Fraturas e interditos da loucura e suas representações na literatura brasileira

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1 Fraturas e interditos da loucura e suas representações na literatura brasileira Roberta Torres de Moura, Estudante (IC), Jucelino de Sales, Pesquisador (PQ). robertamoura57@gmail.com Av. Universitária, S/N - Nordeste, Formosa - GO, RESUMO: Este trabalho teve como ponto de partida a busca por refletir sobre diversos aspectos da exclusão concernente ao sujeito que é dito louco, sobre como e porque este sujeito é anormal, foge ao conceito social e moral da sociedade do que é ser normal, a fim de relativizar sobre o que é e quem são estes seres normais afinal. Utilizando como pressuposto, a literatura e seus discursos, trazendo à questão as épocas de produção das obras literárias, com o intuito de compreender o que vem a ser a loucura construída no discurso narrativo das obras escolhidas. Fazse um percurso que parte do romantismo brasileiro à contemporaneidade, traçando o discurso da loucura juntamente com o discurso literário para um entendimento mais assertivo, construindo a ideia do que é a loucura dentro da esfera social atual e da esfera literária a partir do tempo e dos discursos analisados em cada obra e em cada contexto. PALAVRAS-CHAVE: discurso, loucura, literatura, interdito, sociedade. Introdução Este trabalho partiu da questão primordial de fazer a análise dos discursos que rodeiam a representação do sujeito dito louco na literatura brasileira e as diferentes perspectivas que essa representação toma diante da trajetória do mesmo, do romantismo brasileiro à contemporaneidade. Tomamos como ponto de partida o seguinte questionamento, proposto em comum com o coordenador dessa pesquisa, o professor Jucelino de Sales: Por que a loucura se conota de acepções várias, segundo as épocas de sua articulação social, aparecendo como uma fratura evocadora da exclusão? Nesse sentido, indagamos que tipo de interdito gritante existe por trás da representação desse sujeito? Isto é, ele foi adequadamente representado pela literatura brasileira na fase romântica e realista? E atualmente, considerando desde o chamado período moderno, como esse sujeito é representado e apresentado no discurso literário? Numa acepção mais ampla, procuramos discutir quais são os discursos que norteiam a ideia de loucura. Assim, tomamos as discussões de Michel Foucault que

2 realiza uma radiografia desse estado psicossomático da subjetividade humana no livro História da loucura, conduzindo nosso estudo em relação sobre qual é o discurso da sociedade brasileira a respeito da loucura? Assim, abriram-se vários questionamentos a serem tratados na realização deste trabalho, a partir de um conjunto de narrativas, Noite na Taverna de Álvares de Azevedo, O Seminarista de Bernardo Guimarães, Quincas Borba de Machado de Assis, Primeiras Estórias de Guimarães Rosa e No Hospício de Rocha Pombo. A produção literária de uma sociedade reflete sua cultura e sua mentalidade. Em vista disso, a relevância deste trabalho está na abordagem do personagem louco sob duas perspectivas fundamentais: 1) a perspectiva do discurso do autor, homem produto de seu tempo, que encara a sociedade em que vive de acordo com o seu contexto e o reflete em seus textos; 2) a perspectiva dos personagens que transitam pelas obras em que existe a presença da loucura, ora, como portadores desse estado clínico psicossomáticos, ora como corpo social que convive no mesmo espaço com os indivíduos ditos loucos. Essas condições de aparecimento e acontecimento refletem as mais diversas opiniões e atitudes acerca da loucura e suas implicações. Material e Métodos No primeiro momento do projeto, partimos da leitura de todos os objetos de pesquisa com anotações sobre os mesmos, analisando detalhadamente cada perspectiva das obras no que se refere ao discurso da loucura. Num segundo momento, de análise e crítica a partir dos métodos da teoria literária e da análise de discurso, todas as atenções se voltam para a narrativa literária com a interpretação de seu discurso na historicidade da loucura e do louco. O trabalho se coloca no ponto de vista desse sujeito, de modo a analisar quem e como o representa, e em quais perspectivas históricas se colocam essa representação. Resultados e Discussão A experiência com o Projeto de Iniciação Científica, no âmbito da pesquisa, trouxe como resultado um trabalho leitura mais crítico das obras e de outros

3 interstícios literários na expectativa de desenvolver estudos aprofundados e compreender o discurso da literatura concernente à loucura. Conforme se abriam estes leques de diferentes leituras, o nível de entendimento das obras relevantes para o trabalho se tornava mais flexível, em sentido de compreensão literária e social. Outras experiências foram vivenciadas também, às quais acrescentaram, positivamente, vários conhecimentos ao respectivo trabalho. Foi feita uma comunicação oral no XI ELFO Encontro de Letras de Formosa, promovido pelo Curso de Letras da UEG Campus Formosa, realizado entre os dias 22 a 26 de Junho de 2015, no qual, foi abordado e apresentado o referente projeto com a exposição das literaturas e mais uma comunicação foi realizada no II EBIME Encontro Brasileiro de Imaginário e Ecolinguística, tomando como análise a obra O Cortiço tendo por base o imaginário social e a cultura brasileira, discutindo como o imaginário é composto, tais como as imagens sociais, o conjunto de representações de uma sociedade, destacando as representações utópicas e também ideológicas. No que se refere à compreensão do discurso sobre a loucura nas obras supracitadas, pudemos observar a dimensão com que essa temática é evocada na literatura brasileira. Na época romântica, esse lastro se volta para uma poética do escapismo, da fuga para o ambiente interno do eu. No início do século XX, o discurso sobre a loucura se volta para a patologia, evidenciada nos estudos freudianos, experienciada no âmbito da inadequação e do prejuízo social. Na medida em que o século avança, e com a estética da modernidade, esse discurso recebe tratos de um trabalho afetivo na experiência da escritura que tenta lidar com o desequilíbrio das forças sociais, com a construção de personagens envoltos aos desajustes sociais e que se fundem à própria escrita literária. Nessa medida, cada época enfrenta a loucura à sua própria maneira. Contudo, um traço persiste: a de que esse discurso incomoda o corpo social no qual está entranhado. Considerações Finais A pesquisa e o conjunto de análises provocadas apontaram paralelos entre as obras arroladas, possibilitando uma visão analítica do conjunto, tornando muito mais ampla nossa compreensão sobre esse interdito a loucura, sobre como funciona

4 essa representação na literatura, estreitando nossa interpretação sobre a forma como esse discurso se estabelece no campo literário. Todos os parâmetros plausíveis até então trabalhados, fizeram com que o estudo se tornasse mais resoluto e aberto para diálogos e considerações acerca do tema. Salientamos, por último, que essa pesquisa resultará na nossa monografia final, ou seja, o trabalho de conclusão de curso, o qual defenderemos na penúltima semana do mês de novembro, no campus de Formosa. Agradecimentos Agradeço primeiramente ao meu coordenador de Pesquisa e Professor Jucelino de Sales que se propôs a estar nesta caminhada de pesquisa e conhecimento junto a mim, me auxiliando da melhor forma com paciência, dedicação e muito estudo. Pelo incentivo e fundamentalmente por acreditar em minha capacidade. Às minhas colegas de Pesquisa, Priscila Lorrane Lopes, Flávia Cristina Mittelstaedt e Andréia dos Anjos que compartilharam comigo também os seus conhecimentos e aflições fazendo com que juntas pudéssemos alcançar a finalização deste trabalho. À minha família e demais amigos por acreditarem em minha capacidade e me auxiliarem emocionalmente e psicologicamente. Referências ASSIS, Machado de. Quincas Borba. 4ª. ed. São Paulo: Clube do Livro, AZEVEDO, Álvares de. Noite na taverna. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, BUENO, Austregésilo Carrano. Canto dos Malditos. Rio de Janeiro: Rocco, FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, História da loucura: na Idade clássica. Tradução José Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Perspectiva, GUIMARÃES, Bernardo. O Seminarista. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 5 ed. Campinas: Pontes, 2003.

5 PESSOTTI, I. Os nomes da loucura. São Paulo: Editora 34, POMBO, José Francisco da Rocha. No Hospício. Porto Alegre: Afrânio Coutinho e Instituto Nacional do Livro, ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. 5ª. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.