CAPÍTULO XIV ATIVIDADE ELÉTRICA DO CORAÇÃO
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- Mario Lemos Palha
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1 Atividade Elétrica do Coração 1 CAPÍTULO XIV ATIVIDADE ELÉTRICA DO CORAÇÃO Antônio Carlos de Souza Spinelli Considerações iniciais A ativação das células do miocárdio produz um potencial elétrico que é conduzido por todo o corpo do individuo e pode ser captado na superfície corporal na forma do traçado eletrocardiográfico ( ECG ). A condução deste potencial no ser vivo é realizada com de gradação do potencial inicial caracterizando os seres vivos como condutores de segunda ordem uma vez que os metais, condutores de primeira ordem, conduzem a corrente elétrica sem degradação do potencial conduzido. A gênese do potencial elétrico decorre, tanto na ativação como na repolarização das fibras do miocárdio, da existência na superfície das células de um dipolo, conjunto de cargas elétricas de sinais opostos,próximas uma da outra e em um mesmo meio ( FIG. 14.1) Figura 14.1 O dipolo origina uma voltagem que se distribui na forma de um campo elétrico, onde a eletro-positividade é cada vez maior à medida que nos aproximamos da carga positiva e a eletro-negatividade aumenta quanto mais nos aproximamos da carga negativa e observando-se potencial zero na metade da distancia entre as duas cargas. A distribuição da eletro-positividade e eletro-negatividade se faz em áreas com voltagem de intensidade crescente, mas com o mesmo potencial ao longo de cada uma delas que são chamadas de superfícies isopotenciais ( FIG 14.2).
2 Atividade Elétrica do Coração 2 Figura 14.2 A utilização de galvanômetros, aparelhos que realizam a mensuração do potencial elétrico de um ponto em relação a outro denominado referencia, nos permite a exploração do campo elétrico produzido pelo dipolo; nestes aparelhos encontramos dois pólos, um representado pelo eletrodo explorador ou ativo e outro que é o eletrodo referencia. A medida do potencial é realizada colocando-se o eletrodo explorador na superfície isopotencial que se quer estudar determinando-se o seu valor em relação ao valor de referencia, ou seja, o sinal da carga é fornecido pelo potencial captado pelo eletrodo explorador e o módulo é a diferença entre o ponto estudado e o referencia.. Para o registro gráfico dos potenciais captados se convencionou que potenciais positivos resultariam em ondas para cima, potenciais negativos ondas para baixo e diante de uma situação com potencial zero uma linha que foi chamada de isoelétrica (FIG 14.3).
3 Atividade Elétrica do Coração 3 Figura 14.3 Ativação de uma fibra cardíaca isolada Quando ocorre a ativação de uma fibra cardíaca isolada, no ponto onde foi iniciado o processo observa-se a inversão da polaridade de repouso enquanto o restante da superfície das membranas permanece com a polaridade de repouso. Neste instante temos a formação de dipolo e como o processo de ativação vai se propagar até a ativação de toda fibra, o dipolo vai se deslocar até o ponto mais distal da superfície desta fibra (FIG 14.4). Imaginando-se uma fibra que se ativa de um ponto A para um ponto B, colocando-se o eletrodo explorador de um galvanômetro próximo ao ponto A com o referencia em potencial zero vamos obter o registro de uma onda negativa, se este eletrodo for colocado próximo do ponto B o registro será uma onda positiva e se o eletrodo for colocado na metade da distancia entre os pontos A e B o gráfico obtido será uma onda positiva seguida de outra negativa. Observe que temos três formas distintas de registro para o mesmo evento, pois em cada situação o eletrodo vê o processo por posição diferente. Na situação onde o eletrodo foi colocado na metade da distancia entre a origem e o final da ativação, observamos dois instantes definidos do processo originando duas ondas, inicialmente o dipolo encontra-se na primeira metade da fibra e recebe a influencia da carga positiva do dipolo e no segundo instante o dipolo migrou para a segunda metade da fibra e vai receber agora a influencia da carga negativa do dipolo; vale ressaltar que em todos os exemplos apresentados tanto antes da ativação (polaridade de repouso) como após a ativação (polaridade invertida), não existem dipolos na superfície das membranas e, portanto o registro será a linha isoelétrica. A figura 14.4 apresenta a ativação de uma fibra isolada com os possíveis registros. Repolarização de uma fibra cardíaca isolada
4 Atividade Elétrica do Coração 4 No processo de repolarização de uma fibra isolada, observa-se que o processo se completa primeiro no ponto onde teve início a ativação. Novamente temos a formação de um dipolo, pois a superfície do ponto A torna-se positiva enquanto o restante da fibra permanece ainda povoada, em sua superfície, por cargas negativas; este dipolo apresenta suas cargas com localização trocada em relação ao dipolo da ativação, mas também vai se deslocar do ponto A para o ponto B. Obviamente o registro obtido com o eletrodo explorador colocado próximo ao ponto A será uma onda positiva, se o eletrodo explorador for colocado próximo ao ponto B o registro obtido será uma onda negativa e se a posição do eletrodo for a metade da distancia entre os dois pontos observaremos a inscrição de uma onda negativa seguida de outra positiva; observe que os traçados obtidos são exatamente o oposto dos apresentados no registro da ativação da fibra cardíaca( FIG. 13.4). Figura 14.4 Notação Vetorial O dipolo pode ser representado por um vetor uma vez que tem sentido (polo positivo e polo negativo) e se desloca em uma direção; por convenção ficou padronizado que a cabeça do vetor representa o polo positivo e a cauda o polo negativo (FIG.14.5).
5 Atividade Elétrica do Coração 5 Figura 14.5 O vetor da ativação desliza apontando para onde progride a mudança da polaridade de repouso e o vetor da repolarização se desloca apontando para a origem da repolarização por isso se diz que o seu movimento se faz em marcha-à-ré.(fig.14.6) Figura 14.6 Atividade Elétrica do Coração Durante a ativação e repolarização do miocárdio são gerados inúmeros que se somam vetorialmente resultando o traçado eletrocardiográfico (ECG). Tomando como exemplo a ativação a partir do Nó Sinusal vamos observar vários vetores que apresentam diferentes direções de acordo com a posição das fibras ativadas e que se somam originando um vetor resultante. Ativação e Repolarização Atrial Na ativação dos átrios, observa-se inicialmente a produção da polaridade invertida na região circunvizinha ao nó sinusal enquanto regiões mais distais permanecem com a polaridade de repouso; esta situação vai originar vários dipolos cujo vetor resultante se desloca da direita para esquerda, de cima para baixo, podendo seguir para frente ou para traz, e esta configuração espacial do vetor permite registrar ondas P negativas a partir de eletrodos colocados do lado direito do individuo e registros positivos
6 Atividade Elétrica do Coração 6 Fig com eletrodos fixados no lado esquerdo e regiões inferiores ao tórax (FIG.14.7) A repolarização atrial origina um vetor resultante que se desloca com sentido oposto ao da ativação isto é, aponta para o nó sinusal, ou seja, para cima e para direita e consequentemente resulta em registros positivos quando o traçado é realizado com eletrodos posicionados à direita e registros negativos com eletrodos á esquerda, entretanto quando analisamos em eletrocardiograma não encontramos a onda de repolarização atrial, pois, ela encontra-se mascarada pela ativação ventricular que apresenta maior magnitude e ocorre no mesmo instante. Ativação Ventricular Observando o traçado eletrocardiográfico identificamos um complexo de três ondas (QRS) representando a ativação ventricular o que nos garante que este processo ocorre em três temos distintos; este situação prende ao fato estimulo, após atravessar o nódulo átrio-ventricular, continua a percorrer o feixe de His seguindo depois pelos ramos direito e esquerdo do feixe e a medida que vai descendo pelos ramos ocorre a ativação da musculatura do septo inter-ventricular inicialmente pelo lado esquerdo onde a condução é mais rápida, originando o primeiro vetor denominado de vetor septal que se dirige para baixo para direita e para frente permitindo que eletrodos colocados do lado esquerdo do tórax recebam influencia de uma eletro-negatividade e seja registrada a primeira onda negativa do QRS.. Após a ativação septal o estímulo chega às paredes livres dos Fig ventrículos caracterizando o segundo instante da ativação ventricular; os ventrículos são ativados quase que simultaneamente pela condução rápida das fibras da Rede de Purkinje e o vetor resultante se para a esquerda para baixo e para trás e eletrodos colocados à esquerda do tórax recebem influencia da carga positiva registrando a primeira onda positiva da ativação ventricular a onda R como mostra a figura 14.8.
7 Atividade Elétrica do Coração 7 A ultima fase da ativação ventricular ocorre nas paredes basais de ambos ventrículos e o processo é iniciado pela porção inferior da região local chega o estimulo conduzido pelos ramos do feixe de His e temos como resultante um vetor que se dirige para direita para cima e para trás resultando na inscrição da segunda onda negativa da ativação ventricular(s), quando realizamos o ECG a partir de eletrodos situados à esquerda do tórax(fig 14.8). Repolarização ventricular Quando observamos a repolarização ventricular no traçado eletrocardiográfico, encontramos uma onda única chamada de onda T e isto nos garante que a repolarização dos ventrículos se faz ao mesmo tempo; a onda T apresenta geralmente uma menor amplitude que o complexo QRS e se inscreve mais lentamente. Outro aspecto interessante é que na maioria dos registros ela se apresenta concordante com a maior onda da ativação ventricular, permitindo concluir que a repolarização ventricular não se completa inicialmente no mesmo ponto onde se iniciou a ativação; de fato a ativação ventricular se faz do endocárdio para o epicardio, uma vez que o sistema de condução é endocárdico e origina um vetor que aponta para o epicárdio. Na repolarização o endocárdio não reúne as condições para iniciar o processo de repolarização, pois este instante coincide com a contração ventricular que produz uma isquemia fisiológica localizada no endocárdio e o epicárdio sem sofrer esta redução de aporte sanguíneo, uma vez que a circulação coronária é epicárdica, se repolariza primeiro originando um vetor que também aponta para o epicárdio e desliza em direção do endocárdio (FIG 14.9).
8 Atividade Elétrica do Coração 8 Derivações Eletrocardiográficas Os potenciais elétricos gerados pelo coração durante a ativação e a repolarização são registrados tradicionalmente utilizando 12 derivações eletrocardiográficas que estabelecem os pontos na superfície corporal para a colocação dos eletrodos. A captação desses potenciais permite avaliar a atividade elétrica do coração através do eletrocardiograma (ECG) que registra os potenciais elétricos que precedem os batimentos cardíacos; os registros obtidos são de grande valia em condições de hipertrofia atrial e ventricular. Infarto do miocárdio, arritmias, ação de drogas e outras situações que afetam o coração. Os registros eletrocardiográficos obedecem aos princípios estabelecidos por Einthoven no inicio do século; este autor postulou que o coração encontrava-se situado no centro de um triangulo imaginário cujos vértices eram os ombros e o púbis e a partir desta constatação idealizou as primeiras derivações eletrocardiográficas. assim definidas: Fiura 14.9 O eletrocardiograma completo é constituído por 12 derivações Derivações bipolares ou Clássicas Estas derivações, também chamadas de derivações de Einthoven, são obtidas a partir de dois eletrodos, um de referencia e outro registrador, também chamado de explorador ou ativo. São denominadas de DI, DII e DIII. DI é a diferença de potencial (DDP) entre o membro superior esquerdo, eletrodo ativo e o membro superior direito, eletrodo referencia.
9 Atividade Elétrica do Coração 9 DII é a diferença de potencial entre o membro inferior esquerdo e eletrodo ativo e o membro superior direito, eletrodo referencia. DIII é a diferença de potencial entre o membro inferior esquerdo, eletrodo ativo e o membro superior esquerdo, eletrodo referencia. Derivações Unipolares Aumentadas Para se realizar o registro eletrocardiografico nestas derivações, utiliza-se como referencia um eletrodo indiferente obtido a partir da união de dois colocados nos membros não estudados; este artifício, denominado de central de Goldberger, fornece potencial próximo a zero e permite um aumento na amplitude do registro quando comparamos com o traçado obtido utilizando um indiferente com a união dos membros superiores e o membro inferior esquerdo. A derivações unipolares ou monopolares são chamadas de avr, avl e avf. avr ddp entre membro superior direito,eletrodo ativo e união de membro superior esquerdo com o membro inferior esquerdo. avl ddp entre o membro superior esquerdo,eletrodo ativo e a união entre membro superior direito e o membro inferior esquerdo. avf ddp entre o membro inferior esquerdo, eletrodo ativo e a união dos membros superiores. Figura Derivações Precordiais Nestas derivações o eletrodo indiferente é o ponto de união dos eletrodos colocados nos membros superiores e o do membro inferior esquerdo recebendo este artifício o nome de central de Wilson que garante potencial zero; o eletrodo registrador será então colocado em pontos definidos do tórax ( região precordial ). As posições do eletrodo explorador nas de derivações precordiais são: Figura 14.11
10 Atividade Elétrica do Coração 10 V1 4º espaço intercostal à direita da borda esternal. V2 4º espaço intercostal à esquerda da borda esternal. V3 posição intermediaria entre V2 e V4. V4 5º espaço intercostal na linha hemiclavicular esquerda. V5 5º espaço intercostal na linha axilar anterior esquerda. V6 6º espaço intercostal na linha hemiaxilar esquerda. Várias outras derivações são possíveis, embora tenham seu uso mais restrito a situações especiais e os registros obtidos apresentam características distintas nas varias derivações já que cada uma delas vê o coração de posições diferentes. Figura O Eletrocardiógrafo Trata-se de um galvanômetro que pode ser resumido no diagrama abaixo: ELETRODOS CASADOR DE IMPEDÂNCIAS ===> ===> ===> TRIÂNGULO DE RESISTORES AMPLIFICADOR DIFERENCIAL ATENUADOR DE INTERFERÊNCIAS REGISTRADOR
11 Atividade Elétrica do Coração 11 Alem dos eletrodos para registro, os aparelhos apresentam um outro que geralmente é fixado na perna direita do paciente e que tem função na redução das interferências provocadas pelas variações induzidas pela rede elétrica. Vale a pena destacar a necessidade de utilização de uma pasta condutora especial, para estabelecer melhor contato elétrico entre a pela e os eletrodos. Para o registro do ECG convencional, o paciente deve estar em repouso, deitado e relaxado, e deve-se: limpar previamente com álcool os locais onde serão fixados os eletrodos, para remover a gordura que funciona como isolante, aplicar a pasta condutora sobre estes locais, fixar os eletrodos nos pontos untados com a pasta e efetuar o registro de acordo com as instruções de funcionamento do aparelho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS CARNEIRO, E.F. - O eletrocardiograma 3º edição - Livraria Ateneu, DUBIN D - Interpretação Rápida do ECG 3º edição Editora de Publicações Científicas Ltda, 1968 DURAN, J. E. R. Biofísica Fundamentos e Aplicações. Editora Prentice Hall, São Paulo, Brasil FISCH, C. In BRAUNWALD, E. Heart Disease. A Textbook of Cardiovascular GARCIA, E.A.C. Biofísica. Editora Savier, São Paulo, Brasil HENEINE, I.F. Biofísica Básica Editora Atheneu/UFMG, Rio de Janeiro, Brasil, 1991 HOUSSAY, A. B. & CINGOLANI, H. E. Fisiologia Humana. Editora Artmed, Brasil LEÃO, M. A. C. Princípios de Biofísica. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, Brasil OKUNO, E.; CALDAS, I. L.; CHOW, C. Física para Ciências Biológicas e Biomédicas.Harper & Row do Brasil. São Paulo, Brasil TRANCHESI, J. Eletrocardiograma normal e patológico. Noções de vetorcardiografia- Editora Atheneu,1983 OLIVEIRA, JR Biofísica pra Ciências biomédicas, EDIPURCS, Porto Alegre, Brasil, 2002 GUYTON, AC Tratado de Fisiologia Médica, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, Brasil, 1989 FRUMENTO A. Biofísica, Intermédica SAICI, Buenos Aires, Argentina, 1973 BURTON AC. Fisiologia e Biofísica da Circulação, 2* edição, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, Brasil, 1977
12 Atividade Elétrica do Coração 12 CAPÍTULO XV - ELETROCARDIOGRAMA NORMAL Antônio Carlos de Souza Spinelli 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A ativação e repolarização do miocárdio originam inúmeros vetores que se somam e formam vetores resultantes que são registrados na forma do traçado eletrocardiográfico ECG. Figura 15.1 Basicamente a interpretação do ECG constitui na analise da ativação atrial traduzida pela onda P, da ativação ventricular representada pelo complexo QRS e da repolarização ventricular na forma da onda T; algumas traçados apresentam ainda outra deflexão, a onda U, que por muito tempo foi atribuída à potenciais tardios originados na repolarização dos músculos papilares e hoje a teoria mais aceita indica que a gênese desta deflexão vem
13 Atividade Elétrica do Coração 13 da repolarização das células M, localizadas entre o endocárdio e epicárdio ventricular. Além dos aspectos morfológicos de P, QRS, T e U, interessam na analise do ECG a amplitude e duração das deflexões, por isto é imprescindível saber que utilizando a calibração N e a velocidade de 25 mm/segundo para o registro do ECG, cada milímetro na horizontal representa 0,04 segundos de duração e na vertical 0,1 milivolt de intensidade, isto significa que se uma onda é inscrita em 2 mm (2 quadradinhos) ela dura 0,08 segundos e se tem 4mm de altura ela tem 0,4mv de intensidade. Figura 15.2 Quando analisamos a ativação atrial e ventricular observamos o fenômeno elétrico responsável palas sístoles dos átrios e ventrículos, enquanto a onda T ocorre durante a diástole ventricular.
14 Atividade Elétrica do Coração ATIVAÇÃO ATRIAL A onda P do eletrocardiograma em condições normais se apresenta como uma onda única de forma arredondada com eixo elétrico dirigido da direita para esquerda de cima para baixo e de trás para frente resultando em registros positivos nas derivações esquerdas (DI AVL V5 e V6 ), inferiores (DII, DIII, e AVF ) e anteriores ( V1, V2, V3, V4 ) e apenas em AVR observa-se uma onda negativa, caracterizando o ritmo sinusal. A onda P é o resultado da ativação do átrio direito inicialmente e do átrio esquerdo em seguida, como tem normalmente uma duração de 0,08 a 0,10 segundos os 0,03 segundos iniciais representam a ativação do átrio direito, os 0,03 segundos intermediários são formados pela ativação dos dois átrios e nos 0.03 segundos finais temos apenas a ativação do átrio esquerdo. Quanto a amplitude da onda P em condições normais, observamos uma voltagem que varia de 0,05 a 0,2 milivolts podendo chegar a um extremo de 0,25 mv. Conhecendo as características acima descritas podemos imaginar que o aumento na amplitude da onda P acima de 0,25 mv decorre habitualmente de um incremento na porção inicial e em resuma traduz sobrecarga do átrio direito, enquanto um aumento na duração da onda P acima de 0,10 segundos habitualmente é decorrente de um incremento na porção final da onda e traduz sobrecarga de átrio esquerdo.
15 Atividade Elétrica do Coração 15 Figura 15.3 Em alguns traçados eletrocardiográficos a onda P na Derivação V1 é frequentemente difásica do tipo mais-menos, todavia deve apresentar o componente inicial positivo mais demorado para ser considerada normal; a observação do inverso representa um dos critérios de crescimento de átrio esquerdo. 3. INTERVALO PR O intervalo PR é medido do início da onda P até o início do complexo QRS, representa o tempo que vai da origem do estímulo sinusal até sua chegada ao músculo ventricular, deve ser mensurado na derivação bipolar que se apresentar mais longo e tem sua duração normal entre 0,12 e 0,20 segundos. Valores abaixo deste limite representam préexcitação ventricular por via anômala e valores acima de 0,20 segundos caracteriza Bloqueio Átrio - Ventricular do primeiro grau. 4. COMPLEXO QRS A morfologia do complexo QRS em pessoas sem patologias é bastante variável e decorre
16 Atividade Elétrica do Coração 16 das várias posições que o coração adota no mediastino e também entre as diversas derivações eletrocardiográficas. Figura 15.4 A duração do complexo QRS em condições normais varia entre 0,06 e 0,10 segundos, ou seja, o mesmo tempo máximo de inscrição da onda P. A voltagem do complexo QRS é muito variável e isoladamente nem sempre é parâmetro para o diagnostico de patologias, existindo, entretanto critérios que quando utilizados podem caracterizar baixa voltagem; é quando não encontramos complexos com 0,5 mv de amplitude nas derivações do plano frontal (Bipolares e Unipolares Aumentadas) e com 0,8 mv nas derivações do plano horizontal ( Precordiais ). Também existem critérios de alta voltagem, como o índice de Sokolov, quando a soma do S de V1 com o R de V5 ou V6 resulta em um valor acima de 35 mm, que pode indicar sobrecarga de ventrículo esquerdo. Outro parâmetro de analise do QRS é a medida do tempo de aparecimento da deflexão intrinsecóide, que é medida do inicio do QRS até o vértice da onda R e deve durar no máximo 0,045
17 Atividade Elétrica do Coração 17 segundos para as derivações precordiais direitas e 0,035 segundos para as precordiais esquerdas, e o seu atraso significa aumento no tempo da ativação ventricular. Na analise das ondas Q considera-se como limites normais 0,03 segundos de duração e 3,0 mm de profundidade, analisado nas derivações AVR, AVL e DIII. Podemos ter estes limites ultrapassados em condições normais em função do eixo elétrico do individuo, mas, como regra geral as ondas Q não podem ter profundidade superior à 25% da onda R que a sucede, ou seja não pode representar 1/3 do total do QRS. 5. EIXO ELÉTRICO Para a determinação do eixo elétrico (âqrs) vamos imaginar duas linhas perpendiculares uma horizontal e outra vertical que se cruzam ao nível do nódulo átrio-ventricular dividindo o tórax em 04 quadrantes como mostra a figura abaixo: Figura 15.5 Analisando o complexo QRS das derivações DI e AVF podemos definir o eixo elétrico de um individuo, se o QRS se apresenta positivo em DI sabemos o eixo elétrico está voltado para à esquerda, se nesta mesma derivação o QRS
18 Atividade Elétrica do Coração 18 se apresentar negativo sabemos que o eixo elétrico está voltado para a direita, a analise da derivação DI nos permite então afirmar se o coração está voltado para direita ou para esquerda já a observação da derivação AVF nos informa se o coração está voltado para baixo (QRS positivo) ou para cima (QRS negativo); se encontramos num traçado eletrocardiográfico complexos QRS positivos em DI e AFV o eixo elétrico encontra-se entre 0º e +90º. Na figura abaixo encontramos todas as possibilidades do eixo elétrico determinados pelo processo ora apresentado e denominado de método do quadrante fácil. 6. FREQÜÊNCIA CARDÍACA Figura 15.6 A inscrição do ECG é habitualmente realizada na velocidade de 25 mm/segundos permitindo que se obtenha em 01 minuto 1500 mm de traçado; se dividirmos este número pelo intervalo entre 02 ondas R em milímetros vamos encontrar a frequência cardíaca (FC) do paciente examinado e de imediato definir se ela é considerada normal, se existe bradicardia ou taquicardia.
19 Atividade Elétrica do Coração 19 Figura 15.7 A determinação da frequência cardíaca deve ser realizada com os dados da derivação DII ou da derivação bipolar onde o QRS se apresenta mais proeminente. 7. SEGMENTO ST O segmento ST começa no ponto J, ponto onde termina a inscrição do complexo QRS e se continua com a porção ascendente da onda T. Na interpretação do traçado eletrocardiográfico não se analisa duração ou eixo do segmento ST, o que se deve observar é a ocorrência de desníveis já que num traçado normal este segmento encontra-se nivelado com o segmento PR. Figura REPOLARIZAÇÃO VENTRICULAR A onda T em decorrência da configuração do seu vetor apresenta-se na maioria
20 Atividade Elétrica do Coração 20 das derivações concordante com a maior onda do complexo QRS (vetor de paredes livres). Sua principal característica é a assimetria, uma vez que a porção ascendente se inscreve mais lentamente que a porção descendente. Na interpretação do ECG não se mensura isoladamente a duração da onda T ficando esta medida incluída na determinação do intervalo QT; a determinação voltagem da onda também não se constitui num parâmetro importante na avaliação do traçado, podendo se aceitar com regra geral, que em condições normais a onda T apresenta uma voltagem inferior ao complexo QRS que a antecedeu. 9. INTERVALO QT O intervalo QT é medido do início do QRS até o final da onda T. tem sua duração máxima de 0,42 segundos podendo em mulheres este limite superior pode atingir 0,44 segundos. Devemos normalmente corrigir o intervalo QT para freqüência cardíaca do paciente utilizando a equação de Bazett: O intervalo QT pode estar aumentado nas bradicardias, na síndrome do QT longo, na hipopotassemia e hipocalcemia, na ação de drogas como a Quinidina, entre várias outras situações. O intervalo QT pode estar encurtado nas taquicardias.
21 Atividade Elétrica do Coração 21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS CARNEIRO, E.F. - O eletrocardiograma 3º edição - Livraria Ateneu, DUBIN D - Interpretação Rápida do ECG 3º edição Editora de Publicações Científicas Ltda,1968 DURAN, J. E. R. Biofísica Fundamentos e Aplicações. Editora Prentice Hall, São Paulo, Brasil FISCH, C. In BRAUNWALD, E. Heart Disease. A Textbook of Cardiovascular GARCIA, E.A.C. Biofísica. Editora Savier, São Paulo, Brasil HOUSSAY, A. B. & CINGOLANI, H. E. Fisiologia Humana. Editora Artmed, Brasil LEÃO, M. A. C. Princípios de Biofísica. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, Brasil TRANCHESI, J. Eletrocardiograma normal e patológico. Noções de vetorcardiografia- Editora Atheneu,1983 OLIVEIRA, JR Biofísica pra Ciências biomédicas, EDIPURCS, Porto Alegre, Brasil, 2002 GUYTON, AC Tratado de Fisiologia Médica, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, Brasil, 1989 FRUMENTO A. Biofísica, Intermédica SAICI, Buenos Aires, Argentina, 1973 BURTON AC. Fisiologia e Biofísica da Circulação, 2* edição, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, Brasil, 1977
Serve como um valioso instrumento para o diagnóstico de várias patologias cardíacas e distúrbios hidroeletrolítico.
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