DELIBERAÇÃO. Relatório
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- Adriano Borges de Sintra
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1 Pº R.P. 241/2007 DSJ-CT- Consentimento do credor como título para cancelamento de hipoteca (artigo 56º do C.R.P.) Forma legal Reconhecimento de assinatura por advogado ou solicitador - Registo informático do acto de reconhecimento - DELIBERAÇÃO Relatório 1. Em 30 de Julho de 2007 ( Ap. 21), o solicitador Paulo, em representação tácita do recorrente, pediu na Conservatória do Registo Predial de - acompanhado, na mesma requisição e na apresentação imediatamente a seguir, de pedido de conversão da inscrição C-4 - o cancelamento da inscrição C-1 do prédio descrito sob o nº 00288/ da freguesia de, mediante apresentação de autorização de cancelamento do, S.A. com termo de autenticação efectuado em 22 de Maio de 2 pelo advogado Dr. Carlos, do qual consta o nº de Registo On-Line dos Actos dos Advogados, acompanhado de print informático desse registo, mas de cujo teor consta que respeita a Reconhecimento com menções especiais presenciais da assinatura da pessoa que outorgou aquela autorização e termo de autenticação, executado na mesma data. 2. O registo foi recusado ao abrigo do disposto nos artigos 69º, nº 2 do C.R.P. e 1º da Portaria 657-B/2006 de 29 de Junho, pelo facto de o registo on-line respeitar a um reconhecimento presencial com menções especiais, quando o acto praticado é um termo de autenticação, documento exigido para o cancelamento à data da sua emissão. 3. Em 17 de Agosto de 2007 (Ap. 5) foi interposto o presente recurso hierárquico, cujos termos aqui se dão por integralmente reproduzidos, alegando em síntese o recorrente: a) que o documento apresentado é perfeitamente válido, pois é uma autorização de cancelamento devidamente autenticada por advogado, cumprindo o termo de autenticação o requisito legal, com competente registo on-line na Ordem dos Advogados; b) que a junção do comprovativo daquele registo on-line se deveu a mero lapso; c) que ocorreu lapso de escrita no registo 1
2 on-line, ao dar como registado reconhecimento com menções especiais presenciais em vez de autenticação de documento particular; d) que aquele comprovativo ( papel ) não integra o documento, nem a lei obriga a que seja junto, nem o mesmo foi sequer relacionado, pelo que não podia ser objecto de análise no despacho de qualificação, que assim é nulo; e) que mesmo que assim se não entenda, o engano no registo online não provoca a nulidade do documento; f) que, ainda assim, à data da apresentação o documento respeitava a forma legal ( dando-o como reconhecimento Passando o documento com forma insuficiente, à data da sua emissão, a ser documento perfeito, à data em que produz efeitos jurídicos -) exigida pelo art. 56º do C.R.P. na redacção posterior à alteração que lhe foi introduzida pelo D.L. nº 263-A/2007, de 23 de Julho. 4. Foi proferido despacho de sustentação - desta feita pelo Ajudante em exercício - no qual por um lado se procura realçar que não podia ter-se ignorado o registo on-line, que foi agrafado ao termo de autenticação, como se documento único se tratasse e por outro procurando justificar a razão de ser da dúvida que foi causante da recusa - se retiram duas ilações do facto de o nº de registo on-line ser coincidente: a de que não há registo on-line para o termo de autenticação e a de que não há reconhecimento presencial que corresponda ao registo on-line. Questão prévia O recurso está apresentado em nome do. e mostra-se assinado pelo solicitador que apresentara o pedido de registo, constando na parte final do requerimento que Mais requer a Vª Ex.ª que todas as notificações sejam efectuadas na pessoa do subscritor e procurador da recorrente, encontrando-se em falta a correspondente procuração. É pacífico que a representação tácita que ocorreu no pedido de registo se estende à subscrição do recurso hierárquico (artigo 39º, nºs 2, b) e nº 4 do C.R.P.), pelo que o facto de estar em falta, no processo, a procuração que corresponda à menção feita no requerimento em nada prejudica a apreciação do mérito. 2
3 Bastando a representação tácita que, em função da qualidade de solicitador, já se deu por existente para o pedido de registo, não pode agora dar-se a mesma por ausente ou por insuficiente, pelo facto de não se fazer prova de uma representação expressa referida no requerimento 1. Saneamento O processo é o próprio, as partes legítimas, o recurso tempestivo, o recorrente está devidamente representado (ao abrigo do artigo 39º, nº 2, b) e nº 4 do C.R.P.) e não existem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito. A posição deste Conselho vai expressa na seguinte Deliberação 1. Para lá de o poder ser nos termos gerais (13º do C.R.P.), o registo de hipoteca pode ser cancelado com base em documento de que conste o consentimento do credor 2, assinado na presença do funcionário 1 Embora a questão tenha sido dada por ultrapassada ainda antes da remessa a Conselho Técnico, em determinado momento chegou a colocar-se como necessária a apresentação da procuração, exigência que, em face dos elementos disponíveis, tem explicação no que nos parece ter traduzido um equívoco: tendo o solicitador pedido na mesma requisição o cancelamento da inscrição C-1, de que é titular inscrito o.s.a. e a conversão da inscrição C-4, de que é titular inscrito o, entendeu-se que, quanto ao 1º pedido, representava tacitamente o primeiro banco em vez de representar o segundo (porque era representante de um para o 1º acto e de outro para o 2º?) e considerou-se necessário apresentar procuração para efeito do recurso hierárquico, porque interposto pelo segundo. Obviamente que a legitimidade do 2º banco para pedir o cancelamento da inscrição C-1 lhe adveio da que detinha para a conversão da C-4. 2 Trata-se manifestação avulsa do chamado princípio do consentimento formal, frequentemente referenciado como vigente no direito alemão, como acontece com Carlos Ferreira de Almeida, in Publicidade e Teoria dos Registos, pág. 133, que, embora não se reportando ao registo de cancelamento, afirma: O cedente do direito deve ser a pessoa que, segundo a situação tabular, seja o titular com tal poder. O registo é contudo formal, não sendo necessário dar a conhecer o acto causal que legitima a transferência do direito ou a concessão do poder; basta que seja evidente o consentimento dado para o registo por quem com a nova situação sofra prejuízo efectivo, isto é, o sujeito passivo. 3
4 da conservatória competente para o registo ou com a assinatura reconhecida presencialmente (artigo 56º do C.R.P.), sem embargo de o consentimento poder constar de documento com força probatória superior, como seja o documento particular autenticado (artigo 364º, nº 1 do Código Civil) Ainda que efectuados por advogados ou solicitadores, aqueles reconhecimento e autenticação devem satisfazer os requisitos previstos no Código do Notariado, respectivamente nos artigos 150º a 152º e 153º a 157º - cfr. artigo 38º, nº 1, do D.L. nº 76-A/2006, de 29 de Março de entre os quais sobressai, por constituir a sua essência distintiva, a inclusão nos respectivos termos: ou da declaração de quem prestou o consentimento de que leu o documento ou está perfeitamente inteirado do seu conteúdo e que exprime a sua vontade ou da declaração do autor do acto, de que reconhece a assinatura constante do documento, porque feita na sua presença ou porque o signatário estava presente ao acto de reconhecimento. 3. A validade da prática daqueles actos por advogados ou solicitadores depende do seu registo no sistema informático, efectuado no momento da sua prática apondo-se no documento que formaliza o acto o número de identificação do registo gerado informaticamente - ou, não sendo possível nesse momento o acesso ao dito sistema ( facto que deve ser mencionado no documento que formaliza o acto), nas quarenta e oito horas seguintes( cfr. nº 3 do dito artigo 38º e artigo 4º da Portaria nº 657-A/2006, de 29 de Junho 4. 3 É esta a situação dos autos, embora com a singularidade de a força probatória superior não ter resultado de uma opção mas da satisfação de uma exigência legal por esse tipo de documento, pois à data da autenticação (22 de Maio de 2007) era ser essa a forma legal exigida pelo artigo 56º do C.R.P., que veio entretanto a bastar-se com o reconhecimento presencial da assinatura ( D.L. nº 263-A/2007, de 23 de Julho). Neste plano, a singularidade não assume qualquer significado, situando-se a questão em tabela num plano completamente diverso que, como veremos, está em saber da (in)validade da autenticação efectuada por advogado. 4 É certo que tais actos conferem a mesma força probatória aos documentos que a conferida pelos actos praticados pelos Notários, mas, certamente por razões de certeza e segurança a lei determina que se proceda a um registo informático, efectuado em sistema desenvolvido e gerido pela Ordem dos Advogados ou pela Ordem dos Solicitadores, que 4
5 4. Pedido o cancelamento de registo de hipoteca voluntária com base em documento autenticado por advogado, acompanhado embora sem ter sido objecto de apresentação como documento - de cópia ( a ele agrafada) do teor do registo informático com o mesmo número que aquele que se mostra aposto no documento apresentado e verificando-se que o acto registado é um reconhecimento presencial de assinatura com deve garantir os meios de segurança necessários à correcta e lícita utilização ( v.g. autenticação dos que acedem ao sistema) e soluções que impeçam a alteração dos registos Cfr. nº 2 do dito artigo 38º do D.L. nº 76-A/2006 e artigo 2º da dita Portaria nº 657-B/2006. Fazendo a lei depender a validade do acto, do cumprimento da obrigação de registar (também aplicável às Câmaras de Comércio e Indústria), que é comum a todos os actos previstos no referido artigo 38º, nº 1 - onde estão incluídos também as restantes modalidades de reconhecimento de assinaturas, a certificação ou feitura e certificação de tradução de documentos, certificação de conformidade de fotocópias com os originais e o acto de tirar fotocópias dos originais que sejam presentes para certificação - essa obrigação, que nada tem a ver com as formalidades próprias e inerentes ao acto de que depende a atribuição de determinada força probatória ao documento, acaba por constituir-se em condição da mesma força probatória. Para lá de o registo não constituir um resultado automático do próprio acto, ele não se traduz num mero número, devendo antes incluir elementos de identificação do acto a que se reporta, os quais no entanto também não migram automaticamente do acto praticado. Assim, independentemente do entendimento que se tiver quanto à questão de saber se, nomeadamente para efeito de registo predial, devem dar-se por suficientes - para prova da validade do acto - as simples aposição e menção referidas ou se tal validade só pode dar-se por presente perante o próprio registo ( que, se assim fosse, deveria ser consultável informaticamente, sem necessidade de juntar qualquer cópia), um facto pode dar-se por indiscutível: a certeza sobre se determinado acto foi registado, ou seja, se é válido ou não, só pode obter-se pelo confronto do número nele mencionado com os elementos incluídos no registo a que foi atribuído o mesmo número. Não vemos, consequentemente, como possa defender-se, como em última instância faz o recorrente, que o documento valha como reconhecimento presencial, com o argumento de que, estando registado como tal, como tal deve dar-se por praticado. Esta pretendida conversão formal é completamente absurda, parece-nos. Poder-se-ia configurar uma outra conversão, essa autêntica, mas cuja abordagem só assumiria interesse se, por um lado, estivéssemos confrontados com uma autenticação manifestamente inválida e, por outro, se o artº 56º do C.R.P. admitisse o cancelamento com base em documento particular. (Sobre este tema, que aqui não é pertinente tratar, cfr, Luís A. Carvalho Fernandes, in Teoria Geral do Direito Civil, II, pág. 294 e in A Conversão dos Negócios Jurídicos, pág.s 700 a 706). 5
6 menções especiais, deve o registo ser recusado ao abrigo do disposto no artigo 69º, nº 2 do C.R.P Parece-nos que o carácter decisivo que, nos termos da lei e como supra referimos, o registo informático assume para efeito de validade do acto e da força probatória do documento, torna esta solução imperativa, mesmo para quem eventualmente defenda, em abstracto, que deva dar-se por suficientemente provada a validade do acto com a aposição do número de registo. No mesmo carácter é perfeitamente possível encontrar apoio para poder dar por afastado qualquer obstáculo causado pelo facto de a cópia do registo ( print ) não estar autenticada e de não ter sido autonomamente apresentada como documento. A dúvida, que neste caso impõe uma recusa técnica, traduz a incerteza acerca da realidade registral informática, patenteada pela divergência de actos, e não acerca do acto a que se refere o documento apresentado que, até prova em contrário, foi uma autenticação de documento particular. Vejamos as hipóteses possíveis: a) a autenticação foi registada sob outro número (estando errada a aposição feita no documento), b) a autenticação não foi registada (nem sob o nº 309, cuja aposição está errada, nem sob qualquer outro) e c) o que está errado é o teor do registo informático( que respeita ao termo de autenticação e não a qualquer reconhecimento presencial). Parece-nos que terá sido este o estado de dúvida que esteve na base da qualificação. Porém, já na sustentação - não efectuada por quem qualificara, como relatámos supra no texto e visando explicitar ou concretizar a dúvida, é desenvolvido um raciocínio que nos parece carecer de lógica e que, a ter estado na base da qualificação, deveria ter determinado a recusa por manifesta falta de título ( b) do nº 1), dado que leva necessariamente à consideração de que a intervenção do advogado foi inválida. De facto, afirma-se na sustentação que a dúvida da Conservatória se justifica pelo facto de o nº de registo ser o mesmo (no documento e no próprio registo que se agrafou ), e de essa repetição de números permitir concluir a) que a autenticação não está registada e b) que não há reconhecimento para aquele registo on-line. Ora, de acordo com o que supra ficou dito, este raciocínio parte de uma premissa errada, traduzida em dar por afastados a) o simples erro da aposição do número no documento, b) o simples erro da menção da espécie do acto no registo e c) o erro na aposição do número no documento, simultaneamente com a falta de ( outro) registo. Em face dos elementos disponíveis afigura-se-nos como mais provável a segunda hipótese que, a confirmar-se, admitirá (dependendo de o sistema informático a permitir) uma solução que se salve a autenticação já feita, efectuando um registo de rectificação do nº 309 ( cfr. o artigo 2º, nº 2 da referida Portaria nº 657-B/2006, que prevê soluções informáticas que impeçam a alteração dos registos ). 6
7 Em face do exposto, entendemos que o presente recurso não merece provimento. Luís Manuel Nunes Martins, relator. Deliberação aprovada, por unanimidade, em sessão do Conselho Técnico de 23 de Julho de Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 7
A posição deste Conselho vai expressa na seguinte. Deliberação
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