JIULA NZILA: Saberes Tradicionais como Desafios para novas práticas Curriculares na Educação Escolar Quilombola

Transcrição

1 JIULA NZILA: Saberes Tradicionais como Desafios para novas práticas Curriculares na Educação Escolar Quilombola Autoras: Mille Caroline Rodrigues Fernandes (UNEB/XV) Daniela Santos do Rosário (UFBA/CEAO) EIXO: Currículo, Políticas e Novos Desafios

2 APRESENTAÇÃO Este trabalho analisa a historicidade de Torrinhas e Boitaraca, duas comunidades quilombolas, situadas no Estado da Bahia/Brasil, e, de que maneira suas visões de mundo e seus saberes tradicionais podem dialogar com o espaço escolar. Consanguíneas, estas comunidades compartilham vivências cruzadas, traços culturais, que definem suas identidades, na contramão dos modelos hegemônicos, reafirmando a sua arkhé africana, oriunda do povo Angola. Para tanto, refletiremos como as políticas curriculares no Brasil, ao que se refere a educação para diversidade e diretrizes educacionais quilombolas, tem contribuído para uma educação transformadora e afirmativa nestas comunidades. Propomos tratar sobre os desafios das políticas curriculares para educação escolar quilombola, através dos estudos sobre descolonização e antirracismo na educação. A articulação destas temáticas nos currículos pode efetivar ações políticas transformadoras e criar outras possibilidades de justiça social.

3 OS PRIMEIROS FIOS DE CONVERSAS SOBRE QUILOMBOS...

4 Nos períodos concernentes ao tráfico de africanos para o Brasil, já existiam na África Central, especificamente no território que compreende a atual República Democrática do Congo (antigo Zaire) e Angola, diversas formas de estruturas sociais de resistência dentro da região, conhecidos como reinos, estados, sociedades de linhagem ou até mesmo como quilombo (FERNANDES, p. 24). Por ser uma estrutura firme, capaz de unir um grande número de etnias (MILLER, 1995.p. 159), o conceito de quilombo utilizado hoje no Brasil é bastante amplo, sobremaneira, a partir da revisão historiográfica efetivada pela antropologia, a qual traz uma renovação conceitual, que sinaliza um movimento em busca de uma reconstrução historiográfica que dê conta de fazer surgir a condição de sujeitos históricos efetivada pelos escravizados, apesar das adversidades históricas as quais negros e negras enfrentaram. Esse posicionamento contemporâneo leva em consideração que a forma de organização quilombola no território brasileiro se efetivou de maneira dinâmica. Nesse sentido, a maioria das regiões brasileiras, onde existiu o sistema de produção escravista criminoso, formaram-se organizações fortes de negros e negras por intermédio dos quilombos, como forma de luta e de coexistência e, na região do Baixo sul baiano, não poderia ser diferente.

5 UM BREVE HISTÓRICO DO QUILOMBO DE BOITARACA Boitaraca Imbué-taraca. Comunidade quilombola formada em meados do século XVIII, com a fuga dos africanos escravizados do engenho Mutumpiranga; Constituída por dois troncos familiares: Rosário e Assunção, Boitaraca sobrevive economicamente do tradicional extrativismo da piaçava; e, resiste culturalmente, pela força da palavra, da memória e dos valores ancestrais que influenciam no modo de vida do quilombo; Os mais velhos têm a responsabilidade de perpetuar a cultura da comunidade através das histórias contadas aos mais jovens. Esta responsabilidade entrelaça o trabalho, quase sempre manual, ao contar. Enquanto os mais velhos trançam os fios da piaçaba para a sobrevivência financeira, contam as histórias para a coexistência da comunalidade. Os espaços no quilombo, são espaços educativos. As atividades de sustento de Boitaraca, bem como as comemorações e festividades de devoção a santos, faz parte do processo de conhecimento e valorização da comunidade quilombola pelos mais novos.

6 TORRINHAS: CONJUNTURA HISTÓRIA E APORTES CULTURAIS NO CURRICULO Em 1857, foi registrado no convento de Cairu-Bahia, um lugar chamado Torrinha, por força da lei de terra de 1854; Formação de Torrinhas através da fazenda de extração de piaçava, Pau Seco; Em 1930, sentidos produtivos na comunidade de Torrinhas - família Peleteiro; Os ambientes educativos em Torrinhas Dona Bernadina, Professora Ana Lúcia e as diferenciações entre o quilombo de Boitaraca;

7 (IN)CONCLUSÕES... Na comunidade de Torrinhas, falar das diretrizes educacionais quilombolas, remete constantemente a distanciamentos uma vez que a comunidade vê a religiosidade como um impasse no reconhecimento da identidade quilombola, enquanto isso, outras questões que acompanham a identidade étnica como, política, identidade, diversidade, continuam a serem pouco ou em nada trabalhadas. Em Boitaraca os aprendizados e ensinamentos sempre marcam a forma de ser e estar em um mundo cuja complexidade de estrutura-ação demanda um olhar pedagógico que não simplifique, nem diminua o processo educativo a um momento deslocado da realidade que o envolve. Envolver-se com o mundo circundante pressupõe um sentimento de pertença de uma história. Assim, o vínculo entre a educação formal da escola em Boitaraca com a ancestralidade, a memória e a oralidade, implica troca, fazendo com que as crianças e jovens boitaraquences creiam que a feitura de uma escrita só tem sentido se ela também se constituir desta forma: troca entre pessoas, entre fatos, entre histórias, enfim, entre o vivido e o concebido. Pensar no vivido e concebido tanto para Boitaraca quanto para Torrinhas é desempenhar o papel político de educar as crianças e os jovens dentro das instituições escolares, compreendendo estes espaços de poder, no interior dos quilombos, como espaços de resistência e denúncia de discursos e práticas, que no mundo atual continuam legitimando diferentes maneiras de discriminação (TORRES SANTOMÉ, 2013).

8 Referências Bibliográficas BALL, S. J. Cidadania Global, Consumo e Politica Educacional. In: SILVA, L. H. (Org.) A Escola Cidadã no Contexto da Globalização. Petrópolis: Vozes DOWBOR, Fátima Freire. Quem educa marca o corpo do outro. 2 ed. São Paulo: Cortez FANON, Frantz. Os condenados da Terra. Tradução José Laurêncio de Melo: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira , Frantz. Pele negra, máscaras brancas. EDUFBA. Salvador FERNANDES, Mille Caroline Rodrigues. MBAÉTARACA: uma experiência de educação de jovens quilombolas no município de Nilo Peçanha/BA. 220f. Dissertação (Mestrado em Educação e Contemporaneidade) Universidade do Estado da Bahia UNEB/CAMPUS I, Salvador, GOODSON, I. F. As políticas de currículo e de escolarização: abordagens históricas. Tradução Vera Joscelyne. Petrópolis, RJ: Vozes, GOMES, Nilma Lino. Limites e possibilidades da implementação da Lei /03 no contexto das Políticas Públicas em Educação. IN: PAULA, Marilene de; HERINGER Rosana. (Orgs). Caminhos convergentes: Estado e Sociedade na superação das desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro : Fundação Heinrich Boll, ActionAid, 2009., Nilma Lino. Um olhar além das fronteiras: educação e relações raciais. Belo Horizonte: Autêntica HALL, Stuart. Raça, o significante flutuante. Conferência de Goldismiths college University of London LUZ, Marco Aurélio de Oliveira. Agadá: dinâmica africano-brasileira. 2 ed. Salvador: EDUFA, MACEDO, Roberto Sidnei. Atos de currículo, formação em ato? Ilhéus: EDITUS, MORGADO, José Carlos E ET ALL. Currículo, avaliação e inovação em Angola: perspectivas e desafios. Benguela: Coleção Educação e Currículo, PACHECO, José Augusto. Discursos e lugares das competências em contextos de educação e formação. Porto: Porto Editora QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del Poder, Eurocentrismo y América Latina. IN: LANDER, Edgardo (Org.). La Colonialidad del Saber: eurocentrimo y ciências sociales. Perspectivas Latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO,1993. p. 201 a 246. REIS, João José. Escravos e coiteiros no quilombo do oitizeiro Bahia, IN: Liberdade por um Fio: História dos quilombos no Brasil. Companhia das Letras. São Paulo ROSÁRIO, Daniela Santos do. Um quilombo: identidade e política pública /privada na comunidade remanescente quilombola de Torrinhas, Cairu-BA.220f. Dissertação de (Mestrado em Estudos Étnicos e Africanos) Universidade Federal da Bahia - POSAFRO/UFBA, Salvador, SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez TORRES SANTOMÉ, Jurjo. Currículo escolar e justiça social: o cavalo de Troia da Educação. Tradução Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Penso