Artigo de Revisão. Thalissa Cristine de Melo 1, Giulliano Gardenghi 2. Resumo
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- Maria de Lourdes da Rocha Lameira
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1 1 Artigo de Revisão Treinamento intervalado de alta intensidade em pacientes com insuficiência cardíaca crônica. High intensity interval training in pacients with cronic heart failure. Resumo Thalissa Cristine de Melo 1, Giulliano Gardenghi 2 Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome de alta incidência e mau prognóstico, com índices elevados de mortalidade no Brasil e no mundo. O exercício físico é uma importante medida terapêutica não farmacológica utilizada no tratamento da IC. O treinamento intervalado permite ao paciente atingir intensidades que não seria capaz de sustentar de forma contínua. Objetivo: Avaliar os efeitos do treinamento intervalado de alta intensidade na insuficiência cardíaca crônica. Metodologia: Foi realizada uma revisão bibliográfica de estudos publicados nas bases de dados MEDLINE, LILACS e PUBMED no período entre 2006 e Resultados/Considerações finais: O treinamento intervalado de alta intensidade demostrou ser uma opção segura, com efeitos superiores ao exercício aeróbico convencional ou efeitos semelhantes com menor sobrecarga cardiovascular. Descritores: insuficiência cardíaca; terapia por exercício; exercício. Abstract Introduction: Heart failure (HF) is a syndrome of high incidence and poor prognosis, with high mortality rates in Brazil and worldwide. Physical exercise is an important nonpharmacological therapeutic measure used in the treatment of HF. Interval training allows the patient to reach intensities that he or she would not be able to sustain continuously. Aim: To evaluate the effects of high intensity interval training in chronic heart failure. Methodology: A literature review was carried out of studies published in the MEDLINE, LILACS and PUBMED databases between 2006 and Results/ Final considerations: High intensity interval training proved to be a safe option with superior effects to conventional aerobic exercise or similar effects with lower cardiovascular overload. Key words: heart failure; exercise therapy; exercise 1. Fisioterapeuta, pós graduanda em Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva, CEAFI Pós-graduação/GO. 2. Fisioterapeuta, Doutor em Ciências pela FMUSP, Coordenador Científico do Serviço de Fisioterapia do Hospital ENCORE/GO, Coordenador Científico do CEAFI Pós-graduação/GO e Coordenador do Curso de Pós-graduação em Fisioterapia Hospitalar do Hospital e Maternidade São Cristóvão, São Paulo/SP Brasil.
2 2 Introdução A insuficiência cardíaca é a via final comum de diversas patologias cardiovasculares 1. É caracterizada por incapacidade da bomba cardíaca em oferecer suprimento de sangue adequado às demandas metabólicas do organismo 1,2. Atualmente a insuficiência cardíaca é considerada um problema de saúde pública no Brasil 3. É uma doença de alto custo para a gestão pública, com muitos casos de exacerbação, sendo a causa mais frequente de internação por doença cardiovascular pelo Sistema Único de Saúde (SUS) 4. Essa síndrome clínica apresenta alta incidência e mau prognóstico e, apesar dos avanços tecnológicos no diagnóstico e tratamento, ainda apresenta altos índices de mortalidade no Brasil e no mundo 5,6. O exercício físico é uma importante medida terapêutica não farmacológica utilizada no tratamento da IC 7,8. Alguns estudos têm mostrado que o exercício promove uma redução da atividade nervosa simpática 7,9, melhora da função hemodinâmica 10, redução do estado oxidativo 7, melhora da força muscular 11, melhora da capacidade funcional e melhora da qualidade de vida 12 em indivíduos com insuficiência cardíaca crônica. As alterações sistêmicas relacionadas à IC, por sua vez, frequentemente levam o indivíduo a apresentar dispneia, cansaço e baixa tolerância aos esforços 13, o que pode dificultar a introdução do exercício como terapia. Nesse contexto, o exercício intervalado apresenta-se como uma opção. O treinamento intervalado consiste na alternância entre duas fases de intensidades do exercício, estímulo e recuperação, permitindo assim que o indivíduo alcance intensidades que não seria capaz de sustentar por períodos prolongados 14. Recentemente tem-se defendido o princípio de que os benefícios associados à prática regular de exercício físico são diretamente proporcionais à intensidade do mesmo 15. O objetivo desse estudo foi avaliar os efeitos de treinamento intervalado de alta intensidade na insuficiência cardíaca crônica. Metodologia O estudo consiste em uma revisão de literatura sobre o efeito do treinamento intervalado em indivíduos com insuficiência cardíaca. Esta revisão foi conduzida por meio de informações obtidas na base de dados: MEDLINE, LILACS e PUBMED. Os artigos selecionados foram escritos em inglês e português no período entre 2006 e Palavraschaves utilizadas: insuficiência cardíaca/heart failure; treinamento intervalado/interval training, hight intensity interval trainnig. Objetivou-se chegar a um artigo de revisão de
3 3 literatura, que incluísse ensaios clínicos, randomizados ou não, que pudessem refletir a melhor evidência disponível na literatura. Frente à necessidade de discussão sobre o tema foram inclusos nove artigos dos 15 encontrados na literatura devido a sua especificidade do assunto. Resultados Os estudos encontrados durante o levantamento estão relacionados na tabela a seguir.
4 4 Tabela 01- Resultado da busca de artigos relacionando insuficiência cardíaca crônica e treinamento intervalado de alta intensidade. Referência Objetivos Métodos Conclusão Koufaki et.al, 2014 Comparar a efetividade do TIAI com TMC em indivíduos com IC 14 pacientes com foram divididos em dois grupos e submetidos um grupo a ao TIAI e outro ao TMC durante 24 semanas, 3x/semana. Ambos os grupos melhoraram VO2 pico, função cardíaca autonômica, capacidade funcional e qualidade de vida. Wisloff et al, 2007 Comparar a efetividade de um programa TMC versus TIAI na função cardiovascular de indivíduos com IC isquêmica 27 pacientes com IC pós infarto foram randomizados em grupos de TMC (70% da FCmáx) e TIAI (95%Fcmáx) durante 12 semanas, 3x/semana. A qualidade de vida melhorou nos dois grupos. O VO2pico e a função endotelial foram melhores no grupo intervalado em relação ao contínuo. O VDF reduziu a FEVE aumentou aumentou somente no grupo intervalado. Nunes et al, 2015 Comparar os efeitos do TMC versus TIAI nos parâmetros hemodinâmicos, na remodelagem cardíaca e na capacidade máxima de exercício em ratos com insuficiência cardíaca crônica. 24 ratos Wistar machos foram induzidos a IC pós infarto e submetidos a 8 semanas de treino (5x/semana) divididos em dois grupos: TMC versus TIAI.. Ambo os grupos melhoraram os parâmetros hemodinâmicos e de remodelamento cardíaco, porém o grupo intervalado foi superior na melhora da capacidade máxima de exercício. Tasoulis et al, 2010 Verificar o efeito do TIAI no o drive respiratório e parâmetros ventilatórios de pacientes com IC. 46 pacientes com IC estável realizaram treino aeróbico intervalado durante 12 semanas, 3x/semana divididos em 2 grupos: aeróbico intervalado e aeróbico intervalado + treinamento resistido a 55-65% de 2RM Três meses de exercício intervalado, exclusivo ou associado à musculação foram eficazes para melhorar os parâmetros ventilatórios de paciente com IC tanto no exercício quanto em repouso. Benda et al, 2015 Comparar o efeito do TIAI x TMC na melhora da capacidade física, função cardiovascular e qualidade de vida de pacientes com IC. 20 pacientes foram submetidos a 12 semanas de exercício, divididos em dois grupos: TIAI (90%da carga máxima de trabalho) enquanto o outro grupo realizou TMC a 60-75% da carga máxima de trabalho. Os pacientes apresentaram melhora da capacidade física em ambos os grupos de maneira semelhante, não havendo superioridade do treino intervalado.
5 5 Referência Objetivos Métodos Conclusão Chrysohoou, 2014 Avaliar o efeito do TIAI na qualidade de vida e depressão em pacientes com IC crônica. 100 pacientes com IC foram divididos em dois grupos: controle e TIAI (12 semanas de exercício 3x/semana, utilizando 100% da capacidade máxima de trabalho). O treinamento intervalado de alta intensidade foi eficaz na melhora da qualidade de vida e capacidade funcional de indivíduos com IC Fu et al, 2013 Avaliar a influência das modalidades de treino contínuo e intervalado na qualidade de vida, eficiência ventilatória e função hemodinâmica de pacientes com IC. 40 pacientes com insuficiência cardíaca realizaram 12 semanas de treinamento, 3x/semana divididos em dois grupos (TMC: 30min a 60% do VO2pico e TIAI entre 40%- 80%VO2pico. Ambos os grupos melhoraram qualidade de vida. O grupo treino intervalado melhorou a absorção de O2 cerebral e muscular e a função hemodinâmica, além de reduzir o estresse oxidativo e marcadores inflamatórios. Iellamo et al, 2013 Avaliar se o TMC e o TIAI induzem efeitos similares na capacidade aeróbica, hemodinâmica central e perfil metabólico de pacientes com IC pós infarto. 16 pacientes foram divididos em dois TMC (30-45min a 45-60%FCmáx) e TIAI (entre 85%Fcmáx a 45-50%Fcmáx) de 2-5x/semana durante 12 semanas. Ambos os grupos apresentaram melhora da capacidade aeróbica e do Vo2pico. Spee et al, Avaliar o efeito do TIAI na função hemodinâmica central e na oxigenação do músculo esquelético. 26 pacientes foram submetidos a 12 semanas de treinamento, 3x/semana, realizando TIAI a 85-95% do VO2pico. O treinamento intervalado foi eficaz na melhora da capacidade máxima e submáxima de exercício Houve, ainda, melhora da recuperação muscular e oxigenação muscular periférica. Legenda: IC= insuficiência cardíaca; TIAI= treinamento intervalado de alta intensidade; TMC= treinamento moderado contínuo; VDF= volume diastólico final; FEVE= fração de ejeção do ventrículo esquerdo; RM= resistência máxima. Discussão O TIAI é amplamente utilizado no meio esportivo. Devido aos seus ganhos expressivos na função cardiorrespiratória e muscular, começou a ser pesquisado e utilizado em indivíduos com cardiopatias 16. Considerando o princípio de que os ganhos metabólicos
6 6 são proporcionais à intensidade das sessões de exercício 15, o TIAI se apresenta como uma excelente opção, uma vez que acumula tempo em zonas de elevada intensidade sem atingir a exaustão, graças aos períodos de recuperação. Sabendo que o treinamento aeróbico é um importante componente do processo de reabilitação cardiovascular baseado em exercícios 17, este quando realizado de forma intervalada, permite aos indivíduos com baixa tolerância aos esforços atingirem intensidades e volumes que dificilmente seriam conseguidos de forma continua. Um dos trabalhos precursores que avaliou os efeitos do TIAI na IC foi o de Wisloff et. al. O grupo utilizou um protocolo de 38 minutos de treinamento intervalado utilizando uma esteira com inclinação, ajustada conforme necessário para manter intensidade estipulada 17. O protocolo consistiu em 10 minutos de aquecimento onde os indivíduos precisaram manter-se entre 60-70% da FCmáxima, depois iniciaram 4 ciclos de 7minutos, sendo 4 minutos entre 90-95% da FCmáxima e 3 minutos de recuperação entre 50-70% da FCmáxima. Quando comparado ao grupo que realizou treinamento contínuo, esse precisou de 9 minutos a mais caminhando em uma frequência entre 70-75% da FCmáxima para atingir o mesmo gasto calórico. Apesar disso, grupo TIAI apresentou ganhos superiores em relação ao contínuo sobre capacidade aeróbia e função endotelial, e apenas o grupo TIAI apresentou melhora da função cardíaca (redução do volume diastólico final e aumento de 10% da FEVE) 17. Posteriormente, outro grupo 20 questiona a manutenção da performance em alta intensidade por um período de 4 minutos, como no protocolo de Wisloff et.al, e sugerem períodos menores. Baseado nisso, realizaram um protocolo em cicloergômetro com 10 minutos de aquecimento entre 60-75% da carga máxima de trabalho, seguidos por 10 ciclos de 1minuto a 90% da carga máxima de trabalho e 2,5minutos de recuperação a 30% desse valor, sendo ao todo 45 minutos de exercício. Quando comparados ao grupo contínuo, que realizou 30minutos de exercício entre 60-75% da carga máxima de trabalho, ambos os grupos obtiveram resultados semelhantes. Embora, segundo os próprios autores, esse trabalho tenha sido limitado pelo número raso de participantes, ele oferece um protocolo de TIAI para aqueles indivíduos que apresentarem baixa tolerância a períodos maiores em alta intensidade 20. Spee et.al também utilizaram protocolo semelhante ao de Wisloff et.al com ciclos de 4minutos em alta intensidade (nesse caso, o parâmetro utilizado foi 85-95% do VO2pico) e 3
7 7 minutos de descanse ativo em intensidade inferior em cicloergômetro. Tal intervenção foi responsável por aumento da capacidade máxima e submáxima de exercício por melhora da vascularização e oxigenação da musculatura periférica, uma achado importante, uma vez que a redução do débito cardíaco advinda da fisiopatologia da IC tende a reduzir a perfusão sanguínea da musculatura estriada esquelética. Demais estudos também demonstraram os efeitos do TIAI no VO2máx e na capacidade máxima de trabalho 20,25. Essas informações corroboram o uso da alta intensidade para melhora dos fatores limitantes do VO2, bem como do VO2 por si, em reabilitação cardíaca 27. Uma das limitações que mais impactam na capacidade funcional encontrada nos indivíduos com IC são os sintomas de dispneia e fadiga. Baseados nisso, Chrysohoou et.al estabeleceram um protocolo incluindo descanso passivo, diferentes dos autores supracitados que utilizaram períodos de recuperação em menor intensidade 21. Consistiu em 45minutos de treino em cicloergômetro sendo 30segundos entre % da capacidade de trabalho alternados com 30segundos de total repouso. Tal intervenção foi impactante na melhora da melhora da capacidade funcional e da qualidade de vida relacionada aos sintomas da IC. Tasoulis et al. em trabalho semelhante relatam ainda que o TIAI associado ao treinamento resistido proporcionou melhora dos parâmetros ventilatórios dos indivíduos com IC durante o exercício em repouso. Em uma população que apresenta queixas frequentes de dispneia, esse ganho impacta diretamente na qualidade de vida. A qualidade de vida também foi analisada e apresentou resultados positivos após intervenção terapêutica com TIAI 18, 23,24. Apesar do receio envolvido no uso de altas intensidades com cardiopatas, em nenhum dos estudos analisados foram relatados eventos adversos, sugerindo que um programa supervisionado e bem orientado utilizando o TIAI é eficaz e seguro. Conclusão O treinamento intervalado de alta intensidade demonstrou ser uma opção segura a ser considerada dentro de um programa de reabilitação cardiovascular, visto que apresenta efeitos superiores ao treinamento usual (contínuo moderado) ou semelhantes, porém com menor sobrecarga cardiovascular. O TIAI foi responsável por adaptações centrais e periféricas que se manifestam com melhora da capacidade máxima e submáxima de exercício, maior qualidade de vida e capacidade funcional em indivíduos com IC.
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