Justiça Equitativa e Autonomia Política em John Rawls

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David Aquino Bergmann
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1 Justiça Equitativa e Autonomia Política em John Rawls XI Salão de Iniciação Científica PUCRS Bolsista Apresentador: Iuri Hummes Specht 1, Thadeu Weber 2 (orientador) 1 Faculdade de Filosofia, PUCRS, 2 Faculdade de Filosofia e Pós-Graduação de Direito, PUCRS Resumo O presente trabalho está norteado nas obras Uma Teoria da Justiça, O Liberalismo Político e Justiça como equidade: uma reformulação de John Rawls, um dos maiores expoentes da filosofia política do século XX. Essas obras trouxeram contribuições para o importante debate de um tema que apesar de ser tão antigo quanto a filosofia nunca conseguiu obter um conceito unânime: a Justiça. O autor aborda fundamentalmente a justiça como equidade em seu projeto, na tentativa de compreendê-lo como uma concepção política e pública de justiça. Seu objetivo é elaborar uma teoria da justiça que seja uma alternativa para essas doutrinas que há muito tempo dominam a nossa tradição filosófica. Rawls resolve propor uma teoria que pudesse equacionar de alguma forma os anseios por justiça de um agrupamento social composto por pessoas tão diferentes entre si. O problema a ser resolvido é o de [...] como é possível existir, ao longo do tempo, uma sociedade justa e estável de cidadãos livres e iguais, mas que permanecem profundamente divididos por doutrinas religiosas, filosóficas e morais razoáveis (RAWLS, 2000). O objetivo é que pessoas, dentro de um pluralismo razoável, entrem em acordo quanto aos princípios de justiça que devem orientar suas instituições políticas, tendo como principal instituição política a Cosntituição. Essa concepção política de justiça deve ser compartilhada por todos os cidadãos livres e iguais, independentemente de suas convicções religiosas e morais. Assim, a proposta de Rawls começa com a suposição de um contrato social hipotético e a-histórico, no qual as pessoas seriam reunidas numa situação inicial por ele chamada de posição original a fim de deliberar uma serie de princípios que seriam responsáveis por 1402

2 embasar as regras do justo os princípios da justiça nas instituições, uma vez que seriam as instituições as intermediadoras entre as pessoas no convívio social. Segundo Rawls, a justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como a verdade o é dos sistemas de pensamento (RAWLS, 2002). Na teoria rawlsiana, a única maneira de as pessoas em uma situação original escolherem os princípios justos aqueles princípios que, pressupõe Rawls, seriam apresentados pela razão, gerando autonomia seria colocar sobre esses legisladores iniciais (as partes do acordo) um véu da ignorância. Sobre esse véu da ignorância, as pessoas ignorariam todas suas circunstâncias pessoais anteriores a essa situação hipotética, desconheceriam, portanto, suas condições financeiras como também seus próprios dotes naturais. Assim, por exemplo, se um desses legisladores da posição original fosse um grande proprietário de terras e soubesse disso, provavelmente ele não concordaria em distribuir equitativamente as terras entre todos os cidadãos. Por outro lado, se fosse impossível esses mesmos legisladores saberem se possuem terras ou não, seria muito mais fácil de concluir que a distribuição equitativa de terras é algo justo, haja vista que os legisladores teriam receio de após ser levantado o véu da ignorância descobrirem que não possuíam quaisquer bens materiais. Portanto, é o egoísmo pessoal que motiva a necessidade do véu da ignorância para a obtenção dos princípios da justiça. O presente trabalho é dividido em dois grandes capítulos, sendo o primeiro referente à teoria da justiça equitativa, interpretando justiça como pública e política, e o segundo como um aprofundamento sobre a autonomia das partes e dos cidadãos na escolha e na submissão sobre princípios para uma sociedade democrática constitucional. Será tratado, também, de justiça procedimental, sendo essa a solução que Ralws apresenta para a escolha de princípios que sejam considerados justos para conduzirem uma sociedade bem-ordenada. A verdadeira importância está no procedimento justo, isto é, na maneira com que serão escolhidos esses princípios. Na justiça procedimental pura, se o procedimento é justo, necessariamente o resultado também deverá ser justo. A construção de princípios de justiça que deveriam orientar uma sociedade democrática constitui a concepção de autonomia política dos cidadãos. A ausência de impedimentos para a realização de liberdades responsáveis dos cidadãos e à determinação das leis às quais se submetem constitui a autonomia dos mesmos. Esse é o direito a autolegislação, isto é, autonomia. Trata-se aqui de autonomia política, e não moral, religiosa ou de outra ordem. É na construção e na submissão (sujeição) de princípios de justiça que as 1403

3 partes (como representantes dos cidadãos) gozam de autonomia. Por isso a sua vinculação à posição original. Portanto, agir de forma autônoma é agir segundo princípios que aceitaríamos na qualidade de seres racionais livres e iguais (RAWLS, 2002). Introdução Um Estado Democrático de Direito convive com o pluralismo razoável, isto é, uma diversidade de doutrinas religiosas, morais e filosóficas. O problema de Rawls gira em torno da possibilidade de construir uma concepção de justiça que possa ser endossada por essa diversidade de doutrinas razoáveis. Considerando a sociedade como um sistema eqüitativo de cooperação entre cidadãos livres e iguais, como determinar os termos eqüitativos dessa cooperação ou que princípios de justiça são mais apropriados para determinar direitos e liberdades básicos, e para regular as desigualdades sociais e econômicas das perspectivas de vida dos cidadãos? (RAWLS, 2003). São formulados por uma autoridade externa? Ou são resultado de um acordo entre as partes interessadas? (RAWLS, 2000). Mas, como em meio a um pluralismo de doutrinas religiosas e morais é possível chegar a um acordo em torno de uma concepção de justiça, ou de princípios de justiça que deveriam orientar as instituições políticas e sociais mais importantes, especificando os direitos e deveres fundamentais, mormente a Constituição política? Como procederão as partes para chegar a um acordo? De que tipo de autonomia elas gozam na construção desses princípios? Metodologia Para a realização do presente trabalho foi feita uma pesquisa bibliográfica interpretativa em diversos artigos relacionados ao tema, e, principalmente, leitura específica e pesquisa nos principais capítulos referentes à justiça equitativa e a autonomia política nas obras Uma Teoria da Justiça, O Liberalismo Político e Justiça como equidade: uma reformulação de John Rawls. Como principal objetivo, busca dialogar com o direito, apontando diferentes enfoques e considerações na escolha de princípios que devam reger uma sociedade democrática, ou seja, na construção de uma Constituição. Resultados (ou Resultados e Discussão) 1404

4 A pesquisa feita resultou em um trabalho conclusivo de graduação do curso de filosofia, ligado a área da filosofia política. Teve como resultado, também, a obtenção de uma compreensão clara do conceito de justiça equitativa e a autonomia de cada indivíduo enquanto princípio ético, político e jurídico. Ter explicitadas as implicações do princípio da autonomia para a concepção de justiça de uma sociedade democrática. Conclusão Levando em consideração que o trabalho está apenas iniciando, o trabalho contribuiu para o levantamento bibliográfico e ao fichamento de leitura de textos específicos sobre a autonomia e a justiça equitativa. A elaboração do presente trabalho conclusivo tem participação em um projeto de pesquisa cujo tema é: Autonomia e dignidade da pessoa humana como fundamentos da concepção de justiça em Kant, Rawls, Dworkin e Hegel. Esse projeto possibilita o contato com grandes autores que discorrem sobre o assunto. A pesquisa leva à compreensão e ao esclarecimento dos conceitos de autonomia e dignidade da pessoa humana, como também a elaboração de artigos e comentários críticos comparativos do assunto. O projeto objetiva a publicação de um livro e de artigos sobre os respectivos temas, dando conta dos objetivos propostos, assim como contribui com a explicitação, mostrando as implicações, de um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito Brasileiro: a dignidade da pessoa humana (Constituição Federal, Artigo 1, inciso III). Referências ESTEVES, Julio. As Críticas ao Utilitarismo por Rawls. ethic@, Florianópolis, v.1, n.1, p.81-96, Jun RAWLS, John. Uma Teoria de Justiça. Trad. Almiro Pisetta e Lenita Maria Rímoli Esteves. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, O Liberalismo Político. Trad. Dinah de Abreu Azevedo. 2. ed. São Paulo: Ática, Justiça como equidade: uma reformulação. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, Justiça e Democracia. Trad. Irene A. Paternot. São Paulo: Martins Fontes,

5 WEBER, Thadeu. John Rawls: uma concepção política de justiça. In: TEIXEIRA, Anderson V.; OLIVEIRA, Elton S. et al. (Org.). Correntes contemporâneas do pensamento jurídico. Barueri, SP: Manole, WEBER, Thadeu. Autonomia Política e Justiça em John Rawls. [2010]. (Não publicado). 1406

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