dantas (org). Introdução ao Brasil: um banquete o trópico. São Paulo: SENAC São Paulo, 1999.
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