PIBID Música: Experiências na Escola Senador Novaes Filho

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1 PIBID Música: Experiências na Escola Senador Novaes Filho Natália Santana dos Santos Universidade Federal de Pernambuco UFPE Bismarck Lira dos Santos Universidade Federal de Pernambuco UFPE Ana Paula dos Santos Secretaria de Educação Escola Senador Novaes Filho Resumo: Este trabalho pretende relatar as experiências obtidas durante a participação no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) nos meses de agosto e setembro de 2014 na Escola Senador Novaes Filho, localizada no bairro da várzea, em Recife/PE. O projeto conta atualmente com 12 graduandos de licenciatura em música da Universidade Federal de Pernambuco que atuaram em duas escolas públicas da região. Nesta edição, o projeto atinge as turmas de 9º ano do ensino fundamental e 1º e 2º ano do ensino médio e pode-se afirmar que a experiência na escola foi positiva, apesar das dificuldades encontradas, pois possibilitou aos bolsistas uma oportunidade para que conhecessem mais de perto a realidade das escolas públicas regulares de ensino fundamental e médio. Esta aproximação permite aos bolsistas a aplicação prática dos conceitos estudados na universidade de modo que eles possam desenvolver o conhecimento adquirido no curso de licenciatura para que desta maneira aprimorem suas metodologias de ensino. Palavras-chave: Educação musical; Ensino coletivo; Ensino básico; Formação de professores; PIBID música. Introdução O PIBID é um projeto do Ministério da Educação que faz parte das políticas públicas para a educação visando o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica 1. O programa é feito por meio de parcerias entre as instituições de ensino superior e escolas de educação básica da rede pública que possuam o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) abaixo da média 3,0. Alguns dos objetivos do PIBID são incentivar a formação de docentes em nível superior para a educação básica e inserir os licenciandos no dia-a-dia da rede pública de ensino, dando-lhes oportunidades de experimentar metodologias e criar soluções inovadoras para os problemas que ocorrem no processo de ensino-aprendizagem. 1 Dados disponíveis na Fundação Capes Ministério da Educação. Disponível em: < Acesso em: 05 nov

2 Tendo em vista que o estágio curricular supervisionado e a disciplina de prática de ensino oferecem ao graduando em licenciatura uma inserção pontual nas atividades escolares e não dão grande abertura para aproximação com a escola que o recebe, o PIBID se mostra um projeto de grande relevância, permitindo aos bolsistas maior contato com a escola no que diz respeito a sua dinâmica e melhor compreensão da realidade do funcionamento das escolas públicas. Em relação aos licenciandos em música, pode-se afirmar que há ainda uma questão maior que a dificuldade de aproximação com a escola. A falta de professores de música atuando em escolas regulares, devido ao grande período de tempo em que a música esteve ausente das grades curriculares resultou em uma desestruturação de programas didáticos-pedagógicos para o ensino de música em todos os níveis da educação básica (COSTA et al., 2011, p. 80). Por isso o PIBID é uma importante alternativa para a inserção dos futuros professores de música nas escolas. Este trabalho visa apresentar um relato sobre a experiência com as atividades realizadas até o momento no subprojeto música do PIBID na UFPE, expondo as dificuldades encontradas na fase do projeto em que atuamos diretamente em sala de aula na Escola Senador Novaes Filho e os resultados obtidos, do ponto de vista dos bolsistas e da professora supervisora. Preparação para a atividade na escola O PIBID/Música da UFPE iniciou em 2011 com cinco bolsistas e realizava suas atividades na Escola Senador Novaes Filho, no bairro da Várzea, no entorno da Universidade. Atualmente o grupo conta com 12 estudantes do curso de Licenciatura em Música e atua também em outra escola, a Professor Leal de Barros, localizada no Engenho do Meio. Ambas as escolas possuem Ideb abaixo da média 3,0, sendo a média da primeira escola 2,6 e a média da segunda 2,5. O projeto é desenvolvido sob a coordenação de uma professora do curso de licenciatura da Universidade e duas supervisoras, ambas professoras das escolas da rede estadual. No início das atividades, o grupo de bolsistas se reunia semanalmente com a coordenadora para realizar debates sobre textos que tratavam da educação no Brasil, textos estes que eram de bolsistas anteriores e de Instituições Federais de Ensino Superior de outros estados. Este momento foi bastante importante para que os graduandos pudessem conhecer a realidade da educação no país e para que pudéssemos compreender o funcionamento e os objetivos do Programa de Iniciação à Docência.

3 Passado este período de reuniões iniciais, o grupo começou a se preparar para a atuação nas escolas. Em um primeiro momento nos detivemos na criação coletiva de um material didático intitulado Luiz e os pássaros, com base na obra de Luiz Gonzaga. Em paralelo ao desenvolvimento deste trabalho, o grupo realizou visitas às escolas. As visitas tinham como objetivo fazer com que conhecêssemos o ambiente escolar, as supervisoras do subprojeto música e os instrumentos disponíveis para uso dos bolsistas. As primeiras visitas foram feitas com o grupo completo, em seguida nos dividimos em duplas para fazer observações nas turmas de educação especial. No mês de agosto, a equipe se dividiu novamente em duplas para que as atividades na escola se iniciassem. Ficou acordado que as aulas seriam dadas quinzenalmente, com a presença do professor de artes em sala. Experiências na Escola Novaes Filho As aulas foram dirigidas a alunos do 9º ano do ensino fundamental e do 1º e 2º anos do ensino médio e ocorreram uma vez a cada quinze dias, para cada turma, durante dois meses, além do momento de aplicação do questionário de sondagem, totalizando 5 encontros. Embora a Escola Senador Novaes Filho já tivesse participado da versão anterior do PIBID, a maior parte dos alunos com que trabalhamos não havia entrado em contato com as atividades de música, pois a escola recebeu uma grande quantidade de estudantes vindos de outra escola do bairro que foi fechada. Considerando que o objetivo específico da educação musical consiste em colocar o homem em contato com seu ambiente musical e sonoro, descobrir e ampliar os meios de expressão musical, em suma, musicalizá-lo de uma forma mais ampla (GAINZA, 1977, p.44 apud PENNA, 2008, p. 48), o primeiro contato com as turmas foi feito através de um questionário de sondagem com o qual procuramos identificar as preferências e experiências da turma em relação à musica e como eles gostariam que as aulas de música fossem realizadas, entre outras questões. Já nesse dia, explicamos aos alunos sobre o PIBID e sobre o modo como pretendíamos realizar as aulas. Eles se mostraram muito empolgados e curiosos em relação ao conteúdo a ser apresentado. Alguns expressaram o desejo de aprender determinados instrumentos, principalmente violão, e muitos deles se mostraram à vontade para realizar atividades que tivessem relação com ritmo/percussão, provavelmente por conta de sua participação em grupos de maracatu do bairro. Esta conversa informal foi o primeiro passo para estabelecer vínculo com os alunos.

4 Para a prática em sala de aula, ficou decidido que trabalharíamos com os conceitos básicos da música: definição de ritmo, melodia, harmonia e conceitos de timbre, altura, duração, intensidade e pulso musical. O começo das atividades com as turmas foi desafiador. Os alunos estavam acostumados a chegar atrasados para as aulas de artes ou acostumados a ir embora quando a aula de artes era a última do dia, o que obrigou aos bolsistas a pensarem em modos de cativar os alunos diariamente. Apesar de a Escola Senador Novaes Filho ser bastante espaçosa, contar com laboratórios, quadra poliesportiva, biblioteca, auditório e uma sala para aulas de música e artes em geral, o ambiente escolar não é convidativo. A escola é cercada de muros altos, está sempre com portões fechados e conta com a presença da Polícia Militar para manter a segurança. Os bolsistas precisaram encontrar maneiras de dinamizar as aulas e torná-las participativas para atrair a atenção dos estudantes. Esse foi o principal desafio do PIBID. Algumas duplas se utilizaram de instrumentos como violão e flauta doce, outras desenvolveram atividades com gestos sonoros e pequenas melodias, além de estimularem a criatividade dos alunos em exercícios rítmicos. Relato do professor supervisor do PIBID de música A profissão docente hoje, diante da complexidade da missão educativa, assume novos desafios, que vão muito além da mera transmissão de conhecimentos adquiridos academicamente. Segundo Freire (2011), ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. É nesse contexto que como professora supervisora percebo que o PIBID apresenta-se como fator importante de contribuição para a formação de futuros profissionais da docência, buscando o desenvolvimento de competências na associação da teoria com a prática, de modo concreto, possibilitando aos docentes em formação defrontarem-se com a realidade e os desafios inerentes ao meio educacional. Nesse panorama dotado de desafios, observo que o PIBID diferencia-se dos demais programas educacionais, porque proporciona ao bolsista de iniciação à docência o contato com o seu ambiente de trabalho, levando-o a avaliar a sua permanência, a sua qualificação e a adequação de sua escolha profissional. Nos cursos de licenciatura, tradicionalmente o momento da prática acontece somente ao final do curso com o estágio supervisionado e com a prática de ensino, e em muitas situações apresentando uma desarticulação entre a teoria acadêmica e a prática docente. Portanto, essa oportunidade implica ao bolsista uma experiência única durante sua formação,

5 vivenciando situações reais do cotidiano escolar, conhecendo os bastidores da escola, se confrontando com as dificuldades encontradas pelos alunos, professores, gestores e funcionários. A ausência durante muito tempo do conteúdo de música nas grades curriculares da Educação Básica das redes de ensino fez com que o PIBID de música se tornasse ainda mais importante para os integrantes da Escola Senador Novaes Filho que até então não tinham vivenciado esta arte e só a partir de 2011 com a inserção do Programa e consequentemente dos bolsistas, permitiu ao corpo discente da escola o acesso à educação musical durante as aulas de Arte, ampliando desta forma seus conhecimentos sobre esta arte. Outro ponto importante que devo citar neste depoimento, é que os bolsistas são periodicamente avaliados na escola por meio da supervisão do PIBID de música e na universidade pela coordenadora. Faz parte da avaliação diária, o desempenho durante as atividades pedagógicas, participação, interesse, iniciativa, criatividade e comprometimento com as normas escolares, como postura ética, pontualidade e assiduidade. Tais itens avaliativos faz com que os bolsistas cresçam na excelência de seu trabalho pedagógico e se preparem para o mercado de trabalho desafiador e competitivo que irão se deparar depois de formados. O PIBID também tem como objetivo proporcionar ao professor supervisor da rede estadual a formação continuada. De acordo com Freire (2011) é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. Neste sentido vejo o programa proporcionado ao profissional da rede estadual de ensino, novas experiências, novas formas de ver e pensar a escola, novas concepções, conduzindo-o a um processo de permanente aperfeiçoamento necessário à atividade pedagógica. Dessa forma, todos se beneficiam com o programa PIBID na Escola Senador Novaes Filho, os alunos ganham com a melhoria da qualidade do ensino; a supervisão, por ter a oportunidade da formação continuada, refletindo a teoria e a prática no interior da escola; o corpo docente, que através da sua prática, proporciona troca de experiências com os futuros profissionais; e, por último, os bolsistas, que tem a oportunidade de conhecer o universo escolar e buscar novas metodologias para aprimorar a sua docência. Considerações Finais

6 A prática da docência, através do PIBID, permite perceber a sala de aula e a escola como espaços dinâmicos e as discussões sobre as experiências do grupo nos permitiam ver que dificuldades os colegas estavam enfrentando. Esta troca de experiências faz do projeto uma oportunidade valiosa para o debate sobre a educação entre os futuros professores, uma vez que atuar na educação básica é um desafio para os profissionais da educação, pois a conjuntura político-social-cultural que caracteriza esse universo educativo estabelece, em seu contexto, inúmeras barreiras e limites (QUEIROZ; MARINHO, 2009, p. 71). Assim, a experiência com o PIBID na Escola Senador Novaes Filho nos mostrou o desafio que é estar em sala de aula e trabalhar com a educação coletiva de música. Este tipo de experiência contribuiu para ampliar a nossa percepção no que se refere ao ensino da música em escolas regulares e suas especificidades, se mostrando de grande importância para nossa formação como professores. Referências COSTA, Maria Cristina Souza et al. A formação de professores de música na/para a escola de educação básica no PIBID. In: CONGRESSO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 20., 2011, Vitória. Anais... Vitória: 2011, p PENNA, Maura L. Musica(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, QUEIROZ, Luis Ricardo Silva; MARINHO, Vanildo Mousinho. Práticas para o ensino da música nas escolas de educação básica. Música na educação básica. Porto Alegre, v. 1, n. 1, out SILVA, Crislany Viana da et al. Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência e Formação de Professores de Música: desafios e avanços a partir da perspectiva de licenciandos em Música. In: XI ENCONTRO REGIONAL NORDESTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 11., 2012, Fortaleza, Anais... Fortaleza: 2012, p FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes Necessários à prática educativa. 43. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.