COLONIZAÇÃO E ECONOMIA AÇUCAREIRA. Prof. Victor Creti Bruzadelli
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- João Henrique Leveck Valente
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1 COLONIZAÇÃO E ECONOMIA AÇUCAREIRA Prof. Victor Creti Bruzadelli
2 Organizando a colonização Necessidade de colonizar: constante ataque de corsários franceses e crise do comércio nas Índias; Desenvolvimento do sistema de Capitanias Hereditárias (1534): grandes faixas de terra doadas a particulares; Objetivo do capitão donatário: desenvolver a colônia e propagar a fé cristã; Possibilidade de doação de sesmarias; Pouco desenvolvimento das Capitanias.
3 Organizando a colonização Governo Geral (1548): Centralização da política de exploração; Funções do Governador: Cobrar impostos; Defesa do território; Justiça; Estímulo à colonização; Mem de Sá, terceiro governador geral do Brasil Fundação de vilas.
4 A sociedade do açúcar A escolha do açúcar: Conhecimento técnico (Ilha da Madeira e Açores); Alto valor na Europa; Financiamento holandês; Condições agrícolas favoráveis (clima e solo); Esgotamento do pau-brasil e crise do comércio de especiarias.
5 A sociedade do açúcar Principal região: Zona da mata de Pernambuco e Bahia: Em 1590, a colônia brasileira já contava com 150 engenhos espalhados pelas capitanias de Pernambuco, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. As duas primeiras, no entanto, correspondiam a 80% do total. (LOPEZ, Adriana. Açúcar: esse doce objeto de desejo) Presença de alguns trabalhadores livre: Mestre de engenho, purgador, feitor e capitães-do-mato; Engenho: Propriedade agrícola voltada para a fabricação de açúcar; Formado por: Casa Grande; Capela; Senzala; Casa de engenho: Moenda, Caldeiras, Casa de Purgar e Galpões.
6 A sociedade do açúcar Engenho, de Frans Post (séc. XVII)
7 A sociedade do açúcar The plantation, de Edgar William (1825) Participação holandesa: Financiamento; Fornecimento de mão de obra especializada; Distribuição e comércio; Plantation: Latifúndio; Monocultura; Mercado consumidor estrangeiro; Mão-de-obra escrava.
8 A escravidão Escravidão como uma forma tradicional de trabalho; Teorizada na Grécia por Aristóteles: Escravo como base da política; A questão da alma do escravo. Por natureza, na maior parte dos casos, há o que comanda e o que é comandado. O homem livre comanda o escravo da mesma forma que o macho à fêmea [...]. E, todavia, as partes da alma existem de maneira diferente: o escravo está totalmente privado da parte deliberativa; o sexo feminino a possui, mas sem a possibilidade de decisão [...]. Estabelecemos que o escravo é útil para as necessidades da vida. Fica, portanto, claro que ele não tem a necessidade senão de pequena parcela de virtude. O suficiente apenas para não ficar inferior à sua tarefa, por desregramento ou negligência. (ARISTÓTELES. Política)
9 A escravidão Um sistema muito curioso era imposto aos índios das missões: durante um semestre, serviam nas próprias aldeias e no outro atendiam às necessidades dos moradores. O salário era predeterminado e todos, de 15 a cinquenta anos, deviam prestar esse trabalho. Sem nenhuma responsabilidade e sem nenhum custo inicial cada patrão procurava extrair do índio o máximo não respeitando os limites de horário nem para carga de trabalho. Assim, além de deslocado do seu ambiente e sujeito a doenças comuns ao europeu, mas arrasadoras para si, o índio via-se submetido a condições de vida terríveis (PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil) Dificuldades em escravizar o indígena: Presente nos anos iniciais da colonização; Questão cultural: nas sociedades indígenas as mulheres trabalham nas lavouras; Oposição a escravidão indígena por parte dos religiosos; Fugas de índios e recusa ao trabalho; Baixa resistência a doenças e baixa densidade demográfica; Restrições legais à escravidão indígena.
10 A escravidão Origens da escravidão de africanos: Escravidão de africanos desde o século XV; Africanos adaptados tanto ao trabalho nos moldes portugueses; A questão da alma e da salvação; A lucratividade do tráfico negreiro. "Os filhos de Noé que saíram da arca eram Sem, Cam e Jafet. Cam era o pai de Canaã. Estes eram os três filhos de Noé. É por eles que foi povoada toda a terra. Noé, que era agricultor, plantou uma vinha. Tendo bebido vinho, embriagou-se, e apareceu nu no meio de sua tenda. Cam, o pai de Canaã, vendo a nudez de seu pai, saiu e foi contá-lo aos seus irmãos. Mas, Sem e Jafet, tomando uma capa, puseram-na sobre os seus ombros e foram cobrir a nudez de seu pai, andando de costas; e não viram a nudez de seu pai, pois que tinham os seus rostos voltados. Quando Noé despertou de sua embriaguez, soube o que lhe tinha feito o seu filho mais novo. Maldito seja Canaã, disse ele; que ele seja o último dos escravos de seus irmãos! E acrescentou : Bendito seja o Senhor Deus de Sem, e Canaã seja seu escravo!" (Gênesis, 9:18-26)
11 A escravidão Grande diversidade étnica: Motivada pelos traficantes; Angolanos: Sul da África (Congo, Angola e Moçambique); Guinéus: Costa da Mina ou Grande Guiné : Daomé, Nigéria e Guiné; África Oriental: Moçambique e Madagascar; Número menor; Principais portos de entrada: Salvador, Rio de Janeiro, Recife e São Luís. Tipos negros, de Johann Moritz Rugendas
12 A escravidão Calmarias ou correntes adversas podiam prolongar a travessia até cinco ou mesmo seis meses, tornando mais dantesca as cenas de homens, mulheres e crianças espremidos uns contra os outros, vomitando e defecando frequentemente em seus lugares, numa atmosfera de horror que o calor e o mau cheiro se encarregavam de extremar. Cronistas registram que navios negreiros eram pressentidos nos portos pelo odor que os antecipava e que persistia mesmo quando já estavam livres de sua carga. É claro que, num ambiente desses, grassavam doenças, fazendo com que o fundo do mar fosse o ponto final da viagem de muitos (PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil) O tráfico negreiro: Transporte legal de escravos entre a África e o Brasil; Forma de adaptar o africano a sua nova condição; Organizado por particulares, com permissão da coroa; Batizados e marcados ao embarcar; O horror da travessia: Navios abarrotados; Doenças e alimentação deficitária; Altíssima taxa de mortalidade; Alta lucratividade.
13 O Navio Negreiro Castro Alves Stamos em pleno mar A escravidão Era um sonho dantesco... o tombadilho, Que das luzernas avermelha o brilho, Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar do açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar... Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras, moças... mas nuas, espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs. E ri-se a orquestra, irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Se o velho arqueja... se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... Presa dos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece... Outro, que de martírios embrutece, Cantando, geme e ri! No entanto o capitão manda a manobra E após, fitando o céu que se desdobra Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: "Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!..." E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais! Qual num sonho dantesco as sombras voam... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanaz!... Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus..
14 A escravidão Africanos desembarcados em portos brasileiros Total de Africanos retirados da África: Total de Africanos desembarcados no Brasil: Total de Africanos mortos na travessia:
15 A escravidão Quanto Vale ou É por Quilo?, de Sérgio Bianchi (2005)
16 Ser escravo no Brasil Vendidos no porto, como animais ; Tipos de trabalho: Negro no eito; Escravo doméstico; Escravo de ganho; Presentes em quase todos os espaços coloniais; Miscigenação: originada de relações sexuais com ou sem consentimento. Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar a fazenda, nem ter engenho corrente. E do modo como se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço. Por isso, é necessário comprar cada ano algumas peças e reparti-las pelos partidos, roças, serrarias e barcas. E porque comumente são de nações diversas, e uns mais boçais que outros e de forças muito diferentes, se há de fazer a repartição com reparo e escolha, e não às cegas. No Brasil, costumam dizer que para o escravo são necessários PPP, a saber, pau, pão e pano. E, posto que comecem mal, principiando pelo castigo que é o pau, contudo, prouvera a Deus que tão abundante fosse o comer e o vestir como muitas vezes é o castigo, dado por qualquer causa pouco provada, ou levantada; e com instrumentos de muito rigor, ainda quando os crimes são certos, de que se não usa nem com os brutos animais (ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas)
17 A violência Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto (ASSIS, Machado de. Pai contra mãe) Violência moderada pelo sentimento de propriedade ; Ausência de um Código Negro : violência institucionalizada pelas leis; Punições aplicadas, geralmente, por feitores ou no calabouço ; Diversos castigos físicos.
18 A violência Quanto Vale ou É por Quilo?, de Sérgio Bianchi (2005)
19 A resistência O índio não se acostumava com o cativeiro, seu espírito de liberdade não era compatível com a escravidão. É assim que muitos manuais de História explicam o início do tráfico negreiro. Além de incorreta do ponto de vista factual, a explicação faz entender que, ao contrário do índio, o negro se acostumava com o cativeiro, porque sua ausência de espírito de liberdade era compatível com a escravidão (PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil) Resistências culturais: Capoeira; Sincretismo religioso; Banzo; Abortos e suicídios; Fugas; Quilombos; Revoltas; Assassinatos de senhores.
20 A resistência Fugiu ao Cirurgião-mor Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque o seu escravo mulato de nome Florentino, de idade de vinte a 22 anos, com os seguintes sinais: mulato um pouco escuro, cabelos crespos e ruivos nas pontas, os dentes da frente podres, ambas as orelhas foram furadas dias antes da sua fuga, o que deve apresentar vestígios, caso se tenha tapado, tem marcas de surra na bunda, tem uma cicatriz de golpe ao longo do pescoço, e é quebrado de uma das virilhas. Este mulato já andou fugido há tempo, e andava embarcado em uma embarcação do Xalupa de Óbidos com o nome de Antonio Macapá, foi capturado nesta cidade; fugindo segunda vez, andou na Escuna Lua Nova de propriedade de Luís Martins de Alenquer aonde passa como fôrro e sempre com o nome de Antonio Macapá. A pessoa que o capturar e o apresenta-lo nesta cidade ao sr. Joaquim Mariano de Lemos, ou na vila de Macapá a seu Senhor, ou ao sr. Procópio Antonio Rola receberá imediatamente 100$000 réis de gratificação e protesta-se com todo vigor da Lei contra quem lhe der acouto (Jornal O velho brado do Amazonas 23/05/1852)
21 A resistência Quilombo dos Palmares ( ): Localizado na Serra da Barriga - AL; Liderado por Ganga Zumba e Zumbi; Busca de reconstruir a vida na África; Grande crescimento durante as invasões holandesas; Chegou a abrigar mais de 20 mil pessoas com 350 km²; Habitado por negros, índios e camponeses; Integrado à economia local; Relatos sobre a presença da escravidão; Destruído por Domingos Jorge Velho (1695).
22 A sociedade do açúcar Brasil Oswald de Andrade O Zé Pereira chegou de caravela E preguntou pro guarani da mata virgem Sois cristão? Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu Sim, pela graça de Deus Canhém Babá Canhem Babá Cum Cum! E fizeram o Carnaval Relações sociais: Centrada na família de proprietários; Patriarcal; Poucas mulheres; Portugal enviava degredados e cristãos-novos (marranos) para a Colônia; Negros e forros: marca profunda da miscigenação; Transculturação: formação de uma cultura mestiça.
23 A sociedade do açúcar Funcionário público a passeio com a família, Jean-Baptiste Debret
24 A sociedade do açúcar Quanto Vale ou É por Quilo?, de Sérgio Bianchi (2005)
25 Atividades complementares Atividades econômicas complementares: Subsistência do engenho; Tabaco: escambo na África; Cachaça e rapadura: consumo interno ou escambo na África, produzido em engenhocas ; Drogas do Sertão: coleta na região amazônica; Algodão: abastecimento interno de tecidos; PRINCIPAIS ATIVIDADES ECONÔMICAS DO BRASIL NO SÉCULO XVII 370 km
26 A sociedade do açúcar Atividades econômicas complementares: Gado: Utilizados no engenho para o consumo e para a força motriz; Mão de obra livre: tropeiro; Um dos responsáveis pela interiorização do território brasileiro.
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