Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) e Patrimônio de Afetação: uma análise jurídica e econômica
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- Alessandra Marroquim Cesário
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1 Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) e Patrimônio de Afetação: uma análise jurídica e econômica Marlene Welter Universidade Federal do Tocantins marlenew@uft.edu.br Marli Terezinha Vieira Universidade Federal do Tocantins marlivieiracont@uft.edu.br José Vandilo dos Santos Universidade Federal do Tocantins jvandilo@uft.edu.br Resumo: Este artigo apresenta um estudo referente a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), instituída pela lei /2011, sendo um nova modalidade de sujeito da atividade empresarial, que possibilita o exercício individual de empresa sob a égide da limitação da responsabilidade. Desta forma o objetivo da presente pesquisa busca analisar sobre o patrimônio de afetação, o estabelecimento individual de responsabilidade limitada. Examinar a temática de sua natureza jurídica, nomenclatura, nome empresarial, forma de constituição, o capital mínimo e sua integralização, a desconsideração da personalidade jurídica, dissolução, possibilidade de constituição por pessoas jurídicas, administração. Para tal foi realizado uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa. As pesquisas foram feitas através da catalogação de documentos, sejam livros, artigos e documentos disponíveis na internet, sendo realizada uma análise para buscar estudos que tratam do tema escolhido como objeto de pesquisa. Como resultados da pesquisa, foi realizada uma sistematização comparativa, apresentamos um comparativo entre as diferenças da EIRELI com o Empresário Individual e Sociedade Limitada e apresentando as principais vantagens e desvantagens da EIRELI e as evidências quanto o patrimônio de afetação das Empresas Individuais de Responsabilidade Limitada. Palavras-chave: Eireli, Limitação da Responsabilidade, Atividade Empresarial. 1. Introdução Neste trabalho iremos dedicar ao estudo da Lei nº12.441, de 11 de julho de 2011, a qual inseriu, no ordenamento jurídico brasileiro, por meio da criação da EIRELI. Antes da Lei n.º /11, não havia previsão legal acerca da possibilidade do exercício da atividade empresarial por uma única pessoa com responsabilidade limitada aos bens que compõem a sociedade estabelecida. O Código Civil previa a figura do empresário individual, isto é, pessoa física titular da empresa, a qual respondia com todas as forças do seu patrimônio. Portanto este tipo empresarial diverge da figura jurídica do empresário individual pessoa natural, que não há separação patrimonial. Não havia, assim, particularização entre os bens da empresa e os pessoais do empresário. Por essa razão, milhares de empreendedores buscavam na informalidade uma maneira de exercer a empresa, estando com isso à margem da legislação pertinente, o que os deixava sem qualquer proteção quanto ao nome empresarial, o patrimônio da empresa e a respectiva responsabilidade.
2 Foi nesse contexto que a empresa individual de responsabilidade limitada surgiu. Como objetivo de incentivar a formalização de muitos brasileiros que atuam desorganizadamente, ante a inovação jurídica, é possível desestimular a criação de sociedades que, na prática, são constituídas por uma única pessoa com o intuito de se beneficiar da limitação de responsabilidade. Portanto este artigo busca estudar sobre o patrimônio de afetação, o estabelecimento individual de responsabilidade limitada e a empresa individual de responsabilidade limitada, bem como se intenta, em relação à EIRELI, examinar a disciplina de sua natureza jurídica, nomenclatura, nome empresarial, forma de constituição, o capital mínimo e sua integralização, a desconsideração da personalidade jurídica, dissolução, possibilidade de constituição por pessoas jurídicas, administração. Para o presente estudo foi adotada a metodologia de pesquisa uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa. As pesquisas foram feitas através da catalogação de documentos, sejam livros, artigos e documentos disponíveis na internet, sendo realizada uma análise para buscar estudos que tratam do tema escolhido como objeto de pesquisa por meio da leitura sistemática, fichamento de livros, artigos, apostilas e sites especializados. Como resultados da pesquisa, foi realizada uma sistematização comparativa, montando um comparativo entre as diferenças da EIRELI com o Empresário Individual e Sociedade Limitada e apresentando as principais vantagens e desvantagens da EIRELI. Os resultados mostraram que a EIRELI que tem por objetivo incentivar as pessoas a formalizarem suas atividades comerciais, com um novo tipo de constituição de empresa no Brasil e que possui muitas vantagens que não são plenamente conhecidas pela população. 2. Referencial 2.1 A origem da lei /2011 A sociedade unipessoal sempre esteve em debate entre os juristas empresariais e tributários também. Na década de 80, por exemplo, acreditava-se que essa sociedade seria incluída no estatuto da microempresa, o que não aconteceu. Em 1989, o Conselho da Comunidade Europeia uniformizou as regras sobre sociedades unipessoais em toda a Europa, fazendo com que o tema voltasse à baila no Brasil. Ainda naquela época, foi aventada a possibilidade de se incluir no Código Civil um regramento específico para regular as sociedades unipessoais, mas, mais uma vez, foi postergado. Dessa forma, durante todo esse tempo, as atividades econômicas de menor porte foram exercidas por sociedades limitadas, denominadas sociedades simples ou de responsabilidade limitada, classificadas como micro ou pequenas empresas, de acordo com a sua receita bruta anual. Tais tipos societários, todavia, eram compostos por dois ou mais sócios, na forma da exigência legal prevista no art. 981 do Código Civil. Assim, tendo em vista a regra inserta no Código Civil, ao empresário que não desejava arriscar todo o seu patrimônio pessoal, a única alternativa para afastar a responsabilidade ilimitada era a constituição de uma pessoa jurídica de direito privado, mediante a formalização de um contrato entre sócios. É claro que em virtude da exigência legal acima mencionada, muitas sociedades foram estabelecidas por pessoas que, em verdade, sequer tinham vontade de figurar 2
3 como sócias. O empreendedor incluía sócio apenas para constituir uma sociedade e limitar sua responsabilidade diante das obrigações empresariais assumidas pela pessoa jurídica. Havia, assim, sociedades criadas juridicamente em consonância com o ordenamento jurídico pátrio, porém sem um dos requisitos mais importante para a sua constituição, qual seja, a affectio societatis ou seja, o liame subjetivo que liga os sócios e que é condição sine quanon para a formalização de uma sociedade pluripessoal. Não é difícil imaginar, pois, as consequências nefastas que a ausência dessa comunhão de esforços entre os integrantes de uma sociedade acarretava. Desta feita, acirraram-se as discussões sobre a regulamentação da sociedade unipessoal. Entretanto, no novo estatuto da microempresa Lei Complementar 123/2006, nãose inseriu a previsão da sociedade constituída por uma única pessoa. Finalmente, em 2009, surgiu o projeto de Lei n , de autoria do Deputado Federal Marcos Montes, com o intuito de instituir a empresa individual de responsabilidade limitada no ordenamento jurídico brasileiro. Depois de idas e vindas, pareceres favoráveis e aprovação na Câmara de Deputados, o projeto recebeu no Senado Federal o número 18/2011 e passou pelo crivo da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, tendo como relator o Senador Francisco Dornelles. Após a aprovação pelo Congresso Nacional, o projeto de lei seguiu para a Presidente Dilma, que o sancionou e publicou no dia 12 de julho de Lei n.º /11 A Lei n /11 trouxe as seguintes alterações ao Código Civil: 1) inclusão do inciso VI ao art. 44; 2) inclusão do Título I-A, no Livro II da Parte Especial do Código Civil, sob o nomen iuris Da Empresa Individual de Responsabilidade limitada (ART. 980-A); 3) modificou o parágrafo único do art Vejamos abaixo como ficou a redação do Artigo 980-A, do Código Civil: TÍTULO I-A - DA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA Artigo 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. 1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão EIRELI após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada. 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. 3º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração. 4º (VETADO) 5º Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional. 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas. (BRASIL, 2011) Vetos Presidenciais 3
4 A Presidente vetou o 4º do artigo 980-A, disciplinado no artigo 2º do projeto de lei, o qual preceituava o seguinte: 4º Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de responsabilidade limitada, não se confundindo em qualquer situação com o patrimônio da pessoa natural que a constitui, conforme descrito em sua declaração anual de bens entregue ao órgão competente. Os fundamentos para o veto presidencial estão descritos na mensagem n. 259, de 11 de julho de 2011, conforme segue abaixo: Não obstante o mérito da proposta, o dispositivo traz a expressão 'em qualquer situação', que pode gerar divergências quanto à aplicação das hipóteses gerais de desconsideração da personalidade jurídica, previstas no art. 50 do Código Civil. Assim, e por força do 6º do projeto de lei, aplicar-se-á à EIRELI as regras da Sociedade limitada, inclusive quanto à separação do patrimônio. Segundo Cardoso (2012), o veto presidencial deveria limitar-se apenas a suprimir a expressão em qualquer situação, pois é salutar que a lei deixe bem claro a regra geral da separação entre os patrimônios do sócio e o da sociedade. Para o autor, a expressão conforme descrito em sua declaração anual de bens entregue ao órgão competente deveria ser substituída para conforme descrito no balanço patrimonial e de resultado econômico, de redação obrigatória, nos termos do art do Código Civil. 2.2 A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) Com o advento da Lei /2011, o que antes era tratado, apenas pela doutrina, como sociedade unipessoal, agora é parte integrante do ordenamento pátrio e definida como Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. A EIRELI, não é sociedade, mas novo ente jurídico personificado, sendo constituída com apenas um titular. Esta lei veio com intuito de formalizar os muitos empreendedores que atuam em nosso país de forma desorganizada e ilegal, e principalmente desestimular a criação de sociedades que na prática são constituídas por uma única pessoa, com o objetivo de se beneficiar da limitação de responsabilidade. A regência primária da EIRELI, está no Art. 980-A do Código Civil (descrito acima) e pela instrução normativa n.º 117, de 22 de novembro de 2011 do Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC), sendo substituída pela Instrução do Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI) n.º 26 de 10 de setembro de 2014 Anexo V EIRELI (Brasil, 2015); estabelecendo que pessoa jurídica não pode constituir EIRELI. De acordo Carvalho (2011), a nova lei acaba com a figura do laranja, ou seja, aquela pessoa que tem participação ínfima no capital social, simplesmente para cumprimento das exigências legais necessárias à limitação da responsabilidade dos sócios à sua participação societária. Conforme a Lei, exige-se para criação da EIRELI um capital mínimo de 100 saláriosmínimos e integralização total e a vista, admitindo também a integralização de bens e direitos, assim como a limitada, não sendo necessariamente integralizado todo o capital em moeda corrente. Cabe ainda ressaltar que o Capital Social da EIRELI não possui divisão com quotas. 4
5 Desta forma, a EIRELI passa a ser a única pessoa jurídica de direito privado no Brasil para a qual a lei exige um capital mínimo. E não se trata de um valor irrisório, devido à disparidade de tetos do salário-mínimo vigentes entre as unidades da Federação. Tal exigência, se por um lado busca proteger o credor da EIRELI, diante da função de resguardo do capital social e da limitação da responsabilidade do seu titular, por outro lado induz a uma utilização da figura para atividades de maior vulto, não necessariamente aquelas do pequeno empresário que se desejaria, de início, beneficiar (CHARNESKI, 2012 p.01). O nome empresarial da EIRELI poderá ser formado por firma ou denominação social e deve conter a expressão EIRELI ao final ( 1º). Conforme o artigo 980-A no 2º prevê que a pessoa física pode ser titular de uma única EIRELI. Sendo previsto também no 3º que quando a sociedade limitada caracterizada pela unipessoalidade poderá ser Transformada em EIRELI. Para a realização da EIRELI, deverá ser feito o registro na Junta Comercial mediante o preenchimento do Ato Constitutivo cumprindo todas as exigências contidas na Instrução do Departamento de Registro Empresarial e Integração n.º 10 de 05 de dezembro de 2013 Anexo V EIRELI, que contém normas sobre constituição, decisões do titular, capital social, filais, extinção, entre outros A responsabilidade do titular da EIRELI Uma das principais vantagens da EIRELI, que atendeu aos anseios de vários empresários e empreendedores da empresa, foi a Sociedade formada por uma só pessoa, só um titular, incentivando assim a formalidade empregatíca, já que antes do advento desta leia não poderiam ter essa configuração jurídica. Assim, o Direito estabelece um mecanismo de limitação de perdas, que incentivam a exploração da atividade econômica, e com a nova lei promoverá ainda mais a criação de novas empresas e um maior desenvolvimento para o país. Sabemos que a atividade econômica exercida pelo empresário individual se dá sob uma firma, constituída a partir de seu nome, completo ou abreviado, podendo a ele ser aditado designação mais precisa de sua pessoa ou do gênero da atividade. Nesse exercício, ele responderá com todas as forças do seu patrimônio pessoal, capaz de execução, pelas dívidas contraídas, vez que o Direito brasileiro não admitia até então a figura do empresário individual de responsabilidade limitada. E essa é a grande diferença entre o empresário individual e a sociedade empresária, pois esta, por ser pessoa jurídica, possui patrimônio próprio, enquanto aquela não goza de separação patrimonial. Nesse sentido vejamos o que diz Bruscato (2012) O benefício da limitação tem como causa o resguardo de patrimônio pessoal do empreendedor frente às intempéries negociais que, normalmente, envolvem a exploração de qualquer atividade empresarial. Não se pode constituir o patrimônio separado ou especial, mantê-lo fortes e intocados se, na vida privada seu titular assume compromissos além de suas forças patrimoniais. Na sociedade empresária ou sociedade limitada, o sócio integraliza a quantia do seu capital social e deixa a salvo seus bens particulares que não poderão ser executados por dívidas da sociedade. No caso do empresário individual, este responde diretamente com todos os seus bens pelas dívidas contraídas no exercício da atividade econômica e não conta com limitação de 5
6 responsabilidade. Já na EIRELI, devido a ser uma pessoa jurídica constituída sem a participação de outro sócio, ou seja, um único titular, há uma incomunicabilidade entre o patrimônio social e o pessoal de quem possui a empresa. Portanto, a EIRELI apresenta a limitação da responsabilidade pautada no capital de, no mínimo, cem vezes o maior salário mínimo vigente no país. Desta maneira, a busca pela limitação da responsabilidade poderá se caracterizar como um dos grandes motivos ensejadores da constituição das empresas individuais de responsabilidade limitada (ALAMADA, 2012 p. 01). Assim, essa lei veio para proteger os bens particulares dos empresários individuais, como em caso de dívidas, e também para proporcionar uma transparência às informações fornecidas nos contratos sociais, que no caso da Eireli, se chama Ato Constitutivo, esta norma está contida no art do Código Civil. Porém, devemos esclarececer que essa limitação da responsabilidade, no entanto, não é absoluta, podendo ocorrer à desconsideração da personalidade jurídica, nos termos do art. 50 do C.C, como por exemplo, e demais previsões legais em situações especiais como: abuso de personalidade em relações de consumo, art.28 do CDC, Lei 8.078/90; abuso de personalidade em atos contra à economia popular, art.18 da Lei 8.884/94; por crimes ambientais, art.4º. da Lei 9.605/98; abuso da personalidade em matéria tributária, art.135 do CTN, Lei 5.172/66; e pelo simples inadimplemento das obrigações trabalhistas, conforme Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, arts.70 e 80. Pois nom base no artigo 2º, 6º da Lei /2011, o qual dispõe aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas Constituição e Transformação da EIRELI Temos duas formas de constituição da EIRELI: originária ou derivada. Aquela forma se refere quando a constituição tem caráter inicial e esta quando se busca a continuidade de uma atividade anteriormente exercida. É o que lê da redação do art.980-a, 3º, que permite que uma EIRELI resulte da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio independente das razões que motivaram tal concentração. Essa transformação pode resultar da não superação da unicidade de sócios, em 180 dias, conforme previsto no art C.C. É válido também o contrário, a admissão de um sócio na EIRELI, constituindo assim, uma sociedade empresária, observados as regras sobre a transformação do tipo empresarial inscrita no art a C.C. Podemos perceber a modificação no artigo 1033 do C.C, os casos de transformação da sociedade limitada em EIRELI, podendo perceber na mudança da redação deste artigo abaixo: a) Código Civil: artigo anterior a Lei n.º /2011: Art Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; II - o consenso unânime dos sócios; III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar. 6
7 Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira no Registro Público de Empresas Mercantis a transformação do registro da sociedade para empresário individual, observado, no que couber, o disposto nos arts a deste Código. (grifo nosso) (BRASIL, 2002). b) Código Civil: nova redação do artigo 1.033, trazida pela Lei nº /2011: Art Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; II - o consenso unânime dos sócios; III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar. Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts a deste Código. (grifo nosso) (BRASIL, 2011) Capital Social da EIRELI Conforme disposto no art. 980-A do Código Civil, que exige que, no ato de constituição, seja integralizado um patrimônio não inferior a 100 (cem) salários mínimos, conforme descrito acima, essa barreira faz com que nem todas as pessoas que estão na informalidade, ou empresários individuais que queiram transformar em EIRELI, possa constituir uma EIRELI, sendo um fator que limita as pessoas a terem uma EIRELI. Outrossim, podemos notar que este dispositivo constante na lei, se mostra bem contraditório, pois esta lei também tem o objetivo de contribuir para expansão da atividade empresarial, desenvolvimento econômico e maior arrecadação tributária do estado. Deste modo, estipular o valor de (100 salários mínimos) a lei estará trazendo um obstáculo para pequenos empresários que desejam constituir ou transformar em EIRELI. Sobre o assunto Abrão (2012), afirma que: a figura do capital mínimo, naeireli, assume acepção diferente da que lhe é dada pelo Código Civil nassociedades empresárias, notadamente pelacaracterística da indispensabilidade. Dessa forma, entende,o autor,que eledeve sercomprovadamente conservadono decorrer da atividade, sob pena de desenquadramento e o fim da responsabilidade limitada. Assim, conclui o seu entendimento, afirmando que:tem-se, na realidade, o capital que blinda a atividade empresarial, o qual, em tese, apenas admitiria aumento e inviabilizaria a sua redução, exceto quando ultrapassar o limite ou quiser alterar a natureza da empresa individual. O advento desta exigência, além de tudo é difícil de ser fiscalizada pelos órgãos responsáveis pelo registro civil, neste caso as Juntas Comerciais, principalmente porque as Juntas Comerciais não costumam ser rigorosas quanto a comprovação dessa integralização, bastando uma mera declaração do interessado nesse sentido, cabendo aos órgãos fiscalizadores realizar a busca se este capital é realmente existente. Vale ressaltar da importância da real existência do Capital Social, conforme ser explicitou no excerto abaixo: 7
8 Em qualquer dessas hipóteses, tem-se uma empresa individual de responsabilidade limitada irregularmente constituída e, por isso, inábil à produção dos efeitos de limitação da responsabilidade de seu criador. É certo que cumpre ao Registro Público de Empresas Mercantis verificar o atendimento das formalidades exigidas para o registro da empresa como Eireli (art do CC/2002) e, consequentemente, seu fundador, ao requerer a inscrição, tem de apresentar prova de terem sido preenchidas essas formalidades, dentre elas a de integralização do capital no valor mínimo legal. Se, porém, o registro é obtido sem observância das prescrições legais, não se dá o efeito pretendido, de limitação da responsabilidade do titular do capital. Sobre o tema, ainda cabe falar que houve uma Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4637, proposta pelo Partido Popular Socialista -PPS, impugnando a parte final do caput do artigo 980-A do Código Civil, notadamente a exigência de capital inicial de pelo menos 100 salários mínimos para a constituição da EIRELI, afirmando que seria inconstitucional a vinculação do capital inicial ao salário mínimo, ofedendo assim ao princípio da liberdade de iniciativa. A ADI 4637, não foi julgado pelo STF, porém já houve manifestação da Advocacia-Geral da União e do Ministério Público Federal, ambas pela declaração constitucional tal exigêcnia. A AGU sustentou, em resumo, que a Lei nº /2011empregou o salário-mínimo como mero parâmetro para a definição do capital necessário à constituição de EIRELI, o que não configuraria a hipótese de indexação, estando, portanto, em conformidade como inciso IV do art. 7º da Constituição Federal. Ainda, em relação à violação ao princípio da livre iniciativa, a AGU, afastando a alegação de inconstitucionalidade, aduziu que a norma foi legislada dentro da competência da União e de acordo com as suas prerrogativas de estabelecer limites à iniciativa privada, em sintonia com a razoabilidade no caso, tendo em vista a disciplina jurídica da EIRELI. Já o MPF argumentou, em suma, que a vedação contida no inciso IV do art. 7º da Constituição Federal se refere somente à utilização do salário-mínimo para fins de indexação, de modo que a Lei nº /2011, por se restringir à estipulação de requisitos mínimos para a constituição de EIRELI, não incorreu em violação a constituição. E que ao tratar da alegação de violação ao princípio da livre iniciativa, o MPF pugnou pela sua improcedência, alegando que, baseando-se na perspectiva de uma Constituição dirigente, tal exigência se coloca dentro da esfera de liberdade legislativa, com o fito de assegurar o interesse da coletividade, atendendo, no caso, ao princípio da segurança jurídica Administração da EIRELI A administração da EIRELI, a priori deverá ser exercida pelo próprio titular. Porém esta administração pode ser delegada a terceiro indicado pelo instituir ou a este último mesmo, desde que seja pessoa natural. Não sendo admitida a figura em que a pessoa jurídica será administradora (inc. VI do art. 997 C.C caput do art c/c 6º do art. 980-A, todos do Código Civil). Sendo assim possível afirmar que que é totalmente admissível que o incapaz, devidamente assistido ou representado, instituía EIRELI, e faça a nomeação de um terceiro para exercer a sua administração ( 3º do art. 974 c/c 6º do art. 980-A do Código Civil). Sendo assim, uma diferença plausível da EIRELI para o empresário individual, pois o incapaz não pode constituir uma empresa individual, mas pode constituir uma EIRELI, indicando assim um terceiro para exercer a sua Administração. 8
9 3. Procedimentos Metodológicos Metodologia pode ser entendida, como processo, onde se aplicam diferentes métodos, técnicas e materiais, tanto laboratoriais como instrumentos e equipamentos para coleta de dados no campo. (Oliveira, 2005). Para atender o objetivo deste artigo foi feito análise teórica, sendo que este tipo de artigo caracteriza-se como sendo um trabalho científico de metodologia teórico conceitual sobre um determinado tema, sendo que esta metodologia requer uma pesquisa bibliográfica. (Oliveira, 2005). De acordo com Severino (2007, p. 122) a pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Sendo que os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos. Para Severino (2007) o pesquisador não é um simples consulente de livros e revistas na biblioteca, ele tem que ser um operador decidido em busca das fontes, para poder ter a efetivação de sua monografia. Sendo que há algumas dissertações que usam tão-somente esse tipo de metodologia. Foi feito a catalogação de documentos, sejam livros, artigos, e documentos disponíveis na internet, reportagens entre outros; sendo realizada uma análise para buscar estudos que tratam do tema escolhido como objeto de pesquisa. Quanto a coleta de dados, buscou-se uma abordagem qualitativa. Referindo a abordagem qualitativa, foi necessária a substituição de uma simples informação por dados qualitativos, onde foi feito uma investigação sobre as principais características e vantagens da Empresa Individual de responsabilidade Limitada. Finalizou-se a análise com uma sistematização comparativa, montando um comparativo entre as diferenças da EIRELI com o Empresário Individual e Sociedade Limitada e apresentando as principais vantagens e desvantagens da EIRELI. 3. Resultados e discussões Nesta parte será apresentado o resultado da pesquisa bibliográfica sobre a EIRELI. Em um primeiro momento será feito um comparativo da EIRELI, com o Empresário Individual e Sociedade Limitada, em um segundo momento será feito uma mapa de Vantagens e Desvantagens da Eireli. 3.1.Sistematização Comparativa No quadro a seguir vamos montar um comparativo, sistematizando as diferenças da EIRELI com o Empresário Individual e Sociedade Limitada: Personalidade EMPRESÁRIO INDIVIDUAL EIRELI SOCIEDADE LIMITADA Não tem Tem Tem 9
10 Jurídica Natureza Contrato Social Constituição Unipessoal (não é sociedade) Não tem Inscrição de Requerimento Órgão de Registro Somente Junta Comercial Regra de limitação de responsabilidade Unipessoal (não é sociedade) Não tem Registro de Ato Constitutivo Controvertido Sociedade (dois ou mais sócios) Tem Registro de Contrato Social Junta Comercial (se empresário) ou cartório (se simples) Não tem (patrimônio Tem (patrimônio pessoal Tem (patrimônio pessoal dos pessoal do titular do titular em regra não sócios em regra não responde automática e responde pelo passivo da responde pelo passivo da diretamente pelo passivo empresa) empresa) da empresa) Admite afastar Não (patrimônio do Sim, mediante a presença limitação de resp. titular já responde dos requisitos legais (desconsideração automática e diretamente) da pers. Jurídica) Controvertido (pelo Pessoa jurídica Não DNRC não) pode ser titular Dissolução parcial Não admite Não admite (saída de um titular) Não exige 100 salários mínimos Capital Mínimo Integralização a Não admite Não admite prazo Em dinheiro ou bens e Em dinheiro Integralização direitos Não Não Divisão do capital Sim (não pode ser titular Sim para pessoa física Limitação de de outra empresa (não pode ser titular de titularidade individual) outra EIRELI) Não admite (somente Admite (desde que Titular menor com autorização judicial) representado ou assistido) O titular ou não (admite Deve ser o titular Administrador administrador não titular) O titular ou não (admite N.º de Deve ser o titular administrador não titular) administrador Administrador Não Admite Não Admite Pessoa Jurídica Arts. 966/980, Código Regência Art. 980-A, Código Civil Civil primária Obrigatoriamente pelas Regência Não há normas da limitada (arts. supletiva 1.052/1.087, Código Sim, mediante a presença dos requisitos legais. Sim Admite (unipessoalidade deve ser suprida em até 180 dias) Não exige Admite (se não houver incapaz) Em dinheiro ou bens e direitos Em quotas Não (sócio pode participar de quantas limitadas quiser) Admite (desde que representado ou assistido) Sócio ou não (admite administrador não sócio) Sócio ou não (admite administrador não sócio) Não Admite Arts /1.087,Código Civil Facultativa (pelas normas da sociedade simples ou da S/A lei n.º 6.404/76 10
11 Civil) Enquadramento ME/EPP Denominação Admite Admite Admite Firma, obrigatoriamente Firma ou denominação Firma ou denominação 3.2 Vantagens e Desvantagens da Eireli Em suma, no quadro a seguir procuramos expor em relação a EIRELI, em especial a ocorrência da inovação jurídica ocorrida, além do exercício da atividade empresarial com a EIRELI as suas vantagens e desvantagens a seguir descritas: EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA EIRELI Vantagens Desvantagens Sociedade formada por uma só pessoa, Exigência do capital mínimo de 100 (cem) só um titular salários mínimos. Possibilidade do exercício da administração por terceiros. Cada pessoa só poderá ser Titular de 1 (uma) Eireli. Possibilidade de constituição de Eireli, por incapaz, desde que devidamente assistido ou representado. Não aceita sócio pessoa jurídica. Proteção do patrimônio pessoal do empresário, responsabilidade limitada ao capital constituído. 5. Considerações finais Com este trabalho buscou-se um estudo referente a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), instituída pela lei /2011, sendo uma nova modalidade de sujeito da atividade empresarial, que possibilita o exercício individual de empresa sob a égide da limitação da responsabilidade. Para tal foi realizado uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa. As pesquisas foram feitas através da catalogação de documentos, sejam livros, artigos e documentos disponíveis na internet, sendo realizada uma análise para buscar estudos que tratam do tema escolhido como objeto de pesquisa. Como resultados da pesquisa, foi realizada uma sistematização comparativa, montando um comparativo entre as diferenças da EIRELI com o Empresário Individual e Sociedade Limitada e apresentando as principais vantagens e desvantagens da EIRELI. Após a realização de pesquisa foi feito uma fundamentação teórico, tendo os seguintes tópicos: origem da lei /2011 e tópicos sobre a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), tendo assim alcançado os objetivos pretendendidos que era um conhecimento mais aprofundado sobre a EIRELI. Com esta pesquisa bibliográfica e qualitativa foi possível alcançar os resultados da pesquisa, possibilitando assim a realização de uma sistematização comparativa, montando um comparativo entre as diferenças da EIRELI com o Empresário Individual e Sociedade Limitada, constatando assim todas as principais diferenças entre os principais tipos empresariais. Sendo 11
12 verificada muitas diferenças com relação a EIRELI, desde a forma de constituição, até os requisitos formais para a sua constituição, como: o titular possuir somente uma EIRELI, Capital Mínimo, Registro de Ato Constitutivo, entre outros. Outra relevante contribuição da pesquisa, foi visualizar mais claramente as principais vantagens e desvantagens da EIRELI, através da estruturação de um quadro de vantagens e desvantagens. Por fim, constatamos que a EIRELI que tem por objetivo incentivar as pessoas a formalizarem suas atividades comerciais, com um novo tipo de constituição de empresa no Brasil, ainda tem muito a avançar, e que possui muitas vantagens que não são plenamente conhecidas pela população. Com a pesquisa elaborada neste artigo possibilitará a disseminação de informações sobre a EIRELI, possibilitando um maior conhecimento por parte das pessoas que ainda estão na informalidade ou que querem transformar suas empresas neste novo tipo empresarial. Vale ressaltar, que além das vantagens, possibilitamos assim o conhecimento das desvantagens da EIRELI. Faz-se a recomendação, de forma que complemente este trabalho, fazer um comparativo entre as legislações existentes em outros países e em quais pontos a Lei da Empresa de Responsabilidade Limitada é mais falha, fazendo um estudo mais profundo e verificando quais as atualizações necessárias para que este Lei que tanto tem beneficiado a empresários atinja plenamente o objetivo de incentivar a formalização de empresários no nosso país. 6. Referências ABRÃO, Carlos Henrique. Empresa Individual. São Paulo: Atlas, p ALAMADA, Diego Bisi. Aspectos controversos da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI). Disponível em: Acesso em 01/03/2016. BRASIL. Código Civil Brasileiro (2002). Disponível em: < Acesso em 15/04/2016. Lei Federal nº /2011. Disponível em: < Acesso em 15/04/ Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Departamento de Registro Empresarial e Integração. Instrução Normativa n.º 26, de 10 de Setembro de Manuais de Registro de em empresário individual, sociedade limitada, empresa individual de responsabilidade limitada EIRELI, cooperativa e sociedade anônima, de observância obrigatória pelas Juntas Comerciais. Diário Oficial da União, de 11 de Setembro de Acesso em 16/04/2016. CARDOSO, Paulo Leonardo Vilela. O empresário individual de responsabilidade limitada. São Paulo: Saraiva, CARVALHO, Vicente de Villac Rafael. Empresa individual de responsabilidade limitada acaba com o Laranja. Informativo Consulex nº 33. Ag Tribuna Jurídica. CHARNESKI, Heron. Reflexões sobre a EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) da Lei /11. Disponível em: Acesso em 05/05/2016. GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. A empresa individual de responsabilidade limitada. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 101, n. 915, p , jan p
13 OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer projetos, relatórios, monografias, dissertações e teses. 3. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, SEVERINO, Antônio Joaquim, Metodologia do trabalho científico. 23. Ed. Ver. E atualizada São Paulo: Cortez, TOMAZETTE 2012 apud. BRUSCATO, Wilges Ariana. Empresário individual de responsabilidade limitada: de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Quartier latin, 2005, p
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