O Mal-Estar na Cultura. Felicidade x Civilização
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- Talita Camilo Barreiro
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1 O Mal-Estar na Cultura Felicidade x Civilização
2 O Mal-Estar na cultura, escrito por Sigmund Freud, em 1930 O Mal-Estar na cultura é uma obra de natureza ampla, envolvendo as ciências humanas, sociais e a própria cultura em geral. O mal-estar a que se refere Freud é inerente à própria cultura e nos acompanha ab initio, desde a origem do que conhecemos como cultura.
3 Qual a causa desse mal-estar? Dois aspectos fundamentais: Uma espécie diferente, nova, de malestar, que poderíamos denominar de inerente à cultura ou de estrutura. Este tipo de mal-estar presente na cultura não tem uma causa externa e por isso não se resolve com mais cultura
4 O Mal-Estar na Cultura foi escrito após O Futuro de uma Ilusão, texto que trata especificamente a respeito do papel da religião na vida e na sociedade, do ponto de vista da psicanálise. O Mal-Estar na Cultura trata da cultura em geral, e não somente de um aspecto dela como a religião.
5 O mal-estar Trata-se de um mal-estar" (esta é a palavra chave) que acompanha a cultura desde suas origens. Este Malestar a que se refere Freud é inerente à própria cultura e nos acompanha desde o início, desde a origem do que conhecemos como cultura. A questão central é: o que no texto se entende como Mal-Estar?
6 Sentimento oceânico de união com o Todo Freud inicia seu ensaio, O Mal-Estar na Cultura, a partir de uma reflexão sobre o sentimento oceânico de união com o Todo que existe em todo ser humano.
7 Fonte da religião Para Freud a fonte da religião trata-se do desamparo infantil e da nostalgia pelo pai.
8 Estado de desamparo infantil É nesse estado de desamparo profundo que se remonta a origem da religião. No entanto, Freud chama atenção para este sentimento oceânico como chave para a demarcação do nosso Eu.
9 Desamparo e a angústia da solidão O ser humano tenta fazer de tudo para fugir do desamparo e da angústia da solidão, daí sua necessidade constante de construir e elaborar sistemas religiosos e ideologias salvadoras, como uma Weltanschauung
10 Fuga do desamparo e da angústia da solidão Por isso leva a cabo diversos procedimentos, tais como: distrair-se em alguma atividade; procurar satisfações substitutivas; sublimar a pulsão ou canalizá-la para satisfações artísticas e científicas; ou se narcotizar com drogas, etc., Tudo isso a fim de fugir do desamparo, conquistar a felicidade e afastar o sofrimento.
11 Felicidade versus civilização Para análise desse mal-estar na cultura Freud parte do tema da felicidade, ou seja, o problema do fim e propósito da vida humana, no qual a religião tem um papel importante. A via que segue para chegar ao tema da felicidade é a clássica: o livro IV da "Ética a Nicómaco" de Aristóteles, que parte precisamente do mesmo ponto: "o bem supremo de nossas atividades é, segundo consentimento geral, a felicidade."
12 A procura da felicidade Os métodos mais comuns que as pessoas, geralmente, usam para fugir do desprazer e conquistar a felicidade são: Meio químico para anular o desprazer: a droga. Evitar o desprazer dominando as necessidades: o yoga, o budismo. Transladar as metas da pulsão, evitando o "não" da realidade exterior: a arte.
13 A procura da felicidade Romper, simplesmente, com a realidade: o eremita. Romper com a realidade e substituí-la por uma outra nova: a psicose. Afiançar a decisão do cumprimento da felicidade, sem afastar-se da realidade e sem evitar o desprazer, mas deslocando a meta da libido: o amor
14 A procura da felicidade Freud também recorda o que diz Kant: os piores tiranos são aqueles que querem obrigar ao povo a ser feliz, segundo a maneira que eles, os tiranos, indiquem-lhes
15 Programa do Princípio do Prazer Ser Feliz Segundo Freud é irrealizável, e, por sua vez, é impossível também abandoná-lo. Cada um ensaia seu próprio caminho, segundo três tipos de eleição: vínculos sentimentais. satisfações narcisistas. realizar-se mediante a ação.
16 O caminho da neurose O caminho da neurose, não é isento de criação, pois os sintomas são satisfações substitutivas, sendo que também indicam o caminho a sua maneira, pois cada qual inventa um pouco os seus próprios sintomas. A neurose é uma resposta às exigências culturais, pois a cultura exige respeito a seus ideais. O neurótico é aquele que diz "basta!", e o diz com seus sintomas. O neurótico não pode suportar a frustração que a cultura exige em lugar de seus ideais.
17 Sublimação A sublimação é um dos destinos da pulsão e por sua vez, exerce um grande papel na economia psíquica individual e na própria civilização, pois sem a sublimação pulsional não teríamos civilização e nem cultura, conforme afirmou Freud, ao longo de sua obra Sobre esta questão lembrar a importância que tem o supereu (ideal do eu) nessa operação de sublimação dos impulsos que geralmente são de natureza sexual e agressiva
18 O supereu (superego) O supereu (superego), além de exercer, as funções de auto-observação e de consciência moral (voz da consciência), contém nossos níveis de aspiração mais elevados, na condição de ideal do eu. Classicamente, o supereu é o herdeiro do complexo de Édipo e se forma a partir das identificações com os pais e da interiorização das exigências e das interdições parentais.
19 O amor de meta inibida O amor de meta inibida funda laços sociais, enquanto o amor sexual plenamente realizado não cria laços sociais fora do casal. Por isso diz Freud que a cultura ameaça o amor sexual. Muitas vezes a gente crê discernir que não é só a pressão da cultura, senão algo que está na essência da função sexual mesma, e que nos nega a satisfação plena e nos leva por outros caminhos.
20 A Solução da psicose A psicose, essa forma de fuga da realidade com sua própria solução, visitou as casas de nossos criadores mais fecundos. E não é por acaso O último procedimento para afastar o sofrimento da vida que é examinado por Freud é o do amor
21 A solução pelo amor O amor nos coloca numa situação paradoxal, pois, precisamente ao amarmos é quando nos colocamos mais a mercê do outro e consequentemente, ao alcance dos infortúnios e das dificuldades da vida Há seres humanos que resolveram este problema, transformando o amor sexual num amor sexual de meta inibida, e assim se consegue um amor que não é oscilante, que não sofre as vicissitudes da contingência, nem desenganos, nem decepções, nem tormentas e nem desilusões Relações Abertas, relacionamentos de bolso.
22 POR QUE SE JOGA A CULPA NA CULTURA? Jogar a culpa na cultura pelos males da civilização, não é justo, pois a cultura, como mesmo afirmava Freud, protege o homem da natureza e regula suas relações sociais O homem primitivo compreendeu muito cedo que para sobreviver devia viver em comunidade
23 A pulsão e sua relação com o malestar na civilização Pode se dizer que a pulsão de morte é o maior obstáculo à cultura, é uma das causas do Mal-estar na Cultura
24 Eros e Thánatos e sua relação com a civilização Através da mitologia das pulsões (Eros e Thánatos) podemos acompanhar o texto freudiano - O Mal-estar na Cultura Neste texto Freud denuncia em toda extensão o desamparo humano, retirando qualquer garantia de superá-lo, seja por meio da arte, da religião ou da ciência
25 O Mal-estar e a religião Freud faz uma breve observação a respeito da religião: as vezes, esta consegue poupar a muitos seres humanos a neurose, mas a um preço elevado. Qual é este preço? Paralisar a inteligência e infantilizar-los psiquicamente. Ademais a religião deforma o mundo com uma interpretação delirante, ou seja, uma interpretação louca dos fatos Finalmente, leva-os a aceitar o destino, e a fazê-los depender da vontade divina. "Deus o quis assim", tal é a frase de resignação do religioso ante a vida que lhe toca viver
26 O sentimento de culpa e o malestar na cultura Existem duas origens para o sentimento de culpa: o medo à autoridade e o temor ao supereu. A união de ambos resulta muito efetiva para o desenvolvimento da cultura
27 O sentimento de culpa e o malestar na cultura O preço pago pelo progresso da cultura reside na perda de felicidade por aumento do sentimento de culpa A evolução da sociedade requer o controle dos instintos sexuais e agressivos do indivíduo, de maneira que existe uma estreita relação entre civilização, repressão e neurose Quanto mais avança a primeira, mais necessária se faz a segunda e maior é a frustração gerada
28 Civilização e o mal-estar A civilização torna a existência humana problemática, por não ser mais natural, ou seja, as leis da natureza são substituídas pelas leis da cultura Em razão de que, se por um lado, a civilização em si, provoca um mal-estar, por outro lado, sem civilização não teria humanidade, seríamos só outros primatas regidos pela natureza
29 A Sociedade do Espetáculo O que diria Freud hoje da nossa sociedade atual, denominada por Debord de "sociedade do espetáculo? Sociedade onde o poder - seja qualquer que seja sua inclinação - para perpetuar-se em sua situação de privilégio instala o "espetáculo" Onde a realidade é totalmente escamoteada pela manipulação das massas através da midia e da propaganda, feitas onipresentes e oniscientes, muitas vezes apenas para vender ilusões e mistificações.
30 A Sociedade do Espetáculo Nesta sociedade, a mídia pletora da informação. Na verdade desinforma sistematicamente na medida em que não expõe, ou o faz de forma distorcida, justamente aquilo que efetivamente interessa saber e informar Ambas mídia e propaganda - se empenham em fragmentar o raciocínio lógico e destruir a noção de história, promovendo um eterno e autônomo presente, Na ignorância ou na negação de um passado conectado ao futuro
31 A Sociedade do Espetáculo Nesta sociedade, a irracionalidade a tudo permeia, a produção econômica é regida por demandas artificialmente criadas e a única lógica vigente é a de permanência do poder, que usa de todos os recursos para perpetuar-se O espetáculo se confunde com a realidade, ao irradiá-la", diz Debord.
32 A Sociedade do Espetáculo Por dificultar o acesso à realidade, por alimentar sistematicamente ilusões, essa "sociedade do espetáculo" dá margem ao que muitos chamam de novas formas de subjetivação Como os novos transtornos de caráter, os transtornos de ordem narcísica, as personalidades bordelines, e os transtornos alimentares que são, por sua vez, as novas edições das histéricas dos tempos de Freud
33 O mundo das patologias narcísicas A midia, especialmente a televisão, bombardeia-nos ininterruptamente com imagens de sucesso sexual e financeiro, mostrando um novo Olimpo, onde desfilam os atuais deuses cheios de beleza, juventude, dinheiro e fama Ela promete o acesso a este Olimpo, desde que sigamos suas instruções de consumo, insistentemente propagadas através da publicidade
34 A questão que Freud nos oferece É impossível também não deixar de perguntar: por que somos sempre tão infelizes e desamparados em nossa aventura da vida? Em Mal-estar na cultura, Freud afirma que as causas do sofrimento psíquico são três: O poder superior da natureza A fragilidade de nossos próprios corpos Inadequação das regras que procuram ajustar as relações mútuas dos seres humanos na família, no estado e na sociedade
35 Conclusão Para Freud a cultura exige o sacrifício da satisfação sexual. No mundo ocidental a exigência cultural é seguir o preceito bíblico: "amarás a teu próximo como a ti mesmo", porém este quase nunca é seguido, ademais é um amor de meta inibida
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