PODER LOCAL E PARTICIPAÇÃO. Aline Vons Miranda (PIBIC/Fundação Araucária-UNIOESTE), Osmir Dombrowski (Orientador),
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1 PODER LOCAL E PARTICIPAÇÃO Aline Vons Miranda (PIBIC/Fundação Araucária-UNIOESTE), Osmir Dombrowski (Orientador), osmirdom@yahoo.br Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Ciências Humanas e Sociais/Toledo, PR. Área: Ciência Política / Subárea: Poder Local. Palavras-chave: Participação cidadã, instituições participativas, poder local. Resumo: O sistema político democrático brasileiro adquiriu constitucionalmente a partir de 1988 uma forma de organização híbrida, ou seja, uma combinação entre formas de representação e de participação popular. Buscando encontrar os reais termos em que essa questão se coloca, a pesquisa vem se delineando a luz das problemáticas existentes entorno tanto do conceito de representação e principalmente quanto ao conceito de participação levantados ao longo desses vinte e dois anos de experiências do modelo constitucional. Introdução O estudo dos mecanismos institucionais de participação direta apóia-se na crescente insatisfação popular com a representação tradicional e na necessidade de se avaliar as inovações institucionais advindas do processo constituinte de Propõem-se portanto tomar a questão da representação tradicional como ponto de partida para analisar os elementos que a tornam insuficientes para responder às demandas sociais e minimizar as desigualdades sociais. A proposta política do modelo participativo, de superação da dicotomia existente entre democracia e inclusão social é uma forma de ampliação das possibilidades de constituição de um cidadão ativo, cidadão este que antes se integrava ao sistema político apenas no momento eleitoral. Considerando os mecanismos de participação o foco principal é voltado para os conselhos gestores que se apresentam como um espaço onde a sociedade civil e o Estado compartilham o poder constituinte, além de apresentar uma função de controle, de retirada do monopólio da ação, do Estado e dos partidos políticos. Dado este aparente quadro consolidado de inclusão política é necessário avaliar os reais termos que se apresenta a participação cidadã na democracia. Trata-se então de abordar tanto a questão da efetividade dos conselhos quanto sua eficácia e legitimidade. Revisão de literatura
2 O projeto está sendo realizado a partir de estudos bibliográficos sobre temas decorrentes do modelo democrático brasileiro, englobando questões como representação, sociedade civil, instituições participativas e poder local. Para isso recorremos as definições sobre a problemática da representação e instituições participativas dado por Leonardo Avritzer, sobre pluralização da representação de Adrián Gurza Lavalle,Peter P. Houtzager e Graziela Castello. Ao tocante sobre instituições participativas tomamos Celene Tonella e fazendo uma discussão sobre cidadania ativa Maria Victoria Benevides. Resultados e Discussão A representação é o marco do modelo democrático brasileiro e seu aspecto fundamental passa pela noção popular de existir uma correspondência dos atos dos representantes com a vontade e interesses dos representados. A via que confere legitimidade ao processo é a eleição, assim se estabelece as definições quanto a quem representa que, mediante a eleição é autorizado a representar. Entretanto as eleições mesmo que legalmente instituídas e legitimadas através do voto não significam garantia de que haverá uma correspondência com a vontade e os interesses do representado. A grande crítica atual ao modelo representativo é a forma vaga e pouco responsiva que os representantes assumem em relação aos representados. Há pouca confiança nos parlamentares e nas instituições democráticas frente à falta de responsabilidade efetiva dos representantes perante o povo. Soma-se a falta de confiança com a ausência de mecanismos jurídicos efetivos para fazer valer a responsabilidade dos representantes e obtêm-se um desgaste da relação do cidadão com os mecanismos e agentes democráticos. Existe claramente uma tensão caracterizada pela dicotomia existente entre a autonomia do representante e a vontade do representado, que infalivelmente gera uma desconexão entre eleitos e eleitores. É visível a cristalização do sistema democrático representativo em apenas um momento, a eleição. Torna-se cristalizada ao passo que limita a função da representação apenas ao momento do processo eleitoral e cria-se uma função prática da democracia apenas nesse circuito tradicional da política. Cria-se então uma falsa noção que o papel que cabe ao cidadão é apenas no plano eleitoral. Relevando as diferenças teóricas é comum encontrar nas mais diversas bibliografias sobre o tema um ponto em comum: o modelo representativo possui limites e falhas. Sobre os dilemas da representatividade propõem-se uma reforma no modelo democrático para que ele se torne mais responsivo a partir de um maior controle social, caracterizado pelo aumento da representação não-eleitoral, pela pluralização dos atores sociais que exercem um papel de representantes da sociedade civil como forma de levar as reais demandas da sociedade ao poder público. O advento de novos formatos participativos assinalam uma redimensão da relação entre Estado e sociedade civil. Essa nova relação se apresenta como uma forma na qual o Estado agiria em co-gestão com a
3 sociedade civil na criação de políticas públicas através de canais institucionalizados de participação cidadã. A criação e aperfeiçoamento desses canais institucionais de participação popular, previsto na Constituição, propiciam a formação de um cidadão ativo, com recursos de criação, transformação e controle sobre o poder, portanto se tornam uma clara alternativa as limitações apresentadas pela democracia representativa. A Constituição de 1988 incorpora duas formas principais de participação, uma primeira seria a participação direta através da expressão da soberania nacional por meio de plebiscito, referendo e iniciativas populares, a segunda forma seria através da participação a nível local. Contudo, mesmo perante esses canais de participação consolidados constitucionalmente a sociedade civil ainda encontra pouco espaço efetivo para a participação e manifestação. No Brasil democrático tanto o referendo quanto o plebiscito foram minimamente utilizados, a experiência de 1993, com o plebiscito sobre a forma de governo e em 2005 com o referendo sobre o desarmamento assinalam o pouco uso e viabilidade que esses instrumentos apresentam. A iniciativa popular apresenta entraves ainda mais visíveis, segundo o artigo 61 da Constituição de 1988 o projeto deve ser apresentado a Câmara dos Deputados e deve ser subscrito por no mínimo um por cento do eleitorado nacional distribuído por, pelo menos cinco estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles, geralmente dado à dificuldade de realização a iniciativa popular acaba sendo diluída. É através da participação a nível local que a sociedade civil encontra maior espaço para efetivamente participar. Os conselhos gestores são uma das principais experiências participativas, uma vez que sua articulação abrange os mais variados níveis, municipal, estadual e federal nas mais diversas áreas, como educação, saúde, moradia, cultura, meio ambiente, assistência social dentre outros. A sociedade civil tem a oportunidade de lançar várias frentes com diversos tipos de atuação, dando vazão a pluralidade e diversidade de demandas que existe em seu interior através da participação nos conselhos locais. O conselho gestor é uma forma que permite que segmentos da sociedade civil tenham acesso ao governo e é uma oportunidade para que se constituam como sujeitos democráticos com o propósito de exercerem influência sobre a formulação e implementação de políticas públicas locais. Os conselhos são considerados um dos principais resultados das recentes reformas municipais, que têm buscado instaurar um regime de ação política de tipo novo, com uma maior interação entre o governo e a sociedade (GOHN, 2001, p. 83). No entanto a efetividade destes conselhos tem sido condicionada por inúmeros fatores. Trata-se de verificar se há autonomia na formulação e sugestão de propostas por parte dos atores sociais, autonomia no sentido de verificar se não existe uma imposição unilateral de interesses temáticos por parte do Estado. Trata-se também de analisar se os conselhos estão atendendo a dinâmica deliberativa em suas diversas etapas: proposição, debate, encaminhamento e decisão e se nessas etapas são garantidas a participação efetiva da sociedade civil. Nesse sentido é necessário avaliar
4 até que ponto tais fatores condicionam o funcionamento desses canais levando em conta que a simples existência da estrutura dos conselhos em si não garante que tais canais sejam realmente abertos para a participação e muito menos que seja dotado de eficácia e legitimidade em suas ações. Conclusões A proposta do modelo participativo é construir uma democracia da mais alta qualidade a partir do âmbito local. Nessa esfera os conselhos municipais surgem como uma referência onde a sociedade civil encontra espaço para propor políticas públicas juntamente com o Estado. No entanto é comum encontra uma negação do Estado em atuar de forma conjunta, caracterizada na constante centralidade na formulação de pautas dos conselhos. A melhoria nos resultados de um processo participativo como o conselho gestor é condicionada por diversos fatores o que torna pertinente para a vitalidade de um processo participativo que haja reconhecimento das ações do conselho por grupos políticos e, sobretudo sociais. Em geral os processos que surgem da iniciativa popular geram maior confiança e tem maiores possibilidades de ser processos bem sucedidos e com maiores níveis de participação. Um bom processo deve oferecer aos participantes todas as informações necessárias para poder opinar e decidir, com isso a capacitação dos participantes também é fundamental. Um processo participativo para fortalecer a cidadania deve contribuir para gerar uma cultura política participativa entre os próprios participantes para que o devido controle e eficácia dos instrumentos participativos aconteçam. Referências AVRITZER, L. Sociedade civil, instituições participativas e representação: da autorização à legitimidade da ação. Dados [online]. 2007, vol.50, n.3, pp AVRITZER, L.. Reforma Política e Participação no Brasil. In: Reforma Política no Brasil, Avritzer L.; Anastásia F (org.), Ed. UFMG. Belo Horizonte, 2006, Vol.1,35-43 BENEVIDES, M. V. de M. A Cidadania Ativa: referendo, plebiscito e iniciativa popular. São Paulo: Ática, 1996 GOHN, M. da G. Conselhos gestores e participação sociopolítica. São Paulo: Cortez, (Coleção Questões da nossa época, v. 84). LAVALLE, A.G.; HOUTZAGER, P.P.; CASTELLO, G. Democracia, pluralização da representação e Sociedade Civil. Lua Nova, CEDEC. 2006, 67.
5 TONELLA, C. Políticas Urbanas y participación democrática em Brasil: El Consejo de las Ciudades. Tempo da Ciência.2008, vol.15, n.29
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