PN ; C. Comp.: TR Porto 4ª Vara Cível vs 3º Juízo Cível Tribunal da Comarca do Porto. Acordam no Tribunal da Relação do Porto
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- Dalila Figueiroa Pinho
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1 PN ; C. Comp.: TR Porto 4ª Vara Cível vs 3º Juízo Cível Tribunal da Comarca do Porto Acordam no Tribunal da Relação do Porto I. Introdução (a) O Digno Procurador-geral da República (Distrital) requereu a resolução do conflito negativo de competência suscitado entre os juizes da 4ª Vara Cível/1ª Secção e do 3º Juízo Cível/3ª Secção do Tribunal Judicial do Porto: ambos os magistrados atribuem reciprocamente a competência, negando a própria para os termos da acção declarativa resultante da conversão do processo injuntivo que TV Cabo Porto, S.A., instaurou contra Miguel Pinheiro P. Machado. (b) Da decisão transitada do juiz do 3º Juízo Cível, 3ª Secção: (1) Antes de mais, pensa-se ser impossível contornar o facto de a instauração... ter ocorrido antes de : é a esta data que se devem referir todas as consequências substantivas e processuais da instauração da acção, art. 323º CC e art. 267º CPC; (2) Por outro lado, o processo foi instaurado na Secretaria Geral das Injunções 2 ; 1 Vistos: Des. Ferreira de Sousa (580); Des. Paiva Gonçalves (1382) Se se ler com atenção o preâmbulo do... DL 269/98 ver-se-á que o objectivo que presidiu à... consagração [do processo de injunção, forma tendencialmente, embora não totalmente desjudicializada de dirimir litígios] foi a desformalização do processado de acções... com tramitação própria no âmbito de competência dos tribunais judiciais, sendo a Secretaria Geral das Injunções legalmente classificada com a extensão da Secretaria Geral, art. 16º/4 Reg. LOTJ. 1
2 (3) Assim, à pergunta quando foi instaurada a acção? responde-se, em ; e à pergunta, onde foi instaurada a acção? responde-se, no Tribunal Judicial da Comarca do Porto; (4) Ora, se a competência do tribunal se fixa no momento da interposição da acção, art. 22º LOTJ, à pergunta qual o tribunal competente para conhecer das questões jurisdicionais levantadas no âmbito do processo de injunção? responde-se naturalmente, os juízos cíveis do Porto existentes à data da interposição da acção, e independentemente da deliberação CSM, , que apenas reforça este entendimento; (5)... a declaração de incompetência impõe-se. (c) Do despacho transitado do juiz da 4ª Vara Cível: (1)... não estamos perante um processo judicial, mas sim perante um processo de natureza administrativa,...desjudicializado 4 :...o processo de injunção destina-se a conferir força executiva a requerimento destinado a exigir o cumprimento das obrigações pecuniárias de contratos de valor não superior à alçada do tribunal de 1ª instância 5 ; (2) Ora, este processo de natureza administrativa, só assume a natureza de processo judicial em duas situações: (i) se tiver sido deduzida oposição; (ii) ou se se tiver frustrado a notificação do requerido 6 ; (3) Assim..., há que atender não à data em que a injunção deu entrada na Secretaria Geral de Injunções, mas sim à data em que os autos foram remetidos à distribuição, por despacho do Secretário Geral: muito depois de ; (4) Logo, segundo a deliberação do CSM cit., não é esta Vara Cível competente para os presentes autos. 3 Determinou a distribuição aos novos juízos cíveis do Porto dos processos apresentados nos antigos juízos cíveis do Porto após Preâmbulo do DL 269/98: não podendo limitar-se o direito de acção, importa que se encarem vias de desjudicialização consensual certo tipo de litígios... 5 Vd. art. 7º, DL 269/98, Vd. art. 16º/1 DL cit. 2
3 II. Respostas: nenhumas. III. Matéria assente: (a) Tv Cabo Porto, SA, apresentou, , na Secretaria Geral de Injunções do Tribunal da Comarca do Porto, um requerimento a solicitar a notificação do requerido Miguel Pinheiro P. Machado, com vista a ser-lhe paga a quantia de Pte.: $00, proveniente das facturas de acessos e uso da rede de distribuição de televisão por cabo juntas, no total de Pte.: $00, acrescido de 1 696$00 de juros de mora, à taxa de 12% e de Pte 4 000$00, relativos ao montante pago pela apresentação do requerimento; outras quantias: Pte.: 6 000$00. (b) Entretanto, o procedimento foi remetido à Distribuição 7 ; (c) Este acto da Secretaria teve lugar depois, , e os autos foram enviados ao 3º Juízo Cível, 3ª Secção do Porto; (d) As decisões em conflito transitaram em julgado, e , respectivamente. IV. Alegações: sem alegações 8. 7 Vd. art. 16º /1, DL 269/98, Em caso em tudo semelhante foi sintetizada a posição do MP da seguinte forma: (a) Resulta dos despachos em conflito que a divergência entre os dois tribunais parte do diferente entendimento quanto à data em que se considera a entrada em Juízo do requerimento de injunção; (b) As Varas Cíveis e os Juízos Cíveis são tribunais de competência específica, art. 96/1a.c. LOTJ, sendo ambos também tribunais de 1ª instância de Comarca; (c) Mas os Juízos Cíveis têm em regra competência residual comum; (d) Não fossem as questões da natureza que deve ser atribuída ao procedimento de injunção, e da data da sua entrada em juízo, a competência, no caso concreto, era dos Juízos Cíveis, pois sempre ficaria liminarmente afastada a competência das Varas; (e) Por outro lado, e quanto à injunção, trata-se de uma fase pré-judicial, revestindo em consequência natureza de providência não jurisdicional: os poderes conferidos ao Secretario Judicial, arts. 4/2 e 6, DL 404/93, não se destinam a actos de natureza jurisdicional, pois não implicam resolução, com recursos a critérios jurídicos, de quaisquer conflitos de interesses [Cit. em abono Ac. TC , Ac. TC, , A. TC , Ac. TC , Ac. TC e Ac. TC pub.s DR IIª S. correspondentes; Ac. STJ, , CJ/STJ (2000), II/166; Ac. RL , PN ; Ac. RL, , PN ; Ac. RL, , PN , 3
4 V. Causa: pronta para julgamento. VI. Sequência: (a) Este tipo de Conflitos Negativos tem vindo a ser julgado uniformemente, a partir do Ac. RP (Rel.: Des. Paiva Gonçalves), PN , 5ª Sec., no sentido de dever ser atribuída a competência aos Juízos Cíveis: (1) a fase jurisdicional do processo ocorre só, frustrada a notificação do requerido para pagar ao requerente, ou se por ele for deduzida oposição; (2) nestes casos, a remessa da injunção para ser distribuída, determina a passagem à fase jurisdicional do processo, agora conduzido por um Juiz: de um mero requerimento passa à qualidade de acção judicial em sentido estrito; (3) e é a distribuição o momento marcante da jurisdicionalização do processo, até aí simples expediente um requerimento!; (4) por outro lado, o art. 97º LOTJ, não inclui na competência das Varas Cíveis a preparação e julgamento de Acções Declarativas Cíveis senão de valor superior à alçada do Tribunal da Relação e em que a Lei preveja a intervenção do Tribunal Colectivo; (5) no entanto, a competência dos Juízos Cíveis é, pelo contrário, residual, art. 99º LOTJ; (6) ora, na data de referência, i.é, da distribuição, já estavam instalados os novos Juízos Cíveis da Comarca do Porto; (f) Deste modo, a notificação da injunção ao requerido, bem como a mera apresentação do processo à Distribuição, não são actos de natureza materialmente jurisdicional [ Citou Ac. TC , (g) não pode pois ser-lhes conferido valor, para a atribuição de competência material: a natureza jurisdicional, no processo de injunção, só se adquire no momento em que é distribuída, art. 17, DL 269/98; (h) Na data a ter em conta, , os Juízos Cíveis estavam instalados, art. 10/2h., DL 178/00, 09.08; (i) Perante a competência residual destes, e porque a preparação e julgamento das acções declarativas que se seguem ao procedimento de injunção (frustrado) estar fora da competência das Varas, arts. 97 e 98 LOTJ, é competente o tribunal de 1ª instância do 2º Juízo Cível do Porto. 4
5 (7) por conseguinte, é competente para conhecer e julgar em caso de injunção, logo que venha a prosseguir sob a forma de processo declarativo comum, e distribuída aos Juízos Cíveis da comarca do Porto, não uma Vara Cível, sucessora dos antigos Juízos, mas um dos novos Juízos Cíveis, se aquela distribuição ocorreu em data posterior a (b) Na mesma direcção vai também a jurisprudência do TR Lisboa, tendo sido publicada recentemente 9 uma decisão (rel: des.. Eurico Reis) tirada nos termos do art. 705 CPC perante a extensa e quase uniforme jurisprudência existente quanto à matéria: (1) Propõe: o juiz de direito não é, nos processos, um mero primus inter pares mas sim um terceiro decisor, alguém que, exactamente para o poder dirimir/eliminar em conformidade com o Direito, se situa fora e acima do conflito que separa as partes exactamente para que as suas determinações (as do juiz) possam ser, se necessário, impostas coercivamente; por isso, os actos dos funcionários judiciais não são materialmente jurisdicionais 10. (2) Pergunta: que apreciação de mérito [se] faz [no âmbito funcional (autónomo) da burocracia judiciária] 11 quando, para usar as palavras do legislador (e destacam-se as diferenças, até ao nível do texto escrito, existentes entre, por um lado, os arts. 2 e 4/6 do Regime aprov. DL 269/98 e, por outro, o art. 14 do mesmo Regime), apõe a fórmula executória? até nos casos previstos no art. 2 do Regime, o juiz tem de verificar se [ocorrem ou não] de forma evidente, excepções dilatórias ou o pedido [é] manifestamente improcedente; (3) Responde: resulta dos arts. 1/6 e 7/21 do Regime aprov. DL 269/98 que [esses] poderes [da burocracia judiciária] são próprios e não delegados, e 9 Vd. Justiça & Cidadania, , XXVIII, sup. mensal O Primeiro de Janeiro. 10 Segue: e, por isso e muito bem após a reforma introduzida pelo DL 329A/95, 12.12, o critério distintivo das execuções passou a ser a qualidade/natureza do título executivo, ser este ou não uma decisão judicial condenatória. 11 O texto entre [ ] corresponde a modificações do original, porventura utilizando um conceito mais amplo, mas no respeito pelo sentido veicular. 5
6 que nunca seriam da competência de um juiz: um juiz faz sempre um julgamento, não apõe fórmulas. (c) Ora, a linha de pensamento que acaba de ser avocada reforça a trave argumentativa que vê na distribuição, segundo Antunes Varela, o [inaugural] acto complexo (operação burocrático-judicial 12 ) pelo qual as diversas petições são repartidas entre os diversos juízos que servem o tribunal quando este contenha mais que um juízo 13. (d) E parece rebater, com evidência, a subtil posição contrária de um dos julgadores em conflito cuja tese 14, no fundo, remete para a proposição: o Secretário Judicial da Secretaria de Injunções pratica nesse âmbito um acto materialmente jurisdicional (ou pelo menos para-jurisdicional) por força da desconcentração de competências 15 levada a cabo pelo legislador para aliviar o trabalho do juiz, a quem, não fosse tal desconcentração, caberia esse múnus, mesmo assim 16. (e) Não parecem ser necessários mais argumentos, tendo em conta a comprovada data da distribuição dos autos onde se suscitou o conflito, ocorrida já depois da instalação dos Juízos Cíveis: mantém-se a corrente dominante, a competência é por lei do 3º Juízo Cível do Porto. (f) Atento o exposto, visto os arts. 7, 12, 16, DL 269/98, 01.09, e art. 12/1 DL 178/00, 09.08, arts. 22, 97 LOTJ, fica decidido, em conformidade julgá-lo competente e tribunal habilitado para a instrução e julgamento da referida causa. VII. Custas: Sem custas, por não serem devidas. 12 Segundo este conceito com a distribuição termina justamente o âmbito burocrático para dar lugar, já no segmento de remate ao início jurisdicional. 13 Aut. cit., Manual de Processo Civil, 2ª ed., p Vd. I.(b):... se o processo de injunção constitui uma forma tendencialmente... desjudicializada de dirirmir litígios, a verdade é que não será por isso que deixa de correr os seus termos no Tribunal Judicial. 15 Vd. Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, I, 2ª Ed., p Vd., Justiça & Cidadania, XXVIII, Acórdão (título da pág.), 2.3.5: síntese da posição do Juiz do 5º Juízo Cível, 1ª Sec., TC Lisboa. 6
PN ; Cf. C.: TR. Porto; Rq.: MP; TR.s Conf.: 4ª Vara Cível do Porto, 1º Juízo Cível do Porto. Acordam no Tribunal da Relação do Porto
PN 1274.01; Cf. C.: TR. Porto; Rq.: MP; TR.s Conf.: 4ª Vara Cível do Porto, 1º Juízo Cível do Porto. Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1. O Digno Procurador-Geral da República junto deste Tribunal
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