UM PRESENTE MACABRO. oge, Irene. Foge comigo!», disse a voz, algures ali perto.

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Ana Laura Martins Mendes
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1 Copyright Atlantyca S.p.A. de nomes, personagens e símbolos, e licença exclusiva de Atlantyca S.p.A. para a edição original. Traduções e/ou adaptações são propriedade de Atlantyca S.p.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sob qualquer forma ou meio, eletrónico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou armazenamento de informação sem o consentimento prévio, por escrito, do proprietário. Para mais infor mações contactar Atlantyca S.p.A., Via Leopardi, 8, Milano Italia. foreignrights@atlantyca.it FICHA TÉCNICA Título original: La sfinge di Hyde Park Autores: Pierdomenico Baccalario e Alessandro Gatti Ilustrações: Iacopo Bruno Copyright 2014 Atlantyca S.p.A., Italy Edição original publicada por Edizioni Piemme S.p.A. International Rights Atlantyca S.p.A., Via Leopardi, Milano, Italia foreignrights@atlantyca.it Tradução Brilho das Letras, Lisboa, 2017 Tradução: Rossana Appolloni Revisão: Anabela Macedo/Editorial Presença Composição, impressão e acabamento: Multitipo Artes Gráficas, Lda. Depósito legal n. o /17 1. a edição, Lisboa, outubro, 2017 Jacarandá é uma chancela da Brilho das Letras Reservados todos os direitos para Portugal e países africanos de expressão portuguesa à Brilho das Letras Uma empresa Editorial Presença Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo Barcarena info@jacaranda.pt facebook.com/jacarandaeditora

Sabia com a clareza profética dos sonhos. E com a mesma clareza sabia que não devia ter medo.

2 Capítulo 1 UM PRESENTE MACABRO oge, Irene. Foge comigo!», disse a voz, algures ali perto. «Não conseguia ver com clareza o rosto do meu grande amigo Arsène Lupin, mas sabia com toda a certeza que tinha sido ele a falar comigo. Sabia com a clareza profética dos sonhos. E com a mesma clareza sabia que não devia ter medo. O seu rosto era uma sombra ligeiramente mais escura do que as trevas que me circundavam. Onde tínhamos ido parar? E porquê? Não conseguia lembrar me. Obviamente que estávamos a fugir. Mas de quem? Quando me virava para olhar 5

3 A ESFINGE DE HYDE PARK para trás, via uma escuridão, densa e perigosa, que parecia empurrar me na direção do meu amigo. Mantinha as mãos firmemente agarradas às de Arsène e ele, do escuro, repetiu me, mais uma vez: «Foge!» Concordei com um sussurro: «Sim, vamos!» No preciso momento em que o disse, arrepiei me com um frio imprevisto e assustador, como o que se sente quando mergulhamos em águas demasiado profundas. Demasiado frio. Larguei as mãos de Arsène e passei as pelo corpo, com rapidez. Estava praticamente despida, tinha apenas uns farrapos em cima da pele, mais frios do que os meus pensamentos. Porque é que a minha roupa estava naquele estado? O que é que tinha acontecido? E onde é que estávamos? Sentia o cheiro a água do mar, algas e sal. Tínhamos lutado. Sim, agora começava a lembrar me, ainda que de forma confusa. Tinha havido uma luta e eu... nós... Eu tinha conseguido libertar me e escapar. E agora... O meu amigo parou à minha espera. Voltou a agarrar uma das minhas mãos e começou a puxar me na sua direção. «Por este lado... Por este lado!», insistiu. Mas a sua voz já não denotava urgência. Como se todos os que nos 6

4 UM PRESENTE MACABRO perseguiam até há instantes se tivessem dissolvido de repente e a escuridão se tivesse tornado menos perigosa. Dei alguns passos com ele, incerta. Debaixo dos pés, sentia a terra nua e fria. Os meus sapatos? Sabe se lá onde tinham ficado... «Vá, estamos quase a chegar», assegurou me Arsène. «Sim, mas... onde?», perguntei então àquela silhueta escura que era o meu amigo. «Ao navio para deixarmos a ilha!», respondeu me ele, divertido. «Não te lembras?» Esforcei me por me lembrar, mas os meus pensamentos estavam pesados como pedras. Não. Não me lembrava de navio nenhum. Sentia o cheiro a mar, que agora me parecia intenso e quase cáustico. Lupin ia à minha frente, arrastando me com ele, e agora caminhávamos na água. A água estava quente, quentíssima. Parecia me ouvir sopros de vapor ao longe, e depois passos. Passos?, perguntei a mim própria. Como é que eu podia ouvir passos no meio do mar? Apertei a mão de Arsène com mais força, enquanto a água subia devagar até aos joelhos e depois até à cintura, e por fim, quando já estava quase no meu queixo... MENINA IRENE! exclamou a voz de Horácio Nelson, do outro lado da porta da casa de banho. AIN DA ESTÁ AÍ DENTRO? 7

5 A ESFINGE DE HYDE PARK Acordei de repente, deslizei pela superfície lisa da banheira e por um instante acabei debaixo de água. Recuperei do susto com a rapidez que me foi possível, e, ainda que com um desagradável sabor de água com sabão nos meus lábios, consegui responder ao mordomo da família que sim, que ainda estava na casa de banho e que estava tudo bem. Embora não fosse bem assim. Evidentemente que adormecera outra vez na banheira, e desta vez tinha acontecido depois de ter enrolado na cabeça uma grande toalha como se fosse um turbante. Vira a minha mãe fazê lo muitas vezes e tinha tentado imitá la, se bem que, ao contrário dela, eu não tivesse cabelos compridos para proteger. Ainda tinha o mesmo corte de cabelo curto e selvagem que fizera no dia da sua morte e não tinha intenções de o mudar. Oh, que sonho esquisito!, pensei. JÁ VOU! JÁ VOU! repeti a Horácio, que continuava a resmungar do lado de lá da porta. Pus no chão o pé molhado e senti o frio do ladrilho. Foi uma sensação de frio muito semelhante àquela sentida pouco antes no sonho. A toalha enrolada na cabeça estava molhada, pelo que a depositei na borda da banheira e agarrei noutra, que estava pendurada ao lado do espelho. Dei assim comigo a olhar fixamente para a minha imagem refletida. Tinha o rosto avermelhado. E não era por causa da água quente, mas sim devido ao sonho absurdo. 8

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