Projecto: ESDIRE-AML, Estratégias e Dinâmicas Residenciais na Área Metropolitana de Lisboa (com Financiamento Plurianual da FCT )

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1 egeo, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional Faculdade de Ciência Sociais e Humanas Universidade Nova de Lisboa Projecto: ESDIRE-AML, Estratégias e Dinâmicas Residenciais na Área Metropolitana de Lisboa (com Financiamento Plurianual da FCT ) Coordenadora: Maria Júlia Ferreira Lisboa, Dezembro 2010

2 RELATÓRIO DO PROJECTO ESDIRE-AML, Estratégias e Dinâmicas Residenciais na Área Metropolitana de Lisboa Maria Júlia Ferreira,

3 PLANO DO RELATÓRIO pág Plano 3 1 Introdução 5 2 Sumário executivo Justificação Objectivos Calendarização Equipa Tarefas da coordenação Tarefas dos mestrandos e doutorandos, colaboradores do projecto Tarefas do BII, do 1º ciclo de Bolonha Produtos do projecto Recursos financeiros: fonte de financiamento, receitas e despesas Dificuldades e constrangimentos na execução do projecto 9 3 Descrição do projecto: dos pressupostos às reflexões finais A lógica da investigação, os produtos apresentados e o caso de estudo Os pressupostos na investigação sobre as estratégias habitacionais em áreas críticas urbanas 3.3. As limitações das conclusões gerais 16 A B C D E F ANEXOS FERREIRA, Mª Júlia, 2009, O papel das dinâmicas e estratégias residenciais no desenvolvimento territorial da Área Metropolitana de Lisboa (comunicação publicada nas Actas do Congresso, em CDROM e em artigo, na RPER, nº 24, 2º quadrimestre de 2010: ). Cedidos os direitos de autor. Resumo FERREIRA, Mª Júlia; CARVALHO, Rui, 2010, Estratégias residenciais em áreas críticas urbanas: O caso do Bairro do Alto da Cova da Moura, em Lisboa (comunicação publicada nas Actas do congresso, em CDROM) ALMEIDA; José, 2010, Avaliação da metodologia MACBETH da matriz estratégica do PLH de Lisboa.(Trabalho de Seminário de doutoramento) ALMEIDA; José, 2010, Avaliação na escolha da habitação - o papel do Marketing na valorização da propriedade imobiliária.(trabalho final do curso de doutoramento). Resumo ALMEIDA, José Manuel, 2010, A Avaliação Imobiliária na Perspectiva da Procura e sua Implicação na Gestão do Território Urbano, Trabalho-Projecto no Mestrado em Geografia e Gestão do Território. Resumo ROSÁRIO, Andreia, 2010, Reabi(li)tar Lisboa: Contributos do Programa Local de Habitação; Dissertação de Mestrado em Geografia e Gestão do Território. Resumo Maria Júlia Ferreira,

4 G H I ANICETO, Carlos, 2010, Impactos do Novo Aeroporto de Lisboa na Reconfiguração Espacial do interior da Península de Setúbal, Dissertação de Mestrado em Geografia e Gestão do Território. Resumo FERREIRA, Beatriz, 2010, Políticas de Habitação: Problemas e Desafios em Contexto Municipal, Trabalho realizado pela BII (1º ciclo de Bolonha) e apresentação pública do relatório da bolsa. Textos /slides do powerpoint da coordenadora, anteriores e justificativos do projecto autónomo ESDIRE-AML 1.FERREIRA, Maria Júlia; 2004, O papel dos novos lugares na construção de identidades sócio-espaciais e na reconfiguração do território: o caso da Península de Setúbal, Jornadas do egeo, 2004 (no âmbito do projecto RECONFAL) 2.FERREIRA, Maria Júlia; 2004, Reconfigurações territoriais e mobilidade residencial das elites urbanas: o caso de Telheiras e Parque EXPO, em Lisboa (no âmbito do projecto RECONFAL); Actas do V Congresso de Geografia Portuguesa Portugal: Territórios e protagonistas, realizado na Universidade do Minho, em Outubro de FERREIRA, Maria Júlia; 2006, Habitação para jovens: uma estratégia de regeneração urbana no contexto da sustentabilidade social, Actas do Congresso PLURIS FERREIRA, Maria Júlia, 20006, Residências assistidas: um novo produto imobiliário na qualificação dos territórios? Jornadas egeo 2006 (no âmbito do projecto RECONFAL) FIM Encerramento do projecto: data e assinatura da coordenadora Maria Júlia Ferreira,

5 1. INTRODUÇÂO O desenvolvimento dos territórios, na lógica de espaços-canais, tem a função residencial como uma das suas componentes principais e a análise desses espaços residenciais proporciona-lhe uma perspectiva relacional centrada nos actores e nas suas estratégias de actuação; estas premissas estão na base deste pequeno projecto que teve como primeira finalidade integrar investigadores do Departamento de Geografia e Planeamento Regional com trabalhos académicos em curso nesta área de estudo. A habitação tem sido uma das preocupações nos trabalhos de investigação desenvolvidos pela coordenadora do ESDIRE-AML, temática que não tem tido visibilidade nem na formação dos alunos do Departamento de Geografia e Planeamento Regional nem nos projectos de investigação desenvolvidos no contexto do egeo. O destaque que é dado à habitação noutras escolas de Geografia, sobretudo no estrangeiro, a produção científica recente feita em Portugal e por outras formações profissionais sobre a temática e o novo contexto em Portugal, após o PNPOT e, em especial, o Plano Estratégico da Habitação que dele decorreu e dos instrumentos derivados deste, tornam sem dúvida pertinente e actual este projecto. A coordenadora já leccionou a temática na licenciatura no único ano em que funcionou uma disciplina sobre a habitação; a entrada do regime de Bolonha fez com que a disciplina transitasse, como opcional, para o IIº ciclo, mantendo-se sob a responsabilidade do mesmo docente. Nos projectos GAU s e, sobretudo, RECONFAL respondeu pelo domínio da habitação, tendo neste último projecto direccionado as preocupações para os efeitos das políticas públicas e para a importância das estratégias residenciais nas reconfigurações dos territórios; justificava-se, assim o ESDIRE-AML como um projecto autónomo que continuasse essa lógica de investigação. O projecto ESDIRE-AML integrou-se no egeo, unidade de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e teve apoios financeiros provindos do Financiamento Plurianual da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A equipa foi constituída apenas por um docente doutorado, a coordenadora, e por investigadores interessados em desenvolver os seus trabalhos académicos na área da habitação ou afins; daqui decorrem algumas limitações na investigação produzida, sempre condicionada pelos interesses muito específicos de cada investigador, dos níveis em que se situam os seus trabalhos e dos prazos de entrega a respeitar. Assim, uma das grandes finalidades do projecto foi a integração de investigadores, sobretudo, mestrandos e doutorandos, em torno da temática da habitação, aumentando a visibilidade da investigação neste domínio no contexto da unidade de investigação em que se insere. Maria Júlia Ferreira,

6 2. SUMÁRIO EXECUTIVO: PROJECTO ESDIRE-AML, Estratégias e Dinâmicas Residenciais na Área Metropolitana de Lisboa (financiamento plurianual da FCT) 2.1. Justificação do projecto Pertinência e actualidade do tema: Escassez de pesquisas na área da habitação a partir da formação em Geografia. Defesa de que as estratégias das famílias, empresas e políticas públicas são os motores do desenvolvimento dos territórios, sobretudo dos territórios metropolitanos. Reconhecimento de deficiências na integração da habitação no urbanismo, identificadas na Constituição da República. Esforços recentes para mitigar essas deficiências, integrando-a com o urbanismo: o PNPOT e o Plano Nacional Estratégico da Habitação. Início da concretização dos instrumentos criados na continuação do PEH, nomeadamente, o observatório da Habitação e Reabilitação Urbana e os Programas Locais de Habitação Objectivos do projecto a)identificar estratégias residenciais de diferentes actores sociais, na Área Metropolitana de Lisboa. b) Identificar factores explicativos da satisfação residencial com destaque para as identidades locais c) Entender o funcionamento do mercado de habitação na perspectiva da procura e da oferta. d) Explicar os factores de dinamismo do mercado de habitação em contextos sócio-espaciais diferenciados da AML. e) Relacionar estratégias residenciais e políticas de habitação. f) Perspectivar mudanças/reconfigurações territoriais a partir das estratégias e dinâmicas residenciais identificadas Calendarização 2008/9 Actividade s Actividade 1 Actividade 2 Actividade 3 Actividade 4 Actividade e 1º Trimestre 2009 Recolha de dados para caracterização do parque habitacional português, com destaque para a AML 2º Trimestre 3º Trimestre 4º Trimestre Recolha de informação sobre a habitação ao nível municipal e os planos locais de habitação no Brasil, França e em Portugal (Lisboa) Desenvolvimento teórico sobre Estratégias residenciais A análise da informação sobre os PLH s Redacção de um breve ensaio sobre a habitação ao nível municipal e os programas locais de habitação (BII) 2010 Maria Júlia Ferreira,

7 Actividades 1º Trimestre 2º Trimestre 3º Trimestre 4º Trimestre Actividade 1 Actividade 2 Actividade 3 Actividade 4 Estudo de casos Paper sobre Estratégias residenciais na AML: estudo de casos o caso da Cova da Moura Apresentação das dissertações de mestrado Apresentação do relatório do Seminário do doutoramento Apresentação do trabalho final do curso de doutoramento Redacção do relatório final Encerramento do projecto, apresentação do relatório final 2.4. Equipa de investigação e tarefas principais a) Coordenação Maria Júlia Ferreira (professora Auxiliar; membro do egeo) b) Colaboradores José Manuel Almeida (Mestrando e doutorando; colaborador no e-geo) Anabela Duarte (Mestrando; colaborador no e-geo) Andreia do Rosário (Mestrando; colaborador no e-geo) Carlos Aniceto (Mestrando; colaborador no e-geo) Maria Beatriz Ferreira (BII, 1º ciclo de Bolonha) 2.5. Tarefas da coordenação do projecto Coordenação geral das actividades. - Desenvolvimento teórico e organização dos casos de estudo. -- Integração e acompanhamento da bolseira (BII) e supervisão da apresentação pública dos resultados. - Supervisão das dissertações/trabalhos-projecto de mestrado e tese de doutoramento. - Integração e acompanhamento, como tutor, do seminário de doutoramento Tarefas dos mestrandos e doutorandos, colaboradores no projecto Elaboração da dissertação/trabalho Projecto/relatório de estágio de mestrado - Participação em eventos importantes ligados à temática - Elaboração do relatório do seminário/trabalho fim de curso/tese do doutoramento 2.7. Tarefas do bolseiro (BII), estudante de 1º ciclo Recolha de informação bibliográfica e estatística sobre habitação em Portugal e, em especial, ao nível municipal - Recolha de informação sobre planos locais de habitação: casos de Portugal (Lisboa), Brasil e França - Análise da informação sobre a habitação ao nível municipal e planos locais de habitação - Elaboração de um pequeno ensaio sobre a habitação ao nível municipal, destacando a importância do programa local de habitação. Maria Júlia Ferreira,

8 2.8. Produtos científicos a) Comunicações em Actas FERREIRA, Maria Júlia, 2009, O papel das dinâmicas e estratégias residenciais no desenvolvimento territorial da Área Metropolitana de Lisboa, Actas do 15º Congresso da Associação Portuguesa de Estudos Regionais, APDR: Cabo Verde, 6-11 Julho. Em CD- Rom (adaptado para o artigo da RPER) FERREIRA, Maria Júlia ; CARVALHO, Rui, 2010, Estratégias residenciais em áreas críticas urbanas: O caso do Bairro do Alto da Cova da Moura, em Lisboa, APDR, Madeira Julho 2010 (comunicação aceites pelos referees) b) Artigos em revistas nacionais com referees c) Relatórios FERREIRA, Maria Júlia, 2010, O papel das dinâmicas e estratégias residenciais no desenvolvimento territorial da Área Metropolitana de Lisboa, Revista Portuguesa de Estudos Regionais, RPER, (adaptação da comunicação apresentada em 2009 na APDR- Cabo Verde); aprovado por referees para publicação; publicado na REPER nº 24, pp ; cedidos os direitos de autor à RPER). FERREIRA, Maria Júlia, Relatório final do projecto ESDIRE-AML: Estratégias e Dinâmicas Residenciais na Área Metropolitana de Lisboa. d) Dissertações de mestrado ANICETO, Carlos, Impactos do Novo Aeroporto de Lisboa na Reconfiguração Espacial do interior da Península de Setúbal: o sector da habitação, Dissertação de Mestrado em Geografia e Gestão do Território (defendidas as provas públicas em 2010). ALMEIDA, José Manuel, A Avaliação Imobiliária na Perspectiva da Procura e sua Implicação na Gestão do Território Urbano, Trabalho-Projecto no Mestrado em Geografia e Gestão do Território. (defendidas as provas públicas em 2010) ROSÁRIO, Andreia, Reabi(li)tar Lisboa: Contributos do Programa Local de Habitação; Dissertação de Mestrado em Geografia e Gestão do Território (defendidas as provas públicas em 2010). DUARTE, Anabela Paulo Nuno de Brito, A ocupação urbana da costeira de Loures um território a reconverter, Trabalho-Projecto de Mestrado em Geografia e Gestão do Território (termina o prazo no final de Março de 2011 e transitou a orientação para Margarida Pereira, por aposentação da anterior orientação). e) Trabalhos no âmbito do Curso de Doutoramento e da tese de doutoramento ALMEIDA, José Almeida, Seminário de doutoramento: Avaliação da metodologia MACBETH da matriz estratégica do PLH de Lisboa. Doutoramento em Geografia e Planeamento Territorial. ALMEIDA, José Manuel, Trabalho final do curso de doutoramento: Estratégias de Avaliação na escolha da habitação - o papel do marketing na valorização da propriedade imobiliária (Provas públicas em Dez de 2010) ALMEIDA, José Manuel, O valor da propriedade imobiliária na decisão de escolha da habitação, Tese de Doutoramento em Geografia e Planeamento Territorial, Especialidade em Planeamento e Ordenamento do Território. DGPR/ FCSH da UNL (em curso). f) Trabalho de pesquisa e apresentação pública do relatório da bolsa (BII) FERREIRA, Beatriz Leal da Silva Brandão, 2009, Políticas de Habitação: Problemas e Desafios em Contexto Municipal, breve ensaio e apresentação pública do relatório da bolsa. Maria Júlia Ferreira,

9 g) Participação da coordenadora em júris de dissertações de mestrado, sobre a temática ou afins, para além das situações em que foi orientadora Título da Dissertação: A reabilitação Urbana em Portugal Avaliação dos Programas RECRIA, REHABITA, RECRIPH e SOLARH, Nome do/a Estudante: MADEIRA Cátia Alexandra Costa Luís Orientador da Dissertação: MENDES, Maria Clara Instituição: Faculdade de Arquitectura de Lisboa. Domínio da especialização do grau a obter com a dissertação: Ano da defesa das provas públicas: 2009 Título da Dissertação: SIG Municipal: desenvolvimento da aplicação S.A.P.U. para análise de condicionantes ao licenciamento urbanístico no Município de Setúbal, Nome do/a Estudante: BRONZE, Sónia Cristina Candeias, Orientador da Dissertação : Tenedório, José António Instituição: FCSH da UNL Domínio da especialização do grau a obter com a dissertação: Mestre em Geografia e Gestão do Território Ano da defesa das provas públicas: 2009 Título da Dissertação: A integração dos condomínios na Cidade, Nome do/a Estudante: REIS, Cláudia Filipa Lopes Gomes Jorge Campos dos Orientador da Dissertação: Carvalho, Jorge Instituição: Universidade de Aveiro, na secção Autónoma de Ciências Sociais, Jurídicas e Políticas Domínio da especialização do grau a obter com a dissertação: Mestre em Planeamento do Território -Organização da Cidade Ano da defesa das provas públicas: Recursos financeiros: fonte de financiamento, receitas e despesas Ano Instituição Financiadora Receita Despesas 2009 FCT 3.700, ,95 Taxa de execução do orçamento 77,4% 2010 FCT 1.800, ,80 Taxa de execução do orçamento 65,5% 2009/ , ,75 Taxa de execução do orçamento 73,5% NB: Em 2010, considerámos apenas os 1800,00 transferidos antes de Dezembro, porque o fecho do projecto estava previsto para o final desse mês Dificuldades e constrangimentos na execução do projecto Responsabilidades da coordenadora em 2008 e 2009 (na coordenação do DGPR -tripartida). - Incerteza dos financiamentos a disponibilizar e na sua distribuição anual. - Começo efectivado só nos finais de Dependência exclusiva das quotas do financiamento plurianual da FCT ao egeo, cujo montante não permitia a entrada de um bolseiro (maior abertura nos finais de 2010). - Limitações na disponibilidade dos colaboradores, concentrada nos seus trabalhos académicos. Maria Júlia Ferreira,

10 DESCRIÇÃO DO PROJECTO: dos pressupostos às reflexões finais 3.1. A lógica da investigação e os produtos apresentados A construção teórica (Comunicação científica de apresentação do projecto) Tipologias de espaços residenciais - suporte de possíveis amostras - Fluxos das residências da população entre lugares - mobilidade residencial - Perceber as estratégias residenciais dos diferentes actores e as mudanças em curso - dinâmicas residenciais (Trabalho-projecto sobre a avaliação imobiliária e Doutoramento sobre a escolha da habitação) Avaliar as vantagens dos Programas Locais de Habitação nas estratégias públicas (Dissertação Rea(bi)litar Lisboa e relatório do BII) e das metodologias seguidas (relatório do seminário de doutoramento) Perceber diferenciações através de estudo de casos (áreas críticas urbanas: 2º Antever paper) efeitos na organização dos territórios residenciais da AML (Dissertação sobre as mudanças na Península de Setúbal, Comunicação sobre um dos casos-amostra e Relatório Final do projecto A operacionalização do projecto Identificação dos conceitos estatísticos básicos sobre alojamento, habitação, direito à habitação/ cidade, espaços residenciais. Recolha e análise de dados estatísticos sobre a habitação ao nível municipal, na AML Construção de tipologias habitacionais simples, os espaços residenciais-amostra. Os espaços residenciais, objectos potenciais de estudo, são as unidades territoriais de base e pólos vivenciais, ou seja, as entidades territoriais de proximidade; a classificação da qual se parte atende a dimensões variadas, nomeadamente a sua visibilidade estatística (conceito de lugar), grau de consolidação (em construção ou consolidados) e de identidade (sem identidade como um todo ou com identidades próprias /ou de integração num todo). A designação genérica, de assentamento humano/povoamento, permite a reflexão a uma escala geográfica mais abrangente. (fig 2) Esta tipologia foi mais refinada, atendendo a outras dimensões, nomeadamente o regime de ocupação (residência principal ou secundária, turismo residencial), a localização no povoamento humano (na malha urbana ou nos espaços rurais) e o estatuto socioeconómico (lugares de elites, espaços urbanos sem identidade mas sem estarem incluídos nas áreas críticas, áreas críticas urbanas) (fig. 3) Maria Júlia Ferreira,

11 Fig 2: Tipologia de objectos residenciais territoriais (espaços residenciais) Os Lugares estatísticos (aldeia, vila, cidade) Não-lugar/ dispersão Novos lugares O território Assentamento humano/ povoamento Urbanização Áreas/ territórios residenciais Delimitação do lugar - identidades sócio-espaciais, coesão dos tecidos urbanos e sentido de lugar Bairros residenciais Fig 3: Espaços residenciais - bases amostrais para o projecto Lugares de elites Lugares Jardim Condomínios Exclusivos Habitat Disperso em espaço rural Espaços Residenciais Base da amostra Habitação/ residência secundária Turismo residencial Habitat desintegrados Áreas críticas urbanas Ilhas-subúrbio Espaços urbanos sem identidade Bairros urbanos Enclaves urbanos Identificação dos tipos de fluxos entre lugares /espaços residenciais com destaque para a mobilidade geográfica/residencial, determinantes desta e do seu peso na tomada de decisão (idade, comportamentos sociológicos, estatuto e regime de Maria Júlia Ferreira,

12 ocupação do alojamento, estatuto matrimonial, local de emprego e mudanças neste, etc.). Identificação dos actores/agentes que desenvolvem estratégias de habitação: As famílias, As empresas de promoção de habitação, A administração pública central e local. Recolha e análise da informação sobre estratégias residenciais dos diferentes actores, com destaque para as da administração pública (através, sobretudo dos instrumentos de política territorial e de habitação, PNPOT e PEH). Recolha e análise de informação sobre diferentes estratégias de intervenção públicas na habitação ao nível local e especial sobre os programas locais de habitação, metodologias adoptadas potencialidades deste. Identificação das mudanças nas estratégias dos diferentes actores que levam a mudanças nos fluxos entre espaços residenciais, logo a reconfigurações territoriais. Reflexão sobre os efeitos dos fluxos entre espaços residenciais na organização dos territórios. Aplicação aos espaços residenciais da AML, através de estudo de casos-amostrais, avaliando, em cada um dos espaços residenciais, as mudanças em curso nas estratégias residenciais/de habitação, dos diferentes actores: Os novos lugares na demografia do povoamento Os lugares-jardim, lugares das elites, condomínios habitacionais exclusivos fechados Os enclaves urbanos Os lugares da habitação secundária e do turismo residencial As ilhas-subúrbio e os habitat desintegrados : espaços-problema / áreas críticas urbanas Aprofundar a reflexão sobre a actual filosofia de intervenção pública, considerada como uma nova estratégia de actuação, e antever efeitos das mudanças em curso, na organização dos territórios residenciais, por tipo de espaço residencial. Escolhemos as áreas urbanas críticas da AML como primeiro campo de ensaio da reflexão (fig. 4) e uma dessas áreas para início da aplicação. Começámos pelas áreas críticas urbanas porque acreditamos que como afirmou alguém, não há espaços condenados há espaços sem projecto. A coesão social e territorial é essencial para garantir a eficácia económica e a coesão pela perequação é condição para assegurar a solidariedade. ( ). Os princípios para a gestão quotidiana da cidade parecem exigir novas formas de fazer que exigem simultaneamente a alteração dos olhares e das formas de fazer, a integração e a capacidade de gerir sistemas complexos, o aumento da base científica da acção e avaliação e, finalmente, uma maior participação dos cidadãos ( ) (Guerra, in Portas et alli, 2003: 248) 1, ou seja, acreditamos que as políticas públicas têm de demonstrar a legitimidade que lhe advém de objectivos e projectos de forte enraizamento local e de forte componente de equidade (idem:249). Dito de outra forma, acreditamos que as áreas críticas com um projecto bem enraizado nas comunidades locais, que passe pelo desenvolvimento de um ambiente em que os indivíduos e as famílias possam realizar o direito à escolha, logo desenvolver estratégias pessoais, reúnem condições mais consistentes para deixarem de ser espaços tradicionalmente condenados. 1 PORTAS, Nuno; DOMINGUES, Álvaro, CABRAL, João, 2003, Políticas Urbanas. Tendências, estratégias e oportunidades, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Maria Júlia Ferreira,

13 Fig. 4: A distribuição espacial das áreas críticas urbanas na Área de Lisboa As áreas críticas urbanas na área de Lisboa, por tipologia dos espaços residenciais, seg, o PROT-AML Para a escolha do Bairro do Alto da Cova da Moura, como 1º exemplo para aplicação e ensaio (pelas limitações de recursos humanos e de tempo, não foi possível aplicar a outros tipos de espaços residenciais), foram importantes as seguintes razões: - a génese ilegal do bairro: AUGI ainda sem integração urbanística (sem plano de pormenor) - as condições sociais e urbanísticas actuais: ACU com muita visibilidade e imagem negativa no exterior; predomínio de comunidades dos PALOP s, conferindo-lhe características especiais. - a localização do espaço residencial: na periferia imediata de Lisboa, com boas acessibilidades o que torna a área atractiva para o sector do imobiliário, pressionando no sentido da renovação da área, e conferindo expectativas aos proprietários actuais e residentes como valorização após a requalificação/ regeneração urbana da área. - as condições do mercado de habitação: fortes constrangimentos sobre as possibilidades de escolha, logo condicionando as estratégias individuais e apelando a estratégias públicas para a inclusão efectiva dos territórios e das comunidades. - o conhecimento do território e as facilidades no acesso à informação, havendo muitos estudos que têm os resultados disponíveis online. A chamada de atenção sobre a importância da intervenção nas áreas críticas urbanas, de forma a regenerar esses espaços e a integrá-los social e urbanisticamente, não é de hoje; é também conhecido o peso que nelas assumem determinadas comunidades, por exemplo imigrantes recentes e estrangeiros com baixo poder de compra (vejam-se estas problemáticas e os dados apresentados nos estudos para o PROT-AML). Estes factos reforçam a pertinência da escolha deste espaço residencial. Maria Júlia Ferreira,

14 (%) ESDIRE-AML; egeo/ FCSH - FCT O caso de estudo 2 : o Bairro do Alto da Cova da Moura Fig 5: Localização e planta urbana da Cova da Moura N B 9 O C E A N O A T L Â N T I C O A 0 10 km Alfornelos 7. Mina 2. Alfragide 8. Reboleira 3. Brandoa 9. São Brás 4. Buraca 10. Venda Nova 5. Damaia 11. Venteira 6. Falagueira Bairro do Alto da Cova da Moura km Fonte:FERRREIRA-CARVALHO, 2010 Particularidades do Bairro do Alto da Cova da Moura a) A naturalidade da população Fig. 6: Naturalidade da população residente no bairro do Alto da Cova da Moura, em Portugal Cabo Verde São Tomé e Príncipe Angola Moçambique Outras Excolónias Outras naturalidades Sem Dados (Fonte: ALVES et al., 2006; Adaptado). 2 As áreas de residência secundária (foi abandonado este espaço-amostra por haver um projecto na FCT que estuda este tipo de espaços) Maria Júlia Ferreira,

15 b) A génese urbana ilegal e a sobreocupação do espaço Fig. 7: A sobreocupação urbanística na Cova da Moura Fonte: IHRU, 2006, Iniciativa Bairros Críticos, IBC, Operação Cova da Moura, Relatório 1 III: Dimensão urbanística:pp.20 c) As características de área crítica e o estado de conservação do edificado Fig. 8: O estado de conservação do edificado da Cova da Moura Fonte: IHRU, 2006, Iniciativa Bairros Críticos, IBC, Operação Cova da Moura, Relatório 1 III: Dimensão urbanística:pp.22 d) Os constrangimentos ao mercado de habitação na Cova da Moura Decorrem dos principais pontos fracos do desenvolvimento desta área: Área urbana de génese ilegal em que a generalidade dos edifícios (auto-construção informal) permanece sem licenciamento ou regulação (Plano de pormenor ainda em curso). Peso significativo de população imigrante com elevada tendência para fenómenos de segregação. Sentimento de estigmatização da população, reforçado pela má imagem pública do Bairro. Maria Júlia Ferreira,

16 Desigualdade de oportunidades e elevada dependência da população face à oferta laboral indiferenciada e informal gerada no Bairro. Densificação populacional e urbanística com sobreocupação dos espaços públicos e privados 3.2. Os pressupostos na investigação sobre as estratégias habitacionais em áreas críticas urbanas A importância da habitação como estratégias de investimento ou de sobrevivência O pressuposto do comportamento racional dos agentes. As diferenças nos comportamentos dos agentes, de acordo com os contextos socioeconómicos, em especial o do mercado de habitação. As mudanças em curso nas estratégias residenciais, invertendo a lógica das estratégias do Estado Providência. A capacidade de adaptação das famílias em situação de constrangimento socioeconómico e, em especial, no que se refere às soluções de habitação. A capacidade das famílias e indivíduos de desenvolverem estratégias residenciais dinâmicas e adaptativas face às incoerências e insuficiências do mercado de habitação formal e das políticas urbanas, recorrendo, muitas vezes à informalidade. A importância da intervenção pública para a formalização dos mercados de habitação As limitações das conclusões gerais A especificidade do caso de estudo e a falta de tempo e recursos para estender a pesquisa a outros tipos de espaços residenciais não permitem a generalização das conclusões. Valorizamos a escolha de um caso em que há fortes constrangimentos ao exercício do direito à escolha de habitação, ambiente característico das áreas críticas urbanas; mas, mesmo nestas, há grandes diferenciações: por exemplo, nas de habitação social as estratégias residenciais ficam condicionadas também pelas regras da atribuição das habitações sociais; estas podem gerar formas para as contornar. Nestes ambientes há grandes desequilíbrios no funcionamento do mercado de habitação, nomeadamente: operações opacas, falta de disponibilização da informação, procedimentos pouco claros, transacções que não contribuem para o fornecimento de bens públicos e não conferem o direito de propriedade aos compradores que, por esse facto, ficam muito sujeitos aos despejos e a outras formas de coação. Aqui a administração pública tem de ser capaz de desempenhar um papel social de uma forma proactiva, criando condições para firmar o direito à habitação e fazer funcionar o mercado, aumentando, assim, as possibilidades de escolha das famílias e tendo efeitos positivos no alargamento das estratégias residenciais e na integração social e urbanística destas áreas e dos seus residentes. Uma das finalidades do projecto era integrar investigadores, sobretudo, mestrandos e doutorandos, em torno da temática da habitação, que não tem tido muita visibilidade no contexto da unidade de investigação em que ele se insere. Esta finalidade foi cumprida. Maria Júlia Ferreira,

17 ANEXOS Trabalhos não incluídos nos anexos DUARTE, Anabela Paulo Nuno de Brito, A ocupação urbana da costeira de Loures um território a reconverter, Mestrado em Geografia e Gestão do Território (termina o prazo no final de Março de 2011). CALI, Vítor João, A reestruturação da rede urbana e o seu contributo para o Ordenamento do Território da Guiné-Bissau, Mestrado em Geografia e Gestão do Território. ALMEIDA, José Manuel, O valor da propriedade imobiliária na decisão de escolha da habitação, Doutoramento em Geografia e Planeamento Territorial, Especialidade em Planeamento e Ordenamento do Território. Razões da não inclusão Porque a dissertação se encontrar ainda em curso (o prazo termina no fim de Março de 2011) e porque, por me aposentar, foi proposto que a orientação passasse a ser feita por Margarida Pereira Trabalho iniciado recentemente, o mestrando não é colaborador do egeo e não vai destacar a habitação na abordagem a fazer, centrando-se ao nível da rede urbana e do ordenamento do território. Tese de doutoramento ainda na sua fase inicial. Maria Júlia Ferreira,

18 ANEXO A FERREIRA, Mª Júlia, 2009, O papel das dinâmicas e estratégias residenciais no desenvolvimento territorial da Área Metropolitana de Lisboa, comunicação aprovada por referees e apresentada na APDR-Cabo Verde, publicada nas Actas do congresso, em CDROM, e adaptada para artigo e aprovada por referees para publicação na Revista Portuguesa de Estudos Regionais, RPER, nº 24, 2º Quadrimestre de 2010: Cedidos os direitos de autor à RPER. O papel das dinâmicas e estratégias residenciais no desenvolvimento territorial da Área Metropolitana de Lisboa 3 Maria Júlia FERREIRA 4 egeo, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL julia.ferreira@fcsh.unl.pt RESUMO A habitação é um elemento importante na organização e no desenvolvimento dos territórios urbanos. As estratégias residenciais, quer das famílias (a procura) quer dos promotores privados e públicos (a oferta), conhecem grandes mudanças que urge identificar para percebermos as tendências prováveis do mercado habitacional. A elaboração do Plano Estratégico de Habitação, na continuação das orientações do PNPOT, deu maior centralidade à questão da habitação e aos seus actores e começou a estimular o lançamento dos Programas Locais de Habitação; a estes corresponde uma escala que dá mais visibilidade aos efeitos das estratégias residenciais. A nossa finalidade é a descrição destes fenómenos, das suas relações e dos seus efeitos para ajudar a compreender as mudanças nas estratégias habitacionais, do lado da procura e da oferta, destacando documentos recentes da administração pública que consagram as linhas orientadoras nesta matéria. Palavras-chave: Estratégias habitacionais; territórios residenciais; políticas de habitação; Área Metropolitana de Lisboa. 3 Comunicação integrada no projecto ESDIRE GAML, do egeo (financiamento plurianual da FCT) e apresentada no 1º Congresso de Desenvolvimento Regional de Cabo Verde; 15º Congresso Anual da APDR; 2º Congresso Lusófono de Ciência Regional; 3º Congresso de Gestão e Conservação da Natureza: "Redes e Desenvolvimento Regional"; Instituto Piaget de Cabo Verde, 6 a 11 de Julho de 2009; 4 Investigadora do egeo, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional e docente na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; na recolha de informação, teve como colaboradora, a bolseira Beatriz Ferreira. Maria Júlia Ferreira,

19 ANEXO B FERREIRA, Mª Júlia; CARVALHO, Rui, 2010, Estratégias residenciais em áreas críticas urbanas: O caso do Bairro do Alto da Cova da Moura, em Lisboa (aprovada por referee) Actas do congresso da APDR, Funchal (publicadas em CDROM) Estratégias residenciais em áreas críticas urbanas: O caso do Bairro do Alto da Cova da Moura, em Lisboa 5 Maria Júlia FERREIRA ESDIRE / egeo, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) julia.ferreira@fcsh.unl.pt Rui CARVALHO MIGRARE Centro de Estudos Geográficos (CEG), Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT-UL) racarvalho@fl.ul.pt RESUMO As estratégias residenciais das famílias dependem das características e do dinamismo do mercado de habitação, do lado da oferta e da procura nomeadamente, poder de compra, sistema financeiro, desejo de mobilidade social, grau de integração na comunidade e das orientações das políticas públicas. As especificidades sociais e urbanísticas existentes nas áreas críticas urbanas e o seu posicionamento no contexto das políticas públicas induzem cambiantes que afectam a liberdade de escolha de habitação, ou seja, as estratégias residenciais. O Bairro do Alto da Cova da Moura a sua génese urbana ilegal, composição social e as diferentes fases e formas de fixação da população afigura-se como um caso adequado para reflectir sobre esta problemática, que, em última instância, remete para o Direito à Habitação. Palavras-chave: Estratégias Residenciais; Direito à Habitação; Áreas Críticas Urbanas; Fluxos Imigratórios; Bairro do Alto da Cova da Moura. 5 Comunicação aprovada pelos referees do 16º Congresso da APDR- Madeira, Julho 2010 Maria Júlia Ferreira,

20 1. INTRODUÇÃO Nas cidades actuais, a diferenciação dos padrões urbanos não decorre apenas das preferências residenciais, do estilo de vida ou das necessidades especiais dos seus habitantes. A segmentação urbana é, hoje, reflexo de relações de poder e hierarquia em que uns (poucos) têm a capacidade de decidir restando, aos outros, obedecer. Assiste-se a uma diversificação dos tipos de cidade, resultantes dos diferentes cruzamentos estabelecidos entre as dimensões social a classe social e o estatuto dos residentes, a chamada cidade da residência e político-económica a posição na hierarquia do poder, ou seja, a chamada cidade dos negócios, tal como defendem as Nações Unidas (UN-HABITAT, 2001). Foram muitas, e importantes, as alterações experienciadas nos espaços urbanos ao longo das últimas décadas. A crise do welfare-state, posicionada cronologicamente por alguns autores em meados dos anos 1970 (Harvey, 1985; Smith, 1996), terá induzido a gradual desagregação dos modelos políticos e económicos predominantes, assentes numa forte intervenção pública na produção do espaço urbano. Reflectindo inspirações políticas de matriz keynesiana, segundo o anterior modelo de cidade do bem-estar, cabia ao welfare-state a concessão de estímulos socioeconómicos para produção das cidades, por exemplo, por via do financiamento público dos equipamentos colectivos e da habitação social e do fomento à industrialização das actividades de construção e de obras públicas. No entanto, com a ascensão do modelo neoliberal, o Estado vai começar a encontrar, progressivamente, maiores dificuldades para garantir a intervenção da despesa pública. Como resultado, geram-se novas e crescentes desigualdades sociais manifestas, de forma clara, no espaço urbano construído e na organização das cidades. Os efeitos do pós-modernismo são visíveis na fragmentação dos espaços urbanos, sejam eles residenciais, comerciais ou ligados aos serviços. A cidade tem vindo a transformar-se em lugar do espectáculo, do efémero, da imitação, do irreal, sendo crescentemente dominada pelas forças do sector privado. Como consequência vem-se assistindo, também, a uma tendência de polarização/segregação de grupos sociais (muitas vezes separados pela sua raiz étnica) nos espaços urbanos. Reconhecendo que a expansão da sub urbanização associada ao aumento da motorização e à falta de mobilidade residencial e a reorganização espacial das actividades económicas estão hoje na origem da perda de importância do papel tradicional que determinadas áreas desempenham na Maria Júlia Ferreira,

21 vida económica, social e cultural da cidade (DGOTDU, 1998:50), é possível afirmar que as áreas críticas urbanas decorrentes, em muitos casos, da urbanização clandestina e da informalidade do sector da habitação podem ser, assim, associadas à crise transitória entre fordismo e pós-fordismo, marcas indeléveis do declínio da cidade fordista. É, exactamente, essa a posição expressa por Soares (1984) ao assumir que a produção clandestina de habitação é um fenómeno urbanístico complexo que, apesar de se desenvolver à margem do quadro institucional regular, não deve ser caracterizada apenas pelos aspectos associados à ilegalidade. Segundo o autor, é necessário abordar, descrever e interpretar a urbanização clandestina como manifestação urbanística do capitalismo, expressão das suas contradições e evolução. Face ao leque de modificações induzidas pela transição de um modelo fordista para um modelo pós-fordista de produção das cidades, passa a ser insuficiente pensar nas estratégias residenciais em espaço urbano segundo o modelo clássico, que realçava, inicialmente, os laços de parentesco ou de outras sociabilidades básicas e, cumulativamente, numa fase posterior, o factor funcionalidades urbanas, remetendo para as relações de proximidade com os equipamentos colectivos, numa lógica de controlo das políticas públicas na organização dos territórios. Outrora, bastava equacionar os motivos da procura de habitação, com os deveres e direitos decorrentes do Direito à Habitação para os indivíduos e para o Estado, e com os constrangimentos que se colocavam à liberdade de escolha da habitação (nomeadamente a sua tipologia e localização) para concluir sobre as estratégias que presidiam à mobilidade residencial. Assim, a procura de um estilo de vida, as ambições de mobilidade social, os elos de parentesco, ou as funcionalidades urbanas (como, por exemplo, o conforto no usufruto dos serviços urbanos) e as relações casa-emprego eram, normalmente, os factores de procura e mudança residencial destacados pelos estudiosos. Com a ascensão da cidade pós-moderna social e espacialmente fragmentada assistiu-se à complexificação (e a uma maior agressividade) dos factores estratégicos que pesam na escolha da habitação, afectando todo o mercado de alojamento, quer do lado da procura, quer no que respeita à oferta. Uma vez que as estratégias residenciais se encontram, cada vez mais, assentes nas dialécticas de (acesso ao) poder no espaço urbano e numa crescente miríade de factores e motivações, a sua avaliação é hoje bastante mais complexa, particularmente quando analisada a partir das chamadas áreas críticas urbanas. A complexidade da problemática densifica-se quando essas áreas apresentam uma génese ilegal. Maria Júlia Ferreira,

22 É, exactamente, do cruzamento entre os dois anteriores domínios estratégias residenciais e áreas críticas urbanas de génese ilegal ou clandestina que surge o quadro teórico que preside à corrente reflexão. Efectuar-se-á, então, sob o âmago deste contexto, uma primeira incursão analítica sobre as estratégias residenciais da população de uma mediática área crítica urbana da Área Metropolitana de Lisboa (AML) o Bairro do Alto da Cova da Moura, sito no concelho da Amadora caracterizada por fortes marcas genéticas de informalidade habitacional e de segregação/fragmentação socioespacial, ligadas a importantes percentuais de população imigrante. A situação resulta, em grande parte, da ineficácia da administração pública e o exercício da liberdade em matéria de escolha de habitação exige a capacidade de controlo da informalidade e de fazer funcionar o mercado formal. O modelo conceptual que será adoptado na presente investigação é o da Figura 1. Figura 1: Modelo conceptual de investigação ESTRATÉGIAS RESIDENCIAIS EM ÁREAS CRÍTICAS URBANAS O caso do Bairro do Alto da Cova da Moura, no concelho da Amadora CONCEITOS E TEORIAS: Estratégias residenciais, áreas críticas urbanas 2. ESTRATÉGIAS RESIDENCIAIS O Direito à Habitação e a liberdade de escolha da habitação Constrangimentos à escolha da habitação Estratégias residenciais das famílias Estratégias dos promotores de habitação 3. ÁREAS CRÍTICAS URBANAS Conceito e suas dimensões Localização, residentes/ imigrantes e distribuição na ÁML As áreas urbanas de génese ilegal 4. O BAIRRO DO ALTO DA COVA DA MOURA, NO CONCELHO DA AMADORA As Áreas Críticas Urbanas no concelho da Amadora. O Alto da Cova da Moura A procura de habitações: o peso de imigrantes e estrangeiros O mercado privado e o papel do Estado: a informalidade e a bolsa de habitação Constrangimentos à escolha de habitação pelas famílias. 5. ESTRATÉGIAS RESIDENCIAIS NA COVA DA MOURA Das famílias Dos proprietários privados de habitação Da administração pública, nomeadamente da Autarquia 6. CONCLUSÕES: QUE ESTRATÉGIAS RESIDENCIAIS EM ÁREAS CRÍTICAS URBANAS? Maria Júlia Ferreira,

23 2. AS ESTRATÉGIAS RESIDENCIAIS 2.1. O Direito à Habitação e a liberdade de escolha da habitação O artigo 25.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas (1948) consagra o Direito à Habitação como um direito fundamental. O conceito de Direito à Habitação pressupõe, segundo a mesma instituição, o usufruto de uma habitação adequada. Progressivamente, tem-se assistido à incorporação da liberdade de escolha da habitação em tal definição, numa tentativa de contrariar procedimentos de algumas administrações públicas em matéria de realojamento. Na Europa, a Carta Urbana Europeia (1992) afirma que os poderes locais devem assegurar a diversidade, a liberdade de escolha e a mobilidade das populações em matéria de habitação, intenção reforçada, mais tarde, pela Declaração pelo Direito à Habitação e Cidade em toda a Europa (2007). No entanto, e apesar dos anteriores progressos e das manifestas intenções e esforços encetados pelas Nações Unidas, pelos Governos de muitos países e por inúmeras Organizações Não-Governamentais (ONG s), a efectivação global do Direito à Habitação tem sido lenta. As elevadas taxas de crescimento da população urbana ocorridas em várias áreas do Globo induzidas por fortes fluxos migratórios do campo para a cidade, muitas vezes motivados pela acentuação dos factores de risco natural, associadas à incapacidade de resposta dos serviços de gestão urbana, podem ser apontadas como explicações para a ineficácia na implementação de tal direito humano fundamental ao nível mundial. Estimativas referentes ao início do presente milénio apontavam que, no mundo, cerca de 1,1 biliões de pessoas não tinham uma habitação adequada. Particularmente, nos países em desenvolvimento, mais de metade da população vivia em povoamentos informais, sendo o número dos sem-abrigo superior a 100 milhões. A manter-se tal cenário, a necessidade anual de habitações nos países em desenvolvimento, seria da ordem dos 35 milhões de unidades para o período de (UN-HABITAT, 2006). Perante tal cenário, e num contexto de Globalização que se traduz na afirmação das lógicas do sector privado sobre as das políticas públicas na produção das cidades, importa procurar compreender como poderá ser salvaguardado o Direito à Habitação, não só através da componente acesso a uma habitação adequada, mas também no que respeita à liberdade para escolher essa habitação, ou seja, no campo das estratégias residenciais das famílias, particularmente das residentes em áreas críticas urbanas, nas quais os constrangimentos socioeconómicos à escolha de habitação atingem maiores dimensões. Maria Júlia Ferreira,

24 2.2. Constrangimentos à escolha da habitação A qualidade de um espaço deve-se ao efeito conjunto do lugar e da sociedade que o ocupa (Lynch, 1981:88). Transportada para a questão habitacional, depreende-se da anterior ideia que qualquer residência deve apresentar condições adequadas de habitabilidade (componente física e geográfica) e, simultaneamente, proporcionar uma situação de satisfação aos seus residentes (dimensão social e psicológica). Para o cumprimento deste último aspecto, torna-se fulcral a liberdade de escolha da habitação que, no entanto, pode ser constrangida por um conjunto de limitações, tanto pelo lado da procura, como pelo da oferta (seja ela privada ou pública), a saber: 1. A rigidez do mercado de habitação social : Os tradicionais processos de realojamento impunham, muitas vezes, soluções limitativas para os residentes. Práticas mais recentes têm procurado estimular uma maior participação e empenhamento das famílias pertencentes a estes grupos socialmente mais frágeis, permitindo que estas desenvolvam estratégias residenciais fora da regulação directa dos mercados, com reflexos positivos na sua identidade territorial e no seu grau de satisfação residencial (Cardoso, 1991). 2. O poder de compra da procura no mercado de habitação: O poder aquisitivo dos indivíduos condiciona fortemente a sua capacidade de escolha. Assim, áreas mais centrais ou atractivas, modernas e inovadoras do ponto de vista urbanístico, têm preços de compra e arrendamento de habitação mais elevados, o que condiciona a procura das habitações. No fundo, procura supõe acesso a um mercado, definindose como uma função do rendimento disponível para a aquisição de um determinado conjunto de serviços habitacionais, potencial ou realmente úteis, dentro das restrições de rendimento da família, e em face da competição que outras famílias eventualmente movem para obter o mesmo espaço. A procura é o resultado da relação entre o rendimento e o preço (Cardoso, 1985b in Cardoso, 1991:36). 3. As necessidades de habitação: São aqui, neste parâmetro, incluídas carências quantitativas e qualitativas, sem ligação directa à relação preço/rendimento ou ao mercado de habitação. As necessidades de habitação relacionam-se, assim, com as aspirações das famílias integradas numa determinada sociedade de obterem os níveis de consumo considerados adequados à sua respeitabilidade social nessa sociedade. ( ) só se pode definir pressupondo a existência de um padrão caracterizador de habitação adequada ( ). Este padrão designa-se, por vezes, por Maria Júlia Ferreira,

25 exigências funcionais da habitação (Cardoso, 1991:36-37). Percebe-se, facilmente, que a subjectividade inerente a este conceito é elevada, podendo ser abrangidos diferentes graus de insatisfação residencial, reflexo de heterogéneas condições e percepções reais acerca do conforto e da qualidade habitacional. As diferenças existentes entre os conceitos de procura e necessidade de habitação fazem com que seja possível uma grande inadequação da habitação relativamente às necessidades da população coexistir com uma procura muito baixa (Cardoso, 1991:37). 4. A disponibilidade da oferta condicionando a escolha dentro do leque oferecido: O stock existente no parque habitacional, a respectiva taxa de mobilidade e a quantidade, qualidade e diversidade de novos alojamentos introduzidos no mercado conferem as condições que, pelo lado da oferta, condicionam o exercício do direito de escolha dos indivíduos, ou seja, as possibilidades de decisão existentes no mercado para o exercício das suas estratégias residenciais. Em termos gerais, as fragilidades e a rigidez deste lado do mercado tendem a afectar gravemente as possibilidades de escolha de habitação. 5. O estigma da vivência em áreas críticas urbanas: O quotidiano vivido nas áreas críticas urbanas pode condicionar, de forma mais ou menos directa, as possibilidades de aplicação de estratégias residenciais, uma vez que a exclusão social tende a perpetuar-se através do que é usual designar-se como ciclo ou espiral descendente de pobreza. 6. As funcionalidades urbanas os equipamentos colectivos: A facilidade no acesso aos equipamentos colectivos continua a ser um dos factores na escolha da habitação, uma vez que a sua localização condiciona a decisão de mudança de habitação. 7. As sociabilidades, os elos de vizinhança e as utopias sociais: O estabelecimento de elos de ligação entre os residentes de um mesmo espaço sejam de natureza parental, étnica, cultural, religiosa, política ou outra são, também, aspectos condicionadores da tomada de decisão sobre as mudanças habitacionais. 8. O regime de propriedade e a dimensão do lugar de residência: Como demonstrado por Segaud, Bonvalet et Brun (1988) para o caso francês (Tabela 1), os proprietários que ocupam os seus próprios alojamentos assumem-se como os mais conservadores à mudança habitacional. Pelo contrário, os inquilinos de alojamentos mobilados apresentam uma maior mobilidade residencial. O mesmo autor revela ainda que, tal como o regime de ocupação, a dimensão do aglomerado também afecta a taxa de Maria Júlia Ferreira,

26 mobilidade residencial, verificando-se uma tendência para o estabelecimento de uma relação directa entre estes factores, excepto para os casos dos inquilinos do sector privado e, obviamente, por obedecer a regras diferentes, para o alojamento gratuito. Tabela 1: Taxa de mobilidade residencial, segundo a dimensão do aglomerado e o regime de ocupação Proprietário Locatário do sector privado Locatário do sector público Locatário de habitação mobilada Utilizador de alojamento gratuito Residente em grandes conjuntos residenciais Comunas rurais 2,6 19,9 23,0 33,3 6,0 6,2 Aglomerações <20 mil hab. 3,3 17,0 26,3 40,5 12,6 10,4 Aglomerações mil hab. Aglomerações > 100 mil hab. 3,7 12,8 31,7 48,9 9,3 12,9 4,9 12,8 30,5 58,6 11,9 14,7 Aglomeração parisiense 4,3 9,7 22,9 35,9 17,0 12,1 França (Total) 3,7 13,0 27,4 46,1 10,6 11,3 Fonte: Segaud, Bonvalet et Brun, 1998 (adaptado) 2.3. Estratégias residenciais das famílias A habitação é, simultaneamente, uma necessidade e um bem essencial à sobrevivência mas, também, um símbolo de poder e status social. É à dialéctica estabelecida entre as duas anteriores dimensões que se deve a existência de estratégias residenciais das famílias e/ou indivíduos. As residências são marcas e factores de diferenciação dos estratos sociais (Sampaio, 2000: 134). É dentro do campo variável de constrangimentos apresentados anteriormente, que as famílias tendem a desencadear as suas estratégias residenciais; estas podem ser de várias tipologias, de acordo com os aspectos que valorizam, de entre os quais se podem destacar as condições de vida anteriores, os desejos e aspirações pessoais, as capacidades desenvolvidas ao nível do poder de compra e de acesso (ou não) a lugares de poder e decisão. De uma forma geral, os principais tipos de estratégias residenciais das famílias ou indivíduos podem-se agrupar na seguinte categorização: Estratégias de sobrevivência social e económica, caracterizadas pela necessidade básica de ter um abrigo. Estratégias de melhoria e reforço dos elos de vizinhança tradicionais, ou de reunião ou aproximação face a familiares ou conhecidos. Maria Júlia Ferreira,

27 Estratégias de realização de utopias individuais e sociais, de aproximação face aos ideais individuais sobre a casa ou o local para a vivência do quotidiano. Estratégias de mudança social, que se reflectem na procura de novas identidades, no estabelecimento de sentimentos de pertença a novas comunidades, ou na aproximação às áreas de residência de determinados grupos e/ou classes sociais. Estratégias de investimento e reforço no património, que podem ser de simples investimento e rentabilização de capitais no sector da habitação, ou ir até à adesão a movimentos especulativos imobiliários. Estratégias gerais de melhoria do grau de satisfação residencial ou de mudança positiva nos indicadores de qualidade de vida individual, campos que, como já se verificou, envolvem um elevado peso de subjectividade. Em suma, podem ser considerados, consoante a sua natureza dominante, três grandes conjuntos de estratégias residenciais das famílias, respectivamente: Estratégias residenciais sociais/culturais: (i) familiares ou de parentesco; (ii) pessoais; (iii) de grupo ou ligadas às redes de sociabilidades; (iv) relativas ao grau de satisfação; ou (v) de implementação da mudança ou de continuidade. Estratégias residenciais económicas: (i) patrimoniais de longo prazo; (ii) de mudança ou de continuidade; (iii) de sobrevivência; ou (iv) de rentabilização de capitais. Estratégias residenciais políticas: tendo em vista o posicionamento na hierarquia do poder As estratégias dos promotores de habitação Podem ser consideradas várias categorias de promotores de habitação, nomeadamente, os promotores individuais, as empresas privadas, a Administração Pública (incluindo as empresas públicas e outras instituições equiparadas) ou as instituições sem fins lucrativos. Os promotores individuais são aqueles que, singularmente, apostam na construção de habitação (incluindo as obras de renovação ou ampliação), muitas vezes em regime de autoconstrução (da habitação própria, recorrendo ou não a programas destinados aos mais carenciados ou à margem do funcionamento dos mercados formais de habitação); esta tende a traduzir a existência de uma estratégia residencial das famílias geralmente associada à existência de outros factores como, por exemplo, a posse do solo com direito de construção ou a capacidade monetária para adquirir solo urbanizável desenvolvida, Maria Júlia Ferreira,

28 quer no sentido do usufruto residencial próprio, quer procurando a rentabilização financeira de um imóvel nos mercados formal e informal de aluguer de habitação. As estratégias habitacionais das empresas privadas baseiam-se, sobretudo, na procura do lucro que dá suporte ao seu funcionamento. Podem passar, apenas, pela promoção de novas habitações ou, também, pelo reforço do património construído, segundo uma lógica de aplicação e rentabilização de capitais e de formas de investimento. Assentam, normalmente, em fortes estratégias de marketing habitacional e territorial, e procuram efectuar a antevisão das necessidades da procura, direccionando-se para estratos sociais bem definidos e com forte poder aquisitivo. Como resultado, e a não ser que a existência de estímulos e apoios provenientes da Administração Pública tornem apetecível a promoção de habitação para estas classes, as estratégias residenciais das empresas privadas tendem a ser marcadamente excludentes e marginalizantes para os grupos sociais mais carenciados. A utilização da função habitação como um instrumento, dentro das suas respectivas lógicas e âmbitos de intervenção, constitui o mote geral para o desenvolvimento das estratégias habitacionais, quer da Administração Pública, quer das instituições sem fins lucrativos. A solidariedade e a promoção ou manutenção da coesão social, o reforço ou redução do património construído, e a aplicação e rentabilização de capitais e de formas de investimento podem ser apontados como alguns dos factores que motivam essa intervenção. Particularmente, as estratégias da Administração Pública tendem a traduzir-se na elaboração de documentos estratégicos legais, dos quais o Programa Local de Habitação de Lisboa (PLH) constitui um exemplo claro, ao definir vários objectivos importantes para o sector da habitação na cidade como, por exemplo, a melhoria da qualidade do seu parque habitacional e da qualidade de vida dos seus habitantes, a promoção da sua coesão social e territorial, ou a adequação da procura e da oferta de habitações (CML, 2009). Mas, apesar da reconhecida importância apresentada pelas administrações locais no desenvolvimento de estratégias de habitação, não é apenas a este nível territorial que são expressas tais preocupações. O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT), documento orientador do ordenamento territorial em Portugal, inclui como um dos seus objectivos específicos o desenvolvimento de programas e o incentivo a acções que melhorem as condições de habitação, nomeadamente no que se refere aos grupos sociais mais vulneráveis. O objectivo estratégico 4 destaca a importância de assegurar a equidade territorial no provimento de infra-estruturas e de equipamentos Maria Júlia Ferreira,

29 colectivos e a universalidade no acesso aos serviços de interesse geral, promovendo a coesão social (cf. MAOTDR, 2006). As indicações contidas no PNPOT reflectem as preocupações formuladas (quase uma década antes, em 1998) na Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e Urbanismo (LBOTU) (Lei n.º 48/98, de 11 de Agosto) que estabelece como objectivos do ordenamento do território nacional vários aspectos directamente relacionados com as questões ligadas à habitação, de entre os quais podem ser destacados: i) a distribuição equilibrada das funções de habitação, trabalho, cultura e lazer; ii) a adequação dos níveis de densificação urbana, impedindo a degradação da qualidade de vida, bem como o desequilíbrio da organização económica e social; iii) a aplicação de uma política de habitação que permita resolver as carências existentes; iv) a recuperação ou reconversão de áreas degradadas; ou v) a reconversão de áreas urbanas de génese ilegal. A anterior enunciação dos pressupostos defendidos nos vários documentos legislativos e de planeamento mencionados permite evidenciar o papel atribuído à coesão social e habitacional dos espaços urbanos e, particularmente, às chamadas áreas críticas urbanas, cujas definições, dimensões, distribuição territorial e (possíveis) estratégias de (re)qualificação serão abordadas em seguida. 3. AS ÁREAS CRÍTICAS URBANAS 3.1. O conceito de área crítica urbana e as suas dimensões Ao nível mundial é bastante diversa a lista dos termos que identificam as áreas urbanas degradadas. No entanto, essas terminologias, identificam áreas apresentando algumas características comuns, nomeadamente a existência de baixas condições urbanísticas e fundiárias, a escassa e insuficiente infra-estruturação e qualidade das habitações, e o reduzido poder de compra e nível social dos seus moradores. A Organização das Nações Unidas (ONU), almejando a uniformização deste objecto de estudo interdisciplinar, procedeu à enunciação de um conceito uniforme para definir uma área crítica (degradada) urbana. A etimologia anglo-saxónica escolhida para a qualificar respeita à palavra slum, assim utilizada para conceptualizar as áreas urbanas que cumprem a existência das seguintes cinco componentes: i) insegurança no título de usufruto da habitação; ii) acesso inadequado a água potável, iii) acesso inadequado a infraestruturas urbanas básicas, especialmente no que respeita ao saneamento; iv) baixa Maria Júlia Ferreira,

30 qualidade estrutural das habitações; e v) sobre-ocupação das habitações (UN-HABITAT, 2002). Ao nível mundial, a percentagem de famílias a viver em áreas degradadas urbanas atinge valores muito elevados. Entre 20 e 40 milhões de famílias vivem em condição de sem-abrigo; cerca de 125 milhões de unidades de alojamento (18% do total mundial) são de estruturas e materiais precários; aproximadamente 175 milhões (ou seja, cerca de 25%) não se encontram em conformidade com os regulamentos de construção de habitações. Como demonstra o Observatório Urbano (Nações Unidas), a distribuição espacial destas áreas é muito heterogénea. Ainda assim, os continentes africano sobretudo na África Subsaariana onde, em muitos países, mais de 80% da população habita em áreas críticas urbanas e asiático e a América Latina assumem um nítido destaque negativo no que aos anteriores indicadores diz respeito (UN-HABITAT, 2006). A Carta de Leipzig, sobre as Cidades Europeias Sustentáveis, de 2007, adopta a designação de bairros carenciados mas a legislação portuguesa ainda sobrepõe várias tipologias, muitas vezes aglutinadas em bairros degradados; dentro delas destacam-se três: i) Áreas Críticas de Recuperação e Reconversão Urbanística (ACCRU), definidas na Lei dos Solos (DL nº794/76 de 5/11); ii) Bairros Críticos, designação adoptada na Iniciativa Operações de Qualificação e Reinserção Urbana de Bairros Críticos, lançada com a Resolução de Conselho de Ministros n.º 143/2005, de 7 de Setembro); ou iii) Áreas Urbanas de Génese Ilegal, (AUGI), integradas, em 1995, num novo quadro legal referente à classificação e intervenção sobre os bairros de urbanização clandestina (Lei n.º 91/95, de 2 de Setembro). As nomenclaturas área urbana em crise (DGOTDU, 1998) ou zona urbana em crise (CCE, 2002) directamente derivadas da classificação da ONU foram reconhecidas em Portugal, aquando da transposição para o contexto nacional de projectos ou iniciativas promovidas por instituições de nível internacional, respectivamente a ONU ou a União Europeia (UE). O bairro da Cova da Moura insere-se nestas três tipologias. Assim, em resumo, no caso português, as áreas críticas urbanas englobam um leque vasto de conceitos e terminologias, nomeadamente, as ACRRU, os bairros de barracas ou de construções precárias, os bairros sociais degradados ou de realojamento provisório, as áreas urbanas de génese ilegal ainda não integradas urbanisticamente, os núcleos históricos envelhecidos e degradados e os demais bairros situados em áreas degradadas seja no centro das cidades, seja nas suas periferias, incluindo assim, por exemplo, os bairros dormitório com elevada concentração das classes sociais baixas e médias-baixas, ou seja, todos aqueles nos quais o elevado grau de deficiências urbanísticas ou sociais afectam a Maria Júlia Ferreira,

31 qualidade de vida das populações, tal como definida pelos padrões médias das sociedades desenvolvidas A sua localização e o tipo de residentes: O caso particular dos imigrantes na AML A concentração das áreas críticas urbanas é maior nas cidades de crescimento rápido e acentuado, reflectindo a existência de um contexto de fragilidades ou insuficiências da gestão pública urbana, que se demonstra incapaz de corresponder às necessidades decorrentes desse processo, quer no que respeita à disponibilização de solo urbanizado, quer em termos da promoção de infra-estruturas básicas urbanas ao nível da habitação e do fornecimento de serviços sociais adequados. Esta concentração espacial das áreas críticas urbanas é particularmente visível nas maiores cidades dos países menos desenvolvidos, nas quais se assiste à proliferação de áreas de crescimento urbano descontrolado e informal. No entanto, também nalguns países mais desenvolvidos e nos de desenvolvimento intermédio, como o caso português (Sousa Santos, 1985), se verifica que parte importante das periferias urbanas necessita de melhorias ao nível da integração social e espacial dos grandes conjuntos residenciais, em particular dos destinados às classes média-baixa e baixa. Nestes países, os centros históricos das cidades têm, também, vindo a manifestar níveis elevados de abandono, degradação e desvitalização populacional e socioeconómica. Sendo as áreas críticas urbanas, como mencionado anteriormente, normalmente o palco residencial das classes de menor status socioeconómico, torna-se fácil compreender a elevada incidência de imigrantes (especialmente laborais) nesses espaços críticos urbanos, quer resultantes de movimentos de população internos (p.ex. migrações campo-cidade), quer provenientes de fluxos migratórios internacionais. Caracterizados pelo seu baixo poder de compra e pela sua elevada susceptibilidade para incorrer em situações de pobreza ou exclusão social e territorial e uma vez que o Direito à Habitação é actualmente entendido como um conceito que deve abranger todos os residentes de um território, nacionais ou não a atenção dispensada sobre a promoção de uma maior adequabilidade das condições de habitação destes indivíduos justifica-se de forma indelével. Assim, importa perceber as estratégias residenciais das populações imigrantes em particular das residentes em contextos de carência habitacional de forma a que qualquer intervenção sobre uma área crítica urbana com uma forte incidência de Maria Júlia Ferreira,

32 população imigrante seja capaz de patentear o (re)conhecimento da multiculturalidade que encerra e das diferentes fases de integração das populações imigrantes envolvidas. Malheiros (2007) mostra, para o caso português e de acordo com os dados recolhidos através dos Censos de 2001, a existência de uma grande diversidade no que respeita às condições de alojamento das populações estrangeiras residentes em Portugal (Tabela 2). É possível verificar que, para as categorias de proveniência consideradas, o alojamento próprio se assume, normalmente, como a tipologia habitacional de maior incidência. No entanto, observam-se algumas excepções, referentes aos imigrantes do Leste Europeu, aos brasileiros, aos africanos não-palop e aos indivíduos provindos do continente asiático, com especial destaque para os paquistaneses, chineses e indianos. Para estes grupos, a estratégia residencial mais comum passa pela exploração das possibilidades existentes ao nível do mercado de arrendamento, em muitos casos através da partilha de alojamento com outros indivíduos, normalmente da mesma origem. Nacionalidade Tabela 2: Condições de alojamento dos estrangeiros residentes em Portugal, 2001 Alojamentos não-clássicos Alojamentos arrendados Alojamentos próprios Alojamentos sobrelotados Percentagens de população Alojamentos partilhados Total Portugal EU Europa de Leste PALOP (todos) Cabo Verde Guiné-Bissau Angola São Tomé e Príncipe Moçambique Outros África América do Norte Brasil China, Índia e Paquistão Paquistão Índia China Resto da Ásia Fonte: Malheiros, 2007 (adaptado) Maria Júlia Ferreira,

33 A análise dos resultados apresentados permite, ainda, perceber que mais de metade dos imigrantes provenientes de países em desenvolvimento (independentemente da sua macro-região de origem) reside em alojamentos sobrelotados. No concernente aos alojamentos não-clássicos, verifica-se uma clara predominância relativa dos africanos principalmente cabo-verdianos (14.1%), são-tomenses (13%) e guineenses (8.7%) a residir em habitações classificadas de acordo com esta tipologia. Os valores percentuais permitem perceber a existência de diferenciações interessantes nas estratégias residenciais da população imigrante, reflexo dos seus patrimónios culturais, do seu perfil socioeconómico e do nível de consolidação do seu processo de migração e integração em Portugal, das características dos fluxos estabelecidos entre Portugal e das ambições e expectativas gerais dos imigrantes. Por exemplo, no que respeita aos africanos, percebe-se que as estratégias residenciais endógenas destes grupos, ao valorizarem as redes familiares e de solidariedade entre conterrâneos, geram oportunidades que se acabam por se transformar em segregação étnica e residencial, reforçada por mecanismos inerentes à percepção e ao comportamento destes indivíduos (Malheiros e Vala, 2004). Os dados possibilitam, ainda, confirmar a maior incidência dos imigrantes em situações de carência habitacional, resultado das desigualdades subjacentes às expressões do ciclo capitalista nos mercados residenciais, que induzem que a produção do espaço construído seja, também ela, um processo claramente segregatório. A vulnerabilidade laboral de grande parte dos imigrantes oriundos dos países em desenvolvimento, associada a vários outros factores como, por exemplo, o poder de compra ou a falta de documentos que permitam a inserção no segmento formal dos mercados de habitação e de trabalho actuam, também, como aspectos fortemente condicionadores das estratégias residenciais destes indivíduos, contribuindo para a sua concentração em áreas críticas urbanas, de mais baixo valor de transacção comercial dos imóveis, e de mais fácil acesso aos mercados informais de compra, construção e arrendamento de habitação (Malheiros e Vala, 2004; Malheiros, 2007; Rodrigues, 1989). Dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), referentes ao ano de 2001, registavam cerca de imigrantes a residir em Portugal em alojamentos não clássicos. Destes, cerca de 60% (6 810) podiam ser encontrados na AML (Tabela 3). Maria Júlia Ferreira,

34 Tabela 3: Distribuição regional dos alojamentos não-clássicos e das carências habitacionais dos estrangeiros residentes em Portugal, 2001 População estrangeira em alojamentos nãoclássicos Carências qualitativas (1) Portugal Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Açores Madeira (100%) (100%) (15.1%) (30.5%) (11.4%) (21.4%) (59%) (31.3%) 757 (6.6%) (7.4%) 551 (4.8%) (4.7%) 159 (1.4%) (2.5%) 196 (1.7%) (2.2%) Carências qualitativas (2) (100%) (38.8%) (30.7%) (11.9%) (10.1%) (4.1%) (2.4%) (1) Inclui: substituição de barracas, população em hotéis/pensões, habitação partilhada e taxa de crescimento 2% (2) Inclui: alojamentos com necessidade de reparação média, grande e muito grande (2.1%) Fonte dos dados: IHRU, 2008, relatório nº1: 13 (adaptado) O Programa Operacional Regional Lisboa e Vale do Tejo (POR-LVT), reconhecendo esta situação, defende que um dos principais problemas socioespaciais verificados na AML corresponde à existência de extensas manchas de habitat degradado e de pobreza, sendo evidente uma situação de risco de crescimento dos fenómenos de exclusão social e de guetificação do tecido urbano, capazes de induzir, por sua vez, outros riscos sociais, como por exemplo a criminalidade e a insegurança da população. As áreas críticas urbanas consideradas, aqui, em termos gerais, de acordo com as suas diferentes tipologias distribuem-se, não só pelo centro da cidade de Lisboa, mas também na sua periferia imediata, sobretudo na primeira coroa suburbana da margem norte (onde se localiza o Bairro do Alto da Cova da Moura, que será analisado adiante) e no arco ribeirinho da Península de Setúbal (CCDRLVT, 1999). 3.3 As áreas urbanas de génese ilegal Uma das principais tipologias de áreas críticas urbanas respeita às áreas urbanas de génese ilegal ou clandestina. As características do Bairro do Alto da Cova da Moura justificam que seja dispensada uma breve atenção particular sobre esta categoria. Parece ser concordante entre os autores analisados (Cabral, 1989; Ferreira, 1984; Paiva, 1985; Rodrigues, 1989; Soares, 1984; Sousa Santos, 1985), a ideia de que a urbanização clandestina surge como uma forma espontânea de reajustamento do processo urbano às mutações do capitalismo e às desigualdades introduzidas por este modelo de desenvolvimento económico. Complementarmente, Soares (1984) advoga que, na génese dos loteamentos clandestinos podemos encontrar a rápida valorização dos solos e a criação de rendas diferenciais que são apropriadas pelos loteadores. Maria Júlia Ferreira,

35 As políticas urbanas vigentes em Portugal nos anos ao marginalizarem dos negócios urbanos o pequeno capital tenderam a promover a criação de oligopólios de controlo imobiliário dos solos urbanos. Como nota Ferreira (1984: 33), «o tradicional peso da propriedade fundiária na sociedade portuguesa, a burocratização do planeamento urbanístico e da respectiva administração, e uma quase inexistência de oferta pública, propiciam as condições para a monopolização dos solos urbanizáveis pelos promotores imobiliários e seus intermediários, com forte participação do capital financeiro». Num período caracterizado por intensa migração interna em Portugal, com direcção ao litoral e, particularmente, às principais áreas urbanas, vão ganhar dimensão as carências de habitação urbana, obrigando as famílias migrantes a promover a autoconstrução (muitas vezes sob a forma abarracada) ou a recorrer ao mercado de arrendamento informal (Cabral, 1989; Ferreira, 1984; Paiva, 1985; Soares, 1984; Sousa Santos, 1985). A crise do welfare state, incapaz de suprir as necessidades sociais ao nível da habitação vai assim fomentar o reforço das economias subterrâneas, daí resultando a produção de habitação através do mercado informal. Como nota, sinteticamente, Soares (1984: 21) «independentemente de juízos de valor que se possam fazer sobre o fenómeno, o clandestino é uma realidade que não pode ser entendida fora das políticas urbanas e, particularmente, de uma política de solos fortemente restritiva e favorável à estrutura monopolística do mercado legal, ou de uma política de financiamento favorável à hegemonia do grande capital imobiliário». Devidamente contextualizados os quadros teóricos concernentes às estratégias residenciais e às áreas críticas urbanas com destaque, pelas circunstâncias da área de estudo, para as áreas clandestinas proceder-se-á, em seguida, à análise das estratégias residenciais num contexto local particular da AML, o Bairro do Alto da Cova da Moura. 4. O BAIRRO DO ALTO DA COVA DA MOURA, NO CONCELHO DA AMADORA 4.1. As áreas críticas urbanas no concelho da Amadora: O caso da Cova da Moura O concelho da Amadora apresenta uma dimensão de aproximadamente 24 km 2, ou seja, apenas 0,03% do território continental português. No entanto, os seus 175 mil habitantes correspondem a cerca de 1,8% da população total de Portugal. A sua densidade populacional é das mais elevadas do País, situando-se em torno dos hab/km 2 (INE, 2007). Maria Júlia Ferreira,

36 Cerca de metade dos seus edifícios foram construídos entre 1960 e Desde 1991 que a taxa de crescimento de novos alojamentos equivale a cerca de 12%, valor bastante inferior aos cerca de 18% da AML. No entanto, a pressão construtiva dos anos aliada à, já mencionada, falta de uma política habitacional eficaz deixou marcas importantes no território concelhio, que se revelam, ainda hoje, nas manchas de habitação precária que o caracterizam. Foram recenseadas, em 1993, um total de barracas (após Lisboa, o segundo maior valor da AML), sitas em 35 núcleos degradados, onde viviam perto de habitantes, ou seja, cerca de 12% do total da população residente (CMA, 2007). A gravidade do cenário anterior determinou a necessidade de operacionalizar programas de recuperação do parque habitacional e de realojamento das populações a residir em condições de precariedade habitacional. De entre eles assume um claro destaque o Programa Especial de Realojamento (PER) da Amadora. Orientado inicialmente de forma exclusiva para o realojamento em fogos de habitação social, o PER Amadora foi-se adaptando às particularidades das populações que desejava atingir, adoptando três anos depois do seu início (ou seja, em 1996) o PER Famílias, entretanto criado. Com este, o alojamento deixa de ser o alvo privilegiado do financiamento, que passa a centrar-se sobre as famílias residentes nas áreas críticas. Em 2000, o PER é alargado com o Projecto de Apoio ao Auto Realojamento (PAAR), sustentado pelo município, e que remete para as famílias a procura de alternativas habitacionais. O financiamento da Câmara Municipal da Amadora pode atingir 20% do valor dos fogos. No ano seguinte, foi criado o Programa Retorno (PR), como resposta específica à realidade social do concelho, particularmente ao facto de que cerca de metade das famílias recenseadas pelo PER eram oriundas de Cabo Verde. Este programa financia o regresso da família ao país de origem (ou outro) através da concessão de 20% do valor do fogo a que esta teria direito em caso de realojamento. Tal como o PAAR, é inteiramente financiado pela Câmara Municipal (Barata Salgueiro et al., 2005; Gaspar et al., 2005). Em resultado das anteriores iniciativas, em 2006 haviam sido resolvidos cerca de casos, dos quais quase 60% foram possibilitados pelas iniciativas de realojamento. O PAAR e o PR, específicos do concelho da Amadora, que pressupõem uma maior iniciativa por parte das famílias, foram responsáveis pela resolução de 30% dos casos. As quase demolições de barracas, resultantes das iniciativas de realojamento (mais de metade do total inicial), correspondem à erradicação total de 19 bairros (dos 35 iniciais). Em síntese, Maria Júlia Ferreira,

37 segundo os dados disponíveis, em Outubro de 2005, a taxa de execução do Programa PER na Amadora era de aproximadamente 68% (CMA, 2007). Importa ainda referir que a actuação dos anteriores programas, dirigida à supressão específica das carências habitacionais da população do concelho, foi complementada pela aplicação de outras iniciativas com objectos de intervenção mais generalizados, dirigidos à promoção da coesão social e urbanística do concelho, de entre os quais se podem destacar o Programa de Iniciativa Comunitária (PIC) URBAN II Amadora: Damaia-Buraca suportado por fundos estruturais da União Europeia, no seguimento do Quadro de Acção da União Europeia para o Desenvolvimento Urbano Sustentável ou a Iniciativa Bairros Críticos, ambos aplicados na área correspondente ao Bairro do Alto da Cova da Moura. O referido bairro objecto de estudo do presente trabalho situa-se na porção oriental do concelho, sendo administrativamente partilhado por duas freguesias, Buraca (a maior parte do bairro) e Damaia. É limitado a Norte, Sul e Leste, por um conjunto de rodovias; e a Oeste, por um bloco de edifícios de promoção privada (Figura 2). Figura 2 Contextualização geográfica do Bairro do Alto da Cova da Moura no concelho da Amadora N B 9 O C E A N O A T L Â N T I C O A 0 1. Alfornelos 2. Alfragide 3. Brandoa 4. Buraca 10 km 5. Damaia 6. Falagueira 7. Mina 8. Reboleira 9. São Brás 10. Venda Nova 11. Venteira Bairro do Alto da Cova da Moura km A área actualmente correspondente ao bairro (cerca de 16,5 ha) foi, outrora, uma terra de cultivo de cereal e produtos hortícolas, onde existiam algumas habitações esparsas, Maria Júlia Ferreira,

38 maioritariamente de apoio à actividade agrícola. Denominava-se, nessa altura, Quinta do Outeiro. No período pós-25 de Abril de 1974 ganha uma nova função, surgindo como espaço de acolhimento de retornados das ex-colónias portuguesas. É neste contexto de pósdescolonização que se vai intensificar a sua ocupação urbana, progressivamente alicerçada em redes sociais estimuladas pelos imigrantes e retornados. A actual malha urbana do Bairro apresenta uma estrutura variável que resulta da instalação progressiva (e não planeada) dos seus habitantes e das respectivas infraestruturas de apoio. As habitações inicialmente de madeira e, depois, de alvenaria foram aumentando gradualmente em número e em tamanho, em resposta à forte procura de residência no bairro. Segundo dados publicados em 2006, a densidade habitacional do Bairro era de cerca de 85 fogos/ha e a densidade populacional 306 hab/ha, valores bastante superiores aos homónimos do concelho da Amadora (34 fogos/ha e 74 hab/ha) e das freguesias da Buraca e Damaia (40 fogos/ha e 71 fogos/ha, 97 hab/ha e 146 hab/ha, respectivamente) (Alves et al., 2006). No que respeita à sua composição étnica, verifica-se uma preponderância de população portuguesa retornada e de naturais das ex-colónias africanas; a maior comunidade é proveniente de Cabo Verde. Nos últimos anos, tem-se assistido, também, ao estabelecimento de imigrantes oriundos do Brasil e do Leste europeu, no entanto, estes últimos tendem a permanecer no bairro apenas por um curto período temporal. Embora aproximadamente 40% da população tenha naturalidade portuguesa, cerca de 2/3 tem origem num país estrangeiro. Em 1981, a população do Bairro cifrava-se em torno do milhar de habitantes; no início dos anos 1990 rondava os 4 mil e, em 2000, já ultrapassava os 5 mil habitantes. A actual população residente no bairro situar-se-á, em torno dos habitantes (Alves et al., 2006). A análise da estrutura etária da população do Bairro evidencia que os residentes são, em geral, bastante jovens. Cerca de 22% da população tem menos de 14 anos, e quase 45% não ultrapassa os 24 anos. O predomínio de indivíduos do sexo masculino confirma o papel do bairro como espaço de acolhimento e fixação de imigrantes. Um dos pontos fortes do Bairro diz respeito à existência de fortes sentimentos de proximidade e comunidade, demonstrados pela intensidade dos laços de solidariedade e coesão entre a população residente. Estes parecem funcionar como uma resposta/autodefesa a um sentimento generalizado de estigmatização social e habitacional. Esta rede de sociabilidades acrescida pela riqueza do tecido associativo local, com várias associações Maria Júlia Ferreira,

39 temáticas com bom entrosamento entre si articula-se fortemente com os mercados de emprego e habitação, sendo comuns o recrutamento de pessoal, ou a facilitação do acesso à habitação entre os parentes e vizinhos (Alves et al., 2006). No entanto, a desintegração urbanística do Bairro quer a nível interno, quer em relação à envolvente fazem com que este seja, inequivocamente, uma área crítica urbana. Parte importante dos seus moradores não dispõe ainda de título seguro no acesso à habitação ou ao lote. Apesar da melhoria das condições de habitabilidade do edificado, que se traduz, em certa medida, na perda do seu estatuto de inacabado e na realização de infra-estruturas e alguns equipamentos ( ), não houve ainda uma requalificação urbanística do Bairro nem estão ainda identificadas soluções para a questão fundiária, que permanece em situação de irregularidade jurídica, uma vez que os moradores não são proprietários ou arrendatários dos seus lotes. ( ) A regularização desta situação é, no entanto, do interesse de todos os envolvidos, tanto dos residentes, como dos proprietários de terrenos e administração central e local (IHRU/MAOTDR, 2006; vol.1 - III). Legalmente o Bairro do Alto da Cova da Moura constitui-se como uma ACRRU (Decreto n. 53/2003, de 25 de Novembro), significando que a Administração local pode proceder a demolições de edifícios por carência de condições de solidez, segurança ou salubridade e que não possam ser evitadas por meio de beneficiação economicamente justificável. Não existe, por enquanto, um Plano de Pormenor vigente para este espaço embora se encontre, actualmente, em processo de elaboração. O regime de propriedade dos solos reflecte o tipo de povoamento do Bairro. Apenas 14% das matrizes cadastrais dizem respeito a propriedade pública. Antecipa-se assim que, com cerca de 86% da propriedade (dos quais mais de 70% respeitam a três famílias apenas) concentrada nos privados, é por estes promotores que passará uma parte importância das estratégias residenciais do Alto da Cova da Moura, situação a que os decisores políticos deverão, obviamente, estar atentos (IHRU/ MAOTDR, 2006, Vol.1:VI). A imagem do Bairro é negativa para a população residente no seu exterior, afectando directamente as possibilidades das estratégias habitacionais. O Alto da Cova da Moura tem sido, ao longo dos anos, mediaticamente, associado a episódios de violência, tráfico de droga e criminalidade, o que tem reforçado a imagem de marginalidade, consolidando-o como um espaço-problema na AML. No entanto, a par desses pontos fracos, apresenta um conjunto de pontos fortes que fomos referindo ao longo do texto e que vamos resumir na tabela nº4, construída a partir da síntese da literatura consultada (Alves et al., 2006), nomeadamente da matriz swot oficial (IHRU/MAOTDR, 2006, Vol.1-VII): Maria Júlia Ferreira,

40 Tabela 4: Síntese dos pontos fortes e fracos do Bairro do Alto da Cova da Moura Pontos Fortes População jovem, com potencial de transformação Intensidade dos laços de solidariedade e de coesão e multiplicidade das relações inter-pessoais Forte ligação às tradições e ao Bairro (qualquer que seja a origem étnica dos residentes) Teia sociocultural diversificada alicerçada num tecido associativo forte e organizado Dinamismo económico e do mercado de trabalho endógeno local (sectores formal e informal) Baixos níveis de conflitualidade inter-étnica Experiência na aplicação de iniciativas públicas (p.ex. URBAN II; EQUAL ou Iniciativa Bairros Críticos) Pontos Fracos Área urbana de génese ilegal cuja generalidade dos edifícios (auto-construção informal) permanece sem licenciamento ou regulação Peso significativo de população imigrante com elevada tendência para fenómenos segregatórios Sentimento de estigmatização da população, reforçado pela má imagem pública do Bairro Desigualdade de oportunidades e elevada dependência da população face à oferta laboral indiferenciada e informal gerada no Bairro Densificação populacional e urbanística com sobreocupação dos espaços públicos e privados Fonte: Alves et al., 2006 e IHRU/MAOTDR, 2006 (adaptados) O mercado de habitação na Cova da Moura: A informalidade e o papel do Estado A autoconstrução foi a forma dominante na produção de habitação no Bairro no período inicial da sua colonização. O percurso lógico de capitalização dos imóveis e geração de rendimento extra por parte das famílias determinou que o arrendamento (de casas e quartos) tenha, nos últimos anos, ganho uma crescente preponderância. Esta transição foi sendo concretizada à medida que o Bairro foi consolidando o seu papel de acolhimento de uma classe imigrante trabalhadora de baixa remuneração que, resultado da sua dificuldade de inserção no mercado regular de habitação, vai apostar no arrendamento de habitações alimentado pelas redes de solidariedade e socialização existentes entre conterrâneos. Tem sido essa a tendência evidenciada nas últimas décadas, com o Bairro a funcionar, cada vez mais, como um espaço de recepção de imigrantes, resultando numa consolidação dos efectivos provenientes, em especial, de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe e da Guiné-Bissau mas também, a partir de meados da década de 1990, do Leste Europeu e do Brasil. Maria Júlia Ferreira,

41 Actualmente, a distribuição espacial dos anteriores fluxos de entrada no Bairro encontra-se expressa pela elevada quantidade de residentes de origem imigrante (sobretudo do sexo masculino) a habitar em quartos arrendados em casas de famílias ou em pensões informais. O mercado de arrendamento informal é extremamente dinâmico, incorporando uma forte componente especulativa 6. Este dinamismo reflecte-se no tempo de permanência dos residentes na mesma casa; quase 40% da população reside há 6 anos ou menos na mesma morada. Por outro lado, 30% reside na mesma casa há 27 ou mais anos (Pereira, 2006). Os números anteriores demonstram a elevada taxa de rotatividade dos imóveis, contrastante com a estabilidade evidenciada no que respeita ao número de edifícios. A conjugação destes dois aspectos crescimento do arrendamento e estabilidade dos edifícios pode ser explicada pela ocorrência de dois tipos de fenómenos, que sintetizam as dinâmicas recentes de procura de habitações no Alto da Cova da Moura: i) Os proprietários têm passado a alugar quartos ou pisos da sua casa, continuando a residir nela; ou ii) Os proprietários passaram a arrendar a sua casa, mudando-se para outra morada dentro ou fora do Bairro. Dentro da segunda hipótese, tem ganho, a partir de meados da década de 1990, maior preponderância a manutenção dos proprietários e respectivos familiares dentro do Bairro. A saída desses proprietários foi mais comum durante as décadas de 1980 e início de 1990, período no qual alguns dos primitivos construtores retornaram aos seus países de origem ou, acompanhando o dinamismo do mercado de habitação formal português (e, em particular, da AML) e tendo eles próprios solidificado o seu poder de compra, saíram para o exterior do Bairro (IHRU/MAOTDR, 2006, vol. 1-III). Pereira (2006) sintetiza as tendências residenciais ocorridas ao longo das últimas quatro décadas no Alto da Cova da Moura, identificando a existência de três períodos distintos: i) Domínio da construção de habitação, que teve o seu pico nos anos 1970 e 1980 e cujo último registo data de 2000; ii) Compra e venda de habitações, com alguma expressão até ao final dos anos 1990, tendo, a última transacção identificada, ocorrido em 1997; iii) Aluguer de habitação como a forma que mais perdura no Bairro, particularmente a partir de Os preços praticados variam entre 150/200 euros por mês (quarto) e os 300 euros mensais (duas assoalhadas). Os valores de renda mais frequentes situam-se entre os 250/300 mensais; um quarto partilhado (125 /mês) e uma casa partilhada (100 /mês), sendo preciso notar que nestes últimos valores podem estar ou não incluídos os consumos (IHRU/MAOTDR, 2006, vol. 1-III). Maria Júlia Ferreira,

42 Percebe-se assim, por tudo o que foi mencionado anteriormente, que a questão do alojamento no Bairro do Alto da Cova da Moura se mantém, em grande medida, fora da esfera do Estado e do mercado formal sendo, ao invés, subsidiada por redes de relações de inter-conhecimento e de entreajuda baseadas em laços de parentesco e de vizinhança. Expostas as características gerais do(s) mercado(s) de habitação (formal-informal; compra-arrendamento) no Bairro do Alto da Cova da Moura importa, sinteticamente, e antes de passar à explicação das estratégias residenciais existentes no referido contexto socioespacial, identificar quais os principais constrangimentos actuais que existem relativamente à escolha de habitação no Bairro. Assim, é possível identificar alguns aspectos: 4. A rigidez e a estabilidade do mercado habitacional interno, principalmente no que respeita aos segmentos de compra e venda de habitações; 5. A falta de diversidade da oferta, caracterizada por um claro domínio do subaluguer; 6. O domínio da informalidade, expressando as insuficiências existentes no funcionamento dos mercados de habitação formais; 7. A coexistência de múltiplas matrizes culturais no bairro, que se relacionam de forma diferente com o mercado, atribuindo funções díspares às figuras casa e família ; 8. O preço das habitações fora do Bairro, associado ao baixo poder de compra das famílias residentes, não estimula a sua saída provocando a estagnação do mercado habitacional; 9. O perfil populacional do Bairro (composto por imigrantes excluídos ) induz a sua estigmatização, afectando negativamente a atracção de novos residentes; 10. Apesar de importante, o trabalho das ONG s e das associações locais e os vários projectos públicos de reconversão da área podem ver os seus esforços desvirtuados pelo facto de, ao tentarem resolver os problemas do Bairro, acabarem por lhes dar uma visibilidade e mediatismo excessivos, afectando negativamente a sua imagem externa. 5. ESTRATÉGIAS RESIDENCIAIS NA COVA DA MOURA 5.1. Estratégias residenciais das famílias Um primeiro aspecto a relevar na análise das estratégias residenciais diz respeito ao facto de que a identidade e o enraizamento local serem condicionantes importantes na decisão de permanecer (ou não) num espaço podendo, mesmo, superar a falta de condições urbanísticas, de estética, de segurança das edificações e de um ambiente social mais Maria Júlia Ferreira,

43 heterogéneo e coeso. O caso do Bairro do Alto da Cova da Moura parece constituir uma evidência da anterior situação. A maior parte da população da qual se exceptuam alguns imigrantes temporários que fazem uso, essencialmente, do mercado de arrendamento de quartos parece desenvolver estratégias de permanência no Bairro pois, num inquérito efectuado à população do Bairro, em 82% das respostas afirmava-se a intenção de lá continuar a residir não aceitando mesmo a hipótese de uma eventual demolição da habitação e face a um quadro de inevitabilidade, cerca de metade preferia ser realojado dentro do bairro (46% em moradia e 9% em apartamento) e aproximadamente 1/4 (24%) numa casa localizada fora deste. Apenas um número ínfimo (cerca de 3%) optaria por regressar à terra natal» (IHRU/ MAOTDR, 2006, Vol. 1- III). Os dados anteriores são complementados com o diagnóstico disponibilizado em Alves et al. (2006), onde se nota que muitas famílias moradoras têm efectuado investimentos na beneficiação (sobretudo interior) das suas casas, como forma de melhorar as suas condições de habitabilidade, o que parece traduzir uma intenção de permanecer no Bairro. O enraizamento em relação ao Bairro pode, também, ser determinante no que respeita às estratégias de descohabitação da população mais jovem, aí residente. Este segmento populacional é um importante segmento de procura de habitação no Bairro, alimentando dois tipos de situações: i) O mercado de habitação informal de arrendamento, baseado em redes de conhecimento e sociabilidade, uma vez que este se constitui como uma estratégia de sobrevivência ou procura de soluções de menores custos monetários; ii) O investimento, por parte das famílias, em obras de beneficiação das suas próprias habitações, melhorando as suas condições de habitabilidade e garantindo o direito à habitação para os seus descendentes que, assim, beneficiam do acesso à habitação e da possibilidade de manutenção das sociabilidades parentais, ao mesmo tempo que conquistam a autonomia e evoluem no ciclo de vida familiar (IHRU/MAOTDR, 2006, Vol. 1-III). Espacialmente é ainda visível, mesmo ao nível do quarteirão, uma distribuição dos indivíduos segundo a naturalidade, reflectindo uma estratégia de proximidade, não só em relação à família mas, também, face a indivíduos da mesma origem, baseada em redes de amizade, na cultura e na língua, importantes factores de aglutinação e coesão étnica e cultural dentro do Bairro (IHRU/ MAOTDR, 2006, Vol. 1-II). Maria Júlia Ferreira,

44 5.2. Estratégias dos proprietários privados de habitação Verificou-se, pelos dados apresentados anteriormente, que a promoção de novas habitações no Bairro tem sido quase nula nos últimos anos. Assim, o mercado de habitação local tem ficado progressivamente reduzido ao parque existente, à compra e venda geralmente por mecanismos informais de fogos usados e, claro, ao dinamismo do arrendamento de casas (na sua totalidade ou parcialmente) ou quartos, também ele efectuado maioritariamente de forma informal. Como tal, as estratégias residenciais dos promotores públicos e privados direccionam-se, sobretudo, para a rentabilização dos alojamentos e das edificações por parte de alguns construtores, que vão ampliando, sucessivamente, os seus próprios prédios ou, fruto de redes de solidariedade informais, os prédios dos seus vizinhos. Esta tentativa de valorização dos edificados intui, em muitos casos, a sua rentabilização através do mercado de arrendamento. De notar que este processo de crescimento volumétrico do edificado ocorre, não apenas em altura mas, também, através da ocupação do espaço público, acabando por se manifestar urbanisticamente no aspecto caótico, desorganizado e enclausurado que algumas áreas do Bairro apresentam (IHRU/ MAOTDR, 2006, Vol. 1- III). É, também, importante contabilizar a importância que este mercado de construção e renovação informal apresenta, não só para a colmatação das carências habitacionais das casas e do edificado em si mas, também, para alimentar o mercado de trabalho local informal no sector da construção civil, ele próprio suportado pelas, já referidas, fortes redes de sociabilidade existentes entre os habitantes do Bairro Estratégias habitacionais da administração pública Fruto da situação complexa do sector ao nível local, a habitação constitui-se como uma das principais áreas de intervenção da Autarquia (CMA, 2007). No que respeita ao caso particular do Bairro do Alto da Cova da Moura, são vários os programas e iniciativas implementados nos últimos anos muitos dos quais patrocinados pela Administração Central ou, mesmo, como por exemplo no caso do PIC URBAN II Amadora: Damaia- Buraca, pela União Europeia intuindo a integração e ordenamento urbanísticos do Bairro e a promoção da sua coesão social e territorial, quer ao nível interno, quer com a sua envolvente. Maria Júlia Ferreira,

45 As linhas de intervenção da administração pública (central e local) têm efeitos importantes ao nível das estratégias residenciais das famílias e dos promotores de habitação, públicos e privados; isso acontece no concelho da Amadora e, mais particularmente, no Bairro do Alto da Cova da Moura. As seguintes orientações merecem destaque especial: Implementação de melhorias no que respeita ao encontro da procura e da oferta residencial, visando auxiliar os moradores (actuais e futuros) do concelho na escolha de uma nova habitação, por exemplo, através da dinamização do ficheiro da procura ou da bolsa de habitação ao nível concelhio, válidos tanto para a aquisição, como para o arrendamento de imóveis residenciais; Promoção da melhoria da imagem do concelho e, em especial, das suas áreas críticas, entre as quais o Alto da Cova da Moura se destaca. Este vector de actuação tem aproveitado a existência de iniciativas promovidas a níveis decisórios (e de financiamento) superiores, das quais se podem destacar os, já mencionados, PIC URBAN II (cuja área de intervenção incluiu o Bairro do Alto da Cova da Moura) e PER, que não foi aplicado directamente na área de estudo; estes (e outros) programas destinavam-se à reconversão urbanística e social de áreas urbanas críticas; Integração urbanística das áreas urbanas críticas, em especial das áreas urbanas de génese ilegal, através da operacionalização eficaz das figuras de planeamento de nível local. No que concerne ao contexto particular do Alto da Cova da Moura, importa notar a centralidade que lhe é concedida no Plano Director Municipal (PDM) da Amadora (CMA,1994), no qual é classificado como uma área estratégica de desenvolvimento e reconversão urbana. Encontra-se também em elaboração o Plano de Pormenor (PP) para o Bairro, que se espera que seja efectivamente concluído e operacionalizado, ao contrário do que aconteceu com outro iniciado há alguns anos atrás; Gestão das expectativas decorrentes do processo de integração urbanística e social do Bairro e respectivos efeitos, travando o seu processo de crescimento espontâneo e desordenado e procedendo à regularização das construções (incluindo a sua legitimação técnica e a legalização urbana e fundiária), de forma a minimizar as potenciais injustiças sociais decorrentes desse processo; Maria Júlia Ferreira,

46 Diversificação do leque de possibilidades e metodologias utilizadas nos realojamentos sociais, para que possam ser controlados os efeitos individuais e sociais negativos que são, normalmente, induzidos por tal processo; Aposta em abordagens integradas de (re)qualificação das áreas urbanas críticas do concelho, incluindo tanto intervenções de natureza urbanística e espacial como, também, iniciativas sociais, almejando a criação de ambientes físicos e sociais equilibrados e sustentáveis. O futuro Programa Local de Habitação, cumprindo o seu papel de instrumento de integração das estratégias habitacionais ao nível concelhio, deverá ter um papel muito importante neste âmbito. Ao nível do Bairro, a Iniciativa Bairros Críticos e o PIC URBAN II constituíram exemplos de abordagens integradas, adaptadas à diversidade e às especificidades das problemáticas socioeconómicas e ambientais do Alto da Cova da Moura. 6. CONCLUSÕES: QUE ESTRATÉGIAS RESIDENCIAIS EM ÁREAS CRÍTICAS URBANAS? O caso de estudo, o Bairro do Alto da Cova da Moura área crítica urbana de génese ilegal, ainda não integrada urbanisticamente, ACRRU e bairro crítico - situado na AML, permitiu uma reflexão no âmbito da temática das estratégias residenciais, remetendo para algumas das suas causas, nomeadamente para os modos de produção e mercantilização do solo e da habitação em espaço urbano, e para as formas através das quais as classes mais desfavorecidas, particularmente os indivíduos e famílias imigrantes (muitas vezes em situação ilegal), desenvolvem estratégias residenciais dinâmicas e adaptativas face às incoerências e insuficiências do mercado de habitação formal e das políticas urbanas, recorrendo, muitas vezes à informalidade. Só por si, não permite extrapolar para o universo das áreas críticas urbanas, porque cada tipo tem características próprias que influenciam a tomada de decisão das famílias, mas, através dele, pudemos perceber a existência de importantes adaptações e particularidades nas estratégias habitacionais desenvolvidas, pelo menos nas áreas deste tipo. A insegurança no título de posse da habitação, que viola o Direito à Habitação, resulta, em grande parte, da inexistência de um Plano de Pormenor que integre urbanisticamente o bairro; a informalidade de que resulta é causa de muitos outros problemas como a densificação progressiva à margem das leis, o funcionamento informal do mercado e a atracção continuada de imigrantes ilegais com baixos rendimentos. Apesar Maria Júlia Ferreira,

47 do carácter marginal destas áreas reforçar a imagem negativa que têm no exterior, a população residente mostra apego ao bairro, desejo de ficar e muita esperança que o Plano de Pormenor ajude a desencadear um ciclo de desenvolvimento que altere a imagem e o integre efectivamente; ajudaria a resolver problemas, nomeadamente em matéria de escassez (ou mesmo ausência) de solo (maioritariamente privado) urbanizado ou urbanizável e o estrangulamento da oferta de habitações. Os residentes não pretendem sair mas ficar, tendo acesso a uma habitação adequada, tal como é preconizado no Direito à Habitação. Num ambiente com adversidades urbanísticas e habitacionais mas também com forte espírito de comunidade, desenvolvem estratégias residenciais, umas que se situam ao nível da sobrevivência (sobretudo os imigrantes e/ou inquilinos), como o aluguer de quartos, parte de casa e casas sem os níveis de conforto desejados, e outras mais de natureza económica e social, como a obtenção de rendimentos através do aluguer, o investimento na melhoria do conforto da habitação (estratégias de ficar) ou a expectativa de valorização do capital, após a aprovação do Plano de Pormenor (podendo haver estratégias de sair). É neste ambiente de fortes constrangimentos ao exercício do direito à escolha de habitação, característico das áreas críticas, que a administração pública não pode ceder ao neocapitalismo e traduzir a crise do Estado Providência mas antes desempenhar o seu papel de uma forma proactiva, criando condições de funcionamento do mercado habitacional; estas aumentarão as possibilidades de escolha das famílias e terão efeitos positivos na integração social e urbanística destas áreas. Na Cova da Moura, das inúmeras intervenções públicas e dos seus efeitos positivos não resultou o essencial, a integração urbanística do bairro, ou seja, a passagem do informal ao formal como forma de controlo pela administração pública, abertura do campo de escolhas residenciais da população, transparência do mercado de habitação, o que poderia ser o início de um ciclo de desenvolvimento verdadeiramente novo; falhou a capacidade de formalizar o espaço urbano como elemento da promoção da cidadania. 7. BIBLIOGRAFIA Alves, F et al. Relatório de Diagnóstico: Síntese de Caracterização do Bairro do Alto da Cova da Moura: Gabinete de Apoio Técnico Local da Cova da Moura (policopiado), Amadora, Barata Salgueiro, T. et al. A Cidade como Espaço de Vida e Lugar de Produção in Medeiros, C. M. Geografia de Portugal, vol. 2 Sociedades, Paisagens e Cidades: Círculo de Leitores, Rio de Mouro, 2005, pp Cabral, J. C. Habitação e Informalidade in Gaspar, J. (coord.) Clandestinos em Portugal - Leituras: Livros Horizonte, Lisboa, 1989, pp Maria Júlia Ferreira,

48 Cardoso, A. O planeamento Municipal e a habitação, Escher, Edições fim de século, Lda; Lisboa, CCE Comunicação da Comissão ao Conselho, ao Parlamento Europeu, ao Comité Económico e Social e ao Comité das Regiões Programação dos Fundos Estruturais : Avaliação Inicial da Iniciativa URBAN COM (2002) 308 Final: Comissão das Comunidades Europeias, Bruxelas, CMA Plano Director Municipal. Câmara Municipal da Amadora, Amadora, CMA Relatório de Estado do Ordenamento do Território (REOT): Câmara Municipal da Amadora, Departamento de Administração Urbanística/SIG, Amadora, CML (Re)habitar Lisboa. Proposta de matriz Estratégica do PLH, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, CDRLVT Plano Estratégico Região de Lisboa, Oeste e Vale do Tejo: O Horizonte de excelência. Comissão para o Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, Lisboa, DGOTDU HABITAT II. Plano Nacional de Acção (anteprojecto), volume 1, Direcção-Geral do Ordenamento do Território e do Urbanismo, Lisboa, Ferreira, A. F. Crise do Alojamento e Construção Clandestina em Portugal, in Sociedade e Território, 1, Porto, 1984, pp Gaspar, J. et al. Expansão, Reabilitação e Renovação urbana: Lições de Experiência in Medeiros, C. M. Geografia de Portugal, vol. 4 Planeamento e Ordenamento do Território: Círculo de Leitores, Rio de Mouro, 2005, pp Harvey, D. The Urbanization of Capital, Blackwell, Oxford, INE O País em Números. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística (INE), Lisboa, 2007 [publicação em CD-ROM]. IHRU Plano Estratégico de Habitação, PEH , relatório nº1; Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, Lisboa, IHRU/MAOTDR Operação Cova da Moura, Iniciativa (Operações de Qualificação e Inserção Urbana em) Bairros Críticos, Volume 1, Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana e Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional, Lisboa, Lynch, Kevin (1981) A Boa Forma urbana, Edições 70, Lisboa, Malheiros, J. Espaços e expressões de conflito e tensões entre autóctones, minorias migrantes e não migrantes na AML, in IHRU , relatório nº 1; Lisboa, Malheiros, J. e Vala, F. Immigration and City Change: The Lisbon Metropolis at the Turn of the Twentieth Century in Journal of Ethnic and Migration Studies, vol. 30 (6), 2004: MAOTDR Programa Nacional da Política Ordenamento do Território. Relatório: Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional, Lisboa, 2006 (disponível em acedido em Abril de 2010). Paiva, F. Condições de Alojamento e Carências Habitacionais da População Portuguesa, in Sociedade e Território, 2, Porto, 1985, pp Pereira, G. O Edificado no Bairro da Cova da Moura: Inquérito ao Edificado e aos Mercados de Arrendamento e Imobiliário, Gabinete de Apoio Técnico Local da Cova da Moura, Amadora, 2006, (policopiado). Rodrigues, C. Eficiência e Equidade na Produção do Espaço Clandestino in Gaspar, J. (coord.), Clandestinos em Portugal. Leituras: Livros Horizonte, Lisboa, 1989, pp Sampaio, J. Considerações sobre a residência secundária em Esposende, Revista da Faculdade de Letras, Geografia, Série I, Vol XV/XVI, Porto, Segaud, M.; Bonvalet, C. et Brun, J. Logement et habitat, l'état des savoirs, Éditions la Découverte, textes d'appui, Paris, Smith, N. El Redimensionamiento de las Ciudades: La Globalización y el Urbanismo Neoliberal, in Harvey, D and Smith (eds.), Capital Financiero, Propiedad Inmobiliaria y Cultura, Universitat Autònoma de Barcelona, Barcelona, 2005, pp Soares, L. Urbanização Clandestina e Política Urbana, in Sociedade e Território, n.º 1, Porto, 1984, pp Maria Júlia Ferreira,

49 Sousa Santos, B. Estado e Sociedade na Semiperiferia do Sistema Mundial: O Caso Português, in Análise Social 87/88/89,Lisboa, 1985, pp UN-HABITAT Cities in a Globalizing world: Global Report on Human Settlements, Centre for Human Settlements (HABITAT), Nairobi (Kenya), UN-HABITAT Guidelines on how to undertake a National Campaign for Secure Tenure. Global Campaign for Secure Tenure, in UN-HABITAT State of the world s cities 2006/7, Earthscan, UK/USA, Decreto-Lei n.º 794/76 de 5 de Agosto. Lei n.º 91/95, de 2 de Setembro. Lei n.º 48/98, de 11 de Agosto. Resolução de Conselho de Ministros n.º 143/2005, de 7 de Setembro. Maria Júlia Ferreira,

50 ANEXO C ALMEIDA; José, 2010, Avaliação da metodologia MACBETH da matriz estratégica do PLH de Lisboa. (Trabalho de Seminário de doutoramento em Geografia e Planeamento Territorial) DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA E PLANEAMENTO REGIONAL DOUTORAMENTO EM GEOGRAFIA E PLANEAMENTO DO TERRITÓRIO Seminário de Investigação em Geografia e Planeamento Territorial Professora Doutora Maria Júlia Ferreira Análise crítica da metodologia MACBETH matriz estratégica do PLH de Lisboa JOSÉ MANUEL DOS ANJOS ALMEIDA OUTUBRO 2010 Maria Júlia Ferreira,

51 Índice Resumo 1 1. Introdução 1 2. Metodologias de apoio ao processo de decisão Principais métodos de análise multicritério O Método Macbeth Programa Local de Habitação da Cidade de Lisboa Matriz Estratégica do PLH da Cidade de Lisboa Metodologia Aplicada ao PLH da Cidade de Lisboa Fase de Estruturação Fase de Avaliação Fase de Recomendação Considerações Finais 30 Bibliografia 33 Resumo Com este trabalho pretende-se perceber a importância dos métodos multicritério no apoio à decisão, nomeadamente, a importância da abordagem Macbeth no tratamento das questões complexas inerentes à temática da habitação. Na primeira parte do trabalho faz-se uma reflexão sobre o método Macbeth e a sua metodologia de aplicação e, na segunda parte, analisa-se a sua aplicação ao Programa Local de Habitação de Lisboa. Palavras-Chave: Análise Multicritério, Método Macbeth, Programa Local de Habitação

52 1. Introdução No processo de decisão os problemas complexos que envolvem vários critérios dão origem a diferentes alternativas, as dificuldades surgem na escolha da alternativa mais adequada. Nestes problemas de análise das diferentes alternativas, por norma, a análise centra-se nos critérios previamente seleccionados com a finalidade de individualizar uma das alternativas que se julga adequada à resolução do problema e/ou um objectivo a atingir. A resolução destes problemas complexos tem sido validada através de raciocínios dedutivos, constatando-se que a tipologia dos problemas e a metodologia da sua resolução tem sido comum a diversas áreas tais como: a económica, política, social e tecnológica. Para apoiar a decisão e evitar que esta seja pautada por critérios subjectivos, sentimentais ou intuitivos foram desenvolvidos métodos matemáticos de apoio à decisão. Estes métodos, designados por Análise Multicritério (AMC), padronizam o processo de tomada de decisão através de modelagem matemática e auxiliam o decisor a resolver problemas nos quais existem diversos objectivos a serem alcançados simultaneamente, por esta razão, podemos considerá-los idênticos às técnicas adoptadas no campo da gestão de sistemas de informação. São um instrumento de apoio à decisão, visto que funcionam como uma ferramenta de comparação que suporta vários pontos de vista e que transforma questões complexas em conclusões que possibilitam decisões de natureza operacional ou de recomendação para futuras actividades. Estes métodos conjugam critérios prédefinidos e, de acordo com objectivos específicos, permitem produzir conclusões sintéticas simples ou, pelo contrário, produzir conclusões adaptadas às preferências e prioridades das partes interessadas na avaliação. Em suma, a finalidade destes métodos, no processo de decisão, é tornar o processo coerente e transparente e dar resposta ao problema. Neste trabalho desenvolve-se um breve ensaio sobre uma metodologia de construção de uma matriz estratégica para a intervenção no domínio da habitação, Maria Júlia Ferreira,

53 adoptando uma análise multicritério. O estudo de caso incide sobre os trabalhos desenvolvidos no âmbito do Programa Local de Habitação da cidade de Lisboa. Privilegia-se a abordagem MACBETH (Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation Technique), visto ser uma abordagem interactiva e de quantificação dos julgamentos dos actores intervenientes num determinado processo e/ou realidade social. Esta técnica compara os diferentes pontos de vista e torna explícito o sistema de valores dos actores envolvidos (especialistas, promotores, utilizadores ou outros). O objectivo final da utilização deste método é apoiar a decisão de escolha da alternativa que mais se ajusta aos interesses conjuntos. As questões urbanísticas de uma cidade envolvem uma série de aspectos: culturais, ambientais, económicos, sociais e técnicos. Estes aspectos devem ser considerados quando se estrutura a resolução dos principais problemas urbanísticos das cidades. O incentivo à participação na construção das soluções por parte da população e dos agentes económicos das cidades tem acrescentado complexidade ao tratamento dos problemas urbanísticos. No entanto, com a introdução de métodos de avaliação multicritério, parte desta complexidade é simplificada e a participação e sensibilidade dos diferentes agentes (actores) urbanos pode ser integrada nas soluções desses problemas urbanísticos. Os Programas Locais de Habitação (PLH), previstos no Plano Estratégico de Habitação 2008/2013 (PEH 2008/2013), da responsabilidade do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana, são instrumentos que definem localmente (a nível municipal ou intermunicipal) uma visão estratégica das intervenções nas áreas da habitação, cruzando diversas políticas com realce para a reabilitação e reconversão urbana, e que fixam os objectivos da política de habitação local para 4-5 anos (CML, 2009c: 5). No diagnóstico da CML (2008), para apresentação do Programa Local de Habitação da cidade de Lisboa, 61ª reunião camarária de 22 de Outubro de 2008, a habitação é um dos graves problemas urbanísticos da cidade devido: à falta de articulação entre as políticas públicas de habitação, reabilitação urbana e transportes, com graves reflexos no quotidiano da população que vive ou trabalha em Lisboa, Maria Júlia Ferreira,

54 ao declínio demográfico e forte envelhecimento da população residente, ao elevado número de fogos vazios, à rigidez e declínio do mercado de arrendamento, à desregulação do mercado habitacional, com grandes desfasamentos entre o preço da habitação e os rendimentos médios, sobretudo para as camadas jovens, aos riscos de guetização, nomeadamente em bairros de promoção pública, à persistência de más condições de habitabilidade em vários bairros e zonas da cidade, com realce para os núcleos históricos da cidade, ao fim dos grandes programas de promoção pública de habitação em Lisboa, às dificuldades na gestão do património habitacional construído, à insuficiência de equipamentos de proximidade em vários bairros da cidade, ao pouco ou nenhum acesso dos cidadãos a informação sistemática e fidedigna sobre as dinâmicas do mercado habitacional e sobre a intervenção das políticas públicas (CML, 2008: 2). Identificados os pressupostos deste ensaio, passamos à descrição da metodologia adoptada. Assim, para foram realizadas pesquisas na internet sobre dois temas: 1º) Métodos de Decisão Multicritério, e 2º) Programas Locais de Habitação (nomeadamente o de Lisboa). Na pesquisa sobre métodos de decisão multicritério foram privilegiadas, a um primeiro nível de abordagem, comunicações sobre a metodologia de realização multicritério e os diferentes métodos, nomeadamente, o Método Analítico Hierárquico e o Método de Análise em Redes propostos por T: L. Saaty (1977 e 1996), a Abordagem de Decisão Fuzzy, baseada em conjuntos Fuzzy e proposta por Liang e Wang (1992), O Método MACBETH proposto por Bana e Costa e Vasnick (1994) e o Método TOPSIS proposto por Hwang e Yoon (1981), aqui considerados porque fornecem uma ordenação e uma medida de desempenho das alternativas propostas (SALOMON et alli, 1999: 3). A um segundo nível foram privilegiadas comunicações que contemplavam descrições da aplicação dos métodos citados, sobretudo os que recorreram ao método MACBETH. Maria Júlia Ferreira,

55 Na pesquisa sobre Programas Locais de Habitação (PLH) foram analisados os documentos produzidos pela Câmara Municipal de Lisboa no âmbito do Plano Local de Habitação e os documentos disponibilizados pelo Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) sobre o Plano Estratégico de Habitação 2008/ Metodologia de apoio ao processo de decisão A metodologia de apoio ao processo de decisão surge da necessidade de se estruturar o raciocínio para fundamentar decisões que poderão resultar de realidades complexas e contraditórias. A avaliação da acção dos actores sociais consubstancia-se em processos valorativos de natureza subjectiva, em que um processo de decisão é um sistema de relações objectivas inerentes à actividade humana. Pelo que poderemos concluir que um processo de decisão se sustenta na noção de valor, em que a subjectividade está omnipresente e é o motor da decisão (Bana e Costa, 1993: 23). Ou seja, os conhecimentos e as experiências dos actores constituem um dos princípios fundamentais para o alcance de uma alternativa viável ao problema analisado. Neste contexto, a actividade de apoio à decisão não procura modelizar uma realidade exterior e pré-existente. Ela insere-se no processo de decisão e visa a construção duma estrutura partilhada pelos intervenientes nesse processo (fase de estruturação), partindo depois para a elaboração de um modelo de avaliação (fase de avaliação), seguindo uma abordagem interactiva, construtiva e de aprendizagem e, não assumindo um posicionamento optimizante e normativo (Bana e Costa, 1993: 1). Na avaliação da decisão podem surgir problemas que apresentam contornos mal definidos e que poderão ser mal interpretados por todos os intervenientes, observadores e decisores, o que pressupõe que a ideia de aprendizagem (processo construtivista) é mais adequada para conduzir um estudo de apoio à decisão. Como corolário, a simplicidade e a interactividade devem ser as linhas de força da actividade de apoio à decisão para que a participação e a aprendizagem se concretizem (Bana e Costa, 1993: 8). Isto porque neste quadro de referência estão implícitos dois conjuntos, um ligado às acções, de natureza objectiva, e outro ligado aos actores e ao seu sistema de valores, logo de natureza subjectiva. A integração Maria Júlia Ferreira,

56 destes conjuntos no processo de decisão pressupõe que se aceita que a subjectividade está presente no processo de tomada de decisões (Bana e Costa, 1993: 23). Nos modelos de avaliação do processo de apoio à decisão é necessário formular objectivos, dependendo estes do sistema de valores dos actores, e caracterizar as acções, nomeadamente as suas características. Segundo Bana e Costa (1993), características e objectivos são ambos importantes elementos primários de avaliação que jogam um papel complementar no processo de construção do edifício das preferências dos actores, sem que se possa afirmar que um tipo de elemento é mais fundamental que outro (Bana e Costa, 1993: 23). Num processo de decisão multicritério procura-se: dar resposta às dúvidas do decisor face ao problema em questão e apontar alternativas de solução, tornar transparente o processo de decisão, dar coerência ao sistema de valores, aos objectivos e ao desenvolvimento do processo de decisão. O apoio multicritério à decisão (AMD) traduz-se num conjunto de métodos e técnicas de auxílio ou apoio na decisão por parte de pessoas ou organizações, quando estas, na sua decisão, se confrontam com a presença de uma multiplicidade de critérios. A aplicação de qualquer método de análise multicritério pressupõe a especificação dos objectivos que o decisor pretende alcançar, quando deseja comparar entre si alternativas de decisão. Com o AMD pretendem-se construir modelos que legitimem os juízos de valor subjectivos, ou seja, pressupõe aceitar que a subjectividade estará presente ao longo de todo o processo de decisão. Dessa forma, a estrutura de valores dos decisores é associada aos critérios existentes, que serão usados na avaliação das alternativas. Para Bana e Costa (1993; 1995) e Antão da Silva et alli (2000), análise de decisão com múltiplos critérios é um processo interactivo e compreende as seguintes etapas sequenciais: 1) Identificação dos decisores e seus objectivos, 2) Definição das alternativas, Maria Júlia Ferreira,

57 3) Definição dos critérios relevantes para o problema de decisão, 4) Avaliação das alternativas em relação aos critérios, 5) Determinação da importância relativa dos critérios, 6) Realização da avaliação global de cada alternativa, 7) Análise de sensibilidade, 8) Recomendação, 9) Implementação. As etapas 1, 2 e 3 são conhecidas como fase de estruturação do problema, a qual, segundo Bana e Costa, Ferreira e Correia (2000: 340), representa cerca de 80% do total do problema. Nesta fase desenvolve-se a formulação do problema e tem como finalidade a identificação, a caracterização e a organização dos factores considerados relevantes no processo de apoio à decisão. É uma fase interactiva e dinâmica, pois fornece uma linguagem comum aos decisores, o que possibilita a aprendizagem e o debate. As etapas 4, 5, 6 e 7 correspondem à fase de avaliação que tem como objectivo a aplicação de métodos de análise multicritério para apoiar a modelagem das preferências e a sua agregação. As etapas 8 e 9 correspondem à fase de recomendação dos cursos de acção a serem seguidos. (Figura 1) Figura 1 Etapas do modelo do apoio multicritério de decisão (Adaptado de Bana e Costa, 1993) Maria Júlia Ferreira,

58 Segundo Antão da Silva (2000), AMD não procura modelizar uma realidade exterior e preexistente. Ela insere-se no processo de decisão e visa a construção duma estrutura partilhada pelos intervenientes no processo - fase de estruturação - partindo depois para a elaboração de um modelo de avaliação - fase de avaliação - seguindo uma abordagem interactiva, construtiva e de aprendizagem, sem assumir um posicionamento optimizante e normativo. A análise de sensibilidade e robustez dos resultados do modelo são componentes essenciais da elaboração de recomendações sobre a atractividade de diferentes opções (Antão da Silva et alli, 2000: 4). (figura 2) Figura 2 As fases fundamentais da construção de um modelo multicritério de apoio à decisão (Extraído de Antão da Silva, 2000: 4) Para Antão da Silva (1996; 2000), a fase de elaboração de recomendações deve ser precedida de uma fase de análise da sensibilidade e robustez dos dados para validação do modelo e verificação da coerência de todo o processo e, só após esta fase, se deverá proceder a elaboração das recomendações (Antão da Silva et alli, 2000: 4). (figura 3) Maria Júlia Ferreira,

59 Elaboração de Recomendações e Implementação Figura 3 Etapas da análise de decisão com múltiplos critérios (Adaptado de Antão da Silva, 2000 e Bana e Costa, 1993) Considerando a definição dos critérios relevantes para o problema de decisão (etapa 3), importa ressaltar que, num problema de decisão complexo, os critérios podem ser estruturados e hierarquizados ou constituídos em árvore, decompondo-se pelo nível do critério mais elevado até aos níveis mais detalhados. Deve-se ainda salvaguardar que os critérios utilizados numa decisão, devem satisfazer três condições (axiomas de Roy) para que possam apresentar coerência entre si. Primeiro, o problema deve ser equacionado em todas as suas dimensões condição de exaustividade. Segundo, é necessário categorizar os critérios e estabelecer uma escala entre si, critérios de maximização e de minimização condição de coesão. Terceiro, é necessário depurar os critérios e excluir os que estão a avaliar características já avaliadas condição de não redundância. (Bana e Costa e Vansnick, 1995: 15-35) Maria Júlia Ferreira,

60 2.1. Principais métodos de análise multicritério Os principais métodos de análise multicritério inserem-se em duas grandes escolas: a escola francesa e a escola americana. Na escola francesa destacam-se os métodos da família ELECTRE (Elimination Et Choix Traduisant La Réalité) e da família PROMÉTHÉ (Preference Ranking Organization Method for Enrichment Evaluation). O método ELECTRE utiliza critérios 7 qualitativos com a definição prévia das preferências dos decisores 8 e faz uma abordagem tendo em consideração os vários objectivos a atingir. Para Roy (1971; 1996) 9, citado por Ramos (2010: 26), na análise multicritério de decisão, as preferências dos decisores são avaliadas através da escolha de pares de alternativas ou critérios, baseados em quatro relações fundamentais: a indiferença, a preferência estrita, a preferência fraca e a incomparabilidade (Ramos, 2010: 26). Sucintamente, com este método pretende-se separar do conjunto total das alternativas, aquelas que são preferidas na maioria dos critérios de avaliação pré-definidos. A preferência é manifestada através da comparação das alternativas (relação de preferência R). Na relação de preferência, a concordância e a discordância em relação às alternativas, determinam a aceitação ou rejeição de uma em detrimento de outra. Ou seja, entre duas alternativa a e b, se concordar com a, o decisor está a seleccionar essa alternativa e a rejeitar b. Na comparação das alternativas a indiferencia significa que o decisor não opta por nenhuma estão ao mesmo nível, a preferência estrita significa que o decisor opta por uma e que a outra está dentro do grupo da preferência fraca e a incomparabilidade significa que não existe nenhum termo de comparação entre as alternativas em análise. No passo seguinte, definem-se os índices de concordância e de discordância e representam-se através de matrizes. O índice de concordância corresponde a uma percentagem ponderada dos critérios pré-definidos e está compreendido entre zero e um. O índice de discordância corresponde ao desconforto da escolha (é portanto 7 Critério corresponde à função pré-definida que permite avaliar uma acção e ordená-la em relação das acções com o mesmo significado (ponto de vista). 8 Está associada ao conceito de Modelagem das Preferências e à partida poderá condicionar a escolha da solução. 9 Um dos Autor da metodologia ELECTRE. Maria Júlia Ferreira,

61 complementar ao índice de concordância), sendo calculado através de uma escala 10 que mede o desconforto da rejeição da opção b em detrimento da escolha da opção a. Por fim, as preferências formam um subconjunto denominado Kernel (K) que tem por base os limites (mínimo e máximo) seleccionados pelo decisor. O conjunto das alternativas fora do sistema de preferências (R) é rejeitado e não volta a ser considerado em situações futuras. No seu conjunto, a abordagem ELECTRE, forma uma família constituída pelos seguintes métodos: ELECTRE I [Roy, 1968]: utiliza uma relação de prevalência do tipo 1 para apoio à selecção da melhor alternativa; ELECTRE IS [Roy e Skalka, 1985]: utiliza uma relação de prevalência do tipo 1 para apoio à selecção da melhor alternativa, admitindo uma generalização da noção de critério; ELECTRE II [Roy e Bertier, 1971]: utiliza duas relações de prevalência do tipo 1 para apoio à ordenação das alternativas; ELECTRE III [Roy, 1978]: utiliza uma relação de prevalência do tipo 2 para apoio à ordenação das alternativas, admitindo pseudo-critérios 11 ; ELECTRE IV [Roy e Hugonard, 1982]: utiliza cinco relações de prevalência do tipo 1 para apoio à ordenação das alternativas, admitindo pseudo-critérios; não distingue diferentes importâncias entre os critérios; ELECTRE TRI [Yu, 1992] utiliza uma relação de prevalência do tipo 2 para apoio à afectação das alternativas a categorias definidas a priori, admitindo pseudo-critérios (Dias, 1995: 17). A outra família da escola francesa, referentes aos métodos de análise multicritério, denomina-se PROMÉTHÉ (Preference Ranking Organization Method for Enrichment Evaluation). Este método desenvolve-se em duas fases: construção da relação de prevalência e exploração da relação de prevalência. Segundo [Brans e Vincke, 1985] os métodos de prevalência caracterizam-se por enriquecer a relação de dominância, que se baseia num princípio de unanimidade, aceitando uma relação mais fraca, baseada num princípio de maioria. Troca-se deste modo uma maior segurança nas 10 Esta escala é numérica e comum a todos os critérios. 11 Um pseudo-critério é uma função que operacionaliza um ponto de vista (Dias, 1995: 23). Maria Júlia Ferreira,

62 avaliações por um aumento do número de pares de alternativas comparáveis (Dias, 1995: 46). Os métodos da família PROMÉTHÉ baseando-se nas seguintes etapas: enriquecimento da estrutura de preferência e da relação de dominância e ajuda na decisão (FIGUERA, GRECO e EHRGOTT, 2005; citados por Ramos, 2010: 27), [ ] sendo vulnerável à subjectividade, especialmente no que concerne a definição dos parâmetros técnicos. Fora este ponto em comum, os métodos PROMÉTHÉ, em comparação com os métodos ELECTRE, são mais resistentes a variações nesses parâmetros, apresentando maior solidez nos seus resultados (GOMES, 2007; citado por Ramos, 2010: 27). As fases do método enumeradas por Dias (1995), constituem-se como uma comparação de todos os pares de alternativas, agregando os desempenhos, destas, segundo os vários critérios numa relação de prevalência difusa (primeira fase). Numa segunda fase, explora essa relação com vista a obter uma ordenação das alternativas com possíveis ex-aequo, i.e. uma pré-ordem total com vista a obter uma pré-ordem com possibilidade de incomparabilidade entre alternativas, em suma, uma pré-ordem parcial. [ ] A fase de construção da relação de prevalência, segundo Brans, requer que se associe a cada ponto de vista, aquilo a que chama um critério generalizado. A comparação de todos os pares de alternativas utilizando os critérios generalizados resulta num índice de preferência por cada par ordenado de alternativas. Obtém-se uma relação de prevalência difusa de síntese ao agregar estes índices de preferência, que são monocritério, num índice de preferência multicritério. [ ] O modelo de agregação utilizado consiste numa média ponderada dos índices monocritério para calcular o índice de preferência multicritério. O decisor atribui importâncias diferentes a critérios diferentes através da especificação dos coeficientes de ponderação (pesos) que intervêm nesta soma ponderada. Atente-se, no entanto, que o significado destes pesos é diferente do apresentado para os coeficientes de ponderação. Os pesos deverão ser superiores a zero e a sua soma deverá ser um. Deste modo, os índices de preferência multicritério variam entre 0 e 1 e definem uma relação de prevalência difusa (Dias, 1995: 49). Os métodos mais relevantes de análise multicritério que se inserem na escola americana são: Método de Análise Hierárquica (AHP Analytic Hierarchy Process), Método de Análise de Redes (ANP Analytic Network Process), MAUT Maria Júlia Ferreira,

63 (Multiattribute Utility Theory) e MACBETH (Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation Technique). Apresentaremos sucintamente o Método de Análise Hierárquica (AHP) e no ponto três o Método Macbeth. O método de Análise Hierárquica (AHP) foi proposto por Saaty, em 1972, para solucionar o consumo exagerado de energia por parte da indústria e desenvolver processos de racionamento para mesma. Em 1973, o método foi aplicado no estudo dos transportes no Sudão, tendo sido muito desenvolvido e originado um enriquecimento teórico nos anos seguintes (1974 a 1978). Este método insere-se na família dos métodos de apoio à decisão e a sua grande virtude está na possibilidade de medida e ordenação de dados quantitativos e qualitativos, tendo por base a utilização de diferentes critérios. A aplicação do método inicia-se com a identificação do problema que se pretende estudar e a sua decomposição em elementos dispostos por níveis de importância (hierarquização dos elementos). Na fase seguinte procede-se a comparação em pares (binária) entre os elementos do mesmo nível em relação ao critério de nível superior. Na síntese do resultado destas comparações determinamos as prioridades a considerar (prioridades globais). Na fase final, avalia-se a coerência e a interdependência entre as prioridades. A aplicação do método pode ser resumida nos seguintes passos sequenciais: Definir o problema e determinar o seu objectivo, Estruturar a hierarquia (objectivo principal, critérios de avaliação e relação de alternativas para cada um dos critérios), Construir a matriz de combinações binárias do nível inferior da hierarquia para comparação das importâncias relativas, criando o impacto de cada elemento sobre cada critério de referência do nível superior. (Formulação da apreciação dos indivíduos para as alternativas propostas, tendo por base a escala de Saaty). (Quadro I) Maria Júlia Ferreira,

64 Quadro I: Escala Fundamental de Saaty, 1991 Fonte: (Melchert e Francischini, 2005: 5) Calcular a matriz de síntese das prioridades, o vector de prioridades globais e a amplitude máxima (colectar todos os dados fornecidos pelas comparações binárias, analisar os valores recíprocos e os valores unitários sobre a diagonal principal, para assim poder testar a coerência da matiz), Calcular a coerência da matriz (consistência indexada (CI) e o rácio de consistência (CR)) 12 para poder aceitar a matriz como adequada ou para a rejeitar e proceder a sua reformulação (Melchert e Francischini, 2005: 5) O Método Macbeth O método MACBETH (Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation Technique) 13 é uma metodologia de apoio à tomada de decisão que permite avaliar decisões tendo em conta múltiplos critérios. A distinção fundamental entre a Macbeth e outros métodos de apoio à decisão com múltiplos critérios é que a Macbeth requer apenas julgamentos qualitativos sobre as diferenças de atractividade entre elementos, para gerar pontuações para as opções em cada critério e para ponderar os critérios (Bana e Costa, De Corte, Vansnick, 2005: 5). 12 CI= ( max n) / (n-1) e CR= CI / Valor apropriado ao nº de elementos da matriz da Tabela 1, se CR < 0,1 a matriz é coerente e adequa-se. Tabela 1: Consistência aleatória média proposta por Saaty (1980) 13 Medição da Atractividade por uma Técnica de Avaliação baseada em Categorias. Fonte: (Melchert e Francischini, 2005: 5) Maria Júlia Ferreira,

65 Em termos formais, estamos perante uma técnica de apoio à construção de escalas numéricas de intervalos, baseada na elaboração de juízos absolutos semânticos de diferença de atractividade entre duas ações (Bana e Costa, De Corte, Vansnick, 2004: 1). Este método, desenvolvido por Bana e Costa e Vansnick (1995, 1997) e apresentado em 2004 por Bana e Costa, De Corte e Vansnick 14, permite agregar os diversos critérios de avaliação num critério único de síntese, por meio da atribuição de pesos aos vários critérios, respeitando as opiniões dos decisores. A metodologia habitualmente proposta para a aplicação do método Macbeth compreende genericamente três fases: estruturação dos critérios, construção do modelo de avaliação e elaboração das recomendações. A fase da estruturação dos critérios inicia-se com sessões de post-its 15, em que os actores/técnicos propõem, discutem, agrupam e inter-relacionam objectivos a alcançar. O objectivo destas sessões é separar meios de fins por um processo de mapeamento cognitivo, que permita identificar, objectivos, ou eixos de desenvolvimento, estratégicos. As técnicas utilizadas para a construção dos mapas cognitivos são orientadas através de quatro perguntas: Porquê?, Como?, Como isto se liga a?, Em vez de?, em que utilizando post-its, os participantes anotam os conceitos que vão sendo produzidos e organizam-nos por áreas temáticas ou por situações problemáticas, passando depois à discussão do seu significado. Nesta fase do processo procuram-se encontar pontos de vista. Um ponto de vista (PV) é a representação de um valor julgado suficientemente importante pelos actores para ser considerado de uma forma explícita no processo de avaliação das ações ou alternativas (Bana e Costa, 1993: 16). Os pontos de vista fundamentais (PVF) reflectem um valor relevante no contexto do problema, enquato os pontos de vista elementares (PVE) são os meios para se alcançar os pontos de vista fundamentais. A operacionalização desta etapa faz-se através da discussão das acções de cada eixo problemático definido, por parte dos grupos de actores, passando estes posteriormente à análise das interconexões entre eixos 14 BANA E COSTA, C. A., DE CORTE, J. M., VANSNICK, J.C., 2004a, On the mathematical foundations of MACBETH. In J. Figueira, S. Greco, M. Ehrgott (Eds.), Multiple Criteria Decision Analysis: The State of the Art Surveys, Springer, New York, pp Esta técnica permite tornar as reuniões de grupo mais eficazes O Facto de obrigar os intervenientes a sintetizar o seu pensamento e/ou ideia numa frase simples, elimina as discussões retóricas de um determinado tema e tornar pública essa ideia. Ao mesmo tempo permite agrupar as diferentes ideias em torno de um tema geral e proporciona uma discussão mais objectiva (centrada no objectivo específico). Maria Júlia Ferreira,

66 problemáticos, para formar programas coerentes de intervenção. Surgem assim os critérios que servirão de base à avaliação das acções e que na metodologia Macbeth assumem o nome de Pontos de Vista. Na fase de avaliação, o procedimento de desenvolvimento da abordagem Macbeth começa por solicitar ao actor um julgamento verbal (qualitativo) sobre a diferença de atractividade entre cada duas ações x e y de um conjunto de alternativas, escolhendo uma das seguintes categorias semânticas: C1 diferença de atractividade muito fraca, C2 diferença de atractividade fraca, C3 diferença de atractividade moderada, C4 diferença de atractividade forte, C5 diferença de atractividade muito forte e C6 diferença de atractividade extrema. O julgamento valorativo sobre as acções propostas, realizado pelos actores, é operacionalizado através de uma matriz de julgamentos. As escalas utilizadas nos julgamentos e na validação destes são obtidas através da verificação da coerência teórica, da coerência semântica e da consistência dos resultados. O MACBETH permite a verificação visual da consistência, uma vez que na matriz de julgamentos os valores de diferença de atractividade devem aumentar da esquerda para a direita e diminuírem de cima para baixo, devido a uma necessária ordenação antes dos julgamentos 16. Figura 4 Matriz de Julgamentos (consistentes) (Extraído de Bana e Costa e all., 2005: 36) O software M-Macbeth que aplica o método faz a análise de coerência dos julgamentos e sugere, em caso de incoerência, como resolvê-la. Por programação linear, é sugerida uma escala de notas e os intervalos em que elas podem variar 16 O decisor é semanticamente consistente nas suas respostas, se na matriz triangular superior dos julgamentos verbais, os valores da matriz não decrescerem em valor e em linha (da esquerda para a direita) e não crescerem em valor e em coluna (de cima para baixo). Esta análise à matriz de juízos de valor permite ao decisor repensá-los e alterá-los seguindo as sugestões do facilitador (Bana e Costa e Vansnick, 1995). Maria Júlia Ferreira,

67 sem tornar o problema inconsistente (problema de programação linear inviável). É ainda facultado ao decisor ajustar graficamente o valor das notas atribuídas, dentro dos intervalos permitidos (análise de sensibilidade). Segundo Bana e Costa e Vansnick (1997, 2005: 37), esta fase de ajuste permite caracterizar a construção da escala quantitativa de valores. Figura 5 Matriz de Julgamentos (inconsistentes) (Extraído de Bana e Costa e all., 2005: 37) Matematicamente, a metodologia Macbeth é constituída por quatro problemas de programação linear (PPLs) sequenciais: PPL 1: PPL 2: Problema Mc1 - realiza a análise de consistência cardinal; Problema Mc2 - responsável pela construção da escala de valor cardinal; PPLs 3 e 4: Problemas Mc3 e Mc4 - revelam fontes de inconsistência. Na matriz de julgamentos cada elemento xij da matriz toma o valor k (k = 1, 2, 3, 4, 5, 6), se o decisor julgar que a diferença de atractividade do par (ai, aj) pertence à categoria Ck. Estes números não têm significado matemático, servem apenas como indicadores semânticos das diferenças de atractividade atribuída ao par respectivo (Gomes e Alencar, 2005: 24). Segundo os autores, Bana e Costa e all (2005, 2008), do software M-Macbeth, na sua aplicação e desenvolvimento, este organiza a informação introduzida no sistema em três tipos de resultados: ordinal (estabelece uma ordem sem incluir as diferenças de atractividade e/ou as preferências manifestadas), a macbeth (reflecte os julgamentos semânticos e de valor expressos e incluídos no modelo, mas não considera as escalas de ponderação referentes a esses julgamentos) e cardinal Maria Júlia Ferreira,

68 (compreende uma escala especifica e validada pelo avaliador). No processamento da análise, o software considera a informação específica de um critério (informação local) e a informação referente ao conjunto dos critérios (informação global). Com este conjunto de julgamentos, o software M-Macbeth verifica eventuais inconsistências e, depois, determina uma escala de valor cardinal que representa os julgamentos de valor do decisor. A escala obtida é normalizada e fornece os valores dos pesos para as alternativas em avaliação, o que possibilita o uso de um modelo de agregação, em geral, aditivo (Bana e Costa et al, 2005: 28). Resumidamente, na aplicação deste método e na utilização do software M- Macbeth, poderemos identificar quatro etapas: A primeira corresponde aos julgamentos qualitativos dos peritos avaliadores, sendo estes inseridos no software M-Macbeth e automaticamente verificado a sua consistência com sugestões para a resolução das inconsistências detectadas. A segunda corresponde a construção de um modelo quantitativo de avaliação. Nesta fase é definida uma escala de pontuação para cada critério e são atribuídos pesos relativos a estes, resultantes de uma discussão e sugestão por parte dos peritos avaliadores. Na terceira é calculada uma pontuação global para cada opção através de uma soma ponderada das pontuações de cada critério. Na quarta, o software procede a análise de sensibilidade e de robustez do dos resultados do modelo para este possa ser ajustado e o problema compreendido em profundidade. Esta fase permite que formar convicções sobre as prioridades a definir e as opções a seleccionar. A análise final do modelo pode ser complementada pelas múltiplas opções gráficas que o software permite elaborar (Bana e Costa, De Corte, Vansnick, 2005: 5). 3. Programa Local de Habitação da Cidade de Lisboa A proposta de metodologia do Programa Local de Habitação da cidade de Lisboa (PLH) foi aprovada em 22 de Outubro de 2008 na 61ª reunião da Câmara Municipal Maria Júlia Ferreira,

69 de Lisboa. O PLH propunha uma metodologia que seria implementada em três fases: 1ª fase Conhecer entre Outubro de 2008 e Janeiro de Esta é uma fase de diagnóstico, que implica a recolha de informação disponível através de diferentes suportes e fontes (serviços e empresas municipais, freguesias, organizações da sociedade civil, empresas e entidades promotoras de habitação, etc. ) Pretende-se identificar, de forma expedita mas consistente: necessidades, problemas e disfunções do mercado, com localização georeferenciada (ao nível de freguesia sempre que possível) - políticas e instrumentos disponíveis, lacunas e contradições, conhecimento e proposta inovadoras, oportunidades e potencialidades de mudança, principais sugestões para o PLH apresentadas pelos diferentes actores. Esta fase implica um conjunto de debates, um estudo de opinião para conhecer a percepção dos cidadãos sobre esta temática e um site dedicado ao PLH. (CML, 2009b: 5) 2ª fase Escolher entre Janeiro e Março de 2009 Esta é uma fase de definição de prioridades e objectivos estratégicos, em que são elencados os instrumentos de intervenção e os projectos e medidas a desenvolver. Nesta fase deverão articular-se as prioridades escolhidas com as restantes políticas municipais, concluindo-se com a elaboração da matriz de objectivos estratégicos e a identificação das áreas-piloto ou medidas prioritárias. Os debates serão sobretudo sectoriais ou descentralizados, de forma a aprofundar a intervenção dos vários actores, sectoriais ou de zona e bairro, garantindo o seu envolvimento e a explicitação concreta das suas aspirações. O PLH deverá procurar compatibilizar as diferentes visões dos actores, quer do lado da oferta, quer do lado da procura, num quadro coerente que aponte horizontes e metas de médio prazo, sem ignorar as intervenções prioritárias e em curso. (CML, 2009b: 5) 3ª fase Concretizar entre Abril e Junho de 2009 Esta é uma fase decisiva em que deverá ser possível lançar algumas medidas ou acçõespiloto, de carácter demonstrativo e que permitam testar propostas contidas no PLH, e submeter a debate público a estratégia municipal de habitação para os próximos 4-5 anos em Lisboa. Será também nesta fase que se estabelecerão parcerias e mecanismos de acompanhamento e avaliação da implementação do PLH. (CML, 2009b: 5) Segundo a CML (2008: 2), o PLH de Lisboa pretendia alcançar os seguintes objectivos gerais: Conhecer melhor as necessidades quantitativas e qualitativas de habitação, Conhecer o mercado habitacional local e as suas dinâmicas, Hierarquizar prioridades, Identificar os recursos e parceiros mobilizáveis, Enquadrar as intervenções de regeneração urbana, Contratualizar intervenções, Divulgar boas práticas na gestão do parque público. (CML, 2009a: 19) Maria Júlia Ferreira,

70 Os objectivos específicos propostos para do PLH de Lisboa foram: Proceder ao levantamento da informação sobre a situação da habitação em Lisboa, Identificar, em colaboração com as freguesias e com os parceiros sociais, a dimensão das carências quantitativas e qualitativas de habitação, seleccionando áreas críticas ou estratégicas de intervenção prioritária, Aprofundar o conhecimento e a informação sobre o mercado, identificando potencialidades, bloqueios e falhas, numa óptica metropolitana e municipal, que inclua a habitação, o transporte e o acesso aos equipamentos urbanos, Identificar as principais dinâmicas da evolução da oferta e da procura de habitação em Lisboa e respectivas tendências de evolução, Articular a intervenção directa e indirecta no mercado da habitação com as outras políticas municipais, nomeadamente a política urbanística, a política fiscal, a política de acção social e a gestão do património municipal, Integrar na estratégia municipal de habitação os vários programas e projectos desenvolvidos ou a desenvolver no âmbito dos pelouros municipais envolvidos, como por exemplo o PRDIM Programa de reabilitação e desenvolvimento integrado de Marvila, Desenvolver um processo participativo, envolvendo todos os parceiros e aberto aos cidadãos, para definir os objectivos estratégicos, as prioridades e as medidas a implementar, Acompanhar a aplicação do novo regime de arrendamento urbano e o seu impacto na habitação em Lisboa, Identificar os recursos financeiros, técnicos, sociais e de informação disponíveis e mobilizáveis para a estratégia local de habitação, Identificar práticas, técnicas ou metodologias inovadoras, nomeadamente nas áreas da mobilidade, eficiência energética, conservação de edifícios e gestão do parque habitacional, Acompanhar e divulgar as experiências de inovação e boas práticas nacionais e internacionais, Preparar ou acompanhar as candidaturas e parcerias necessárias à mobilização de recursos, quer através do PEH 2008/2013, quer de outros programas, iniciativas ou financiamentos nacionais ou comunitários (PROHABITA, Porta 65, empréstimo ao BEI para reabilitação urbana, etc.), Definir e calendarizar as medidas propostas, quantificando-as quando possível ou pelo menos identificando as condições da sua exequibilidade e garantindo a sua integração nos instrumentos de gestão municipal, Implementar um processo de monitorização e avaliação sistemático, que inclua a acessibilidade on-line aos documentos e informações gerados no processo do PLH e a publicação periódica de indicadores actualizados. (CML, 2009a: 19) 3.1. Matriz Estratégica do PLH da Cidade de Lisboa Na construção da Matriz Estratégica do PLH, os seus autores, foi utilizada uma abordagem multicritério para a definição dos objectivos estratégicos urbanísticos e habitacionais para a cidade de Lisboa. A abordagem MACBETH (Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation Technique) foi o método escolhido, em detrimento da análise SWOT (Pontos Fortes, Pontos Fracos, Debilidades e Potencialidades), visto que este último método permite caracterizar a realidade actual, mas não permite elaborar recomendações e avaliar a implementação das mesmas os benefícios e a sua exequibilidade, características da generalidade dos métodos multicritério. Maria Júlia Ferreira,

71 A metodologia de avaliação multicritério permitiu, através de um processo interactivo de conferência decisão conduzido pelo Professor Carlos Bana e Costa, estruturar os objectivos, definir os cachos ou conjuntos de medidas a implementar, ponderar o contributo efectivo de cada cacho para os objectivos gerais e específicos e estabelecer uma medida qualitativa dos respectivos benefício e exequibilidade (CML, 2009d: 7). As referências para a elaboração do PLH foram o sistema de planeamento estratégico implementado entre 1990 e 1995 que se desenvolveu através do Plano Estratégico, aprovado em 1992, do Plano Director Municipal, aprovado em 1994, e dos Planos e Projectos Prioritários, que foram sendo desenvolvidos ao mesmo tempo para áreas de intervenção prioritária e o Modelo de Desenvolvimento Urbano para os anos 90, que o PDM viria a integrar, consubstanciadas nas questões de ordenamento urbanístico de Lisboa, a saber: 1. Redimensionar, reorganizar e revalorizar o Centro da Cidade, 2. Estruturar o Arco Terciário Direccional, 3. Ligar a Cidade ao Rio, 4. Desenvolver e integrar a Zona Oriental da Cidade, 5. Criar o Sistema de Interfaces de Transportes, 6. Reforçar a reabilitação das Áreas Históricas Centrais, 7. Construir e consolidar a Estrutura Verde de Lisboa, 8. Organizar e qualificar a continuidade urbana Benfica Amadora, 9. Conter a expansão urbana Norte (Carnide Lumiar) (CML, 2009c: 6) O desenvolvimento do PLH, segundo os autores, procura interligar as metodologias de planeamento estratégico com o urbanismo, na linha da Nova Carta de Atenas, em que a sustentabilidade para a cidade de Lisboa depende da Requalificação e Racionalização do espaço urbano com a contenção da expansão da cidade, passando pela reabilitação do edificado e dos fogos devolutos, pois só assim se pode manter a atractividade de Lisboa e contrariar a desertificação verificada nas últimas décadas, invertendo a tendência do êxodo da população residente, com a penalização da população jovem. (CML, 2009c: 6) Como interpenetrar os conceitos de planeamento estratégico e de planeamento urbanístico, com o paradigma do desenvolvimento sustentável?, constitui a questão de partida para o desenvolvimento da Matriz Estratégica e do recurso à metodologia Maria Júlia Ferreira,

72 de avaliação multicritério, atendendo à complexidade das questões urbanas, pelo que, e segundo os autores da Matriz Estratégica, o conceito de sustentabilidade está relacionado intrinsecamente com preocupações do presente e do futuro, e ainda com as aspirações das populações, numa perspectiva de salvaguarda ambiental, de utilização criteriosa de recursos e reciclagem da cidade existente, através da avaliação dos seus vazios, da requalificação dos bairros existentes, da reconversão das áreas industriais obsoletas e do aproveitamento das infra estruturas existentes, onde o solo constitui um bem escasso (CML; 2009c: 7) 3.2. Metodologia Aplicada ao PLH da Cidade de Lisboa Fase de Estruturação A metodologia adoptada foi similar à utilizada para a cidade de Pernambuco e desenvolveu-se em três fases: fase de estruturação (Definição e estruturação dos objectivos, Concepção das acções e programas, Construção da Matriz Estratégica), fase de avaliação (Validação dos objectivos e programas, Avaliação do benefício e exequibilidade dos programas, Construção do diagrama de escolha estratégica) e fase de recomendação (avaliação dos resultados da consulta pública e Construção da proposta de estratégia final). A construção da Matriz Estratégica Preliminar foi realizada durante 14 sessões (conferências de decisão) por 14 peritos que constituíam a equipa do PLH (todos técnicos da CML) sob a orientação do Professor Carlos Bana e Costa (CML, 2009d: 11). O objectivo central deste estudo consistiu em encontrar a solução para (Re)habitar Lisboa. A metodologia consistiu em distinguir os objectivos fins dos objectivos meios para se identificarem os objectivos estratégicos fundamentais a considerar no PLH de Lisboa (CML, 2009c: 7). Nesta etapa propõem-se medidas e discutem-se o seu contributo para a concretização dos objectivos estratégicos. Em simultâneo, definem-se linhas estratégicas de intervenção (eixos) que são afinadas, agrupadas (clusters) ou que dão origem a novas linhas de intervenção complementares (CML, 2009c: 7). Em suma, estamos ao nível da interacção e da aprendizagem que permite, ou neste caso permitiu, a definição de pacotes de medidas coerentes que Maria Júlia Ferreira,

73 vão ao encontro de vários Objectivos Estratégicos e que designaremos por Cachos do PLH. Um cacho é mais do que um eixo de intervenção, porque incorpora sinergias entre medidas, mas não é ainda um programa. No final do processo, os cachos finais devem ser transformados em programas de intervenção. Na Avaliação do Benefício de cada Cacho de medidas, constrói-se um Modelo MACBETH de Avaliação Multicritério, avaliando separadamente a contribuição de cada Cacho para alcançar cada Objectivo Estratégico (e, portanto, não de cada Medida tomada isoladamente o que faria ignorar sinergias e complementaridades na avaliação dos benefícios). Depois, ponderam-se os vários Objectivos para calcular um valor de Benefício global para cada Cacho (CML, 2009c: 7). No processo de desenvolvimento desta segunda etapa, Escolher, que correspondeu à fase de estruturação, foram definidos 8 objectivos (CML, 2009c: 12): a) Melhorar a qualidade do parque habitacional, b) Melhorar a qualidade da vida urbana e a coesão territorial, c) Promover a coesão social, d) Adequar a oferta à procura de habitação, e) Poupar recursos, f) Dar prioridade à reabilitação, g) Garantir os solos necessários para Re-Habitar Lisboa, h) Promover a administração aberta. Estes 8 objectivos estão integrados em três objectivos gerais: Melhorar a cidade objectivos a), b) e c), Atrair nova população objectivos d) e e), e Passar da crise à oportunidade objectivos f), g) e h) Fase de Avaliação Esta fase corresponde a avaliação dos objectivos definidos, através de um processo que consistiu em propor medidas para cada objectivo e discuti-las em função da sua exequibilidade. Nesta fase, foram definidas as medidas a implementar e agrupadas em cachos (clusters) para que as sinergias de cada uma e as sinergias transversais melhor se Maria Júlia Ferreira,

74 pudessem aproveitar. Da avaliação resultaram 17 cachos temáticos coerentes. A operacionalização desta fase fez-se com a ponderação, através de pontos definidos numa escala de 0 a 6, em que 0 representa contribuição nula e 6 contribuição extrema, para os objectivos e os benefícios das medidas propostas. [ ] Inicialmente, começaram por se formaram 12 cachos com as 123 medidas. Depois de uma análise deste conjunto, foi decidido criar um novo cacho, transversal a todos os outros, onde se agruparam as medidas relativas à Governança. Por último, e tendo em conta o elevado número de medidas presentes nos cachos de Governança e de Requalificação dos Bairros, foram ainda criados 6 sub cachos, 3 para cada um destes. No final obtiveram-se os 17 cachos de medidas (CML, 2009d: 11). Figura 6 Cachos e Medidas do PLH (Extraído de CML Avaliação Multicritério do PLH, 2009d: 13) O modelo utilizado permiti avaliar os juízos qualitativos dos peritos intervenientes e quantificá-los. Nas sucessivas conferências de decisão os peritos propuseram, Maria Júlia Ferreira,

75 discutiram, agruparam e relacionaram objectivos a alcançar (Bana e Costa et all, 2009: 1670). A escala utilizada neste trabalho foi agrupada em seis categorias positivas e seis categorias negativas. Com esta escala encontram-se melhor as diferenças entre os cachos propostos e sua contribuição no objectivo final do PLH (Rehabitar Lisboa), isto porque a implementação de uma determinada medida poderá beneficiar um objectivo e prejudicar outro, evitando-se assim os efeitos cruzados negativos da implementação das medidas. Nesta perspectiva e na implementação da abordagem Macbeth, os peritos foram questionados para cada medida proposta 17 no sentido de avaliar se esta melhora, mantém ou piora o objectivo, utilizando a escala com seis valores positivos (melhora), ou seis valores negativos (piora) ou ainda com a possibilidade nula (mantém). As medidas que segundo a equipa de PLH, teriam maiores efeitos na concretização dos objectivos, obtidos dos juízos de valor da referida equipa que participou na avaliação multicritério, foram: Objectivo A Regeneração dos bairros de intervenção prioritária e Realojamento e regeneração urbana; Objectivo B Regeneração dos bairros de intervenção prioritária e Realojamento, Requalificação de bairros consolidados e Mobilidade; Objectivo C Revitalização local, Habitação Low-Cost e Regeneração de bairros de intervenção prioritária; Objectivo D Dinamização do Arrendamento, SAAL e PPP para a reabilitação e Arrendamento jovem; Objectivo E Reabilitação sustentável, SAAL e PPP para a reabilitação e Mobilidade; 17 Escala Utilizada: Extremamente positiva; Muito Fortemente positiva; Fortemente positiva; Moderadamente positiva; Fracamente positiva; Muito fracamente positiva; Nula; Muito fracamente negativa; Fracamente negativa; Moderadamente negativa; Fortemente negativa; Muito Fortemente negativa; Extremamente negativa. Maria Júlia Ferreira,

76 Objectivo F Requalificação dos bairros consolidados, Reabilitação sustentável, SAAL e PPP para a reabilitação, Boa administração municipal e Políticas nacionais; Objectivo G SAAL e PPP para a reabilitação e Boa administração municipal; Objectivo H Participação e Boa administração municipal (CML, 2009c: 14 a 30) Após este passo e para perceber o benefício global com que cada cacho contribuiu para o objectivo correspondente, os juízes da metodologia Macbeth, ponderaram os respectivos benefícios das medidas propostas por cacho entre si para os objectivos gerais (a, b, c; d, e; f, g, h) e seleccionaram o objectivo com percentagem mais elevada para assim poderem hierarquizar os objectivos gerais (três) e os oito objectivos específicos. Na operacionalização foi pedido aos técnicos do PLH que considerassem os objectivos que contribuem mais decisivamente para o objectivo pretendido, expressando o seu juízo numa escala de seis valores (anteriormente definida). Após esta ponderação seleccionaram-se as seguintes medidas / acções: Objectivo geral A (Melhorar a cidade) Objectivo específico a): Melhorar a qualidade do parque habitacional (público e privado); Objectivo específico b): Melhorar a qualidade da vida urbana e a coesão territorial; Objectivo específico c): Promover a coesão social; Da ponderação final o programa M-Macbeth hierarquizou para o objectivo geral A os objectivos específicos da seguinte forma: Melhorar a qualidade da vida urbana e a coesão territorial (37,5%), Melhorar a qualidade do parque habitacional (público e privado) (31,25%) e Promover a coesão social (31,25%). Objectivo geral B (Atrair nova população) Maria Júlia Ferreira,

77 Objectivo específico d): Adequar a oferta à procura de habitação; Objectivo específico e): Poupar recursos. Da ponderação final o programa M-Macbeth hierarquizou para o objectivo geral B os objectivos específicos da seguinte forma: Adequar a oferta à procura de habitação (54%) e Poupar recursos (46%). Objectivo geral C (Passar da crise à oportunidade) Objectivo específico f): Dar prioridade à reabilitação; Objectivo específico g): Garantir os solos necessários para rehabitar; Objectivo específico h): Promover a administração aberta; Da ponderação final o programa M-Macbeth hierarquizou para o objectivo geral C os objectivos específicos da seguinte forma: Dar prioridade à reabilitação (37%), Promover a administração aberta (37%) e Garantir os solos necessários para rehabitar (26%). Para finalizar a hierarquização dos objectivos foi escolhido um objectivo de cada objectivo geral e efectuada uma ponderação relativa entre os objectivos. Daqui resultou que se deveria Adequar a oferta à procura de habitação (40%), Melhorar a qualidade do parque habitacional público e privado (30%) e Dar prioridade à reabilitação (30%). Uma vez determinados os pesos dos objectivos, procedeu-se ao cálculo da pontuação global de benefício esperado de cada cacho para o principal objectivo (Re)habitar Lisboa, por soma ponderada das suas pontuações parciais em cada um dos oito objectivos. Os resultados obtidos mostraram que a Boa Administração Municipal (83%) e o SAAL e PPP para a Reabilitação (79%) e a Regeneração dos Bairros de Intervenção Prioritária (67%) são os cachos que mais contribuem para o aumento do beneficio em relação ao objectivo (Re)Habitar Lisboa. Quanto à exequibilidade das medidas de cada cacho, a Requalificação dos Bairros Consolidados, a Promoção da Proximidade e Boas Práticas, a Habitação Low- Cost, a Participação e a Formação foram considerados pelos técnicos como tendo Maria Júlia Ferreira,

78 uma contribuição muito forte para exequibilidade do principal objectivo (Re)Habitar Lisboa Fase de Recomendação A finalidade desta abordagem foi definir programas pelos seus benefícios e exequibilidade e o modelo foi aplicado para criar uma grelha estratégica de classificação destes (programas). Na sequência, foram definidos os seguintes tipos de programas: as pérolas (os programas muito benéficos e fáceis de implementar), as ostras (benéficos mas mais difíceis de implementar), os pães com manteiga (fáceis de implementar mas pouco benéficos), os tiros ao alvo (programas benéficos) os elefantes brancos (pouco benéficos e pouco exequíveis).(cml, 2009c: 40) Da leitura da grelha estratégica definida pela abordagem Macbeth é possível identificar como Programas Pérolas (muito benéficos e fáceis de implementar) o Cacho 5.2 Bairros Consolidados, o Cacho 5.3 Gestão de Proximidade, o Cacho 6 SAAL para Reabilitação, o Cacho 12 Reabilitação Sustentável e o Cacho 13.3 Participação (ver figura 7 cachos do quadrante superior direito). Para os Programas Ostras (benéficos mas mais difíceis de implementar) são considerados o Cacho 5.1 Bairros de Intervenção Prioritária, o Cacho 10 Realojamento e Regeneração Urbana, o Cacho 11 Dinamização do Arrendamento, o Cacho 13.1 Politicas Nacionais e o Cacho 13.2 Boa Administração Municipal (ver figura 7 cachos do quadrante superior esquerdo). Foram considerados Programas pães com manteiga (fáceis de implementar mas pouco benéficos) o Cacho 1 Formação e o Cacho 8 Habitação Low Cost e tiros ao alvo (cachos orientados para 1 só objectivo) o Cacho 2 Arrendamento Jovem e o Cacho 3 Acupunctura Urbana (ver figura 7 cachos do quadrante inferior direito). Maria Júlia Ferreira,

79 Os programas considerados elefantes brancos potenciais (pouco benéficos e pouco exequíveis) o Cacho 4 Mobilidade, o Cacho 7 Respiração Local e o Cacho 9 Revitalização Local (ver figura 7 cachos do quadrante inferior esquerdo). Figura 7 Grelha Estratégica de Classificação dos Programas (Extraído de PLH Avaliação Multicritério do PLH, 2009d: 38) A terminar, os autores da matriz estratégica preliminar consideram que a Recomendação se elabora ao longo de todo o processo e que deverá incorporar os resultados da consulta pública na Matriz Estratégica, traduzindo-se na Proposta Estratégica final, que deverá ser submetida aos órgãos municipais (Câmara Municipal e Assembleia Municipal). 4. Considerações finais Os problemas de decisão que envolvem realidades complexas devem ser equacionados a partir de métodos com abordagens de tipo multicritério, visto que Maria Júlia Ferreira,

80 geralmente envolvem a escolha de um número finito de alternativas baseadas num conjunto de critérios previamente seleccionados. Os problemas complexos da tomada de decisão são comuns a uma infinidade de áreas, apoiando-se a sua resolução em raciocínios dedutivos, com a finalidade de orientar e validar as escolhas efectuadas. O Método Macbeth é um método simples e confiável. Permite a utilização de dados qualitativos e a sua quantificação através da utilização de escalas valorativas aplicadas pelos actores intervenientes no processo de decisão. É um método que privilegia os peritos da temática em análise e, por esta razão, mais objectivo nos resultados finais. As etapas que integra (Estruturação, Avaliação e Recomendação) dependem do conhecimento e envolvência dos peritos intervenientes, mas por ser um método ajustável aos objectivos pretendidos é interactivo e de fácil retroacção, o que permite reformular continuamente o modelo proposto, assim como o desenvolvimento de uma aprendizagem constante ao longo de todo o processo. O Programa Local de Habitação de Lisboa foi bem estruturado e seguiu uma estratégia adequada ao objectivo político pretendido terminar a primeira (Conhecer) e segunda (Escolher) fases no período correspondente ao mandato dos órgãos municipais que o promoveram. Assim, o objectivo preconizado pelo PHL de Lisboa (Re)Habitar Lisboa, nomeadamente, na fase do processo correspondente às Escolhas e na definição da Matriz Estratégica, foi prejudicado pela limitação imposta à participação de peritos exteriores ao PLH. Parece-me que os objectivos definidos e as medidas estratégicas encontradas são demasiadamente óbvias e resultam numa redundância característica das situações em que os actores são os mesmos no processo de proposta e de decisão. Na primeira fase fez todo o sentido que os estudos de diagnóstico e de caracterização da realidade de Lisboa tivessem sido efectuados pelos técnicos do PLH (embora alguns dos trabalhos de caracterização tenham sido elaborados por equipas externas), já para a segunda parte, importante em relação ao futuro, não faz sentido que esta se limite exclusivamente aos mesmos técnicos. A qualidade e alcance dos objectivos e das medidas teriam sido mais relevantes se tivessem sido convidados outros peritos que também têm um papel fundamental na vida da cidade (os empresários, os construtores, os consumidores de habitação jovens e menos jovens, os promotores imobiliários, os proprietários imobiliários, entre outros). Maria Júlia Ferreira,

81 A metodologia multicritério aplicada e o modelo resultante para avaliação dos objectivos dos programas não foram inovadores, visto já terem sido aplicados no Estado de Pernambuco (Brasil). No entanto, não poderá considerar-se que esta metodologia não tenha sido adequada aos objectivos que se preconizaram para o PLH de Lisboa. Em suma, a abordagem multicritério Macbeth é um método com potencial para ser aplicado em múltiplas situações, visto permitir caracterizar a realidade no momento da sua aplicação e, simultaneamente, potenciar cenários e situações futuras com a implementação de estratégias resultantes dos juízos de valor dos actores intervenientes. Um dos pontos fortes da análise multicritério relaciona-se com a possibilidade dada a todos intervenientes de participarem no processo de tomada de decisão e na resolução de problemas, visto que os juízos de valor e as opiniões pessoais de cada actor são processadas e estruturadas em análises quantitativas capazes de tornar simples um conjunto de opiniões complexas e desestruturadas. A terminar, a escolha do método multicritério deve ser resultado da avaliação dos parâmetros escolhidos, dos dados disponíveis, da qualidade destes dados, qual o nível de decisão (individual, grupo ou organização), do conhecimento do problema a ser seleccionado e o que se deseja como resultado: selecção, ordenação ou classificação (BOUYSSOU et al, 2000, citado por Ramos, 2010: 44). Para tal escolha é necessário conhecer os diversos métodos disponíveis, as suas vantagens e desvantagens para que a opção feita atenda aos parâmetros escolhidos (Ramos, 2010: 44). Bibliografia ANTÃO DA SILVA, P. A., 1996, Avaliação Multi-Critério de Medidas de Controlo de Cheias de um Ponto de Vista Ambiental, IST, Lisboa. (Documento em PDF) ANTÃO DA SILVA, P., BANA E COSTA, C. A., NUNES CORREIA, F, 2000, Avaliação Multicritério das Incidências Ambientais de Medidas de Controlo de Cheias: O caso da Ribeira do Livramento, LNEC, Lisboa. (Documento em PDF) BANA E COSTA C. A., VANSNICK, J. C., DE CORTE, J. M., 2004, MACBETH, Working paper LSEOR 03.56, London School of Economics, London (Documento em PDF). Maria Júlia Ferreira,

82 BANA E COSTA, C. A., DE CORTE, J. M., VANSNICK, J.C., 2004a, On the mathematical foundations of MACBETH. In J. Figueira, S. Greco, M. Ehrgott (Eds.), Multiple Criteria Decision Analysis: The State of the Art Surveys, Springer, New York, pp BANA E COSTA, C. A., DE CORTE, J. M., VANSNICK, J.C., 2005, M MACBETH Versão Guia do Utilizador. (disponível em macbeth.com/downloads.html) (Documento em PDF) BANA E COSTA, C. A., FERREIRA, J. A. A, CORREIA, E. C., 2000, Metodologia multicritério de apoio à avaliação de propostas em concursos públicos, in ANTUNES, C. H., TAVARES, L.V. (Ed.). Casos de aplicação da investigação operacional, McGraw Hill, Amadora, p (Documento em PDF) BANA E COSTA, C. A., VANSNICK, J.C., 1995, Uma abordagem ao Problema da Construção de uma Função de Valor Cardinal: MACBETH, CESUR/IST, Pesquisa Operacional, Vol. 15, Lisboa, pp 15 a 35. (Documento em PDF) BANA E COSTA, C. A.,.SILVA, Maria Bernardette F A, 2008, Modelo Multicritério de Avaliação de Capacidade Empreendedora em Empresas de Base Tecnológica, in ENGEVISTA, v. 10, nº 1, Junho 2008, pp 4 a 14, Brasil (Documento em PDF: BANA E COSTA, C.A., 1993, Processo de Apoio à Decisão: Actores e Acções, Estruturação e Avaliação, CESUR/IST, Pesquisa Operacional, Vol. 618, Lisboa. (Documento em PDF) BANA E COSTA, C.A., 1993a, Três Convicções Fundamentais na Prática do Apoio à Decisão, CESUR/IST, Pesquisa Operacional, Vol. 13, nº 1, pp 9 a 13, Lisboa. (Documento em PDF) BANA E COSTA, C.A., LOURENÇO, J.C., BANA E COSTA, J.C., 2009, Concepção de uma Estratégia a Médio Prazo para Pernambuco in Actas do15º Congresso da APDR Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Regional, Cabo Verde, 6-11 Julho de 2009, APDR, pp (Documento em PDF) CML, 2008, Programa Local de Habitação - Proposta de Metodologia, CML/PLH, Lisboa. (Documento em PDF) CML, 2009a, Relatório da Primeira Fase - Conhecer, Vol. 1, 2 e 3, CML/PLH, Lisboa (Abril de Documento em PDF) CML, 2009b, Re-Habitar Lisboa - Matriz Estratégica Preliminar, Relatório da Segunda Fase - Escolher CML/PLH, Lisboa. (Maio de Documento em PDF). CML, 2009c, Re-Habitar Lisboa Proposta Estratégica do PLH, Relatório da Segunda Fase - Escolher CML/PLH, Lisboa. (8 de Julho de Documento em PDF). CML, 2009d, Re-Habitar Lisboa Avaliação Multicritério da Matriz Estratégica Preliminar, Relatório da Segunda Fase - Escolher CML/PLH, Lisboa. (Julho de Documento em PDF). DIAS, Luís Miguel C., 1995, O Processamento Paralelo e os Métodos PROMETHEE e ELECTRE III no Apoio Multicritério à Decisão Alguns Programas, Experiências Computacionais e Discussão de Resultados, Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra, Coimbra (Documento em PDF, Maria Júlia Ferreira,

83 GOMES, Eliane G. e ALENCAR, Maria C. F., 2005, Proposição de um Índice de Produção para Bibliotecas com uso do Método Macbeth, in ENVISTA, v. 7, nº 1, Abril de 2005, pp. 21 a 31, Brasil. (Documento em PDF: IHRU, 2008a, Diagnóstico de Dinâmicas e Carências Habitacionais, Relatório 1, Contributos para o Plano Estratégico de Habitação 2008/2013, DGOTDU/IHRU, Lisboa. (Documento em PDF). IHRU, 2008b, Políticas de Habitação, Relatório 2, Contributos para o Plano Estratégico de Habitação 2008/2013, DGOTDU/IHRU, Lisboa. (Documento em PDF). IHRU, 2008c, Estratégia e Modelos de Intervenção, Relatório 3, Contributos para o Plano Estratégico de Habitação 2008/2013, DGOTDU/IHRU, Lisboa. (Documento em PDF). IHRU, 2008d, Sumário Executivo para o Debate Público, Contributos para o Plano Estratégico de Habitação 2008/2013, DGOTDU/IHRU, Lisboa. (Documento em PDF). LOPEZ, Ramiro S., BANA E COSTA, C.A., 2009, El enfoque Macbeth para la incorparación de temas transversales en la evaluación de proyectos de desarrollo, Artigo de Investigação, Nº2 de 2009, CEG/IST, Lisboa. (Documento em PDF) MELCHERT, E. R., FRANCISCHINI, P. G., 2005, Utilização da análise hierárquica do processo da classificação de factores-chave para redução do tempo de desenvolvimento de novos produtos: um estudo de caso, in Actas do XII Simpósio SIMPEP Bauru, São Paulo, Brasil, dias 07 a 09 de Novembro de 2005 ( RAMOS, M. S., 2010, Utilização da Abordagem Multicritério para Priorização do Portfólio de Projectos de Investimento, Dissertação de Mestrado Profissionalizante em administração, Faculdade de Economia e Finanças, IBMEC, Brasil (Documento em PDF: SALOMON, V., MONTEVECHI, J.A. B., PAMPLONA, E, 1999, Justificativas para Aplicação do Método de Análise Hierárquica, Faculdade de Engenharia de Guatinguetá, UNESP, Brasil (Documento em PDF: Sites acedidos: Maria Júlia Ferreira,

84 ANEXO D ALMEIDA; José, 2010, Avaliação na escolha da habitação - o papel do marketing na valorização da propriedade imobiliária. (resumo do Trabalho final do curso de doutoramento em Geografia e Planeamento Territorial - provas públicas em 14 Dez 2010) Resumo Neste trabalho de projecto o autor propõe analisar as questões de avaliação imobiliária à luz da perspectiva do mercado imobiliário e do marketing territorial. O conceito de valor da propriedade imobiliária é problematizado em dois contextos, primeiro, na perspectiva do consumidor, sobretudo ao nível psico-sociológico, através dos factores da decisão na escolha da habitação e da satisfação residencial. Segundo, ao nível da promoção imobiliária e das estratégias de valorização da habitação por parte dos agentes imobiliários. Propõe-se, ainda, analisar o contributo das políticas territoriais e do marketing territorial na valorização da propriedade imobiliária e na criação de expectativas e enquadrá-las face ao mercado imobiliário, quer nas acções relacionadas com a procura e quer com a oferta. Palavras-Chave: Mercado Imobiliário, Avaliação Imobiliária, Marketing Territorial Abstract In this project work the author proposes to analyse those matters of real estate appraisal in the light from the perspective of the housing market and territorial marketing. The concept of real estate property value is considered in two contexts. First from the perspective of consumer, especially psycho-sociological level, through the decision factors in the choice of housing and residential satisfaction. Second at the level of real estate and housing recovery strategies for real estate agents. It is proposed to also analyse the contribution of the territorial policies and territorial marketing of real estate valuation and creating expectations and use them against the housing market, whether the measures connected with the demand and the offer. Keywords: Housing Market, Real State Evaluation, Marketing Places Maria Júlia Ferreira,

85 ANEXO E ALMEIDA, José Manuel, A Avaliação Imobiliária na Perspectiva da Procura e sua Implicação na Gestão do Território Urbano ( resumo do Trabalho-Projecto de Mestrado em Geografia e Gestão do Território - provas públicas em Novembro de 2010). TRABALHO DE PROJECTO: A AVALIAÇÃO IMOBILIÁRIA NA PERSPECTIVA DA PROCURA E SUA IMPLICAÇÃO NA GESTÃO DO TERRITÓRIO URBANO RESUMO PALAVRAS-CHAVE: Avaliação Imobiliária, Mercado Imobiliário, Território Urbano Neste trabalho de projecto o autor analisa as questões de avaliação imobiliária na perspectiva da procura no mercado imobiliário. Problematiza sobre os conceitos de valor da propriedade imobiliária e satisfação residencial, tendo por base as variáveis explicativas psico-sociológicas. Cria um quadro conceptual explicativo dos factores da decisão na escolha da habitação e caracteriza algumas das variáveis representativas do mercado imobiliário em Portugal. ABSTRACT PROJECT WORK: THE REAL ESTATE APPRAISAL IN THE PERSPECTIVE OF DEMAND AND THEIR INVOLVEMENT IN THE MANAGEMENT OF THE URBAN TERRITORY KEYWORDS: Real State Evaluation, Housing Market, Urban Territory In this project work the author analyses the real estate appraisal issues from the perspective of demand on the real estate market. Develops the concepts of value of real estate and residential satisfaction, based on the psycho-sociological explanatory variables. Creates an explanatory conceptual framework of decision factors in the choice of housing and features some of the variables characteristics of the real estate market in Portugal. Maria Júlia Ferreira,

86 ANEXO F ROSÁRIO, Andreia, 2010, Reabi(li)tar Lisboa: Contributos do Programa Local de Habitaçã (Resumo da Dissertação de Mestrado em Geografia e Gestão do Território provas públicas em Novembro de 2010) Reabi(li)tar Lisboa: Contributos do Programa Local de Habitação Andreia do Rosário RESUMO PALAVRAS-CHAVE: LISBOA, RE-HABILITAR, REABILITAÇÃO URBANA No âmbito da realização de um estágio curricular na Câmara Municipal de Lisboa, na colaboração com a equipa definida para o desenvolvimento do primeiro Programa Local de Habitação (PLH), surgiu a hipótese de desenvolver um estudo aprofundado na temática das políticas de habitação e reabilitação urbana, como tema da dissertação de Mestrado. Nesse sentido, o trabalho que ora se apresenta, corresponde a uma análise descritiva das políticas e dinâmicas das sociedades, sobretudo no caso de Lisboa, que conduziram a Câmara Municipal na intenção de ser pioneira na elaboração do PLH. Os Programas Locais de Habitação correspondem a uma das medidas de intervenção defendida pelo Plano Estratégico (Nacional) da Habitação (PEH), a cargo do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana. São considerados uma óptima ferramenta de trabalho não só para a gestão do mercado habitacional concelhio e para o conhecimento das dinâmicas demográficas, como também, e essencialmente, para a prossecução dos objectivos da implementação de uma nova e integrada política de reabi(li)tação. Os programas locais de habitação têm um carácter estratégico sectorial, são de âmbito local, e definem medidas de intervenção e monitorização, para um período temporal muito curto, mas pela abordagem integrada e pela aposta na sustentabilidade podem e devem trazer efeitos mais visíveis na dinamização dos tecidos urbanos. O Programa Local de Habitação de Lisboa foi o primeiro programa a ser desenvolvido ao abrigo das intenções defendidas pelo PEH. Aposta, entre outros objectivos, na reabilitação do parque habitacional (devoluto) da cidade, no rejuvenescimento da população e na dinamização das áreas centrais e consolidadas. Assim, através do conhecimento das alterações e dinâmicas ocorridas no parque habitacional concelhio e das tendências populacionais verificadas, a reabilitação surge como o elemento catalisador para a re-habitação da cidade. Desta forma, considera-se que a reabilitação urbana é um instrumento fundamental no desenvolvimento da política de habitação e povoamento. Nesse contexto, a tese defendida considera que a implementação das estratégias do PLH contribui para o alcance dos objectivos estipulados na reabilitação e rehabitação de Lisboa uma vez que metodologia utilizada, os recursos aplicados e as sugestões estratégicas identificadas podem contribuir, bastante, para o cumprimento do fim para o qual o PLH foi criado. ABSTRACT KEYWORDS: LISBON, RE-ENABLE, URBAN RENEWAL In the context of the completion of a curriculum internship in Town Hall of Lisbon, in collaboration with the team set for the development of Local Housing first Program (PLH), came the possibility to develop an in-depth thematic study on policy of housing and urban regeneration, as theme of Maria Júlia Ferreira,

87 dissertation. Accordingly, the work that now stands, corresponds to a descriptive analysis of policies and dynamic societies, particularly in the case of Lisbon, which led Lisbon in the intention to be a pioneer in the development of PLH. The Local Housing Programs correspond to one of the intervention measures allowed by the (National) Strategic Housing Plan, under the Office of Housing and Urban Renewal orientations. They are considered an excellent working tool not only for the municipal housing market management and for the knowledge of the population dynamics but also, and above all, for further objectives such as implementing a new integrated policy and infrastructure rehabilitation. Housing programs have a strategic sector, local in scope, and define intervention and monitoring measures, for a very short period of time, but their integrated approach and commitment to sustainability can and should bring even more substantial effects on the urban development planning. The Lisbon Local Housing Program was the first program to be developed under the intentions defended by the Strategic Housing Plan. It aims, amongst other objectives, for objectives such as, the (vacant) housing rehabilitation, the population rejuvenation and the promotion of central consolidated areas. Thus, through the knowledge of the changes and dynamics which occurred in the municipal stock housing and through the analysis of population trends, rehabilitation appears to be the means for re-housing in the city. This way, the urban regeneration is a key instrument in the development of housing and settlement policy. In this context, the thesis defended considers that the implementation of the strategies of PLH contributes to the achievement of the objectives stipulated in rehabilitation and re-housing of Lisbon since methodology, directed and identified strategic suggestions can contribute, rather, for fulfillment of the purpose for which the PLH was created. Maria Júlia Ferreira,

88 ANEXO G ANICETO, Carlos, Impactos do Novo Aeroporto de Lisboa na Reconfiguração Espacial do interior da Península de Setúbal (Resumo da Dissertação de Mestrado em Geografia e Gestão do Território - provas públicas no 1º semestre de 2010). 18 Resumo Nos últimos 30 anos na Península de Setúbal foram construídos importantes equipamentos, como o Pólo Universitário da Caparica e o Hospital Garcia da Horta, bem como infra-estruturas, como a Ponte Vasco da Gama e Eixo Ferroviário do Norte-Sul, que induziram externalidades positivas, decisivas para a instalação de actividades económicas e crescimento de novas áreas residenciais. Nos próximos anos, a Plataforma Logística do Poceirão, o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) e a Linha do TGV Lisboa-Madrid começarão a ser construídos, deixando antever fortes implicações no território, especialmente na Península de Setúbal Nascente onde as áreas de influência destes investimentos se sobrepõem mais incisivamente. Após décadas em que se debateu a construção e localização do NAL, em 2008 o Governo decidiu avançar para a construção no Campo de Tiro de Alcochete (CTA) dando logo inicio à execução do projecto. Devido à importância estratégica que actualmente os aeroportos e cidades aeroportuárias, têm na economia regional, nacional e global, com grandes impactos territoriais, tornase importante prever as consequências, que poderá acarretar a construção deste empreendimento público/privado, que se espera entrar em funcionamento em O CTA tem características favoráveis a implantação de uma grande infra-estrutura aeroportuária nomeadamente facilidades na navegabilidade aérea, espaço livre, terrenos planos de fácil remoção e inexistência de constrangimentos urbanos. Por outro lado encontra-se numa área de elevada sensibilidade ambiental, onde o baixo valor fundiário pode conduzir à especulação imobiliária e à urbanização difusa. A instalação NAL terá implicações no ordenamento do território inerentes à construção do empreendimento, mas também poderá oferecer grandes oportunidades para o desenvolvimento territorial do interior da Península de Setúbal. Na presente dissertação, de forma a avaliar os possíveis impactos desta infra-estrutura, e após se definir a Península de Setúbal nascente como área de estudo, realizou-se um diagnóstico das características sociais e territoriais da área em questão, utilizando a freguesia como unidade de análise. Posteriormente, e tendo como objectivos centrais, procedeu-se à avaliação dos impactes territoriais em curso e estimados causados pela a instalação do NAL no CTA, recorrendo à análise de variáveis estatística e ao método de análise exploratória de dados Análise Factorial. Por último pretendeu-se perspectivar possíveis reconfigurações espaciais na área de estudo, decorrentes dos impactos da implementação do NAL. Palavras-Chave: Transportes, Cidade-aeroportuária. Avaliação, Impactos, Território 18 No desenvolvimento da Dissertação foi valorizada sobretudo a dimensão transportes e não a habitação, passando a ser uma aplicação da Análise de Componentes Principais feita aos territórios do centro da Península de Setúbal. Maria Júlia Ferreira,

89 ANEXO H H.1. FERREIRA, Beatriz, 2010, Políticas de Habitação: Problemas e Desafios em Contexto Municipal, Trabalho escrito realizado como BII, 1º ciclo de Bolonha H.2. FERREIRA, Beatriz, 2010, Apresentação pública do relatório da BII H.1. egeo, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL Políticas de Habitação: Problemas e Desafios em Contexto Municipal Projecto: Estratégias e Dinâmicas Residenciais na Área Metropolitana de Lisboa, ESDIRE_ AML Beatriz Leal da Silva Brandão FERREIRA Orientadora: Profª Doutora Maria Júlia Ferreira Janeiro de 2010 Maria Júlia Ferreira,

90 Índice 1 Introdução 3 2 Enquadramento da Habitação em Portugal 2.1 Caracterização Geral da Situação da Habitação em Portugal A Política de Habitação no Contexto Europeu 8 3 Habitação ao nível municipal 3.1 Papel das Autarquias na Definição de Estratégias Residenciais Políticas de Habitação Municipais e Diferentes Segmentos de Actuação Agentes intervenientes 19 4 Perspectivas para o futuro 22 5 Nota Final 25 6 Bibliografia 26 Maria Júlia Ferreira,

91 1. Introdução O presente trabalho, realizado no âmbito da conclusão da Bolsa de Introdução à Investigação, proporcionada pelo e-geo e financiada pela FCT, tem como tema Políticas de Habitação: Problemas e Desafios em Contexto Municipal. Pretende ser um pequeno ensaio, dado que é impossível aprofundar neste contexto um tema tão complexo, sobre a situação da habitação em Portugal ao nível municipal, reconhecendo a crescente autonomia que o poder local tem adquirido na definição de políticas e estratégias de Desenvolvimento. Esta escala de trabalho é fundamental para o ordenamento do território, especialmente nas áreas urbanas de elevada densidade, foco do nosso trabalho, onde as dinâmicas sociais são muitos intensas e a habitação pode desempenhar um papel crucial na qualidade de vida urbana e nas estratégias de inclusão social. Iremos desenhar os principais traços da política habitacional municipal actual e reflectir sobre os mais recentes instrumentos de acção, nomeadamente, os Planos Locais de Habitação, que integram novas formas de pensar a complexa relação entre o funcionamento dos mercados habitacionais e a coesão social defendida pelo Estado. 2. Enquadramento da Habitação em Portugal 2.1. Caracterização Geral da Situação da Habitação em Portugal No panorama nacional, as grandes oposições na estrutura e tipologia de habitação verificamse entre os distritos metropolitanos e os distritos não-metropolitanos e, seguindo os padrões mais tradicionais, nas divisões Norte-Sul e Litoral-Interior. Foram extraídas conclusões da análise de dados estatísticos referentes ao período 1991/2001 do Instituto Nacional de Estatística, conclusões essas que estão bastante dependentes da dimensão dos aglomerados e por isso, Lisboa e Porto destacam-se frequentemente. No entanto, é também nas áreas de maior concentração de população, neste caso nas áreas metropolitanas, que os problemas sociais relacionados com a habitação tendem a agravar-se, as desigualdades são mais acentuadas e os modos de vida são mais agrestes. Maria Júlia Ferreira,

92 É nas maiores aglomerações urbanas que se registam níveis mais elevados de poder de compra. Dos 308 concelhos que compõem o país apenas 27 registam valores do Indicador de Poder de Compra per Capita superiores à média nacional. A quase totalidade destes 27 concelhos possui centros urbanos com mais de habitantes (INE, Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio, Número VI 2004). Identifica-se sobretudo dois fenómenos: o mais transversal e tradicional, a oposição litoralinterior em que os concelhos do litoral apresentam valores mais elevados do que os concelhos do interior do país; o segundo fenómeno põe em evidência os concelhos mais urbanos do interior, ou seja, as cidades de média dimensão, nomeadamente as capitais de distrito. Ambos confirmam a relação positiva entre o grau de urbanização e o poder de compra e revelam dualidade da distribuição da riqueza em Portugal e, consequentemente, das oportunidades que esta proporciona, que marginaliza os concelhos mais rurais e periféricos e privilegia os urbanos, sobretudo aqueles que se encontram em áreas metropolitanas. Poder de Compra per capita. Fonte: INE, Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio, Número VI 2004 Em 2005/2006, as despesas de consumo médias anuais per capita de um agregado familiar eram mais elevada nas áreas predominantemente urbanas (7678 ) do que nas áreas mediamente urbanas (5508 ) ou predominantemente rurais (5091 ). Mafra e Sesimbra são os dois concelhos portugueses onde são mais elevados os encargos médios mensais devido à aquisição habitação, com 369 e 368, respectivamente, o que corresponde 82% do total do ordenado mínimo nacional (450 ). Apesar dos dois concelhos pertencerem à Grande Área Metropolitana de Lisboa, analisando a mesma variável à escala da NUTT 3, a média é mais elevada regista-se no Grande Porto com 330, seguido da Grande Lisboa com 313. A média do Continente é de 291, sendo 21% mais baixa do que o valor registado em Mafra. Maria Júlia Ferreira,

93 Albufeira e Loulé são os concelhos onde a renda média mensal da habitação é mais elevada, com 255 e 207, respectivamente, o que corresponde a 57% e a 46% do ordenado mínimo em vigor em Portugal (450 ). Esta variável analisada à escala da NUTT3 mantém o mesmo comportamento, registando o valor mensal mais elevado (164 ) no Algarve, 25% mais elevada que a média do Continente de 123. Em 2001, Lisboa regista o maior número de alojamentos familiares clássicos propriedade da autarquia local, num total de 14439, o que corresponde a 6,5% do total dos alojamentos familiares clássicos de residência habitual na cidade. Existiam neste período 10 municípios que não possuíam qualquer habitação propriedade da sua autarquia. Lisboa concentra o maior número de alojamentos familiares clássicos propriedade de empresas publicas, 1049 alojamentos no total, correspondendo a apenas 0,5 % do total dos alojamentos familiares clássicos de residência familiar. É também o concelho que reúne o maior número de alojamentos cuja propriedade pertence ao, Estado, institutos públicos autónomos, segurança social ou outras instituições sem fins lucrativos, alojamentos que corresponde a 5,8 % do total dos alojamentos familiares clássicos de residência habitual. 36% dos alojamentos nestas condições em todo o Continente localizavam-se na Grande Lisboa, sendo só concelho de Lisboa responsável por 26% do total continental. Almada apresenta um crescimento de 503 barracas de 1991 para 2001, sendo o concelho que registou o maior acréscimo entre os dois anos em Portugal Continental. Por outro lado, Lisboa foi o concelho onde o número de barracas mais desceu, havendo em 2001 menos 3490, mas ainda é o concelho com mais barracas construídas, 2434 que corresponde a 22% do total em Portugal Continental. A tendência da quase totalidade dos municípios é de decréscimo, mas são ainda existentes na maioria e constituem um problema sobretudo nas áreas mais urbanizadas onde os movimentos de população são especialmente intensos e a habitação não é acessível a todos. Lisboa e Almada são os dois concelhos onde se regista um maior número de alojamentos familiares improvisados em 2001, 707 e 432 alojamentos, respectivamente. De 1991 para 2001, apareceram mais 320 e 328 alojamentos nestas condições nos dois concelhos, sendo o crescimento mais elevado Continente. Só a Grande Lisboa concentra 27 % do total dos alojamentos improvisados de Portugal Continental e no panorama geral, entre os dois anos o número de alojamentos improvisados aumentou num total de 3049 novos alojamentos. O número de concelhos sem Maria Júlia Ferreira,

94 alojamentos improvisados desceu de 23 para 17 em 2001, mas 127 concelhos conseguiram fazer diminuir o número de alojamentos deste tipo. Em 2001, Lisboa (40346) e Sintra (19649) são os concelhos com mais alojamentos vagos. Grande Lisboa (110124) e Grande Porto (63737), seguidos do Algarve, são as NUTT 3 com maior número de alojamentos vagos apesar do Algarve ter menos 4989 em A tendência em todo o Continente entre os dois anos foi de crescimento, tendo aumentado 23% o número de alojamentos vagos. Em 2001, o concelho do Porto tinha o índice de envelhecimento de edifícios mais elevado de todo o país (709,6 %), seguido do concelho de Lisboa (581,4 %). Porto e Lisboa são os concelhos que apresentam uma média mais elevada de fogos por pavimento. No caso do Porto, de 1996 para 2006, a média apenas aumentou 0,2, sendo em 2006 de 3,4. No concelho de Lisboa, de 1996 para 2006, a média duplicou, passando de 1,6 fogos em 1996 para 3,3 fogos em A posição de Portugal no contexto europeu assemelha-se á situação da Grécia e do Chipre em quase todos os indicadores, encontrando-se na maioria dos casos nas últimas posições no ranking dos indicadores relacionados com a habitação. Revela que a habitação como instrumento do planeamento ainda é sector em exploração por parte das entidades governativas e instituições executantes portuguesas. Em 2001, 20% das famílias portuguesas viviam com baixos rendimentos, enquanto na UE25, o valor rondava os 15%. Dessas famílias, 18% tinham casa própria e 25% viviam em casa arrendada. Em 14 países da União Europeia, em 2004, Portugal era o terceiro país onde a comissão das agências imobiliárias era mais elevada, em 2003 era o quarto país da UE25 com maior número de fogos por 1000 habitantes. Na UE25, em 2004 Portugal era o país com menor percentagem de fogos com banheiras ou chuveiros, cerca de 65% e também éramos o país com menos fogos com aquecimento central, o que se explica pelas condições climatéricas favoráveis durante o Inverno. O número médio de pessoas a residir num fogo ocupado diminuiu de 1980 para 2000 em toda a União Europeia. Em Portugal passou de 3 pessoas para pouco mais de 2,5 pessoas. Os valores mais elevados registam-se nos países latinos (Espanha, Itália e Portugal) e nos países do leste Maria Júlia Ferreira,

95 recentemente integrados na União, facto associado a elevadas taxas de natalidade que se registaram até há poucos anos. Em relação à habitação social, em 2003 Portugal é o 6º país com menos habitação social no total da habitação existente (4%) na UE25 e o 5º com menos habitação social no mercado de arrendamento (15%) Analisando os encargos da habitação, em 2003, 19,8% dos rendimentos das famílias destinava-se aos custos com a habitação, encontrando-se Portugal numa situação intermédia no panorama da UE18, no entanto, somando o total das despesas do fogo, em 2003, Portugal era o 2º país com o total de despesas mais baixo, antecedido pela Malta. Relativamente às despensas com o pagamento de casa própria e às despesas com manutenção e reparações, Portugal era inclusive o país com menor percentagem no total das despesas com o fogo (6% e 2,5%, respectivamente) A Política de Habitação no Contexto Europeu Sobre as políticas de habitação, não havendo obviamente uma grande consonância nas formas de acção dos países europeus, assistimos a uma grande diversidade de formas de lidar com o mesmo problema: um número significativo de famílias não tem condições de acesso ao mercado privado de habitação. O alojamento não é um bem como outro qualquer e lembrá-lo não é dizer uma evidência dado o paradoxo entre o dito e o feito. O direito ao alojamento está consagrado em quase todos os direitos nacionais ou universais. Desde a Segunda Guerra Mundial que os Estados europeus tentavam prosseguir uma política de alojamento com base em 2 argumentos: a falta grave de alojamentos em resultado das destruições da guerra e a insuficiência de rendimentos canalizados para a habitação no período anterior; uma defesa de uma política de justiça social com vontade de erigir uma sociedade mais justa. Durante todo o século XIX e princípio do século XX, o pensamento económico era dominado pelas doutrinas liberais que se caracterizavam pela recusa da intervenção do Estado na economia e se constituía como um obstáculo à adopção de medidas de política social. Se os progressos da democracia, a luta emergente dos sindicatos e dos partidos políticos, foram contribuindo para uma crescente consciência dos efeitos externos da pobreza foi a assunção dos pobres como classes Maria Júlia Ferreira,

96 dangereuses que faz ceder os liberais face a algumas medidas sociais. As medidas foram sendo tomadas para corrigir esses efeitos sociais e económicos negativos higienismo, radicalismo, etc. O que retiramos de uma análise retrospectiva sobre a experiência europeia das políticas de habitação é um certo confronto entre duas posturas básicas: as políticas públicas baseadas no alojamento social orientado para grupos desfavorecidos versus políticas mais alargadas de regulação do mercado e onde as políticas públicas abrangem, de uma forma ou outra, grupos sociais mais diversificados. Apesar dessa dicotomia que divide os países do Norte da Europa dos do centro, é possível encontrar nas sociedades ocidentais certas características de evolução das políticas de habitação que são comuns. Na maioria dos países europeus as primeiras intervenções do Estado no sector do alojamento aparecem ainda no século XIX no quadro de políticas sociais. A concretização progressiva de políticas sociais nos finais do século XIX e princípios do século XX são o resultado de factores económicos, políticos e psicológicos. É, por um lado, a verificação de que a pobreza resultante dos processos de industrialização é bem diferente da pobreza anterior, trazendo consigo penalizações ao funcionamento económico e político da sociedade e, por outro lado, produzindo uma consciência social crescente que daria lugar ao Estado-Providência. O principal actor destas políticas é o Estado, não um Estado neutro mas um Estado profundamente comprometido, cuja intervenção era legitimada sem contestação pelos agentes económicos em crescimento. 3. Habitação ao Nível Municipal 3.1. Papel das Autarquias na Definição das Estratégias Residenciais É função das autarquias determinar a produção de habitação, em tipologia, em densidade, em qualidade e em preço, controlando para isso, os solos e a actividade dos produtores de habitação, introduzindo neste processo a população. A questão ambiental ganha também cada vez mais destaque ao ser determinante na garantia da sustentabilidade das cidades e do desenvolvimento equilibrado e positivo das populações nestas. Maria Júlia Ferreira,

97 A perspectiva ambiental, considera ainda que o bom ambiente das cidades começa também dentro de casa pois a qualidade das habitações influência o consumo energético, o desperdício das famílias e o espírito com que estas mesmas famílias encaram o ambiente. Se o resultado for positivo, o desenvolvimento da cidade será positivo e a sustentabilidade das cidades está garantida. Relação do solo com a habitação O solo é um recurso essencial para o desenrolar da sociedade, é o suporte das cidades e da vida que nelas se desenrola. Controlando-o e racionalizando-o, estaremos a garantir a sustentabilidade das cidades e a qualidade de vida nestas. É necessário garantir que as necessidades de habitação, transportes, energia, infraestruturas, equipamentos sejam satisfeitas de forma harmoniosa e respeitando o meio envolvente. A racionalidade na gestão dos recursos, nomeadamente dos solos, é um elemento constante nas políticas de habitação considerando que é esta a função que mais está presente na utilização dos solos urbanizáveis. Uma boa gestão levará ao equilíbrio entre a procura e a oferta e garantirá que o preço dos solos não seja um impedimento às famílias no momento de adquirir a habitação mais adequada ao seu tipo. Apropriação dos solos pelos municípios; Municipalização dos solos A produção de solos urbanizáveis é o processo de aquisição de solos por parte das autarquias que funcionam como reservas para futuros investimentos públicos ou privados, promoção imobiliária e construção de habitação, equipamentos e infra-estruturas a ela associada. É um processo da competência das autarquias que têm a obrigação de proporcionar a esses solos as condições para aí se desenvolver actividades, o que inclui saneamento básico, electricidade, recolha de resíduos sólidos, etc. Uma das formas mais clássicas de actuação é precisamente o controlo desta produção de solos urbanizáveis, constituindo também uma problemática, essencialmente política, relacionada com a questão da propriedade privada e da intervenção pública no mercado, considerada pelos seus intervenientes como injusta, comprometendo o seu normal funcionamento. Maria Júlia Ferreira,

98 A especulação apresenta-se como um obstáculo à municipalização dos solos ou ao controlo do seu uso pois ao bloquearmos a construção, o preço dos solos irá tendencialmente subir, elevando também o preço da habitação. A monopolização dos solos irá ferir o frágil mercado imobiliário. Quando o preço de uma habitação sobe, eleva-se também uma fasquia financeira às famílias que pode limitar o acesso a uma habitação adequada às suas realidade ou até mesmo, impedir o acesso à mesma. Porém, é inconsequente as autarquias cederem constantemente às pressões deixar o mercado correr livremente. A nível operacional a apropriação e urbanização de solos pelos municípios é, nas actuais circunstâncias da sociedade portuguesa, a única via sustentável de garantir a disponibilidade de terrenos requeridos pelo fomento habitacional e construção dos indispensáveis equipamentos colectivos (António Fonseca Ferreira, Por uma Nova Política de Habitação). É necessário respeitar o Direito à Propriedade e garantir, ao mesmo tempo, solos para habitação e equipamentos colectivos. Os interesses da sociedade não podem ser minimizados perante os interesses do sector privado e o poder político capaz de administrar, tomar decisões, tem de se saber impor e ter vontade real de mudar o panorama da habitação. Pode-se ainda optar uma solução, que embora seja considerada pela visão mais reformista como uma medida paliativa, poderá funcionar como um factor de equilíbrio entre estas duas visões politicamente e economicamente opostas. Trata-se da densificação da malha urbana, com a construção em altura, recuperação de habitações degradadas e de edifícios em centros históricos. Enquanto na última hipótese as divergências tendem a dissipar-se pelos benefícios culturais que implicam, na primeira isso não acontece. Deve-se sobretudo à complexa gestão de elevadas densidades populacionais, à diminuição da qualidade de vida que isso pode acarretar quando as clivagens sociais se agravarem e, por ultimo, devido à inadequação estética e paisagista da construção em altura em certas cidades. Embora igualmente controversa, permite salvaguardar solos de aptidão agrícola reconhecida, manter reservas de solos urbanizáveis e respeitar as áreas de expansão previstas no Plano Director Municipal Diferentes Segmentos de Actuação e Instrumentos de Políticas de Habitação Municipais Diferentes Segmentos de Actuação Politica de Habitação Social Maria Júlia Ferreira,

99 Muitas famílias atravessam dificuldades na concretização do seu espaço de vida adequado. A procura de habitação pressupõe que existe, por um lado, a noção prévia de que se necessita de um alojamento e por outro, a capacidade de acesso ao mercado. Por isso, para a procura ser baixa é necessário que os rendimentos das famílias não sejam suficientes e que as características e preços dos alojamentos não sejam os adequados, ou seja, que a oferta seja desajustada. A satisfação destas necessidades de habitação não pode ser entendida como um capricho do ser humano porque ter uma habitação é mais do que ter um espaço de abrigo às agressões do meio ambiente. É poder ter o sentido de propriedade, de satisfação pessoal e social e viver um espaço onde possa cultivar o seu próprio background histórico-cultural. Por isso, às famílias deve-lhes ser dada a oportunidade de escolher o seu próprio espaço, com as características mais apropriadas. O facto de não haver resposta para essas necessidades, leva a situações de tensão social, conflito e descontentamento social generalizado. A habitação social surge como contrapeso à sociedade consumista e estratificada, que leva a que haja obrigatoriamente diferentes níveis e padrões de consumo. As diferentes realidades dentro de uma mesma sociedade leva a que o grupo menos favorecido, quando em contacto em contacto social com o grupo mais favorecido, queira elevar o seu grau de satisfação por conhecer outra realidade para além da sua. Nas sociedades economicamente e tecnologicamente mais desenvolvidas, como a sociedade ocidental onde Portugal se insere, tende a haver mais possibilidades de subir na escala das classe socioeconómicas, mas por outro lado, predomina o ambiente urbano onde os modos de vida são bastante agrestes, os custos de vida são elevados, as dificuldades financeiras são generalizadas e as diferenças entre os mais ricos e mais pobres tendem a aumentar. Como forma de amenizar estas tensões, o Estado intervém, mais ou menos, directa ou indirectamente consoante a sua natureza, mas tem de prover o mercado habitacional de opções de qualidade, a preços acessíveis para respondes às situações de escassez. Generalizando sobre os primeiros modelos de habitação social aplicados em Portugal, foram, a longo prazo, pouco conseguidos no que trata da integração social da população que aí passou a residir. Eram modelos arquitectónicos repetidos excessivamente, sobretudo os projectos de má qualidade, que tinham como único objectivo dar um tecto ao mais baixo custo de construção. Não tinham continuidade e a sua traça estava desassociada de qualquer característica pré-existente do Maria Júlia Ferreira,

100 espaço urbano envolvente ou da cultura do tecido social. Não se dotaram os bairros com equipamentos sociais que suportassem uma vivencia harmoniosa, haviam poucos espaços comerciais, poucos jardins e a paisagem era hostil, fria e pouco valorizada com elementos orgânicos. Relativamente à sua localização, foram construídos na periferia das cidades, onde os terrenos eram mais baratos e o isolamento evitava que os problemas sociais afectassem as áreas onde o preço do solo era mais elevado, fomentando a guetização. As soluções de habitação eram demasiado padronizadas e rígidas, pouco adaptadas às realidades dos realojados. Por exemplo, as pessoas que vinham de meios rurais e se instalaram nas grandes cidades, não tinham espaço para o desenvolvimento da agricultura, fundamental para quem vivia com poucos recursos. As casas foram entregues às pessoas sem contrapartidas e por isso, não se desenvolveu um sentimento de posse, o que ajudou à falta de estima pelo edificado traduzida pelo vandalismo e pouca manutenção. A grande concentração de pessoas provenientes de diversos países, com culturas completamente diferentes, levou ao aparecimento de novos problemas relacionados com a baixa integração de imigrantes e a situações de racismo e xenofobia. No fundo, não houve uma resolução do verdadeiros problemas que levaram as pessoas à situação de precisarem de uma casa, sejam por viverem em barracas, bairros ilegais ou pelas casas simplesmente se encontrarem em tão maus estado que tiveram de ser demolidas. A pobreza foi sem dúvida amenizada porque um espaço em condições, com electricidade e saneamento básico, permite uma vida com mais qualidade, mas permaneceram as situações desemprego, de baixa escolaridade e qualificação profissional e de violência familiar e agressividade social. Tiveram direito a uma casa, mas não tiveram direito à paz social. Analisarei de seguida, modelos alternativos e mais recente de habitação social para além da construção de bairros sociais. Política de Habitação Apoiada Desde sempre que os seres humano procuram na vivencia colectiva apoio e inter-ajuda e as cidades são um exemplo de isso mesmo. No entanto, é uma questão controversa a obrigação dos municípios apoiarem a aquisição de habitação, considerando que as pessoas procuram na cidade a Maria Júlia Ferreira,

101 satisfação de todas as necessidades e a habitação é só uma delas. Por outro lado, a integração dos diversos grupos com backgrounds diferentes é essencial para que o conceito de sociedade faça realmente sentido e a habitação é uma peça essencial para atingir esse bem-estar social. É neste contexto teórico que surge a política de habitação apoiada que passava sobretudo pela produção de solo urbanizado, isto é, a aquisição e constituição de reservas de terrenos, a sua infra-estruturação programada e a colocação desses solos à disposição dos diversos promotores para a construção de habitações e equipamentos (António Fonseca Ferreira, Por uma Politica de habitação). A propriedade dos terrenos e das construções habitacionais poderia pertencer à autarquia ou ser entregue a outras entidades ou grupos de pessoas que explorassem e promovessem aí a construção. A construção das habitações poderia ser feita a título individual, sendo entregue apenas o terreno de forma gratuita ou não. No entanto, novas formas de apoios surgem para que o beneficiário não dependa totalmente da autarquia, ganhando responsabilidades financeiras e capacidade de entrevir ao longo do processo, seguindo por isso uma metodologia mais participativa. Outro aspecto fundamental é que as pessoas devem ter o direito de escolher a casa que querem e que nºao lhes seja imposto um único modelos. O apoio pode passar pela construção municipal de habitações a custos controlados, ajuda financeira ou técnica na aquisição, construção de novas habitações ou na recuperação de habitações que não ofereçam a melhor qualidade de vida possível. A ajuda financeira é oferecida através de, por exemplo, linhas de crédito mais acessíveis ou programas de ajuda a grupos específicos, como os emigrantes, idosos, jovens que queiram constituir família ou pessoas sós ou pequenos agregados familiares Exemplificando, o Ministério das Cidades do Brasil criou um programa de acção de Apoio à Melhoria das Condições de Habitabilidade de Assentamentos Precários que tem como principal objectivo, a diminuição dos bairros de lata que surgem na periferias das grandes cidades. Entre as diversas possibilidades de intervenção consta a cedência de materiais de construção para recuperação de habitações e apoio técnico para executar as obras, sendo a responsabilidade por estas do proprietário da habitação. Outra vertente da habitação apoiada passa pela satisfação de necessidades específicas de pessoas portadoras de deficiência ou com determinadas debilidades. Muitas vezes o próprio parque Maria Júlia Ferreira,

102 habitacional não dispõem de um leque de oferta suficientemente amplo que permita chegar a todos os cidadãos e cabe à própria cidade criar essa oferta e de forma solidárias, integrar todos na vivência urbana. Por exemplo, os municípios podem financiar a adaptação dos edifícios para facilitar a vida a pessoas com mobilidade reduzida, motivar o aparecimento de serviços que respondam a essas carências ou ajudar os idosos a obter uma casa que se adeqúe às suas necessidades, considerando que este último grupo é particularmente afectado pelas hostilidades que podem surgir nas cidades se estas não funcionarem de forma harmoniosa. Políticas de Arrendamento Portugal tem um parque habitacional para arrendamento dos mais reduzidos dos países membros da União Europeia, devendo-se este facto sobretudo ao congelamento das rendas, ao aumento do poder de compra associado a melhores opções de crédito, levando ao abandono deste modelo, em detrimento da aquisição. É também, paradoxalmente, dos países com mais imóveis devolutos. Assim sendo, o parque habitacional de um município deve conter casas passíveis de arrendar pois estas, para além de constituem uma fatia importante da procura de habitação, permite recuperar e manter o parque habitacional em boas condições. O arrendatário não se compromete com um crédito bancário, geralmente pedido para compra de habitação e pode mudar de casa, quando a que habita deixa de satisfazer as duas necessidades. O proprietário da habitação retira mais rendimentos e obtêm benefícios fiscais nas deduções do IRS relativas às rendas, despesas de manutenção e conservação, despesas de condomínio, taxas autárquicas e imposto municipal sobre imóveis. Pode ainda usufruir de regime especial de tributação à taxa de 5% quando o imóvel se insere numa área de reabilitação. O apoio ao arrendamento pode ser feito através de programas para grupos específicos, como a Porta 65 Jovem do IHRU, um sistema de apoio financeiro ao arrendamento para jovens entre os 18 e os 30 anos, que cumpram os limites de rendimentos necessários. Pode-se também fomentar sistemas de aquisição de habitação flexíveis em a primeira fase é de arrendamento e posteriormente, o valor pago das rendas é deduzido no valor total da casa quando se decide compra-la. Os Novos Instrumentos de Políticas de Habitação Municipais Maria Júlia Ferreira,

103 Encontramo-nos actualmente na fase de lançamentos dos Planos Locais de Habitação, um novo instrumento que considera as mais recentes mutações das estratégicas de habitação em Portugal. Concretizam a atribuição de novas responsabilidades e oportunidades às autarquias, empresas e agentes intervenientes no mercado da habitação, definidas no Plano Estratégico da Habitação e incentivam as parcerias público-privadas para o aconselhamento, planeamento, criação, execução e financiamento de programas. Plano Estratégico da Habitação O Plano Estratégico de Habitação (PEH) é de âmbito nacional e da responsabilidade do Instituto de Habitação e Reabilitação. Foram elaborados relatórios que pretendem ser contributos para a elaboração do PEH. Num primeiro, foram apresentadas as principais dinâmicas e carências Habitacionais, numa segunda fase avaliou-se as políticas habitacionais praticadas até aos dias de hoje, o seu contexto legal e forma de aplicação, tendo-se retirado conclusões e recomendações para futuras políticas de habitação social. Por último, são definidas as novas políticas de habitação, o público-alvo e condições de aplicação. O PEH assenta em quatro pilares essenciais: o diagnóstico bilateral, a mudança de paradigma, as parcerias público-privadas e o respeito pela diversidade geográfica dos problemas da habitação. O diagnóstico foi orientado em dois sentidos: sobre as famílias que estão desalojadas e precisam de habitação e, ao mesmo tempo, sobre as casas desocupadas que não estão no mercado. Relativamente às famílias, procura-se encontrar o tipo de apoio adequado para que possam sair da situação de insolvência, enquanto ao mercado pretende-se encontrar soluções para que o próprio mercado possa responder à escassez, em vez de ser por intervenção directa do Estado. Existe a necessidade de articular a procura e a oferta, bem como as políticas de habitação com as políticas de cidade e as políticas sociais de forma a desenvolvermos abordagens completas dos problemas. A mudança de paradigmas na definição de políticas de habitação é provavelmente o vector mais imprescindível e inovador de todos e exige uma semelhante mudança de mentalidade dos decisores, dos beneficiários e da sociedade em geral. O papel do Estado será revisto, evoluído de Estado provisor para Estado regulador. Cabe-lhe a tarefa de permitir o acesso ao mercado para aqueles que, por razão de insolvência, não tenham acesso a ele, apostando na provisão indirecta, Maria Júlia Ferreira,

104 através da capacidade de gerar mecanismos de isenção fiscal ou em formas de obter recursos para a família, responsabilizando os parceiros privados que podem ter um papel fundamental. As famílias em situação de insolvência também adquiriam um novo papel na definição de políticas de habitação, sobretudo um papel mais activo e completo. Por um lado, há a necessidade de rever a situação de realojamento, deixando para trás o conceito de bairros sociais e adoptando a visão de casa no sentido mais particular e personalizado. Urge a construção de contextos propícios à reconstrução da sua vida social e profissional pois a insolvência não ocorre só por pobreza, mas também por doença, desemprego ou divórcio. O realojamento deve ser encarado como uma medida temporária até à construção de um cenário financeiro mais consistente em cada agregado. A envolvência de parceiros privados e das autarquias parte, não só da mudança da filosofia de actuação, mas também da necessidade de gerir a escassez de recursos financeiros dos projectos. Aumentar os níveis de eficiência e eficácia na gestão e financiamentos das políticas de habitação é um dos objectivos gerais do PEH. As autarquias devem fazer um Plano Local da Habitação para que se possa compatibilizar as dinâmicas e as necessidades e encontrar soluções locais. Relativamente à acção dos privados, poderá ter um enquadramento legal que as obrigue a ter uma acção responsável e solidária, mas essa direcção tem de ser tomada pelo Estado, mais provisor ou regulador. Por fim, e transversal ao restantes pilares, está o respeito pela diversidade geográfica dos problemas da habitação. Apesar de Portugal ser um país pequeno em área, apresenta um forte quadro de diversidade geográfica no que respeita aos problemas habitacionais. A transversalidade encontra-se na passagem da escala nacional para a escala regional e sobretudo, local no alcance nas políticas de habitação. Analisando genericamente as medidas propostas em cada eixo de actuação, observamos que a principal mudança, comparando com a anterior forma de abordar a habitação social, é que privilegia a dinamização da oferta do arrendamento e da habitação apoiada, o que demonstra a preocupação em não construir novas habitações sociais em regime de propriedade vitalício, mas apoiar os mais carenciados a desenvolver formas de obter a sua habitação de forma autónoma. A contenção de construção é compensada com a entrada dos fogos desocupados no mercado e com a reabilitação do parque habitacional. Propõem-se ainda, no âmbito do 5º eixo (Implementação e Monitorização das Políticas de Habitação), a criação de um Observatório de Habitação e Reabilitação Urbana para monitorização e avaliação e a criação dos Planos Locais de Habitação para implementação dos eixos estratégicos e é sobre este instrumento que me vou debruçar de seguida. Maria Júlia Ferreira,

105 O Programa Local de Habitação (PLH) é um instrumento estratégico que visa definir a política de habitação e de reabilitação urbana de uma autarquia (ou de um conjunto de autarquias) para um determinado horizonte temporal, com revisões periódicas. O município de Lisboa é pioneiro na elaboração do PLH e a estrutura que tem sido experimentada tem servido como modelos. O processo de construção e aplicação tem sido especialmente acompanhado pelo IHRU por ser o primeiro. Pretende-se que o plano seja o conjunto de estratégias de habitação, pensadas por todos os actores locais, segundo uma metodologia participativa esquadrada em termos teóricos no PEH. Este processo é tão importante como o resultado final pois ao envolvermos a comunidade, estamos a criar uma sociedade mais crítica, organizada e solidária e por isso, mais capaz de entrevir e com ainda mais qualidade, logo o produto finais fica mais rico. Para além disso, é muito importante negociar com os possíveis promotores de equipamentos e infra-estruturas que alterem a procura e a oferta de residência. A inovação da relação entre o poder local e o poder central, representado pelo Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana, está latente na partilha de responsabilidades definidas no PEH, mas a adaptação, implementação e execução local dos eixos estratégicos das políticas públicas do alojamento e renovação urbana é da responsabilidade das autarquias. O poder local tem agora a oportunidade de escolher o caminho que mais lhe interessa a todos os níveis, mas também está sujeito à avaliação do seu trabalho. O PLH segue três fases de elaboração: Conhecer, Escolher e Concretizar. A 1ª fase é dedicada ao diagnóstico das necessidades de habitação, das suas características, problemas e dinâmicas e também das políticas e programas em vigor. Há que conhecer e respeitar o equilíbrio dos mercados habitacionais e propor a distribuição equilibrada dos recursos pelos diversos programas, realizando ao mesmo tempo parcerias com outras entidades onde o papel de cada interveniente esteja definido e contratualizando. Nesta fase é especialmente privilegiada a participação pública, através das diversas organizações da sociedade ou a nível individual em workshops, estudos de opinião pública ou outros eventos que sirvam para recolher as percepções dos cidadãos e as lacunas sentidas por estes. Maria Júlia Ferreira,

106 A metodologia participativa é mais uma vez aplicada na construção do orçamento pois os diversos actores sociais colaboram na definição das áreas ou medidas onde se deve investir mais ou menos. Na 2ª fase define-se as prioridades e objectivos estratégicos, nos quais se vão enquadrar os instrumentos e as acções. Os objectivos não devem ser pensados em relação aos recursos existentes, mas sim em função das necessidades de habitação, criando inovadores sistemas de aquisição de recursos, assumindo as limitações de recursos financeiros, humanos e materiais dos municípios. O PLH deve ser, ao mesmo tempo, pragmático e reflexão. Na 3º fase concretiza-se a estratégia final e põem-se em prática as medidas ou acções previamente calendarizadas, nela contida Agentes Intervenientes A participação na definição e aplicação de políticas de habitação, conjuga diversas entidades públicas e privadas e ainda os cidadãos em geral, desempenhando cada um o seu papel dos diversos instrumentos de actuação. O sucesso baseia-se na diversidade de actores e na definição clara e antecipada da função de cada um no projecto. A participação pública e a participação privada Os promotores de habitação, podem ser privados, em formato de cooperativa ou promotores municipais, de forma directa ou indirecta. O ideal é que no mesmo município, os três estejam representados porque oferecem produtos que oferecem, respondem a diversas necessidades. Nem sempre a promoção e produção de habitação directamente por parte de organismos da Administração Local é o que mais interessa a uma região menos desenvolvida. O mercado flui naturalmente, adaptando a oferta à procura, mas os projectos das autarquias muitas vezes ficam desajustados da verdadeira necessidade dos consumidores devido à carga burocrática que faz arrastar os processos durante um grande período de tempo. No entanto, o sector privado tem como ponto negativo a elevada rentabilidade que tem de ter para obter lucro e nem sempre há o compromisso de utilizar recursos autóctones, como a mão-de-obra ou a contratação de pequenas e médias empresas, durante as obras realizadas, o que poderia ajuda a dinamizar a economia local. Maria Júlia Ferreira,

107 O modelo cooperativo teve bastante sucesso durante os anos 70 e 80 e permite que os membros de uma determinada cooperativa consigam, juntado os seus investimentos, construir as suas habitações mais baratas do que se o fizessem a titulo individual e a preço mais baixo do que o praticado no mercado. Podem aceder a vários modelos de financiamento, mais vantajosos e de acordo com várias modalidades de investimento, desde que esse investimento seja feito em habitação. A participação dos cidadãos Passamos de uma participação dos cidadãos contestatária, em voga nos anos 70, para uma participação regulamentada, limitada e canalizada. Embora torne o processo mais pesado e demorado, é sem dúvida mais transparente, organizado e garante a possibilidades de todos lhe acederem. Ao nível local e principalmente na questão da habitação, que por envolver propriedades, direitos e espaços sentimentalmente apropriados pelas pessoas, a participação mais livre e criativa sai valorizada. Torna o processo mais pessoal e construído por todos, o que ajuda a aceitar o resultado final. A promoção da melhoria da qualidade de vida das famílias beneficiárias, agrega às obras e serviços a execução de trabalho social, com o objectivo de criar mecanismos capazes de fomentar e valorizar as potencialidades dos grupos sociais atendidos, fortalecer os vínculos familiares e comunitários e viabilizar a participação dos beneficiários nos processos de decisão, implantação e manutenção dos bens e serviços, a fim de adequá-los às necessidades e à realidade local, bem como à gestão participativa, que garanta a sustentabilidade do empreendimento (Manual para Apresentação de Propostas do Programa Urbanização Regularização e Integração de Assentamentos Precários, Ministério das Cidades, Brasil). A tomada de decisão sobre os investimentos públicos municipais na habitação pode também ter em conta a opinião dos cidadãos, segundo a metodologia participativa, o que se traduz no orçamento participativo. Baseia-se na representação dos cidadãos nos órgãos democráticos e a participação directa em fóruns de discussão de onde saem as prioridades de investimento público, depois revistas segundo critérios técnicos, financeiros e as necessidades sentidas pela população, demonstradas e discutidas nesses fóruns. Tanto a participação das colectividades e associações locais, como a participação individual é valorizada para que a experiência de cada um ajude a Maria Júlia Ferreira,

108 construir o projecto comum. Por último, a participação deve ser cíclica e renovada com frequência de forma a introduzir-se novos elementos (problemáticas e participantes). 4. Perspectivas para o Futuro A preocupação com o desenvolvimento de um território tem associada a vantagem imediata da definição objectivos a que se propõem os projectos de desenvolvimento e vantagens associadas ao desenrolar dos processos de aplicação desses projectos, ao incrementar-se o conhecimento dos territórios em questão e da sociedade que nele assenta. Esta é, ao mesmo tempo, interessada e participante na definição do que se consideram as metas de qualidade de vida a atingir, tendo em conta o grau de condições no momento. O indicador de qualidade de desenvolvimento 19 aprecia os resultados do processo de desenvolvimento regional, tendo em conta 13 dos 15 Indicadores sectoriais considerados (não foram incluídos os depósitos/créditos bancários e a área desportiva/1 000hab.). Por cada indicador foram analisados os desempenhos regionais face à média país e ponderadas, numa escala de 1 a 3, as diferenças encontradas. As ponderações mais elevadas correspondem às qualificações académica e profissional, à população Indicador de Qualidade de Desenvolvimento, Fonte: Atlas de Portugal, IGP servida por ETAR e à percentagem de resíduos tratados, ao consumo de electricidade e ao número de veículos/1 000 hab. do 19 Indicadores considerados: Alojamentos/100 famílias residentes, 2001; População residente/alojamento, 2001; Mortalidade infantil, 1998/2002; Índice de envelhecimento, 2002; Consumo de água, habitação e serviços/per capita, 2002; Resíduos tratados, 2002; População servida com sistemas de drenagem de águas residuais, 2002; População servida por ETAR, 2002; Licenciados/1 000 habitantes c/ qualificação académica, 2001; Profissionais qualificados e quadros/1 000 habitantes, 2001; Médicos/1 000 habitantes, 2002; Consumo doméstico de electricidade/família, 2002; Veículos ligeiros e mistos/1 000 habitantes, 2001; Indicador de qualidade do desenvolvimento, 2002 Maria Júlia Ferreira,

109 Onde o indicador é mais elevado, Lisboa, é onde também se tem evoluído mais em termos de habitação e onde mais se tem estudado o papel desta como motor de evolução na qualidade de vida. Regista-se ainda inúmeros problemas ligados à grande concentração de pessoas e à antiguidade do parque habitacional, mas a preocupação é igualmente crescente e visível na redução dos valores nos índices problemáticos. Onde o nível de desenvolvimento é mais elevado, Lisboa, é onde também se tem evoluído mais em termos de habitação e onde mais se tem estudado o papel desta como motor de evolução na qualidade de vida. Regista-se ainda inúmeros problemas ligados à grande concentração de pessoas e à antiguidade do parque habitacional, mas a preocupação é igualmente crescente e visível na redução dos valores nos índices problemáticos. A evolução da sociedade portuguesa tem sido considerável e por isso estamos em condições de discutir problemáticas que ultrapassam a visão da habitação como um mero tecto de abrigo. Nesse âmbito, a qualidade ambiental tem de ser garantida, independentemente dos municípios chamarem a sim ou não a promoção dos solos urbanizáveis. As leis que regulam a eficiência enérgica das construções imobiliárias são bastante recentes e os municípios podem ir mais longe, aspirando construir parques habitacionais mais coerentes, racionais e mais evoluídos tecnologicamente. Necessariamente, a educação ambiental das populações passa pela convivência com bons exemplos. O conceito de Desenvolvimento Sustentável que deve nortear as políticas de habitação, ultrapassa o significado ambiental, apesar de o contemplar. Baseia-se sobretudo na definição de estratégias que encarem o solo como um recursos limitado, cujas políticas prevejam a utilização de recursos endógenos durante a sua aplicação e que promovam construções energeticamente mais eficientes. Há que também atender às populações que residem em áreas sujeitas a factores de risco, insalubridade ou degradação ambiental. A Habitação, como pilar da harmonia social, ganha assim uma nova dimensão. Tomemos como exemplo a integração da mão-de-obra local nos projectos desenvolvidos neste sector, que acaba por ter um duplo papel: ajuda a promover o equilíbrio do mercado de trabalho, atenuando desta forma as diferenças de produção e consequentemente, matiza a capacidade de consumo, que vai, por sua vez, influenciar a capacidade de aquisição de habitação. Mais poder de compra significa mais possibilidade de escolha e, sobretudo, mais qualidade. Ao criarmos condições de acesso a melhores habitações, em vez de as autárquicas a subsidiarem os projectos, estamos a garantir que a sociedade é auto-suficiente e autónoma. Maria Júlia Ferreira,

110 Relativamente ao planeamento da habitação, os desafios irão passar pela concretização dos Planos Locais de Habitação e pela sua interligação com outros planos, como os Planos Directores Municipais. Penso que o seu impacto será positivo, considerando que implica a introdução de um novo paradigma, vantajoso não só para a habitação, mas como para todas as restantes áreas com as quais tem relação. Fundamentalmente, a consideração de tantos aspectos nas elaboração das políticas de habitação levará a que, quando aplicadas, o resultado seja um parque habitacionais mais coeso e desenvolvido e um nível de desenvolvimento social muito mais elevado. Por outro lado, as mudanças drásticas na forma de conduzir a elaboração dos projecto e os processos de decisão, puderam não ser aceites inicialmente pelos municípios, pois estes ganharam responsabilidades que não são proporcionais aos recursos de que vão passar a dispor, apesar da riqueza ser essa mesma. Da parte dos munícipes, pelo destaque que a sua opinião tem nesta nova abordagem, a sua colaboração será feita com bastante ânimo, no entanto, a falta de participação cívica que, em geral, existe em todos os domínios da sociedade, poderá fazer com que haja falta de participação e os intervenientes sejam sempre os mesmos, sobretudo as associações e grupos similares. Caminhamos em direcção a uma nova fase à qual é fundamental que os municípios e o mercado habitacional se adaptem e que, em conjunto com a comunidade, sejam capazes de avaliar as mais recentes dinâmicas habitacionais, as suas consequências, problemas e dar-lhes resolução. No entanto, é necessário garantir que a liberdade de escolha de habitação não seja condicionada por estas políticas, considerando que anteriormente, certos locais eram remetidos para segunda escolha e apesar de terem de ser hoje integrados num todo, deve-se respeitar o que a população considera adequado. O mesmo acontece com o aproveitamento dos edifícios abandonados ou das habitações desocupadas. 5. Nota Final Como foi inicialmente dito, este trabalho pretendeu ser um pequeno ensaio sobre a situação da habitação ao nível municipal, temática que passou a ser central no planeamento em Portugal e que tem ganho novo folgo com o Plano Estratégico de Habitação. A Bolsa de Introdução à Investigação que me permitiu integrar no projecto ESDIRE já terminou, mas gostaria de continuar a trabalhar sobre esta temática, possivelmente na análise da entrada em vigor dos Planos Locais de Habitação e das suas consequências para o território, questão Maria Júlia Ferreira,

111 que não me foi possível abordar agora devido a todo este processo ainda ser bastante recente e não estar consolidado na maior parte do país. 6. Bibliografia ANTUNES, Rui Pedro, 6 de Março de 2009, Conferência (Re) Habitar Lisboa - Casas degradadas deixam lisboetas insatisfeitos, Estudo de opinião visto pelo DN, Diário de Noticias CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA, 13 de Maio de 2009, Re-habitar Lisboa: Matriz Estratégica Preliminar, Plano Local de Habitação de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA, 18 de Março de 2009, Municípios como Planeadores e Executores, Plano Local de Habitação de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA, Dezembro de 2009, Relatório Fórum Interno da Câmara Municipal de Lisboa e Empresas Municipais, Plano Local de Habitação de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA, Dezembro de 2009, Relatório Workshop Habitação como um Direito, Plano Local de Habitação de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA, Janeiro de 2008, Habitação Municipal, Contributos para um Novo Modelo de Gestão, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa CARDOSO, Abílio, 1996, Do Desenvolvimento do Planeamento ao Planeamento do Desenvolvimento. Afrontamento e Departamento de Engenharia Civil da FEUP, Porto COELHO, António Baptista, 19 de Abril de 2009, Apropriação ou representação na habitação, Blogue Infohabitar, Lisboa COELHO, António Baptista, 24 de Maio de 2007, Cidade e habitação apoiadas: alguns aspectos de enquadramento, Blogue Infohabitar, Lisboa CORREIA, Paulo V. D., 1993, Políticas de solos no Planeamento Municipal, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa EPUL, 2007, Atlas da Habitação de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, EPUL, Lisboa EPUL, Outubro de 2007, Devolutos Propostas para Dinamizar a Colocação dos Fogos Devolutos no Mercado Imobiliário, EPUL, Lisboa FONSECA, A. Ferreira, 1987, Por uma nova Política de Habitação, Afrontamento, Porto IHRU, 2007, Contributos para o Plano estratégico de Habitação : Relatório 1 Diagnóstico de Dinâmicas e Carências Habitacionais, IHRU, Lisboa IHRU, 2007, Contributos para o Plano estratégico de Habitação : Relatório 2 Políticas de Habitação, IHRU, Lisboa IHRU, 2007, Contributos para o Plano estratégico de Habitação : Relatório 3 - Estratégias e modelos de intervenção, IHRU, Lisboa IHRU, 23 de Abril de 2007, Plano Estratégico de Habitação 2007/2013 Fóruns Regionais, IHRU, Faro INE, 2007, Anuário Estatístico da Região de Lisboa 2007, INE, Lisboa INE, Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio, Número VI 2004 LACAZE, Jean-Paul, 1995, A Cidade e o Urbanismo, Biblioteca Básica de Ciência e Cultura, Instituto Piaget, Lisboa MENDES, Victor, 2009, Guia Legal do Autarca, Colecção Praxis, Legis Editora, Porto MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008, Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social FNHI, Ministério das Cidades, Brasília Maria Júlia Ferreira,

112 Parlamento Europeu, Dezembro de 1996, Housing Policy in the EU Member States, Directorate General for Research Working Document Social Affairs Series - W 14, Parlamento Europeu REGINO, Tássia, 12 de Agosto de 2008, A Metodologia Participativa no Processo de Elaboração do PLHIS - Etapa 1: Proposta Metodológica, Ministério das Cidades, Brasília SERRA, Nuno, 2002, Estado, Território e Estratégias de Habitação, Quarteto Editora, Coimbra SOARES, Luís Bruno, 2002, A realidade incontornável da dispersão, Sociedade e Território nº 33: Urbanismo & Ordenamento do Território, Edições Afrontamento, Porto, Fev 2002 UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA, 2007, Atlas da Habitação de Portugal, INHRU, Lisboa Sítios consultados na Internet APPQH, Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional - Atlas de Portugal - Departamento de Habitação da cidade de Paris - IHRU - Infohabitar, revista do Grupo Habitar - Parlamento Europeu - Plano Estratégico da Habitação - Plano Local de Habitação de Interesse Social - Plano Local de Habitação de Lisboa - Plano Municipal de Habitação de Interesse Social de Porto Alegre - Plano Nacional de Habitação - Maria Júlia Ferreira,

113 H.2. APRESENTAÇÃO PÚBLICA DO RELATÓRIO DA BII Projecto: Estratégias e Dinâmicas Residenciais na Área Metropolitana de Lisboa - ESDIRE_ AML Políticas de Habitação Problemas e Desafios em Contexto Municipal Bolseira: Beatriz Ferreira Investigadora Responsável: Profª. Drª. Maria Júlia Ferreira Fevereiro de 2010 Estrutura da Apresentação Plano de Trabalho Actividades Desenvolvidas Ensaio realizado no 4º Trimestre Conclusões Maria Júlia Ferreira,

114 Plano de Trabalho Plano de Trabalho Objectivos do Projecto a) Identificar estratégias residenciais de diferentes actores sociais, com destaque para a Área Metropolitana de Lisboa b) Identificar factores explicativos da satisfação residencial com destaque para as identidades locais c) Entender o funcionamento do mercado de habitação na perspectiva da procura e da oferta Maria Júlia Ferreira,

115 Plano de Trabalho Objectivos do Projecto (continuação) d) Explicar os factores de dinamismo do mercado de habitação em contextos sócio-espaciais diferenciados da AML e) Relacionar estratégias residenciais e políticas de habitação f) Perspectivar mudanças/reconfigurações territoriais a partir das estratégias e dinâmicas residenciais identificadas Actividades Desenvolvidas Maria Júlia Ferreira,

116 Actividades Desenvolvidas 1º Trimestre Tarefa: Recolha de informação para caracterização do parque habitacional português com destaque para a AML Actualização da informação estatística de um ficheiro préexistente Identificação da informação já mapeada sobre a temática Consulta de documentos na biblioteca do IHRU Elaboração de uma listagem de condomínios habitacionais fechados na AML Actualização da informação estatística Diversidade Norte/Sul Centro/Periferia Edifícios 51% dos edifícios construídos depois de As percentagens mais elevadas estão no Sul da AML. Predominam os edifícios com 1 alojamento Uso Sazonal Percentagem de alojamentos de uso sazonal: Mafra e Almada (25%) O maior crescimento de 1981 para 2001 deu-se nos concelhos do Sul da AML (Seixal, Moita, Almada) Maria Júlia Ferreira,

117 Listagem de condomínios habitacionais fechados 101 registos Lisboa Alta de Lisboa Centro da cidade Arredores de Lisboa Sul da AML Torres Vedras Vila Franca de Xira Sintra Cascais Azeitão Palmela Montijo Moita Actividades Desenvolvidas 2º Trimestre Tarefa: Recolha de informação sobre a habitação ao nível municipal e os Programas locais de habitação no Brasil, França, Espanha e Portugal (Lisboa). Recolha de informação sobre os Programas Locais de Habitação e outros projectos sobre a temática ao nível local, implementados no Brasil, França, Espanha e Portugal Listagem dos principais sites governamentais Consulta de documentos na biblioteca do IHRU Elaboração de fichas de leitura dos documentos Participação na iniciativa Bairros Críticos, IHRU Maria Júlia Ferreira,

118 Actividades Desenvolvidas 3º Trimestre Tarefa: A análise da informação sobre os PLH. Consulta dos sítios on-line de alguns municípios que estão a implementar PLH (Paris, Lisboa, Porto Alegre, Brasília, Aracaju) Análise do Plano Estratégico da Habitação (enquadramento do PLH) Análise dos PLH: - Diferentes modelos e abordagens - Evolução das metodologias e da implementação - Análise dos planos de acção e dos planos estratégicos Situação em que se encontram os PLH, no caso português - Conceitos e metodologias no PLH de Lisboa. Conclusões retiradas da análise dos PLH Diferentes metodologias Respeito pelo território Articulação com outros documentos PLHIS (Brasil): oferece mais do que apenas casas; financiamento PLH (Paris) a sua revisão foi feita sobretudo pelos cidadãos; cooperação intermunicipal; protecção ambiental PLV (Espanha) Importância da região; gestão do solo Principais conceitos Metodologia participativa; Orçamento participativo; Parcerias público-privadas; Habitabilidade; Maria Júlia Ferreira,

119 Actividades Desenvolvidas 4º Trimestre Tarefa: Redacção de um breve ensaio sobre a habitação ao nível municipal e dos Programas locais de habitação como instrumento de intervenção Com base nas pesquisas anteriormente desenvolvidas: Redacção de um pequeno ensaio, subordinado ao tema: Políticas de Habitação: Problemas e Desafios em Contexto Municipal Políticas de Habitação Problemas e Desafios em Contexto Municipal Maria Júlia Ferreira,

120 A Habitação em Portugal Caracterização Geral da Habitação em Portugal Objectivo Identificar os principais problemas e dinâmicas da Habitação em Portugal Informação utilizada 1º Trimestre; INE (1981, 1991, 2004, 2007, 2009), Atlas da Habitação de Lisboa (CML, 2004), Atlas da Habitação de Portugal (UCP, 2007) Conclusões - Dinâmica litoral/interior - Áreas urbanas problemáticas - Habitação como instrumento do planeamento é um sector por explorar A Habitação em Portugal (continuação)) Caracterização A Política de Habitação Geral da em Habitação Portugal em no Portugal Contexto Europeu: a necessidade de intervenção do Estado Objectivo Enquadrar a situação de Portugal no contexto da UE Informação utilizada Housing Policy in the EU Member States (1996); Housing Statistic in the European Union (2004) Conclusões Diversidade de abordagens ao problema da habitação; O Estado é o principal actor das políticas de habitação (menos liberal e mais comprometido) Maria Júlia Ferreira,

121 A Habitação ao Nível Municipal Papel das Autarquias na Definição de Estratégias Residenciais Objectivo Definição das responsabilidades das autarquias; A importância do solo nas políticas de habitação; A necessidade de apropriação dos solos pelos municípios Informação utilizada Conclusões Bibliografia variada Papel Regulador: gestão de interesses dos vários intervenientes; questão ambiental Papel Intervencionista: Controla/limita a produção de solos urbanizáveis; promove/produz habitação; proíbe ou limita a construção A Habitação ao Nível Municipal (continuação) Segmentos das Políticas de Habitação Objectivo Politica de Habitação Social; Habitação Apoiada (custos controlados, cooperativa); Políticas de Arrendamento Informação utilizada Conclusões Bibliografia variada Habitação + apoio social Responsabilidades partilhadas na habitação apoiada Arrendamento como forma de conservação do parque e adequação a alguns segmentos de população (o NRAU) Maria Júlia Ferreira,

122 A A Habitação ao Nível ao Nível Municipal Municipal (continuação)) Novos Instrumentos de Políticas de Habitação ao Nível Municipal Objectivo Informação utilizada Análise do Programa Local de Habitação de Lisboa Informação recolhida no 2º e 3º trimestre Conclusões Plano Estratégico da Habitação: 4 pilares PLH de Lisboa como modelo Relação entre o poder local e o poder central Envolvimento da comunidade Mais arrendamento e habitação apoiada A Habitação ao Nível ao Nível Municipal Municipal (continuação) Agentes Intervenientes na Definição e Implementação das Políticas de Habitação Objectivo A Participação dos Sectores Público e Privado; Participação dos Cidadãos Informação utilizada Conclusões Bibliografia variada Diversidade de actores e agentes locais Promotores privados, municipais ou cooperativas Participação dirigida ou mais criativa Orçamento Participativo Maria Júlia Ferreira,

123 Perspectivas para o Futuro Programas Locais de Habitação como Desafios do Desenvolvimento Local Sustentável Promoção do Desenvolvimento Sustentável Objectivo Informação utilizada Explorar a temática ambiental, na habitação ao nível municipal; Racionalização do uso dos solos e da habitação Bibliografia variada Conclusões Aposta na protecção ambiental/ habitação sustentável Utilização mais racional do solo e da habitação Uso de recursos endógenos na habitação Perspectivas para o Futuro Programas Locais de Habitação como Desafios do Desenvolvimento Local Sustentável Os Programas Locais de Habitação como Potenciadores do Desenvolvimento Local Sustentável, DLS Objectivo Informação utilizada Desafios Perspectivar a evolução dos PLH. Identificar os principais desafios Informação recolhida no 2º e 3º trimestre Concretização e interligação da habitação com o DLS Novo paradigma do desenvolvimento sustentável Participação cívica: incentivos e novas modalidades Liberdade de escolha da habitação: o Direito à Habitação Maria Júlia Ferreira,

124 ANEXO I: Textos ou slides de apresentações feitas pela coordenadora, anteriores ao projecto ESDIRE-AML e justificativos deste, como projecto autónomo I.1.FERREIRA, Maria Júlia; 2004, O papel dos novos lugares na construção de identidades sócio-espaciais e na reconfiguração do território: o caso da Península de Setúbal, Jornadas do egeo, 2004 (no âmbito do projecto RECONFAL) I.2.FERREIRA, Maria Júlia; 2004, Reconfigurações territoriais e mobilidade residencial das elites urbanas: o caso de Telheiras e Parque EXPO, em Lisboa (no âmbito do projecto RECONFAL);V Congresso de Geografia Portuguesa Portugal: Territórios e protagonistas, realizado na Universidade do Minho, em Outubro de I.3.FERREIRA, Maria Júlia; 2006, Habitação para jovens: uma estratégia de regeneração urbana no contexto da sustentabilidade social, PLURIS I.4.FERREIRA, Maria Júlia, 20006, Residências assistidas: um novo produto imobiliário na qualificação dos territórios? Jornadas egeo 2006 (no âmbito do projecto RECONFAL) Maria Júlia Ferreira,

125 I.1. O papel dos novos lugares na construção de identidades sócio-espaciais e na reconfiguração do território: o caso da Península de Setúbal 20 Maria Júlia FERREIRA egeo, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, UNL Tel , Fax , julia.ferreira@fcsh.unl.pt Palavras-chave: Povoamento Humano, Novos Lugares, Identidades Sócio-espaciais, Reconfigurações do Território 1. INTRODUÇÃO Os novos lugares desempenham uma função importante nas reconfigurações territoriais; a procura do entendimento do processo leva-nos à demografia do povoamento, à regeneração dos lugares existentes, à inovação na transformação urbana, às novas formas urbanas (cidades-eixo, cidades dentro de cidades, cidades suburbianas, etc.), aos paradigmas no urbanismo como filosofias de suporte aos desenvolvimentos urbanos, à estatística do povoamento, às leis que parecem reger o povoamento humano, à geometria social (na terminologia de Hervé le Bras 21 ). A geometria das formas dos lugares pressupõe o recurso aos fractais porque a lógica tradicional (dos sólidos platonianos) é insuficiente para entender a diversidade e a complexidade que a caracteriza. Um lugar pode ter forma definida ou indefinida, pode ser bem delimitado ou os seus limites perderem-se em confins próximos ou longínquos, pode ter limites físicos-naturais ou limites sociais-culturais, pode ter uma geometria centrada num ponto ou estender-se ao longo de linhas de comunicação de forma continuada e extensa. Os lugares não serão, afinal, o objecto último da Geografia? Como nascem, como se desenvolvem e como morrem os objectos centrais do estudo de uma disciplina, não serão as questões fundamentais? As propostas de Hervé le Bras foram um dos suportes para esta reflexão pois também nos remetem para as formas do povoamento humano, os processos espaciais que as criaram, as regularidades na sua localização e a mobilidade humana, as interpretações filosóficas ao longo dos tempos, as relações forma e conteúdo nos elementos do povoamento e as suas mutações, as representações míticas e teóricas associadas às formas de povoamento, remetendo nomeadamente para as utopias urbanas (Platão, More e Campanella). A análise das dinâmicas espaciais dos sistemas de povoamento outrora centrava-se mais nos níveis regionais, nacionais ou mesmo mundiais, necessitando sempre de começar pela compatibilização da informação de forma a torná-la comparável, Nos anos 90 do século XX, a busca do entendimento do lugar enquanto espaço vivido e de representações (o sentido do lugar), portanto o nível local, passou a concentrar a atenção dos estudiosos destas matérias e, recorrendo a novas metodologias e às potencialidades informáticas disponíveis, tornou-se um campo de estudo renovado. Nesta comunicação, pretendemos apresentar alguns contributos para a reflexão sobre o papel dos novos lugares nas reconfigurações territoriais, defendendo que a compreensão dos processos de construção das identidades sócio-espaciais é fundamental para entender a recomposição territorial em curso. Para ensaio, analisámos casos da Península de Setúbal, mas vamos apresentar dados referentes apenas a uma das urbanizações, os Portais da Arrábida. 20 No âmbito do projecto RECONFAL, Reconfigurações na Área Metropolitana de Lisboa: Espaços, Actores e Estratégias; egeo, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional. O trabalho de campo e o tratamento dos inquéritos foi da responsabilidade de Nuno Leitão, a quem agradecemos a colaboração prestada e o grande empenho que manifestou nesta tarefa. Comunicação apresentada nas Jornadas egeo Le BRAS, Hervé, 2000, Essai de Géométrie sociale, Paris, Editions Odile Jacob. Maria Júlia Ferreira,

126 2. O CONCEITO DE LUGAR: ambiguidade e centralidade em Geografia Lugar é um conceito polissémico; pode significar apenas a localização de algo, a posição, o lugar numa ordem ou hierarquia mas geralmente abrange também o seu conteúdo, as suas características. Por isso, falamos de lugares históricos, sagrados, misteriosos, mágicos, interessantes, exóticos, tropicais, desérticos, perigosos, abandonados, virtuais, do obscuro, de infiltração (onde é suposto não ir), lugares para ir, visitar, jogar, passear, descansar, ler, imaginar, sonhar, lugares desta ou daquela cidade, deste ou daquele país, os melhores lugares para investir, trabalhar, gozar a reforma, divertir. Os melhores lugares referidos pela Forbes.com são necessariamente diferentes dos listados pela nationalgeographic.com. Esta, em Maio de 2004, no 15º aniversário da National Geographic Traveler, dava links para os 50 melhores lugares para destinos, agrupados em cinco conjuntos: Espaços Urbanos (liderados por Barcelona, seguindo-se Hong Kong, Istambul, Jerusalém, Londres, Nova York, Paris, Rio de Janeiro, São Francisco e Veneza), Lugares Selvagens, Wild Places (encabeçados pela Antárctica, seguida da Amazónia), Paraísos, Paradise Found (em que o 1º é a Costa Amalfi), Paisagens Infinitas, Country Unbound (os Alpes estão no topo da lista) e Maravilhas do Mundo, World Wonders (a Acropolis em 1º lugar). Ao nível das estatísticas, os lugares, segundo o INE, são os aglomerados populacionais, definidos como o Conjunto de edifícios contíguos ou próximos, com 10 ou mais alojamentos, a que corresponde uma designação. O conceito abrange, ao nível espacial, a área envolvente onde se encontrem serviços de apoio (escola, igreja, etc.). O conceito opõe-se ao de população isolada, constituída pelas Pessoas residentes em aglomerados populacionais com menos de 10 alojamentos ou em alojamentos dispersos não integrados em aglomerados populacionais (INE:1991, Censos 91 Resultados Definitivos, pp.10-11). O lugar é, portanto, um aglomerado humano tendo identidade conferida pelo menos por uma designação. Os novos lugares podem ser os novos assentamentos 22 mas também os antigos rejuvenescidos, redinamizados, profundamente transformados; por isso, a problemática leva-nos à da regeneração dos lugares existentes, à inovação na transformação urbana, às novas formas urbanas (cidades-eixo, cidades dentro de cidades, cidades suburbianas, etc.), aos paradigmas no urbanismo como filosofias de suporte aos desenvolvimentos urbanos, à estatística do povoamento, às leis que parecem reger o povoamento humano, à geometria social, na terminologia de Hervé le Bras (2000). A geometria das formas dos lugares pressupõe o recurso aos fractais porque a lógica dos sólidos platonianos é insuficiente para entender a diversidade e a complexidade que a caracteriza. Um lugar pode ter forma definida ou indefinida, pode ser bem delimitado ou perderem-se os seus limites em confins próximos ou longínquos, pode ter limites físicos-naturais ou limites sociais-culturais, pode ter uma geometria centrada num ponto ou estender-se ao longo de linhas de comunicação de forma continuada e extensa. Com outra perspectiva, Daniel Delaunay chama-lhe Demografias do povoamento 23, entendendo por povoamento as configurações espaciais de todas as características mensuráveis da população 24. Não serão afinal os lugares o objecto último da Geografia? As questões principais não se devem desenvolver em torno de como nascem, como se desenvolvem e como morrem os elementos-objectos-centrais da disciplina? Neste contexto, é de destacar o livro de Hervé le Bras, atrás referido, que reflecte sobre as formas do povoamento humano mas também sobre os processos espaciais que as criaram, as regularidades na sua localização e a mobilidade humana, as interpretações filosóficas ao longo dos tempos, as relações forma e conteúdo nos elementos do povoamento e as suas mutações, as representações míticas e teóricas associadas às formas de povoamento, remetendo nomeadamente para as utopias urbanas (Platão, More e Campanella). 22 Sobre o papel dos lugares no povoamento e a toponímia associada, é de lembrar o cap. IX. O povoamento, do vol III. O Povo Português, da Geografia de Portugal, de Orlando Ribeiro, Hermann Lautensach e Suzanne Daveau. 23 Neste contexto, podemos referir a investigação feita em várias instituições francesas, com destaque para o INED, em associação com várias universidades, e para a Universidade de Avignon (François Moriconi-Ebrard, Dynamique spatiale des systèmes de peuplement in 24 in : recherches, page d accueil, Démographies du peuplement. Maria Júlia Ferreira,

127 A análise das dinâmicas espaciais dos sistemas de povoamento pode centrar-se aos diferentes níveis geográficos embora tradicionalmente incidisse mais nos níveis regional e mundial; a comparação entre países obrigava sempre à compatibilização da informação (nesse sentido, nos anos 90 houve uma grande contribuição com a construção de bases de dados, nomeadamente a Geopolis). Nos últimos tempos, a atenção tem-se concentrado mais nos níveis micro, pois é aí que se formam e desenvolvem os processos que permitem entender essas dinâmicas. 3. OS NOVOS LUGARES nos sistemas de povoamento humano e na organização do território: dos sítios aos sites O povoamento pode ser definido como a forma como a população se distribui no território. As teorias explicativas recorrem fundamentalmente à anisotropia dos territórios, à morfologia, como o conjunto dos possíveis quanto às formas geométricas, e à topografia, ou estudo das conexões lineares do espaço de relações, dos vínculos entre lugares, posições relativas e suas ligações. A história tem um peso importante nos factores explicativos das formas actuais e reporta-nos para os regimes fundiários da propriedade rústica e urbana, reformas agrárias, emparcelamentos, ritmos de crescimento da população, distribuição dos recursos naturais e dos equipamentos colectivos, desigualdades sócioespaciais e níveis de percepção destas, políticas públicas sobretudo as territoriais e a territorialização das políticas sociais, os traçados das redes dos transportes e de distribuição de bens e serviços. Nas sociedades rurais, a temática do povoamento era tratada com frequência no contexto da geografia, numa visão que se prolongou até quase aos nossos dias com poucas modificações. O sítio e a situação eram explicações suficientes para a localização das cidades. As ligações ao planeamento do território, sobretudo depois dos anos sessenta do século XX, tornaram operativos alguns conceitos, na continuação da modelização influenciada pelos contributos vindos da economia regional e urbana e pelas facilidades proporcionadas pela generalização das tecnologias informáticas. A teoria dos lugares centrais e os princípios do povoamento formulados por Christaller eram domínio obrigatório dos especialistas destas áreas. Os pólos de crescimento seriam assim os lugares que difundiriam o desenvolvimento para o restante território. As hierarquias urbanas deviam aproximar-se dos modelos ideais propostos pelas teorias e a distribuição dos equipamentos públicos seguiam e reforçavam essas hierarquias. O povoamento passou a ser olhado como um sistema de cidades hierarquizadas (tendo como protótipo estatístico a lei ordem-dimensão e os lugares centrais como imagem ideal. O território era um vazio que separava e ligava o sistema de aglomerações. Os planos de âmbito regional em que nas suas equipas técnicas dominavam economistas são bem demonstrativos ainda nos anos 80 da utilização desses modelos (veja-se, apenas como um exemplo, o PIDDS, do distrito de Setúbal). Desde meados dos anos 80, e por influência de outras formações entre elas a Geografia, os modelos territoriais desligaram-se, pelo menos aparentemente, da econometria clássica mas reforçaram a utilização dos princípios da racionalidade na organização do espaço. Nos anos 90, a competitividade e a procura da eficácia transpõem-se também para a lógica da organização dos territórios e o marketing passa a ser um instrumento a privilegiar na promoção dos territórios, demonstrando influências da economia nas suas versões recentes. A demografia dos lugares passa a ser explicada não pelas teorias sobre o sítio ou a situação mas pela capacidade empreendedora dos seus agentes e actores, utilizando recursos materiais ou imateriais, endógenos ou não, ou recursos tecnológicos, assentes em capacidades de investigação que ajudam a liderar os processos de produção mais do que os produtos reais. O sistema de povoamento integra agora as aglomerações e as redes mas também os territórios de suporte; não pode ser interpretado sem as redes de transporte, sem as estratégias dos actores, sem as políticas territoriais que criam constrangimentos ou estímulos à urbanização fora das lógicas espontâneas de evolução dos sistemas de povoamento na óptica tradicional. O lugar como povoamento humano engloba o alojamento e o espaço social envolvente cuja dimensão imaterial incorpora efeitos da idade e da classe social, do ciclo familiar e das trajectórias profissionais (que pesam de forma diferente nas necessidades do quotidiano e nas estratégias Maria Júlia Ferreira,

128 residenciais dos diferentes actores). O alojamento transforma-se, então, em habitat através da apropriação-identificação do espaço doméstico; habitat durável, lugar de reprodução social. Esta geografia sócio-residencial valoriza a diversidade dos alojamentos, o funcionamento dos mercados e os diferenciais de preço e não apenas o alojamento como mercadoria. Os novos lugares, em sentido restrito, podem ser entendidos como as novas formações na distribuição da população em aglomerados, excluindo assim os isolados. São o resultado de factores históricos (pois é elevada a inércia que caracteriza o povoamento), mas sobretudo de estratégias de actores privados e de políticas públicas. São novos em relação aos já existentes, são novas formações na matriz em que se implantam, de base não urbana (como novos focos de povoamento, implicando a transformação de usos do solo) ou urbana, como expansão ou renovação da malha (dentro dos perímetros urbanos e, por isso, em solo já classificado como urbano); ou seja, podem ser descontínuos em relação às aglomerações existentes ou serem o resultado da evolução destas. Podem resultar de rurbanização (em espaço rural), de suburbanização (desenvolvimento à volta das cidades) ou periurbanização (urbanização nas periferias mais longínquas das aglomerações) (cfr. Merlin-Choay, 1988: 597). Podem surgir no interior de outros espaços globalmente urbanizados mas dotados de espaços vazios, vazios de urbanização ou esvaziados de vida social. A urbanização pode levar ao aparecimento de novos lugares mas também à expansão das cidades, dos lugares existentes; o crescimento que acompanha a evolução dos sistemas de cidades e o processo de transformação da população rural em urbana é diferencial e a análise pode então situar-se a uma escala macro ou micro, inter e intra aglomerados. Os novos lugares remetem-nos para a temática da transformação dos usos do solo e para a apropriação do espaço, para a sua territorialização, que envolve o espaço social como espaço vivido. Os novos lugares traduzem e reforçam novas identidades territoriais que estão na base da constituição desses novos aglomerados As novas formações territoriais podem ser classificadas em exclusivamente residenciais, quase exclusivamente residenciais, principalmente residenciais e principalmente não residenciais. Se é a função residencial que define os lugares, poder-se-á falar de lugares não residenciais? Um parque tecnológico (por exemplo o TagusParque em Oeiras) poderia ser considerado um lugar se não incorporasse também a função residencial? Interessa-nos o aparecimento de novos lugares e o seu processo de consolidação, porque traduzem alterações nas configurações reais dos territórios e nas dinâmicas que actuam sobre estes. Tal como os demógrafos falam de transição demográfica para explicar o faseamento na evolução das estruturas, também os especialistas da cidade falam em transição urbana para interpretar a passagem de uma área rural para urbana. Porque é que os rurais se deslocam para as cidades, é uma questão à qual os economistas pretenderam dar resposta através da teoria do capital humano (Sjaastad, 1962); os rurais reagiriam às desigualdades de salários. A manutenção destas levou a concentrar a explicação nas expectativas de emprego oferecidas pela cidade (Harris e Todaro, 1970) e, mais tarde, na produtividade do sector urbano e nas transferências de técnicas de produção de custo mais baixo na cidade (Tolley, 1987); modelos que continuam limitados como explicações válidas 25. Abordagens mais recentes chamam a atenção para o papel das políticas públicas urbanas, perguntando se ao melhorarem a economia e as condições de vida nas cidades não alimentaram o crescimento urbano, levando mesmo a uma urbanização excessiva (Lipton, 1977) 26. A melhoria generalizada nas acessibilidades, os padrões culturais proporcionados pelo aumento do poder de compra e debilidade de algumas condições urbanísticas e de conforto em áreas centrais das cidades teriam reforçado a tendência para a progressiva extensão horizontal das cidades e, por isso, ao aparecimento de novos lugares. Nas áreas urbanas de forte concentração, a verticalização do habitat humano pode levar ao aparecimento de novas configurações que marcam o povoamento urbano, como símbolos de modernidade e de diferenciação com o resto da cidade, em espaços novos ou renovados mas traduzindo-se sempre em novos lugares. Na actual sociedade de informação, os novos lugares tomam outra conotação, referem-se ao ciberespaço, às condensações nos fluxos de relações na cibergeografia, aos lugares electrónicos. Las 25 Autores e modelos citados por LEDENT, 1990, in AIDELF, 1993: idem, in AIDELF, 1993:269. Maria Júlia Ferreira,

129 nuevas tecnologias nos muestram en una perspectiva histórica el inexorable camino que las distintas potencias mundiales siguen en la búsqueda del dominio planetario; los caminos, los mares, el aire y el espacio. En la actualidad se debe sumar el ciberespacio. Mientras tanto la localizacion, outra vez, desde un punto de vista estratégico, adquiere una nueva dimensión: nuevos lugares y posiciones para las emergentes relaciones socio-espaciales del siglo XXI (BUZAI 27, 2003: ). Hoje fala-se nos lugares da postmodernidade. Edward W. Soja, tendo por base a cidade de Los Angelos, fala em seis discursos sobre a postmetropolis 28 (serão os novos lugares da modernidade?): i) carácter das economias urbanas flexíveis, levando à metrópole industrial postfordista; ii) domínio do cosmopolitanismo, traduzindo-se nas cidades globais, concentração no comando e controlo da finança, domínio dos sistemas de segurança e papel do imobiliário; iii) expressão do exopolitanismo que traduz diferenças na forma e nas relações entre cidades; iv) cidades fora dos centros tradicionais com papeis importantes, post-suburbianas, tecnopólos, county-cities ) e de metropolaridades, como novas polarizações e novo mosaico social; v) estruturação em arquipélagos fortificados 29 e vi) simcities ou cidades dos bits 30, da simulação, do irreal, do hiperreal, do ciberespaço. No ciberespaço, ou na cidade virtual, terá ainda sentido falarmos em lugares e em novos lugares geográficos? Estamos reduzidos às referências nas redes (internet), aos sites ou sítios? Tem sentido falarmos em cidade virtual? Não será antes virtualizada, ou seja, utilizadora das redes virtuais? Ou informacional, no sentido há muito atribuído por M. Castells e depois frequentemente usado 31? Como entender os lugares na cidade da imaginação, da representação 32, na cidade imaterial 33? O que muda não é a cidade mas o urbano, as formas de relação, de comunicação. O produto pode chamar-se um novo lugar, pois desenvolve novas formas de relação que acabam por marcar os espaços físicos. O urbanismo no contexto das cidades virtuais é uma linha interessante de reflexão e com muitas oportunidades por explorar 34. Em resumo, um espaço torna-se lugar quando tem identidade própria, traduzida numa designação e numa densidade de relações que suportam e justificam essa identidade, ou seja, quando se constitui como um território. 4. NOVOS LUGARES, SISTEMA DE POVOAMENTO HUMANO E RECONFIGURAÇÕES DO TERRITÓRIO A formação de novos lugares pode resultar de orientações sobre o povoamento humano, cujas origens, formas e instrumentos se perdem na História (concessão de Terras, forais, colónias agrícolas, etc.), de políticas públicas de ordenamento do território desenvolvidas sobretudo no século XX (controlo e regulação da evolução das aglomerações e novas urbanizações) ou de estratégias individuais ou empresariais privadas (proprietários do solo, promotores e construtores civis). O papel intervencionista do Estado nas últimas décadas é de destacar sem descurar, no entanto, a força do sector privado, a sua capacidade de influenciar as decisões e a sua função de agentes principais no processo de urbanização. Da concentração nas capitais à descentralização para pólos de crescimento e eixos de desenvolvimento, estímulos à dinamização das cidades médias e pequenas, o sistema de povoamento conheceu importantes modificações; a saída de pessoas e empresas das grandes cidades para as 27 do Centro de Estudios Avanzados, Universidad de Buenos Aires. 28 SOJA, Edward, M. 2002, in BRIDGE, Gary and WATSON, 2002: Remetendo para DAVIS, Mike, 1990, City of Quartz ou para a versão mais reduzida DAVIS, Mike, 1990, from City of Quartz: Excavating the Future in Los Angelos, in BRIDGE, Gary and WATSON, Sophie, edits, The Blackwell City Reader,Blackwell Publishing, Oxford, UK, 2002: MITCHELL, W. J., 2002, in BRIDGE, Gary and WATSON, Sophie, 2002: Nomeadamente, CATTERALL, Bob, 2000, Informational Cities: Beyond Dualism and Toward Reconstruction, in BRIDGE, Gary and WATSON, Sophie, edits, 2000, A Companion to the City, Blackwell Publishing, Oxford, U.K. 32 BRIDGE, Gary and WATSON, Sophie, 2000, in BRIDGE, Gary and WATSON, Sophie, edits, 2000: DONALD, James, 2000, in BRIDGE, Gary and WATSON, Sophie, edits, 2000: No caso da Geografia Portuguesa, e apenas como exemplos que referem as potencialidades da generalização do uso das Novas Tecnologias da Informação pelos serviços e pelos cidadãos em geral, ou seja, o e-governement, podemos remeter para FERREIRA, Jorge, 2002, A importância das Tecnologias de Informação Geográfica para o e-citizen, Revista GeoINova nº 6, Lisboa, 2002:49-58 e, para os efeitos na participação cívica e cidadania, para JULIÃO, R. P., 2003, Informação Geográfica e Cidadania, Revista GeoINova nº7, Lisboa, 2003: Maria Júlia Ferreira,

130 periferias e para cidades médias vieram alterar elementos da lógica de organização que não é generalizável a todos os países, culturas e momentos históricos. Umas vezes traduz a fuga às condições de exclusão que se vivem no centro ou na periferia ou a procura das áreas mais qualificadas, sejam elas centrais ou periféricas; outras vezes domina a opção entre dois modos de vida distintos. A repartição equitativa do povoamento no território torna-se mais complexa, com movimentos diferenciais de entrada e saída dos quais resultam novas configurações e uma matriz territorial de suporte com dinâmicas muito diferentes. As experiências urbanísticas, nomeadamente as Cidades-Jardim e as Novas Cidades permitem entender a lógica da construção das identidades numa escala mais vasta do que aquela que nos vai prender a atenção neste trabalho. Os princípios são os mesmos embora as dimensões de referência sejam diferentes. A análise do território inclui obrigatoriamente o subsistema de povoamento, que é um dos seus pilares centrais, e as suas transformações em curso, ou seja, as reconfigurações territoriais. Numa tentativa de classificar os elementos do território, Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior (1998: 39-52) considerou 4 formas espaciais urbanas (metrópoles, tecnopólos, company towns ou cidades empresariais, vilas e povoados), constituídas por outras formas básicas: prédios de apartamentos, conjuntos residenciais, unidades industriais, favelas (no caso do Brasil, nos outros países seriam as áreas de alojamentos precários ou muito degradados), distritos industriais, centros administrativos, centros empresariais e condomínios exclusivos. Segundo o autor, a configuração da forma metropolitana tem como característica fundamental a metropolização (ou metropolitanização?), ou seja, a incorporação de cidades e vilas próximas, definindo uma malha única, ainda que fragmentada. No seu espaço existe: Povoamento compacto. Novos assentamentos urbanos dispersos, indiciando uma reestruturação espacial, a metropolização, que reflecte também articulações e contradições estabelecidas no plano local, ainda que delineadas por determinações de ordem estrutural que presidem o processo de urbanização brasileiro. Há uma dialéctica da relação estrutura (determinações gerais) e ação (atuação de coligações e redes directamente relacionadas a agentes que estabelecem práticas em nível local), que não pode ser desconsiderada (Trindade Júnior, 1998: 42). Verticalidade ou verticalização do edificado e grande complexidade de relações, signos e representações. O centro é marcado pela paisagem dos arranha-céus, simbolicamente uma barreira física e social no espaço urbano e perde a condição de assentamento da população de baixo poder de compra; o intenso processo de valorização do solo reflecte-se geralmente na verticalidade do ambiente construído. Horizontalidade: da concentração inicial no centro, a cidade estende-se para uma periferia cada vez mais distante, procurando melhores condições e anexando à malha urbana espaços de outros municípios. Estratégias de apropriação do solo urbano e de articulação com os produtores do urbano; revelam relações de poder mediadas pelo espaço, definindo territorialidades urbanas : o centro é redefinido em função dos interesses de agentes privados com destaque para os imobiliários, direccionado para a produção de habitação para as camadas solventes; definemse novos espaços de assentamento para as camadas sociais mais baixas, culminando com o processo de desconcentração, responsável pela sua relocalização no urbano. O autor afirma ainda que, em Belém, a nova morfologia espacial, o padrão disperso, confirma a correlação de interesses entre os agentes produtores de solo e as redes de articulações configuradas (reconfigurações), correlação esta que se expressa de diversas maneiras, nomeadamente: a) definição de novas escalas de actuação e de operação do capital imobiliário e de suas fracções; b) configuração de novas unidades político-administrativas nos vectores recentes de expansão, a partir da emergência de movimentos político sectorizados, a exemplo do que aconteceu com Martuba, que constitui hoje o mais novo Município da ARMB; c) conflitos políticos e económicos que giram em torno da apropriação da terra urbana nesses espaços; Maria Júlia Ferreira,

131 d) enfraquecimento das acções políticas e/ou descenso de sectores dos Movimentos Populares Urbanos (MPU s) face às estratégias político-espaciais do poder público local (Trindade Júnior, 1998:42) Importa então analisar: As implicações espaciais desse processo, o redireccionamento dos assentamentos urbanos no espaço metropolitano e o novo design espacial daí decorrente. A importância do processo, como meio e condição para a conformação de novas estratégias de apropriação diferenciada do espaço metropolitano pelos agentes urbanos com actuação local. A dispersão/concentração como dialéctica na realização de processos sócio-espaciais ao nível metropolitano. A (re)estruturação das metrópoles, assente em contradições, tensões e descompassos, estes elementos que imprimem o movimento em suas múltiplas temporalidades (LENCIONI, 1997, in idem:.45). As territorialidades não formais ou subjectivas (empresas imobiliárias, por exemplo, com territorialidades próprias de acordo com estratégias e limitações de vários tipos, por exemplo capacidade competitiva por espaços e segmentos da população; territorialidades das organizações populares que usam o espaço como potencial político, viabilizador de acções na correlação entre agentes; a cidade dispersa potenciou o aparecimento de novas organizações e novas territorialidades das organizações) e territorialidades formalmente constituídas (instância municipal e ideia de abandono e exclusão da população suburbana levando a novos assentamentos nas áreas de expansão, origina novos movimentos sociais e é usada por interesses políticos, pelo menos em altura de eleições), associadas à cidade dispersa. A importância da localização, no contexto espacial, na definição do papel como produtor, consumidor e cidadão. A fragmentação das práticas e representações urbanas que leva a que a cidade deixe de existir. O padrão disperso extenso; este revela duas faces de um mesmo processo, que envolve a produção imobiliária: uma ocupação urbana rarefeita e areolar de espaços novos e a ocupação urbana adensada, resultado da constituição tanto de espaços novos em áreas já urbanas, como também da recriação adicional de espaços, expressos na verticalização (PEREIRA, 1987, in idem: 49). Há, no entanto, que distinguir: Espacialidades e territorialidades. Efeitos dos diferentes tipos de expropriações: i) de bens e recursos de sobrevivência que obriga a população a movimentar-se para a cidade, ou da vida urbana para as suas periferias (banidos da cidade); ii) de identidades, de representações do seu espaço e da sua cultura, iii) da sua organização política e da sua sociabilidade, conquistada nas práticas quotidianas do seu espaço vivido e tantas vezes dificultada. Desterritorialização e reterritorialização dos moradores que podem chegar à negação do direito à cidade (LEFEBVRE, 1991, in idem: 49). Territorialidades não formais ou subjectivas e territorialidades formalmente constituídas. A (re)estruturação territorial (ou as suas reconfigurações) não pode ser vista simplesmente como a transformação da forma pois situa-se ao nível do urbano nas suas múltiplas dimensões e na pluralidade de relações que o indivíduo estabelece na e com a cidade (cfr.trindade Júnior, 1998: 50); práticas que possibilitam outras leituras geográficas da cidade, porque o urbano, além de simultaneidade, é também encontro. A análise das reconfigurações tem que ter em conta a espacialidade total e os seus segmentos (região, território, lugar, paisagem, ) surgidos por necessidade da operacionalização do conceito de espaço. Maria Júlia Ferreira,

132 5. A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NOS NOVOS LUGARES: a importância do tempo de permanência no alojamento Na construção de identidades, o tempo de permanência no alojamento é importante pois: Comanda as necessidades físicas e psicológicas dum novo quadro de residência ou de adaptação ao alojamento ocupado. Permite realizar poupanças e passar a outras perspectivas ou possibilidades de habitat. Proporciona relações de proximidade que justificam a manutenção ou não nessa residência e não no meio de pessoas desconhecidas. Traduz características do parque de alojamento, unidade de ocupação (efeitos da idade do parque na composição social). Possibilita maior coesão social: nas novas unidades de vizinhança, nos loteamentos no periurbano, nas novas áreas residenciais, as composições sociais, as redes de relações, parecem esquemáticas, em construção, inacabadas, incompletas. Os novos lugares, porque são novos ou com processos recentes que os inovaram, são excelentes campos de estudo da formação de identidades sócio-espaciais, pois neles o processo de consolidação destas está ainda em curso. Podemos então apreender os mecanismos que o suportam e os efeitos desse facto. O descontentamento associado muitas vezes aos novos lugares pode ser interpretado, facilitando as acções que o possam contornar, mesmo que parcialmente, pois o carácter de inacabado é inerente ao próprio processo. A dialéctica entre a insatisfação residencial por faltar esse sentido de lugar e a satisfação residencial por se viver algo de novo (dando satisfação a desejos e utopias ou apenas como fruto do acaso que vai construindo oportunidades ou impondo soluções) traduz-se num jogo diferencial de sentimentos cujos resultados nem sempre são previsíveis. 6. OS NOVOS LUGARES NA PENÍNSULA DE SETÚBAL: a sua importância na demografia do povoamento e na construção de identidades Para dar corpo às ideias atrás formuladas ensaiamos duas pesquisas mais práticas, mais empíricas, uma de cariz estatístico sobre a demografia do povoamento e outra de aplicação a casos concretos, a novas urbanizações, sobre a construção de identidades sócio-espaciais. A primeira apresenta-se à partida como relativamente fácil mas na prática os problemas são muitos e difíceis de ultrapassar. Pretendia-se ver quais os lugares que foram nascendo ou morrendo entre os últimos três recenseamentos da população, décadas em que o dinamismo do povoamento junto das áreas urbanas foi intenso. As mudanças nos nomes, a sua duplicação, as alterações nos critérios dos levantamentos estatísticos ou no tratamento dos dados recolhidos, as diferenças nas terminologias, tornam-se problemas incontornáveis. Apesar das dificuldades analisámos as designações dos lugares dos concelhos da Península de Setúbal, constantes nos recenseamentos da população. Pretendíamos destacar a jovialidade do povoamento através dos novos lugares no entanto nas áreas urbanas há um processo simultâneo que é o da fusão de lugares e do crescimento por suburbanização ou expansão progressiva; assim os quantitativos dos lugares não traduzem de forma directa todo o fenómeno mas apenas o da formação de novos lugares por excrescências ou novas formações. Não possibilita a análise detalhada do sistema de povoamento mas apenas a dinâmica em novos nós. Como os objectos deste estudo são estes novos nós, fizemos esse ensaio estatístico apesar das limitações que lhe reconhecíamos. a) A demografia do povoamento na Península de Setúbal Num universo de 652 designações, constantes nos Recenseamentos da População e Habitação, 534 eram de lugares (82%) e 52 eram referências a isolados ou residuais (cerca de 8%). Entre os três recenseamentos de 1981, 1991 e 2001, apareceram 150 novas designações de lugares (113 entre 1981 e 1991 e 37 entre 1991 e 2001), representando uma taxa de natalidade levemente superior a 23% e desapareceram 165 ( na década seguinte), ou seja, uma taxa de mortalidade de 25%. Se Maria Júlia Ferreira,

133 aplicarmos os conceitos da demografia teríamos a mortalidade superior à natalidade, ou seja, assistiríamos a uma redução dos elementos do universo em estudo, nada significando sobre a dimensão de cada lugar e, por isso, sobre a população envolvida. Quadro 1 - A demografia do povoamento da Península de Setúbal, Concelhos Nomes de lugares que aparecem Nomes de lugares que desaparecem Designações existentes 81/91 91/01 81/91 91/01 Lugares Divisões Isolados/ tot administ. residuais Alcochete 4 5-2r 2 9-1r Almada r 32-4r Barreiro r (1=) 5 34 Moita 15-5r Montijo 20-2r 7(2=)-2r 19-2r Palmela 5-1r (2=) 5 96 Seixal 14-1r 8-1r 29 2(1=) Sesimbra 15-2r r Setúbal 11-3r 2-1r Total r 37-5r 145-8r 20-1r NB: r significa os Residuais (designados por isolados nuns recenseamentos, por residuais noutros); Divisões administrativas (designações de concelho e freguesias); 5-2r deve ser lido: 5 designações de lugares e duas de residuais ou isolados; 7(2=) significa a existência de 7 designações havendo duas iguais. Os resultados a que se chega não contrariam a realidade prevista pois trata-se de uma área em que o crescimento urbano tem levado à fusão de muitos lugares estatísticos existentes. O desaparecimento de lugares não é aqui sinónimo de mortalidade mas de absorção pela urbanização crescente. As novas designações, essas sim, traduzem em geral o aparecimento de novas urbanizações, logo o dinamismo em termos de novos nós do sistema de povoamento. Deste ponto de vista já tem sentido pensarmos que 20% desses nós são formações novas. Vale então a pena reflectirmos sobre o processo da construção das identidades num caso com este grau de dinamismo recente. b) A construção de identidades nas novas urbanizações da Península de Setúbal: o caso dos Portais da Arrábida Como caso de estudo, escolhemos a Península de Setúbal mas dificuldades de ordem vária limitaram a recolha da informação a duas urbanizações da Freguesia da Quinta do Anjo, no Concelho de Palmela. As urbanizações fechadas que proliferam na Península de Setúbal não seriam objectos de análise fácil e, por isso, foram abandonadas. Pretendíamos urbanizações bem circunscritas, em fases diferentes de ocupação mas consideradas ainda novas, ou seja tendo o início da ocupação até cerca de 10 anos. Pelo conhecimento do território e pelas características específicas escolhemos, como casos para iniciar a pesquisa, os Portais da Arrábida (constituídos por uma área de moradias unifamiliares e outra de blocos de apartamentos) e as Colinas da Arrábida, constituídas por blocos de apartamentos (como complemento do tipo de habitação pretendíamos juntar as moradias de Palmela Village, dada a contiguidade que têm, mas o início da entrega destas passou para Janeiro de 2005; não havendo ocupação na altura da aplicação dos inquéritos, foram excluídas da análise). Como ensaio da metodologia, faremos apenas uma breve descrição das variáveis referentes aos Portais da Arrábida onde foram feitos 50 inquéritos a indivíduos escolhidos não por um método aleatório científico predeterminado mas, devido à elevada taxa de alojamentos vazios, de uso sazonal ou de residência secundária, assentando na base das possibilidades reais e distribuídos por toda a urbanização e pelas diferentes tipologias de construção (vivendas e apartamentos). As características da amostra são assim factores a ter em conta em todas as análises a fazer, dificultando a generalização a que se poderia chegar com uma base mais consistente. Assim, depois de uma breve descrição dos elementos da amostra, iremos apresentar os dados que resultaram da aplicação do modelo seguinte nos Portais da Arrábida, na quinta do Anjo, em Palmela. As identidades sócio-espaciais são analisadas atendendo a grandes conjuntos de Maria Júlia Ferreira,

134 componentes: uma que remete para o passado, duas para o presente e uma última mais virada para a avaliação que passa também pela (in)satisfação residencial mas tendo o futuro como objectivo (a propensão a mudar) e, por fim quase ao jeito de conclusão, as (des)vantagens dos novos lugares como locais de residência, ou o interesse desta construção como instrumento operativo na interpretação das reconfigurações do território. Identidades sócio-espaciais - o modelo para a análise Rede de relações precedentes Tipo de residência (principal ou não) Local de residência anterior Outros locais de residências anteriores Enraizamento e identidades sociais existentes Local de trabalho Tempo de permanência nesta habitação Razões da vinda para esta morada Outras moradas preferidas (campo dos possíveis) Satisfação residencial e identidades sócio-espaciais Satisfação residencial pessoal elementos positivos elementos negativos Elementos que conferem identidade com o lugar Avaliação das identidades sócio-espaciais O grau de identidade sócio-espacial utilização do lugar e comunidade frequência de utilização dos locais do lugar A insatisfação como propensão à mudança A satisfação em geral sobre o quotidiano no lugar Vantagens de residir nos novos lugares c) Os inquiridos: Os inquiridos tinham idades compreendidas entre os 17 e os 71 anos, concentrando-se mais na classe entre os 31 e 45 anos, seguindo-se depois os mais jovens; 58% eram do sexo masculino. Grupos de idades % >60 8 Total % tinha pelo menos o grau de licenciado e 6% frequência universitária; 20% concluiu o 12º ano de escolaridade e 12% possuía o 9º ano; os 4º e 6º anos representavam, no conjunto, apenas 8% da população inquirida. Os cursos médios/industriais têm fraca representatividade (a aposta neste nível foi muito desvalorizada nas últimas décadas). Tal como nos inquéritos que fizemos em Lisboa, a população com forte mobilidade tem, em geral, habilitações literárias elevadas (potenciam o acesso a um poder de compra mais alto e, por isso, mais facilidade na opção de compra de uma nova habitação para residência permanente ou secundária). Maria Júlia Ferreira,

135 A situação perante a profissão e as profissões exercidas eram muito diversificadas, traduzindo um elevado grau de heterogeneidade social; os reformados/ aposentados, os professores, os engenheiros e os comerciantes manifestavam algum destaque. 38% dos inquiridos tinha o seu agregado familiar composto por duas pessoas. O peso de jovens inquiridos foi significativo, mas provavelmente ainda numa fase de ausência de filhos. 10% dos inquiridos afirmaram ter optado por viverem sozinhos Dimensão dos agregados % Não responde/não sabe 18 Total 100 d. As redes de relações: d1. O tipo de residência (principal/ secundária) Apenas 12% declarou que essa habitação era secundária e cerca de 30% afirmou ter outra residência (com destaque para Lisboa e Setúbal). No entanto o elevado número de habitações vazias (o que dificultou muito a aplicação dos inquéritos) para venda ou por ocupação não permanente permitem afirmar o carácter de sazonalidade da permanência, mesmo em casos em que os inquiridos responderam como sendo de habitação habitual (a desconfiança leva muitas vezes a enviezamentos deste tipo de respostas). d.2 O local de Residência anterior Das respostas válidas, 8% diz provir da mesma freguesia, a da Quinta do Anjo e 4% do concelho de Palmela; 38% residiam noutros concelhos da Península de Setúbal e 32% referem a Grande Lisboa como o local da anterior residência. Local de residência anterior % % total Mesma freguesia 8 Mesmo concelho 4 Outros Concelhos da Península 38 Seixal 18 Setúbal 12 Barreiro 4 Moita 2 Montijo 2 Concelhos da Grande Lisboa 32 Lisboa 10 Amadora 10 Sintra 4 Oeiras 4 Cascais 2 Odivelas 2 Outros concelhos do País 14 Estrangeiro 2 Não responde 2 Total 100 Maria Júlia Ferreira,

136 Depois de Palmela, destacam-se Seixal e Setúbal, seguindo-se Lisboa e Amadora, num universo de situações que se estendem até aos concelhos de Alcanena, Leiria, Castelo Branco, Bragança, Ponta Delgada, e a países como Espanha e Brasil d.3. Outras moradas anteriores à última Uma morada anterior à última foi referida por 12 casos dentro dos 50, dos quais 5 a reportaram ao estrangeiro. Localização da morada anterior à última nº Concelhos da Península de Setúbal: Almada e 2 Palmela Outros da AML: Lisboa e Amadora 2 Outros do país: Vila do Bispo, Portalegre, 3 Coimbra Estrangeiro: EUA, Moçambique, Angola 5 6 casos referiram uma 2ª morada anterior à última (2 em Angola, e 1 em Cabril, Anadia, Tomar e Coimbra) e num caso referiu-se mesmo uma 3ª morada anterior à última (neste caso Lisboa). Com esta descrição sobre uma amostra com as limitações que lhe reconhecemos, pretendemos demonstrar que nestes segmentos de população a mobilidade é grande ao contrário do que muitas vezes se generaliza para toda a população portuguesa Assim, corrigido o efeito das não respostas e não esquecendo a fraca representatividade da amostra, poderíamos dizer que 26% teve apenas uma outra morada, antes da actual, 50% teve duas, 12% três, tal como se mostra no quadro seguinte: Nº de moradas anteriores à actual % e) Enraizamento e identidades sociais e.1. Local de trabalho Nas redes de relações os locais de emprego são elementos de destaque. Neste caso e considerando apenas as respostas válidas, 36% dos inquiridos trabalhavam em Lisboa, 21% em Palmela (concelho onde se situa a urbanização) e 19% em Setúbal. Os restantes concelhos da península representavam 12%. É notória a dependência de Lisboa, associada à falta de equipamentos e serviços que disponibilizem emprego qualificado na urbanização e na sua proximidade imediata. Os movimentos pendulares são assim uma característica desta e de muita outras urbanizações que nascem mais como dormitórios do que como unidades urbanas integradas. À medida que crescem vão introduzindo alguns equipamentos sobretudo de lazer e serviços banais mas mantêm o carácter de dormitórios. Aliás, o comércio que surge caracteriza-se, em grande parte, pela volatilidade, ou seja, as lojas mudam de ramo e estão frequentemente em trespasse ou à venda. e.2. Tempo de permanência nesta habitação Como dissemos atrás, o tempo de permanência na habitação é um factor fundamental para a consolidação das identidades. Como vemos quase dois terços tem no máximo 5 anos de permanência o que é, de facto, pouco tempo. Maria Júlia Ferreira,

137 nº de anos % >10 2 e.3. Razões da vinda para esta morada As razões apresentadas para a vinda para esta morada têm a ver sobretudo com as características do sítio, a paisagem, a proximidade ao emprego e o ambiente natural /espaços verdes, tal como se vê no quadro seguinte, privilegiando ambientes que ofereçam sossego, níveis de poluição baixos, fraca densidade populacional, etc. Razões da vinda para esta morada(%) 1ª 2ª 3ª Total das % do total % Sítio mais sossegado/tranquilo Paisagem agradável/qualidade urbana Maior proximidade do emprego Ambiente natural/ mais espaços verdes Habitação maior/moradia Maior qualidade da habitação Bom preço Proximidade de familiares Local anterior muito agitado Mais qualidade de vida do que o anterior Maior proximidade a Lisboa Melhores acessibilidades Maior segurança Sair de Lisboa Total absoluto de referências (150) (98%) e.4. Outras moradas preferidas 17 dos inquiridos escolheram a habitação actual dentro de um leque de possibilidades dentro do concelho de Palmela, noutros concelhos da Península ou da Grande Lisboa, do Alentejo ou mesmo de Angola ou Taiti. A opção foi tomada de acordo com vantagens comparativas num conjunto em que se manifestam utopias e desejos que se esquecem no momento da escolha efectiva. e.5. A existência de familiares, amigos, colegas e outros conhecidos na urbanização Dos inquiridos, 40% tem familiares, amigos ou colegas a residirem na urbanização o que evidencia o peso desta componente na escolha da nova residência (apesar do contrário representar 55% da amostra). Familiares, amigos e outros conhecidos a residirem na urbanização Nº de familiares, Parentes% Amigos% Colegas/conhecido totais % amigos, colegas s% > Não resp total Maria Júlia Ferreira,

138 Dos 50 inquiridos, 94% eram proprietários da habitação que ocupavam, embora 82% dos quais tivesse recorrido ao crédito, 12% pagaram a habitação a pronto e 6% não responderam. Apenas 6% eram arrendatários; 48% vivia em apartamentos, 22% em moradias isoladas, 16% em moradias em banda e 14% em moradias geminadas; percentagens que resultam da distribuição da amostra pelas tipologias do edificado existentes e não das características da urbanização. 48% tinha quintal e/ou jardim, em resultado das tipologias disponíveis na urbanização, e 82% usufruía de parqueamento próprio. e.6. As perspectivas sobre as características da urbanização em desenvolvimento Os inquiridos tiveram conhecimento desta urbanização sobretudo através de passeios que fizeram (44%), de amigos (20%), de familiares (12%), de panfletos, revistas, jornais e outdoors (16%). Modo de conhecimento da urbanização % Passeio 44 Amigos 20 Familiares 12 Panfletos/jornais 10 Já conhecia o local 6 Outdoors 6 n/responde/não sabe 2 Total 100 f) Satisfação residencial e Identidades sócio-espaciais f.1. Elementos de (in)satisfação residencial pessoal Dos inquiridos, 98% gostava de viver na urbanização: as razões mais focadas são também as que motivaram a compra de residência neste local. A tranquilidade é o aspecto mais referido, seguindo-se, mas com muito menor peso percentual, o carácter natural do ambiente, havendo, no entanto, uma grande dispersão de respostas, como se vê no quadro seguinte: Elementos de que mais gosta referências 1ª 2ª 3ª %total Tranquilidade/sossego Ambiente natural Facilidade de convívio/boa vizinhança Paisagem agradável Acessibilidades Qualidade urbanística Melhor p/crescimento crianças Segurança Mais espaço livre Muito estacionamento Boa construção das habitações Boa oferta de comércio Total absoluto de referências (158) Como elementos negativos, as pessoas destacam sobretudo a falta de serviços/ comércio/ transportes/ equipamentos, pois as urbanizações quando são ainda novas têm pouca vida própria, o que afecta a procura no comércio, serviços, equipamentos e transportes mas reforça a tranquilidade/sossego que justificou em muitos casos a escolha do lugar. As referências à falta de limpeza, poluição sonora e maus cheiros têm um peso significativo. Maria Júlia Ferreira,

139 Elementos de que menos gosta referências 1ª 2ª 3ª %total Falta de serviços/equip./ comércio/ transportes Falta de limpeza Poluição sonora e maus cheiros Densidade populacional elevada Muito trânsito Longe de Lisboa Fraca acessibilidade Falta de convívio Humidade no Inverno Falta de estacionamento Elitismo/snobismo das pessoas Má construção das habitações Total absoluto de referências (84) f.2. Elementos que conferem identidade ao lugar A questão da identidade do local levantou muitas dificuldades de resposta aos inquiridos, pois são novos residentes e permanecem pouco tempo no local. A tranquilidade e o sossego são a imagem que mentalmente associam mais rapidamente à urbanização onde residem; o ambiente natural e a proximidade da serra da Arrábida representam em conjunto 66% das respostas (logo ocupariam o 1º lugar); a homogeneidade urbanística a que se associa a harmonia, também tem uma expressão que é de destacar. Elementos que conferem identidade Referências 1ª 2ª 3ª % total Tranquilidade/sossego Ambiente natural Homogeneidade urbanística Serra da Arrábida Ambiente familiar Clube Forte acessibilidade Comida de qualidade Total absoluto de referências (130) g) Avaliação das identidades sócio-espaciais dos residentes g.1. Grau de identidade com o lugar O grau de identidade com o lugar já é forte, a acreditarmos no peso percentual das respostas dadas: a maior parte dos inquiridos diz passear (94%) e tomar o café na urbanização (90%) e 82% afirmam conhecer os vizinhos mais próximos. A mobilidade está, no entanto, muito dependente do transporte individual, pois somente 16% diz usar transportes públicos (6% regularmente e os restantes esporadicamente) e as compras são feitas sobretudo no exterior (29% faz aí as compras referentes ao quotidiano). Elementos que traduzem identidades %sim Costuma passear na urbanização 94 Toma café na urbanização 90 Conhece os vizinhos mais próximos 82 Faz compras na urbanização 29 Usa transportes a partir da urbanização 16 Os cafés são os locais mais frequentados na urbanização (também é reduzida a oferta de outro tipo de equipamentos). Maria Júlia Ferreira,

140 Local que mais frequenta % Café 46 Clube 20 Espaços verdes 6 Campo de ténis 2 Nenhum 26 g.2. Insatisfação residencial e propensão à mudança 74% não pensa mudar de casa, 24% pensa mudar nos próximos 5 anos e 2% num futuro mais longínquo (mais de 10 anos). A amostra dos que pensam mudar é, como se vê muito reduzida e, por isso, pouco de pode concluir a partir dela. Os dados, sem significância associada suficiente, mostram que o motivo da pretensão da mudança é para 10% a proximidade ao trabalho, a falta de equipamentos/serviços/comércio/transportes (4%), a pequena dimensão da casa actual (4%), o desejo de mais sossego e tranquilidade (2%), a procura de mais ambiente natural (2%) e de melhor vizinhança (2%). Dos lugares que escolheriam para a mudança destaca-se Lisboa (8%), os concelhos do sul da Península de Setúbal (Palmela, Setúbal e Sesimbra) que reúnem 6% no conjunto das preferências, Almada (2%), Alentejo (2%) e Moçambique (2%); um dos indivíduos não respondeu. g.3. Satisfação sobre o quotidiano O grau de satisfação residencial é elevado pois o item gostar muito de aí viver atinge os 76% e apenas 4% diz gostar pouco. As pessoas gostam de viver na urbanização % Muito 76 Assim/assim 18 Pouco 4 Não sabe/não responde 2 Total absoluto de respostas 50 h. Vantagens de residir nas novas urbanizações vs novos lugares A vantagem de residir nas novas urbanizações parece situar-se sobretudo ao nível da modernidade da habitação (27% das citações), da paisagem cuidada (22%), dos novos equipamentos e infra estruturas urbanísticas (13%) e de maior qualidade de vida em relação aos sítios de proveniência (11%). Vantagens dos novos lugares Referências 1ª 2ª 3ª %total Total % Modernidade das habitações Paisagem mais cuidada Equipamentos/infra-estruturas novas Mais qualidade de vida Mais sossego e tranquilidade Contacto com pessoas novas Mais segurança Baixa densidade populacional Melhor para as crianças crescerem Mais espaços verdes Total absoluto de referências (128) 100 Maria Júlia Ferreira,

141 Conclusão: sobre os novos lugares, campos de observação da construção de identidades, e potencialidades do modelo para o entendimento das reconfigurações do território Nesta reflexão, sobre a temática dos novos lugares, partíamos do princípio de que estes têm um papel fundamental na compreensão dos processos de construção das identidades sócio-espaciais, porque são unidades territoriais em que as estruturas sociais e espaciais nascem e vão-se construindo e consolidando progressivamente. Este tema de estudo tornou-se mais importante no campo da Geografia quando a análise das dinâmicas espaciais dos sistemas de povoamento, nos anos 90 do século XX, se virou para o nível local, para a busca do entendimento do lugar enquanto espaço vivido e de representações (o sentido do lugar), valorizando assim outros objectivos e conceitos básicos, outras metodologias e outras ciências afins. O destaque dado ao problema das identidades sócioespaciais passou a traduzir a relação homem-território (outrora designada homem-ambiente) ao nível local. O lugar passou a ser definido mais pelas identidades e grau de (in)satisfação residencial que proporciona do que por ser um elemento dos sistemas de povoamento. O lugar tem agora um conteúdo mais ligado à vivência, ao quotidiano, às representações; é uma paisagem cultural, vivencial. Também não questionámos o papel que os novos lugares desempenham nas reconfigurações dos sistemas de povoamento, como instrumento das políticas públicas de ordenamento do território e como elemento do marketing territorial. Teríamos, assim, outras lógicas que podíamos ter seguido e que nos levariam a outras conclusões. Ficámos na aplicação de um modelo de análise das identidades sócio-espaciais, deixando os outros campos para análises posteriores. Escolhemos alguns indicadores para aferir o grau de satisfação residencial, a propensão para a mudança, o grau de identidade com os lugares do quotidiano. No caso estudado, classificado segundo o critério de que partimos, como um novo lugar, junta-se a satisfação de residir numa nova habitação, na continuação ou não de sonhos e utopias individuais e sociais e, pelo facto de se tratar de um lugar recém-nascido, uma maior probabilidade da existência de algumas disfunções. Muitas vezes, quando se muda de residência, o que se procurava não foi encontrado (boa vizinhança, sossego, tranquilidade, etc ) ou uma vez satisfeito um desejo, outro o veio substituir; esta insatisfação natural gera impulsos para novas mudanças. Os dados apresentados referem-se apenas a um caso de estudo e a dimensão da amostra apresenta algumas limitações para podermos extrapolar comportamentos regulares para níveis mais abrangentes. Pretendia-se o nível da Península de Setúbal mas, por dificuldades no tempo e nos recursos humanos necessários, ficamos reduzidos a um único lugar. Vale como ensaio do modelo e das componentes incluídas mais do que como forma de chegar à generalização sobre o papel dos novos lugares na construção das identidades e na reconfiguração do território. É o ponto de partida da investigação e não o de chegada; só desta forma pode ser entendida esta reflexão. Podemo-nos interrogar como é que a problemática dos novos lugares se insere na das reconfigurações territoriais, se as conclusões a que chegámos eram todas previsíveis, se o modelo é ou não pertinente para o entendimento das reconfigurações e, por isso, para a intervenção nos territórios e se os indicadores escolhidos são os mais adequados. Acreditamos que, pelo menos, o cruzamento do tempo de residência com os indicadores de satisfação residencial e de identidades sócio-espaciais nos permite afirmar, mesmo com a base empírica 35, que o primeiro é importante no reforço destas últimas (que passam pela satisfação residencial), ajudando a compreender o processo de construção das identidades e podendo contribuir para uma melhor adequação das intervenções no território com os desejos da população, o que nos remete para o objectivo central desta reflexão. 35 A análise estatística de amostras tão reduzidas tem muitas limitações e ao situarmo-nos a níveis de confiança elevada foi difícil obter correlações significativas. Os resultados da análise estatística serão apresentados em textos posteriores em que se faz também a comparação entre amostras diferentes. Maria Júlia Ferreira,

142 Bibliografia seguida AIDELF, Association Internationale des Démographes de Langue Française, Croissance démographique et urbanisation. Politiques de peuplement et aménagement du territoire (séminaire international de Rabat mai 1990), AIDELF nº 5, PUF, Paris, BRIDGE, Gary; WATSON, Sophie, 2000, City Imaginaries in BRIDGE, Gary; WATSON, Sophie, edits, 2000, A Companion to the City, Blackwell Publishing, Oxford, U.K. (cap. 1; pp.7-17). BRIDGE, Gary; WATSON, Sophie, edits, 2000, A Companion to the City, Blackwell Publishing, Oxford, U.K. BRIDGE, Gary; WATSON, Sophie, edits, 2002, The Blackwell City Reader,Blackwell Publishing, Oxford, UK, BUZAI, Gustavo, 2003, Ciberespacio, nuevos lugares, nuevas posiciones, nota in Estudios Geográficos, C.S. I. C. Instituto de Economia y Geografia, Madrid, Enero-Marzo 2003, pp DELAUNAY Daniel, in : recherches, page d accueil, Démographies du peuplement, DONALD, James, 2000, The Immaterial City: Representation, Imagination, and Media Technologies in BRIDGE, Gary; WATSON, Sophie, edits, 2000, A Companion to the City, Blackwell Publishing, Oxford, U.K.(cap. 5; pp ). FADLOULLAH, Abdellatif, 1990, Indigence et efficacité des politiques de peuplement et de leurs rapports avec l urbanisation in AIDELF, Association Internationale des Démographes de Langue Française, Croissance démographique et urbanisation. Politiques de peuplement et aménagement du territoire (séminaire international de Rabat mai 1990), AIDELF nº 5, PUF, Paris, 1993, pp HIERNAUX, Daniel; LINDÓN, Alicia, 2004, Desterritorialización y reterritorialización metropolitana: la ciudad de México, Documents d Anàlisi Geogràfica, nº 44, Universitat Autònona de Barcelona, Bellaterra, pp KEITH, M.; PILE, S., edits, 1993, Place and the Politicis of Identity, London, Routledge. Le BRAS, Hervé, 2000, Essai de Géométrie sociale, Paris, Editions Odile Jacob. LEDENT, Jacques, 1990, Théories et modèles d urbanisation: un survol, in AIDELF, Association Internationale des Démographes de Langue Française, Croissance démographique et urbanisation. Politiques de peuplement et aménagement du territoire (séminaire international de Rabat mai 1990), AIDELF nº 5, PUF, Paris, 1993, pp MERLIN, Pierre; CHOAY, Françoise, 1988, Dictionnaire de l Urbanisme et de l Aménagement, PUF, Paris. MITCHELL, W. J., 2002, From City of Bits: Space, Place and the Infobahn, in BRIDGE, Gary; WATSON, Sophie, edits, The Blackwell City Reader,Blackwell Publishing, Oxford, UK, 2002, cap. 6 (pp.52-59). PRADEL DE LAMAZE, François, 1990, Centres et périphéries urbaines in AIDELF, Association Internationale des Démographes de Langue Française, Croissance démographique et urbanisation. Politiques de peuplement et aménagement du territoire (séminaire international de Rabat mai 1990), AIDELF nº 5, PUF, Paris, 1993, pp ROO, Priscilla de, 1990, L aménagement du territoire face à la question du peuplement urbain en France: d une logique de répartition à une logique de qualification in AIDELF, Association Internationale des Démographes de Langue Française, Croissance démographique et urbanisation. Politiques de peuplement et aménagement du territoire (séminaire international de Rabat mai 1990), AIDELF nº 5, PUF, Paris, 1993, pp SANTOS, Norberto Pinto, 2003, Cidade: espaço social e espaço vivido in Caetano, Lucília, coord. 2003, Território, Ambiente e Trajectórias de Desenvolvimento, Centro de Estudos Geográficos, Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra. SEDJRO, Urbain, 1990, La politique de peuplement urbain au Venezuela, in AIDELF, Association Internationale des Démographes de Langue Française, Croissance démographique et urbanisation. Politiques de peuplement et aménagement du territoire (séminaire international de Rabat mai 1990), AIDELF nº 5, PUF, Paris, 1993, pp SOJA, E. W. 1996, Third space: journeys to Los Angelos and other Real and Imagined Places. Oxford, Blackwell. SOJA, Edward, M. 2002, Six Discourses on the Postmetropolis in BRIDGE, Gary; WATSON, Sophie, edits, The Blackwell City Reader,Blackwell Publishing, Oxford, UK, 2002, cap. 20 (pp ). TRINDADE JÚNIOR, Saint-Clair Cordeiro da, 1998, Assentamentos urbanos e reestruturação metropolitana: o caso de Belém, in Revista Geousp, nº 4, p Maria Júlia Ferreira,

143 I.2. Reconfigurações territoriais e mobilidade residencial das elites urbanas: o caso de Telheiras e Parque EXPO, em Lisboa 36 Maria Júlia FERREIRA egeo, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, UNL Tel , Fax , julia.ferreira@fcsh.unl.pt Nuno LEITÃO nunogeo@sapo.pt Introdução A temática das «reconfigurações territoriais» constitui, hoje, um objecto de estudo em desenvolvimento, traduzindo-se em projectos de investigação em curso e em artigos que vão surgindo aqui e acolá, em várias revistas de Geografia e de outras Ciências do Território. Não é uma área nova mas uma reformulação de problemas que advêm das transformações contínuas que se operam nos diferentes territórios. É, assim, uma temática pertinente e central nas preocupações da Geografia. Na base das reconfigurações territoriais estão as dinâmicas urbanas (pelo menos quando entendidas em sentido lato) que abrangem um leque variado de domínios dos quais nos interessa, sobretudo, o fenómeno residencial na sua componente a mobilidade residencial. A comunicação integra-se no âmbito da Geografia da Habitação cujo objecto de estudo tem conhecido grande evolução: nos anos sessenta do século XX, destacava os modelos explicativos da procura (à semelhança do que se passava na Economia), nos anos setenta, influenciada pela importância crescente da Sociologia na Europa, assimilou alguns princípios marxistas; mais tarde, desenvolveu preocupações associadas às políticas de intervenção do Estado, ou seja, assumiu uma visão mais institucionalista, mais pragmática, ligando-se ao Planeamento Urbano. As configurações do espaço residencial foram o prisma de observação nas aproximações às diferentes ciências afins (Economia, Sociologia, Urbanismo, Antropologia, Ciências Políticas), interpretadas ao nível que mais caracteriza a Geografia, o urbano/regional. Pretendemos fazer uma reflexão sobre a trilogia dinâmicas urbanas, mobilidade residencial e classes médias-altas urbanas, centrada nas mudanças que se traduzem em reconfigurações territoriais. Defendemos a tese de que as dinâmicas urbanas têm um suporte importante na mobilidade residencial das elites urbanas e escolhemos, como casos de estudo, as Telheiras e o Parque EXPO, em Lisboa, por serem espaços elitistas e de urbanização relativamente recente. 1. Mobilidade residencial e estratégias residenciais nas reconfigurações territoriais A mobilidade social engloba três dimensões: mobilidade vertical (ascensional), mobilidade horizontal (territorial ou espacial) e mobilidade em profundidade (psíquica). Interessa-nos sobretudo a mobilidade espacial que se decompõe em mobilidade geográfica (deslocação entre áreas residenciais, ou seja, mobilidade residencial) e mobilidade profissional (resultado da tradicional tendência à especialização). O conceito de mobilidade espacial foi substituindo progressivamente o de migrações para designar não só os fluxos como o comportamento, as características e atitudes, referentes às populações e aos indivíduos.... migração designa não a capacidade para se mover, mas o deslocamento em si mesmo, abstracto das pessoas que se deslocam (BRUN, 1988, in BONVALET- FRIBOURG, 1990:301). Envolve sempre grandes efectivos numéricos, deslocação de populações inteiras. O objecto de estudo centra-se nos fluxos, nos pontos de partida e chegada, nas distâncias que 36 No âmbito do projecto "Reconfigurações na Área Metropolitana de Lisboa: Espaços, Actores e Estratégias" do egeo, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional. Comunicação apresentada no V Congresso da Geografia Portuguesa Portugal: Territórios e Protagonistas, Universidade do Minho, Maria Júlia Ferreira,

144 os separam, sendo os motivos temas secundários. A mobilidade residencial é, assim, um campo restrito no contexto mais alargado da mobilidade social. A multidimensionalidade que caracteriza o fenómeno residencial faz com que tenha de ser estudado como um facto socioespacial integrado; o ente espacial (o alojamento, o espaço construído, o dwelling) e o ente social (o lugar vivido, o habitat, na designação de outros autores) estão intrinsecamente ligados, marcando a experiência habitacional das pessoas e reflectindo os padrões culturais dos grupos e das comunidades e as formas de intervenção das colectividades. O habitar congrega os processos sociais, culturais e políticos que se desenvolvem em torno da habitação, falando-se em, pelo menos, 5 dimensões: a espacial, a económica, a social, a político-institucional e a cultural. Geralmente referem-se as abordagens: ecológica (ecologia humana), neoclássica (economia neoclássica), institucional, marxista (materialismo histórico), culturalista e política (políticas e necessidades de intervenção). A questão da habitação, e especialmente a mobilidade residencial, além de cruzar os diferentes níveis da análise geográfica, possibilita interessantes reflexões centradas na Geografia que recorrem a conceitos e metodologias de ciências afins, com destaque para a sociologia, a economia, a antropologia, o urbanismo e a política. Assim, A mobilidade é a propensão duma população para se deslocar (Merlin-Choay, 1988) e o seu estudo centra a atenção nos indivíduos, nas suas representações e comportamentos, unificando o campo de estudo das mutações residenciais, quer seja a amplitude ou o ritmo. Integra com efeito a ideia que existe uma escala contínua de intensidade na propensão dos indivíduos para migrar, uma gama de graus entre deslocação a grande ou a curta distância, definitiva e temporária, permite conceber formas de multilocalidade isto é, de pertença sucessiva e/ou simultânea a espaços disjuntos (BRUN, 1988, in BONVALET-FRIBOURG, 1990:304). A mobilidade residencial é uma componente da mobilidade espacial; pode ser um dos factores de recomposição do tecido social de um determinado contexto local e corresponder a um processo de mobilidade social vertical. Envolve a família no sentido moderno do termo, modificando a sua localização (no bairro, cidade, etc.), estatuto de ocupação da habitação (arrendamento ou casa própria), tipo de habitação (apartamento, casa individual), dimensão do alojamento ou, muitas vezes, várias destas características ao mesmo tempo. A taxa de mobilidade residencial é um indicador importante no estudo das dinâmicas urbanas. A problemática da mobilidade residencial remete-nos para domínios interessantes que cruzam, como dissemos, a Geografia com várias ciências afins; liga o espaço vivido, a utopia do desejado e a representação social que se faz de si mesmo e do grupo de pertença; nesta interligação destacam-se algumas temáticas e áreas de estudo, nomeadamente: Espaços reais, do quotidiano, espaço vivido, utopias, representações sociais; Condições da existência e modos de vida; Teorias sobre comportamentos residenciais e pluralidade de práticas que permita fazer a diferenciação dos modos de vida Grupo social de pertença, definição e composição das classes sociais Técnicas para operacionalizar grupos específicos como objectos de estudo e níveis da realidade, reportáveis aos indivíduos estatísticos, ou seja, a possibilidade de quantificar as diferenças; Indicadores de pertença a um grupo social e sua multiplicidade; Relações emprego/residência e sua evolução no tempo e na trajectória das famílias e indivíduos; Estratégias de localização das famílias e indivíduos, como escolha feita dentro de um conjunto de possibilidades e de mobilidade social e residencial; Trajectórias familiares como percursos habitacionais vividos; Qualidade do edificado e sua relação com a classe social ocupante; Estratégias residenciais individuais e institucionais e suas territorializações; Papel dos diferentes agentes, da administração pública, dos grupos de pressão, dos agentes sociais, dos promotores imobiliários na condução das decisões individuais, através nomeadamente do marketing imobiliário; Maria Júlia Ferreira,

145 Não temos a utopia de abordar todos estes campos mas apenas aqueles que nos conduzam mais directamente à reflexão que nos propomos fazer. 2. Mobilidade residencial das classes sociais médias-altas no contexto das teorias urbanas A análise das motivações associadas à mobilidade residencial remete-nos para vários domínios que aproximam a Geografia de várias ciências afins, quer a montante da tomada de decisão (as características do indivíduo/família que se move e do sítio onde se vivia, do espaço vivido, das utopias sociais e individuais, do desejado e da representação social que se faz de si mesmo e do grupo de pertença) quer a jusante (o novo sítio no mundo dos possíveis, dos constrangimentos da realidade, o grau de satisfação obtido). As diferentes ciências afins proporcionam interessantes teorias explicativas às quais é preciso recorrer para entender o quadro em que se insere esta problemática. As teorias urbanas são, no caso presente, as fundamentais pois permitem relacionar o crescimento das cidades e os estratos sociais que mais lideram esse processo através, nomeadamente da mobilidade residencial que, em geral os caracteriza. O conceito de classe social ou, pelo menos, de grupo sócio-económico, é básico nestas problemáticas, ajudando a delimitar objectos de estudo com padrões de comportamento diferenciados para os quais é preciso encontrar as variáveis explicativas. Assim, escolhemos áreas de localização preferencial das classes médias-altas, às quais se associam taxas de mobilidade elevadas, para podermos reflectir sobre a trilogia dinâmicas urbanas, mobilidade residencial e classes médias-altas urbanas, centrada nas mudanças que se traduzem em novas reconfigurações territoriais e nas suas teorias explicativas O acesso à propriedade da habitação é fortemente discriminante, afectando como é óbvio, as margens de escolha e, por isso, os campos dos possíveis que orientam as estratégias residenciais nomeadamente na sua dimensão locativa ou espacial, servindo, por isso, muitas vezes como indicador de pertença às classes médias (classes possidentes). Para o caso de Paris, MAISON apresenta, para a geração nascida entre 1926 e 1935, as seguintes probabilidades de ser proprietário da sua residência principal, reportadas aos dados do censo de 1986: Quadro 1 Probabilidade de ser proprietário da residência principal (em %), por grupo socioprofissional, segundo a localização na aglomeração parisiense, 1986 Categoria socioprofissional do chefe de família Cidade de Paris 1ª Coroa (subúrbios) 2ª Coroa (periferias) Conjunto da aglomeração Directores de empresas, profissões liberais e quadros superiores Artesãos e comerciantes Profissões intermédias Empregados de escritório Operários qualificados Leitura do quadro: em cada 100 operários qualificados residentes na aglomeração parisiense, 38% são proprietários da sua residência principal, dos quais 2 em Paris, 17 na 1ª coroa e 19 na 2ª coroa. Fonte: Inquérito Peuplement et dépeuplement de Paris, INED. Adaptado de: MAISON, 1990, in AIDELF, 1993:146 Assim as dinâmicas de mudança levam à análise dos actuais proprietários em termos das suas trajectórias, do seu estatuto de ocupação anterior, da localização residencial anterior, das características do alojamento comprado em relação ao ocupado anteriormente, em número de divisões e em habitat (colectivo, individual, no centro, na periferia imediata ou longínqua, etc.). O acesso à propriedade pode ser um momento único no ciclo de vida da família mas pode também repetir-se para habitação permanente (mudança) ou estender-se à habitação secundária. No caso português, o peso elevado dos alojamentos ocupados pelo proprietário distribui-se desigualmente pelo país, atingindo o valor máximo, 81% fora das grandes áreas urbanas (que representam 60% do total do parque) mas reduzindo-se aos 64,7% na Grande Lisboa (20% do parque de habitação do país). Maria Júlia Ferreira,

146 A habitação própria implica um esforço económico importante num largo segmento da população, na chamada classe média e média-baixa, sendo, por ventura o maior investimento feito por muitas famílias. Traduz, por um lado, a aposta no património familiar, a crença de que é mais favorável e mais seguro para o futuro do agregado familiar e, por outro, a falta de alternativas num mercado com muitos constrangimentos e em que a aposta no arrendamento é muito recente e ainda sem os efeitos desejados. Ás classes altas pode estar associada uma mobilidade profissional elevada, adaptando-se melhor ao regime de arrendamento, no entanto enquanto o investimento no imobiliário for rentável a compra pode ser uma aposta também nestes segmentos 37. Provavelmente o final do século XX ficará, para a história da habitação em Portugal, como o período em que a casa própria se converte, expressivamente, na aspiração e estratégia dominante dos agregados familiares portugueses (SERRA, 2002:240), ou seja, a estratégia residencial fundamental. As cidades mostram certas regularidades na estrutura que permitem a interpretação através de modelos. No início do século XX, e tendo a imagem das cidades americanas por pano de fundo, R. PARK 38 aplicou os princípios da ecologia para explicar a distribuição dos grupos sociais na cidade e E.W. BURGESS, baseando-se nos processos da sucessão étnica e da invasão residencial, apresentou o seu esquema que ficou conhecido pelo modelo das zonas concêntricas : as classes sociais mais baixas situavam-se no centro, depois as classes médias e as classes altas (alta burguesia) residiam nos subúrbios, materializando os princípios do American dream. Interessa destacar a lógica da invasãosucessão, pelo dinamismo em que assenta a explicação da evolução das estruturas urbanas e pela importância assumida pela mobilidade residencial e o papel de controlo das classes sociais médias e altas. Não nos prendem as críticas à forma ou modelo morfológico: se são zonas concêntricas ou sectores triangulares (seg. HOYT), se há um ou vários centros, se as classes dominantes estão no centro ou nos subúrbios. Interessa-nos menos a estrutura do que as mutações nesta e o papel das classes dominantes A pequena burguesia, WASP, ganha progressivamente acesso aos arredores mais prestigiosos enquanto novas ondas de imigrantes exóticos se inserem nos bairros centrais abandonados pelos grupos precedentes que conseguiram escapar do ghetto ( ) Diferentemente do sistema ecológico natural em que as espécies mais fortes são privilegiadas na obtenção dos recursos, mas não tem capacidade de diminuir o valor destes relativamente às outras espécies, no sistema ecológico humano a atribuição de valor a determinados recursos é apanágio dos grupos dominantes que procuram não só apropriar-se de certos recursos, mas modificar o seu valor deslocando a desejabilidade para os recursos que são, para eles, pouco apetecíveis. (DELLE DONNE, 1979:??) As classes médias eram uma barreira, dissuasores de conflito, entre as classes altas localizadas nos subúrbios e as classes baixas situadas no centro da cidade. A fragmentação destes espaços em unidades, socialmente homogéneas mas dispersas, altera esta lógica e a contiguidade das duas classes extremas passa a ser um facto. 3. O papel da mobilidade residencial das elites urbanas na reconfiguração dos territórios O termo elite é muito utilizado mesmo no campo das Ciências Sociais. É frequentemente empregue em sentido lato e descritivo, referindo categorias ou grupos que parecem situar-se no cimo de uma dada estrutura de poder ou de distribuição de recursos. Por essa palavra, entende-se, segundo os casos, os dirigentes, as gentes influentes, os bem nascidos ou os privilegiados e, geralmente, sem qualquer forma de justificação, o poder das elites impõe-se por si e não necessita de mais explicações (Scott in SULEIMAN-MENDRAS,1997:9). Devemos falar de elites e não de elite, devido à diversidade dos grupos que a compõem. Podemos falar de elites económicas, mercantis, empresariais, locais, rurais, urbanas, provinciais, 37 No estudo de caso que fizemos não recolhemos esta variável, o regime de propriedade, e seria interessante tê-lo feito. Em investigações posteriores deverá merecer atenção. 38 R. E.PARK, E. W. BURGESS e R. D. MCKENZIE são os principais representantes da escola de Chicago, com grande visibilidade no primeiro quartel do século XX. Maria Júlia Ferreira,

147 periféricas, de determinadas áreas ou cidades (Micaelense, do Reino de Múrcia, etc.), intelectuais, jurídicas, científicas, coloniais, ilustradas, imperiais, diplomáticas, burocráticas (importante o seu estatuto político e os papeis políticos assumidos, cfr. PAGE-WRIGHT, 1999:6 39 ), administrativas, políticas 40, governamentais, ministeriais, parlamentares, militares, contra-revolucionárias, partidárias, aristocráticas, oligárquicas, da democracia ou outras. Podemos agrupá-las em quatro tipos básicos: Elites urbanas e rurais (importância do papel dos símbolos externos, da casa-palácio, da casa e da sua evolvente, as marcas no território e a sua função estruturante no espaço urbano), Elites sociais e intelectuais (muitas vezes com uma posição ideológica de esquerda, contra a burguesia conservadora), Elites económicas (burguesia tradicional, yuppies, chefias de multinacionais, etc.) Elites políticas (governantes, deputados, outros cargos públicos com poder de decisão). Interessam-nos aqui sobretudo as elites urbanas, que têm poder de compra suficiente para escolher a localização residencial desejada e a forma de acesso mais prestigiante e adequada ao seu modo de vida; acreditam na importância da visibilidade dos símbolos para darem expressão à posição social que detêm (ou procuram deter, no caso dos novos ricos). A elite urbana é restrita e fechada: habita em áreas urbanas bem delimitadas, frequenta certos clubes de difícil acesso, tem relações sociais fixas e tendencialmente exclusivas. Só se entra na elite por cooptação. Abaixo da elite está o pequeno exército dos políticos profissionais, dirigentes de empresas, jornalistas e intelectuais de diversas especializações que devem instrumentar inteligentemente, nos vários sectores e aos vários níveis, as directrizes que vêm de cima. Abaixo ainda está a massa dos cidadãos que ou fazem aquilo que se pretende deles, e talvez voluntariamente (a manipulação através dos jornais, associações, etc., que assegura frequentemente a obediência voluntária e até empenhada), ou estão sujeitos a sanções sérias, antes de tudo no trabalho (DELLE DONNE, 1979: 161) Das estratégias residenciais das elites em Lisboa às reconfigurações territoriais As dinâmicas resultantes nos espaços de onde e para onde se movem as famílias são os objectos centrais da Geografia e as teorias explicativas levam-nos à noção de ciclo de vida dos territórios; no entanto, a fluidez e os ritmos diferenciados traduzem, muitas vezes, inovações que dificultam a sobreposição de modelos já identificados e arrastam um grau de incerteza aumentado. No fim do século XIX e início do XX, Lisboa começou a modernizar-se, acompanhando as tendências europeias, iluminando as ruas, introduzindo o eléctrico, fazendo planos de melhoramento (século XIX) e de expansão urbanística (Av. Novas). No início do século os espaços de elite eram bem marcados: à volta do parque Eduardo VII, que estava nos limites da cidade construída, estendendo-se pelo Bairro Azul, São Sebastião, Av. Fontes Pereira de Melo e depois pelas restantes Av. Novas; identificando-se pelos inúmeros palacetes, edifícios de qualidade muito elevada, largura das ruas, etc. Na parte ocidental, o Restelo, a Ajuda e a Lapa destacavam-se também pela grandeza e qualidade das suas moradias Nos anos 30 e 40 desenvolveu-se o eixo da Av. Guerra Junqueira, Av. de Roma, Areeiro, Alvalade e Av. Gago Coutinho. Av. da República. 39 O livro de PAGE-WRIGHT, 1999, tem muito interesse nas temáticas da história e dos papéis desempenhados pelas elites em vários países europeus, elites que ocupam os lugares cimeiros da administração pública, mas afectadas pela evolução dos sistemas de governação e de recrutamento dos seus efectivos. 40 As elites política, económica e militar, pelo elos que têm entre elas, formam uma elite de poder única (Scott in SULEIMAN-MENDRAS,1997:10). 41 A esta teoria chamada piramidal (o conflito social gera-se entre as classes superior e as classes inferiores) opõe-se a teoria pluralista que defende a existência de várias fontes de poder e de várias morfologias no exercício dos diferentes poderes, que se distribuem independentemente das estruturas sociais; o conflito gera-se entre grupos de poder contrastante e não entre classes superiores e inferiores. ( DELLE DONNE, 1979:162) Maria Júlia Ferreira,

148 Nos anos 60 e 70 surgem núcleos um pouco por todo o lado na cidade, muitas vezes em áreas em que foram demolidos edifícios antigos com grande valor histórico e patrimonial (é a época do betão); a construção dominante destinava-se à classe média, surgindo áreas muito extensas como a Estrada de Benfica, Sete Rios, Alvalade. No final deste período aparecem as promoções da EPUL, primeiro no Restelo e depois nas Telheiras. Já nos anos 80 as Torres das Amoreiras marcam o espaço lisboeta elitista, assim como a expansão das Telheiras, que se vai adaptando cada vez mais a estratos sociais com maior poder de compra. Nos anos 90 desenvolvem-se espaços luxuosos em várias áreas de Lisboa como Campolide, Sete Rios, Olaias, Campo Grande, Amoreiras, Rato, aproveitando pequenas bolsas de terreno livre ou espaços revitalizados e reabilitados (Bairro Alto, Alfama, São Bento, Alcântara, etc.). Na viragem para o século XXI, é de destacar o Parque das Nações, acompanhando e, sobretudo, seguindo-se ao grande evento da Expo 98. Em resumo: as elites lisboetas acompanhavam geralmente a expansão da cidade distanciandose do centro, para as novas áreas de urbanização de qualidade, e segregando-se do resto da população na procura de melhores e maiores espaços e, por isso, mais caros e acessíveis a um grupo restrito. É um movimento centrífugo acompanhado de fluxos centrípetos tanto mais fortes quanto mais raro se torna o espaço livre urbano. Parte das elites que se fixaram nas periferias regressam à cidade, procurando novas formas urbanas que aproveitam valores históricos e arquitectónicos e/ou recriam ambientes campestres, juntando os benefícios da centralidade da cidade, a qualidade ambiental que advém da integração de espaços verdes nas áreas residenciais, e a qualidade da construção e da sua envolvente. Assim, surgem, dispersos pela cidade, espaços renovados e reabilitados que atraem as elites. Nos últimos anos, a cidade de Lisboa tem sido analisada do ponto de vista das classes sociais por várias entidades, nomeadamente o Instituto Nacional de Estatística, que apresentou uma tipologia socioeconómica da habitação nas Áreas Metropolitanas 42. Utilizou uma Metodologia que partia da análise global de cada Área Metropolitana, através da Análise factorial clássica (componentes principais seguida de análise de clusters sobre as componentes obtidas); chegava a 9 Classes: Sem relevância; 1 - Média-baixa urbana; 2 - Alta Vetusta; 3 - Zonas Degradadas; 4 - Manchas Rurais; 5 - Baixa Suburbana; 6 - Média Média; 7 - Média-Baixa ou Suburbana; 8 - Alta Proprietária; 9 - Famílias Recém-Constituídas. Fazia depois análises individualizadas para cada concelho, utilizando a análise em factores comuns e residuais. A cidade também tem sido estudada do ponto de vista das estruturas sociais por outras entidades, tendo nalguns casos, fins pragmáticos. A Marktest, visando os objectivos próprios da empresa, dividiu Lisboa em 7 Microzonas (1. Novas Elites, 2. Elites Clássicas, 3. Em Ascensão, 4. Consolidado, 5. Urbano Assalariado, 6. Urbano Antigo, 7. Urbano Popular). Autores isolados também se têm debruçado sobre as estruturas sociais de Lisboa ou da sua área, alguns com objectivos puramente académicos. Ao nível da região, pode-se destacar, pela proximidade na formação de base e pelos objectivos visados, o trabalho de MALHEIROS (2000) e ao nível da cidade de Lisboa, o de GASPAR (2002). 5. A mobilidade residencial das elites urbanas: o caso de Telheiras e Parque Expo, em Lisboa Para analisarmos o caso concreto de Lisboa, elaborámos um inquérito que foi aplicado de forma aleatória 43 através de uma amostra constituída por 150 elementos; a amostra foi estratificada em três segmentos de igual dimensão, sendo dois espaciais, Telheiras e Parque Expo e um de idades, a EPUL-Jovem nas Telheiras. Nesta análise, teremos em conta o comportamento conjunto dos três segmentos, uma vez que a EPUL-jovem não constitui um segmento separado espacialmente, ou seja, refere-se apenas à promoção da EPUL nas Telheiras destinada aos jovens. 42 INE: Projecto Habitação Sub-projecto 4): Tipologia socioeconómica da Habitação nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto 43 A recolha de informação foi feita de 19 a 30 de Junho de 2004 e nela colaboraram: Nuno Leitão, Sofia Pacheco, Ana Gouveia e Gilberto Gomes; na informatização e tratamento dos dados: Nuno Leitão. Maria Júlia Ferreira,

149 Falaremos, assim, em Telheiras e Parque Expo mas incluiremos os três segmentos. Vamos fazer uma abordagem exclusivamente descritiva, pois este trabalho é apenas o início da investigação. Temos em curso os cruzamentos entre variáveis, a diferenciação do comportamento das amostras e a procura de correlações, tratamentos que serão incluídos em próximas comunicações. Apresentaremos as características gerais dos inquiridos, os indicadores de pertença às elites urbanas, indicadores de mobilidade residencial real, indicadores de satisfação residencial e indicadores de mobilidade potencial que nos permitem adivinhar pressões para a mudança e tendências de evolução dos espaços urbanos. 5.1 Características gerais dos inquiridos 53,3% dos inquiridos eram do sexo feminino. A maioria tinha entre 31 e 40 anos (38%); o grupo entre os 21 e os 30 era o segundo mais representado; estes dois detinham em conjunto uma percentagem superior a 65. Este facto está relacionado com as características das áreas estudadas, que são de urbanização recente, marcadas por traços de modernidade e de qualidade, atraindo assim uma percentagem elevada de casais jovens. Quadro 2 Idades dos inquiridos Idades % Menos de 21 8,0 21 a 30 27,3 31 a 40 38,0 41 a 50 13,3 51 a 60 8,0 Mais de 60 5,3 Total 100 Quase 50% dos inquiridos já eram naturais da cidade de Lisboa, dispersando-se os outros casos por todo o país e mesmo pelo estrangeiro. As Regiões Autónomas têm um peso de 5%, maior do que o do conjunto dos concelhos dos distritos de Lisboa (excepto AML), Santarém e Setúbal (em que a proximidade poderia justificar a vinda para capital, e, concretamente, para estas áreas). O peso de 12% relativo aos inquiridos que nasceram fora do país deve-se em grande parte, ao dos indivíduos nascidos nas antigas colónias portuguesas, nomeadamente Angola e Moçambique. Não obstante, é de destacar o peso que a cidade de Lisboa tem no seu próprio dinamismo e também a sua capacidade de atracção, que se estende por todo o país, de estratos sociais com poder de compra elevado, a deduzir pelas características das áreas de residência em análise. Quadro 3 Naturalidade dos inquiridos Naturalidade dos inquiridos % Lisboa 50,0 AML (excepto Lisboa) 6,7 Outros concelhos dos distritos de Lisboa, Santarém e Setúbal 2,7 Outros concelhos do País (continente) 22,7 Regiões Autónomas 5,3 Fora do País 12,7 Total Indicadores do grupo social de pertença a) Locais de trabalho Maria Júlia Ferreira,

150 Metade dos inquiridos trabalhava em Lisboa, destacando-se, como locais de trabalho, as Avenidas Novas (18,4%); uma parte significativa deslocava-se para outros concelhos da Área Metropolitana (34,5%). Áreas de emprego qualificado, situadas nas periferias, atraíam uma parte importante desta população. Dos 34,5%, uma grande parte trabalhava no concelho de Oeiras; a dinâmica económica deste concelho e as suas características motivam a empregabilidade de quadros superiores, residentes numa vasta área que inclui a própria cidade de Lisboa. Quadro 4 Local de trabalho dos inquiridos Local de trabalho % Av. Novas 18,4 Periferia interna norte (Lumiar ) 9,2 Casco antigo 8,0 Lisboa Lisboa Ocidental 5,7 50,5 Lisboa oriental moderna 4,6 Lisboa oriental tradicional 2,3 Periferia interna Ocidental (Benfica ) 2,3 AML excepto Lisboa 34,5 Outros concelhos ex. AML 2,3 Fora do País 3,4 Não responde 9,2 Total 100 b) Habilitações literárias Dos 150 inquiridos mais de 61% tinham pelo menos o grau de licenciatura e 13% possuíam frequência universitária; o elevado nível de habilitações literárias traduz, de alguma forma, a classe de pertença; pouco mais de 1% declarava não saber ler nem escrever. Nos ascendentes, embora o grau de licenciatura fosse dominante no caso do pai, o mesmo não acontecia no da mãe, em que o 4º ano de escolaridade ultrapassava, em percentagem, o grau da licenciatura. Contudo são bem visíveis as diferenças que se produziram na passagem da geração mais antiga para a mais recente, ao nível da maior qualificação. Quadro 5 Habilitações literárias dos inquiridos e dos pais Habilitações literárias Inquirido (%) Pai (%) Mãe (%) Não sabe ler nem escrever 1,3 4,0 4,7 4º ano 2,0 24,0 27,3 6º ano 2,0 4,7 2,0 9º ano 7,3 6,7 14,0 12º ano 10, ,3 Curso médio/industrial 2,7 9,3 4,0 Frequência universitária 12,7 4,0 8,7 Licenciatura ou mais 61,3 34,0 24,7 Não sabe/não responde ,3 Total c) Morada anterior Cerca de 60% dos inquiridos provinham de uma morada anterior já em Lisboa e quase 40% vinham do exterior da cidade de Lisboa. Dentro da cidade de Lisboa as freguesias do Lumiar, Benfica, Alvalade e Olivais representavam cerca de 55% das últimas residências. Fora de Lisboa, as áreas de origem dispersam-se por todo o território do Continente e Regiões Maria Júlia Ferreira,

151 Autónomas, aparecendo mesmo o estrangeiro. Agrupando as freguesias de Lisboa 44 concelhos do país, a distribuição percentual seria a seguinte. e os Quadro 6 Local da residência anterior dos inquiridos d) Profissão Residência anterior Total (%) Casco Antigo de Lisboa 10,7 Lisboa Ocidental 2,7 Avenidas Novas 9,3 Cidade de Lisboa Lisboa Oriental Tradicional 4,7 Periferia Interna Ocidental 8,0 Periferia interna norte 22,7 Lisboa Oriental Moderna 2,7 AML excepto Lisboa 20,0 Outros Concelhos (Lx, Sant, Set.) 6,0 Fora da Cidade de Lisboa Outros Concelhos do Continente 7,3 Regiões Autónomas 3,3 Fora do País 2,7 Total respostas, em Lisboa 60,7 Total de respostas, fora de Lisboa 39,3 Total geral 100 No inquérito a pergunta sobre a profissão não foi acompanhada de outra sobre o regime em que ela se exercia, dificultando ou, pelo menos, fragilizando as possíveis conclusões. Como aproximação, e na base de pressupostos pouco suportados, mais de 60% dos inquiridos exerciam profissões muitas vezes identificadas como liberais pela maior visibilidade que este regime nelas assume; funciona de alguma forma como um indicador do nível socio-económico dos inquiridos, da classe potencial de pertença e não no sentido rigoroso do termo. Quadro 7 Profissões dos inquiridos Profissões % Profissionais liberais e similares 63,3 Quadros médios 10,7 Reformados 4,7 Estudantes 14,0 Domésticas 0,7 Desempregados 2,0 Outras 1,3 Não sabe/não responde 3,3 Total 100 f) Tipo de habitação anterior e actual A maioria dos inquiridos já morava num apartamento (cerca de dois terços) e sobretudo em apartamentos altos (superior ao 2º andar); isto testemunha a proveniência largamente urbana e justifica a opção por estas duas áreas, em que são quase exclusivos os edifícios de apartamentos e a cércea é em geral mais alta do que a média no conjunto da cidade de Lisboa. Muitos tinham vivido em moradias 44 Casco Antigo (centrado na Baixa), Lisboa Ocidental (Ajuda, Belém e S. Francisco Xavier), Avenidas Novas (centradas na freguesia de Nossa senhora de Fátima), Lisboa oriental Tradicional (Chelas e envolvente), Periferia Interna Ocidental (Benfica, S. Domingos e Carnide), Periferia Interna norte (Lumiar/Telheiras, Ameixoeira e Charneca), Lisboa Oriental Moderna (Olivais/Parque Expo). Maria Júlia Ferreira,

152 mas a vinda para Lisboa proporciona a vivência sobretudo em apartamento e, por isso, a percentagem diminuiu de 22% para pouco mais de 3. Quadro 8 Tipo de habitação Habitação anterior Habitação actual Moradia 22 3,3 Apart. Andar baixo 32 Apart. Andar alto ,7 Outros 2 -- Total g) Verticalização da habitação actual O aumento da percentagem dos que vivem em apartamentos é também acompanhado pela verticalização da habitação; ou seja, aumenta também a altura dos edifícios de habitação, embora dentro de valores relativamente baixos; dominam os de 5, 6 e 7 pisos; os inquiridos que moravam em edifícios com mais de 10 pisos acima do solo representavam apenas 6%. Esta verticalização pode ser vista como um indicador de modernidade pois as cidades actuais não oferecem grandes oportunidades de nova habitação unifamiliar e, no caso de Lisboa, estamos a falar de alturas muito moderadas e não das famosas torres que marcam as cidades globais do mundo actual. Quadro 9 Número de pisos, acima do solo, dos edifícios de residência dos inquiridos Nº pisos Total % 4,0 0,7 2,0 4,0 18,7 18,0 22,7 10,0 14,0 0,7 3,3 2,0 100 h) Dimensão da habitação anterior e actual, em número de assoalhadas A habitação anterior era em geral de dimensão média (4 a 6 assoalhadas) havendo no entanto mais de 7% que usufruíam de uma casa com mais de 7 assoalhadas. Nas habitações de residência actual, dominam as casas como 3 ou menos assoalhadas (54 %). Quadro 10 Dimensão das habitações em número de assoalhadas Dimensão das habitações Habitação anterior (%) Habitação actual (%) Casa pequena (1 a 3) 30,9 54,0 Casa média (4 a 6) 61,9 46,0 Casa grande (mais de 6) 7,2 -- Total i) Facilidades associadas à unidade de habitação actual Devido às características das áreas onde se aplicou intencionalmente o inquérito, há uma grande percentagem que dispõe, no próprio edifício, de facilidades, nomeadamente de comércio ou serviços (55%) e de parqueamento (81%). Quadro 11 Facilidades associadas às habitações Comércio/serviços no edifício (%) Parqueamento no edifício (%) Sim 55,3 80,7 Não 44,7 10,3 Total Maria Júlia Ferreira,

153 5.3 Indicadores da mobilidade residencial real 45 A mobilidade residencial destes grupos sociais é, em geral, elevada, pressuposto que é o ponto de partida para esta investigação. Vamos analisar alguns indicadores para podermos reflectir sobre esta temática. a) Tempo de permanência na actual residência Dado que o inquérito foi aplicado em áreas urbanas novas ou relativamente novas, o tempo de permanência no local de residência actual era muito baixo, quase 70% viviam nessa morada entre 1 a 5 anos. Pretendia-se uma amostra com esta característica porque os motivos que levaram à escolha ainda são recentes, a homogeneidade da população é mais forte as identidade com o local são mais fracas. No caso de Telheiras há inquiridos que aí residem há mais de 11 anos, o que é natural pela data de início da urbanização da área. Quadro 12 Tempo de permanência na actual residência Tempo de residência % Menos de 1 ano 10,0 1 a 5 anos 70,7 6 a 10 8,0 11 a 20 8,0 Mais de 20 3,3 Total 100 b) Número de locais onde o inquirido já residiu (excluindo a actual) Na amostra, agora constituída apenas por 100 elementos, quase 40% já teve duas moradas antes desta, 23% tiveram 3, 5% tiveram 4 e 2% tiveram 5, traduzindo o elevado grau de mobilidade deste grupo social. Quadro 13 Número de locais de residência anterior c) Razões da vinda para esta localização Nº de locais % Total 100 As razões apresentadas para a escolha desta localização prendiam-se, em primeiro lugar, com a qualidade urbana da área, seguindo-se a proximidade do emprego e a constituição da família. Se agregarmos as características da área (qualidade urbana, localização na cidade, centralidade, modernidade, vistas e reabilitação da área de residência anterior), as razões urbanísticas representariam 133 referências dentro das 272 apresentadas, ou seja 49%. As razões familiares (constituição da família, proximidade de familiares, autonomia pessoal) tinham um peso de 19%; a habitação, em sentido restrito (preço, dimensão, regime de propriedade), não passava os 5% no conjunto das razões indicadas. 45 Excluímos o segmento da amostra EPUL-Jovem, por ser constituído por elementos muito jovens o que afecta algumas variáveis da mobilidade. Maria Júlia Ferreira,

154 Quadro 14 Razões da vinda para esta localização Razões da vinda para esta morada Nº de referências % Qualidade urbana da área Proximidade do emprego Constituição de família Localização na cidade Existência de um concurso 19 7 Centralidade da área 18 7 Modernidade 15 6 Proximidade de Equipamentos 13 5 Proximidade de familiares 12 4 Vista para o rio 11 4 Autonomia pessoal 8 3 Preço da habitação 6 2 Casa maior e nova 6 2 Acessibilidades 5 2 Reabilitação da área onde residia antes 4 1 Vontade de ter casa própria 3 1 Total c) A decisão sobre a escolha da nova habitação O momento da decisão da escolha do novo local de residência é importante mas também quem toma a iniciativa e quem decide efectivamente. Na amostra domina a situação em que a decisão é uma escolha comum do próprio e do parceiro, quase ao mesmo nível do caso em que o entrevistado admite ter tido um papel preponderante na decisão. Como nas Telheiras a promoção é da EPUL, Empresa pública de Urbanização de Lisboa, é natural que a existência de um concurso condiciona a tomada de decisão, evidenciando-se nos resultados. Quadro 15 Elemento preponderante na decisão da escolha da nova habitação Quem decidiu a escolha % Próprio e parceiro 37,2 Próprio 36,5 Câmara /outra entidade (concursos) 11,5 Pais 9,5 Futuro parceiro 5,4 Total 100 d) Locais de residência alternativos ao escolhido (%) Os locais que se ofereciam como alternativos, no momento da escolha, eram diversificados e traduzem, de alguma forma, os locais que têm elevado grau de desejabilidade ; destacam-se Belém e Lumiar (cada um com 25% na cidade de Lisboa, ou 15,7 no conjunto das referências); em terceiro lugar mas muito distanciada, situava-se a Baixa-Chiado-Centro de Lisboa. Os concelhos limítrofes, da Área Metropolitana, atraíam muito mais do que Belém e Lumiar (29,4% do total) embora a cidade de Lisboa represente 63% das preferências alternativas à actual residência. Maria Júlia Ferreira,

155 Quadro 16 Locais alternativos no momento da escolha Parcial (%) Total (%) Belém 25 15,7 Lumiar 25 15,7 Baixa-Chiado-Centro de Lisboa 12,5 7,8 Graça 9,4 5,9 Benfica 6,3 3,9 Alta de Lisboa 6,3 3,9 Parque das nações 6,3 3,9 Praça do Chile 3,1 2,0 Santa Maria dos Olivais 3,1 2,0 Penha de França 3,1 2,0 Total de Lisboa ,7 AML excepto Lisboa 78,9 29,4 Outros concelhos do País 15,8 5,9 Fora do País 5,3 2,0 Total fora de Lisboa ,3 Total geral Indicadores de satisfação/insatisfação residencial A decisão de mudar de residência depende do grau de satisfação residencial, assim avaliámos os aspectos positivos em primeiro lugar, pois são aqueles que mais podem fixar a população, retardando o momento da decisão de mudar. Analisaremos, depois, os indicadores de insatisfação que apoiam e reforçam a vontade de mudar. a) Aspectos positivos atribuídos às áreas de residência actual Os aspectos positivos são os que conferem uma identidade mais forte, proporcionando satisfação residencial, gosto de viver nessas áreas. Mais de 45% dos inquiridos referem a centralidade como o primeiro aspecto positivo; no conjunto das três citações ela apresenta um peso percentual de 38,2% Imediatamente a seguir, a qualidade urbanística e de construção das habitações é colocada em primeira posição, como aspecto positivo, por 25,3% dos inquiridos; ela tem um peso geral superior a 23%. Cerca de 14% dos inquiridos referem ainda a paisagem agradável do local onde vivem como sendo um aspecto positivo, indicada em primeiro lugar por cerca de 9%. A segurança e a tranquilidade representam respectivamente 11% na primeira citação e 9,4% no total. Quadro 17 Aspectos positivos atribuídos às áreas de residência actual Aspectos positivos/ satisfação residencial 1ª Citação (%) 2ªcitação (%) 3ª Citação (%) Total ponderado 46 Centralidade 45,2 29,0 14,8 38,2 Qualidade urbanística e de construção 25,3 20,2 18,0 23,3 Paisagem urbana agradável 8,9 13,7 24,6 11,4 Segurança e tranquilidade 11,0 8,1 8,2 9,9 Serviços/equipamentos/transportes existentes 2,7 9,7 13,1 5,5 Modernidade 4,8 3,2 1,6 4,1 Bom preço de aquisição 1,4 6,5 4,9 3,2 Boa luminosidade 0,7 3,2 9,8 2,1 Habitação maior e nova -- 5,6 3,3 2,0 Parqueamento no edifício ,6 0,1 Total Factores ponderadores: 1ª citação multiplicada por 10, a 2º por 5 e a 3ª por 1. Maria Júlia Ferreira,

156 Se atendêssemos apenas ao primeiro aspecto positivo referido, a segurança e tranquilidade seriam mais valorizadas do que a paisagem urbana e a modernidade mais do que as facilidades existentes. As maiores diferenças encontram-se nos aspectos citados em terceira opção, em que a paisagem urbana apresenta a percentagem mais elevada; resulta dos outros aspectos já terem sido destacados na 1ª ou 2ª opção. b) Aspectos negativos atribuídos às áreas de residência actual Os aspectos negativos traduzem, de alguma forma insatisfação, e, por isso, são potenciadores da propensão a mudar. Existe uma maior dispersão de respostas nos aspectos negativos do que nos aspectos positivos. Assim, cerca de 21% dos inquiridos indicam o ruído e/ou o tráfego como o principal aspecto negativo do local onde residem, e 24,3% referem-no em primeiro lugar. 16,2% apontam a falta de equipamentos/espaços de lazer/transportes/serviços como razão principal, ainda que apenas 11,3% refiram este aspecto em primeira escolha. A falta de limpeza e espaços mal cuidados, a insegurança, a fraca de qualidade das habitações e a densidade elevada apresentam percentagens totais que variam entre 13,3% e 10,4%. As dimensões da casa, o preço elevado, a falta de estacionamentos e os maus acessos foram referidos mas com pesos totais que se situavam entre os 4,8 e 3,1% Quadro 18 Aspectos negativos atribuídos às áreas de residência actual Aspectos negativos/insatisfação residencial 1ª Citação 2ª Citação 3ª Citação Total ponderado 47 Ruído e/ou muito tráfego 24,3 16,9 11,5 21,2 Falta de equipamentos /espaços de lazer /transportes /serviços 11,3 23,9 26,9 16,2 Falta de limpeza /espaços mal cuidados 13,0 14,1 11,5 13,3 Insegurança 12,2 14,1 11,5 12,8 Falta qualidade habitações 13,9 8,5 11,3 Densidade elevada 12,2 4,2 23,1 10,4 Casa pequena 7,0 1,4 -- 4,8 Habitações caras 2,6 5,6 3,8 3,6 Falta de estacionamentos 1,7 5,6 7,7 3,3 Maus acessos 1,7 5,6 3,8 3,1 Total c) Locais de residência preferíveis em relação ao actual Numa perspectiva de futura mudança, inquirimos sobre os locais desejados; a pergunta parecia estar muito próxima dos locais alternativos à escolha da actual residência mas não se sobrepunha pois os factores e as circunstâncias terão, por certo, mudado desde o momento da decisão da actual morada; a pergunta incide sobre uma nova opção, mesmo que adiada num tempo de médio ou longo prazo. 54% continua a preferir a cidade de Lisboa para uma futura mudança de residência, 18% escolheria os concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (excepto Lisboa) e 17% optaria por áreas dispersas pelo país. 47 Idem com anterior Maria Júlia Ferreira,

157 Quadro 19 Locais que se apresentam preferíveis ao de residência actual d) Insatisfação com a unidade de habitação Local preferível ao actual % Cidade de Lisboa 54 AML excepto Lisboa 18 Outros concelhos dos distritos de Lisboa, 1 Santarém e Setúbal Outros concelhos do país (continente) 17 Regiões autónomas 1 Fora do País 5 Não sabe/não responde 4 Total 100 A insatisfação tem a ver não só com a área de residência mas também com a habitação, em sentido restrito, por isso inquirimos sobre o tipo de casa desejada. 41% desejaria viver numa moradia no campo ou na praia (conjugando com respostas anteriores: como seria possível se preferem Lisboa?); um apartamento em andar alto representava 28% das respostas; se a opção é para a cidade de Lisboa, então opta-se por um andar com vista; é uma lógica que conjuga o desejo, as utopias individuais, com factores já pragmáticos; porquê desejar uma moradia na praia, se prefiro Lisboa? Quadro 20 Tipo de casa preferível em relação à actual Casa preferível em relação à actual % Moradia no campo e/ou praia 41,0 Apartamento Alto 28,1 Moradia na cidade 25,2 Apartamento baixo 3,6 Não sabe/não responde 1,4 Condomínio privado 0,7 Total Indiciadores da mobilidade potencial Naturalmente que a decisão de mudar passa pelo desejo ou não de o fazer, assim inquirimos se pensa ou não mudar. Embora mais de 59% dissesse que não pensam mudar, mais de 30% responderam que o pensam fazer nos próximos 5 anos e mais de 15% num horizonte mais afastado Há assim um potencial de mobilidade que não se esgota nas boas condições urbanísticas das duas áreas onde foram aplicados os inquéritos. Quadro 21 Propensão para a mudança no futuro Pensa mudar de casa % Não 53,7 Sim nos próximos 5 anos 30,9 Sim mas depois de 5 anos 14,8 Não sabe/ não responde 0,7 Total 100 Associamos a pergunta anterior a uma outra que inquiria sobre o local para onde pensava ir residir quando mudasse; a pergunta parece muito próxima de outras anteriores mas pretendia que manifestasse os desejos, as utopias mas também algum grau de realismo, ou seja, neste momento a decisão seria exactamente por um dado sítio que se identifica. Dado o grau de ligação com a pergunta anterior, a proximidade com outras e o pragmatismo visado, responderam menos de 60% dos Maria Júlia Ferreira,

158 inquiridos, destacando-se mais uma vez a cidade de Lisboa como local da próxima residência. Os quase 16% de inquiridos que desejam ir residir para outros concelhos do país são, na sua maioria, naturais desses mesmos concelhos, num movimento de retorno à sua terra natal. Quadro 22 Local escolhido para uma futura mudança Para onde pensa ir residir % Lisboa 23,2 AML, excepto Lisboa 4,3 Outros concelhos dos distritos de Lisboa, Santarém e Setúbal 1,4 Outros concelhos do País (continente) 15,9 Regiões Autónomas 7,2 Fora do País 4,3 Não sabe/não responde 43,5 Total 100 As razões apresentadas para uma futura mudança, ou seja, para o reforço da mobilidade residencial que parece caracterizar este estrato social, prendem-se sobretudo com as pequenas dimensões das casas (36%) e insatisfação com as áreas de residência actuais (22%), muitas das quais já foram referidas nos aspectos negativos atrás analisados. Há ainda uma percentagem significativa de 13% dos inquiridos que alegam motivos profissionais para justificarem a mudança de habitação. Cerca de 10% refere locais associando-lhe maior qualidade de vida, apesar das infra-estruturas e equipamentos que existem nos locais da actual residência. Quadro 23 Razões para a futura mudança de residência Porque pretende mudar % Para casa maior e/ou nova 36,4 Por insatisfação com o local actual 22,1 Razões profissionais 13,0 Para local com mais qualidade de vida 9,1 Independência dos pais 9,1 Para lugar mais tranquilo 6,5 Gosta mais de outro local do que do actual 2,6 Razões familiares 1,3 Total Conclusões: o papel das elites urbanas nas actuais reconfigurações dos territórios As cidades encontram-se hoje em profunda transformação, a que alguns chamam crise. As lógicas sociológica, geográfica e económica que explicavam a sua estrutura e funcionamento mudaram e elas vão-se adaptando às novas condições. Está em curso um fraccionamento das estruturas tradicionais, não há zonas concêntricas nem sectores triangulares nem conjuntos multipolares; há ilhas mais ou menos autónomas que foram buscar elementos à ideia de bairro tradicional mas tendem a fechar-se, demarcando o seu território. São áreas qualificadas (renovadas ou reabilitadas) só acessíveis a uma classe social com poder de compra elevado, ou seja às actuais elites urbanas, que comandam assim o desenvolvimento de um modelo que conjuga princípios que eram mais característicos das cidades americanas (áreas sociais muito homogéneas) e princípios mais típicos das cidades europeias (que mantiveram uma parte das elites urbanas no interior da cidade). As Telheiras e o Parque EXPO têm na base intervenções públicas importantes, no primeiro caso e, sobretudo no início, direccionada para as classes médias, nos dois tendo uma óptica de mercado privado, virada para estratos solventes que podem rentabilizar os custos da urbanização. Nas Telheiras, as condições associadas à promoção, à forma de acesso e aos preços praticados estimularam a atracção de profissionais liberais e de professores que ainda marcam, em grande parte, os grupos Maria Júlia Ferreira,

159 residentes. O Parque EXPO era uma aposta na cidade qualificada, aberta a todos. Mantém ainda essa característica para os equipamentos construídos para a EXPO98 mas as novas urbanizações vão se fechando progressivamente; aproveitou o símbolo EXPO para criar uma imagem de área urbana moderna e de qualidade elevada mas está a segmentar espacialmente os grupos sociais. As duas áreas são espaços de elites pela qualidade urbana e pelas características dos residentes. Os inquiridos pertencem a grupos privilegiados do ponto de vista social e económico e têm mobilidade residencial elevada, quer real, quer potencial, como vimos pelos dados apresentados. Manifestam, no entanto, uma margem de insatisfação residencial que potencia novas mudanças apesar de disporem de condições consideradas, em geral, boas ou excelentes no contexto da cidade. O poder de compra permite-lhes continuar a sonhar com a casa ideal e o lugar ideal, como uma possibilidade de nova aproximação às utopias individuais e sociais. As elites vão ocupando as novas áreas urbanas de qualidade, deixando para estratos mais baixos as da anterior residência, originando uma verdadeira onda de invasão-sucessão, na terminologia da escola de Chicago. Várias áreas de Lisboa, dos concelhos limítrofes e do resto do País, sofrem os efeitos do esvaziamento das classes sociais altas que aí residiam e que mudaram para as novas urbanizações. Esta recomposição, dos estratos sociais nos espaços urbanizados, acompanha e, ao mesmo tempo, leva ao que hoje designamos por reconfigurações territoriais. As elites urbanas têm um papel importante nas reconfigurações territoriais pela mobilidade residencial que as caracteriza, fruto do poder de compra de que dispõem, mas também da procura de afirmação do estatuto que detêm ou pretendem deter. Não se trata, no entanto, de uma permanência definitiva nestas áreas pois as inovações urbanas, o marketing imobiliário e as lógicas do crescimento urbano fazem com que este movimento, estas ondas de invasão-sucessão, se processem ao longo do tempo, para outras novas áreas. As dinâmicas urbanas geram-se, em grande parte, nestes espaços elitistas, estendendo depois os seus efeitos a toda a cidade, às suas periferias e a todo o país. As elites que aí fixam residência empobrecem, de certa forma, as áreas que abandonaram. O ciclo de desenvolvimento dos territórios tem aí uma base explicativa e entender o território para antever e programar o seu futuro exige o estudo e a análise das tendências de mudança, da propensão a mudar, dos locais atractivos ou repulsivos e das razões de satisfação ou insatisfação residencial. Acreditamos na existência de uma forte correlação (cuja comprovação estatística ficará para uma próxima comunicação) entre o estatuto do grupo social envolvido, com destaque para as elites, o grau de mobilidade residencial e as reconfigurações territoriais resultantes, neste caso na cidade de Lisboa. Pensar a cidade é ter em conta estes factores de mudança que passam pelo papel dos diferentes actores, em que se destaca o das elites urbanas. Referências Bibliográficas AIDELF, Association Internationale des Démographes de Langue Française, 1993, Croissance démographique et urbanisation. Politiques de peuplement et aménagement du territoire (séminaire international de Rabat, mai 1990), AIDELF nº 5, PUF, Paris, BONVALET, Catherine, FRIBOURG, Anne-Maie, (org), 1990, Stratégies Résidentielles (seminário realizado em Paris, 1988), INED/ Plan Construction et Architecture, MELTM, Paris,1990. BRUN, Jacques, 1988, Mobilité Résidentielle et Stratégies de localisations in BONVALE-FRIBOURG, 1990: CRIBIER, François; DUFFAU, Marie-Luce; KYCH, Alexandre, 1988, Stratégie Résidentielle et satatut d occupation, in BONVALET-FRIBOURG, DELLE DONNE, Marcella, 1979, Teorias sobre a cidade, Edições 70, Lisboa. GASPAR, Lucília, 2002, Novas formas de segregação sócio-espacial em Lisboa, Dissertação de mestrado em Geografia e Planeamento Regional/Gestão do Território, FCSH, UNL, Lisboa. FERREIRA, Mª Júlia, NUNES, Mª Paula, ROSA, Luis Vassalo, DELGADO, Ana, 2001, Condomínios Habitacionais Fechados: utopias e realidades, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional, Série Estudos nº 4, Lisboa. INE, 2002, Projecto Habitação Sub-projecto 4): Tipologia socioeconómica da Habitação nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto. MAISON, Dominique, 1990, Rapport à l espace urbain et stratégies résidentielles in AIDELF, Association Internationale des Démographes de Langue Française, MALHEIROS, J. M., 2000, Segregação socioétnica na região metropolitana de Lisboa in Sociedade e Território, nº 30:31-36 MARTINS, Maria João, Formas de vida das elites in História, Lisboa, Ano XX, nova série, nº 1 Abril, 1998: MERLIN, Pierre; CHOAY, Françoise, 1988, Mobilité résidentielle in Dictionnaire de l Urbanisme e de l Aménagement, PUF, Paris. Maria Júlia Ferreira,

160 PAGE, Edward C. WRIGHT, Vincent, (edit.), 1999, Bureaucratic Élites in Western European States. A comparative Analysis of Top Officials, Oxford University Press. ROSSI, P. H.,1955, Why Families Move. A study in the social psychology of urban residential mobility. Glencoe,The Free Press. SCOTT, John, 1997, Les élites dans la sociologie anglo-saxonne in SULEIMAN, Ezra; MENDRAS, Henri, (Dir.)1997, Le recrutement des élites en Europe, La Découverte, col Recherches, Paris. SERRA, Nuno, 2002, Estado, Território e Estratégias de Habitação, Quarteto, Coimbra. SULEIMAN, Ezra; MENDRAS, Henri, (Dir.)1997, Le recrutement des élites en Europe, La Découverte, col Recherches, Paris. Maria Júlia Ferreira,

161 I.3. Habitação para jovens: uma estratégia de regeneração urbana no contexto da sustentabilidade social (Texto publicado nas Actas do Congresso PLURIS) HABITAÇÃO PARA JOVENS: UMA ESTRATÉGIA DE REGENERAÇÃO URBANA NO CONTEXTO DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL Maria Júlia Ferreira egeo FCSH/ UNL Justificação do tema Facto: forte envelhecimento da população e das estruturas urbanas no centro das cidades. princípios de sustentabilidade urbana: dimensão social estratégias de rejuvenescimento habitação para jovens programas de apoio aos jovens - instrumentos numa estratégia de rejuvenescimento e de regeneração urbana visando a sustentabilidade social das cidades. Maria Júlia Ferreira 2 Maria Júlia Ferreira,

162 Pressupostos da reflexão i) a melhoria das condições e qualidade de vida dos jovens exige o aperfeiçoamento dos mecanismos do apoio do Estado ii) o contexto actual de neo-liberalismo acentua as dificuldades dos jovens no campo da habitação e no da integração no mundo do trabalho iii) a sustentabilidade social das cidades passa pela atracção e fixação deste grupo etário nos núcleos históricos. Maria Júlia Ferreira 3 Delimitação do objecto - ser jovem : Em geral, aquele(a) que tem entre 18 e 30 anos até 31 anos (Espírito Santo e Best), até 35 anos (Caixa Galicia), até 36 (pacote triplex da CGD) até 40 anos ( Câmara Municipal de Lisboa) Etc. etc.. Apoio aos jovens ou estratégia de venda, de alargamento da procura? Maria Júlia Ferreira 4 Maria Júlia Ferreira,

163 Importância da população jovem, em Portugal, por regiões, em 2001 Pop Total Pop %15-24/ Pop total %15-24/ Total pop Norte ,1 37,7 Centro ,8 16,7 Lisboa e Vale Tejo ,6 32,0 Alentejo ,0 4,0 Algarve ,1 3,5 R.A Açores ,0 2,8 R A Madeira ,8 2,6 Continente ,2 94,6 Portugal ,3 100,0 Maria Júlia Ferreira 5 habitação para jovens e programa local de habitação Atribuições e competências em matéria de habitação para jovens: Administração central e local Avaliação das carências habitacionais, previsão da oferta, programação das necessidades de construção, promoção. O Decreto-Lei nº 797/76 de 6 de Novembro O segmento da habitação para jovens : Estratégias nos Planos territoriais e planos sectoriais: o PDM. Programa Local de Habitação? - mais fácil apoiar os jovens? INH: Plano Estratégico Nacional de Habitação e Observatório da Habitação mais igualdade no tratamento do problema? Maria Júlia Ferreira 6 Maria Júlia Ferreira,

164 O Direito à Habitação envolve Para além do acesso ao bem, neste caso, a habitação: Condições de conforto, privacidade etc. que a Constituição consagra; o direito de escolher - possibilidade de optar: localização e regimes de propriedade (dentro de constrangimentos); o respeito pela diversidade: etnicidade, língua, raça, qualificação profissional, idade, sexualidade, estatuto parental e género. Maria Júlia Ferreira 7 Objectivos gerais da política decorrentes do Direito dos jovens à habitação Assegurar aos jovens recursos suficientes para exercerem o seu direito à habitação Assegurar a possibilidade da transição dos jovens para uma habitação independente. Diferenciar as medidas de acordo com as diferentes capacidades e limitações dos jovens: quase solventes, pré-solventes e insolventes. Definir uma estratégia nacional de habitação para os jovens. Disponibilizar, directa ou indirectamente, um leque de alternativas. Maria Júlia Ferreira 8 Maria Júlia Ferreira,

165 A Habitação para jovens deve: Equacionar as carências habitacionais dos jovens e o esforço de solidariedade entre gerações Mobilizar as potencialidades dos jovens, o espírito de iniciativa, a capacidade de criação de novas soluções e e gerar rendimentos futuros; Ter em conta a especificidade da situação familiar dos jovens, a reduzida dimensão inicial da família Ter em conta a precariedade da situação de emprego e dos níveis de rendimentos de grande parte de jovens, em particular dos casais jovens Ter em conta o défice de residências para os estudantes deslocados do seu meio familiar Maria Júlia Ferreira 9 Habitação para jovens - Medidas de política de habitação Definir uma taxa de esforço compatível com os rendimentos dos jovens Incentivar as entidades bancárias para a criação de facilidades ao crédito para jovens Incentivar a criação de residências colectivas para estudantes deslocados Desenvolver formas de crédito bonificado ou incentivos para aquisição de habitação por jovens em áreas em reabilitação urbana Incentivar planos de poupança-habitação a favor dos jovens Incentivar as empresas para o desenvolvimento de fundos de apoio aos jovens trabalhadores para a compra de habitação Definir áreas a reabilitar para salvaguardar o património paisagístico e urbanístico criando opções diversificadas para a fixação de jovens no centro das cidades Apoiar a auto-construção ou a auto recuperação do parque público por jovens Promover habitações de baixa tipologia em áreas acessíveis aos locais de estudo Destinar aos jovens uma parte das habitações promovidas pelo sector público ou cooperativo. Maria Júlia Ferreira 10 Maria Júlia Ferreira,

166 Habitação para jovens - Efeitos esperados Revitalização de áreas em declínio, socialmente deprimidas; Novas preocupações expressas nas políticas públicas direccionadas para os jovens; Rejuvenescimento da população urbana; Reabilitação do parque habitacional sobretudo nos núcleos históricos; Recuperação da ideia de bairro e dos elos de vizinhança; Maior dinamismo social e económico; Desenvolvimento de novas actividades ligadas ao comércio, serviços e lazer; Maior animação cultural; Maior preocupação com a imagem urbana, arranjo de espaços exteriores, de espaços verdes e zonas pedonais. Maria Júlia Ferreira 11 A descohabitação juvenil: Razões porque ficam mais tempo em casa dos pais (EU-15) NS/NR Outros motivos Não saem mais tarde do que dantes Pais necessitam de ajuda financeira Alugar a meias jánão é tão comum Falta de casas Pais menos severos Saem de casa mais tarde do que antigamente Poupar para começar bem Conforto sem responsabilidades Falta de meios para viverem sozinhos % Fonte: Direcção Geral da Educação e da Cultura da Comissão Europeia, Maria Júlia Ferreira 12 Maria Júlia Ferreira,

167 Habitação para jovens: diversidade de segmentos nas políticas de habitação Alojamento temporário e colectivo, por arrendamento, para jovens: estudantes ou não; universitários ou não. Repúblicas, residências, lares Habitação própria, adquirida em concursos gerais de habitação social Habitação própria, adquirida na promoção pública para jovens: EPUL JOVEM; Arcosjovem, Bragança Jovem, Habitação Jovem: Matosinhos; Oeiras; Arcos de Valdevez, etc. Habitação própria adquirida a promotores privados (apoiada ou não SPRU e outras empresas imobiliárias), Habitação própria obtida através de Cooperativas de habitação, particularmente as destinadas aos jovens Habitação arrendada com apoios ou Incentivos ao Arrendamento Jovem Maria Júlia Ferreira 13 Algumas promoções públicas: EPUL Jovem (CM Lisboa) Graça 2 - Quinta dos Barros 3 - Alto do Lumiar 3 Em curso: 4 Telheiras XXI 5 e 6 - Praça de Entrecampos 5 e 6 Maria Júlia Ferreira 14 Maria Júlia Ferreira,

168 Habitação para jovens: Promoções privadas: 3 da SPRU e 2 Les Lauréades, em Paris: Davout e La Défense Boulevard Davout e La Défense Maria Júlia Ferreira 15 Habitação para jovens: medidas nas estratégias de intervenção pública na regeneração das cidades Outras Medidas concretas majorações a abater no IRS, abolição do IMT para jovens (sobre transacções) ou facilidades na isenção do IMI reforço do Crédito Jovem (bonificado reformulado?) IAJ especial para os centros das cidades Subsídios para a fixação outras Maria Júlia Ferreira 16 Maria Júlia Ferreira,

169 Estratégias de intervenção pública na promoção da sustentabilidade social das cidades Rejuvenescimento dos centros das cidades Medidas diversificadas: Mobilidade dos idosos Incentivos à fixação de jovens Promoção de habitação para jovens Reabilitação do edificado destinando-o aos jovens Mix social que garanta a sustentabilidade social: privados/mercado ou Estado? Substituição natural das gerações? Estimular a antecipação dessa substituição? Estão os jovens dispostos a regressar ao centro? O centro oferece condições adequadas à vida moderna? Papel das SRU nessa modernização/rejuvenescimento? Outras Medidas concretas Maria Júlia Ferreira 17 Habitação para jovens no centro das cidades Instrumento para: contrariar o fim das Cidades (Lauwe,1982), contrariar a desertificação do centro (Portas,2005), desencadear a regeneração das cidades, promover a Cidade Emergente (Carvalho,2003) promover a sustentabilidade social das cidades. Maria Júlia Ferreira 18 Maria Júlia Ferreira,

170 Habitação para jovens: uma estratégia de regeneração urbana no contexto da sustentabilidade social? O discurso e a prática O IMI nos núcleos históricos: casas muito antigas e sem obras de recuperação: de 12,0 Euros (2003) para 210,00 e muito mais(2004),continua a subir Em concelhos periféricos moradias com 10 anos pagam metade Os concursos habitaçãojovem : para jovens ricos? para todos os jovens ou hierarquizá-los? problemas nos dados do acesso ao concurso e no apuramento T0 muito pequenos só enquanto estudantes restantes quase a preço de mercado entradas e reforços: fora do alcance da maioria dos jovens O IAJ problemas; suspenso para remodelação e remodelado; eficácia? IMT (imposto municipal de transacção) aposta de algumas autarquias Maria Júlia Ferreira 19 Habitação para jovens: uma estratégia de regeneração urbana no contexto da sustentabilidade social? Para reflexão: Políticas para jovens: são discriminatórias? Deixar ao mercado a discriminação dos segmentos da população? Esperar efeitos do certificado de residencialidade/ qualidade do mercado privado de arrendamento: preço e qualidade? (novo RAU) Os jovens gostariam de viver no centro? E a classe média, em geral? Que centro? degradado, sem condições para a mobilidade moderna? Ou recuperado? modernizado? A preços acessíveis. Estratégia de apoio aos jovens? de venda? De obtenção de ajudas para ricos? Estratégia de regeneração e de sustentabilidade social das cidades? de marketing? Maria Júlia Ferreira 20 Maria Júlia Ferreira,

171 I.4. Residências assistidas: um novo produto imobiliário na qualificação dos territórios? Jornadas egeo 2006 (no âmbito do projecto RECONFAL) Residências Assistidas: um novo produto imobiliário na qualificação dos territórios? rios? Maria Júlia Ferreira Centro de estudos de Geografia e Planeamento Regional FCSH - UNL Residências Assistidas: um novo produto imobiliário na qualificação dos territórios? Enquadramento A população-alvo: envelhecimento e perfil dos idosos As respostas sociais para a 3ª idade: princípios das Nações Unidas A aposta no envelhecimento activo Residências assistidas Conceito imobiliário complexo e emergente, destinado a idosos Origem, tipologias, entidades promotoras e diversidade dos equipamentos (e similares), em Portugal e em especial na área de Lisboa Estratégia na requalificação urbana em Lisboa? Instrumento eleitoral Instrumento da política de habitação para séniores e de requalificação urbana Centro de estudos de Geografia e Planeamento Regional FCSH - UNL Maria Júlia Ferreira,

172 Residências Assistidas: um novo produto imobiliário na qualificação dos territórios? Esquema metodológico da investigação Instrumentos de pesquisa análise documental trabalho de campo Componente de estudo Delimitação conceptual Indicadores definição de 1 amostra Questionário Resultados Tipologias avaliação de impactos na qualificação do território Conclusão Centro de estudos de Geografia e Planeamento Regional FCSH - UNL Residências Assistidas: um novo produto imobiliário na qualificação dos territórios? Pressupostos da reflexão : O envelhecimento é uma característica das sociedades modernas. O envelhecimento é uma questão social que tem fortes repercussões financeiras e no funcionamento das comunidades. A definição dos níveis de responsabilidade e da sua partilha (Pública, sociedade civil, família e indivíduos) tornou-se uma necessidade premente. As residências assistidas são uma das formas de resposta, direccionada para um segmento muito específico da população. As residências assistidas são uma boa prática no apoio aos idosos e na regeneração urbana mas podem servir de instrumento do capital imobiliário para reconquistar áreas centrais Centro de estudos de Geografia e Planeamento Regional FCSH - UNL Maria Júlia Ferreira,

173 Residências Assistidas: um novo produto imobiliário na qualificação dos territórios? A população-alvo Centro de estudos de Geografia e Planeamento Regional FCSH - UNL Residências Assistidas: um novo produto imobiliário na qualificação dos territórios? Evolução e previsão da população idosa na Europa (em%) Fonte: Eurostat (in Leite, 2004) Centro de estudos de Geografia e Planeamento Regional FCSH - UNL Maria Júlia Ferreira,

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