O NEXO ENTRE RAZOABILIDADE E TOLERÂNCIA NA CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA POLÍTICA DE RAWLS

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1 O NEXO ENTRE RAZOABILIDADE E TOLERÂNCIA NA CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA POLÍTICA DE RAWLS Jelson Becker Salomão 1 Resumo: O texto examina os fundamentos da noção liberal de tolerância. Pretende demonstrar, a partir da perspectiva de justiça política desenvolvida por John Rawls ( ), que a tolerância não se reduz a um mero modus vivendi, muito embora se tenha preservado este seu sentido estratégico-instrumental. Sustenta a hipótese de que há um entrelaçamento entre as noções de tolerância e razoabilidade (reasonableness). Com efeito, a razoabilidade desempenha um papel nuclear na teoria rawlsiana, especialmente no que tange a solução do problema da estabilidade política em sociedades plurais. Para além de uma função descritiva, a razoabilidade evidencia um nítido teor normativo: constitui um traço característico de pessoas tolerantes. Nessa perspectiva, são repostos, primeiramente, os aspectos essenciais do construtivismo político de Rawls, com destaque para a estrutura e o conteúdo da justiça como equidade, enquanto concepção política. Na sequência, a partir da tese do liberalismo político, o texto busca explicar como a noção liberal de tolerância é assumida pelo filosofo, e como se dá a sua relação com a ideia de razoabilidade, e suas consequências para a estabilidade. Palavras-chave: Razoabilidade. Estabilidade. Tolerância. Justiça política. John Rawls. Introdução O pluralismo de visões de mundo se apresenta como um dos traços distintivos das sociedades democráticas. Essa multiplicidade de vozes denuncia, entretanto, a carência de um arranjo institucional capaz de incorporar de modo efetivo e equilibrado os ideais modernos de liberdade e igualdade. Revela, ademais, que o simples consentimento não representa mais um princípio de legitimação suficientemente consistente. Com efeito, processos genuinamente democráticos não podem estar limitados à manifestação de preferências; devem implicar, antes, na deliberação pública das questões de interesse geral. É, pois, na autonomia política dos cidadãos que a legitimidade da normatividade de regimes democráticos constitucionais precisa estar fundada. A justiça política, por conta disso, se apresenta como questão altamente complexa. A perspectiva de justiça desenvolvida por John Rawls ( ) oferece respostas substantivas nesse sentido. Trata-se de um procedimento de justificação e legitimação democrática que recupera elementos do contratualismo clássico. Na esteira do pensamento político de Locke, Rousseau e Kant, Rawls reconhece na noção de autonomia o teor normativo necessário à construção de uma concepção de justiça 1 Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

2 2 política compatível com a realidade pluralista das sociedades contemporâneas. O liberal americano sustenta, nessa linha, que uma concepção de justiça adequada deve verter da própria cultura política das sociedades democráticas, de modo que é tarefa da filosofia política tornar explícitos conteúdos normativos implícitos no senso comum político. Rawls considera que o pluralismo é uma realidade produzida por instituições livres e duradouras. Não por acaso, sua concepção de justiça política admite a coexistência de múltiplas concepções de bem, divergentes e, frequentemente, conflitantes. Todavia, rejeita a ideia de que uma doutrina abrangente (comprehensive doctrine), por mais razoável que possa ser, garanta, por si só, a unidade e a estabilidade em uma sociedade plural e democrática. Considera que muitos dos conflitos que afetam as sociedades modernas dizem respeito não apenas a diferenças quanto a interesses econômicos e sociais, mas também a divergências teóricas acerca do modo como instituições fundamentais devem intervir na sociedade. Observa que não há consenso quanto ao ponto de equilíbrio entre liberdade e igualdade. O problema da estabilidade social, em última instância, acha-se entrelaçado com o problema dos limites do pluralismo. Diante desse contexto, importa para Rawls investigar as condições de possiblidade de uma sociedade justa e estável ao longo do tempo, a despeito do fato de os cidadãos estarem profundamente divididos por distintas e conflitantes concepções de mundo. A ideia é demonstrar que a estabilidade em uma sociedade democrática e pluralista depende de um consenso normativo que exprima, sobretudo, um compromisso com os ideais de liberdade e igualdade. Apenas uma concepção política de justiça que se pode razoavelmente esperar que todos os cidadãos endossem pode servir de base à razão e à justificação públicas, salienta o filósofo (PL, IV, 1). Isso permite perceber, em certo sentido, porque a noção de tolerância (toleration) é tão importante para a tese do liberalismo político. A ideia de tolerância é introduzida no pensamento moderno como política de Estado, quando conflitos gerados pela incompatibilidade entre discursos religiosos ameaçavam a paz social. A cultura democrática assimilou, por conta disso, um sentido estratégico-instrumental de tolerância. Ocorre que um tal sentido é, no mínimo, incompatível com as ideias de autonomia e de respeito recíproco, que devem orientar as relações em contextos sociais democráticos e pluralistas. A perspectiva de justiça política de Rawls procura demonstrar, nessa linha, que a tolerância não se resume a um mero

3 3 modus vivendi. Há, na teoria rawlsiana, um nexo entre as noções de tolerância e razoabilidade (reasonableness). A noção de razoabilidade tem a ver com um tipo de raciocínio moral que procura dar conta do problema da estabilidade política em sociedades plurais e complexas. Mais do que uma função descritiva, a razoabilidade apresenta um caráter normativo: além definir o que seja o razoável, apresenta-se como elemento orientador do senso de justiça. A razoabilidade manifesta-se, nessa medida, como um traço característico de pessoas tolerantes. No que segue, pretendo demonstrar que a noção de tolerância, entendida como categoria do político, constitui um referencial indispensável às pretensões de consolidação uma sociedade justa e estável. Nessa perspectiva, recupero, primeiramente, as bases do construtivismo político de Rawls, expondo a estrutura e o conteúdo da justiça como equidade, interpretada em termos de uma concepção política. Na sequência, reponho alguns dos aspectos centrais da tese do liberalismo político para explicar como a noção liberal de tolerância é assumida pelo filosofo, e como se dá a sua relação com a ideia de estabilidade. Estrutura e conteúdo de uma concepção de justiça política O projeto teórico de Rawls pretende oferecer as bases filosóficas e morais para instituições democráticas, apontando uma solução para a tensão entre liberdade e igualdade 2. Em A Theory of Justice (1971), o liberal apresenta sua concepção de justiça como equidade (justice as fairness) como uma alternativa à perspectiva utilitarista de justiça social. Calcado no argumento de que os direitos assegurados pela justiça não estão sujeitos à negociação política ou ao cálculo de interesses sociais (TJ, 1), sustenta a inviolabilidade da pessoa e a neutralidade moral do Estado. O primado deontológico do justo sobre o bem representa, nessa linha, um dos pressupostos fundamentais da teoria rawlsiana. Essa tese da justiça como equidade deu novo fôlego às discussões no âmbito 2 Rawls tem em vista a histórica tensão envolvendo as duas formas predominantes de se compreender a noção de liberdade e sua relação com a ideia de igualdade. Benjamin Constant ( ) foi, possivelmente, quem melhor distinguiu essas duas ideias quando as designou como liberdade dos modernos e liberdade dos antigos. A chamada liberdade dos modernos, representada pela corrente liberal mais próxima a Locke, se atém prioritariamente à proteção das liberdades civis, além de determinados direitos fundamentais que dizem respeito à proteção da pessoa e da propriedade. Na esteira do pensamento de Rousseau, a tradição republicana defende mais incisivamente a liberdade dos antigos, que atenda para liberdades políticas iguais e aos valores da vida em comunidade.

4 4 da filosofia política e áreas afins. Tanto é que objeções apresentadas por pensadores ligados a correntes neoaristotélicas e neo-hegelianas, principalmente, demandaram significativas revisões na sua argumentação original. A teoria da justiça como equidade passou a ser vista, desde então, como uma concepção política, dentre outras possíveis. Na sua forma mais elaborada, a teoria da justiça como equidade propõe os fundamentos de uma estrutura institucional condizente com a essência da cultura democrática. Articula, nessa linha, uma série de ideias intuitivas fundamentais que se acham latentes na cultura política das sociedades democráticas. No conjunto, essas ideias explicitam uma concepção normativa de pessoa, bem como a relação desta com as principais instituições sociais, à luz de princípios de justiça. Em termos práticos, a concepção rawlsiana de justiça apresenta uma forma possível de coordenação sistemática da cooperação social, capaz de ser considerada legitimamente justificada pelos cidadãos, tidos como pessoas livres e iguais. A ideia de sociedade tem um papel nuclear na concepção de justiça como equidade. É a mais fundamental de todas, porquanto em torno dela se articulam outras noções, valores e princípios que dão forma e conteúdo à concepção de justiça como equidade. Definida como um sistema equitativo de cooperação (fair system of social cooperation), a sociedade tem como finalidade mais elementar a de promover o bem daqueles que dela participam. Trata-se de "uma associação mais ou menos autossuficiente de pessoas que em suas relações mútuas reconhecem certas regras de conduta como obrigatórias e que, na maioria das vezes, agem de acordo com elas (TJ, 1). A ideia de cooperação implica, em primeiro plano, na existência de dispositivos reguladores da conduta reconhecidos publicamente por seus destinatários. Ao especificar a forma como as instituições básicas devem distribuir direitos e deveres, a cooperação também se acha vinculada à ideia de reciprocidade. Como Rawls explica, a ideia de reciprocidade situa-se entre a ideia de imparcialidade, que é de natureza altruísta (ser motivado pelo bem geral), e a ideia de benefício mútuo, entendendo-a no sentido de que cada um deve se beneficiar em relação à situação atual ou em relação à situação futura, considerando-se as coisas como são (PL, I, 3). A cooperação contempla, dessa forma, um tipo de relação social em que todos se beneficiam, o que a torna uma ideia característica de uma sociedade bem-ordenada

5 5 (well-ordered society). Dado que a vida em sociedade se caracteriza não apenas pelo conflito, mas também pela identidade de interesses, a ideia de cooperação demanda, por fim, uma concepção de bem que expressa os fins que se pretende alcançar. Essa definição de sociedade requer, por conseguinte, a especificação de uma concepção de pessoa condizente com o ideal que a orienta. Do ponto de vista da cultura política democrática, a relação que caracteriza tal sistema se dá, pois, entre pessoas livres e iguais, comprometidas com a cooperação social ao longo da vida. Para Rawls, a disposição de cooperar ativamente pressupõe duas faculdades morais fundamentais: a capacidade de ter um senso de justiça e a capacidade de assumir uma concepção de bem em particular. Ter um senso de justiça possibilita ao cidadão propor e agir segundo princípios de justiça, a partir dos quais os termos equitativos de cooperação social são especificados. Possuir uma concepção de bem, de outra parte, significa ter uma concepção dos fins e objetivos que são merecedores de nosso empenho devotado, junto com uma ordenação desses elementos que deve nos servir de guia ao longo de toda a vida (PL, III, 3). Uma concepção de bem tende a constituir-se e a ser interpretada a partir de uma doutrina abrangente moral, religiosa ou mesmo filosófica. A ideia de igualdade se assenta, assim, na consideração de que pessoas livres e iguais são dotadas de tais capacidades em um grau mínimo necessário à cooperação social. Cabe salientar que cidadãos se percebem como livres porque concebem a si e aos outros como capazes não só de ter, mas também de reformular a qualquer momento a concepção de bem adotada. Rawls observa, nesse sentido, que mudanças na concepção bem professada não alteram a identidade pública 3 do indivíduo; do ponto de vista da justiça política, direitos e deveres permanecem inalterados. Graças à faculdade da liberdade, cidadãos se veem, ademais, no direito reivindicar junto às instituições públicas as condições necessárias à realização da concepção de bem assumida 4. 3 Segundo Rawls (PL, I, 5.2), além de uma identidade pública, pessoas livres também possuem uma segunda espécie de identidade. Notadamente, todo cidadão assume compromissos baseados em valores transcendem o político; são valores que dizem respeito à esfera não pública. São tipos diversos de compromissos e vínculos que dão forma e sentido ao modo de vida adotado, mas que constituem uma mesma identidade moral. 4 A negação desse aspecto da faculdade moral da liberdade representa a negação da condição de pessoa; a morte social do indivíduo. A escravidão é um exemplo de morte social apontado por Rawls (PL, I, 5.3), ao lembrar que leis voltadas à eventual proteção da integridade física de escravos não representam exatamente o reconhecimento de suas faculdades morais, mas interesses dos seus senhores. Destaca, assim, a importância do papel das faculdades morais para uma concepção política de justiça.

6 6 Cidadãos se consideram, enfim, livres porque se veem responsáveis pelos objetivos que propõem para si, de forma que também são capazes de adequar suas reivindicações aos limites que os princípios fundamentais de justiça estabelecem. Trata-se, em síntese, de uma concepção política que expressa a compreensão que as pessoas têm de si e da sociedade da qual participam. As ideias fundamentais de sociedade e de pessoa moral dão sustentação à tese da primazia do justo sobre o bem, posto como uma forma razoável de delimitar formas de vida e planos individuais aceitáveis. Isso remete ao exame do modelo procedimental de justificação e legitimação de princípios de justiça pensado por Rawls, mediante o qual seria possível estabelecer os termos equitativos de cooperação no âmbito da justiça como equidade. Vale lembrar que, para o filósofo, a justiça como equidade precisa realizar a função prática da filosofia política: pensar os conflitos de época, com vistas a esclarecer o modo mais adequado de funcionamento das instituições sociais. Ao fim e ao cabo, a filosofia política deve promover a reconciliação 5 entre cidadão e mundo social; deve levá-lo a reconhecer, criticamente, que o mundo social, entendido como forma de vida institucionalmente organizado, é a forma mais adequada de realização da liberdade. O procedimento de fundamentação dos princípios de justiça de Rawls consiste, assim, de dois momentos distintos, porém complementares: o dispositivo da posição original (original position) e o método do equilíbrio reflexivo (reflective equilibrium). Na vida cotidiana, as pessoas estabelecem acordos sob condições relativamente claras. Estas condições são, frequentemente, referendadas pela estrutura institucional de sociedades democráticas. Rawls postula, nesse sentido, sob nítida influência da teoria contratualista moderna, que os termos equitativos de cooperação social devem brotar de um acordo hipotético e a-histórico, celebrado entre indivíduos simetricamente situados, que representam uma linha contínua de reivindicações. Concebe, nessa base, uma conjectura moral em que cidadãos, considerados como pessoas livres e iguais, deliberam sobre que princípios de justiça seriam os mais apropriados para regular a estrutura básica da sociedade (basic structure of society). Na concepção rawlsiana, a estrutura básica da sociedade, à medida que representa o modo pelo qual são distribuídos os direitos e 5 A noção de reconciliação (Versöhnung) é assumida por Rawls em sentido precisamente hegeliano, à medida que se pauta pelo uso público da razão.

7 7 deveres fundamentais que determinam a partilha dos benefícios e dos encargos provenientes da cooperação social, se constitui o objeto primário da justiça. A condições formais de um tal acordo são modeladas pelas restrições que a noção do justo impõe sobre a noção de bem. Questões contingenciais anteriores não podem, dessa forma, interferir na definição de princípios de justiça. Isso implica em dizer que as capacidades de negociação das partes devem ser idênticas. Daí porque o uso da força, a coerção e o embuste são inadmissíveis. Esse contexto de absoluta equidade que caracteriza a posição original é assegurado pelo véu de ignorância (veil of ignorance), cujo papel é limitar drasticamente o espectro de informações das partes contratantes, impossibilitando-as de conhecer, principalmente, sua posição social, seu gênero, as doutrinas que professam, etc. Detrás do véu de ignorância, as partes se acham, portanto, livres da influência de fatores naturais e sociais, ou mesmo constrangimentos vindos de seus pares. Trata-se de um modelo de justiça procedimental pura, tendo em vista que não se dispõe de um critério independente e previamente estabelecido do justo. A justiça procedimental pura significa que, em sua deliberação racional, as partes não se veem obrigadas a aplicar ou subscrever nenhum princípio do direito e da justiça que seja dado de antemão, como destaca Rawls (PL, II, 5). O justo, nesse caso, é definido pelas próprias condições do procedimento. Em síntese, se o procedimento é equitativo, o resultado produzido será, naturalmente, justo (fair). É significativo destacar que o dispositivo da posição original não contempla tãosomente elementos do contratualismo lockeano 6 ; também manifesta a forte influência da filosofia prática de Kant. O status quo na posição original descreve um procedimento de representação da concepção kantiana de autonomia. Em A Theory of Justice, Rawls detalha essa sua interpretação nos seguintes termos: Kant acreditava, julgo eu, que uma pessoa age de modo autônomo quando os princípios de suas ações são escolhidos por ela como a expressão mais adequada possível de sua natureza de ser racional igual e livre. Os princípios que norteiam suas ações não são adotados por causa de sua posição social ou de seus dotes naturais, ou em vista do tipo particular de sociedade em que ela vive ou das coisas específicas que venha a querer. Agir com base em tais 6 Diferentemente de como acontece na teoria de Locke, a abordagem contratualista de Rawls não se preocupa em estabelecer as condições para fundação da sociedade civil, a partir de um suposto estado de natureza, e a posterior constituição do Estado. A rigor, a perspectiva de Rawls busca especificar as bases de um procedimento de justificação pública de princípios de justiça reguladores de uma estrutura institucional preexistente.

8 8 princípios é agir de modo heterônomo. Ora, o véu de ignorância priva as pessoas que ocupam a posição original do conhecimento que as capacitaria a escolher princípios heterônomos ( 40). A conduta pautada por princípios de justiça reflete a autonomia racional que caracteriza a posição original. Nesse sentido, a justiça como equidade admite que os princípios fundamentais de justiça se equiparam a imperativos categóricos, na medida em que servem como critérios objetivos na orientação da conduta. O caráter especifico de uma doutrina kantiana fica explicito, em última análise, na forma como a posição original modela a distinção entre o razoável e o racional. Em Kantian Constructivism in Moral Theory (1980), Rawls procura aprimorar sua argumentação acerca da posição original, um dos aspectos mais contestados do seu esquema de justificação dos princípios fundamentais de justiça. O artigo traz uma caracterização melhor detalhada do construtivismo kantiano 7, na qual a condição de liberdade e igualdade se apresenta como condição de possibilidade do agir razoável e racional, e, por extensão, da participação ativa da cooperação social. Há, segundo o autor, uma relação direta entre os termos equitativos e a ideia de bem, de um lado, e a capacidade de ter um senso de justiça e a capacidade de ter e revisar uma concepção de bem professada, de outro. O filósofo quer demonstrar, em última análise, o entrelaçamento que existe entre os elementos fundamentais da cooperação e as faculdades morais da noção de pessoa. Nessa linha, o construtivismo político rawlsiano busca oferecer a estrutura e o conteúdo da concepção política da justiça como equidade, apoiando-se tanto na razão prática, quanto na razão teórica. Rawls entende que se quisermos encontrar um 7 Ao qualificar a teoria da justiça como equidade como kantiana, Rawls não tem em mente estabelecer uma identidade com aquela doutrina; pretende apenas estabelecer uma analogia. O construtivismo político de Rawls distingue-se do construtivismo moral de Kant por, pelo menos, quatro razões. Em primeiro lugar, a doutrina kantiana constitui uma perspectiva moral abrangente. Como tal, se revela incompatível com a justiça como equidade, pois não é capaz de fornecer a necessária base pública de justificação. A ideia de autonomia é outro aspecto que diferencia seu modelo construtivista do construtivismo moral kantiano: o liberalismo político pretende ser uma visão política autônoma. De acordo com Rawls, uma visão política é autônoma quanto representa ou expressa a ordem dos valores políticos como aquela que está baseada nos princípios da razão prática, em conjunção com as concepções políticas apropriadas de sociedade e de pessoa (PL, III, 2.1). Trata-se, em síntese, uma noção doutrinal de autonomia. Ademais, diferentemente do construtivismo moral de Kant, as noções de sociedade e de pessoa se apresentam como ideias fundamentais de natureza política. O construtivismo moral e o construtivismo político, por último, diferem entre si quanto aos seus objetivos. A justiça como equidade tem por objetivo tornar manifesta uma base pública de justificação com respeito a questões de justiça política, dado o fato do pluralismo razoável (PL, III, 2.2).

9 9 fundamento para o acordo público, teremos de descobrir uma maneira de articular ideias e princípios familiares numa concepção de justiça política que, em certo sentido, terá de diferir da forma conhecida (PL, I, 1.3). A fim de tornar mais precisa a ideia de autonomia em uma sociedade bem-ordenada, complementa a noção de racional (rational), introduzindo a noção de razoável (reasonable). Para o filósofo, o razoável é constitutivo da ideia de sociedade bem-ordenada, dado o papel que exerce na determinação dos termos equitativos da cooperação social. A rigor, ambos estão presentes na ideia de cooperação: o racional assume um sentido subjetivo, enquanto que o razoável incorpora o sentido da intersubjetividade que a ideia cooperação exige. O razoável, em suma, não apenas pressupõe o racional, mas também o determina. A introdução da noção do razoável oferece uma compreensão mais precisa da função da posição original no processo de justificação dos princípios de justiça. Por sua natureza dedutiva, este dispositivo serve ao propósito de formulação das condições equitativas sob as quais os representantes de cidadãos livres e iguais devem especificar termos equitativos da cooperação social que se apliquem ao caso da estrutura básica da sociedade (PL, I, 4.3). Trata-se de um artifício de representação; um experimento mental. Sua função mediadora permite, sobretudo, desenvolver a ideia de sociedade, a ponto de possibilitar a identificação de princípios de justiça que especifiquem direitos e liberdades básicas, bem como formas de igualdade condizente com a ideia de cidadãos livres e iguais. A posição original constitui, por tudo isso, uma situação de absoluta igualdade e imparcialidade, a partir da qual as partes podem escolher a estrutura sociopolítica mais adequada, dentre as muitas possíveis. Nessas condições, seria razoável que as partes situadas na posição original escolhessem os dois princípios de justiça (PL, I, 1), cujo conteúdo normativo orientaria as deliberações acerca de questões fundamentais, a conhecer: I. Cada pessoa tem um direito igual a sistema plenamente adequado de direitos e liberdades iguais, sistema esse que deve ser compatível com um sistema similar para todos. E, neste sistema, as liberdades políticas, e somente estas liberdades, devem ter seu valor equitativo garantido; e, II. As desigualdades sociais e econômicas devem satisfazer duas exigências: em primeiro lugar, devem estar vinculadas a posições e cargos abertos a todos em condições de igualdade equitativa de oportunidades; em segundo lugar, devem se estabelecer para o maior benefício possível dos membros menos privilegiados da sociedade.

10 10 De acordo com Rawls, tais princípios seriam capazes de assegurar o valor equitativo das liberdades políticas fundamentais e a igualdade equitativa de oportunidades, além de equilibrar desigualdades socioeconômicas através do chamado princípio da diferença. No conjunto, os princípios da justiça como equidade põem em relevo o viés igualitário do liberalismo rawlsiano. O dispositivo da posição original vem a ser, assim, a primeira instância de justificação dos princípios de justiça. Como ponto de vista moral imparcial, enuncia uma decisão racional e unânime, fundada em razões idênticas. Delimita, assim, o que possa ser razoável para todos, posto que não está em questão a coerência dos princípios de justiça com os juízos particulares das distintas doutrinas abrangentes, nem das variadas concepções de bem. Rawls, entretanto, tem consciência de que as condições em que princípios de justiça são definidos precisam ser compatíveis com as nossas convicções mais profundas. Significa que é preciso estender a situação de equidade que caracteriza a posição original a um acordo sobre os princípios de justiça destinados a regular a estrutura básica de uma sociedade bem-ordenada. Nesse sentido, o filósofo articula em seu procedimento um segundo momento: o método do equilíbrio reflexivo, cuja finalidade é equacionar as tensões entre moralidade e eticidade política, na base do que possa ser razoável para nós (ourselves). Com o método do equilíbrio reflexivo, não apenas os princípios de justiça são publicamente justificados, mas também as próprias condições equitativas delineadas na posição original. Através deste recurso, Rawls pensa ser possível formar a base da razão pública, redundando no que designa como consenso sobreposto (overlapping consensus). Dito método permite conciliar princípios de justiça, ideias intuitivas e a multiplicidade de doutrinas abrangentes razoáveis. Isso quer dizer que os princípios de justiça definidos sob as condições equitativas da posição original são agora justificados por razões distintas. O método do equilíbrio reflexivo vem a ser um teste complementar de justificação, à medida que verifica a coerência dos juízos dos cidadãos sobre demandas políticas, de forma a torná-los mais autônomos e consistentes. Nas melhores condições, esse segundo nível de justificação dos princípios de justiça produz o que Rawls chama de juízos bem-ponderados (well-considered judgements). A ideia diretiva

11 11 nesse estágio é a reconciliação mediante a razão pública. É dessa forma que o procedimento construtivista pretende dar cabo da histórica tensão entre a liberdade dos modernos e a liberdade dos antigos. Contudo, o construtivismo político de Rawls quer oferecer não apenas o conteúdo para uma base pública de justificação; também pretende demonstrar as razões em função das quais esse conteúdo pode ser racionalmente endossado por cidadãos livre e iguais, membros de uma sociedade democrática pluralista. A tolerância razoável: a possibilidade da estabilidade pelas razões certas Em A Theory of Justice, a assimilação de um sistema justo de cooperação mútua fundado nos princípios de justiça, qualquer que seja a concepção de bem afirmada, consiste em algo racional. É uma defesa da efetividade de tais princípios, no sentido de demonstrar a possibilidade da estabilidade em uma sociedade bem-ordenada. Ocorre que esse argumento deu margem para se interpretar a justiça como equidade em termos de uma doutrina filosófica abrangente, expondo certa incongruência com a ideia de sociedade democrática, marcada pelo pluralismo de doutrinas abrangentes razoáveis e divergentes. Ciente da improbabilidade de cidadãos de regimes democráticos aceitarem uma única concepção de justiça, Rawls reconhece as transformações produzidas pelo fenômeno do pluralismo nas sociedades modernas. Por conta disso, promove uma ampla e profunda reformulação da tese da justiça como equidade, abandonando determinadas pretensões iluministas. Ambiguidades que tornavam a justiça como equidade pouco realista levam-no reconsiderar a ideia de estabilidade antes defendida. Assim, no contexto do liberalismo político, uma sociedade é considerada bemordenada quando é, de fato, regulada por uma concepção pública de justiça. É o caso em que todos e cada um dos cidadãos aceitam os mesmos princípios de justiça. A implementação de tais princípios de justiça é, dessa forma, uma questão publicamente reconhecida, o que, segundo Rawls, está implícito na própria ideia de regulação efetiva. Ademais, cidadãos de uma sociedade bem-ordenada apresentam, na maioria das vezes, um senso de justiça igualmente efetivo, pois agem segundo o que prescrevem as instituições fundamentais; estas consideradas justas. De modo geral, uma sociedade

12 12 bem-ordenada dispõe de uma concepção de justiça que evidencia um ponto de vista comum, a partir do qual demandas política e sociais são tratadas. Nessa linha, Political Liberalism (1993) precisa explicar como a sociedade bemordenada concebida na obra de 1971 deve ser entendida, uma vez reconhecido o fato do pluralismo razoável (fact of reasonable pluralism). Deve demostrar, além disso, como uma sociedade bem-ordenada, organizada em torno de uma doutrina liberal, é capaz de acomodar múltiplas concepções políticas razoáveis. Cumpre, dessa maneira, identificar que concepção de justiça apresenta as condições necessárias à determinação dos termos equitativos de cooperação social destinados a reger a relação entre cidadãos livre e iguais. Importa demonstrar também quais são os fundamentos da noção liberal de tolerância, dada a sua pretensão normativa. Daí o problema de base do liberalismo político: como é possível existir, ao longo do tempo, uma sociedade justa e estável de cidadãos livres e iguais que permanecem profundamente divididos por doutrinas religiosas, filosóficas e morais razoáveis? O desafio consiste, então, em determinar uma base comum para a estabilidade, o que implica em ajustar a ideia de sociedade bemordenada às condições histórico-sociais da cultura democrática que resultaram no fato do pluralismo razoável. Os princípios de justiça devem ser publicamente justificados para que tenham sua legitimidade assegurada. A justiça como equidade, em última instância, precisa apresentar feições de uma doutrina eminentemente política, e não moral. Uma concepção política de justiça se distingue de uma doutrina moral em três aspectos elementares. Apesar de não ser moralmente neutra, uma concepção política se aplica unicamente ao âmbito institucional de uma sociedade democrática. Seu objetivo último é a estrutura básica da sociedade, ou seja, as principais instituições políticas, sociais e econômicas de uma sociedade e o modo como se combinam em um sistema único de cooperação social de uma geração às seguintes (PL, I, 2). Uma concepção de justiça deve ser, por conseguinte, autossuficiente (freestanding political conception); precisa evidenciar completa independência em relação a qualquer doutrina abrangente razoável. Por ter seu foco no âmbito político, uma tal concepção representa uma justificação parcial (pro tanto), contrastando, assim, com doutrinas abrangentes. Por fim, uma concepção de justiça expressa seu conteúdo mediante ideias e princípios fundamentais que constituem a cultura de fundo de uma sociedade civil. Trata-se,

13 13 precisamente, da cultura do social, que compreende as principais instituições políticas de uma sociedade democrática, bem como as formas consolidadas de interpreta-las. Assim entendida, uma concepção política de justiça se mostra compatível com o pluralismo razoável, pois abarca as ideias intuitivas de sociedade como um sistema equitativo de cooperação, de pessoa moral livre e igual, e de sociedade bem-ordenada. Com efeito, tais ideias se vinculam às noções de estrutura básica, posição original e justificação pública. Segundo a interpretação liberal que Rawls faz da Filosofia do Direito de Hegel (2000), essas três ideias recuperam a distinção entre o pluralismo da sociedade civil e a unidade do Estado (MAFFETTONE, 2010). Também permitem diferenciar mais claramente uma concepção de bem, que se limita ao plano individual, de uma doutrina abrangente, que é ampla, em função do seu caráter social. Uma concepção política de justiça preserva, portanto, o primado do justo sobre o bem, limitando doutrinas abrangentes, sem se ocupar de concepções do bem. Dessa forma, a justiça como equidade é apresentada como uma resposta plausível à primeira questão fundamental levantada pelo liberalismo político. Ela reúne, segundo Rawls, as condições que uma concepção de justiça política requer para a especificação dos termos equitativos de cooperação social, reguladores das relações entre cidadãos livres e iguais, racionais e razoáveis. A justiça como equidade abdica, nessa medida, do status de concepção verdadeira para ser uma concepção política razoável, dentre outras possíveis. Ao articular ideias intuitivas fundamentais e princípios de justiça, o filósofo pensa ter demonstrado que uma sociedade justa é possível. Entretanto, importa explicitar como uma tal sociedade democrática e liberal pode ser estável, dadas as circunstâncias em que cidadãos livres e iguais adotam doutrinas religiosas, filosóficas e morais divergentes e conflitantes. Uma sociedade justa e estável, em A Theory of Justice, resulta da conformidade entre teoria e fins. A estabilidade é ali apresentada como solução para o problema de congruência entre o ponto de vista da justiça e o ponto de vista do bem 8. Na visão de Rawls, o senso de justiça que os cidadãos possuem tende a promover, a longo prazo, 8 De acordo com Maffettone (2010), além do argumento sobre a o chamado problema da congruência, discutido na Parte III de A Theory of Justice, Rawls também apresenta um outro argumento sobre a estabilidade, que não é objeto de revisão em Political Liberalism. Na Parte I daquela obra, o filósofo apoiase na condição de publicidade que caracteriza a justiça como equidade, para defender que, à medida que os princípios de justiça se tornam conhecimentos em uma sociedade bem-ordenada tendem a promover o desenvolvimento do senso de justiça dos cidadãos.

14 14 seu ideal de bem assumido. Isso equivale a dizer que a observância dos princípios de justiça é uma expressão racional do interesse individual de cada um. Quando todos, no interesse de agir de modo justo, respeitam os princípios de justiça, qualquer que seja a concepção de bem assumida, a estabilidade se realiza. Nesse sentido, a estabilidade significa uma consequência da convergência entre a justiça como equidade e os interesses morais (highest moral sentiments) de cada um. Assim, em uma sociedade bem-ordenada pelos princípios da justiça como equidade, os cidadãos endossam e se esforçam em agir conforme tais princípios. Em suma, a própria estabilidade dos princípios motiva os agentes a conduzirem-se segundo as prescrições institucionais. Essa noção de estabilidade é mais um sinal da forte influência da filosofia kantiana no pensamento de Rawls. Como Maffettone (2010) faz notar, a opção pelo modelo kantiano 9 transforma uma noção de estabilidade com caráter psicossocial e institucional em uma noção essencialmente moral. Como tal, não se atém primordialmente à ordem social, pois não se define como um fator estruturante de um sistema político. Ela tem a ver, antes, com a relação ética entre cidadãos e sociedades justas, o que a distancia significativamente da noção de estabilidade de Hobbes, que aspira fundamentalmente a paz social. Todavia, não se pode perder de vista que o equívoco de Rawls foi justamente pressupor que os fundamentos morais da sua teoria pudessem ser compatíveis com o pluralismo que sua perspectiva liberal defende. O reconhecido déficit de realidade da ideia de sociedade bem-ordenada apresentada em A Theory of Justice se estende, assim, à noção de estabilidade. A estabilidade constitui, notoriamente, um aspecto fundamental do projeto políticofilosófico de Rawls. Não é por outra razão que um dos seus principais objetivos em Political Liberalism seja o de demonstrar a possibilidade de uma sociedade bemordenada e estável. Trata-se de um problema que, segundo Rawls, a filosofia política não pode deixar de tratar. Persuadido pelo fato do pluralismo razoável, o filósofo assume não ser possível, no contexto de uma democracia liberal, que todos cidadãos interessados na estabilidade endossem o argumento da congruência. Dessa forma, procede a uma significativa revisão no argumento da congruência, começando pela distinção entre uma concepção de bem e uma doutrina abrangente. A relação com a teoria da justiça como 9 Vale lembrar que, na base da noção de vontade boa (ein guter Wille), Kant se preocupava em saber como uma constituição justa seria possível.

15 15 equidade muda se, ao invés de considerarmos uma concepção de bem, a avaliarmos a partir de uma doutrina abrangente, como destaca Maffettone (2001, p. 257). Distinguir uma concepção de bem de uma doutrina abrangente significa, nesse sentido, delimitar os âmbitos da moralidade e do político. Concepções de bem, cabe repor, apresentam como traço característico irrenunciável a racionalidade. Uma concepção de bem manifesta essa característica através sua coerência interna, como também pelo grau de razoabilidade que apresenta. Estes aspectos são definidos pela chamada teoria estreita (thin) do bem, ou teoria do bem como racionalidade. Uma teoria dessa natureza se justifica pelo fato de que, em sociedade plurais, é natural que as pessoas não compartilhem uma única concepção de bem. A teoria do bem como racionalidade expressa, dessa forma, uma perspectiva individual e formal daquilo que possa ser considerado bem no contexto de um plano racional de vida. Uma concepção de bem se satisfaz, portanto, com um procedimento de justificação, alcançando uma estabilidade de caráter moral. Doutrinas abrangentes, por contraste, têm um caráter substancial e coletivo. Determinada doutrina abrangente pode, ou não, ser razoável. Para o liberalismo político, entretanto, interessa apenas aquelas doutrinas que apresentam um nível significativo de razoabilidade. Três aspectos definem uma doutrina abrangente razoável como tal (PL, II, 3). Como exercício da razão teórica, uma doutrina abrangente é razoável quanto estrutura de modo coerente uma série de valores, conferindo certa inteligibilidade a uma visão de mundo. No que concerne à razão prática, depois, uma doutrina abrangente é considerada razoável à medida que seleciona certos valores tidos como mais significativos em relação a outros, principalmente quando há conflito entre eles. Por fim, uma doutrina abrangente é tida como razoável quando, pertencendo ou derivando de uma tradição de pensamento, tende a aprimorar-se à luz de razões suficientemente boas. De maneira geral, uma doutrina abrangente se define como abrangente, na medida em que é compatível com uma concepção pública de justiça, o que pressupõe não apenas um procedimento de justificação, mas também de legitimação. A estabilidade desejada, nesse caso, tem sentido estritamente político. Quando se propõe a assegurar direitos e liberdades fundamentais, a justiça como equidade pretende minimizar a possibilidade de conflitos entre doutrinas abrangentes razoáveis antagônicas. O liberalismo político, por essa razão, defende que a estabilidade

16 16 de uma sociedade justa requer o equilíbrio entre uma concepção política de justiça e doutrinas abrangentes razoáveis. Rawls, inclusive, salienta: o problema da estabilidade não é levar os que rejeitam uma concepção a acatála ou a agir em conformidade com ela por meio de sanções efetivas, se necessário, como se o problema consistisse em encontrar maneiras de impor essa concepção uma vez que estivéssemos convencidos de sua validade (PL, IV, 3.2). Isso passa pela identificação das bases de um acordo minimamente satisfatório entre as variadas doutrinas abrangentes razoáveis: uma condição necessária à implementação dos poderes coercitivos em uma democracia constitucional. Trata-se, em suma, da defesa de um consenso legítimo em torno de questões políticas básicas. Na medida em que os adeptos das distintas doutrinas abrangentes razoáveis respeitam a prioridade do justo, conciliando sua concepção de bem com a concepção política, a estabilidade ocorre pelas razões certas. A justificação pública se apresenta, dessa forma, como condição de possibilidade do consenso sobreposto, e, por extensão, da formação de uma razão pública (public reason). Dada a sua profundidade (depth) e amplitude (breadth), o consenso sobreposto é capaz de abarcar ideias como sociedade como sistema equitativo de cooperação, pessoal moral, além das demais questões relativas à estrutura básica da sociedade, atestando a razoabilidade de uma concepção política de justiça. Em um consenso sobreposto, somente valores políticos estão em questão. Valores políticos podem, obviamente, ter conteúdo moral, entretanto, nem todos valores morais têm conteúdo político. Convém ter presente que mesmo doutrinas abrangentes razoáveis, à diferença de uma concepção política, não oferecem as condições requeridas para um consenso, pois mantêm valores que se situam fora dos limites do âmbito político. Valores desprovidos de natureza política devem ficar, portanto, restritos às respectivas doutrinas abrangentes. Embora dependa do apoio de tais doutrinas, uma concepção política cabe insistir deve ser autossuficiente (freestanding), pois o domínio do político precisa ser autônomo. Interessam apenas valores políticos porque eles exprimem a média, por assim dizer, dos interesses das diversas doutrinas abrangentes razoáveis. São esses valores que, em última análise, norteiam a especificação dos termos equitativos de cooperação.

17 17 É dessa forma que o conteúdo da concepção de justiça encontra seu fundamento na cultura política democrática, fazendo-se imediatamente acessível à compreensão do cidadão. Como concepção política, a justiça como equidade oferece, através dos princípios de justiça, justamente aqueles valores políticos constitutivos da estrutura básica da sociedade; valores que são passivos da aceitação de pessoas razoáveis. Convém ter presente que os valores que asseguram a legitimidade política de um arranjo institucional se distinguem, de certo modo, dos valores de uma doutrina abrangente em particular. Desse modo, bem-ordenada é a sociedade cuja estrutura básica é regulada pelos princípios da justiça como equidade; princípios estes que, uma vez publicamente legitimados, tendem a desenvolver em seus membros um senso de justiça robusto, capaz de conter as tendências à injustiça. Com isso, Rawls pensa ter demonstrado a viabilidade de dois dos pressupostos básicos de uma sociedade justa e estável. Notável é o papel central que a noção de razoabilidade (reasonableness) ocupa na estrutura da concepção de justiça política rawlsiana. Articulada com outras ideias e princípios, a razoabilidade confere unidade à concepção política da justiça como equidade; sem ela, não seria possível uma sociedade justa e estável (RASMUSSEN, 2004). Ela caracteriza as noções de pessoa e de doutrina abrangente, por exemplo, explicitando as propriedades essenciais que permitem defini-las como razoáveis. Além dessa função descritiva, a razoabilidade apresenta pretensões de validade normativa que se tornam manifestas na ideia de reciprocidade. A disposição de propor e cumprir os termos os equitativos de cooperação, assim como a disposição de reconhecer os limites da capacidade de juízo (burdens of judgment) e de aceitar as consequências destes para o uso da razão pública, vinculam a razoabilidade ao senso de justiça que deve orientar as escolhas do agente. A noção de razoabilidade apresenta, em síntese, um aspecto ético-político e outro epistemológico. A propósito, cumpre destacar que é o aspecto ético-político que expõe o caráter essencialmente público da razoabilidade, posto que possibilita ao indivíduo tomar consciência da vida política. É em função desta noção que o sujeito percebe que a política não se reduz a obtenção de resultados, mas a habilidade de construir relações consensuais estáveis com os outros. Como o autor explica: Pessoas razoáveis [...] não são motivadas pelo bem comum como tal, e sim desejam, como um fim em si mesmo, um mundo social em que elas, na condição

18 18 de pessoas livre e iguais, possam cooperar com todos os demais em termos que todos possam aceitar. Elas insistem em que a reciprocidade prevaleça nesse mundo, de modo que cada pessoa se beneficie juntamente com as demais (PL, II, 1.1). Com efeito, pessoas são razoáveis quando buscam, voluntariamente, estabelecer os parâmetros normativos reguladores da vida institucional; sobretudo, cumprem efetivamente os termos do acordo, já que não levam em conta apenas vantagens imediatas, mas também os possíveis ganhos futuros. Por compreender as faculdades morais que caracterizam a noção política de pessoa, a razoabilidade revela uma disposição em reconhecer e respeitar a autonomia do outro. O vies normativo que acompanha a noção de razoabilidade permite entender melhor a noção liberal de tolerância, bem com a sua relação com a questão da estabilidade de uma sociedade justa. Uma vez que cidadãos razoáveis são capazes de reconhecer as limitações de sua capacidade de julgar aquilo que pode ser justificado por outros a partir de suas doutrinas abrangentes razoáveis, é plausível afirmar que a tolerância defendida Rawls se define como uma capacidade ético-politica que viabiliza, na base da reciprocidade, o intercambio de razões. A razoabilidade pressuposta na noção liberal de tolerência se manifesta, fundamentalmente, no reconhecimento dos limites da capacidade de juizo. Ora, de outro modo, o pluralismo razoável de doutrinas abrangente seria impossível. Os limites da capacidade de juízo estão na base do uso público da razão, na medida em que dirigem o exercício legitimo dos direitos políticos em um regime constitucional. A ideia de limites da capacidade de juízo explica, em última análise, não apenas o fato do permamente desacordo razoável no que tange a questãos práticas, mas também a necessidade do poder coercitivo do Estado. Importa salienar, finalmente, que a afirmação da universalidade de uma doutrina abrangente, mesmo se tratatndo de uma doutrina razoável, constitui terreno propício para a opressão. Determinados valores defendidos por doutrinas abragentes precisam, assim, ter seus limites consensulamente estabelecidos. Todavia, suprimir valores que constituem a identidade de uma doutrina abrangente opositora, quanto esta é razoável, fazendo uso do poder político é absolutamente condenável em uma sociedade que aspira ser democrática e pluralista. Numa democracia, os fundamentos da tolerância e da cooperação social sobre uma base de respeito mútuo ficam ameaçados quando as distinções entre esses diversos modos de vida e ideais não são reconhecidas, salienta

19 19 Rawls (2002, p. 195). Ser tolerante, nessa perspectiva, significa praticar voluntariamente a virtude da razoabilidade, mediante a proposição dos termos de um acordo mínimo, ante o reconhecimento da impossibilidade de uma acordo pleno. Orientada pela noção de razoabilidade, a tolerância liberal se constitui uma das condições de possíbilidade de um acordo legítmo, respondendo, assim, o problema da estabildade. Últimas considerações A justiça como equidade interpretada em termos de uma concepção política de justiça encontra sustentação no primado do justo sobre o bem. Isso fica evidente na defesa da inviolabilidade da pessoa e na necessidade de neutralidade moral do Estado. Ao especificar a natureza política da teoria de justiça como equidade, Rawls já deixa entrever a centralidade da noção de razoabilidade na arquitetônica do seu liberalismo político. A dupla função da razoabilidade descritiva e normativa assegura, segundo o autor, a possibilidade da uma estrutura institucional necessária à coexistência justa e estável de cidadãos livres e iguais que professam doutrinas abrangentes razoáveis distintas e conflitantes. A justificação pública figura, assim, como a pedra de toque de uma ordem institucional legítima. Importa frisar, por fim, que proposta teórica do liberalismo político, embora não seja moralmente neutra, ao postular a assunção de princípios liberais básicos permitem uma melhor distinção entre o ponto de vista público e os pontos de vistas (não-públicos) das doutrinas abrangentes razoáveis. Com isso, deixa claro que a noção liberal de tolerância não se confunde com um mero modus vivendi, mas como uma virtude de pessoas razoáveis. As conferencias que constituem Political Liberalism apresentam, nessa perspectiva, os termos mediante os quais a concepção política de justiça pode servir de lastro para a consolidação de uma razão pública, indispensável as deliberações políticas que tratam de elementos constitucionais fundamentais (constitucional essentials), assim como de questões de justiça básica. Muito embora permaneça suscetível a objeções, é inegável que a concepção de justiça política de Rawls desenvolveu significativamente a ideia de cidadania introduzida pela tradição liberal, ao delinear uma compreensão plausível da relação ente liberdade e igualdade.

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