A MATEMÁTICA E O TÊNIS DE MESA BRUNO PHELIPE PIRES DA SILVA¹, BEATRIZ BONUCCI², FERNANDA MARQUESI RODRIGUES DOS SANTOS³

Transcrição

1 A MATEMÁTICA E O TÊNIS DE MESA BRUNO PHELIPE PIRES DA SILVA¹, BEATRIZ BONUCCI², FERNANDA MARQUESI RODRIGUES DOS SANTOS³ ¹ Aluno do curso de Licenciatura em Matemática, IFSP, Campus Bragança Paulista, brunopirakaia@hotmail.com ² Aluna do curso de Licenciatura em Matemática, IFSP, Campus Bragança Paulista, biabonucci@hotmail.com ³ Professora coordenadora da Escola Estadual Cásper Líbero, Bragança Paulista, fermarquesi@yahoo.com.br RESUMO: Neste trabalho apresentaremos uma atividade que foi desenvolvida na Escola Estadual Cásper Líbero, localizada na cidade de Bragança Paulista. O seguinte projeto compreende a interação de um componente curricular (Matemática) e um jogo (Tênis de Mesa), com objetivo de contribuir com a compreensão dos conteúdos matemáticos e apresentá-los de forma dinâmica, além de favorecer a interação entre os/as alunos/as. No desenvolvimento do projeto, percebemos o interesse e o envolvimento dos/as alunos/as, o que ajudou em grande proporção o andamento do projeto. PALAVRAS-CHAVE: Tênis de Mesa; Matemática; jogo INTRODUÇÃO Nós, alunos do curso de Licenciatura em Matemática, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, campus Bragança Paulista, em parceria com a Escola Estadual Cásper Líbero, na qual realizamos o estágio, elaboramos um projeto com o intuito de contribuir com a instituição. Após algumas conversas com a diretora, coordenadora, professores/as, alunos/as e após observações e reflexões sobre a realidade escolar, decidimos por desenvolver um projeto que se constitui em uma atividade na qual há união entre conteúdos matemáticos com um jogo. Optamos por realizar uma atividade envolvendo esse componente curricular, pois, nos foi relatado, pelos/as professores/as, algumas dificuldades dos estudantes com os conteúdos de Matemática. Segundo Fiorentini e Miorim (1990, p.1), muitas são as dificuldades encontradas pelos/as alunos/as e professores/as no processo ensino-aprendizagem da Matemática. Por vezes o/a aluno/a não consegue entender aquilo que estão lhe ensinando, sente dificuldade em utilizar o conhecimento adquirido e não conseguem efetivamente ter acesso a esse saber. Desse modo, entendemos que a utilização de uma atividade lúdica (jogo) associada à Matemática despertaria o interesse dos estudantes e contribuiria com a formação dos mesmos. A atividade escolhida para contemplar esse projeto foi o Tênis de Mesa. Decidimos por esse jogo, pois a escola já possuía duas mesas de Tênis de Mesa no pátio constantemente utilizadas pelos/as

2 alunos/as durante o intervalo. Além desses fatores, poderíamos contemplar, através do jogo, os conteúdos: adição, subtração, multiplicação, números múltiplos, números pares e números ímpares. MATERIAL E MÉTODOS O projeto foi desenvolvido durante um semestre e contou com a participação de 100 alunos. Houve um sorteio para a divisão de 25 grupos, compostos por 4 alunos. Em um dia, houve jogos para 4 grupos, cada grupo contou com 6 jogos, ou seja, todos integrantes do grupo jogaram entre si e, desse grupo, o primeiro e segundo lugar foram diretamente classificados. O terceiro lugar disputou a repescagem e o último foi desclassificado. Após todos os grupos terem jogado, tivemos o total de 50 alunos/as classificados e 25 alunos/as para a repescagem. Desses 25, apenas 10 foram classificados, totalizando 60 alunos/as para a próxima fase. Na segunda fase, tivemos 15 grupos compostos por 4 alunos/as. Essa fase ocorreu da mesma forma que a primeira. Assim, tivemos o total de 30 alunos/as classificados e 15 alunos/as para a repescagem. Desses 15, apenas 2 foram classificados, totalizando 32 alunos/as para a próxima fase. A terceira fase, foi composta por 8 grupos de 4 alunos/as. Nessa fase classificou o primeiro e o segundo lugar de cada grupo, obtendo um total de 16 alunos/as. A quarta fase foi composta de 4 grupos de 4 alunos/as, ocorrendo da mesma forma como a fase anterior, finalizando com 8 alunos/as para a próxima fase. Obtivemos, na quinta fase, 2 grupos de 4 alunos/as, e da mesma forma, foram classificados 4 alunos/as para a final. Por fim, na sexta e última fase, foi disputado o primeiro, segundo, terceiro e quarto lugar. Para essa atividade não foi necessária uma grande infraestrutura, como um ginásio ou sala específica, mas apenas de um espaço (no caso dessa escola, o pátio), duas raquetes, uma bola, uma mesa de tênis de mesa, uma rede e materiais como papel, lápis e borracha para que os/as alunos/as pudessem fazer as anotações e operações. DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO Todas as partidas, durante o desenvolvimento, tiveram conteúdos matemáticos incorporados, desenvolvendo, assim, o raciocínio lógico matemático dos/as alunos/as, a partir dos seguintes conteúdos: Números múltiplos (um/a jogador/a passava o saque para seu adversário nos números múltiplos de dois, e o saque voltava para ele/ela nos números múltiplos de quatro); Operações básicas (o/a jogador/a no decorrer das jogadas teve que fazer operações de adição, subtração, multiplicação e divisão dos pontos obtidos para saber se classificava para a outra fase ou não); Números pares e ímpares (além do sorteio de quem começava a jogar ocorrer no jogo de par ou ímpar, o/a jogador/a precisava saber que, quando o placar marcava dois números pares ou dois

3 números ímpares (exemplos: 2x4 ou 5x7), o saque seria do adversário e quando marcava um número par e um número ímpar (exemplos: 5x8, 7x10) o saque continuava com o último que sacou); Ao jogar, os/as alunos/as não só estiveram em contato com os conteúdos citados, mas também desenvolvem a coordenação motora, reflexos, equilíbrio, velocidade de raciocínio, habilidade, atenção, concentração, direcionalidade, afetividade, interação (nos foi informado que havia um grande número de alunos/as que possuíam dificuldade na interação com novos colegas), desenvolvimento cognitivo, moral e controle emocional. Além dos conteúdos matemáticos e os benefícios citados, a atividade lúdica pode compor este processo de comparação de forma agradável, divertida e em um clima de camaradagem. Quando a criança joga, ela percebe suas possibilidades e as dos companheiros (DOHME, 2003, p.125). Observamos que durante as partidas, muitos expectadores, e até mesmo os adversários, queriam ajudar os/as colegas participantes com as contas, na contagem de pontos ou na troca de saque. Conforme citado anteriormente, durante os intervalos do Ensino Fundamental, foi observado que um grupo muito grande de alunos/as utilizava as duas mesas de Tênis de Mesa e se divertiam muito. Quando a proposta do projeto foi aceita pela escola, os alunos/as ficaram muito animados/as e ansiosos/as para o início, mesmo sabendo que conteúdos matemáticos seriam trabalhados durante o jogo. Ao desenvolver dos jogos, os/as alunos/as que foram desclassificados/as perguntaram quando haveria uma nova oportunidade, sem demonstrar decepção e desistência, pois deixamos claro, através da apresentação do projeto, que o objetivo do jogo não seria a competição, e sim a relação com alguns conceitos do componente curricular. Da mesma forma, os/as alunos/as classificados/as também perguntaram sobre os próximos jogos das fases seguintes. Vale destacar, que o jogo não se tratou de uma competição, não queríamos mostrar que o vencedor do jogo seria melhor e superior a todos os outros. Isso foi muito trabalhado e observado, pois uma derrota poderia causar diversas decepções. Ao aluno deve ser dado o direito de aprender. Não um aprender mecânico, repetitivo, de fazer sem saber o que faz e porque faz. Muito menos um aprender que se esvazia em brincadeiras. Mas um aprender significativo, do qual o aluno participe raciocinando, compreendendo, reelaborando o saber historicamente produzido e superando, assim, sua visão ingênua, fragmentada e parcial da realidade (FIORENTINI; MIORIM, 1990, p. 06). Seguindo essa ideia, nós estagiários não nos esquecemos, durante o desenvolvimento do projeto, de sempre explicar o objetivo e o contexto do mesmo, tanto no início, no decorrer e no final das partidas. Assim, paralisamos as partidas em algumas ocasiões, principalmente se haviam dúvidas ou quando percebemos que o conceito não estava claro para eles/as, para que não tornasse apenas um jogo comum que os/as alunos/as jogavam durante o intervalo.

4 Durante o desenvolvimento da atividade, solicitamos depoimentos de alunos e professores, com o objetivo de identificar se o projeto foi de grande importância, dentro dos objetivos da escola. Trazemos então relatos 1 de dois alunos que participaram do projeto. Relato de um aluno do 7º ano A: Eu amo jogar tênis de mesa. O jogo está cada vez mais legal, tem mais gente jogando e estamos utilizando a matemática durante os jogos para descobrir quem será classificado e também usamos os números pares e números ímpares para saber a vez de quem vai sacar. Isso também nos ajuda na sala de aula. Eu pretendo ficar em 1º lugar e quero ensinar os alunos do 6º ano que não sabem jogar. Relato de um aluno do 8º ano B: Eu me identifiquei com o tênis de mesa e tenho um pouco de dificuldade. O tênis de mesa me ajudou com a matemática. Eu somei os pontos que ganhei e que perdi e a diferença desses pontos foi a minha pontuação total. Teve os números ímpares e pares para saber quem começava o jogo e o próximo a sacar. Foi divertido porque usamos a matemática, que é importante hoje em dia e eu consegui me classificar para a próxima fase. Eu espero que os jogos também ajudem outras pessoas, do mesmo jeito que me ajudou. A partir dos relatos, foi possível identificar que "o desenvolvimento pessoal funda-se em um processo de auto descoberta, onde cada qual tende a tomar consciência do que sabe fazer e do que tem dificuldade (DOHME, 2003, p ). Segundo a autora, os/as alunos/as se descobrem e são capazes de identificar as suas habilidades e dificuldades. A atividade lúdica auxilia nesse processo e, nesse caso, os/as alunos/as são motivados/as com prazer no aprendizado. 1 Foi realizada a transcrição dos documentos com as devidas correções ortográficas.

5 Trazemos, também, um depoimento de um professor eventual da escola. Figura 1: Depoimento do professor da Escola Estadual Cásper Líbero sobre o projeto realizado. Por fim, concluímos que o projeto realizado obteve resultados significativos, tanto para os/as alunos/as como para os/as professores/as e para a instituição. Devido ao resultado, fomos convidados para continuar a realizar esse projeto no ano de REFERÊNCIAS DOHME, Vânia. Atividade lúdica na educação: o caminho de tijolos amarelos do aprendizado. Rio de Janeiro: Vozes, FIORENTINI, Dário; MIORIM, Maria Ângela. Uma reflexão sobre o uso de materiais concretos e jogos no Ensino da Matemática. Boletim da SBEM-SP, São Paulo, v.4, n.7, 1996.