ACÓRDÃO. ACORDAM, em Quarta Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Fstado de São Paulo, por votação unânime, negar provimento ao recurso

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACORDÀO/DÍ OISÃO VIONOCRATICA REGISTF'ADO^jSOBN * PODER IUDICIARIO TRIBUNAL DE JUSTICv DO ESTADO DE SÀO PAULO ACÓRDÃO Condomínio edilício - Situação criada por morador, sargento da Polícia Militar, que, reincidente no descumprimento das normas regulamentares, renova condutas anti-sociais, aoesar da multa aplicada e que não e paga, construindo, com isso, clima de instabilidade ao grupo e uma insegurança grave, devido ao seu gênio violento e ao fato de andar armado no ambiente, por privilégio profissional - Adequação da tutela antecipada emitida para obnga-lo a não infringir a convenção, sob pena de multa ou outra medida especifica do 5 o, do art 461, do CPC, inclusive o seu afastamento - Interpretação do art 1337, do C C - Não provimento Vistos, relatados e discutidos estes autos de AGRAVO DE INSTRUMENTO N ^4/3, da Comarca de SÃO PAULO, sendo agravantes ILDA DA CONCEIÇÃO FERREIRA GONÇALVES e OUTROS e agravado EDIFÍCIO VICTOR MAKHOL. ACORDAM, em Quarta Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Fstado de São Paulo, por votação unânime, negar provimento ao recurso Vistos A questão posta nos autos diz sobre a possibilidade de se construir sentença [e antecipar seus efeilos] que obrigue os proprietários e inquilinos de um apartamento a manterem o silêncio que se exige em um ambiente socializado e que é recomendado pela convenção, sob pena de multa diária As

2 PODCR JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÀO PAULO reclamações decorrem dos gritos que emanarr da unidade pelas brigas do casal e do casal com as filhas ou filhos, além do baoilho excessivo pela faxina noturna realizada sistematicamente pela dona do apartamento O agravo deve ser conhecido, rejeitada a preliminar de não conhecimento suscitada em contra-razões, decido a não ser hipótese de manter o recurso retido, como estabelece o artigo 527. I\ do CPC O Condomínio Edifício Victor Makhoul já multou o morador e está cobrando a multa em Juízo [fl 136] O síndico fez representação criminal contra Mauro Gallo Muntiba, que é Policial Militar, por ameaça [fl 79] e ingressou com pedido de indenização por danos morais fl 149] Essa mesma pessoa foi alvo de denúncia de outra moradora do prédio, inclusive no âmbito interno da corporação, quando declarou que "sua filha está muito apavorada, com medo do militar, querendo mudar-se daquele local a todo custo" [fl 37] Foram várias notificações endereçadas pelo síndico reclamando providências para que os excessos fossem contidos [fl 39/43] O art 1337, do Código Civil, estabelece que o Condomínio poderá aplicar multas sucessivas ao morador que se comporta de forma inadequada, com progressão financeira [limite; do décuplo da taxa condominial], na esperança de que as penalidades financeira;; possam arrefecer o comportamento anti-social Há quem duvide dessa providência, o que estimulou a construção de um debate sobre a possibilidade de se expulsar o condômino que insiste, apesar das multas, em descumpnr as regras de urbanidade e os preceitos de ordem coletiva instituídos para convivência pacífica no prédio O destruir o sossego noturno e, sem dúvida, um constrangimento de intensas repercussões nessa vida AGRVN /3 -SÃO PAULO - VOTO T 6*5 - Messandra/Flavia/Patncia 9

3 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JüS'l IÇ \ DO ESTADO DE SÃO PAULO de estresse dos grandes centros e esse é o ponto central da tomada de posição contra os moradores da unidade 11 O eminente SILVIO DE SALVO VENOSA diz o seguinte sobre o dispositivo citado [Direito Civil - Direitos reais, 7 a edição, Atlas, 2007, p 336] "Como se percebe, o legislador chegou muno próximo, mas não ousou admitir expressamente a possibilidade de estabelece" que o condômino ou assemelhado seja impedido de utilizar a unidade Não temos dúvida, porém, tendo em vista o sentido social do direito de propriedade que ora se decante, que essa solução pode e deve ser iomada em casos extrerros É de se perguntar se deve o condomínio, seus moradores e ocupantes, suportar a presença de um baderneiro ou de um traficante de drogas Ademais, nem sempre a multa será a punição mais eficiente ao condômino desajustado, mormente se ele é contumaz inadimplente ou, no outro extremo, se o pagamento de multa, em qualquer valor, nada representa para o sacnpanta, nem como punição nem como dissuasão, e muito menos como efeito pedagógico" MARCO AURÉLIO S VIANA [Comentários ao novo Código Civil, Forense, vol XVI, 2003, p 463] concorda e admite que "melhor seria ter previsto a possibilidade de ser ele compelido a deixar a unidade autônoma, por decisão judicial"' O Professor VILLAÇA DE AZEVEDO ["Condomínio", in O novo Código Civil estudos em homenagem ao P r ofessor Miguel Reale, LTr, 2003, p 1033] admite que a assembléia poderá deliberar pelo afastamento do morador que não se emenda, esclarecendo que essa decsão é restrita ao direito de habitar, o que não inclui, necessariamente, o de perder o direito de propriedade São suas palavras AGRV N /3 - SÃO PAULO - VOTO i Alessandra/Flavia/Patricra

4 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTK, A DO ESTADO DE SÃO PAULO "A exclusão do condômino nocivo é a única solução para conter os aludidos abusos no direito de propriedade, que tem seu fundamento, principalmente constitucional, na idéia de função social A propriedade há de exercer-se, sempre, segundo sua função social A lei civil, assim, dá um passo adiante na complementaçao desse significado importante, do condicionamento do uso da propriedade de forma harmônica, paciiica, nos moldes legais, preservando o bem estar dos condôminos, dos vizinhos e do meio ambiente'' Os moradores estão sujeilos às limitações e as obrigações de não fazer, o que, em tese, justificaria o uso t\a execução específica do art 461, do CPC No caso em apreço, e possível dispensar o Condomínio de esgotar as possibilidades da lei [agravar a multa], porque está evidenciado que de nada adiantarão seguidas penalidades aos moradores e proprietários que, pelo que se confirmou, são pessoas da mesma família Eintre os ocupantes está um Policial Militar acusado de truculência e que não se intimidou sequer com queixas aos seus comandantes, de modo que o clima social do prédio é de instabilidade e insegurança, mormente por ser fato notório c porte de arma do Policial Daí o cabimento da execução pelo Judiciário É bom enfatizar que essa providência somente se legitima err- casos excepcionais, como esse, em que não convém encaminhar os interessados para as assembléias, porque se revelaram inócuas as medidas cabíveis O ambiente está deteriorado e há risco de agravamento, de sorte que a execução judicial surge com oportunidade ímpar, inclusive para incidência da mais grave medida de apoio prevista no 5 o. do art 461, do CPC, que é a remoção de pessoas para que a decisão se cumpra Assim, caso continuem os moradores desafiando a ordem judicial de se guardar respeito e urbanidade dentro do prédio, poderá o Juízo mandar afastar os contraventores, sem o que não se obtém respeito das decisões judiciais AGI-ÍV N /3 - SÃO PAULO - VOTO /ilessandra/flavia/patncia 4

5 PODER ÍJDICJÁRIO TRIBUNAL DE JUSTK/A DO ESTADO DE SÃO PAULO Os deveres do condômino para com o agrupamento caracterizam obrigações continuativas, porque se renovam com o passar do tempo O morador deve manter comportamento regular, para com os vizinhos contíguos e os demais condôminos, de maneira constante e essa dinâmica de vida coletiva não se contradiz com a natureza da tutela prevista no art 461, do CPC Ora, em se confirmando a incompatibilidade da família residir em apartamento, pelo não enquadramento nas normas fundamentais mínimas, prevalece o direito absoluto da maioria, o que encaminhará a remoção do morador inconveniente e que desagrega a paz e harmonia, como, ateis, recomenda o eminente Juiz que integra a Câmara, FRANCISCO EDUARDO LOUREIRO [Código Civil Comentado, coordenador Ministro Cezar Peluso, Manole, 2007 p 1204] "Não diz a lei se as sanções pecuniárias do art 1337 esgotam as providências para fazer cessar a conduta ilícita do condômino Parece claro que, a par da multa, poderá o condomínio, os condôminos ou mesmo os possuidores prejudicados tanto ação indenuatóna como de obrigação de fazer ou não fazer, inclusive com pedido cominatóno ou de tutela específica, na forma do art 461 do Código de Processo Civil Entre as medidas assecuratórias do resultado prático equivalente ao adimpleme r no. que preferem as perdas e danos, estão a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e impedimento de atividades nocivas, se necessário com requisição de força policial Cabe, assim, medida para retirar o condômino nocivo do edifício para apreender objetos perigosos, que causem ruídos, ameacem a saúde ou o sossego dos demais condôminos ou a interdição de determinadas atividades ilícitas " AGP.V N /3 - SÃO PAULO - VOTO Alessandra/Flavia/Patncia

6 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIC \ DO ESTADO DE SÃO PAULO Portanto, correta a r decisão ao fixar multa diária [de R$ 100,00] com a ressalva de que poderão ser concretizadas outras medidas em não sendo cumprida a convenção condominial Nega-se provimento O julgamento teve a participação dos Desembargadores MAIA DA CUNHA [Presidente] e TEIXEIRA LEITE. São Paulo, 02 de agosto de 2007 O <2- ENIG^SANTÂREttt 2 Relator AGRV N /3 - SAO PAULO - VOTO Alessandra/Flavia/Patricia